Universidade Federal do Rio Grande do Norte Centro de Ciências Exatas e da Terra Departamento de Fı́sica Teórica e Experimental Programa de Pós-Graduação em Fı́sica ’ TESE DE DOUTORADO ANÁLISE SÍSMICA USANDO TRANSFORMADA CURVELET Michelli Silva de Oliveira Orientador: Prof. Dr. Liacir dos Santos Lucena Natal, julho de 2011. Dedico este trabalho a meu esposo e a minha filha. i Agradecimentos A Deus acima de tudo. Ao meu orientador, Professor Doutor Liacir dos Santos Lucena, por permitir trabalhar ao seu lado, pelo apoio e incentivo no desenvolvimento deste trabalho. Ao Professor Doutor Gilberto Corso e ao Professor Doutor Edcarlos Alves pelas contribuições dadas a esta tese. Ao Professor e amigo Marcos Vinı́cius por estar sempre disposto a ajudar. Ao Conselho nacional de desenvolvimento Cientı́fico e Tecnológico CNPq pelo suporte financeiro concedido. Ao meu marido Vladimi, companheiro e melhor amigo, por fazer parte de mais uma etapa da minha vida, sempre me confortando com seu carinho, amor e paciência. À minha filha Ana Beatriz, agradeço por você ter existido durante o desenvolvimento deste trabalho, você foi minha fonte de inspiração. Obrigada por estar sempre animada e sorrindo para mim mesmo com toda a minha ausência. À minha mãe Neuza, irmã Márcia e minha madrinha Maria Diamantina pelo incentivo, mesmo à distância nunca deixaram de estar presentes, sempre me confortando com palavras encorajadoras fortalecendo meus momentos mais difı́ceis. A todos meus amigos, em especial minhas amigas Cláudia Cruz e Nivânia que muito me fortaleceram. A todos os professores, colegas e funcionários do departamento de pós Graduação em Fı́sica da matéria Condensada que de forma direta e indireta muito ajudaram na conclusão deste trabalho. ii Aos membros da banca pelas correções e sugestões apresentadas quando da defesa da tese. iii Resumo A exploração petrolı́fera é uma das atividades mais complexas e de difı́cil execução na indústria do petróleo e também é umas de suas tarefas mais importantes. Devido aos elevados custos dos métodos diretos usados para localização e avaliação das jazidas de petróleo, tais como a perfuração de poços exploratórios para a medição de propriedades in situ, métodos indiretos são utilizados com esta finalidade. O principal destes métodos é o da sondagem sı́smica. Neste processo de exploração, ondas sı́smicas geradas por explosões ou por vibradores, propagam-se no subsolo e após serem espalhadas pelas heterogeneidades das estruturas geológicas retornam à superfı́cie onde são coletadas para construção dos sismogramas ou imagens sı́smicas. No entanto, os sismogramas contêm, além das informações sobre as estruturas do subsolo, uma grande quantidade de ruı́do, sendo o principal deles o chamado ruı́do de rolamento superficial (”ground roll”ou ondas de Rayleigh). A atenuação desses ruı́dos é essencial para uma boa interpretação dos dados e sinais sı́smicos. A análise dos sismogramas pode ser feita utilizando-se diversos tipos de transformadas espectrais que levam o sinal sı́smico para o espaço das frequências (Transformada de Fourier) ou para o espaço tempo-frequência (Transformada Wavelet), onde costuma ser mais simples atenuar ou remover os ruı́dos de uma forma cirúrgica. Isto permite que, ao levar o sinal sı́smico de volta ao espaço original, o sinal represente apenas as informações sobre as estruturas geológicas de interesse. Por outro lado, a transformada curvelet é uma nova e efetiva transformada espectral que tem sido largamente usada no estudo e representação de dados complexos. Nessa análise, as funções ou sinais estudados são expressados em termos de funções de base com caráter direcional que permitem representar, mais efetivamente que outras análises, imagens e sinais com descontinuidades iv superficiais ou ao longo de curvas. A análise curvelet mapeia o espaço das frequências em diferentes escalas e em setores angulares, de modo que se pode identificar as regiões deste espaço dominadas pelo ruı́do presente no sinal. Remover os coeficientes referentes a essas regiões é remover o ruı́do do sinal. Assim, nesta tese implementamos e aplicamos a análise curvelet para remover o ruı́do de rolamento superficial dos sinais sı́smicos. Testamos este método tanto para um sismograma sintético quanto para um sismograma real e obtivemos uma ótima atenuação do ruı́do em ambos os casos. Comparamos este método com os métodos empregados anteriormente e discutimos possı́veis aplicações desta técnica a outros problemas. v Abstract Oil prospecting is one of most complex and important features of oil industry Direct prospecting methods like drilling well logs are very expensive, in consequence indirect methods are preferred. Among the indirect prospecting techniques the seismic imaging is a relevant method. Seismic method is based on artificial seismic waves that are generated, go through the geologic medium suffering diffraction and reflexion and return to the surface where they are recorded and analyzed to construct seismograms. However, the seismogram contains not only actual geologic information, but also noise, and one of the main components of the noise is the ground roll. Noise attenuation is essential for a good geologic interpretation of the seismogram. It is common to study seismograms by using time-frequency transformations that map the seismic signal into a frequency space where it is easier to remove or attenuate noise. After that, data is reconstructed in the original space in such a way that geologic structures are shown in more detail. In addition, the curvelet transform is a new and effective spectral transformation that have been used in the analysis of complex data. In this work, we employ the curvelet transform to represent geologic data using basis functions that are directional in space. This particular basis can represent more effectively two dimensional objects with contours and lines. The curvelet analysis maps real space into frequencies scales and angular sectors in such way that we can distinguish in detail the sub-spaces where is the noise and remove the coefficients corresponding to the undesired data. In this work we develop and apply the denoising analysis to remove the ground roll of seismograms. We apply this technique to a artificial seismogram and to a real one. In both cases we obtain a good noise attenuation. vi Sumário Agradecimentos ii Resumo iv Abstract vi Introdução 1 1 A Prospecção de Petróleo e a Exploração Sı́smica 5 1.1 A Sondagem Sı́smica e as Ondas Sı́smicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 1.1.1 Ondas de Corpo ou Ondas de Volume . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 1.1.2 Ondas de Superfı́cie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.1.3 Velocidade de Propagação das Ondas Sı́smicas . . . . . . . . . . . . 12 1.2 Métodos Sı́smicos e a Sondagem Sı́smica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.3 Aquisição de Dados Sı́smicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.4 O Ruido de Rolamento Superficial ou Ruido Ground Roll . . . . . . . . . . 17 1.5 Técnicas de Filtragem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2 Sinais Temporais e Transformadas 20 2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 2.2 A Análise de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.3 A Transformada de Fourier-Gabor 2.4 A Transformada em Ondaletas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 2.4.1 Transformada Contı́nua em Ondaletas . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.4.2 Transformada Discreta em Ondaletas . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 vii 3 A Análise Curvelet 34 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 3.2 Definição da Transformada Curvelet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 3.3 Propriedades da Transformada Curvelet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.4 3.5 3.3.1 Tight frame . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.3.2 Parâmetro de escala parabólico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 3.3.3 Comportamento oscilatório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.3.4 Momentos nulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Transformada Curvelet Discreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 3.4.1 Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 3.4.2 Coronização discreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 As funções curvelets . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 4 Remoção de Ruı́do Sı́smico usando Análise Curvelet 47 4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 4.2 Análise Curvelet e a decomposição do sinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 4.3 Identificação e remoção do ruı́do . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 4.4 Reconstrução do sinal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 4.5 Procedimento para remoção de ruı́do de rolamento superficial . . . . . . . 53 5 Análise de dados reais usando transformada curvelet 67 5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 5.2 O dado sı́smico real versus dado sintético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 5.3 A extração do ruı́do de rolamento superficial do dado sı́smico real . . . . . 70 5.4 Supressão do ruı́do de rolamento superficial: análise em ondaletas versus análise curvelet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 6 Conclusões e Perspectivas 86 Bibliografia 89 viii Lista de Figuras 1.1 Esquema descritivo da propagação de uma onda primária ou longitudinal. Figura reproduzida/adaptada da página de internet http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave Properties2.html [2]. . . 1.2 9 Esquema descritivo da propagação de uma onda secundária ou de cisalhamento. Figura reproduzida/adaptada da página de internet http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave P roperties2.html[2]. . . 10 1.3 Esquema descritivo da propagação de uma onda de Rayleigh ou onda R. Figura reproduzida/adaptada da página de internet http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave P roperties2.html[2]. . . 11 1.4 Esquema descritivo da propagação de uma onda de Love ou onda L. Figura reproduzida/adaptada da página de internet http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave P roperties2.html[2]. . . 12 1.5 Distribuição de velocidades comumente encontradas na prospecção de petróleo. Figura reproduzida de THOMAS[1]. . . . . . . . . . . . . . . . . 13 1.6 Esquema da aquisição de dados sı́smicos terrestres e marı́timos. Figura reproduzida de OLIVEIRA[3]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.7 Representação da formação de um traço sı́smico pelas reflexões de um pulso pelas camadas sedimentares do subsolo. Figura reproduzida de OLIVEIRA[3]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.8 Exemplo de sismograma captado por um conjunto de geofones durante uma sondagem sı́smica. Figura reproduzida de OLIVEIRA[3]. . . . . . . . . . . 17 ix 2.1 a) Exemplo de (a) um sinal temporal estacionário e sua representação no espaço das frequências obtida pela análise de Fourier do sinal; (b) um sinal temporal não estacionário e sua representação no espaço das frequências obtida pela análise de Fourier. Figura adaptada da página de internet http://astro.if.ufrgs.br/med/imagens/fourier.htm [9]. . . . . . . . . . . . . 23 2.2 Representação simbólica da caixa de Heisemberg no plano tempofrequência. A energia do “átomo” de Gabor está distribuı́da nesta caixa centrada em (u, ξ) e com larguras σt no tempo e σω na frequência. Figura reproduzida de LEITE[15]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.3 Representação de uma famı́lia de ondaletas contı́nuas (figura (a)) e de seu espectro de Fourier (figura (b)). Figura reproduzida de MALLAT[16]. . . . 29 2.4 Esquema ilustrativo da divisão do espaço tempo-frequência (a) para a transformada de Fourier-Gabor; e (b) para a transformada em ondaletas. . 31 3.1 Decomposição diádica do espaço de frequência. Na figura (a) temos esta decomposição em termos da janela radial; na figura (b) temos esta decomposição em termo das janelas radial e angular; já na figura (c) temos que a área sombreada é a fatia do espaço de Fourier onde as curvelets tem seu suporte definido. Figura adaptada da página de internet http://www.math.washington.edu/ hart/uwss.pdf [29]. . . . . . . . . . . . 38 3.2 Decomposição diádica do espaço de frequência da transformada curvelet discreta. A região sombreada representa uma fatia tı́pica deste espaço localizada pela janela Ũj,l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 4.1 Nesta imagem podemos verificar na figura (a) o dado sintético com reflexões horizontais representando as camadas litológicas e um traço com maior inclinação que pode ser melhor visualizado na figura (c) simulando o comportamento do ruı́do de rolamento superficial. Na figura (b) temos o dado sintético limpo em que a reflexão destacada já foi removida. . . . . . 55 x 4.2 Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 2. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para esses ângulos nessa escala. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 4.3 Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 2. . . . . . . . 57 4.4 Conjunto de ângulos da escala 2 cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução de parte do sinal indicado na figura 4.1.b. . . . . . . . . . . 58 4.5 Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 4.6 Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 3. . . . . . . . 60 4.7 Conjunto de ângulos da escala 3 cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução de parte do sinal indicado na figura 4.1.b. . . . . . . . . . . 60 4.8 Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 4.9 Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 4. . . . . . . . 62 4.10 Conjunto de ângulos da escala 4 cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução de parte do sinal indicado na figura 4.1.b. . . . . . . . . . . 63 4.11 Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 5. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 4.12 Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 5. . . . . . . . 65 4.13 Conjunto de ângulos da escala 5 cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução de parte do sinal indicado na figura 4.1.b. . . . . . . . . . . 66 5.1 Figura comparativa entre sismogramas. Na figura (a) temos um exemplo de sismograma sintético; e na figura (b) temos um exemplo de sismograma real. Nos dois sinais, o ruı́do de rolamento superficial aparece com uma estrutura triangular macroscópica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69 5.2 Figura contendo: (a) o dado original real a ser analisado; (b) o dado filtrado (sinal de interesse); e (c) o padrão referente ao ruı́do de rolamento superficial que foi excluı́do do dado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 xi 5.3 Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 2. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para esses ângulos nessa escala. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 5.4 Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 2. . . . . . . . 73 5.5 Conjunto de ângulos da escala 2 (marcados em vermelho) cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução do sinal sı́smico real. . . . . . . . . 74 5.6 Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 3. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para esses ângulos nessa escala. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 5.7 Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 3. . . . . . . . 76 5.8 Conjunto de ângulos da escala 3 (marcados em vermelho) cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução do sinal sı́smico real. . . . . . . . . 77 5.9 Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 4. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados (marcados em vermelho) nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para os ângulos correspondentes nessa escala. . . . . . . . . 78 5.10 Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 4. . . . . . . . 79 5.11 Conjunto de ângulos da escala 4 (marcados em vermelho) cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução do sinal sı́smico real. . . . . . . . . 80 5.12 Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 5. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados (marcados em vermelho) nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para os ângulos correspondentes nessa escala. . . . . . . . . 81 5.13 Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 5. . . . . . . . 82 5.14 Conjunto de ângulos da escala 5 (marcados em vermelho) cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução do sinal sı́smico real. . . . . . . . . 83 xii 5.15 Componentes do ruı́do de rolamento superficial para as escalas de j = 2 a j = 5. Na parte superior da figura temos os ângulos correspondentes em cada escala (cı́rculos cheios) e na parte superior da figura temos a estrutura correspondente ao ruı́do de rolamento superficial em cada escala. . . . . . . 