GESTÃO TRANSDISCIPLINAR DA RESERVA DA BIOSFERA E SANEAMENTO AMBIENTAL EM CENTROS URBANOS: WOKSHOP Rodrigo Antônio B. Moraes Vitor1, Fábio Cesar da Silva2, Durval Dourado Neto3. Abstract - The WORKSHOP will argue as the central subject, the effect of the demographic concentration, if it distributes in chaotic way, that reflects in the organization of the territorial space, saturating and consuming the environmental resources. In a vision to multidiscipline, would be approached as example, the case of the green belt of São Paulo, where the city is to one alone local time "of consumption and consumption of the place", selecting some pointers of support and the strategical paper of the sustainable food generation. It will have two main lines of argument: "the Green belt of the Urban Centers as Reserve of the Biosfera" and "Environmental Sanitation, Territory, Agriculture and Public Health"; exemplify of the green belt of the city of São Paulo. Key works green belt, environmental risk and biosfera. INTRODUÇÃO O presente século vem assistindo a um intenso movimento de internacionalização e globalização. A integração no âmbito da política com a criação da ONU no pós-guerra, os grandes acordos comerciais, como o do Acôrdo Geral sôbre Tarifas Aduaneiras e Comércio - GATT, a formação dos blocos econômicos, a transnacionalização das grandes empresas e do capital financeiro, difusão da informação e da informática, entre outros. Mas destacadamente, o mundo vive hoje a internacionalização do Ambiente. Com a ECO92, isto se torna patente e concreto com a regulamentação da venda de credito de carbono pelo protocolo de Quioto. Instituída pela UNESCO, Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, no âmbito de seu Programa "O Homem e a Biosfera" (The Man And the Biosphere - MAB), a Reserva da Biosfera é uma categoria única atribuída a determinada área do globo considerada de relevante valor ambiental para a Humanidade por abrigar importante ecossistema, constituindo-se herança comum do Homem. A Reserva da Biosfera objetiva deste modo uma correta gestão da preservação e conservação da natureza, a pesquisa científica e o desenvolvimento auto-sustentado, servindo assim de sistema de referência para medir os impactos do Homem sobre seu ambiente. Longe de ser apenas uma comenda ou figura de retórica, a Reserva da Biosfera representa um verdadeiro instrumento referendado internacionalmente para a resistência da sociedade civil em favor da herança de todos, que começa na gestão de seu território. Por isso, a UNESCO recomenda que a gestão de uma Reserva de Biosfera se faça de forma democratizada em termos interativos e participativos. Os Governos locais, espontaneamente, indicam as áreas que pretendem ter declarado como Reserva da Biosfera, o que significa forte compromisso e vontade política do Governo local, perante seus cidadãos e a comunidade internacional, em promover os esforços e ações concretas necessários para preservar tais áreas e estimular o desenvolvimento sustentável, dentro do espírito da solidariedade e da universalidade do direito publico. No âmbito dos municípios, muito se tem falado sobre reciclagem e sobre a necessidade de conscientização da separação e processamento dos resíduos sólidos recicláveis, considerando o ciclo de vida dos produtos e a capacidade de suporte ambiental. Não há dúvida de que reciclar é importante e necessário - menos pela reciclagem em si, mas ser o tratamento mais eco-eficiente é fundamental; mais que "limpar" o lixo, selecionando o orgânico, que representa cerca de 50 a 60% dos resíduos sólidos hoje no Brasil. Hoje, o gerenciamento sustentável dos resíduos sólidos é uma questão crítica que preocupa as administrações públicas municipais, preconiza a adoção de sistemas descentralizados para o saneamento ambiental, dentro de um planejamento integrado, e dá ênfase às ações de minimização para solucionar o problema. Uma das principais ações diz respeito à maximização da reciclagem e ao reaproveitamento desses resíduos. Além disso, reflexos sociais e econômicos como a falta de espaço e de verbas para a construção de novos aterros sanitários tem contribuído para despertar o interesse do setor público em busca de alternativas economicamente sustentáveis. O crescente conhecimento das implicações do aumento do volume de