4 entrevista TRIBUNA DA MADEIRA Sexta-feira, 25 de Abril de 2014 «A Madeira tem uma grande vantagem competitiva que é o turismo» Afirmou Mário Vilalva, frisando que seria importante incluir a Madeira nos pacotes para Portugal Em entrevista ao Tribuna, o Embaixador do Brasil em Portugal, em visita oficial à Madeira, onde já esteve há 22 anos, na altura como Conselheiro do então embaixador, afirmou que o objectivo desta sua visita à Ilha foi o de contactar os diversos sectores da sociedade madeirense. Mário Vilalva mostrou interesse em explorar a indústria do meio ambiente adiantando haver interesse por parte de empresários brasileiros. A relação entre o Brasil e Portugal e a avaliação da Troika foram assuntos também abordados. SARA SILVINO [email protected] T ribuna da Madeira (TM) – Quais foram os obejctivos traçados da sua visita à Madeira? Mário Vilalva (MV) – Em primeiro lugar, gostaria de dizer que esta é a minha segunda visita à Ilha da Madeira. A primeira foi há cerca de 22 anos atrás. Na ocasião, acompanhei o então Embaixador do Brasil numa visita oficial à Ilha. É importante assinalar que, desde então, nenhum outro Embaixador brasileiro visitou a Ilha, o que me surpreendeu muito. Mas, de toda a forma, não podia deixar de vir à Ilha da Madeira não só porque já conhecia, já tinha adquirido um certo afecto pela Região, mas também porque eu acredito que o Embaixador do Brasil deve conhecer todas as Regiões de Portugal. A única forma de encontrarmos novas oportunidades de cooperação é conhecendo as regiões, auscultando as pessoas e procurando esse contacto mais próximo com os diversos segimentos das sociedades locais. Portanto, o objectivo da minha visita à Ilha da Madeira é, precisamente, o de contactar os diversos sectores da sociedade madeirense, o sector empresarial, cultural, político da ilha, de modo a poder entender mais quais são os anseios desses diversos seguimentos em relação ao Brasil. TM – Referiu que foram assinalados 22 anos desde que um Embaixador do Brasil visitou a Ilha, são muitos anos... MV – Acredito que sim. Para mim, é uma surpresa. Dei-me conta disso recentemente, foi uma grande surpresa. Agora isso, às vezes, pode acontecer devido à rotatividade dos Embaixadores. Houve Embaixadores que ficaram dois anos. Eu tive a sorte de poder ficar mais tempo, e me dedicar mais a viagens a todas as regiões do país. TM – Existem, na sua opinião, oportunidades de cooperação entre o Brasil e a Madeira, especificamente, tendo em conta a dimensão da Ilha. Acha que a Madeira está atgractiva para o investimento por parte do Brasil? MV – Eu acho que sim. Acho que a Madeira tem uma grande vantagem competitiva que é o turismo. E eu acho que é pelo turismo que podemos chegar a outras áreas. Mas é preciso usar o turismo como carro chefe, aproveitando, inclusive, o facto de que é uma redescoberta da parte brasileira em relação a Portugal. Durante muitos anos os brasileiros sobre- entrevista TRIBUNA DA MADEIRA Sexta-feira, 25 de Abril de 2014 voavam o território português e iam directo a Roma, a Paris, a outras capitais europeias. E, de repente, por várias razões, os brasileiros voltaram a visitar Portugal. É importante referir que há novos instrumentos para investir também. Hoje, a TAP disponibiliza 76 frequências semanais nos dois sentidos, são 10 cidades brasileiras atendidas por voos directos, a partir de Junho serão 12 com a inclusão de Manaus e Belém. Mas também pelo facto de que, há cerca de uns anos atrás mais precisamente em 2008, nós comemorámos o bicentenário da chegada da família real ao Brasil. E isso fez com que houvesse muitos livros escritos sobre o assunto, muitos pesquisadores, analistas, sociólogos, historiadores, não só brasileiros mas também estrangeiros, que publicaram muito no Brasil sobre esse assunto. Então as pessoas estavam como redescobrindo um pouco as suas origens, a nossa história, inclusive, essas publicações também chegaram ao ponto de alcançar as crianças com edições juvenis desses livros, de modo que houve um interes- se renovado pela nossa história. O Brasil, nos últimos anos, incorporou um contingente muito grande na nova classe média brasileira. Cerca de 36 milhões de pessoas que estavam na pobreza passaram à classe média nos últimos 10 anos. E então essas pessoas são pessoas que têm