UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ENGENHARIA CIVIL RODRIGO CEZAR XAVIER DOS SANTOS ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ATRAVÉS DA TÉCNICA DE SOLO GRAMPEADO - ESTUDO DE CASO CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009 RODRIGO CEZAR XAVIER DOS SANTOS ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ATRAVÉS DA TÉCNICA DE SOLO GRAMPEADO - ESTUDO DE CASO Trabalho de conclusão de Curso, apresentado como requisito para obtenção do grau de Engenheiro Civil, no curso de Engenharia Civil da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador: Prof. MSc. Adailton Antônio dos Santos CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2009 RODRIGO CEZAR XAVIER DOS SANTOS ESTABILIZAÇÃO DE TALUDE ATRAVÉS DA TÉCNICA DE SOLO GRAMPEADO - ESTUDO DE CASO Trabalho de Conclusão de Curso, aprovado pela Banca Examinadora, para obtenção do Grau de Engenheiro Civil, no Curso de Engenharia Civil da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Criciúma, 30 de novembro de 2009. BANCA EXAMINADORA Prof. M. Sc. Adailton Antônio dos Santos – Engenheiro Civil – UNESC – Orientador Eng°. Murilo da Silva Espíndola – Engenheiro Civil – Especialista – UFSC - Banca. Eng°. Nicholas Alexander Muller – Engenheiro Civil – Diretor Técnico – FUNDASUL Ltda. “A Deus e a meus pais, pelo dom da vida” AGRADECIMENTO Primeiramente a Deus. Ao Prof. MSc. Adailton Antônio dos Santos, por todos os seus atos como orientador e como amigo, pela motivação e incentivo para que houvesse dedicação no trabalho. À Profª MSc. Evelise C. Zancan, Coordenadora de estágio e TCC do Curso de Engenharia Civil da UNESC, por procurar sempre ser fonte de incentivo nesta etapa árdua da formação acadêmica. A todos os professores desta instituição, pela atenção e dedicação. Aos colegas do curso de Engenharia Civil, pela amizade e respeito que marcaram para sempre este período com eternas lembranças. Aos amigos de toda a vida, pelas conversas descontraídas e apoio nos momentos difíceis. Aos amigos Renato Guessi e Roberto Glislere, pela amizade e companheirismo. Em especial a minha namorada Ana Lúcia Bristot, pelo carinho, compreensão e incentivo durante a etapa final do curso. A empresa STE – Serviços Técnicos de Engenharia, em especial ao meu amigo Robert Michel Nieves, pela compreensão e apoio nas horas em que precisei me ausentar do trabalho para estudos. A empresa CQG – Construtora Queiroz Galvão, pelas informações concedidas, que viabilizaram a realização deste trabalho. A empresa SOLOTRAT – em nome do Eng. Alberto Casati Zirlis, pelo incentivo e informações concedidas. Aos meus irmãos Orestes Alessandro Xavier dos Santos e Leandra Xavier dos Santos, que sempre estiveram ao meu lado durante todas as minhas conquistas, sempre auxiliando e incentivando na realização dos meus objetivos. E finalmente aos meus pais, Orestes Freitas dos Santos e Olga Xavier, responsáveis por tudo que sou, exemplos maiores de dedicação e trabalho e, que nunca pouparam esforços para possibilitar a realização dos meus estudos. “O êxito se esconde atrás da próxima curva da estrada. Jamais saberei a que distância está, a não ser que dobre a curva.” Og Mandino RESUMO A necessidade de estabilização de taludes naturais e taludes de corte vêm se tornando uma prática bastante comum no meio geotécnico. Diante da dimensão de problemas geradores de instabilidade, verifica-se que os principais estão relacionados às condicionantes naturais. Quando o assunto trata de uma rodovia como a BR-101, seria inaceitável um problema gerado por instabilização de talude. O projeto para a viabilização de um viaduto junto às obras de restauração/duplicação da rodovia BR–101, cruzamento com a rodovia SC–444 no município de Içara/SC necessitou de um corte de grandes proporções, gerando um talude de corte, com seções de até 8 metros de altura. Este talude margeia a rodovia por aproximadamente 500 metros. Logo, surgiu a necessidade de verificar a condição de segurança deste talude e apresentar, em caso de uma eventual necessidade, medidas preventivas ou corretivas, que viabilizem a execução do mesmo, e garantam a segurança dos usuários da rodovia no referido trecho, uma vez que a ruptura seria catastrófica, provocando provavelmente perdas de vidas humanas e materiais. Visando definir as formas de prevenir esta catástrofe, dividiuse o trabalho em três tópicos. O primeiro tópico, trata da determinação do fator de segurança do talude, através da análise de estabilidade das seções de projeto. Para tanto, foram levantados dados referentes à geometria de projeto, investigações geotécnicas e parâmetros de resistência ao cisalhamento dos solos que constituem o talude. Nestas análises, foi observado que algumas das seções não atenderam ao fator de segurança admissível adotado neste trabalho (FSadm ≥ 1,5), estabelecendo a necessidade de se estabilizar e/ou reforçar o referido talude. O segundo tópico está voltado para a definição da técnica de estabilização e/ou reforço deste talude. Em princípio, foram introduzidos elementos de drenagem profunda (drenos subhorizontais), tendo em vista a influência do NA, na estabilidade do talude. A análise de estabilidade das seções, com h≤6,0m, considerando que o NA passa pelo pé do talude, devido a introdução dos elementos de drenagem, mostrou que a introdução dos mesmos é suficiente para obtenção do FSadm. No entanto, nas seções, com h>6,0m e NA passando pelo pé do talude, a introdução dos elementos de drenagem não foi suficiente para elevar o fator de segurança, para 1,5. Logo, para atingir o FSadm, no trecho do talude limitado por estas seções, optou-se por aplicar em conjunto com a drenagem, a técnica de Solo Grampeado, responsável pela introdução de elementos resistentes (grampos), no interior do solo. A análise de estabilidade realizada considerando a introdução dos grampos demonstrou que nas referidas seções o objetivo de atingir o FSadm foi alcançado. O terceiro tópico referese ao detalhamento do projeto executivo de estabilização e reforço do talude e do orçamento para implantação do mesmo. Palavras-Chave: Análise de Estabilidade. Fator de Segurança. Drenagem. Solo Grampeado. