UMA NOTA, UMA HISTÓRIA A Nota: Foi em Setembro de 1960 que, integrando o Curso “Luís de Camões”, comecei a aprender os primeiros vocábulos do longo dicionário de Marinharia. No ano passado, em Outubro de 2010, completei 50 anos duma vida dedicada à Marinha, vivendo com orgulho e alegria as comemorações organizadas para o efeito, pelo curso “Luís de Camões”. Por razões que já se me varreram da memória, fui mais tarde absorvido pelo curso “Nuno Tristão”, no qual aprendi todo o muito que me faltava, cresci e vivi sempre num ambiente de sã camaradagem e de sólidas amizades, que perduram até hoje. Sou pois, como que um precursor deste Curso, e por isso, quero aqui expressar que, embora nesta data comemore o meu 51º aniversário na Briosa, é com o mesmo orgulho, alegria, saudade e até mesmo vaidade, que parVlho com o curso “Nuno Tristão”, o meu Curso de adopção, esta outra data tão representaVva. Uma História: Um, dois, esquerdo, direito Os anos vão passando, mas não consigo esquecer-‐me deste episódio, tantas vezes repeVdo, que passo, com saudade, a recriar: De entre as várias cadeiras em que os jovens candidatos a cadetes Vnham que mostrar sincronização de movimentos e disciplina, destacava-‐se uma tal de Ordem Unida, por vezes ministrada por um aprumado e exigente primeiro-‐sargento, outras vezes, talvez em vésperas de cerimónias, era tutelada pelo lente da cadeira, um jovem oficial subalterno. Naquelas instruções de Infantaria, era vulgar sairmos para o exterior da Escola, e marcharmos até à Praça do Comando da Base Naval, pelo que havia que descer e subir em formatura, aquela malfadada rampa que ligava a Escola ao Palácio do Alfeite. Havia na Base Naval um Bairro Social, que creio ainda hoje exisVr, mas não sei se habitado, onde, como era natural, algumas famílias de militares viviam. Dessas famílias, destacavam-‐se algumas jovens raparigas, que diariamente uVlizavam as vedetas da Base para se deslocarem a Lisboa. Claro está, que era certo e sabido, que sempre que este Vpo de alvos eram avistados, os nossos olhares marcavam-‐nos desde as amuras até às alhetas, sendo impossível evitar em alguns de nós, uns sorrisos mais atrevidos ou um piscar de olho mais intencional. E era mesmo no momento do avistamento, que uma voz subVl num semblante irónico, ordenava com autoridade olhar à esquerda, ou olhar à direita, consoante o eco passasse ou por esVbordo ou a bombordo relaVvamente ao rumo da formatura. Estas técnicas de ensino, cuja filosofia era globalmente comum a diversos Instrutores, julgo mesmo fazerem parte do curriculum das respecVvas cadeiras, espelhavam com naturalidade o espírito brincalhão, mas saudável, do ambiente que na Escola Naval se vivia dia a dia na formação dos futuros Oficiais e Cavalheiros, Eu sei, que o que vou dizer é um lugar comum: Lembro-‐me disto, como se fosse hoje. Pois é. Mas a verdade, é que hoje, já lá vai meio século e cá estamos nós, sempre Oficiais e Cavalheiros, infelizmente já com a formatura muito incompleta, mas ainda com o privilégio da companhia e presença de alguns dos nossos Mestres e Instrutores, que também eles, como nós, com a mesma saudade daqueles tempos, se disponibilizaram, com alegria e em sã camaradagem a parVlhar connosco nesta data, tantas histórias, outros momentos e muitas recordações. Uma memória. Um contributo. Paulo Grade Richart