resíduos sólidos, os problemas decorrentes do manejo, tratamento e disposição destes ao meio ambiente, o esgotamento de matérias-primas, de fontes de energia e da limitação de espaço territorial, e o engajamento da sociedade 1 Pesquisador do Instituto Florestal, Coordenador da RB do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, Rua do Horto, 931 02377-000 - São Paulo-SP. E-mail: [email protected] e [email protected] 2 Pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária, Professor da Faculdade de Tecnológica de Piracicaba - FATEP. C. Postal = 6041, Cidade Universitária Zeferino Vaz, 13.083-970 Campinas SP, Brasil, [email protected]. Pósdoutorando no Departamento em Produção Vegetal – ESALQ/USP. 3 Professor Titular, Chefe do Departamento de Produção Vegetal da ESALQ/USP, Piracicaba SP. © 2007 ICECE March 11 - 14, 2007, São Paulo, BRAZIL International Conference on Engineering and Computer Education 402 organizada tem aumentado a consciência ambiental, que reflete na necessidade de mudança no gestor público na qualificação, na visão múltipla dessa reserva da biosfera e o tratamento do problema. Outrossim, no Brasil, onde a maioria da população habita aglomerada urbana, a infraestrutura e o gerenciamento sanitário ainda é bastante deficiente, assim como nas usinas de compostagem e os cuidados de minimização dos impactos de resíduos no cinturão verde. Para adotar medidas que contribuam ao correto tratamento dos resíduos sólidos, faz-se necessário um gerenciamento de forma integrada. Para que isto ocorra, o conhecimento sistêmico do problema permite vislumbrar alternativas para sua gestão, nas quais demandam um comportamento diferente dos setores público, produtivo e de consumo; pois produzir um composto orgânico de baixa qualidade apenas transfere o problema ambiental do setor urbano para o rural. A reciclagem da fração orgânica dos resíduos sólidos na agricultura após compostagem é uma alternativa para os gestores públicos nas cidades, que precisam ser integrados aos sistemas de gestão ambiental (SGA) e uma ocupação territorial ordenada. Mas, é estratégico definir um modelo de gestão publica ambiental dinâmica baseado em sistemas (System Dynamics) para obter um produto apto para agricultura após compostagem e respeitando a reserva de biosfera, que amplie a visão do resíduo para outros componentes (consumos de água, energia, ruídos) e minimizando os impactos ambientais e a saúde publica. Nesse contexto de SGA, inclui-se particularidade da interação do ambiente com os aspectos de cidadania e conservação. Assim, o gestor público moderno requer informações técnicas adequadas e condições estruturais compatíveis para o manejo, tratamento e disposição dos resíduos do município, e estas ainda não estão totalmente disponíveis para as instituições que possuem problemas de tal natureza. Deste modo, torna-se oportuno apoiar os gestores por meios de sistemas especialistas e outros meios informatizados que possam agregar conhecimento disponível sob o tema e apoiar os municípios na solução de seus problemas. Hoje, há diversos sistemas disponíveis, que vai de metodologia baseada em sistemas de informação geográfica para agrupar as variáveis de solos que refletem a sua capacidade de suporte ambiental para escolha das melhores áreas para a construção de aterros sanitários (WEBER & HASENACK, 20034), passando por softwares que procedem a análise da viabilidade econômica da implantação de uma usina de compostagem (Software RECICLON) até sistemas para avaliar a qualidade do composto de lixo e recomendar o seu uso na agricultura (Software SIRCLUA – SILVA et al., 20025). Entretanto, a política nacional de resíduos é o mecanismo que deverá indicar os meios econômicos para adotar uma ação mais adequada. O gerenciamento sustentável dos resíduos sólidos pressupõe a redução da carga destinada a aterros pela compostagem da fração orgânica, o qual disposição apenas faz a contenção física desses resíduos e imobilizam as áreas de reserva da biosfera. A compostagem da fração orgânica é um processo biológico no qual os resíduos putrescíveis vão se degradando e se estabilizando em um novo produto com características físicas, químicas e biológicas distintas dos resíduos iniciais. Esse processo pode ser acelerado nas usinas de compostagem, onde o produto final