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 - Exemplo de locação dos furos de sondagem ......................................... 25 Figura 02 - Equipamento de sondagem à percussão ............................................... 27 Figura 03 - Equipamento de sondagem rotativa ....................................................... 30 Figura 04 - Ensaio de cisalhamento direto ............................................................... 34 Figura 05 - Esquema da câmara de ensaio triaxial. ................................................. 35 Figura 06 - Envoltória de resistência obtida com resultados de ensaios de compressão triaxial ................................................................................................... 36 Figura 07 - Esquema do contato entre grãos para definição de tensões ................. 38 Figura 08 - Esquema referente ao atrito entre dois corpos ...................................... 40 Figura 09 - Transmissão de forças entre partículas de areia e argila ....................... 41 Figura 10 - Representação dos critérios de ruptura ................................................. 43 Figura 11 - Análise do estado de tensões no plano de ruptura ................................ 43 Figura 12 - Variação de índice de vazios em carregamento isotrópico .................... 44 Figura 13 - Definições quanto à geometria de taludes ............................................. 49 Figura 14 - Forças atuantes em uma fatia genérica ................................................. 52 Figura 15 - Variação do fator f0 em função do parâmetro d/L e do tipo do solo........ 54 Figura 16 - Comparação do NATM com a técnica convencional de revestimento rígido ......................................................................................................................... 59 Figura 17 - Aplicações da técnica do solo grampeado ............................................. 60 Figura 18 - Construção de estrutura em solo grampeado em escavações com equipamentos mecânicos. ......................................................................................... 62 Figura 19 - Escavação da camada de solo .............................................................. 63 Figura 20 - Perfuração do solo ................................................................................. 63 Figura 21 - Introdução dos elementos resistentes .................................................... 63 Figura 22 - Proteção da superfície ........................................................................... 63 Figura 23 - Processo de escavação em bancadas ................................................... 65 Figura 24 - Detalhes dos grampos injetados ............................................................ 67 Figura 25 - Tipos de cabeça de grampos ................................................................. 69 Figura 26 - Máquina ou bomba de projeção por via seca ......................................... 73 Figura 27 - Detalhe do dreno profundo ..................................................................... 75 Figura 28 - Detalhe dos drenos tipo barbacã e de paramento ................................. 76 Figura 29 - Mobilização de esforços nos grampos nas zonas ativa e passiva ......... 78 Figura 30 - Modelos de ruptura ................................................................................ 80 Figura 31 - Ensaio de arrancamento ........................................................................ 82 Figura 32 - Detalhe do mapa geológico da região de Içara (região do estudo) ........ 89 Figura 33 - Mapa localização Lote 27 (região do estudo) ......................................... 90 Figura 34 - Localização da área objeto de estudo .................................................... 91 Figura 35 - Km 380,873 - Greide de pavimentação e terreno natural....................... 92 Figura 36 - Km 380,873 - Novo greide de pavimentação e terreno natural .............. 94 Figura 37 - Geometria de corte................................................................................. 95 Figura 38 - Planta de localização furos de sondagem .............................................. 97 Figura 39 - Perfil estratigráfico estimado das seções de 6 a 8 metros ..................... 98 Figura 40 - Perfil estratigráfico estimado das seções de 4 e 5 metros ..................... 98 Figura 41 - Seção de análise 4,0 metros de altura ................................................. 100 Figura 42 - Seção de análise 5,0 metros de altura ................................................. 100 Figura 43 - Seção de análise 6,0 metros de altura ................................................. 101 Figura 44 - Seção de análise 7,0 metros de altura ................................................. 101 Figura 45 - Seção de análise 8,0 metros de altura ................................................. 101 Figura 46 - Planta de situação da seção crítica ...................................................... 102 Figura 47 - Superfície de ruptura para seção crítica ............................................... 104 Figura 48 - Superfície de ruptura para seção crítica considerando drenagem ....... 107 Figura 49 - Superfície de ruptura para seção crítica considerando drenagem e Solo Grampeado ............................................................................................................. 111 LISTA DE TABELAS Tabela 01 - Proporção da área em relação aos furos de sondagem ........................ 25 Tabela 02 - Correlações básicas do Nspt – Compacidade ....................................... 28 Tabela 03 - Correlações básicas do Nspt – Consistência ......................................... 28 Tabela 04 - Grau de alteração .................................................................................. 31 Tabela 05 - RQD (Designação Qualitativa da Rocha) .............................................. 32 Tabela 06 - Grau de fraturamento............................................................................. 