dinheiro, que podem viajar, mas têm uma carência muito grande de cultura e de história. Acho que tudo isso tem facilitado essa redescoberta de Portugal. Aí, eu considero que a Ilha da Madeira deve se acoplar a esses pacotes turísticos que estão sendo promovidos no Brasil em relação a Portugal. Muitos empresários da Madeira me perguntaram sobre a possibilidade de um voo directo. TM - E acha que existe essa possibilidade? MV - Eu acho que ainda é prematuro, a menos que a Ilha tenha uma actividade central, algo celular que, realmente, a caracterizem em relação a outras ilhas, por exemplo, do Mediterrâneo. Eu acho que para um começo seria importante incluir a Madeira nos pacotes para Portugal. “O Brasil não reconhece o CINM naquilo que oferece de vantajoso em termos fiscais” Até porque há curiosidade por parte do brasileiro em relação à Ilha. Muita gente nos pergunta como é que é a Ilha da Madeira e o que é que tem para poderem ver. Daí, acho importante num primeiro momento que a Ilha seja automaticamente incluida nos voos e nos pacotes de turismo para Portugal. «O Brasil teria interesse em investir no turismo» TM – Quais são as áreas em que o Brasil teria interesse em investir na Madeira? MV – Eu acho que, para começar, seria o turismo. Mas há outros aspectos que podem gerar cooperação como, por exemplo, conversando na ACIF, num evento realizado nesta segunda-feira, dei conta de que há um grande interesse na Madeira por produtos originais do meio ambiente. Isso é uma indústria já próspera no Brasil, e se há interesse de muitos empresários aqui nessa área, então essa é uma área nova em que, provavelmente, possa haver algum interesse por parte de empresários brasileiros. Uma das minhas missões, já a partir dessa identificação de oportunidade aqui na Madeira, será precisamente explorar os contactos nessa indústria que é a chamada indústria do meio ambiente, para ver se há possibilidades de nova cooperação com a Ilha da Madeira. TM – Pelo contacto que teve, nesta sua visita, com empresários madeirenses, o que lhe transmitiram em concreto? MV – Muitos dos empresários aqui, na Madeira, estão ligados ao turismo, sobretudo à parte de hotelaria. São empresários, inclusive, que possuem importantes investimentos no Brasil. Esse foi, obviamente, um dos assuntos que nós tratamos e vamos continuar a explorar essa área. É importante usar o turismo como carro chefe para podermos chegar a outras indústrias que estão, de certa maneira, vinculadas ao turismo. O turismo é uma actividade muito dinâmica. Em cada 10 empregados no Mundo um 5 está na área do turismo. É preciso explorar mais as oportunidades por essa via. TM – Na iniciativa promovida pela ACIF, em parceria com o IPDAL, foi transmitido que o Centro Internacional de Negócios da Madeira - CINM é um «bom instrumento para captar investimentos para a Madeira, para Portugal e para o Mundo». Tem acompanhado a situação do CINM? Considera haver interesse no investimento na Zona Franca da Madeira? MV – Eu tenho acompanhado, mas não na profundidade que gostaria. E esse é um dos assuntos que eu pretendo me aprofundar um pouco mais, inclusive, ouvindo os empresários da Madeira. De facto, o Brasil não reconhece esse Centro Internacional de Negócios naquilo que ele oferece de vantajoso em termos fiscais. Mas é um assunto em aberto, é um assunto que é preciso explorar mais, conhecer e compreender melhor esse assunto, e levar às autoridades que cuidam dessa matéria uma maior sensibilização para ver a pos- 6 entrevista sibilidade de nós revertermos essa situação. Não digo que será possível, mas acho que como existe da parte brasileira uma disposição de conversar e discutir essa matéria, por enquanto não há nenhuma mudança de posição por parte do Brasil, mas há essa abertura clara de diálogo para entender melhor o que se passa. TM – Mantém interesse nas privatizações? MV – As empresas brasi- TRIBUNA DA MADEIRA Sexta-feira, 25 de Abril de 2014 leiras participaram de todas as privatizações que foram levadas a cabo, até ao momento, pelo governo português. Só vencemos uma, que foi os hospitais particulares, os HPP’s, por uma empresa que tem sede no Brasil que fez um bom negócio e que já está investindo. Está expandindo o negócio com a abertura de uma nova clínica no contexto dos Lusíadas dos hospitais. Isso