"Organizar evento é como uma
grande orquestra"
Publicação: 25 de Maio de 2014 às 00:00
O primeiro evento que ela organizou foi aos 12 anos, a festa junina da escola. O que Tânia
Trevisan não imaginava era que sua carreira profissional, com atuação internacional, seria
desenhada a partir de eventos. Junto com sócios alemães, Tânia se especializou em
eventos esportivos. E em tempos de Copa do Mundo seus conceitos e suas análises são
apuradas, trazendo o knowhow de que já apresentou o trabalho na recente Copa das
Confederações realizada no Brasil.
Júnior Santos
Tânia Trevisan: Depois da Copa, os estádios precisam ter eventos, precisam ser
rentáveis nos camarotes
A consultora demonstra otimismo com o uso das arenas. Segundo ela, a viabilidade
econômica desses espaços está atrelado ao multiuso. Empresas comprar camarotes para
uso durante todo ano? “É um ótimo negócio para Arena e para a empresa”, destaca Tânia
Trevisan, que esteve em Natal ministrando palestra em evento promovido pelo Natal
Convention Bureau.
Tânia Trevisan apresenta o conceito de eventos fechados e no Brasil implanta o trabalho
da “hospitalidade”, ou seja, organizar os camarotes dos chamados vips em grandes
eventos.
Ela observa que diferente do conceito de “vip” em eventos sociais, há uma distinção nos
esportivos, sua especialidade. Neles o perfil é diferente e as exigências também. Sobre o
que a Copa das Confederações deixou de lição, a empresária vai direto ao ponto: o Brasil
precisa de qualificação da mão de obra.
Mas independente de qual seja o evento, Tânia Trevisan apresenta uma regra básica,
fundamental para garantir o sucesso: planejamento.
Confira o 3 por 4 com Tânia Trevisan:
Como a senhora enveredou pela área de eventos fechados esportivos, onde faz uma
carreira internacional?
Na minha veia profissional as coisas vieram com uma transformação. Eu tinha uma
produtora de vídeo que se transformou em uma agência de publicidade e depois
publicidade e eventos. Com o decorrer do tempo, eu tive oportunidade de ter uma revista
de eventos. Eu quis mudar a marca e reuni o mercado; fiz uma votação onde todos
puderam escolher o nome da revista e o conteúdo. Hoje nossa empresa é especialista em
hospitalidade, no bem receber, no bem atender. Essa é a nossa proposta. Foi isso que
fizemos na Copa das Confederações. Essa é uma coisa nova, vai além. Quando fazemos
só a hospitalidade nós não fazemos todo conceito criativo, toda a produção, fazemos só a
hospitalidade e isso é a gastronomia, a estrutura da gastronomia.
Qual o evento que marcou sua trajetória?
Eu tive vários. Por exemplo, teve um cliente que, durante cinco anos, eu fiz o congresso
deles, uma associação, a Unidas, eram empresas de área médica, convênios médicos,
reguladores, foi um momento em que tive muito prazer, em fazer para o mesmo cliente.
Outros eventos marcantes foi quando estive implantando eventos em um castelo na Itália.
E aí acompanhei os dois primeiros eventos deste momento, foram eventos culturais. Agora
com os meus sócios alemães, começamos a fazer eventos desportivos. Na Copa das
Confederações trabalhamos, fizemos a área de hospitalidade. Isso quer dizer que a área
VVIP (veryveryimportantpeople – pessoas muito muito importantes) e a área VIP
(veryimportantpeople – pessoas muito importantes). Nessa área era onde ficavam Blatter
(presidente da Fifa, Joseph Blatter), a presidente Dilma Rousseff e a cantora Shakira, por
exemplo. A especialidade dos meus sócios, principalmente na Europa, é trabalhar para
grandes marcas como Mercedes, Porsche, fazendo a hospitalidade.
O que é a hospitalidade a que a senhora se refere no trabalho de evento?
Aqui no Brasil ainda é muito novo. A Copa das Confederações foi um marco para o
mercado brasileiro porque para você entrar nessa estrutura, precisa entender que se
chega numa Arena e tem 15 dias para colocar toda estrutura, treinar uma equipe. No
Castelão (em Fortaleza) éramos 12 pessoas (na gestão) na hospitalidade (dos camarotes)
para atender 3.500 pessoas e com 604 pessoas (funcionários) para atender a todos.
Essas 604 pessoas eram para atender área vip e vvip, só camarotes e viplounges.
A senhora, nesse conceito de camarotes e festas internacionais para pessoas vips,
lida com o estrelismo?
Não digo isso. Pelo menos para os eventos esportivos não vejo assim. No caso de Shakira
(que participou da Copa das Confederações, por exemplo, ela é super simples. Shakira o
que ela não queria era ser abordada pela imprensa porque ela estava assistindo o marido
dela (jogador Piquet, da Espanha) ali jogando. Mas sem estrelismo nenhum. São todos
vips discretos. Mas veja que estamos falando dentro de uma área desportiva, o que é
diferente de você ir para um evento social. Porque aí (no evento social) os glamorosos têm
todos os agentes deles que provocam e ainda fica mais glamoroso. Mas dentro de uma
área desportiva é diferente. É como você vê Rick Martin na praia de Ipanema, andando de
bicicleta. Ele anda de bicicleta, ali ele está como uma pessoa normal, não é uma estrela.