84 xiii Lista de Tabelas 5.1 Balanço de energia (em porcentagem) para as escalas 2 ≤ j ≤ 5. O GR representa a energia do ruı́do de rolamento superficial; e RW a energia das ondas refletidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 5.2 Distribuição de energia (em porcentagem) para as escalas 1 ≤ j ≤ 5. O GR representa a energia do ruı́do de rolamento superficial; e RW, a energia das ondas refletidas. Na última coluna é representada a energia total destes dois padrões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 xiv Introdução A exploração petrolı́fera é uma das tarefas mais complicadas e de difı́cil execução na indústria do petróleo e também é umas das tarefas mais importantes desta indústria. A tarefa de localizar jazidas de petróleo e de avaliar o seu potencial de produção representa um intrigante e complicado problema na área de Ciência e Tecnologia, pois as jazidas e reservatórios naturais de petróleo e gás natural são encontrados em estruturas geológicas que constituem sistemas de alta complexidade, com heterogeneidades em todas as escalas e com uma enorme variedade em suas caracterı́sticas básicas, tais como permeabilidade e porosidade. As dificuldades na localização das jazidas são aumentadas também pelo elevado nı́vel de incerteza advindo da quantidade reduzida de informações sobre o subsolo e suas estruturas geológicas. A maneira mais precisa de superar estas dificuldades na localização das jazidas e comprovar a existência ou não de petróleo é a perfuração de poços exploratórios que possibilitem a coleta de amostras e a introdução de sensores a grandes profundidades para a medição in situ das propriedades fı́sicas da rochas e do ambiente próximo. Entretanto, a perfuração de um poço exige grande soma de dinheiro, principalmente em se tratando de exploração off shore e, portanto, o número de poços exploratórios usados na busca por jazidas de petróleo é bem pequeno e o volume de subsolo do qual se tem dados coletados diretamente, comparado ao volume total do campo petrolı́fero, corresponde a uma fração praticamente desprezı́vel ( 10−12 ). 1 A alternativa para a busca por jazidas de petróleo, diante da impossibilidade de perfuração de um grande número de poços exploratórios, é o uso de métodos indiretos. O principal método indireto é o da exploração sı́smica. Este método consiste em gerar ondas sı́smica que se propaguem no subsolo. Essas ondas são geradas por explosões para o caso de pesquisa continental e por canhões de ar comprimido para a exploração no mar e, em se propagando no subsolo, experimentam os fenômenos de espalhamento, refração, difração, reflexão e outros, pelas diversas camadas e estruturas geológicas do subsolo. Uma parte destas ondas retorna à superfı́cie trazendo informações sobre as camadas e estruturas geológicas do interior da Terra. Na verdade, o problema de descobrir as propriedades fı́sicas e as estruturas geológicas do subsolo através dos sinais sı́smicos captados na superfı́cie por geofones ou hidrofones é chamado de espalhamento inverso. Este problema é de difı́cil solução e pertence a uma classe de problemas denominada problemas mal postos. Estes problemas aparecem em diversas áreas da ciência, mas é ainda mais complicado de se resolver no caso da prospecção sı́smica, pois o volume da região espalhadora das ondas sı́smicas, no caso o subsolo, é muito grande, há falta de conhecimento sobre as velocidades de propagação das ondas sı́smicas nas diferentes estruturas e regiões do subolo e também devido ao acentuado grau de desordem do subsolo. Apesar da enorme dificuldade em se interpretar adequadamente as imagens obtidas para o subsolo a partir de dados sı́smicos, essas são as mais importantes fontes de informação sobre grandes volumes de subsuperfı́cie e permitem, se bem interpretadas, a delimitação apropriada dos reservatórios e jazidas de petróleo. Na verdade, as imagens sı́smicas são o meio mais difundido e preciso para guiar a interpolação e a extrapolação de dados colhidos em poços exploratórios. Essas imagens, se bem interpretadas, fornecem as informações mais confiáveis sobre grandes quantidades de subestruturas da crosta terrestre. A análise e interpretação dos dados sı́smicos representam uma etapa fundamental do processo de obtenção de imagens sı́smicas do subsolo. É nesta etapa que são estimados os coeficientes das ondas sı́smicas, dados pelos contrastes de impedância acústica que 2 geralmente existem nas transições entre camadas geológicas e, a partir destes dados, são construı́das as imagens das camadas e estruturas geológicas. No entanto, os dados sı́smicos ou sismogramas contém, além das informações sobre as estruturas do subsolo, uma grande quantidade de ruı́do e a atenuação desses ruı́dos é essencial para uma boa interpretação desses dados. A análise dos sismogramas pode ser feita utilizando-se diversos tipos de transformadas espectrais. Nesta tese de doutorado vamos descrever e/ou estudar os principais tipos de análise que podem ser utilizados no estudo de sinais sı́smicos para remover os ruı́dos e recuperar as informações sobre as estruturas do subsolo, bem como entender as limitações desses métodos de análise e implementar o método de análise curvelet para a remoção de ruı́dos em sismogramas de exploração sı́smica. Assim, para descrevermos os trabalhos realizados no decorrer de nosso doutoramento, esta tese de doutorado foi estruturada em cinco capı́tulos principais e um capı́tulo de conclusão. No primeiro capı́tulo vamos falar um pouco sobre a prospecção de petróleo e entender como funciona o método de sondagem sı́smica, como são geradas e captadas as ondas sı́smicas que permitem a formação dos sismogramas e entender como o método de sondagem sı́smica é utilizado para o estudo das propriedades geológicas do subsolo e para a busca de jazidas de petróleo. No capı́tulo 2 desta tese, vamos estudar e descrever as principais transformadas espectrais utilizadas para se estudar sinais temporais e/ou atenuar ruı́dos presentes nesses sinais, desde a transformada de Fourier até a transformada wavelet (transformada em ondaletas). Também vamos perceber as limitações dessas transformadas e a necessidade de um outro tipo de transformada para se estudar/analisar sinais sı́smicos. No capı́tulo 3 vamos definir e estudar a transformada curvelet e entender esta análise e suas propriedades. No capı́tulo 4, o primeiro capı́tulo baseado no trabalho original desta tese de doutorado, vamos descrever como a transformada curvelet foi implementada para ser utilizada na análise de sinais sı́smicos e na remoção do ruı́do de rolamento superficial desses sinais, bem como descreveremos o teste realizado em dados sintéticos. 3 Já no capı́tulo 5, descrevemos o procedimento e os resultados da análise curvelet aplicada a sinais sı́smicos e discutiremos os resultados obtidos em comparação com os resultados de outros métodos de análise. Por fim, no capı́tulo das conclusões, faremos uma breve análise dos resultados obtidos em nosso trabalho de tese e discutiremos algumas aplicações e perspectivas para o método desenvolvido e implementado nesse doutoramento. 4 Capı́tulo 1 A Prospecção de Petróleo e a Exploração Sı́smica A atual sociedade humana é extremamente dependente dos combustı́veis fosseı́s, como o petróleo e o gás natural, com isto a indústria do petróleo é uma das mais importantes e significativas do mercado mundial. Das tarefas realizadas, a exploração petrolı́fera é uma das mais complicadas e de difı́cil execução e também é umas das mais importantes desta indústria. Localizar jazidas de petróleo sob a crosta terrestre, quer seja em terras continentais ou em terreno submarino, e avaliar seu potencial de produção, representa um intrigante e complicado problema na área de Ciência e Tecnologia, pois esses reservatórios naturais são encontrados em estruturas geológicas que constituem sistemas de alta complexidade. As dificuldades na localização das jazidas de petróleo são enormes e são aumentadas, ainda mais, pelo elevado nı́vel de incerteza advindo da quantidade reduzida de informações sobre o subsolo e suas estruturas geológicas. A maneira mais precisa de superar estas dificuldades para localizar jazidas e comprovar a existência ou não de petróleo é a perfuração de poços exploratórios que possibilitem a coleta de amostras e a introdução de sensores a grandes profundidades para a medição in situ das propriedades fı́sicas das rochas e do ambiente próximo. Entretanto, a perfuração de um poço exploratório exige grande soma de dinheiro, principalmente em se tratando de exploração off shore e, portanto, o número de poços exploratórios usados na busca por 5 jazidas de petróleo é bem pequeno e o volume de subsolo do qual se tem dados coletados diretamente, comparado ao volume total do campo petrolı́fero, corresponde a uma fração praticamente desprezı́vel ( 10−12 ). A perfuração de poços exploratórios é utilizada para confirmar a existência de uma jazida de petróleo em uma região, onde os métodos indiretos indicaram uma grande probabilidade de existência de óleo. Assim, a pesquisa com poço exploratório irá confirmar a existência dessa jazida e avaliar seu potencial de produção de petróleo. Os métodos indiretos são, diante da impossibilidade de perfuração de um grande número de poços exploratórios, a melhor alternativa para a busca por jazidas de petróleo. Estes métodos indiretos tem custos bastante moderados e, mesmo sujeitos a interpretações e visualizações, fornecem informações detalhadas do subsolo e de suas estruturas geológicas. O principal método indireto usado no estudo das estruturas geológicas do subsolo terrestre e na prospecção de petróleo é a exploração sı́smica ou sondagem sı́smica. Este método consiste em gerar ondas sı́smicas que se propaguem no subsolo. Estas ondas são geradas por explosões para o caso de pesquisa continental e por canhões de ar comprimido para a exploração no mar e, em se propagando no subsolo, experimentam os fenômenos de espalhamento, refração, difração, reflexão e outros, pelas diversas camadas e estruturas geológicas do subsolo. Uma parte dessas ondas retorna à superfı́cie trazendo informações sobre as camadas e estruturas geológicas do interior da Terra. As ondas refletidas e/ou refratadas nas várias camadas e estruturas do subsolo que voltam à superfı́cie trazem uma informação que precisa ser interpretada e analisada e, apesar da enorme dificuldade em se interpretar adequadamente as informações e imagens obtidas para o subsolo a partir de dados sı́smicos, essas imagens são as mais importantes fontes de informação sobre grandes volumes de subsuperfı́cie e permitem, se bem interpretadas, a delimitação apropriada dos reservatórios e jazidas de petróleo. Na verdade, as imagens sı́smicas são o meio mais difundido e preciso para guiar a interpolação e a extrapolação de dados colhidos em poços exploratórios, por isto precisamos entender claramente como elas são obtidas para poder melhor estudar, interpretar e analisar esses dados sı́smicos. 6 Vale ressaltar que o método de sondagem sı́smica também é bastante utilizado no estudo das estruturas geológicas das placas tectônicas para estudar regiões onde ocorreram abalos sı́smicos e, por exemplo, calcular a probabilidade de novos abalos. Embora, o foco do estudo da sondagem sı́smica, nesta tese, seja a prospecção de petróleo, os métodos e ferramentas aqui estudados e desenvolvidos também podem ser aplicados em estudos sismológicos. Nas seções deste primeiro capı́tulo vamos estudar e entender como funciona o método de sondagem sı́smica e como este método é utilizado para o estudo das propriedades geológicas do subsolo e para a busca de jazidas de petróleo. Com este entendimento inicial sobre sondagem sı́smica, estaremos aptos a, nos próximos capı́tulos, estudar as principais ferramentas matemáticas utilizadas na análise e interpretação dos dados obtidos nas sondagens sı́smicas. Devemos ainda ressaltar que este é um capı́tulo básico que trata da descrição geral da prospecção de petróleo e da sondagem sı́smica usada para localizar e delimitar jazidas de petróleo e gás natural, portanto as descrições apresentadas aqui são de conhecimento geral da engenharia de petróleo. A principal referência utilizada na construção deste capı́tulo foi o livro do THOMAS[1]. Outras referências que se fizerem necessárias serão citadas no decorrer do capı́tulo. 1.1 A Sondagem Sı́smica e as Ondas Sı́smicas A sondagem sı́smica ou exploração sı́smica é um método indireto de exploração do subsolo terrestre que faz uso de aparelhos e técnicas especiais para estudar e caracterizar o subsolo. Este método tem sido comumente utilizado pelo fato de ser capaz de cobrir grandes áreas e, ao mesmo tempo, ser economicamente viável, permitindo assim, uma observação cautelosa e barata do subsolo terrestre, sendo largamente empregado na localização de jazidas de petróleo e gás natural e também no estudo e detecção de falhas geológicas. A sondagem sı́smica do subsolo faz uso de ondas sı́smicas, que são ondas de natureza 7 mecânica que transportam energia de deformação elástica no meio em que foram geradas. A velocidade de propagação destas ondas depende das propriedades elásticas e da densidade do meio em que elas se propagam. É a sua reflexão e refração entre as camadas do subsolo que nos permite inferir as propriedades do subsolo e de suas camadas e estudá-las. Para entendermos as ondas sı́smicas e seu efeito sobre o solo e subsolo devemos lembrar que quando se aplica uma força sobre a superfı́cie de um corpo, pode-se modificar sua forma e/ou seu volume. A elasticidade é a propriedade de um corpo resistir a essa deformação e de retornar à sua forma e/ou volume iniciais depois que a força causadora da deformação cessa. A teoria da elasticidade estuda as relações entre as forças e as mudanças na forma e volume dos corpos, com base nos conceitos de tensão (stress) e deformação (strain). Segundo a lei de Hooke, para pequenas deformações, as que ocorrem em rochas podem ser consideradas como perfeitamente elásticas e como as ondas sı́smicas geradas na exploração sı́smica e prospecção de petróleo são causadoras de pequenas deformações (da ordem de 10−6 % a 10−3 %), as estudadas na sondagem sı́smica podem ser consideradas deformações elásticas. A tensão sobre uma superfı́cie é definida como a força por unidade de área na superfı́cie. Quando esta tensão é perpendicular à área em que atua, esta tensão é denominada tensão normal. E quando ela é tangencial à área em que atua, é denominada tensão cisalhante ou tensão de cisalhamento. As tensões que atuam em um corpo ou superfı́cie podem causar sua deformação. A deformação (ou strain) de um corpo é a mudança na forma e/ou volume de um corpo quando este está sujeito a ação de uma tensão. A deformação normal, ou seja, a deformação de um corpo devido à uma tensão normal modifica o volume do corpo, mas não modifica a forma do corpo. Já a deformação cisalhante modifica a forma mas não modifica o volume do corpo. Quando um corpo está sujeito a uma tensão e o equilı́brio estático deste corpo é rompido, dá-se inı́cio à propagação da tensão e da deformação sob a forma de ondas elásticas. Assim, as ondas sı́smicas são ondas elásticas que se propagam na Terra e que podem ser classificadas como ondas de corpo ou como ondas de superfı́cie. 8 1.1.1 Ondas de Corpo ou Ondas de Volume As ondas de corpo ou ondas de volume são as que se propagam através do interior da Terra. Elas apresentam direções radiais a partir do ponto onde foram geradas com desvios devidos às variações de densidade do meio. As ondas de volume são responsáveis pelos primeiros tremores sentidos durante um terremoto e podem ser classificadas em dois tipos: as ondas primárias (ondas P); e as ondas secundárias (ondas S). As ondas primárias ou ondas P ou ondas compressionais são ondas longitudinais, ou seja, são ondas nas quais o deslocamento e a vibração das partı́culas do meio ocorre na mesma direção da propagação da energia da onda. As ondas longitudinais são mais velozes que as ondas S e, por isto, são os primeiros eventos a serem detectados após um abalo sı́smico. Na figura 1.1 é mostrado um esquema descritivo da propagação de uma onda longitudinal ou primária, onde podemos ver que o deslocamento das partı́culas do meio ocorre na direção de propagação da onda. Figura ou 1.1: Esquema longitudinal. descritivo Figura da propagação de uma reproduzida/adaptada da página http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave Properties2.html [2]. 9 onda primária de internet As ondas secundárias ou ondas S ou ondas de cisalhamento são ondas transversais, ou seja, são ondas de volume nas quais o movimento das partı́culas do meio ocorre na direção transversal à direção de propagação da onda. As ondas S se propagam apenas em corpos sólidos, pois os fluidos não suportam forças de cisalhamento. Sua velocidade é, em um dado meio, menor que a velocidade das ondas P, mas sua amplitude é várias vezes maior. Na figura 1.2 é mostrado um esquema descritivo da propagação de uma onda de cisalhamento ou secundária, onde podemos ver que o deslocamento das partı́culas do meio ocorre na direção perpendicular à propagação da onda. Figura 1.2: ou cisalhamento. de Esquema descritivo Figura da propagação de reproduzida/adaptada uma da onda página secundária de internet http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave Properties2.html [2]. 1.1.2 Ondas de Superfı́cie As ondas de superfı́cie são ondas que se propagam logo abaixo da superfı́cie terrestre e deslocam-se mais lentamente que as ondas de volume. Devido à sua baixa frequência, longa duração e grande amplitude, possuem elevado poder destrutivo. Elas propagam-se pela superfı́cie a partir do epicentro de um evento sı́smico. 