é muito gratificante. Continuamos a promover essas priva- tizações no Brasil, é o papel do governo fazer isso, mas o governo não compra nada. O governo, e especificamente, a Embaixada do Brasil em Lisboa, tem procurado divulgar junto dos empresários brasileiros as oportunidades que se apresentam nas privatizações. Agora, estamos participando na privatização da Empresa Geral de Fomento (EGF), com um grande consórcio que é formado pela Odebrecht e a Solvão, que são duas grandes empresas intrenacionais que já estão presentes em Portugal. E, portanto, fazemos votos que o Brasil possa vencer esta privatização. «Portugal e o Brasil têm uma cooperação intensa» TM – Como vê a relação entre o Brasil e Portugal? MV – A relação está passando por um momento muito mágico, porque não temos nenhum contencioso a nível político, nem comercial, económico. Ao contrário, temos uma cooperação intensa. No nível político, cooperamos não só através das inúmeras visitas que temos entre as autoridades dos dois países mas também sobretudo pela cooperação que levamos a cabo nos organismos internacionais. O Brasil e Portugal estão, hoje, muito juntos em grandes temas internacionais. Houve um Ministro das Relações Internacionais do Brasil que classificou essa nossa relação como uma relação de cumplicidade, porque conseguimos dialogar de uma forma muito franca entre os dois países. Nós nos conhecemos tão bem e isso é muito importante, e isso faz com que tenhamos as nossas posições muito bem definidas no exterior. Inclusive, Portugal muitas vezes defende posições que nem sempre estão de acordo com o contexto europeu, que mostra uma certa independência de Portugal. Embora, plenamente inserido no contexto europeu mas faz questão de, em determinados aspectos, fazer ver que a sua posição é muito importante. Sobretudo, que Portugal tem uma história muito importante ligada ao Atlântico e faz questão que essa história seja uma marca da identidade portuguesa já reforçada. «Portugal e o Brasil estão cooperando em biotecnologia e nanotecnologia» TM - A crise económica atual tem atraído capital do Brasil para Portugal? MV - Tem. O Brasil continua investindo em Portugal. Portugal tem muitos investimentos no Brasil, cerca de 600 empresas portuguesas operam no Brasil, e nós temos aqui talvez duas dúzias de empresas brasileiras a operar. A grande diferença é que Portugal concentra os seus investimentos nos países lusófonos, ao passo que o Brasil hoje tem investimentos estrangeiros mais espalhados pelo mundo. E essa é a razão pela qual nós temos muito menos do que Portugal tem no Brasil. Mas o mais importante é que são investimentos de qualidade, há investimento em alta tecnologia, Brasil e Portugal estão construíndo aviões juntos e isso não é pouca coisa e em português não em inglês. entrevista TRIBUNA DA MADEIRA Sexta-feira, 25 de Abril de 2014 Eles também valorizam muito a nossa língua, aquilo que eu sempre digo que é necessário ter que é o substracto económico dentro da língua para que ela seja, de facto, reconhecida como língua internacional. Não adianta defendermos a internacionalização da língua é preciso que ela tenha e seja reconhecida como substracto económico. No fundo, as pessoas querem aprender uma língua se verem nela uma oportunidade económica. Da mesma forma, Portugal tem feito investimentos importantes no Brasil, por exemplo, o caso da telefonia. Portugal é muito avançado nessa área e tem feito investimentos muito importantes. Quero realçar também que hoje Portugal e o Brasil já estão cooperando em biotecnologia e nanotecnologia, são áreas novas que vão muito além daquela cooperação tradicional que estava mais ligada à cultura, história, literatura. E isso faz-me sempre dizer que a língua não é só dos poetas e dos escritores mas também dos engenheiros e dos cientistas. Acho que é uma nova fronteira que estamos explorando dentro do que nós chamamos de lusofonia. TM - Numa entrevista, referiu que em janeiro seria a entrada no capítulo do acesso ao mercado, que é a negociação tarifária propriamente dita. Qual é o ponto da situação? MV - O Mercosul e a União Europeia estão, no momento, negociando um acordo de livre comércio. Este é um acordo amplo, complexo, é um acordo que lida com diversas matérias inclusive, e sobretudo, com a eliminação das barreiras