32 Tabela 07 - Grau de coerência ................................................................................. 33 Tabela 08 - Valores típicos de ângulo de atrito interno efetivo para tensões acima da tensão de pré-adensamento...................................................................................... 46 Tabela 09 - Fatores de segurança admissíveis recomendados ................................ 51 Tabela 10 - Altura das etapas de escavação ............................................................ 64 Tabela 11 - Tipos de barras de aço .......................................................................... 66 Tabela 12 - Proteção anticorrosiva proposta na NBR 5629 ...................................... 70 Tabela 13 - Especificações de projeto com grampos injetados ................................ 70 Tabela 14 - Estruturas com face vertical e topo horizontal ....................................... 72 Tabela 15 - Métodos de análise ................................................................................ 79 Tabela 16 - Quantidade de ensaios de arrancamento .............................................. 83 Tabela 17 - Coluna estratigráfica regional ................................................................ 87 Tabela 18 - Parâmetros geotécnicos adotados......................................................... 99 Tabela 19 - Análise de estabilidade das seções adotadas ..................................... 103 Tabela 20 - Análise de estabilidade da seção crítica – Fatores de segurança obtidos com a variação do NA em relação ao pé do talude ................................................. 105 Tabela 21 - Análise de estabilidade das seções adotadas considerando o talude drenado ................................................................................................................... 107 Tabela 22 - Propriedades das barras de aço utilizadas como grampos ................. 109 Tabela 23 - Carga de trabalho para barra de aço CA-50 25mm ............................. 109 Tabela 24 - Análise de estabilidade Solo Grampeado – Fatores de segurança variando inclinação dos grampos ............................................................................ 110 Tabela 25 - Análise de estabilidade Solo Grampeado – Fatores de segurança considerando elementos de reforço e drenagem .................................................... 112 Tabela 26 - Elementos de drenagem profunda (DHP) – Arranjo dos drenos por seção ....................................................................................................................... 112 Tabela 27 - Análise de estabilidade Solo Grampeado – Arranjo dos grampos por seção ....................................................................................................................... 113 Tabela 28 - Análise de estabilidade Solo Grampeado – Seções para introdução dos elementos de estabilização ..................................................................................... 114 Tabela 29 - Análise de estabilidade das seções adotadas, considerando todas as situações impostas .................................................................................................. 115 Tabela 30 - Preços de serviços para a estabilização de taludes ............................ 117 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 - Relação entre FSmin e variação na altura das seções ......................... 103 Gráfico 02 - Valores dos diferentes FSmin em função do nível do lençol freático em relação ao pé do talude ........................................................................................... 106 Gráfico 03 - Valores dos diferentes FSmin em função da inclinação dos grampos . 111 Gráfico 04 - Valores dos diferentes FSmin para o método de Janbu Simplificado ... 117 Gráfico 05 - Preços dos serviços utilizados para contenção dos taludes ............... 118 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABMS – Associação Brasileira de Mecânica dos Solos ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas CBR – Índice de Suporte Califórnia CD – Consolidated Drained CQG – Construtora Queiroz Galvão CU – Consolidated Undrained DER – Departamento de Estradas de Rodagem DHP – Dreno Horizontal Profundo DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre Eh – Empuxo Hidrostático FRP - Fiber reinforced plastics FS – Fator de Segurança LMS – Laboratório de Mecânica dos Solos NA – Nível D’água NATM - New Austrian Tunneling Method NBR – Normas Brasileiras NSPT – Número de Golpes do SPT RQD – Designação Qualitativa da Rocha SPT – Standart Penetration Test STE – Serviços Técnicos de Engenharia (Consultora) UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina UU – Unconsolidated Undrained VL – Via Lateral SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 18 1.1 TEMA .................................................................................................................. 18 1.2 PROBLEMA ........................................................................................................ 18 1.3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 19 1.4 OBJETIVOS ........................................................................................................ 20 1.4.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 20 1.4.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 20 2 REVISÃO BIBILIOGRÁFICA ................................................................................. 21 2.1 Investigações geotécnicas .................................................................................. 21 2.1.1 Objetivos do programa de investigação geotécnica ......................................... 21 2.1.2 Escolha do método e amplitude da prospecção ............................................... 22 2.1.3 Etapas na investigação geotécnica .................................................................. 22 2.1.4 Classificação dos métodos de investigação geotécnica ................................... 23 2.1.5 Ensaios de campo ............................................................................................ 