denomina-se composto, cujo produto resultante é uma substância escura, uniforme, com aspecto de massa amorfa, rico em partículas coloidais, que lembra ao "húmus". Tal material estabilizada a sua fração orgânica pode ser utilizado na agricultura, mas requer um controle dos valores máximos aceitáveis para os metais pesados e patogênicos. De acordo com DEMAJOROVIC (2001), as novas prioridades da atual política de gestão de resíduo sólidas incorporam a dimensão da sustentabilidade por duas razões principais. Primeiro é possível minimizar o processo de degradação ambiental antes que isso ocorra, à medida que se evita a produção de determinados resíduos, reaproveita-se parcela destes e “inertiza-se” o restante. Em segundo, ao gerenciar a produção de resíduos sólidos em todas as fases do sistema econômico, e não apenas se concentrando no tratamento final destes, a atual política de gestão de resíduos sólidos tem como objetivo garantir, em longo prazo, uma estabilização da demanda por recursos naturais e do volume final de resíduos a serem dispostos, fatores estes fundamentais na busca do desenvolvimento sustentável. © 2007 ICECE RESERVA BIOSFERA: CINTURÃO VERDE DA GRANDE SÃO PAULO Uma Reserva da Biofera compõe-se de: (a) áreas núcleo, constituídas de ecossistemas minimamente afetados, correspondendo a áreas sob proteção legal doméstica, como reservas naturais e porções selvagens de parques nacionais; (b) área tampão, onde há utilização dos recursos naturais e atividades são manejados de modo a contribuir para a proteção dessa área; (c) área de transição, correspondente a uma dinâmica região de cooperação na qual conhecimentos e manejos de conservação são aplicados, podendo conter áreas de plantio, florestas manejadas, recreação, ou outros usos econômicos. A Grande São Paulo - A Região Metropolitana de São Paulo compreende 38 Municípios, ocupando uma superfície de 805.300 hectares. Com uma população de mais de 16 4 http://delmonio.ecologia.ufrgs.br/idrisi/artigos/aterro.pdf Documento No. 022/02 da Embrapa - Sistema especialista para aplicação do composto de lixo urbano na agricultura – site: http://www.cnptia.embrapa.br/publica/2002/doc22.pdf 5 March 11 - 14, 2007, São Paulo, BRAZIL International Conference on Engineering and Computer Education 403 milhões de habitantes, apresenta, portanto uma concentração demográfica acima de 2.000 hab./km2. Com isso, a região concentra mais de 10% da população brasileira em menos de um milésimo do território nacional. Na última década, a metrópole teve um crescimento anual de 290 mil habitantes, o que corresponde a uma cidade do tamanho de Estrasburgo ou Piracicaba. Apesar disso, observa-se uma redução da taxa de crescimento da cidade de 4,46% na década de 70 para 1,86% de 1980 a 1991, o que projeta para o ano 2000 uma população de 18 milhões de habitantes, situando a Metrópole entre as três maiores do mundo. Essa concentração demográfica se distribui de maneira caótica, engendrando um ambiente social de contradições que se reflete na organização do espaço territorial, saturando e consumindo os recursos ambientais. É a célebre Belíndia algumas Bélgicas, ilhas de prosperidade, cercadas de muitas Índias, cinturões de miséria. A Cidade é a um só tempo "local de consumo e consumo do local" (no dizer de Lefevre). Sob o ponto de vista fitofisionômico, a Região Metropolitana de São Paulo se situa no Domínio da Mata Atlântica, e sua periferia, o chamado CINTURÃO VERDE, possui ainda expressivos fragmentos desse ecossistema em extinção. Estando a maior parte da Metrópole localizada na região sedimentar da Bacia do Alto Tietê, o Cinturão Verde em sua maior parte corresponde a áreas de relevos pronunciados e maciços, onde se abrigam diversas áreas de proteção ambiental no cinturão verde, como se nota na Figura 1, destacando-se o Parque da Cantareira (N), o Jaraguá (NO), Caucáia (O), Jurupará (SO), Represas Billings e Guarapiranga (S), Serra do Mar (S-SE), Itapeti (E), nascentes do Tietê em Salesópolis (E). Figura 1. Zoneamento da RBCV no cinturão verde. © 2007 ICECE A Mata Atlântica, que há muitos milênios no período terciários inferior formava um corpo único com a Floresta Amazônica, no início do século XVI, quando os primeiros colonizadores portugueses aqui chegaram, dominava toda a porção oriental do