10 Existem dois tipos de ondas de superfı́cie: as ondas de Rayleigh e as ondas de Love. As ondas de Rayleigh ou ondas R são o resultado da superposição de ondas P e S. A existência destas ondas foi prevista por Lord Rayleigh em 1985 e são ondas que provocam vibrações no sentido contrário à propagação da onda, causando um movimento de rolamento (como uma órbita elı́ptica) em sentido contrário ao movimento da onda. Esta onda também é denominada onda de rolamento superficial e sua amplitude diminui rapidamente com a profundidade. A figura 1.3 mostra um esquema descritivo para uma onda R. Observe que a onda se propaga em uma direção e o movimento dos elementos de volume do meio descrevem um rolamento cuja intensidade diminui rapidamente com a profundidade. Figura Rayleigh 1.3: ou Esquema onda R. descritivo Figura da propagação reproduzida/adaptada de da uma página onda de de internet http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave Properties2.html [2]. Como veremos, ainda nesse capı́tulo, o principal tipo de ruı́do presente nos sinais sı́smicos obtidos em sondagens sı́smicas e chamado de ruı́do de rolamento superficial, é devido a ondas do tipo Rayleigh. As ondas de Love ou onda L são ondas que produzem cisalhamento horizontal do solo 11 e sua energia é obrigada a permanecer nas camadas superiores da Terra devido ao fato de ocorrer por reflexão interna total. Essas ondas são o resultado da superposição de duas ondas S, são ligeiramente mais rápidas que as ondas de Rayleigh e são muito destrutivas. Na figura 1.4 é mostrado um esquema descritivo da propagação de uma onda Love. Observe que os elementos de volume do meio de propagação sofrem um cisalhamento no plano horizontal cuja intensidade diminui com a profundidade. Figura Love 1.4: ou onda Esquema L. descritivo Figura da propagação reproduzida/adaptada da de uma página onda de de internet http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave Properties2.html [2]. 1.1.3 Velocidade de Propagação das Ondas Sı́smicas A velocidade de propagação das ondas sı́smicas é função da densidade e das constantes elásticas do meio. Consequentemente, depende da constituição mineralógica da rocha, do grau de cimentação, dos estágios de compactação, da porosidade, do conteúdo e da saturação de fluidos, além de depender da temperatura e da presença de microfraturas na rocha. As velocidades das ondas P e S em uma rocha ou a razão entre estas velocidades é, 12 no geral, usada para caracterizar uma determinada rocha, ou seja, as velocidades calculadas ou estimadas para as ondas sı́smicas numa região do subsolo podem determinar a composição das rochas daquela subsuperfı́cie. Na figura 1.5 ilustramos a distribuição de velocidades comumente encontradas na prospecção de petróleo. Como o método da sondagem sı́smica permite o cálculo destas velocidades, pode-se estimar os parâmetros das rochas a partir do conhecimento das velocidades. Figura 1.5: Distribuição de velocidades comumente encontradas na prospecção de petróleo. Figura reproduzida de THOMAS[1]. 1.2 Métodos Sı́smicos e a Sondagem Sı́smica Os métodos sı́smicos usados na sondagem sı́smica se baseiam na emissão de ondas sı́smicas geradas artificialmente na superfı́cie terrestre ou no mar e posterior captação das ondas que são refletidas e/ou refratadas pelas descontinuidades do interior da crosta 13 terrestre e retornam à superfı́cie. Há dois principais métodos sı́smicos: o método sı́smico de refração, que registra somente as ondas refratadas com ângulo crı́tico e que tem grande aplicação na área de sismologia e, no entanto, tem aplicação restrita na área de prospecção de petróleo; e o método sı́smico de reflexão que registra as ondas refletidas pelas descontinuidades do interior do subsolo e é largamente utilizado na área de prospecção de petróleo. Destes métodos vamos estudar apenas o segundo, discutindo o estritamente necessário para um melhor entendimento dos capı́tulos seguintes e do trabalho original desta tese. Para o levantamento sı́smico de uma área do subsolo começa-se com a geração de ondas sı́smicas artificiais na superfı́cie terrestre, onde se faz uso de dinamite ou de vibradores com queda de peso, ou no mar, onde se faz uso de canhões de ar comprimido. As ondas sı́smicas assim geradas tem um pulso caracterı́stico conhecido como assinatura da fonte e são captadas após se refletirem e/ou refratarem em cada uma das descontinuidades e camadas do interior do subsolo por onde viajam. Os receptores utilizados para captar e registrar as reflexões são, basicamente, de dois tipos: os eletromagnéticos (geofones) que são utilizados para registros em terra; e os de pressão (hidrofones) usados para levantamentos em águas oceânicas. Os geofones são compostos por uma bobina suspensa dentro de um campo magnético gerado por um potente imã acondicionado por um invólucro imperméavel. O geofone é firmemente cravado na superfı́cie da Terra e quando uma onda sı́smica o atinge, o movimento relativo entre a bobina e o imã gera uma corrente elétrica induzida que é proporcional à vários fatores, inclusive à amplitude da onda incidente. Os hidrofones utilizam-se de cristais piezoelétricos que geram uma corrente elétrica proporcional à variação da pressão produzida pelas ondas sı́smicas na água. Os hidrofones e geofones devem reproduzir, o mais fielmente possı́vel, as vibrações mecânicas na forma de oscilações elétricas. Estas oscilações elétricas irão permitir a construção do sismograma e/ou imagens do interior da Terra que serão analisadas e trabalhadas para o completo levantamento das estruturas internas da subsuperfı́cie. 14 1.3 Aquisição de Dados Sı́smicos Utilizando-se uma fonte artificial de ondas sı́smicas, como dinamite para os casos em terra e ar comprimido para os casos em mar, são produzidas ondas que irão se propagar no interior da crosta terrestre. Para todos os fins práticos, a propagação das ondas sı́smicas é regida pelas mesmas leis da ótica geométrica. Assim, quando uma frente de onda incide sobre uma interface separando duas rochas com velocidades e densidades diferentes, parte da energia da onda é refletida e retorna à superfı́cie e parte é refratada para o meio inferior e continua sua propagação. A quantidade de energia que é refletida depende do contraste de impedância das rochas. É possı́vel simular a resposta sı́smica de um pacote sedimentar ou traço sı́smico (também chamado de sismograma sintético) a partir do conhecimento de velocidades e densidades das rochas que o compõe e da assinatura da fonte. Usando um conjunto de geofones (ou hidrofones) convenientemente distribuı́dos e ordenados, como esquematizados na figura 1.6, pode-se captar as ondas refletidas nas diversas camadas e descontinuidades do subsolo. Figura 1.6: Esquema da aquisição de dados sı́smicos terrestres e marı́timos. Figura reproduzida de OLIVEIRA[3]. Em geral, é considerado que o pulso refletido em uma descontinuidade tenha a mesma 15 forma do pulso incidente. Os geofones ou hidrofones registram as superposições das amplitudes sı́smicas ou reflexões individuais que variam de valores negativos a positivos e são armazenados em um traço sı́smico. Cada traço sı́smico é apresentado como uma série temporal de amplitudes que tem sua área positiva preenchida. Na figura 1.7[1] está ilustrada a formação de um sismograma através das reflexões de um pulso pelas camadas sedimentares do subsolo. Figura 1.7: Representação da formação de um traço sı́smico pelas reflexões de um pulso pelas camadas sedimentares do subsolo. Figura reproduzida de OLIVEIRA[3]. Na figura 1.7.A tem-se a representação das camadas sedimentares do subsolo. Em 1.7.B vê-se as inomogeneidades ou impedâncias acústicas dessas camadas sedimentares. Em 1.7.C temos o pulso incidente e a reflectividade das diversas camadas. Na figura 1.7.D temos as reflexões individuais de cada uma das camadas sedimentares, e finalmente, em 1.7.E tem-se o traço sı́smico final registrado em apenas um geofone. Devido ao arranjo dos geofones (hidrofones) e dos registros de uma mesma reflexão em vários desses sensores, pode-se calcular as distâncias das várias camadas e heterogeneidades e as velocidades das ondas sı́smicas nestas camadas de subsuperfı́cies. 16 1.4 O Ruido de Rolamento Superficial ou Ruido Ground Roll Os registros obtidos por um conjunto de geofones ou hidrofones das reflexões da onda nas camadas de subsuperfı́cies formam um sismograma. Na figura 1.8[3] é mostrado um sismograma construı́do a partir dos dados de um conjunto de geofones durante uma sondagem sı́smica. Figura 1.8: Exemplo de sismograma captado por um conjunto de geofones durante uma sondagem sı́smica. Figura reproduzida de OLIVEIRA[3]. No sismograma da figura 1.8 são observadas algumas estruturas, no entanto, a maioria das estruturas visualmente presentes no sismograma não são devidas às reflexões das ondas nas heterogeneidades do subsolo. A maioria dos sinais presentes em um sismograma de sondagem sı́smica são sinais expúrios que dificultam a leitura do sismograma e sua interpretação e, consequentemente, o estudo das estruturas do subsolo terrestre. 17 Estes sinais indesejados que aparecem nos sismogramas são chamados de ruı́dos. O principal sinal indesejado nos sismogramas de sondagem sı́smica são sinais coerentes devidos a ondas de superfı́cie, do tipo das ondas de Rayleigh, que contribuem com cerca de dois terços de toda a energia sı́smica captada pelo geofone durante essas sondagens[5]. Esses sinais indesejados são chamados de ruı́do de rolamento superficial ou ruı́do ground roll. O ruı́do de rolamento superficial está sempre presente nos sismogramas de sondagem sı́smica e, no exemplo da figura 1.8, ele aparece geometricamente com a forma de um cone central marcado por A. A forma de cone para o registro do ruı́do de rolamento superficial vem do posicionamento dos geofones em relação ao ponto de tiro (ponto de energia onde são geradas as ondas sı́smicas para o levantamento sı́smico). As principais caracterı́sticas do ruı́do de rolamento superficial são: grandes amplitudes, maiores que as do sinal refletido nas camadas do subsolo; baixa velocidade; e concentração de energia em frequências baixas[5]. Por serem ondas do tipo Rayleigh, as ondas do ruı́do de rolamento superficial se limitam a uma propagação próxima à superfı́cie da Terra sem transmitir energia para o seu interior. E, então, as amplitudes que constituem o ground roll não contêm informações relacionadas com as interfaces de reflexões e irão se sobrepor às amplitudes (menores) que foram refletidas pelas estruturas geológicas do interior da terra. 1.5 Técnicas de Filtragem O ruı́do de rolamento superficial e outros sinais indesejados precisam ser removidos do sismograma para que se possa estudar as estruturas presentes e, com isto, estudar as estruturas do interior da terra. Convencionalmente, para a remoção de ruı́dos são usados filtros tais como: filtros passa-baixa, passa banda, balanço espectral, multicanal, f − k, entre outros. Os vários métodos desenvolvidos baseados nessas técnicas, podem ser utilizados para a remoção do ruı́do de rolamento superficial[6]. No entanto, esses métodos tem limitações, pois só podem 18 ser aplicados ou no domı́nio da frequência ou no domı́nio do tempo. Os filtros passa-alta e passa banda, por exemplo, são aplicados no domı́nio da frequência e são incapazes de separar as grandes amplitudes do ruı́do de rolamento superficial das amplitudes das reflexões. Isto ocorre porque, para uma mesma banda de frequência, as amplitudes do ruı́do e do sinal de interesse se sobrepõe fortemente[5]. Por isto, usando-se este tipo de filtragem, frequências baixas presentes nas reflexões são perdidas. Por outro lado, os filtros baseados na transformada f − k são bastante utilizados para remover os ruı́dos de rolamento superficial[7], porém estas transformadas têm a desvantagem de gerar distorções nos sinais das reflexões devido ao fato das amplitudes do ground roll serem bem maiores que as amplitudes das reflexões. Há vários métodos e transformadas que são utilizadas para tratar e estudar os sismogramas e, desta forma, estudar as estruturas do interior da terra. Nos próximos capı́tulos faremos um breve estudo das principais transformadas temporais usadas para remover ruı́dos dos sinais sı́smicos, bem como suas limitações, para podermos comparar com a transformada curvelet, que é o objeto principal de estudo desta tese. 19 Capı́tulo 2 Sinais Temporais e Transformadas 2.1 Introdução Toda grandeza fı́sica pode ser representada por uma função f (t) que dá o seu comportamento com o tempo. A princı́pio, conhecendo-se a função que representa uma grandeza fı́sica, conhecemos o comportamento desta grandeza em qualquer tempo e nos referimos a esta função como sendo o sinal temporal da grandeza fı́sica. Entretanto, o sinal temporal não fornece toda a informação que precisamos para estudar e analisar a grandeza fı́sica. Em muitos casos é necessário realizar uma transformação matemática sobre a função para que esta possa ser analisada em um domı́nio diferente do domı́nio temporal e, desta forma, possamos obter outras informações relevantes e importantes sobre a grandeza fı́sica. As transformações mais utilizadas para se analisar sinais temporais são as chamadas transformadas espectrais, que levam o sinal temporal para o espaço das frequências e permitem recuperar as frequências presentes no sinal temporal. Por outro lado, os sinais temporais obtidos no mundo real a partir do estudo de alguma grandeza fı́sica de interesse estão sempre contaminados. Por exemplo, em um sismograma coletado para se estudar a estrutura interna de uma área da crosta terrestre há vários outros sinais misturados que atrapalham o estudo do sismograma por não pertencerem ao fenômeno de interesse. Chamamos estes sinais espúrios ou indesejados de ruı́dos. A presença de ruı́dos é inevitável no estudo de qualquer grandeza ou fenômeno fı́sico. Há alguns procedimentos utilizados para atenuar o ruı́do presente no sinal e, desta forma, 20 recuperar o sinal desejado. Estes procedimentos de atenuação de ruı́dos são conhecidos como filtragem [8]. Assim, procedimentos matemáticos têm sido propostos para atenuar estes sinais que não pertencem ao fenômeno observado e que não são de interesse do pesquisador. As transformadas espectrais estão entre os filtros mais utilizados para remoção de ruı́dos na exploração do petróleo. Nestes casos, é feita uma transformada sobre o sinal levando-o para o espaço das frequências e as frequências dos sinais indesejados são atenuadas ou removidas e, ao se realizar a transformada inversa para levar o sinal de volta ao espaço temporal, o sinal desejado deve, em teoria, estar livre dos ruı́dos. Neste capı́tulo vamos estudar brevemente as principais transformadas espectrais utilizadas para se estudar sinais temporais e/ou atenuar ruı́dos presentes nesses sinais, bem como perceber as limitações destas transformadas. 2.2 A Análise de Fourier Em 1807, o fı́sico e matemático francês Jean-Baptiste Joseph Fourier desenvolveu um método de análise de funções periódicas em séries trigonométricas convergentes que passaram a se chamar Séries de Fourier. Levando-se em consideração que senos e cossenos são funções periódicas, ele propôs que qualquer função periódica pode ser decomposta em termos destas funções base num somátório infinito. Assim, uma função f (t) periódica pode ser escrita em termos de funções senoidais (senos e cossenos) como: ( ) ( )] ∞ [ ∑ nπt nπt f (t) = a0 + an cos + bn sen L L n=1 (2.1) onde os coeficientes da expansão, an e bn , são determinado a partir da relação de ortogonalidade das funções base da expansão (senos e cossenos) e são dados por: 1 an = L ∫ ( L f (t) cos −L nπt L ) e 21 dt, n = 0, 1, 2, 3, . . . (2.2) 1 bn = L ∫ ( L f (t)sen −L nπt L ) dt, n = 1, 2, 3, . . . (2.3) Com o sinal, f (t), escrito como uma série de Fourier na forma da equação (2.1), podemos analisá-lo mais facilmente no domı́nio temporal e, também, transformá-lo para outros domı́nios para obter e estudar informações que não estão disponı́veis neste domı́nio. Usando a Transformada de Fourier (TF), que é uma transformada integral que leva uma função periódica em suas componentes no domı́nio das frequências, podemos transformar o sinal temporal em uma função que está representada no domı́nio das frequências a partir da integral: ∫ fˆ(ω) = F[f ](ω) = ∞ f (t)e−iωt dt (2.4) −∞ Por outro lado, conhecendo-se o espectro f (ω) de um sinal temporal, é possı́vel obter este sinal utilizando a transformada inversa de Fourier, dada por: 1 f (t) = f [F](t) = 2π ∫ ∞ fˆ(ω)eiωt dt (2.5) −∞ Diz-se então que f (t) e fˆ(ω) formam um par de transformadas, indicando isto por f (t) ↔ fˆ(ω). Ou seja, de um sinal temporal podemos obter o sinal no espaço das frequências e vice-versa. O fato das funções de base da série de Fourier ou, equivalentemente, da integral da transformada de Fourier (equação (2.4)), se estender de menos a mais infinito, torna esta transformada adequada para se estudar um sinal estacionário. Assim, no estudo de sinais estacionários, utilizar um filtro do tipo Fourier é uma boa escolha para decompor o sinal do domı́nio do tempo em sinais harmônicos simples para o domı́nio das frequências. Neste novo domı́nio pode-se analisar o sinal e atenuar as frequências dos sinais indesejados e, em tese, ao voltar ao domı́nio temporal pela transformada de Fourier inversa, recupera-se o sinal sem a presença de ruı́dos e sinais indesejados. Na figura 2.1.a temos um exemplo de um sinal estacionário simples, f (t) = cos(ν0 ) representado em seu domı́nio temporal e sua análise de Fourier, representada no domı́nio das frequências, onde vemos que sua frequência é representada por uma delta sobre ν0 22 no espaço das frequências. Já na figura 2.1.b temos a função f (t) = cos(ν0 ) dentro de uma caixa limitada no intervalo [−b/2, b/2] e sua respectiva representação no espaço das frequências, o que já nos mostra a limitação da análise de Fourier para analisar sinais não-estacionários. Figura 2.1: a) Exemplo de (a) um sinal temporal estacionário e sua representação no espaço das frequências obtida pela análise de Fourier do sinal; (b) um sinal temporal não estacionário e sua representação no espaço das frequências obtida pela análise de Fourier. Figura adaptada da página de internet http://astro.if.ufrgs.br/med/imagens/fourier.htm [9]. Apesar de ser extremamente útil e importante no estudo de sinais estacionários, a transformada de Fourier não pode “visualizar” ou