23 2.1.6 Sondagem ........................................................................................................ 23 2.1.6.1 Sondagens à percussão com circulação d’água (sondagens de simples reconhecimento)........................................................................................................ 24 2.1.6.1.1 Número, locação e profundidade dos furos de sondagem ......................... 24 2.1.6.1.2 Vantagens da sondagem SPT.................................................................... 25 2.1.6.1.3 Equipamentos utilizados............................................................................. 26 2.1.6.1.4 Índice de resistência à penetração Nspt..................................................... 27 2.1.6.1.5 Fatores que influenciam no valor do Nspt .................................................. 28 2.1.6.2 Sondagem rotativa ........................................................................................ 29 2.1.6.2.1 Equipamentos ............................................................................................ 29 2.1.6.2.2 Amostragem ............................................................................................... 30 2.1.6.2.3 Grau de alteração ....................................................................................... 31 2.1.6.2.4 RQD (designação qualitativa da rocha) ...................................................... 32 2.1.6.2.5 Grau de fraturamento ................................................................................. 32 2.1.6.2.6 Grau de coerência ...................................................................................... 33 2.2 Ensaios de laboratório ......................................................................................... 33 2.2.1 Ensaios para determinação dos parâmetros de resistência dos solos ............. 34 2.2.1.1 Ensaio de cisalhamento direto ...................................................................... 34 2.2.1.2 Ensaio de cisalhamento triaxial ..................................................................... 35 2.2.1.3 Ensaios triaxiais convencionais ..................................................................... 37 2.2.1.4 Ensaio adensado não drenado (CU) ............................................................. 37 2.3 Tensões nos solos .............................................................................................. 38 2.3.1 Tensão deformação e resistência dos solos .................................................... 39 2.3.2 Resistência ao cisalhamento dos solos ............................................................ 39 2.3.3 Atrito ................................................................................................................. 40 2.3.4 Coesão ............................................................................................................. 41 2.3.5 Critérios de ruptura ........................................................................................... 42 2.3.6 Resistência das argilas..................................................................................... 44 2.3.7 Resistência das argilas em termos de tensões efetivas ................................... 44 2.4 Movimentos de massa ........................................................................................ 46 2.4.1 Classificação dos movimentos de massa quanto ao tipo de movimento .......... 47 2.4.2 Causas dos escorregamentos .......................................................................... 48 2.5 Estabilidade de taludes de terra .......................................................................... 49 2.5.1 Métodos de análise de estabilidade ................................................................. 51 2.5.2 Método de Janbu simplificado .......................................................................... 53 2.5.3 Influência da água no solo e em estruturas de contenção ............................... 54 2.6 Obras de Contenção ........................................................................................... 55 2.6.1 Cortina Atirantada ............................................................................................ 56 2.6.2 Solo Grampeado .............................................................................................. 56 2.7 Solo Grampeado ................................................................................................. 57 2.7.1 Histórico ........................................................................................................... 57 2.7.2 Conceitos ......................................................................................................... 59 2.7.3 Execução da técnica ........................................................................................ 61 2.7.4 Fases de execução .......................................................................................... 63 2.7.4.1Escavação da camada de solo....................................................................... 64 2.7.4.2 Perfuração do solo ........................................................................................ 65 2.7.4.3 Introdução dos elementos resistentes ........................................................... 66 2.7.4.3.1 Grampos Injetados ..................................................................................... 66 2.7.4.3.2 Grampos cravados ..................................................................................... 70 2.7.4.3.3 Geometria dos grampos ............................................................................. 71 2.7.4.4 Proteção da superfície................................................................................... 72 2.7.5 Medidas preventivas quanto à presença de água ............................................ 74 2.7.6 Vantagens ........................................................................................................ 76 2.7.7 Limitações ........................................................................................................ 