Brasil, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, em uma faixa contínua de largura variável que abarca até mil quilômetros do litoral ao interior. Devido a este posicionamento geográfico, a Mata Atlântica foi a primeira a receber o impacto do "homem civilizado". De seu tecido primitivo (século XVI), menos de 10% sobrevive principalmente nas áreas da escarpa atlântica, abrigadas em quase uma centena de Parques, Reservas e outras unidades de conservação, que ainda são invadidas nos dias de hoje. Levantamentos por satélite indicam que a Mata Atlântica recobre hoje aproximadamente 9,5 milhões de hectares do território nacional, correspondente a pouco mais de 1% desse território. No Estado de São Paulo, a Mata Atlântica, que inicialmente vestia mais de 80% de seu território, em 1973 apresenta apenas 8,3% dessa área. De lá para cá, continua a predação secular. Segundo revelam dados produzidos a partir de imagens de satélite, no período de 1988/1989 houve um extermínio de 1.230.585 hectares de reservas naturais, com uma média de 76.911 hectares por ano, equivalentes a 24 campos de futebol por dia, o que representa uma redução da relação área verde por habitante no Estado de 0.27 ha/hab. para 0.12 ha/hab.(Fonte: Fundação S.O.S. Mata Atlântica, Inventário da Mata Atlântica, 1992). Nos centros urbanos, os problemas relacionados aos resíduos sólidos têm se acumulado nas sociedades contemporâneas e tornando as cidades não-sustentáveis, o que requer a adoção de políticas públicas que possam assegurar melhor qualidade de vida. Até bem pouco tempo, as propostas para o equacionamento da questão dos resíduos sólidos eram estritamente técnicas e voltadas à destinação final destes elementos, todavia, é necessária uma reflexão a respeito dos padrões de consumo e de produção que devem ter como objetivo estratégico a sustentabilidade. Os investimentos em aterros sanitários isolados, que deveriam ser aprovados como uma parte de um sistema integrado, que considera-se o uso energético da captação do gás metano dos aterros sanitários, associado a compostagem do lixo, as quais minimizariam a sua emissão de carbono na atmosfera para o efeito estufa. Além de ser uma excelente alternativa para financiamento de futuros projetos, como mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) para o mercado de carbono que surgiu com o Protocolo de Quioto, na 3a Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança de Clima - CQNUMC, ocorrida em Quioto, no Japão, em 1997. Pois, há constante expansão da mancha urbana em direção à periferia, a cidade vai devorando seu recurso naturais, vegetação, solo, água, ar e a própria memória do sítio primitivo. Fotos recentes de satélite revelam a mancha urbana avançando sobre áreas críticas e sensíveis do March 11 - 14, 2007, São Paulo, BRAZIL International Conference on Engineering and Computer Education 404 Cinturão Verde, sem deter-se nos obstáculos naturais, como os mananciais de água da região sudeste, os paredões cristalinos da Serra da Cantareira na região norte e o maciço da Serra de Itapeti a Oeste. Hoje em dia a dinâmica da mancha urbana escapa do controle oficial. A nível metropolitano, é estimada, a partir de imagens de satélite, uma destruição da Mata Atlântica de 6.000.000 m2/ano, equivalente a dois campos de futebol por dia. A partir daí se pode calcular o decréscimo do Índice de área verde por habitante de 0.036 ha/hab. no ano de 1972 para 0.019 ha/hab. em 1990, ou seja, um decréscimo da ordem de 50%. Os benefícios (10) do Cinturão Verde (INSTITUTO FLORESTAL, 1994): 1) Estabilização Climática 2) Recuperação Atmosférica 3) Suprimento de Água e Proteção dos Mananciais 4) Biodiversidade 5) Proteção contra a Erosão dos Solos, Assoreamentos e Inundações. 6) Segurança Alimentar 7) Uso Social e a geração de alimentos 8) Reserva de Patrimônio Cultural 9) Estímulo às Atividades sustentadas 10) Potencial de Novas Descobertas Científicas As ameaças (10) ao Cinturão Verde (INSTITUTO FLORESTAL, 1994): 1) Especulação Imobiliária 2) Obras de Infraestrutura 3) Legislação inadequada e descumprida e Aparelho do Estado Fraco e Ineficiente 4) Regulamentação Fundiária 5) Extração de Madeira 6) Mineradoras 7) Lixo Urbano 8) Poluição Atmosférica 9) Depredação Indivíduos Não-Conscientes 10) Desconcentração Industrial As dez potencialidades para a Reversão do Quadro: 1) O Compromisso e Abrigo do Instituto Florestal. 