tarifárias entre os dois blocos. Isso significa que se assinarmos esse acordo estaremos isentando cerca de 87% do universo tarifário entre os dois blocos de modo a chegarmos à tarifa zero num prazo de 10 anos. O que significa dizer que os produtos europeus, os portugueses incluidos, vão poder ingressar no Brasil ou na Argentina ou Paraguai ou na Venezuela, com tarifa zero. E isso vai dar uma vantagem competitiva muito grande. Da mesma maneira, os produtos brasileiros sobretudo os ligados ao agronegócio, onde está a grande competitividade da nossa economia vão poder ingressar na europa também com tarifa zero no prazo de 10 anos. Esse é um acordo transcendental porque vai gerar um novo tipo de comércio entre os dois blocos, vai gerar um novo tipo de investimento, vai gerar riqueza, emprego, e vai gerar o resgate do Atlântico com grande via de comércio que nós perdemos para o Pacífico nos anos 80. TM - Como é que a crise económica da Europa e as soluções adoptadas é vista pelo Brasil? MV - O Brasil teve uma grande preocupação com a crise na Europa porque cerca de 20% do nosso comércio exterior é feito com a Europa. Cerca de 20% dos investimentos estrangeiros recebidos no Brasil vêm da Europa, então essa crise nos preocupou intensamente. Porque ela poderia ter, e acabou tendo, na economia brasileira. A economia brasileira tem hoje números macro económicos muito bons, saudáveis, graças às reformas que fizemos no final da década de 90, início da década de 2000. Fizemos um ajuste fiscal bem rigoroso, fizemos reformas, saneamos os bancos, resolvemos a dívida dos Estados brasileiros, etc. Com isso, o Brasil ficou mais robusto, mais preparado para se defender de crises internacionais, o que antes não ocorria. Mas, mesmo assim, sofremos algum impacto dessa crise internacional que não foi só na Europa foi também nos Estados Unidos e nalguns países asiáticos. E isso fez com que, por exemplo, as nossas exportações para o exterior diminuissem. Ainda temos um comércio exterior robusto e uma balança comercial equilibrada, com um saldo positivo para o Brasil, mas o saldo era muito maior e se reduziu bastante. O crescimento económico no Brasil que era esperado em torno de 4, 4,5%, acabou tendo uma média de 3%, nos últimos cinco anos. Não é mau, mas também não é o ideal. O Brasil precisa de criar, no mínimo, dois milhões de emprego, por ano. Isso faz com que o Brasil necessite crescer de forma sustentada a uma média de 4,5% ao ano. A crise não teve um impacto global porque o emprego continua bastante alto no Brasil, a nossa taxa de desemprego está em 4,8%, o que significa pleno emprego, as reservas internacionais continuam altíssimas, em 375 mil milhões de dólares, os investimentos estrangeiros directos nos últimos anos tivemos uma média anual de 63 mil milhões de dólares em investimento estrangeiro directo no Brasil. Nunca tivemos tanto dinheiro investido no Brasil. Estamos fazendo uma série de obras, remodelando estradas, vias, ferrovias, hidrovias, de modo a modernizar o Brasil. TM - Quando se refere a investimentos em obras, certamente, refere-se a obras necessárias, não a obras sem utilidade, como na Madeira existem alguns desses exemplos de obras que são apontadas como não sendo necessárias e estão sem qualquer utilidade, neste momento? MV - Não. No Brasil, temos dois aspectos. Primeiro, aquelas obras que necessitam ser feitas para preparar o país para o Mundial, que começa agora em junho e depois para meu ver para o país, e digo isto francamente, é saber qual o rumo futuro. É importante que a sociedade portuguesa se una para definir o que, de facto, a sociedade quer do país, de modo a ter um rumo bem definido e que seja próprio do país para o futuro. Até porque nós sabemos que as crises não vão terminar. Sabemos que daqui a uns anos pode vir outra crise. O perigo está na esquina e 7 os seus salários. O que acontece é que quando se aumenta a classe média tem de aumentar também, paralelamente, os serviços do Estado para acompanhar esse número que foi colocado para dentro da classe média. As manifestações que ocorreram, por exemplo em junho passado, são manifestações não da classe pobre são da classe média, são pessoas que têm formação universitária, «A relação entre o Brasil e Portugal é de cumplicidade» as Olimpíadas em 2016. Mas