77 2.7.8 Modelos de análise e métodos de projeto ........................................................ 78 2.7.9 Comportamento mecânico do grampo ............................................................. 80 2.7.10 Ensaios de arrancamento............................................................................... 81 3 METODOLOGIA DO TRABALHO ......................................................................... 84 4 EXPOSIÇÃO DOS DADOS ................................................................................... 86 4.1 Estudos geológicos ............................................................................................. 86 4.1.1 Relatório ........................................................................................................... 86 4.2 Área de estudo .................................................................................................... 90 4.3 Projeto inicial Km 380,873 ................................................................................... 91 4.3.1 Alteração de projeto Km 380,873 ..................................................................... 93 4.3.2 Projeto Km 380,873 .......................................................................................... 93 4.4 Análise de estabilidade........................................................................................ 94 4.4.1 Definição da geometria do talude de corte ....................................................... 95 4.4.2 Sobrecargas atuantes no talude....................................................................... 95 4.4.3 Método abordado para análise de estabilidade do talude ................................ 96 4.4.4 Perfis estratigráficos adotados ......................................................................... 96 4.4.5 Determinação dos parâmetros geotécnicos ..................................................... 99 4.4.6 Seções adotadas na análise de estabilidade ................................................... 99 4.4.6.1 Análise de estabilidade global das seções adotadas .................................. 102 4.5 Alternativa de técnicas para a estabilização e/ou reforço do talude de corte .... 104 4.6 Análise de estabilidade global das seções adotadas aplicando a técnica de drenagem do solo.................................................................................................... 105 4.7 Escolha da estrutura de reforço de talude ......................................................... 108 4.7.1 Características dos grampos .......................................................................... 109 4.7.2 Análise de estabilidade global das seções reforçadas ................................... 110 4.8 Configuração dos drenos e grampos utilizados para estabilização dos taludes 112 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................... 115 5.1 Análise de Custos ............................................................................................. 117 6 CONCLUSÕES .................................................................................................... 119 7 RECOMENDAÇÕES ............................................................................................ 121 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 122 ANEXOS ................................................................................................................. 126 ANEXO A – Boletins de Sondagem ........................................................................ 127 APÊNDICES ........................................................................................................... 134 APÊNDICE A – Análises de Estabilidade das Seções ............................................ 135 APÊNDICE B – Análises de Estabilidade das Seções Considerando elementos de Drenagem................................................................................................................ 139 APÊNDICE C – Análises de Estabilidade das Seções Considerando elementos de Drenagem e técnica de Solo Grampeado ............................................................... 143 APÊNDICE D – Projeto Executivo de Estabilização de Talude ............................... 145 18 1 INTRODUÇÃO 1.1 TEMA Estabilização de Talude Através da Técnica de Solo Grampeado - LOTE 27 – BR-101/SUL - Estudo de Caso. 1.2 PROBLEMA Quando executado um talude de corte é preciso analisar a situação, para que o fator de segurança encontrado não fique abaixo do fator admissível para a obra em questão. A intenção destas análises é de fornecer principalmente condições de segurança aos usuários, para isso é necessária uma verificação quanto às condições de estabilidade dos taludes formados. A rodovia BR-101 é margeada por vias laterais (VL) nos lados direito e esquerdo que se estendem ao longo de quase toda a rodovia; estas vias possibilitam o acesso aos povoados vizinhos, que muitas vezes, se localizam em um raio potencial de alcance de um movimento de massa. Estas edificações estariam em risco caso ocorresse alguma ruptura dos taludes dos cortes. A rodovia BR-101 não deve ter sua operação afetada, pois obviamente, isto acarretaria em diversos problemas. 19 1.3 JUSTIFICATIVA Ao longo das obras de duplicação da BR-101, alguns pontos necessitam de atenção especial, quanto às condições de estabilidade de taludes de corte. Caso seja verificada a condição de instabilidade destas obras, é necessária a intervenção, atuando com técnicas de estabilização e/ou reforço. O material proveniente deste estudo contribuirá para o conhecimento de mais uma técnica que vem se tornando um método consagrado, tendo em vista a estabilização segura e definitiva de cortes e taludes naturais instáveis, a esta se dá o nome de Solo Grampeado. 20 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo Geral O presente trabalho tem por objetivo verificar as condições de estabilidade do talude de corte, objeto de estudo, e definir em caso de necessidade, as medidas preventivas ou corretivas, que viabilizem a execução do projeto, garantindo um FSadm ≥ 1,5. 