recuperar uma informação localizada em um tempo especı́fico. Ou seja, a transformada de Fourier é ineficaz para fornecer a localização de um evento no sinal, tal como mudança de frequência, descontinuidades, singularidades e fenômenos transientes em geral. A limitação na análise de Fourier advém do fato da transformada de Fourier não permitir analisar, em separado, trechos diferentes dos sinais [10]. Assim, caso o sinal contenha 23 algum trecho extremamente ruı́doso ou que contenha pontos anômalos, o processamento de todo o sinal ficará comprometido. E, no caso dos sinais sı́smicos da prospecção de petróleo, as partes mais importante dos sinais costumam ser os eventos pontuais ou singularidades presentes no sinal temporal. Como ferramentas de análise alternativas à Tranformada de Fourier no estudo de sinais não-estacionários ou que contenham descontinuidades pontuais, surgiram outras transformadas espectrais que visam incorporar à análise de um sinal a possibilidade de localizar um evento no sinal ao mesmo tempo que leva o sinal temporal do espaço dos tempos para o espaço das frequências. Vamos estudar brevemente algumas destas transformadas nas seções seguintes deste capı́tulo. 2.3 A Transformada de Fourier-Gabor Para cobrir a deficiência da Transformada de Fourier em estudar sinais não estacionários e interessado em representar sinais não-estacionários em problemas de comunicação usando funções de base oscilatórias no plano tempo-frequência, o fı́sico Dennis Gabor[11] desenvolveu um método que divide o sinal temporal original em partes e realiza uma análise de Fourier em cada parte em separado. Este método é denominado Transformada Fourier-Gabor ou Transformada de Fourier Janelada (em inglês Short Time Fourier Transform). A transformada de Fourier Janelada usa uma função auxiliar no integrando da transformada de Fourier que divide o sinal temporal em partes, através de janelas de formato gaussiano, e faz a transformada de Fourier em cada parte do sinal, permitindo obter informações sobre quais frequências ocorrem em cada parte do sinal. Matematicamente temos que a transformada de Fourier-Gabor relaciona o sinal temporal f (t) com a função de análise gu,ξ (t), conhecida como átomo de Gabor, pela equação: ∫ ∞ f (u, ξ) = −∞ ∗ (t)dt f (t)gu,ξ A função átomo de Gabor é construı́da por uma translação temporal: 24 (2.6) gu,ξ (t) = g(t − u)eiξt . (2.7) Desta forma, a transfomada de Fourier-Gabor é dada por: ∫ fˆ(u, ξ) = ∞ −∞ f (t)g(t − u)e−iξt dt (2.8) Sendo assim, a transformada de Fourier janelada está definida no domı́nio tempo frequência (ω, t). E a energia de gu,ξ é concentrada na vizinhança de u em um intervalo de tamanho σt e sua transfomada de Fourier é uma translação por ξ: ĝu,ξ (ω) = ĝ(ω − ξ)e−iu(ω−ξ) . (2.9) A transformada inversa de Fourier Gabor é dada por: 1 f (t) = 2π ∫ ∞ −∞ ∫ ∞ −∞ fˆ(u, ξ)g(ξ − t)eiξu dudξ . (2.10) A função gu,ξ (t), da transformada de Fourier-Gabor, é delimitada por uma região e, também por isto, conhecida como uma função janelada. A energia de gu,ξ (t) está concentrada na vizinhança de u em um intervalo de tamanho σt . E a energia de ĝu,ξ (t) é localizada na frequência ξ em um intervalo de tamanho σω . No plano tempo-frequência (t, ω), o espalhamento da energia do “átomo” gu,ξ é representado simbolicamente pela “caixa de Heisemberg”, como ilustrado na figura 2.2. Esta “caixa” está centrada em (u, ξ) e tem largura σt no tempo e σω na frequência. A janela usada na transformada de Fourier janelada é de tamanho fixo. Isto torna inviável a análise simultânea das componentes de altas frequências e de baixas frequências do sinal, pois há um limite, advindo do Princı́pio da Incerteza de Heisemberg, para a localização tempo-frequência do sinal. A variância temporal σt e a variância na frequência σω do sinal temporal f (t) satisfazem a equação: σt σω ≥ 1 4π (2.11) Sendo assim, uma “boa” localização na frequência (σω pequeno) implica em não se ter uma “boa” localização no tempo (σt ≥ 1/4πσω ). A localização da função no domı́nio 25 Figura 2.2: Representação simbólica da caixa de Heisemberg no plano tempo-frequência. A energia do “átomo” de Gabor está distribuı́da nesta caixa centrada em (u, ξ) e com larguras σt no tempo e σω na frequência. Figura reproduzida de LEITE[15]. tempo-frequência está representada geometricamente pela dimensão do retângulo σt × σω . Do princı́pio da incerteza temos que a área desse retângulo mostrado na figura 2.2, é ≥ 1/4π. Na transformada de Fourier janelada, uma vez escolhida uma janela do domı́nio do tempo, esta mesma janela tem de ser usada em todas as frequências. Assim, é possı́vel se analisar sinais que apresentam componentes de frequências altas ou sinais que apresentam componentes de frequências baixa, mas não sinais que apresentam ambas componentes, como os sinais geofı́sicos. A limitação na transformada de Fourier janelada fez surgir uma modificação nessa transformada, que veio a ser chamada de Transformada Wavelet ou transformada em ondaleta. 26 2.4 A Transformada em Ondaletas A Transformada Wavelet ou Transformada em Ondaletas também surgiu da limitação da análise de Fourier em localizar um evento em um sinal temporal e da limitação da transformada de Fourier-Gabor em estudar sinais compostos, simultaneamente, por bandas de altas e de baixas frequências. Devido à esta limitação da transformada de Fourier janelada em analisar sinais não estacionários e compostos, simultaneamente, por bandas de altas e de baixas frequências, Grossmann e Morlet [10] usaram funções de análise na base com parâmetros variáveis σ e τ relacionados com frequência e tempo, respectivamente, e que ajustavam às janelas de análise do sinal, contornando a limitação da análise de Fourier-Gabor. Assim, as funções de análise são ajustadas pelos parâmetros σ e τ dependendo da frequência que se deseja analisar, ou seja, para estudar as estruturas de sinais f (t) em tamanhos diferentes, é necessário usar uma decomposição em tempo-frequência com suportes diferentes no tempo. A transformada em ondaletas é uma técnica recente com enorme aplicabilidade no estudo de funções não-estacionárias e de sinais com transientes ou singularidades, como é o caso de sinais geofı́sicos[16]. A enorme utilidade das ondaletas está na possibilidade de atuarem como funções de base na decomposição de sinais temporais (funções f (t) ∈ L2 (IR)) de forma mais eficiente que as bases senoidais do método de Fourier e que as janelas do método Fourier-Gabor. Muitas vezes a transformada em ondaletas é comparada a um microscópio matemático, pelo fato de proporcionar um efeito tipo lente de aumento que permite localizar, no tempo e na escala, transientes e singularidades em um sinal temporal. Tornando esta análise extremamente conveniente para a análise de sinais não-estacionários e com sigularidades. Nesta seção, vamos apresentar e discutir brevemente a transformada contı́nua em ondaletas e a transformada discreta em ondaletas e perceber, também, suas limitações. 27 2.4.1 Transformada Contı́nua em Ondaletas A Transformada Contı́nua em Ondaletas é uma transformação matemática que decompõe um sinal temporal f (t) ∈ L2 (IR) em funções de base denominadas ondaletas ou wavelets. Esta transformada gera um novo sinal fψ (σ, τ ) ∈ L2 (IR) que é dependente dos parâmetros σ e τ que são, respectivamente, o parâmetro de dilatação/contração e o parâmetro de translação. Comparando a transformada contı́nua em ondaletas com a transformada de Fourier janelada, como veremos a seguir, percebe-se que o parâmetro τ é similar ao parâmetro de localização da transformada de Fourier janelada. Já o parâmetro σ não existe na transformada de Fourier janelada. A decomposição da função f (t) em termos das ondaletas, pode ser representada pela equação: ∫ fψ (σ, τ ) = +∞ −∞ ∗ f (t)ψσ,τ (t)dt (2.12) ∗ onde a função ψσ,τ (t) é conseguida por dilatações (parâmetro σ) e translações (parâmetro τ ) de uma função principal ou função protótipo, conhecida por ondaleta mãe (ou wavelet mãe), e dada por: ∗ ψσ,τ (t) 1 =√ ψ |σ| ( t−τ σ ) (2.13) 1 onde σ, τ ∈ IR, σ ̸= 0; e o termo √ corresponde a um fator de normalização da energia |σ| para cada ondaleta, que faz com que cada ondaleta tenha a mesma energia da ondaleta principal. A dependência da ondaleta com os dois parâmetros, σ e τ , é o que torna esta transformada uma ferramenta eficiente para analisar sinais não-estacionários e localizar singularidades e transientes, pois é possı́vel analisar a função em um amplo conjunto de localizações temporais e com relação a um grande conjunto de frequências. Na figura 2.3.a ilustramos uma famı́lia de ondaletas contı́nuas para diferentes valores dos parâmetros σ e τ . Já na figura 2.3.b ilustramos o espectro de Fourier destas ondaletas. A ondaleta escolhida é a segunda derivada da gaussiana, também conhecida como Chapéu Mexicano devido a seu formato peculiar. A ondaleta principal ou protótipo usada 28 Figura 2.3: Representação de uma famı́lia de ondaletas contı́nuas (figura (a)) e de seu espectro de Fourier (figura (b)). Figura reproduzida de MALLAT[16]. para gerar a famı́lia de ondaletas é ψ1 , que está localizada em τ0 = 0 para uma determinada escala σ0 , ou seja, ψ1 = ψσ0 ,τ0 =0 . Observa-se na figura 2.3.a que quando a ψ1 é contraı́da σ0 em σ0 → e transladada para a direita, τ0 → +τ , é gerada a ondaleta ψ2 , caracterizada 2 σ0 por ψ2 = ψσ0 /2,τ . Já a ondaleta ψ3 é gerada pela contração σ0 → e pela translação 4 τ0 → −τ , assim ψ3 = ψσ0 /4,−τ . No espectro de Fourier desta famı́lia de ondaletas, mostrado na figura 2.3.b, observase que quando é diminuı́da a análise do domı́nio da temporal (tanto em ψ2 quanto em ψ3 que são menos espalhadas que ψ1 ), a análise no domı́nio das frequências é deslocada para frequências maiores. E, consequentemente, a ondaleta que possui maior suporte no tempo, ψ1 , tem seu espectro de frequência concentrado em frequências menores. 29 A transformada em ondaletas, assim como a transformada de Fourier, é inversı́vel. A recuperação do sinal original é possı́vel pela transformada em ondaletas inversa, cuja expressão matemática é: f (t) = fψ−1 (σ, τ ) 1 = cψ ∫ +∞ ∫ −∞ +∞ −∞ 1 fψ (σ, τ ) √ ψ |σ| ( t−τ σ ) dτ dσ σ2 (2.14) onde o termo Cψ depende da ondaleta dada e, matematicamente, é escrito na forma: ∫ Cψ = +∞ −∞ |ψ̂(ω)|2 dω < ∞ |ω| (2.15) onde o termo |ψ̂(ω)| é a transformada de Fourier da função ψ(t). A equação 2.15 é definida como a condição de admissibilidade da função ψ(t), que tem de satisfazê-la para que a função f (t) possa ser reconstruı́da sem perda de informação. ∫ +∞ A equação 2.15 exige, ainda, que ψ̂(0) = 0 ou −∞ ψ(t)dt = 0, de forma que ψ(t) muda seu sinal, ao menos, uma vez ao longo de seu domı́nio e que se anula para t → ∞. Esta propriedade garante que ψ(t) tem caráter ondulatório. Por outro lado, levando-se em consideração a localização da energia da função ψ, temos que essa está localizada numa região do plano (τ, ω) e, portanto, no plano (τ, σ), uma vez que σ ∼ 1/ω. Isto significa que as amplitudes de ψ são apreciáveis apenas nesta região. Desta forma, a equação 2.12 mede as flutuações do sinal f na vizinhança de τ , cujo tamanho é proporcional à escala σ. Se a ondaleta é mais localizada, ou seja, sua energia está concentrada em uma pequena região do espaço, ela fornece uma melhor representação da função no plano tempo-frequência, mas a forma da ondaleta permanece inalterada sob dilatação e translação (como pode ser visto na figura 2.3). Para compararmos melhor a análise de Fourier-Gabor com a análise em ondaletas, podemos analisar um esquema ilustrativo da divisão que a transformada em ondaletas faz do espaço tempo-frequência (figura 2.4.b) com a divisão do espaço tempo-frequência feito pela análise de Fourier-Gabor (figura 2.4.a). As diferentes larguras das janelas (tanto em tempo quanto em frequência) permitem a melhor representação das singularidadese e 30 eventos localizados do sinal temporal quando estudado no domı́nio tempo-frequência. Na figura 2.4.b podemos observar, também, o esquema da discretização do domı́nio tempoescala para as ondaletas. Figura 2.4: Esquema ilustrativo da divisão do espaço tempo-frequência (a) para a transformada de Fourier-Gabor; e (b) para a transformada em ondaletas. Figura reproduzida de MALLAT[16]. 2.4.2 Transformada Discreta em Ondaletas Vimos, até agora, que a transformada contı́nua em ondaletas analisa sinais temporais a partir de sua representação em termos de funções de base dadas pela equação 2.13, onde os parâmetros σ e τ controlam a largura e a localização das funções de análise que formam a base. Com os parâmetros σ e τ , a transformada contı́nua em ondaletas é uma representação redundante dos sinais temporais. A diminuição da redundância aumenta a eficiência dos algoritmos de análise e uma discretização dos parâmetros σ e τ é suficiente para passar de uma representação redundante a uma representação em uma base ortonormal. Uma escolha adequada para o parâmetro de escala é σ = σ0j , com j ∈ Z e σ0 > 1. E para o parâmetro de translação é τ = kτ0 com k ∈ Z e τ0 > 0. O valor de τ0 deve 31 ser escolhido de modo que as ondaletas ψ(t − kτ0 ) cubram todo o eixo temporal. Devese perceber também, que a discretização de τ deve estar relacionada à discretização de σ = σ0j , portanto, uma escolha conveniente para τ é da forma τ = kσ0j τ0 . Uma classe particular de ondaletas discretas são as ondaletas com os seguintes valores numéricos para os parâmetros de translação e contração da ondaleta τ0 = 1 e σ0 = 2, de forma que, temos σ → 2j e τ → 2j k, com (j, k) ∈ Z × Z. Esta notação conduz a uma estrutura em escalas (ı́ndice j) e translações (ı́ndice k) chamada diádica, que assemelhase a uma notação musical, em que as potências de 2 estão relacionadas com intervalos (oitavas) e duração das notas. Então, uma ondaleta discreta é uma função ψ(t), tal que a famı́lia de funções ) ( 1 t − k2j ψj,k (t) = √ ψ 2j 2j seja uma base ortonormal para o L2 (IR) com j e k inteiros. (2.16) Da definição acima, se ψ é uma ondaleta, então, ψj,k também será para qualquer j, k ∈ Z. Os parâmetros j e k são quem controlam, respectivamente, as dilatações e as translações das ondaletas. Então, a transformada discreta em ondaletas será da forma ( ) t − k2j 1 dj,k = f (t) √ ψ dt (2.17) 2j 2j −∞ onde os coeficientes gerados dj,k 0 são chamados de coeficientes de detalhe ou coeficientes ∫ +∞ ondaletas. Algoritmos baseados nesta transformada são usados para analisar sinais temporais que são formados por bandas de alta e baixa frequências e que possuem eventos localizados no tempo ou singularidades. Estas singularidades são bem localizadas no espaço tempofrequência, permitindo verificar quais coeficientes da transformada discreta em ondaletas são mais importantes na representação do sinal. A transformada em ondaletas aplicada a sinais geofı́sicos, por exemplo, faz com que os sinais sejam representados em termos de um número muito grande de coeficientes de detalhe. Sem contar que, usando a transformada em curvelets, como estudaremos no capı́tulo 3, a imagem/sinal pode ser representada com bem menos coeficientes que na 32 sı́ntese em ondaletas. Além disso, o caráter direcional da transformada curvelet permite que a representação do sinal seja feita através de uma operação que inclui um parâmetro angular na função de base e permite atenuar melhor os ruı́dos e partes indesejadas do sinal quando comparada à transformada em ondaletas. 33 Capı́tulo 3 A Análise Curvelet 3.1 Introdução No capı́tulo anterior começamos a estudar sinais temporais e as transformadas utilizadas em suas análises. Neste capı́tulo vamos dar continuidade ao estudo de transformadas tempo-frequência estudando um tipo recente de transformada e com inúmeras aplicações em diversas áreas da ciência e da tecnologia, a transformada curvelet. Em todo o corpo desta tese manteremos o termo em inglês, curvelet, para esta transformada pois, por ser uma análise recente, ainda não há na literatura uma tradução adequada para este termo. Voltando ao estudado no capı́tulo anterior, vimos que a análise de Fourier pode ser utilizada para decompor um sinal periódico em termos de senos e cossenos, ou seja, podemos escrever um sinal periódico como uma combinação linear de senos e cossenos e descobrir as frequências presentes no sinal temporal. A análise de Fourier é extremamente útil no estudo de sinais estacionários, mas apresenta sérias limitações ao analisar sinais que apresentam descontinuidades ou eventos localizados no tempo. Devido à essa limitação da análise de Fourier, surgiu a análise de Fourier-Gabor ou análise de Fourier janelada. Esta análise divide o sinal temporal original em partes e realiza uma análise de Fourier em cada parte em separado. Nesse tipo de análise, a janela utilizada tem tamanho fixo, o que torna uma análise simultânea das componentes de altas e de baixas frequências inviável, sendo possı́vel realizar apenas um desses tipos de análise 34 e não os dois simultaneamente. Da limitação da análise de Fourier em localizar um evento em um sinal temporal e da limitação da transformada de Fourier-Gabor em estudar sinais compostos, simultaneamente, por bandas de altas e de baixas frequências, surgiu a análise em ondaletas. Neste tipo de análise, o sinal temporal ou função a ser estudada é representada em termos de pequenas ondas que sejam localizadas no tempo e que permitem ajustar o tamanho das janelas de análise do sinal, contornando a limitação da análise de Fourier-Gabor. A transformada em ondaletas é uma técnica recente com enorme aplicabilidade no estudo de funções não-estacionárias e de sinais com transientes ou singularidades, como é o caso de sinais geofı́sicos[16]. No entanto, esta técnica de análise também tem suas limitações. Por exemplo, apesar de representar surpreendentemente bem descontinuidades pontuais em uma dimensão, a análise em ondaletas apresenta severas restrições para representar regiões com descontinuidades superficiais em duas dimensões, ou seja, descontinuidades ao longo de curvas, precisando-se de um número muito grande de coeficientes para tais representações[22] ou mesmo recuperando representações imprecisas. Partindo-se desta limitação na análise em ondaletas, Candès e Donoho[22] propuseram, em 1999, uma nova classe de funções de base, as curvelets que podem ser utilizadas na remoção de ruı́dos de sinais e imagens, na compressão de sinais, no reconhecimento de padrões, entre outras aplicações. A análise curvelets consiste em representar um sinal/imagem em termos de funções de base que tenham em seus parâmetros, além dos parâmetros relacionados à frequência e ao tempo, um parâmetro angular, dando um caráter direcional à análise e permitindo-se identificar e representar singularidades direcionais. Neste capı́tulo vamos definir a transformada curvelet e entender esta análise e suas propriedades para, no próximo capı́tulo, podermos descrever a remoção do ruı́do de rolamento superficial usando esse tipo de análise. 