há outras obras que são vitais para o Brasil como um todo, por exemplo, temos ainda graves problemas em termos de infraestruturas rodoviárias, é necessário expnadir também e melhorar as ferrovias sobretudo aquelas que servem os corredores de exportação do país. Melhorar os aeroportos, os portos que também estão congestionados. Isto tudo precisa de uma remodelação e não dependem, exclusivamente, dos grandes eventos internacionais. Isso faz falta ao país como um todo. «Acredito que Portugal vai sair da crise» TM - Como vê a situação actual do país. As avaliações da Troika com os cortes salariais sucessivos? MV - Há uma regra de ouro na diplomacia que diz que os diplomatas estrangeiros não devem interferir nos assuntos internos do país. Agora, eu vejo que Portugal está fazendo o seu dever de casa. Era necessário passar por esse ajuste assim como nós no Brasil também fizemos esse ajuste fiscal no final dos anos 90 início de 2000. Não há mágica nisso e a crise não é portuguesa, a crise é europeia. Portugal acabou sendo uma vítima do que aconteceu com a Europa, não tinha muita escapatória. Teve que fazer essa arrumação dentro de casa. Eu acredito muito que o país vai sair da crise, como aliás já está saindo. E isso eu próprio afirmei há uns três anos atrás. Podemos ver que Portugal já está colocando a cabeça de fora dessa crise. Agora, o grande desafio a temos de estar preparados para dobrar a esquina. Esse é que é o grande desafio. Em relação à crise, em si, tinha a certeza e isso já referi nalgumas entrevistas que já dei há uns anos atrás, de que Portugal sairia da crise. «Houve uma grande distribuição de riqueza no Brasil» TM - A distribuição da riqueza no Brasil é um dos pontos criticados pelos brasileiros como sendo um dos factores menos conseguidos dos sucessivos governos brasileiros, e que esteve na base das manifestações e confrontos a que assitimos. Qual o seu comentário? MV - Ao contrário do que se diz, houve uma grande distribuição de riqueza no Brasil. A maior prova disso é que, como disse há pouco, 36 milhões de pessoas sairam da pobreza e ingressaram na classe média, nos últimos 10 anos. Isso é uma prova tangível de que há uma distribuição, está havendo uma distribuição, de riqueza. Até porque o governo tem programas sociais muito importantes para ajudar aqueles que etão abaixo da linha da pobreza a terem um caminho para sairem dessa situação. Agora, ainda há bastante por fazer. Temos ainda cerca de 17% da população que ainda está debaixo da linha da pobreza. Já fizemos muitos avanços mas é preciso distribuir mais e melhor, com mais competitividade essa distribuição de riqueza. O Brasil tem crescido economicamente, o desemprego está muito baixo o que prova também que as pessoas estão trabalhando, estão ganhando que puderam ir á escola, que estão trabalhando, mas que querem ter por parte do Estado um serviço compatível na saúde, na educação, na mobilidade social. Em todas as manifestações há os arruaceiros que estão lá só para fazer confusão e isso foi a minoria. As imagens mostraram isso. E, portanto, isso serviu de um certo alerta para o governo de que era necessário melhorar esse serviço. E o governo está investindo nisso agora. TM - O Brasil vai acolher uma série de eventos mundiais como o Mundial de Futebol em junho de 2014 e as Olimpíadas em 2016. Quais são as expectativas para a economia local? MV - Não há dúvida nenhuma de que todo o país que realiza grandes eventos internacionais tem um impacto positivo na economia. O importante é que não nos fiemos apenas nesses eventos internacionais, e sabemos que há outros factores importantes que vão sustentar o crescimento da economia a partir de 2016. Como por exemplo, o facto de que a partir de 2017, todo aquele petróleo que foi encontrado no offshore brasileiro, são reservas enormes 123 mil milhões de barris que estarão jorrando plenamente a partir de 2017. Isto vai ter um grande impacto muito positivo na economia. O Brasil vai passar a ser exportador líquido do petróleo a partir de 2017. Por isso não serão só os eventos, eles terão impacto porque o mundo vai estar focado no Brasil. O impacto da promoção do Brasil será imenso, por isso é importante que façamos um belo evento internacional com muita alegria, que o espectáculo seja bonito e com toda a segurança. l