2) A Declaração da Reserva da Biosfera e o Compromisso da UNESCO 3) A Localização em torno de uma Grande Metrópole. 4) As Condições Edafoclimáticas da região 5) A Conscientização popular e o Movimento Ambientalista de Base 6) Apoio Institucional e Financeiro 7) Apoio Técnico-Científico 8) Legislação potencialmente favorável 9) Apoio da Mídia 10) Momento Histórico © 2007 ICECE Potencial de Novas Descobertas Científicas para o Cinturão Verde - Dado o limitado, porém permanentemente crescente conhecimento humano a respeito dos princípios da Natureza, a preservação destas áreas de riquíssima diversidade natural representa a manutenção de um potencial ímpar de descobertas que venham inclusive mostrar-se fundamentais para a vida do homem. Como exemplo, a maioria dos fármacos hoje conhecida provém de princípios extraídos de espécies vegetais, e tantos outros deixarão de ser conhecidos com a extinção dos componentes da biodiversidade. Outros exemplos, experimentos recentes vêm corroborando o saber tradicional que aponta as coberturas florestais como cordons sanitaires, verdadeiras barreiras anti-sépticas, não apenas por seus aspectos físicos, mas também pelas propriedades biológicas de microorganismos e de diversas substâncias emitidas pelas plantas (plantas que pulverizam na atmosfera produtos germicidas, bactericidas etc.). O reconhecimento da limitação de seu conhecimento frente a Natureza faz com que o Homem assuma uma atitude de preservá-la e com ela todo seu potencial embutido. A Sociedade Civil e a Criação da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo - A criação da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde encontra fortes raízes no movimento da sociedade civil. Em 1990 surge a nível estadual um projeto de construção de uma grande Via Perimetral Metropolitana, a qual, circundando a Grande São Paulo, iria unir as grandes rodovias do complexo viário de acesso, objetivando minimizar problemas de tráfego da cidade. Esta Via Perimetral, deste modo, iria simplesmente atravessar todas as áreas naturais na Mata Atlântica6 que compõem o Cinturão Verde: Cantareira, Jaraguá, represas Billings e Guarapiranga (principais reservatórios de água da metrópole), Itapeti, Serra do Mar, e assim por diante. Além de prover do nível estadual, o projeto também envolvia o lobby das empreiteiras de construção civil, um dos mais poderosos grupos econômicos no Brasil. O interesse destas companhias não se encontrava somente na construção da rodovia em si, mas principalmente no fato de que estas iriam poder dispor das áreas vicinais à rodovia, onde poderiam operar uma fabulosa especulação imobiliária. Assim, além de detrimento ao ambiente, a rodovia apresentava um perfil faraônico de 2 bilhões de dólares, 160 quilômetros de extensão, 100.000 pessoas desprovidas de suas moradias. Segundo as autoridades brasileiras, o projeto era praticamente irreversível e já contava com o financiamento do Banco Mundial. A sociedade civil, encabeçada pelas ONG's, com destaque à OIKOS ("União dos Defensores da Terra"), ergueu um movimento contra a construção da rodovia. 6 http://pt.wikipedia.org/wiki/Reserva_da_biosfera_da_Mata_Atl%C3%A2ntica March 11 - 14, 2007, São Paulo, BRAZIL International Conference on Engineering and Computer Education 405 Tendo sido preparado uma “anti-RIMA", ou seja, um Relatório de Impacto Ambiental alternativo às afirmações oficiais, este foi levado a Washington com o intuito de bloquear-se o suporte financeiro do Banco Mundial. O Banco, porém nunca confirmou a existência de tal financiamento. Independentemente de a desinformação provir das autoridades brasileiras ou do Banco, o fato é que a magnitude do projeto e dos interesses envolvidos, bem como a significância dos danos envolvidos, não permitiriam negociações explícitas. Assim, esta tentativa de bloqueio não foi bem sucedida. Com isso, nova estratégia deveria ser buscada. Ao invés de interromper-se os canais normais de financiamento, agora se tornava necessário correr por vias paralelas. Assim, enquanto caminhava o processo da Via Perimetral, iniciouse um processo paralelo de tornar a região uma Reserva da Biosfera. Assim, o movimento contava com apelo duplo: por um lado, impedir a construção da rodovia, e por