35 3.2 Definição da Transformada Curvelet A transformada curvelet é uma nova transformada multiescala com um forte caráter direcional que vem sendo largamente utilizada na representação de objetos, imagens e sinais que tem descontinuidades ao longo de curvas[22, 23, 24, 25, 26, 27, 28]. Este caráter direcional das curvelets vem do fato delas estarem localizadas, além do domı́nio espacial e de frequências, em orientação angular, o que consiste num passo além da análise em ondaletas[16]. Nesta seção vamos definir a transformada curvelet contı́nua e estudar suas propriedades. Vamos considerar que as funções de base curvelets estão definidas em duas dimensões, com variável espacial x, ω e com r e θ as coordenadas polares no domı́nio das frequências. Assim, considerando o par de janelas W (r) e V (t) que são, respectivamente, a “janela radial” e a “janela angular” e que são, ambas, suaves, não-negativas e reais, com W tomando argumentos reais e positivos com suporte r no intervalo (1/2, 2) e V tomando argumentos reais com suporte em t ∈ [−1, 1]. Estas janelas obedecerão às condições de admissibilidade: +∞ ∑ (3 ) W 2 (2j r) = 1, r∈ V 2 (t − l) = 1, ( ) t ∈ − 12 , 12 ,3 4 2 (3.1) j=−∞ +∞ ∑ (3.2) l=−∞ Para cada j ≥ j0 , o que significa dizer que estamos trabalhando com as escalas “finas” das curvelets, introduziremos as janelas de frequência Uj definida no domı́nio de Fourier por: ( −3j/4 Uj (r, θ) = 2 −j W (2 r)V 2⌊j/2⌋ θ 2π ) (3.3) onde ⌊j/2⌋ é a parte inteira de j/2. Desta forma, o suporte de Uj é uma “fatia” polar definida pelo suporte de W e V , ou seja, é uma janela com largura dependente da escala em cada direção. O sinal ou imagem a ser analisado deve ser decomposto em termos destas janelas agular e radial, de modo que em cada janela seja aplicada a análise curvelet. Para visualizarmos 36 essas janelas em um sinal/imagem a ser estudado, vamos considerar que o espaço de frequência, a partir de sua origem, em camada de frequência definidas por 2j < W < 2j+1 , de modo que o espaço de frequência fica decomposto em camadas como na figura 3.1.a. Já a decomposição do espaço de frequência para a construção da janela angular é a segunda decomposição diádica e, por isto, feita no espaço já decomposto na escala radial de modo que temos (W, V ) ≤ 2−j/2 . Esta decomposição é mostrada na figura 3.1.b. Assim, o suporte das curvelets é como uma fatia parabólica neste espaço de frequência sob as decomposições em escala radial e angular. Na figura 3.1.c a área sombreada representa esta fatia parabólica do espaço que é dependente de escala em cada direção, onde as curvelets tem seu suporte definido e onde cada análise será feita sobre a imagem/sinal. Para obtermos as curvelets reais que atuam sobre este espaço de frequência decomposto, iremos trabalhar com a versão simétrica da equação (3.3), ou seja, trabalharemos com: Uj (r, θ) = Uj (r, θ + π) (3.4) Para definirmos as funções curvelets, vamos considerar que temos a função φ(x), a “curvelet mãe”, pois todas as curvelets na escala 2−j são obtidas por rotações e translações de φj . Assim, as curvelets: i) apresentam uma sequência igualmente espaçada de ângulos de rotação θl = 2π · 2−⌊j/2⌋ · l, com l = 0, 1, . . . , tal que 0 ≤ θl < 2π. Devemos ressaltar que o espaçamento entre ângulos consecutivos são dependentes de escala. ii) e a sequência dos parâmetros de translação k = (k1 , k2 ) ∈ Z2 . Com o estabelecimento dessas notações, vamos definir as curvelet como funções de x = (x1 , x2 ) na escala 2−j , com orientação θl e posição xk (j,l) ( )] [ φj,l,k (x) = φj Rθl x − xj,l k , por: = Rθ−1 l (3.5) onde Rθ é a matriz de rotação de θ em radianos e Rθ−1 sua inversa, que também é igual à sua transposta: 37 Figura 3.1: Decomposição diádica do espaço de frequência. Na figura (a) temos esta decomposição em termos da janela radial; na figura (b) temos esta decomposição em termo das janelas radial e angular; já na figura (c) temos que a área sombreada é a fatia do espaço de Fourier onde as curvelets tem seu suporte definido. Figura adaptada da página de internet http://www.math.washington.edu/ hart/uwss.pdf [29]. Rθ = cos θ senθ −senθ cos θ 38 , (3.6) o que nos dá: Rθ−1 = RθT = R−θ (3.7) Então, um coeficiente curvelet é definido como sendo o produto interno entre a função f que representa o sinal e a curvelet φj,l,k . Ou seja: ∫ c(j, l, k) = ⟨f |φj,l,k ⟩ = f (x)φj,l,k (x)dx (3.8) R2 Como a transformada curvelet opera no domı́nio da frequência, podemos usar o teorema de Plancherel e expressar o produto interno da equação (3.8) como uma integral sobre o plano frequência: 1 c(j, l, k) = (2π)2 ∫ 1 fˆ(x)φj,l,k (ω)dω = (2π)2 ∫ (j,l),ω fˆ(x)Uj (Rθl ω )e⟨xk ⟩ dω . (3.9) Para o caso de escalas mais “grosseiras” (0 ≤ j ≤ j0 ), podemos introduzir um filtro do tipo passa-baixa, W0 , que obedece à equação: |W0 (r)|2 + ∑ |W (2−j r)|2 = 1 (3.10) j≥jo E para k1 , k2 ∈ Z, definimos a curvelet de escala “grossa” como: φj0 ,k (x) = φj0 (x − 2−j0 k) φ̂j0 (ω) = 2−j0 |ω| (3.11) (3.12) Destas equações percebemos que as curvelets na escala “grossa” são não direcionais, ou seja, no maior fator de escala as curvelets são simétricas. A Transformada curvelet, portanto, consiste dos elementos direcionais de escala fina, (φj,l,k )j≥j0 ,l,k , e dos elementos não-direcionais de escala grossa, (φj0 ,k )k . Os elementos aos quais deve-se dar maior atenção nas análises são os elementos direcionais, pois deles pode-se obter informações que não são possı́veis de se obter de outras transformadas tempo-frequência. 39 3.3 Propriedades da Transformada Curvelet A transformada curvelet tem algumas propriedades importantes que devemos ressaltar nesta seção para entendermos melhor a análise de sinais utilizando este tipo de transformada. 3.3.1 Tight frame Um conjunto de funções é chamado de tight frame se, mesmo não sendo um conjunto ortonormal de funções, funciona da mesma forma que uma base ortonormal e é possı́vel expandir uma função ou sinal em termos deste conjunto de funções. Ou seja, esse conjunto de funções chamado de tight frame funciona como um protótipo ou arcabouço do espaço de funções. As funções curvelet funcionam como se fossem uma base ortonormal, na qual é possı́vel expandir um sinal ou função arbitrária f (x1 , x2 ) ∈ L2 R2 como uma série de curvelets dada por: f= ∑ ⟨f |φj,l,k ⟩φj,l,k (3.13) j,k,l Esta igualdade vale no espaço de todas as funções de quadrado integráveis L2 e, portanto, também é válida a relação de Parseval: ∑ |⟨f, φj,l,k ⟩|2 = ||f ||2L2 (R)2 (3.14) j,k,l onde as somas nas equações (3.13) e (3.14) são feitas em todas as escalas. 3.3.2 Parâmetro de escala parabólico Dada uma função curvelet, φi , bem localizada no espaço de frequência, isto significa que a função espacial φj (x) tem um decaimento rápido dentro do retângulo de 2−j por 2−j/2 com o eixo maior apontando na direção vertical. O comprimento e a largura efetiva do retângulo obedecem a uma relação de escala onde: 40 comprimento ≈ 2−j/2 , largura ≈ 2−j (3.15) largura ≈ (comprimento)2 (3.16) ou seja, temos que: 3.3.3 Comportamento oscilatório Como podemos perceber pela definição da transformada curvelet, φ̂j , esta função é suportada a partir do eixo vertical (ω1 = 0), exceto no eixo horizontal (ω2 = 0). Em outras palavras, a função φj (x) é oscilatória na direção x1 e um passa-baixa na direção x2 . Assim, na escala 2−j , uma curvelet é uma estrutura cujo envelope é uma determinado cume de comprimento efetivo 2−j/2 e largura 2−j e que exibe comportamento oscilatório ao longo do cume principal. 3.3.4 Momentos nulos O molde das funções curvelet φj é dito ter q momentos nulos quando: ∫ +∞ −∞ φj (x1 , x2 )xn1 dx1 = 0 (3.17) para todo 0 ≤ n < q, para todo x2 . Esta mesma propriedade é válida para curvelets giradas, ou seja, quando tomamos x1 e x2 como coordenadas giradas correspondentes. Observe que a integral da equação (3.17) é calculada na direção perpendicular ao cume, de modo que a contagem de momentos nulos é uma forma de quantificar o comportamento oscilatório das curvelets. No domı́nio de Fourier, a equação (3.17) torna-se uma linha de zeros com algumas multiplicidades. Ou seja: ∂ n φ̂j (0, ω2 ) = 0 ∂ωjn 41 (3.18) para todo0 ≤ n < q, para todo ω2 . As curvelets tem um número infinito de momentos nulos, pois possuem suporte compacto fora da origem no plano da frequência, como ilustrado na figura 3.1. 3.4 3.4.1 Transformada Curvelet Discreta Definição Ao trabalharmos e analisarmos sinais em geral não estamos estudando funções contı́nuas. Na verdade, estaremos estudando e analisando sinais discretos. Mesmo assim, como toda transformada podemos, a partir do caso contı́nuo, definir a forma discreta da transformada curvelet e trabalhar com ela para analisar nossos sinais ou funções. As definições e conceitos aqui expressos foram construı́dos a partir do trabalho de Candès e Donoho, 2005[26]. A transformada curvelet discreta, assim como a transformada contı́nua, é linear. Ela utiliza como dados de entrada vetores cartesianos da forma f [t1 , t2 ], com 0 ≤ t1 , t2 < n. Isto nos permite pensar nos dados de saı́da da transformada como uma coleção de coeficientes cD (j, k, l) obtida pelo análogo discreto da equação (3.8), ou seja, obtidos por: ∑ cD (j, k, l) = f [t1 , t2 ]φD j,l,k [t1 , t2 ] (3.19) 0≤t1 ,t2 <n onde φD j,l,k é um pequeno pacote de onda digital. 3.4.2 Coronização discreta Dada a definição da transformada curvelet discreta, falta-nos entender (visualizar) a representação diádica discreta do espaço de frequência onde essa transformada atua, que também é chamada de coronização discreta do espaço de frequência. Na definição contı́nua da transformada curvelet (equação (3.3)), a janela Uj extrai suavemente frequências próximas da coroa diádica (2j ≤ r ≤ 2j+1 ) e próximo do ângulo 42 (−π·2−j/2 ≤ θ ≤ π·2−j/2 ). Porém, coroa e rotações não são conceitos facilmente adaptados para representar linhas e colunas cartesianas. Na transposição do contı́nuo para o discreto é conveniente substituir esses conceitos por equivalentes discretos/cartesianos. Assim, a coroa cartesiana é baseada em quadrados concêntricos e cisalhados. Por exemplo, o análogo cartesiano da famı́lia (Wj )j≥0 ,Wj (ω) = W (2−j ω) é uma janela da forma: W̃j (ω) √ Φ2j+1 (ω) − Φ2j (ω) (3.20) para j ≥ 0 e onde Φ é definido como o produto de uma janela unidimensional passa-baixa: Φj (ω1 , ω2 ) = ϕ(2−j ω1 )ϕ(2−j ω2 ) (3.21) A função ϕ, que vale 0 ≤ ϕ ≤ 1, obedece a condição de ser igual a 1 no intervalo [−1/2, 1/2] e nula fora do intervalo [−2, 2]. Deste modo, temos que: Φ0 (ω)2 + ∑ W̃j2 (ω) = 1 (3.22) j≥0 As equações acima nos mostram como separar as escalas. Para termos a representação diádica discreta precisamos construir a localização angular. Suponha que a janela angular V seja definida como no caso contı́nuo, isto é, seja dada pela equação (3.2). Estabelecendo que: Vj (ω) = V (2⌊j/2⌋ ω2 /ω1 ) (3.23) Assim, podemos usar W̃j e Vj para definirmos a janela do espaço de frequência da transformada curvelet discreta: Ũj (ω) = W̃j (ω)Vj (ω) (3.24) Desta equação, vemos facilmente que Ũj isola frequências próximas da fatia {(ω1 , ω2 ) : 2j ≤ ω1 ≤ 2j+1 , −2−j/2 ≤ ω2 /ω1 ≤ 2−j/2 } e é uma janela cartesiana equivalente à janela do caso contı́nuo. Introduzindo, agora, o conjunto de inclinações igualmente espaçadas 43 tan θl = l · 2⌊j/2⌋ (3.25) onde l = −2⌊j/2⌋ , . . . , 2⌊j/2⌋ − 1. Assim, podemos definir: Ũj,l (ω) = W̃j (ω)Vj (Sθl ω) (3.26) onde Sθ é a matriz cisalhamento Sθ = 1 0 − tan θ 1 (3.27) Os ângulos θl não são igualmente espaçados, mas as inclinações são. Assim, as janelas Ũj,l preenchem o espaço de frequência do caso discreto como um ladrilhamento concêntrico cuja geometria é mostrada na figura 3.2. Figura 3.2: Decomposição diádica do espaço de frequência da transformada curvelet discreta. A região sombreada representa uma fatia tı́pica deste espaço localizada pela janela Ũj,l . 44 3.5 As funções curvelets Até o momento, neste capı́tulo, definimos a transformada curvelet na forma contı́nua e também na discreta e vimos que podemos representar sinais ou funções em geral em termos de funções bases chamadas de funções curvelets. Falta-nos, agora, conhecer a cara destas funções. De um modo prático, podemos pensar nas curvelets como sendo funções obtidas através de dilatações, rotações e translações parabólicas de uma função de forma especı́fica φ. As curvelets são indexadas pelos parâmetros de escala (j), de orientação (l) e de localização (k), de modo que podemos pensar numa função curvelet como: 1 φa,b,θ(x) = √ ΨDa Rθ(x−b) , 4 a3 (3.28) onde Da é uma matriz de escala parabólica; Rθ é a rotação em radianos e, para (x1 , x2 ) ∈ R2 , Ψ(x1 , x2 ) é algum tipo de perfil admissı́vel. É possı́vel decompor e reconstruir uma função arbitrária f (x1 , x2 ) como uma superposição de curvelets em várias escalas, posições e orientações. É exatamente isto que faremos no próximo capı́tulo, onde iremos decompor um sinal sismológico em termos de funções curvelet e, após suprimirmos a parte indesejada do sinal (o ruı́do de rolamento superficial), iremos reconstruir o sinal de forma que este representará as estruturas internas do subsolo. De um modo geral, as funções curvelets podem ser discretizadas fazendo-se: aj = 2−j , θj,l = 2πl · 2−j/2 , (j,l) bk = Rθj,l (k1 2−j , k2 2−j/2 ), desta forma, temos que 45 j = 0, 1, 2, . . . (3.29) l = 0, 1, . . . , 2j/2 − 1 (3.30) k 1 , k2 ∈ Z (3.31) φj,l,k = φaj ,b(j,l) θ k j,l (3.32) A coleção de funções curvelets φj,k,l obedece a: f= ∑ ⟨f |φj,l,k ⟩φj,l,k (3.33) j,k,l e ||f ||2L2 = ∑ |⟨f |φj,l,k ⟩|2 (3.34) j,k,l Assim, como pudemos perceber no decorrer deste capı́tulo, a análise curvelet permite levar qualquer sinal ou função estudada do espaço dos tempos para o espaço curvelet, que é um espaço de frequências que está dividido em escalas e setores angulares dentro de cada escala. A divisão desse espaço curvelet, quer na forma contı́nua ou na forma discretizada, permite uma melhor decomposição e análise de funções e sinais que tenham um forte caráter direcional ou que apresentem singularidades superficiais. Como os sinais sı́smicos tem estruturas com um forte caráter direcional e apresentam inúmeras singularidades superficiais, pareceu-nos natural que a análise curvelet pudesse ser aplicada para o estudo de sinais sı́smicos, como o fizemos e descrevemos no próximo capı́tulo desta tese. 46 Capı́tulo 4 Remoção de Ruı́do Sı́smico usando Análise Curvelet 4.1 Introdução A prospecção de petróleo, como vimos no primeiro capı́tulo desta tese, é uma das tarefas mais importantes e mais complicadas na indústria de petróleo, devido ao pouco conhecimento que ainda se tem sobre as estruturas do interior da crosta terrestre e ao grande grau de incerteza que advém das sondagens. O principal método indireto usado no estudo das estruturas geológicas do subsolo terrestre e na prospecção de petróleo é a exploração sı́smica. Esta exploração consiste em gerar ondas sı́smicas que se propaguem no subsolo e captá-las após suas reflexões e refrações e, em seguida, analisá-las e interpretá-las para determinar a estrutura do subsolo. A análise e interpretação desses dados é uma tarefa de extrema complexidade, devido à grande quantidade de ruı́do presente nos sinais sı́smicos obtidos por tal procedimento. A principal fonte de ruı́do presente nos sinais sı́smicos é o ruı́do de rolamento superficial que, como descrito no capı́tulo 1 desta tese, é responsável por um percentual considerável da energia que chega ao geofones (ou hidrofones) e, desta forma, está presente com grande intensidade nos sinais sı́smicos sem trazer qualquer informação sobre a estrutura interna do subsolo terrestre. As técnicas e transformadas usadas para analisar dados sı́smicos tem como objetivo 47 separar o ruı́do do sinal de interesse, eliminar o primeiro e reconstruir o segundo com informações mais precisas acerca da estrutura geológica estudada. Neste quarto capı́tulo de nossa tese vamos descrever, com um bom nı́vel de detalhes, como a transformada curvelet, definida e estudada no capı́tulo anterior, pode ser utilizada para analisar os dados sı́smicos para remover o ruı́do de rolamento superficial e reconstruir o sinal de interesse. Ou seja, vamos descrever como a transformada curvelet foi implementada para ser utilizada na análise de sinais sı́smicos e na remoção do ruı́do de rolamento superficial desses sinais. E perceberemos, também, as principais vantagens da análise curvelet em relação, por exemplo, à análise em ondaletas. A análise de sinais ou funções utilizando a transformada curvelet está estruturada com três principais passos que podem ser explicitados como: (1) decomposição do sinal no espaço curvelet; (2) detecção e remoção dos coeficientes que representam o ruı́do de rolamento superficial em seus respectivos setores angulares no espaço curvelet; (3) reconstrução do sinal após a extração do ruı́do. Em cada uma das três seções a seguir, descrevemos esses passos do processo de análise curvelet de um sinal e na última seção do capı́tulo explicamos esse procedimento aplicado a um dado sintético e mostramos o resultado obtido. Este capı́tulo e o próximo são baseados no artigo original fruto do trabalho desenvolvido ao longo desse doutoramento e que serve de referência para esta tese[30]. Nesse e no próximo capı́tulo explicamos, com mais detalhes, a estrutura da análise curvelet aplicada a dados sı́smicos e os resultados dessa análise, tanto para um dado sintético (este capı́tulo) quanto para um dado sı́smico real (próximo capı́tulo). 