1.4.2 Objetivos Específicos Apresentar a topografia da área destinada à implantação da obra objeto de estudo; Estudar a geologia regional e local; Determinação da estratigrafia do solo no local; Levantar os parâmetros de resistência ao cisalhamento do solo, que constituem o talude objeto de estudo; Aplicar o método de análise de estabilidade de Janbu Simplificado (1973), para determinar o coeficiente de segurança, quanto à estabilidade global do talude de projeto; Aplicar o método de análise de estabilidade de Janbu Simplificado (1973), para determinar o coeficiente de segurança, quanto à estabilidade global do talude de projeto após a aplicação de elementos de drenagem e da Técnica de Solo Grampeado; Elaborar o projeto de estabilização e/ou reforço do talude; Determinar os custos para execução do projeto de estabilização e/ou reforço do talude. 21 2 REVISÃO BIBILIOGRÁFICA Buscando alcançar os objetivos listados no capítulo anterior, descrevese a seguir, a revisão bibliográfica, para a melhor compreensão da pesquisa e temas que elucidam a obra objeto de estudo. 2.1 Investigações geotécnicas Os estudos de engenharia referentes ao levantamento geotécnico visam à obtenção da natureza do maciço de solo; do posicionamento espacial das diversas camadas, dos parâmetros físicos e mecânicos e suas variações espaciais e da posição do nível do lençol freático (NA), através da execução de sondagens à percussão, mista e à trado; de poços e trincheiras; ensaios de laboratório e “in situ”; coleta de amostras e observação do nível do lençol freático, tão importantes para as definições preliminares de um projeto. É através da escolha do melhor método de contenção, que se prevêem custos e prazos para a realização de um empreendimento geotécnico. 2.1.1 Objetivos do programa de investigação geotécnica Deve-se ter em mente os objetivos de um programa de investigação geotécnica, que são: Determinação da extensão, profundidade e espessura das camadas do subsolo até uma determinada profundidade. Descrição do solo de cada camada, compacidade ou consistência, cor e outras características perceptíveis; Determinação da profundidade do nível do lençol freático, lençóis artesianos ou suspensos; Informações sobre a profundidade da superfície rochosa e sua classificação, estado de alteração e variações; 22 Dados sobre propriedades mecânicas e hidráulicas dos solos ou rochas tais como compressibilidade, resistência ao cisalhamento e permeabilidade. 2.1.2 Escolha do método e amplitude da prospecção Depois de estabelecidos os objetivos do programa de investigação geotécnica, a próxima etapa é a escolha do método e amplitude da prospecção, que deve levar em conta, os itens relacionados abaixo: Finalidade e proporções da obra; Características do terreno; Experiências e práticas locais; Custo. 2.1.3 Etapas na investigação geotécnica Dependendo dos objetivos a serem alcançados, poderá ser feita uma investigação geotécnica em qualquer etapa da obra. As principais etapas são: Investigações de reconhecimento: natureza das formações geológicas (e pedológicas) locais e principais características do subsolo - definição de áreas mais próprias para as obras; Explorações para anteprojetos e projeto básico: escolha de soluções e dimensionamento; Explorações para projeto executivo: informações complementares sobre o comportamento geotécnico dos materiais - resolução de problemas específicos do projeto; Explorações durante a construção: necessárias no caso de imprevistos na fase de construção. 23 2.1.4 Classificação dos métodos de investigação geotécnica A classificação divide-se em métodos diretos e indiretos, conforme descritos a seguir: Métodos Diretos: permitem a observação direta do subsolo, ou através de amostras coletadas ao longo de uma perfuração, ou a medição direta de propriedades “in situ” (escavações, sondagens e ensaios de campo;). Métodos Indiretos: as propriedades geotécnicas dos solos são estimadas, indiretamente, pela observação à distância ou pela medida de outras grandezas do solo (sensoriamento remoto e ensaios geofísicos.). 2.1.5 Ensaios de campo Os ensaios de campo permitem que o solo seja ensaiado em seu estado natural, podendo detectar a presença de lençol freático, além da estratigrafia do local. 2.1.6 Sondagem Sondagem é o processo mais comum de investigação do solo e amplamente utilizado por se tratar de um procedimento de simples execução. É basicamente constituído pelas etapas de perfuração e amostragem. As mais utilizadas são: Sondagem a percussão: de simples reconhecimento do subsolo, e que, se associada ao ensaio de penetração dinâmica (SPT) pode medir a resistência do solo à penetração ao longo da perfuração. Sondagem rotativa: empregada caso haja necessidade de investigação de camadas em que a sondagem a percussão, não consiga perfurar, como exemplo, blocos de rocha. 24 A sondagem rotativa em ação conjunta com a sondagem a percussão, caracteriza a sondagem mista. 2.1.6.1 Sondagens à percussão com circulação d’água (sondagens de simples reconhecimento) Método para investigação dos solos em que o terreno é perfurado através do golpeamento do fundo do furo, com peças de aço cortantes. O processo de avanço por lavagem facilita o corte, reduz o atrito lateral e traz até a superfície, o material desagregado. No Brasil, o ensaio de SPT “Standard Penetration Test”, como é conhecido, segue as recomendações da NBR 6484/2001 – Solos - sondagens de simples reconhecimento com SPT; método de ensaio. 2.1.6.1.1 Número, locação e profundidade dos furos de sondagem Estes também estão padronizados pela NBR 8036/83 - Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios. A norma apresenta quantidade, locação e profundidade dos furos que deverão ser executados, conforme a área projetada da construção. A Tabela 01 apresenta a quantidade de furos que devem ser executados, segundo a norma. 