outro lado, promover a criação da Reserva da Biosfera. Assim, ao invés da destruição do tecido do Cinturão Verde, buscar-seia a promoção de atividades sustentáveis, como por exemplo, o Programa de Jovens Carentes em Atividades Agroflorestais. O movimento promoveu mais de 150 palestras e conferências sobre o tema, eventos culturais (dentre os quais dois grandes shows), apoio bem sucedido da mídia, um bom lobby de ONG's nacionais e internacionais (total de 23), e culminando com a obtenção de mais de 150.000 assinaturas para a criação da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde. Após esta intensa mobilização, o Instituto Florestal decidiu abrigar a causa da criação da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, constituindo uma equipe interdisciplinar responsável pela elaboração de uma peça de planejamento do Cinturão Verde para subsidiar o pedido de sua declaração enquanto Reserva da Biosfera pela UNESCO, no âmbito do Programa "O Homem e a Biosfera" (The Man And the Biosphere - MAB). Biosfera e torná-la irreversível e ao mesmo tempo garantir a produção sustentável de alimentos nos entornos urbanos. Uma outra questão estratégica trata-se da alternativa urbana de transformação da fração orgânica do lixo se dá pela compostagem de resíduos sólidos como uma política publica, que começou com a constatação de que o resíduo doméstico produzido hoje é bastante diverso daquele de 40 anos atrás, que não mais se pode deixar uma lacuna na legislação ambiental e, ainda, que não se pode deixar de fazer a reciclagem de suas frações, pois se terá o mesmo problema encontrado em grandes centros urbano, a exemplo da cidade de São Paulo. Recentemente, surgiram propostas de reaproveitamento de resíduos e de transformações nos hábitos das sociedades e dos setores industriais, no sentido de reduzir a geração destes materiais e o seu potencial de agressão ambiental. A compostagem de baixa qualidade ocorrida no passado da cidade de São Paulo, em que o composto produzido representa um risco à saúde da população, devido à contaminação de alimentos com metais pesados, patogenias e outros elementos tóxicos (Maiores detalhes na matéria “O melhor do lixo” na Revista Fapesp, no. 91: 78-81p. Set. / 2003). CONSIDERAÇÕES FINAIS O conflito entre as visões ambiental e econômica pode ser, colocado, em termos, o assunto lembra a Shakespeare: desenvolver ou não desenvolver ? Eis a questão ambiental, que tem na reserva da biosfera uma alternativa sustentáve, que busca o equilíbrio entre geração de alimentos, conservação ambiental, abastecimento da água e proteção dos mananciais, saneamento e a qualidade de vida. REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA DEMAJOROVIC, Jacques. Sociedade de Risco e Responsabilidade Socioambiental. Perspectivas para a educação corporativa. São Paulo: Senac, 2001. Tal documento, após aprovado pelo COBRAMAB (Comitê Brasileiro do Programa MAB7), foi encaminhado ao MAB em Paris. Em outubro de 1993, é declarada pela UNESCO a "Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo", tornando a região Patrimônio da Humanidade e passando a compor a rede de Reservas a nível internacional coordenada pelo Programa MAB. INSTITUTO FLORESTAL / RBCV. A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo Texto preparatório para o Workshop "Plano de Gestão para a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo" - Setembro 1994 - Equipe da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde. 30p. Este processo correu em paralelo e mais rapidamente que o projeto da Via Perimetral. Assim, quando a Reserva da Biosfera foi declarada, as negociações entre as autoridades brasileiras e o Banco Mundial para financiamento parecem ter sido desestimuladas, e quiçá definitivamente abandonadas. Mas isso dependerá basicamente de nossa capacidade de solidificar a Reserva da INSTITUTO FLORESTAL / RBCV. Subsídios para um Plano de Ação para a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo - Texto preparatório para o Workshop "Plano de Gestão para a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo" - Setembro de 1994 - Jean-François Timmers - Consultor da UNESCO. 7 http://www.iflorestal.sp.gov.br/rbcv/index.asp © 2007 ICECE March 11 - 14, 2007, São Paulo, BRAZIL International Conference on Engineering and Computer Education 406