48 4.2 Análise Curvelet e a decomposição do sinal O primeiro passo executado pela análise curvelet é a decomposição do sinal ou função a ser estudada no espaço curvelet. Neste passo devemos escrever o sinal ou função como uma combinação linear de funções curvelets, ou seja, devemos escrever o sinal na forma da equação (3.13), aqui reproduzida: f= ∑ ⟨f |φj,l,k ⟩φj,l,k (4.1) j,k,l e determinar os coeficientes ⟨f |φj,l,k ⟩ que correspondem a esta decomposição. A decomposição desses dados sı́smicos é feita aplicando-se a transformada rápida discreta em curvelet[28], que consiste em obter o produto interno no domı́nio de Fourier, ou seja, os coeficientes de cada combinação de escala e ângulo serão dados, de acordo com o Teorema de Plancherel, por: cj,l,k = ⟨f, ϕj,l,k ⟩ = ⟨fˆ, ϕ̂j,l,k ⟩ (4.2) onde fˆ e ϕ̂ são as transformadas de Fourier do sinal, f , e da função curvelet, ϕ, respectivamente. O algoritmo usado para a decomposição Curvelet, ou seja, o algoritmo usado para descrever o sinal em termos de suas componentes no espaço curvelet, cria uma estrutura de dados organizada da seguinte forma: os coeficientes Curvelets correspondentes a determinada escala e determinado ângulo são armazenados em uma matriz de tamanho m × n, ou seja, para cada combinação de escala e ângulo teremos uma matriz. Esse tipo de procedimento, onde para cada combinação de ângulo e escala temos uma matriz de coeficientes de tamanho m × n, requer, para o caso de dados sı́smicos dos tamanhos considerados na análise de sinais sı́smicos usuais, uma boa disponibilidade de memória para armazenamento de dados, no entanto, como a análise curvelet mostrou-se mais econômica, em termos de número de coeficientes, que a análise em ondaletas[25], por exemplo, os resultados de análise feitos utilizando-se curvelets devem trazer resultados mais precisos que os resultados obtidos via uma análise em ondaletas, mesmo que esta última possa ter sido adaptada para reconhecer singularidades direcionais. 49 O tamanho m × n de cada matriz de coeficientes depende da escala e do ângulo correspondente. Para as escalas mais finas, por exemplo, teremos matrizes maiores, uma vez que são gerados mais coeficientes para essas escalas. O ângulo das Curvelets também influi na quantidade de linhas e colunas usadas em cada matriz de coeficientes da análise curvelet e é determinada pelo algoritmo utilizado para decomposição do sinal no espaço curvelet. A decomposição realizada nos nossos dados resulta em apenas 1 ângulo disponı́vel para a 1a escala, 16 para a 2a escala, 32 para a 3a escala, 32 para a 4a escala, 64 para a 5a escala e assim por diante, dobrando o número de ângulos a cada 2 escalas, mas a tı́tulo de exemplo, se realizarmos uma decomposição em que a 1a escala possua 16 ângulos disponı́veis, a 2a escala 32 ângulos e a 3a escala 32, teremos 16+32+32 = 80 matrizes de coeficientes somente nestas três escalas. Cada posição na matriz contendo um coeficiente corresponde a uma determinada região do sinal bidimensional. A localização dessa região na imagem está diretamente relacionada com a posição do coeficiente correspondente na matriz. Assim, por exemplo, o elemento da 1a linha e 1a coluna contém o coeficiente correspondente à região mais à esquerda e mais acima na imagem. O tamanho dessa região de influência da Curvelet depende diretamente da escala. Escalas mais grosseiras terão coeficientes correspondentes à regiões maiores e, portanto, representados por matrizes menores, uma vez que podemos dividir a imagem em um menor número de regiões. Da mesma forma, escalas menores ou mais finas terão coeficientes correspondentes a regiões menores na imagem e, desta forma, representado por matrizes maiores. Tendo-se feito a decomposição do sinal no espaço curvelet, passaremos às etapas seguintes da análise curvelet dos sinais sı́smicos. 50 4.3 Identificação e remoção do ruı́do Nesta segunda etapa da análise curvelet dos sinais sı́smicos, identificamos e apagamos os coeficientes da decomposição do sinal no espaço curvelet que correspondem ao ruı́do de rolamento superficial para que possamos reconstruir o sinal sem qualquer contribuição desse ruı́do ou, pelo menos, com uma contribuição mı́nima de ruı́do para o sinal. A análise curvelet implementada em nosso trabalho se baseia na premissa de que os dados sı́smicos e imagens possuem uma representação esparsa x0 no domı́nio das curvelets[31]. Desta forma, os dados reais sempre podem ser expressos na forma: y = C t x0 + n (4.3) onde que C t é a transformada curvelet inversa e n é um ruı́do Gaussiano, ou seja, um ruı́do com forma gaussiana que está presente nos dados. A identificação deste ruı́do a ser eliminado e que, no caso de nossos dados, corresponde ao ruı́do de rolamento superficial presente em dados sı́smicos, pode ser realizada por meio de testes visuais ou de análises estatı́sticas. O ruı́do de rolamento superficial devido à disposição dos geofones/hidrofones usados na coleta dos dados e também devido à forma como é gerado (como discutido no capı́tulo 1 desta tese) aparece geometricamente com a forma de um cone central nos sismogramas de sondagem sı́smica, como mostrado na figura 1.8. Assim, uma análise visual dos sinais visando a eliminação do ruı́do de rolamento superficial de dados sı́smicos poderia ser feita gerando-se uma tabela de imagens da reconstrução do sinal para cada combinação de escala e ângulo e então identificar as escalas e ângulos com maior presença de ruı́do. Estatisticamente, temos a opção de comparar os coeficientes das energias nos ângulos em cada escala. Os ângulos com quantidades de energia semelhantes devem corresponder a um mesmo padrão de ruı́do ou de informação geológica e assim, identificando-se um ângulo onde a presença do ruı́do seja certa, determinamos a energia presente neste ângulo, eliminamos sua contribuição para a reconstrução da imagem/sinal sem ruı́do e eliminamos também dessa reconstrução todos os ângulos com contribuição semelhante de energia para o sinal. 51 Precisamos comparar a amplitude de energia do ruı́do de rolamento superficial com a amplitude da energia carregada pelas ondas refletidas nas interfaces entre as camadas geológicas, que são os sinais de interesse para a reconstrução do sinal. Para essa comparação, usamos em nossa análise curvelet, dos sinais sı́smicos, a energia como sendo o somatório do quadrado de seus coeficientes curvelets. Assim, a expressão para a energia usada é, então, dada por: Ej = ∑ ⟨f, ϕj,l,k ⟩2 (4.4) l,k onde Ej é a energia total na escala j. Assim, para calcular a energia do ruı́do de rolamento superficial ou das ondas refletidas numa escala fazemos a soma sobre os coeficientes angulares l correspondentes a essa escala. No próximo capı́tulo, quando discutiremos a análise de dados usando a transformada curvelet, voltaremos a tratar da energia presente em cada escala no espaço curvelet e também calcularemos explicitamente e discutiremos a razão entre a energia do ruı́do de rolamento superficial e das ondas refletidas em um dado real, explicitando os valores encontrados nessa comparação para um dado real. Após alguns testes para o conjunto de dados sı́smicos sintéticos que tı́nhamos disponı́vel, identificamos que os coeficientes curvelet correspondentes ao ruı́do de rolamento superficial são os coeficientes com ângulos mais próximos da horizontal independentemente da escala estudada. Assim, em cada escala estudada e representando o espaço curvelet nesta escala por um cı́rculo fechado, iremos eliminar a contribuição dos coeficientes dos quatro ângulos mais próximos à horizontal pois esses coeficientes correspondem ao ruı́do de rolamento superficial. Por exemplo, como veremos explicitamente na figura 4.2, na escala j = 2 os ângulos mais próximos à horizontal são os ângulo 6, 7, 14 e 15, portanto os seus coeficientes curvelets serão zerados e eles não contribuirão para a reconstrução do sinal. Nestes testes e durante a identificação e remoção do ruı́do, percebemos que no espaço das Curvelets é muito mais fácil a separação dos padrões sı́smicos gerados por fenômenos fı́sicos distintos. Isto ocorre devido à boa adequação da representação em Curvelets com os padrões oscilatórios presentes nos dados sı́smicos. 52 Após a identificação das escalas e ângulos correspondentes ao ruı́do de rolamento superficial, procedemos à remoção dos seus coeficientes. Isto é realizado simplesmente zerando-se todos os elementos das matrizes correspondentes a cada combinação de escala e ângulo identificados. Passamos a ter então, para essas combinações de ângulos e escalas, matrizes nulas que não representarão nenhuma contribuição ao sinal após a reconstrução. Percebemos então a simplicidade do algoritmo utilizado para a análise curvelet de dados sı́smicos devido à boa representação que o espaço das Curvelets proporciona a esse tipo de dado. 4.4 Reconstrução do sinal A reconstrução do sinal é a terceira etapa da análise curvelet. Nessa etapa o sinal sı́smico, após ter sido decomposto no espaço curvelet e ter tido os coeficientes correspondente ao ruı́do de rolamento superficial eliminados, é reconstruı́do apenas com as componentes de interesse. Ou seja, se pensarmos no sinal em termos da equação (4.3), após reconstrui-lo teremos apenas o primeiro termo desta equação que nos dá o sinal de interesse ou o sinal limpo. Notamos que todo o processo da análise curvelet é executado sem qualquer atenuação artificial. Os coeficientes angulares correspondentes ao ruı́do de rolamento superficial são completamente removidos da imagem sı́smica. 4.5 Procedimento para remoção de ruı́do de rolamento superficial Nas seções precedentes descrevemos como a análise curvelet, que devido a seu caráter angular deve ser mais adequada à análise de sinais que contenha singularidades superficiais, é utilizada para remover o ruı́do de rolamento superficial de dados sı́smicos. Para implementação e teste deste método de análise em dados sı́smicos, foi usado um 53 dado sintético que simula sinais sı́smicos. Neste dado sintético, onde consta a presença de reflexões com velocidades aparentes distintas, resultando em diferentes inclinações no sismograma, sendo uma com inclinação mais acentuada representando o sinal do ruı́do de rolamento superficial. Também foi incluı́do um ruı́do sintético neste conjunto de dados. O objetivo da análise curvelet aqui implementada é remover a reflexão mais acentuada, que corresponde ao ruı́do de rolamento superficial, e preservar as reflexões de interesse. Utilizando o algoritmo da análise Curvelet foi possı́vel identificar o ângulo de inclinação da reflexão indesejada e, com isto, este ângulo teve seus coeficientes zerados. Em seguida, restauramos a imagem sem a presença deste sinal. Na figura 4.1 temos o dado sintético usado para testar o método de análise curvelet em sinais sı́smicos. Especificamente, na figura 4.1.a temos o dado sintético com reflexões horizontais representando as camadas litológicas do subsolo onde ocorrem as reflexões de interesse e também com um traço com maior inclinação que representa o ruı́do de rolamento superficial presente neste dado sintético. Na figura 4.1.b temos o dado sintético filtrado, onde é mostrado o sinal reconstruı́do pela análise curvelet. Já na figura 4.1.c é mostrado apenas o ruı́do que foi removido do dado sintético por nossa análise. O procedimento para executar essa limpeza a partir da transformada Curvelet é simples. Vamos entender esse procedimento. 54 Figura 4.1: Nesta imagem podemos verificar na figura (a) o dado sintético com reflexões horizontais representando as camadas litológicas e um traço com maior inclinação que pode ser melhor visualizado na figura (c) simulando o comportamento do ruı́do de rolamento superficial. Na figura (b) temos o dado sintético limpo em que a reflexão destacada já foi removida. A transformada curvelet permite decompor o sinal primeiramente em escalas e, a seguir, em zonas angulares. Na figura 4.2, por exemplo, podemos verificar a distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 2. Os gráficos em forma de pizza, na parte superior da figura, indicam as zonas angulares selecionadas e cujos padrões são mostrados a partir de uma reconstrução parcial a partir dos coeficientes das respectivas escala e zonas angulares na parte inferior da figura. 55 Figura 4.2: Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 2. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para esses ângulos nessa escala. Por exemplo, a última coluna desta figura demonstra o padrão referente aos ângulos 2, 3, 10 e 11 da escala 2, que são as partes marcadas do gráfico em forma de pizza na parte superior dessa coluna. Na parte inferior da coluna, temos a reconstrução parcial do dado sı́smico, vemos que o padrão correspondente a estas zonas angulares representa uma reflexão horizontal. Se visualizarmos esse padrão como uma onda em propagação, a sua frente de onda estaria se propagando em uma direção vertical. Isto já era esperado, já que esses ângulos correspondem a curvelets com padrão oscilatório com direções mais próximas à vertical. Vale ressaltar que nenhum dos ângulos (2, 3, 10 e 11) se ajusta perfeitamente à vertical, por isso dizemos que eles estão mais próximos à vertical ou que 56 estão aproximadamente na vertical. Para encontrar os padrões desejados em cada escala foi utilizada uma análise da distribuição de energia, conforme a definição dada pela equação (4.4), nos diferentes ângulos de cada escala. Uma quantidade de energia maior, concentrada em determinadas zonas angulares indica que os sinais referentes a estas zonas estão mais presentes, ou são mais fortes, na determinada escala. Na figura 4.3, vemos a distribuição de energia, conforme a equação (4.4), para os diferentes ângulos da escala 2. Podemos ver, pelo gráfico polar, que, para o caso da escala 2, a energia está mais concentrada nos ângulos correspondentes aos padrões de oscilação mais próximos à vertical. Figura 4.3: Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 2. Pela análise das reconstruções parciais do sinal na escala 2 para cada conjunto de ângulos (reconstruções parciais mostradas na figura 4.2) e também da distribuição de 57 energia (mostrada na figura 4.3) pudemos escolher o conjunto de ângulos da escala 2 a serem utilizados na reconstrução do sinal sı́smico de interesse. Esse conjunto de ângulos é mostrado na figura 4.4, onde vemos que apenas os ângulos mais próximos à horizontal foram excluı́dos por nossa análise. Figura 4.4: Conjunto de ângulos da escala 2 cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução de parte do sinal indicado na figura 4.1.b. A análise descrita acima e que foi feita para a escala 2, também foi feita para as escalas 3, 4 e 5, para nos permitir uma reconstrução acurada do sinal de interesse e excluir o ruı́do de rolamento superficial em todas as escalas. Nas figuras 4.5 a 4.13 verificamos os resultados dessa análise, como a descrita para a escala 2, para as escalas 3, 4 e 5. Estas escalas são mais finas que a escala 2 e, portanto, possuem um número maior de ângulos disponı́veis e sua análise precisa ser mais criteriosa. Na figura 4.5 temos a distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 3. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para esses ângulos. Como podemos verificar visualmente, a presença no sismograma sintético da estrutura determinada pelo ruı́do de rolamento superficial tem ângulos bem mais próximos à horizontal (primeira coluna da figura 4.5) e, portanto, são estes ângulos que devem ser 58 Figura 4.5: Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 3. excluı́dos da reconstrução do sinal. Na figura 4.6 vemos a distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 3. Nesta figura percebemos que a distribuição de energia para a escala 3 também é maior nos ângulos próximos à horizontal, embora possamos visualizar uma razoável contribuição de energia para ângulos intermediários. Essa análise de energia corrobora o fato de que, para a reconstrução do sinal, os ângulos excluı́dos da escala 3 devem ser apenas os ângulos mais próximos à horizontal, ou seja, apenas os ângulos 12, 13, 28 e 29. Na figura 4.8 temos a distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 4. Na parte superior da figura temos, também, os ângulos selecionados 59 Figura 4.6: Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 3. Figura 4.7: Conjunto de ângulos da escala 3 cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução de parte do sinal indicado na figura 4.1.b. nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para esses ângulos nessa escala. As estruturas apresentadas em cada conjunto de ângulos são muito parecidas, vi60 Figura 4.8: Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 4. sualmente falando, com as estruturas apresentadas para a escala 3. Podemos ver isto comparando as figuras 4.5 (escala 3) e 4.8 (escala 4). Assim, podemos concluir também que a presença da estrutura determinada pelo ruı́do de rolamento superficial, a estrutura em forma de cone com ângulo acentuado, é bem mais marcante nos ângulos próximos à horizontal (primeira coluna da figura 4.8) e, portanto, estes ângulos devem ser excluı́dos da reconstrução do sinal. Na figura 4.9 vemos a distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 4. Nesta figura percebemos que a distribuição de energia para a escala 4 também é maior nos ângulos próximos à horizontal. A contribuição de energia nos ângulos mais afastados da horizontal (intermediários) é comparativamente menor que na escala 3. 