25 Tabela 01: Proporção da área em relação aos furos de sondagem; Área de projeção da construção (m²) < 200 200 a 600 600 a 800 800 a 1000 1000 a 1200 1200 a 1600 1600 a 2000 2000 a 2400 > 2400 Numero mínimo de furos 2 3 4 5 6 7 8 9 a critério Fonte: NBR 8036/83 A locação dos furos deve cobrir toda a área de interesse, e a distância entre furos não deve ser superior a 30 metros, ver Figura 01. Figura 01 – Exemplo de locação dos furos de sondagem Fonte: NBR 8036/83. A profundidade dos furos deve considerar a profundidade provável das fundações e do bulbo de tensões, gerados pela fundação prevista, como também, as condições geológicas locais. 2.1.6.1.2 Vantagens da sondagem SPT O ensaio SPT é reconhecidamente a mais popular, rotineira e econômica ferramenta de investigação de solos em praticamente todo o mundo, apresentando as seguintes vantagens: Custo relativamente baixo; 26 Facilidade de execução e possibilidade de trabalho em locais de difícil acesso; Permite descrever o subsolo em profundidade e a coleta de amostras; Fornece um índice de resistência e penetração correlacionável com a compacidade ou a consistência dos solos; Possibilita a determinação do nível freático (com ressalvas). 2.1.6.1.3 Equipamentos utilizados Existem diferentes técnicas de perfuração, equipamentos e procedimentos de ensaio nos diferentes países. Na prática brasileira os equipamentos utilizados são: Tripé com sarrilho, roldana e cabo; Tubos de revestimento; Hastes de aço roscável; Martelo cilíndrico ou prismático com coxim de madeira para cravação das hastes e tubos de revestimento (peso = 65 kg); Amostrador padrão bipartido, dotado de dois orifícios laterais para saída de água e ar; Conjunto motor-bomba para circulação de água na perfuração; Trépano (peça de aço biselada para o avanço por lavagem); Trados (para perfuração inicial). Estes equipamentos encontram-se devidamente identificados na Figura 02. 27 Figura 02 - Equipamento de sondagem à percussão. Fonte:Campos (http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=9&Cod=126). 2.1.6.1.4 Índice de resistência à penetração Nspt A norma brasileira estabelece como índice de resistência à penetração, (N ou Nspt), a soma do número de golpes necessários a penetração dos 30 cm finais do amostrador padrão no “Standard Penetration Test”. Em alguns casos o Nspt é apresentado de forma diferenciada: Quando todo amostrador penetra somente com o peso do martelo; zero golpes; Quando o solo é tão pouco consistente ou compacto que ao primeiro golpe penetra mais do que os 45 cm do amostrador, indica-se associado a este golpe, a profundidade penetrada; Quando o solo é tão rijo ou compacto que não se consegue cravar todo o amostrador, indica-se a razão golpes/profundidade; 28 As correlações básicas do Nspt de compacidade (areias e siltes arenosos) e consistência (argilas e siltes argilosos), segundo a NBR 6484/2001, estão apresentadas nas Tabelas 02 e 03. Tabela 02: Correlações básicas do Nspt – Compacidade; Nspt Compacidade ≤4 5a8 9 a 18 18 a 40 > 40 Fofa (o) Pouco Compacto (o) Medianamente Compacta (o) Compacta (o) Muito compacta (o) Fonte: NBR 6484/2001. Tabela 03: Correlações básicas do Nspt – Consistência; Nspt Consistência ≤2 3a5 6 a 10 11 a 19 > 19 Muito mole Mole Média (o) Rija (o) Dura (o) Fonte: NBR 6484/2001. O maior emprego destes valores é em projetos de fundações, para a escolha do tipo de fundação, e na correlação com a tensão admissível do solo. 2.1.6.1.5 Fatores que influenciam no valor do Nspt É preciso tomar cuidado com fatores que podem gerar resultados errôneos aos valores de NSPT, alguns destes estão ligados ao equipamento utilizado, outros ligados a execução, conforme apresentado abaixo: Fatores ligados ao equipamento utilizado: Forma, dimensões e estado de conservação do amostrador; Peso e estado de conservação das hastes; Martelo de bater e superfície de impacto fora de especificação; Diâmetro do tubo de revestimento. 29 Fatores ligados a execução da sondagem: Variação na energia de cravação (altura do martelo, atrito); Procedimento de avanço da sondagem; Má limpeza do furo; Furo de diâmetro insuficiente para a passagem do amostrador; Excesso de lavagem para cravação do revestimento; Erro na contagem do número de golpes. 2.1.6.2 Sondagem rotativa Quando a sondagem encontra uma camada classificada como impenetrável ao trépano de lavagem, dependendo do porte e da complexidade da obra, é necessário continuar a investigação do subsolo pelo método rotativo. A sondagem rotativa é um método que consiste no uso de um conjunto moto-mecanizado, com a finalidade de se obterem amostras de materiais rochosos, contínuas e em formato cilíndrico, que são os testemunhos, que permitem identificar as descontinuidades do maciço rochoso; definir o tipo de rocha; realizar ensaios no interior da perfuração, como o ensaio de perda de água, permitindo conhecer a permeabilidade da rocha e a localização de falhas e fendas. 2.1.6.2.1 Equipamentos O equipamento padrão deverá constar de tripé, sonda rotativa, bomba d’água, guincho, revestimentos, sapatas para revestimentos, hastes, coroas e alargadores para barriletes, barriletes nos diâmetros especificados e ferramentas para a operação. Deverá apresentar ainda barriletes providos de coroas de vídia ou diamante (o tipo de material depende da resistência da rocha a ser perfurada), com saída d’água convencional. A Figura 03 ilustra os equipamentos necessários. 30 Figura 03: Equipamento de sondagem rotativa Fonte: Bastos, (2005). 2.1.6.2.2 Amostragem Os testemunhos, que são as amostras do processo rotativo, devem apresentar a condição exata em que se encontram no campo. Para isso, o processo de retirada do testemunho do barrilete e o seu armazenamento devem ser realizados com cuidado, evitando-se rompê-lo artificialmente. A posição dos testemunhos no recipiente deverá ser a mesma encontrada na execução, para que se possa definir o perfil adequadamente. 31 Algumas medidas preventivas minimizam as chances de se obter uma amostragem pobre e com pouca representatividade, como manobras curtas, barriletes e coroas adequados, molas retentoras adequadas. 