O que a Copa das Confederações lhe deixou de lição?
Deixou uma lição muito importante. Primeiro que precisamos capacitar as pessoas que
trabalham com evento. Precisamos trabalhar com pessoas de todas as categorias, desde
o carregador que precisava entender o Inglês da nossa equipe e não entendia. O pessoal
que precisava ter proatividade, mas não sabia mexer com equipamentos. Trabalhamos
com profissionais principalmente da Alemanha. O mais bacana de tudo é que quem
participou (da Copa das Confederações) teve um treinamento e já é diferente no mercado
(do Brasil). Já foi um legado para os profissionais que trabalharam.
A senhora traz para o Brasil a proposta apenas para eventos esportivos?
Pretendemos atender a clientes corporativos também. Nós atendemos a Mercedes na
Europa. Todo salão do automóvel que tem em Genebra, Tóquio, nossa equipe vai para lá.
Quem vai, normalmente, são meus dois sócios da Alemanha que já estão no meio do
caminho. Então, por exemplo, minha sócia veio ao Brasil porque vamos atender clientes
aqui no nosso país que tem relação com a matriz.
O que é mais complicado, falando do conceito de evento de uma forma geral, para
garantir o sucesso de um evento?
Planejamento. A preocupação é o planejamento para que tudo dê certo, o cronograma
seja cumprido, para que tudo seja feito à risca. Muitas empresas espremem a verba e a
gente vai acomodando para o essencial não faltar. A acomodação da verba ultimamente
tem sido o fator preponderante e o que não pode faltar é o planejamento, cronograma, não
pode faltar confiança. Precisa estar tudo certo. É uma grande orquestra.
A senhora trabalhou com publicidade e depois enveredou pela área de eventos. O
que dá mais resultado para empresa?
Excelente pergunta. Chegamos em um momento onde a publicidade só não bastava. O
consumidor ele teve o viés e experimentação e o no evento você consegue ter a
experiência da marca, do produto, experiência do serviço. É aí que muda o sentido. O
consumidor mudou. Antigamente era um consumidor mais passivo. Ele tinha uma
propaganda, ia lá e experimentava o produto. Hoje as marcas querem a propaganda, mas
querem a experiência do produto. Tem evento, tem degustação. Se você vai no evento,
ganha amostra do produto, você experimenta e já compra, se gostou. O evento teve um
grande salto e as agências de publicidade perceberam que as empresas estavam
dividindo a verba de publicidade com evento e elas começaram a abrir seus tentáculos
para evento.
A presença vip em evento tem algum tipo de efeito?
Existe presença vip importante. Por exemplo, Ivete Sangalo foi a garota propaganda da
Chevrolet durante algum tempo. Então ela está em evento de lançamento de um carro
tinha todo sentido. E assim tem vips que são garotos propagandas de marcas e vale a
pena. Agora levar vips por levar não tem sentido. É importante apenas se tiver conexão
com o produto. Veja naquela época que teve um escândalo com Ronaldo (ex-jogador
Ronaldo). Com aquilo perdeu contratos milionários. Isso porque a reputação é outra coisa
importante no mercado de eventos hoje e no mercado empresarial. Hoje as empresas
estão trabalhando, dentro da publicidade, a imagem dela como reputação. Existem
empresas especializadas em fazer a reputação de sua empresa.
Como funciona isso?
É um marketing. Essa empresa especializada em fazer a reputação da sua empresa vai
analisar os atributos que fazem sua reputação.
Qual o foco da sua empresa a partir de agora, pós-Copa das Confederações e com a
Copa do Mundo por ocorrer?
Eventos desportivos com foco na consultoria para os estádios. Eles (os estádios) depois
da Copa precisam ter eventos, precisam ser rentáveis nos camarotes. Eu falo nas minhas
palestras como rentabilizar os estádios. E isso a gente consegue fazendo hospitalidade.
É complicado rentabilizar um estádio desse?
Cito como exemplo a Arena que fica na Alemanha. Em 2001 não tinha camarote. E hoje
depois que teve a Copa da Alemanha, os estádios tiveram camarote, começaram com
serviço de hospitalidade, então hoje são rentáveis e as maiores verbas entram pelos
camarotes que estão vendidos até 2015. Isso tudo ocorreu depois da Copa da Alemanha.
É rentável as empresas comprarem os camarotes?
Lógico. Rentável para Arena e para empresa que compra o camarote. Elas (as empresas)
vão usar os camarotes para suas reuniões, como meio de fidelização do cliente,
fornecedor.
Bate e volta
Qual a alternativa das empresas, que não serão patrocinadoras, de atuarem na
Copa?
Este ano vamos trabalhar atendendo algumas marcas para fazer o incentivo. Vamos fazer
ativação de marca. Mesmo que a empresa tenha comprado um camarote dentro da Arena,
ela não vai poder ativar a marca dela lá dentro da Arena. Então tem que ser fora da Arena,
aí será dentro ou em outro local. Muitas vezes são clientes especiais ou funcionários que
ganharam uma premiação e são chamados. Eles (os convidados) vão ficar em um hotel,
que pode ser o esquenta lá. A ativação da marca será por interatividade.
Download

"Organizar evento é como uma grande orquestra"