61 Figura 4.9: Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 4. Também na escala 4, essa análise de energia indica, junto com a análise das estruturas das reconstruções parciais do sinal, que, para a reconstrução do sinal, os ângulos excluı́dos da escala 4 devem ser apenas os ângulos mais próximos à horizontal, ou seja, apenas os ângulos 12, 13, 28 e 29. Na escala 5, por esta ser uma escala mais fina, o número de ângulos é o dobro das escalas 3 (ou 4). A análise das estruturas presentes em cada grupo de ângulos foi feita, na figura 4.11 apresentamos as estruturas apenas para alguns poucos grupos de ângulos. Nesta análise foi perceptı́vel que nos ângulos mais próximos à horizontal (24, 25, 56, e 57) não há contribuição significativa devida a reflexões de ondas por estruturas litológicas, ou seja, a parte do sinal mostrada na primeira coluna da figura 4.11 é, provavelmente, devida ao ruı́do sintético inserido nesse dado de teste. Já a presença da estrutura determinada pelo ruı́do de rolamento superficial, a estrutura com ângulo mais acentudo, é marcante 62 Figura 4.10: Conjunto de ângulos da escala 4 cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução de parte do sinal indicado na figura 4.1.b. nos outros ângulos próximos à horizontal (23, 26, 55 e 58), como podemos ver na segunda coluna da figura 4.11. Portanto, todos esses ângulos onde as contribuições dos ruı́dos sintético e de rolamento superficial são importantes devem ser excluı́dos da reconstrução do sinal. Na escala 5 vemos, de forma mais dramática, a partir da análise da distribuição de energia (figura 4.12), a separação entre os diferentes padrões do sinal. O padrão mostrado nessa figura, referente a ângulos mais inclinados, compõe quase toda a energia presente nesta escala, o que nos confirma que podemos excluir, sem perdas para o sinal sı́smico de interesse, os ângulos próximos à horizontal no espaço curvelet. Na figura 4.13 é mostrado o conjunto de ângulos selecionados na escala 5 para a resconstrução do sinal. Amorim[34] utilizou o método de Decomposição em Modos Empı́ricos (EMD) para decompor este mesmo conjunto de dados sintéticos em eventos distintos. O resultado obtido foi semelhante. O método EMD decompõe o sinal em sinais de oscilação simples (modos), de forma análoga aos métodos da transformada em ondaletas e da transformada Curvelet 63 Figura 4.11: Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 5. e, desta forma, pode também ser aplicado a sinais não-lineares e não-estacionários. A diferença é que, no caso do método EMD, as bases são retiradas do próprio dado. Esse método também foi aplicado, de forma satisfatória, a dados de uma bacia sedimentar terrestre. A vantagem da transformada Curvelet para dados sı́smicos é que sua intuitiva natureza anisotrópica é bem adaptada aos padrões gerados por diferentes refletores, além de sua natureza multiescala, que permite focar em diferentes frequências e, portanto, deve fornecer dados mais precisos e confiáveis ao analisarmos sinais sı́smicos reais. No capı́tulo a seguir discutiremos a análise de dados feita aplicando-se a análise curvelet a sinais sı́smicos reais. 64 Figura 4.12: Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 5. 65 Figura 4.13: Conjunto de ângulos da escala 5 cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução de parte do sinal indicado na figura 4.1.b. 66 Capı́tulo 5 Análise de dados reais usando transformada curvelet 5.1 Introdução Os sinais sı́smicos ou sismogramas obtidos em sondagens sı́smicas são uma crucial fonte de informações acerca da estrutura geológica do subsolo terrestre e sua análise e interpretação nos permite, entre outras coisas, localizar e avaliar o potencial de jazidas de petróleo nessa importante e difı́cil tarefa relacionada à prospecção de petróleo. As várias técnicas de análise que são atualmente utilizadas na remoção de ruı́dos dos sinais sı́smicos e, sobretudo, do principal ruı́do presente nos sinais sı́smicos, o ruı́do de rolamento superficial, acabam fornecendo resultados imprecisos quer sejam por não conseguir remover a contento esse ruı́do ou por distorcer os sinais e imagens reconstruı́dos após a análise. Uma boa ferramenta recente de análise de sinais sı́smicos é a transformada em ondaletas, que pode ser utilizada para a análise de sismogramas dando bons resultados[15], no entanto, da própria definição da transformada em ondaletas, esse tipo de análise não é bem adequada ao reconhecimento de singularidades superficiais[22] e, em análise de imagens e sinais com este tipo de singularidade, como é o caso dos sinais sı́smicos, os resultados poderiam ser melhores usando-se uma análise baseada na transformada curvelet que, por seu caráter direcional, está mais adequada a recuperar sinais que possuam singularidades 67 superficiais. O método implementado nos trabalhos desta tese para se analisar sinais sı́smicos usando a transformada curvelet foi explicado e testado no capı́tulo anterior para um conjunto de dados sintéticos, mostrando-se muito eficaz em separar os padrões relacionados ao ruı́do de rolamento superficial dos padrões referentes a reflexões de ondas por camadas geológicas, no entanto, para comprovarmos a eficácia do método em analisar sinais sı́smicos, precisamos testá-lo para um conjunto de dados reais e o fazemos neste capı́tulo, onde explicamos, novamente, o procedimento de análise devido às peculiaridades e diferenças que há entre a análise de um dado sintético e a análise de um dado real. É importante ressaltarmos novamente que, para um dado real que envolva singularidades superficiais como os dados sı́smicos, a vantagem da transformada Curvelet é que sua intuitiva natureza anisotrópica é bem adaptada aos padrões gerados por diferentes refletores, além de sua natureza multiescala, que permite focar em diferentes frequências e, portanto, deve fornecer dados mais precisos e confiáveis ao analisarmos sinais sı́smicos reais. 5.2 O dado sı́smico real versus dado sintético No capı́tulo anterior usamos um dado sı́smico sintético para explicar e testar a implementação da análise curvelet em sismogramas. Para testarmos, efetivamente, a análise curvelet, neste capı́tulo vamos aplicá-la a um conjunto de dados reais. Para efeitos de comparação, colocamos lado a lado na figura 5.1 um exemplo de sismograma do dado sintético e um exemplo de sismograma do dado real. Comparando as estruturas apresentadas nos dois sismogramas podemos ver que no dado sintético as reflexões devido à camadas geológicas (sinal de interesse) aparecem como linhas horizontais retas enquanto que no sismograma real tais reflexões apareem como hiperbóles próximas à horizontal. Vemos também que, nos dois sismogramas, a estrutura devida ao ruı́do de rolamento superficial aparece como um padrão macroscópico triangular que é completamente diferente, tanto no dado sintético quanto no dado real, 68 Figura 5.1: Figura comparativa entre sismogramas. Na figura (a) temos um exemplo de sismograma sintético; e na figura (b) temos um exemplo de sismograma real. Nos dois sinais, o ruı́do de rolamento superficial aparece com uma estrutura triangular macroscópica. do padrão referente às reflexões por camadas geológicas. Embora, por uma primeira análise visual, pareça mais simples separar o padrão do sinal de interesse do ruı́do no sismograma sintético, a análise curvelet separará muito bem estes padrões no sismograma real e poderemos reconstruir o sismograma somente com o padrão de reflexão devido às estruturas geológicas. 69 5.3 A extração do ruı́do de rolamento superficial do dado sı́smico real Sabe-se que os sinais/imagens obtidos nas sondagens sı́smicas do subsolo tem um forte componente de ruı́do e o objetivo das análises utilizadas para limpar essas imagens é remover esse ruı́do que é gerado por ondas de superfı́cie e é chamado de ruı́do de rolamento superficial. A análise curvelet implementada para se analisar dados sı́smicos no trabalho desta tese de doutorado, mostrou-se eficiente para recuperar o sinal sı́smico, eliminando o ruı́do de rolamento superficial, em um dado sintético, como mostrado no capı́tulo anterior. Vamos agora mostrar e explicar a extração seletiva do ruı́do de rolamento superficial utilizando curvelets em um dado real. O resultado obtido está resumido na figura 5.2, onde é mostrado o dado original real que foi analisado (figura 5.2.a), o dado filtrado que é o sinal de interesse já sem o ruı́do e obtido como resultado de nossa análise (figura 5.2.b) e o padrão referente ao ruı́do de rolamento superficial que foi excluı́do do dado em nossa análise (figura 5.2.c). Neste passo, escrevemos o sinal ou função como uma combinação linear de funções curvelets. A decomposição desses dados sı́smicos é feita aplicando-se a transformada rápida discreta em curvelet[28], que consiste em obter o produto interno no domı́nio de Fourier, como descrito no capı́tulo anterior para o dado sintético. O procediemnto é exatamente o mesmo. Após a decomposição do sinal sı́smico no espaço curvelet, fazemos a sua análise em cada escala para determinarmos quais os coeficientes correspondentes ao ruı́do de rolamento superficial e, desta forma, zerá-los no espaço curvelet para que, ao reconstruirmos o sinal, este ruı́do tenha sido completamente atenuado. A figura 5.3, mostra a análise visual feita para alguns conjuntos de ângulos da escala j = 2. Nesta figura é mostrado, na parte superior da figura, um gráfico na forma de pizza 70 Figura 5.2: Figura contendo: (a) o dado original real a ser analisado; (b) o dado filtrado (sinal de interesse); e (c) o padrão referente ao ruı́do de rolamento superficial que foi excluı́do do dado. com o conjunto de ângulos selecionados destacados em vermelho e, na parte inferior da figura, é mostrada a distribuição de padrões ou estruturas do sinal referentes aos ângulos escolhidos para essa escala. Nessa figura (figura 5.3) vemos, por exemplo, que o ruı́do de rolamento superficial é dominante nessa escala, para ângulos próximos à horizontal. Portanto, nessa escala, os ângulos próximos à horizontal terão seus coeficientes zerados para a reconstrução do sinal analisado. Essa conclusão pode ser corroborada pela análise de energia feita nessa escala, como podemos ver na figura 5.4. Nessa figura percebemos que, embora o ruı́do de rolamento superficial seja dominante para os ângulos próximos à horizontal, em relação à distribuição de energia nessa escala, o ruı́do não é dominante nessa escala. Veja comparando a energia 71 Figura 5.3: Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 2. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para esses ângulos nessa escala. dos ângulos 6, 7, 14 e 15 com a energia dos outros ângulos da escala 2. Na verdade, a contribuição de energia para a escala nos ângulos próximos à horizontal (ângulos 6, 7, 14 e 15), que são os ângulos correspondentes ao ruı́do de rolamento superficial, é de apenas 7,9% em relação à contribuição para a energia das ondas nos outros ângulos (ondas refletidas por estruturas geológicas) que é de 92,1%. A contribuição da energia em cada ângulo dessa escala foi calculada via equação (4.4) e, para a energia do ruı́do de rolamento superficial foram somadas as energias dos ângulos 6, 7, 14 e 15 e dividiu-se o valor pela energia total da escala. Enquanto que para a energia correspondente às reflexões em estruturas geológicas foi somada a energia dos 72 outros ângulos da escala, dividindo-se o resultado obtido pela energia total da escala. Figura 5.4: Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 2. Assim, o conjunto de ângulos selecionados na escala 2 para a reconstrução do sinal sı́smico real são os ângulos marcados em vermelho na figura 5.5. Para a escala j = 3, temos, na figura 5.6, a análise visual feita para alguns conjuntos de ângulos. Na parte superior desta figura são mostrados os gráficos na forma de pizza que representam os conjuntos de ângulos selecionados (marcados em vermelho) para cada coluna e, na parte inferior da figura, são mostradas as distribuições de padrões ou estruturas do sinal referentes aos ângulos escolhidos em cada gráfico-pizza correspondente. Nessa figura (figura 5.6) vemos, assim como para a escala 2, que o ruı́do de rolamento superficial é dominante na escala 3, para ângulos próximos à horizontal. Portanto, também nessa escala, os ângulos próximos à horizontal terão seus coeficientes zerados para a recontrução do sinal analisado. 73 Figura 5.5: Conjunto de ângulos da escala 2 (marcados em vermelho) cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução do sinal sı́smico real. Da análise de energia, mostrada na figura 5.7, e dos cálculos de contribuição de energia do ruı́do de rolamento superficial para a energia total da escala, vemos que a energia correspondente ao ruı́do de rolamento superficial nesta escala é subdominante em relação à contribuição de energia das ondas refletidas por estruturas geológicas. Numericamente, temos que 17,6% da energia da escala é referente ao ruı́do de rolamento superficial, enquanto 82,4% corresponde ao sinal de interesse. Na tabela 5.1 temos esses percentuais de energia do ruı́do e do sinal nas escalas estudadas. Assim, o conjunto de ângulos selecionados na escala 3 para a reconstrução do sinal sı́smico real são os ângulos marcados em vermelho na figura 5.8. Repetindo o procedimento acima descrito para a escala 4, temos na figura 5.9 a distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados (marcados em vermelho) e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para os ângulos correspondentes nessa escala. Nessa figura (figura 5.9) vemos, novamente, que o ruı́do de rolamento superficial está presente somente para ângulos próximos à horizontal. Portanto, também nessa escala, os 74 Figura 5.6: Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 3. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para esses ângulos nessa escala. ângulos próximos à horizontal terão seus coeficientes zerados para a recontrução do sinal analisado. Da análise de energia, mostrada na figura 5.10, e dos cálculos de contribuição de energia do ruı́do de rolamento superficial para a energia total da escala, vemos que a energia correspondente ao ruı́do de rolamento superficial nesta escala é dominante em relação à contribuição de energia das ondas refletidas por estruturas geológicas. Numericamente, temos que 68,1% da energia da escala 4 é referente ao ruı́do de rolamento superficial, enquanto 31,9% corresponde ao sinal de interesse. Como já foi dito, na tabela 5.1 reunimos esses percentuais de energia do ruı́do e do sinal nas escalas estudadas. 75 Figura 5.7: Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 3. Assim, o conjunto de ângulos selecionada na escala 4 para a reconstrução do sinal sı́smico real são os ângulos marcados em vermelho na figura 5.11. Considerando a análise feita para a escala j = 5, temos a figura 5.12 onde é mostrada a distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados. Na parte superior da figura temos, assim como nos casos anteriores, os ângulos selecionados (marcados em vermelho) e na parte inferior temos, novamente, a reconstrução parcial do sinal para os ângulos correspondentes nessa escala. Nessa figura (figura 5.12) vemos que, também na escala 5, o ruı́do de rolamento superficial está presente somente para ângulos próximos à horizontal. É importante ressaltarmos que, embora na escala 5 o número de ângulos (64 ângulos) seja o dobro do número de ângulos das escalas 3 e 4 e quatro vezes o número de ângulos da escala 2, o número de ângulos próximos à horizontal onde há contribuição do ruı́do de rolamento superficial 76 Figura 5.8: Conjunto de ângulos da escala 3 (marcados em vermelho) cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução do sinal sı́smico real. para o sinal é o mesmo das escalas anteriores. Isto porque, embora o ruı́do de rolamento superficial apareça nos sismogramas como uma estrutura triangular bastante inclinada quando olhamos para uma escala mais fina do espaço das curvelets este ruı́do aparece quase como linhas verticais (linhas próximas à horizontal no gráfico de pizza da análise angular). O caráter direcional da transformada curvelet permite apagar estes setores quase verticais. Destacamos ainda que o setor angular do ruı́do de rolamento superficial pode mudar dependendo da distância entre os geofones, e o tempo de amostragem no eixo vertical. Da análise de energia, mostrada na figura 5.13, e dos cálculos de contribuição de energia do ruı́do de rolamento superficial para a energia total da escala, vemos que a energia correspondente ao ruı́do de rolamento superficial nesta escala é dominante em relação à contribuição de energia das ondas refletidas por estruturas geológicas. Numericamente, temos que 76,3% da energia da escala 5 é referente ao ruı́do de rolamento superficial, enquanto 23,7% da energia corresponde ao sinal de interesse. Assim, o conjunto de ângulos selecionados na escala 5 para a reconstrução do sinal 77 Figura 5.9: Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 4. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados (marcados em vermelho) nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para os ângulos correspondentes nessa escala. sı́smico real são os ângulos marcados em vermelho na figura 5.14. Nesta análise de um sinal sı́smico real, implementada e realizada no trabalho original desta tese, excluimos o ruı́do de rolamento superficial de um sismograma a partir da decomposição desse sinal no espaço das curvelets. Na figura 5.15 é mostrada a componente do ruı́do de rolamento superficial que foi removida, em cada escala, pela análise e que, somando-se, dá a contribuição total desse ruı́do que foi extraı́da do sinal. Na parte superior da figura temos os ângulos correspondentes ao ruı́do de rolamento superficial em cada escala (cı́rculos cheios) e na parte inferior da figura temos a estrutura correspondente 78 Figura 5.10: Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 4. ao ruı́do de rolamento superficial em cada escala. Vale ressaltar novamente que a simetria angular do ruı́do de rolamento superficial no espaço das curvelets é completamente diferente da simetria angular relacionada às reflexões por estruturas geológicas, por isto torna-se fácil a remoção desse ruı́do do sismograma via análise curvelet. Referente ao balanço energético entre o ruı́do de rolamento superficial e as ondas refletidas em estruturas geológicas, na tabela 5.1 temos o resumo desse balanço, em termos percentuais, para as escalas de j = 2 a j = 5, onde a energia foi separada em dois grupos: GR, a energia do ruı́do de rolamento superficial (sigla da expressão em inglês Ground Roll); e RW, a energia das ondas refletidas (da expressão em inglês Reflected Waves). 79 Figura 5.11: Conjunto de ângulos da escala 4 (marcados em vermelho) cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução do sinal sı́smico real. Escala 2 3 4 5 GR 7.9 17.6 68.1 76.3 RW 92.1 82.4 31.9 26.7 Tabela 5.1: Balanço de energia (em porcentagem) para as escalas 2 ≤ j ≤ 5. O GR representa a energia do ruı́do de rolamento superficial; e RW a energia das ondas refletidas. É interessante neste sistema considerar a relação sinal/ruı́do para comparar as amplitudes do ruı́do de rolamento superficial com as amplitudes do sinal de interesse que é referente às ondas refletidas que estão espalhadas nas interfaces entre as camadas geológicas. Para realizar esta análise, usamos a energia do sinal como a soma do quadrado dos coeficientes curvelet, como explicitado na equação (4.4) aqui reproduzida: Ej = ∑ |⟨f, ϕj,k,l ⟩|2 (5.1) k,l Pelos dados da tabela 5.1 vemos que a informação geológica está, principalmente, nas 80 Figura 5.12: Distribuição de padrões para conjuntos de zonas angulares selecionados na escala 5. Na parte superior da figura temos os ângulos selecionados (marcados em vermelho) nessa escala e na parte inferior temos a reconstrução parcial do sinal para os ângulos correspondentes nessa escala. escalas j = 2 e 3, enquanto as informações referentes ao ruı́do de rolamento superficial domina o sinal para j = 4 e 5. Nós não colocamos na tabela 5.1 a escala j = 1 porque o ruı́do de rolamento superficial domina as informações nesta escala e como só há um ângulo para esta escala, as informações dessa escala são removidas pela análise. Na tabela 5.2 temos a distribuição de energia (em porcentagem) para as cinco escalas. Nesta tabela, mostramos, também, a energia para os dois padrões: GR, para a energia do ruı́do de rolamento superficial; e RW, a energia das ondas refletidas. Na última linha dessa tabela mostramos a porcentagem de energia em cada escala. Na última coluna da 81 Figura 5.13: Distribuição de energia para os diferentes ângulos da escala 5. tabela mostramos a energia total dos dois padrões, o ruı́do de rolamento superficial soma quase 60% da energia total da imagem sı́smica. Scale 1 2 3 4 5 Total GR 1.9 1.1 2.4 12.3 40.5 58.1 RW 0 12.4 11.1 5.7 12.6 41.9 Total 1.9 13.5 13.5 18.0 53.1 100 Tabela 5.2: Distribuição de energia (em porcentagem) para as escalas 1 ≤ j ≤ 5. O GR representa a energia do ruı́do de rolamento superficial; e RW, a energia das ondas refletidas. Na última coluna é representada a energia total destes dois padrões. 82 Figura 5.14: Conjunto de ângulos da escala 5 (marcados em vermelho) cujos coeficientes foram selecionados para a reconstrução do sinal sı́smico real. Pelas informações da tabela 5.2, percebemos que a distribuição de energia é bastante impressionante quando pensamos que 60% da energia do sinal original deve ser removida para revelar o verdadeiro conteúdo geológico da imagem. Além disso, cerca da metade do total de energia está concentrada na escala j = 5, que é dominado pelo ruı́do de rolamento superficial. 5.4 Supressão do ruı́do de rolamento superficial: análise em ondaletas versus análise curvelet No trabalho de Leite e colaboradores[15], os autores usaram um filtro baseado na análise em ondaletas, com a Transformada de Karhunen-Loève para realizar a supressão do ruı́do de rolamento superficial em sinais sı́smicos, obtendo bons resultados. Entretanto, devido às limitações da análise em ondaletas, como não descrever bem descontinuidades superficiais de uma imagem, por exemplo, na referida análise foi necessário, antes 83 Figura 5.15: Componentes do ruı́do de rolamento superficial para as escalas de j = 2 a j = 5. Na parte superior da figura temos os ângulos correspondentes em cada escala (cı́rculos cheios) e na parte superior da figura temos a estrutura correspondente ao ruı́do de rolamento superficial em cada escala. de aplicar o filtro à imagem sı́smica, determinar, no espaço dos tempos, a região onde aparecem as estruturas devidas ao ruı́do de rolamento superficial e limitar essa região da imagem para aplicar o filtro baseado na análise em ondaletas apenas nessa região, com um fator constante de atenuação de energia para cada ponto dessa região. Além disso, esses autores detacam que o ruı́do de rolamento superficial está mais concentrado em algumas escalas (j = 4, 5). Assim, apesar dessa análise em ondaletas apresentar bons resultados, é um pouco restrita, pois mesmo identificando regiões/escalas do espaço de frequências onde o ruı́do de rolamento superficial está presente, acaba atuando atenuando, nessas escalas, também parte das estruturas referentes ao sinal de interesse que estão presentes 84 nessas escalas e, para supressão do ruı́do de rolamento superficial dos sinais sı́smicos acaba utilizando-se de um fator de atenuação artificial que acaba atenuando parte das imagens referentes às estruturas geológicas de interesse nas regiões próximas à região onde o ruı́do está presente. Assim, nos trabalhos dessa tese, tivemos avanços significativos em relação ao trabalho de Leite e colaboradores, porque nós pudemos identificar os setores angulares dentro de cada escala em que o ruı́do de rolamento superficial está presente e atenuar, de forma bem mais restritiva, o ruı́do sem atenuar ou atenuando minimamente o sinal de interesse, ou seja, desse fato temos a grande vantagem em se usar a análise curvelet ao invés da análise em ondaletas para suprimir o ruı́do de rolamento superficial em imagens sı́smicas. Na análise curvelet que tem um caráter direcional e angular, ao se levar o sinal para o espaço de curvelet que é dividido em escalas e setores angulares, consegue-se separar muito bem as estruturas do sinal que foram geradas pelo ruı́do de rolamento superficial das estruturas geradas por reflexões nas camadas geológicas, e a supressão do ruı́do ocorre praticamente sem a supressão de qualquer parte do sinal de interesse. 85 Capı́tulo 6 Conclusões e Perspectivas O ruı́do de rolamento superficial, presente nos sismogramas obtidos por exploração sı́smica do subsolo, tem energia dominante em relação ao sinal de interesse e precisa ser removido ou suprimido dos sismogramas para uma boa análise e estudo destes. Há diversos métodos e análises que podem ser utilizados para essa tarefa, mas os resultados não costumam ser satisfatórios devido às limitações. A análise curvelet, estudada e implementada nesta tese, por ter um caráter direcional e dividir o espaço de frequência em escalas e setores angulares, permite, de forma natural, o estudo e análise de imagens/sinais que possuam singularidades ao longo de superfı́cies, ou seja, é uma escolha natural para se estudar e analisar sinais sı́smicos e remover o ruı́do de rolamento superficial. O método, baseado na análise curvelet, de supressão do ruı́do de rolamento superficial em sinais sı́smicos foi implementado e testado nos trabalhos desta tese. Tanto para um dado sintético quanto para um dado real, o método conseguiu remover o ruı́do de rolamento superficial dos sinais sem atenuação significativa do sinal de interesse. Isto ocorre pelo fato de que, no espaço das curvelets, esse ruı́do aparece em setores angulares, de cada escala, bastante diferenciados dos setores onde o sinal de interesse está presente, desta forma, para a remoção do ruı́do, basta zerar a contribuição dos setores onde o ruı́do está presente para a constituição do sinal e o ruı́do será removido. Dessa forma, podemos destacar que a tarefa de filtragem do ruı́do de rolamento superficial é bem realizada pela 86 análise curvelet, pois a simetria angular do ruı́do de rolamento superficial, no espaço das curvelets é bastante diferente da simetria angular das informações geológicas de interesse. Na verdade, esse ruı́do mostra padrões com caracterı́stica de linhas quase verticais no espaço das curvelets, enquanto as camadas geológicas são hipérboles muito abertas. Estas simetrias diferentes permitem localizações angulares diferentes dos dois padrões e uma consequente separação dos coeficientes angulares usando-se curvelets. E, mais ainda, este método de supressão do ruı́do de rolamento superficial não depende de nenhum fator de atenuação artificial para suprimir ou remover o ruı́do das imagens sı́smicas, o que é um diferencial muito importante em relação a outros métodos utilizados e que acabam obtendo resultados não tão bons. Como o caso da análise em ondaletas, que, por não descrever bem descontinuidades superficiais de uma imagem, mesmo adaptada acaba tendo algumas restrições na supressão do ruı́do de rolamento superficial de sinais sı́smicos pois, antes de aplicar o filtro à imagem sı́smica, faz-se necessário determinar, no espaço dos tempos, a região onde aparecem as estruturas devidas ao ruı́do de rolamento superficial e limitar essa região da imagem para aplicar o filtro baseado na análise em ondaletas apenas nessa região, com um fator constante de atenução de energia para cada ponto dessa região. Assim, apesar dessa análise em ondaletas apresentar bons resultados, é um pouco restrita, pois mesmo identificando regiões/escalas do espaço de frequências onde o ruı́do de rolamento superficial está presente, acaba atenuando, nessas escalas, também parte das estruturas referentes ao sinal de interesse que estão presentes nessas escalas. Assim, usando-se a análise curvelet para remover o ruı́do de rolamento superficial de sinais sı́smicos, tivemos avanços significativos em relação aos outros métodos, porque conseguimos identificar os setores angulares dentro de cada escala em que o ruı́do de rolamento superficial está presente e atenuar, de forma bem mais significativa, o ruı́do sem atenuar ou atenuando minimamente o sinal de interesse, ou seja, desse fato temos a grande vantagem em se usar a análise curvelet ao invés de outros métodos de análise para suprimir o ruı́do de rolamento superficial em imagens sı́smicas. Na análise curvelet que tem um caráter direcional e angular, ao se levar o sinal para o espaço de curvelet que é dividido em escalas e setores angulares, consegue-se separar muito bem as estruturas 87 do sinal que foram geradas pelo ruı́do de rolamento superficial das estruturas geradas por reflexões nas camadas geológicas, e a supressão do ruı́do ocorre praticamente sem a supressão de qualquer parte do sinal de interesse. Para concluir, na presente tese, procuramos avançar em um problema muito importante da indústria do petróleo que é a remoção do ruı́do de rolamento superficial em imagens sı́smicas. Mostramos um método que não depende de um fator de atenuação artificial para realizar a redução do ruı́do e, além disso, apresentamos uma discussão quantitativa da distribuição de energia ao longo de escalas e setores angulares. No futuro, pretendemos aplicar a mesma metodologia para outros problemas de eliminação de ruı́do na indústria de petróleo, como a reflexão de múltiplas. 88 Referências Bibliográficas [1] J. E. Thomas (organizador); Fundamentos de Engenharia de Petróleo, 2a Ed., Rio de Janeiro: Interciência: PETROBRAS, 2004. [2] http://www.tjhsst.edu/∼jlafever/wanimate/Wave Properties2.html (acesso em junho de 2011) [3] N. R. Oliveira, Supressão do Ruı́do de Rolamento Superficial Utilizando a Transformada Curvelet. Dissertação de Mestrado, UFRN, 2009. [4] F. E. Richart, J. R. Hall, R. D. Woods; Vibration of Soils and Foundations, Prentice Hall, 1970. [5] O. Yilmaz; Seismic Data Processing, Society of Exploration Geophysicists, Tulsa (USA), 2003. [6] A. J. Deighan, D. R. Watts; Ground roll suppression using the wavelet transform, Geophysics 62, 1896–1903, 1997. [7] L. Hatton, M. H. Worthington, J. Makin; Seismic Data Processing: Theory and Pratice, Blackwell Scientific Plubications, 1st edition, 1986. [8] A. Lees; An optimized film analysis method based on finite difference techniques. J. of Hum. Mov. Stud.; 6: 165–180, 1980. [9] http://astro.if.ufrgs.br/med/imagens/fourier.htm (acesso em junho de 2011) [10] A. Grossmann, J. Morlet; Decomposition of Hardy Function into Square Integrable Wavelets of Constant Shape. SIAM Journal on Mathematical Analysis, 15(4), 723736, 1984. 89 [11] D. Gabor; Theory of Communication, Journal of the Institute of Eletrical Engineering 93(3), 429 – 457. [12] F. E. A. Leite, Análise Estatı́stica de Padrões Sı́smicos: Decomposição em Multiescala. Tese de Doutorado, UFRN, 2007. [13] F. E. A. Leite, Raúl Montagne, G. Corso, G. L. Vasconcelos, L. S. Lucena; Karhunem-Loéve spectral analysis in multiresolution decomposition, Computer Geoscience, 13, 165–170, 2009. [14] F. E. A. Leite, Raúl Montagne, G. Corso, G. L. Vasconcelos, L. S. Lucena; Seismic entangled patterns analyzed via multiresolution decomposition, Nonlinear Process in Geophysics, 16, 211–217, 2009. [15] F. E. A. Leite, Raúl Montagne, G. Corso, G. L. Vasconcelos, L. S. Lucena; Optimal wavelet filter for suppression of coherent noise with an application to seismic data, Physica A, 387, 1439–1445, 2008. [16] S. Mallat; A wavelet tour of signal processing, Academic Press, New York 1999. [17] S. Mallat; Multiresolution approximations and wavelet orthonormal bases of L2(R). Trans. Amer. Math. Soc., 315, 69-87, 1989. [18] S. Mallat; Multifrequency channel decomposition of images and wavelet models. IEEE Trans. Acous. Speech and Signal Processing, 37, 2091-2110, 1989. [19] S. Mallat; A Theory for Multiresolution Signal Decomposition: The Wavelet Representation. IEEE Transactions on Pattern Analysis and Machine Intelligence. 11(7), 674-693, 1989. [20] S. Mallat, W. L. Hwang; Singularity detection and processing with wavelets. IEEE Transaction in Information Theory, 38 (2), 617-643, 1992. [21] S. Mallat, Z. Zhan; Matching pursuit in a time-frequency dictionary. IEEE Transactions on Signal Processing, 3397-3415, 1993. 90 [22] E. J. Candès, D. L. Donoho; Curvelets – a surprisingly effective nonadaptive representation for objects with edges, Curve and Surface Fitting, Vanderbilt University Press, 2000. [23] J. -L. Starck, E. J. Candès, D. L. Donoho; The curvelet transform for image denoising, IEEE Transactions on Image Processing, 11(6), 670–684, 2002. [24] E. J. Candès, L. Demanet; Curvelets and Fourier Integral Operators. C. R. Math. Acad. Sci. Paris, 336, 395-398, 2003. [25] E. J. Candès, D. L. Donoho; New tight frames of curvelets and optimal representation of objects with piecewise C 2 singularities, Communications on Pure and Applied Mathematics 57, 219–266, 2004. [26] E. J. Candès, D. L. Donoho; Continuous curvelet transform I: Resolution of the wavefront set, Applied and Computational Harmonic Analysis, 19, 162–197, 2005. [27] E. J. Candès, D. L. Donoho; Continuous curvelet transform II: Discretization and frames, Applied and Computational Harmonic Analysis, 19, 198–222, 2005. [28] E. J. Candès, L. Demanet, D. L. Donoho, L. Ying; Fast discret curvelet transform, SIAM Multiscale Model. Simul., 5, 861–899, 2006. [29] http://www.math.washington.edu/ hart/uwss.pdf (acesso em junho de 2011). [30] M. S. Oliveira, M. V. C. Henriques, F. E. A. Leite, G. Corso, L. S. Lucena; Seismic Denoising using Curvelet Analysis, aceito pela Physica A. [31] G. Hennenfent, F. J. Hermann; Seismic denoising with nonuniformly sampled curvelets, Computing in Science and Engineering, 8(3), 16–25, 2006. [32] F. J. Herrmann, D. Wang, D. J. Verschuur; Adaptive curvelet-domain primarymultiple separation. Geophysics, 73(3). [33] F. Herrmann; Curvelet-based seismic data processing: A multiscale and nonlinear approach. 91 [34] F. Z. Amorim; Atenuação de ruı́dos coerentes utilizando Decomposição em Modos Empı́ricos. Dissertação de Mestrado, UFRN, Outubro, 2009. [35] Center for Wave Phenomena of the Colorado School of Mines, http://www.cwp.mines.edu. [36] G. Corso, P. Kuhn, L. S. Lucena, Z. Thomé; Seismic ground roll time–frequency filtering using the Gaussian wavelet transform, Physica A, 318, 551–561, 2003. [37] Raúl Montagne, G. L. Vasconcelos; Extremum criteria for optimal suppression of coherent noise in seismic data using the Karhunen–Loeve transform, Physica A, 371, 122–125, 2006. [38] J. R. M. Souza; Compressão de Dados Sı́smicos Utilizando a Transformada Wavelet. Dissertação de Mestrado, UFRN, Setembro, 2002. [39] P. A. Morettin; Ondas e Ondaletas. São Paulo: Edusp, 1999. [40] R. P. Da Cruz; Deconvolução na Presença de Ruı́do Coerente de Alta Amplitude. Tese de Doutorado, UFBA, Janeiro de 1988. 92