2.1.6.2.3 Grau de alteração Os graus de alteração são definidos para cada tipo litológico ou grupo de rochas de comportamento semelhantes e fixadas, a partir do conhecimento das propriedades mecânicas e de sua correlação com a variação de propriedades petrográficas, como: cor e brilho dos minerais, formação de minerais de alteração (argilas, limonitas, caolins, etc.), estruturas neoformadas (fissuras, crostas, bordas de reação) e aumento da porosidade. A classificação quanto ao grau de alteração da rocha é apresentada na Tabela 04. Tabela 04: Grau de alteração; Símbolo Grau de alteração A.O A.1 A.2 A.3 A.4 Características Rocha sã ou praticamente Aspecto sadio ou leve alteração hidrotermal. As fraturas podem apresentar sinais de sã oxidação. Rocha pouco alterada Perda do brilho dos minerais constituintes, juntas oxidadas ou levemente alteradas. Significantes porções de rocha mostram-se Rocha medianamente descoloridas ou oxidadas e apresentam alterada sinais de intemperismo (mudanças químicas e microfissuração). Toda a rocha apresenta-se descolorida ou Rocha muito alterada oxidada, cristais alterados e fissurados. Rocha extremamente alterada Fonte: Pacheco, (2001). Rocha decomposta, friável, textura e estruturas preservadas. 32 2.1.6.2.4 RQD (designação qualitativa da rocha) O RQD é baseado numa recuperação modificada de testemunhos, através de um procedimento que leva em consideração o número de fraturas e a quantidade de material mole ou a alteração da massa rochosa que possa ser vista nos testemunhos de sondagem. O RQD corresponde ao quociente da soma dos comprimentos superiores a 10,0 cm de testemunhos sãos e compactos, pelo comprimento do trecho perfurado, expresso em percentagem. A Tabela 05 expressa, em percentagem, os valores de RQD. Tabela 05: RQD (Designação Qualitativa da Rocha); Qualidade da rocha RQD (%) Muito pobre 0 a 25 Pobre 25 a 50 Regular 50 a 75 Boa 75 a 90 Excelente 90 a 100 Fonte: Pacheco, (2001). 2.1.6.2.5 Grau de fraturamento É determinado por meio da quantidade de fraturas com que se apresenta a rocha, numa determinada direção. Não se consideram as fraturas provocadas pelo processo de perfuração. Os diversos graus de fraturamento são expostos na Tabela 06. Tabela 06: Grau de fraturamento; Rocha Símbolo Número de fraturas por manobra Pouco fraturada F1 1-5 Medianamente fraturada F2 6 - 10 Muito fraturada F3 11 - 20 Extremamente fraturada F4 F5 >20 Em fragmentos Fonte: Pacheco, (2001). Torrões em pedaços de diversos tamanhos 33 2.1.6.2.6 Grau de coerência Tem como base as características físicas, tais como resistência ao impacto, ao risco, friabilidade, conforme classificação verificada na Tabela 07. Tabela 07: Grau de coerência; Rocha Símbolo Muito coerente Coerente C1 C2 Características a) Quebra com dificuldade ao golpe do martelo. b) O fragmento possui bordas cortantes que resistem ao corte por lâmina de aço. c) Superfície dificilmente riscada por lâmina de aço. a) Quebra com relativa facilidade ao golpe do martelo. b) O fragmento possui bordas cortantes que podem ser abatidas pelo corte com lâmina de aço. c) Superfície riscável por lâmina de aço. Pouco coerente C3 a) Quebra facilmente ao golpe do martelo. b) As bordas do fragmento podem ser quebradas pela pressão dos dedos. c) A lâmina de aço provoca um sulco acentuado na superfície do fragmento. Friável C4 a) Esfarela ao golpe do martelo. b) Desagrega pela pressão dos dedos. Fonte: Pacheco, (2001). 2.2 Ensaios de laboratório Os ensaios de laboratório mais utilizados para determinação dos parâmetros físicos e mecânicos do solo são: determinação do teor de umidade; determinação da densidade aparente e real; granulométrica; determinação dos limites de consistência, de compactação, equivalente de areia, CBR, permeabilidade; compressão simples e triaxial; cisalhamento direto e adensamento. 34 2.2.1 Ensaios para determinação dos parâmetros de resistência dos solos São dois os tipos de ensaios costumeiramente empregados para a verificação da resistência ao cisalhamento dos solos: o ensaio de cisalhamento direto e o ensaio de compressão triaxial. As amostras ensaiadas devem reproduzir as condições atuais da obra ou as condições que se pretende alcançar. 2.2.1.1 Ensaio de cisalhamento direto Este ensaio é o mais antigo procedimento para a determinação da resistência ao cisalhamento e se baseia diretamente no critério de Coulomb. Ou seja, é aplicada uma tensão normal em um plano e verificada a tensão cisalhante que provoca a ruptura (Figura 04). Figura 04: Ensaio de cisalhamento direto: (a) esquema do equipamento; (b) representação do resultado típico do ensaio; Fonte: Pinto (2002, p. 253). 35 Com a realização do ensaio, sob varias tensões normais, traçam-se as envoltórias de resistência. Neste ensaio, o controle das condições de drenagem é extremamente complicado, por não haver como controlar, nem mesmo impedir a drenagem. Quando se deseja medir simplesmente a resistência ao cisalhamento do solo na sua condição consolidada drenada, o ensaio de cisalhamento direto é muito útil. 2.2.1.2 Ensaio de cisalhamento triaxial O ensaio triaxial é o mais comum e versátil para a determinação das propriedades de tensão-deformação e resistência dos solos em laboratório. O ensaio consiste em um estado hidrostático de tensões e de um carregamento axial sobre um corpo de prova cilíndrico de solo. Desta forma o corpo de prova é colocado dentro de uma câmara de ensaio, cujo esquema é mostrado na Figura 05, e envolto por uma membrana de borracha. Esta câmara é cheia com água, e aplica uma pressão, chamada de pressão confinante. A pressão confinante atua em todas as direções, e o corpo de prova fica sob um estado hidrostático de tensões. Figura 05: Esquema da câmara de ensaio triaxial. Fonte: Bastos, (2005). 36 Após, é feito o carregamento axial por meio de aplicação de forças em um pistão que penetra na câmara; neste caso, o ensaio é chamado de ensaio com carga controlada, ou colocando-se a câmara em uma prensa que a desloca para cima, pressionando o pistão, tendo-se o ensaio de deformação controlada. As cargas são medidas através de um anel dinamométrico externo, ou por uma célula de carga intercalada no pistão. Este procedimento tem a vantagem de medir a carga efetivamente aplicada no corpo de prova, eliminando o atrito do pistão na passagem pela câmara. Durante o carregamento, é feita a medição em diversos intervalos de tempo, do acréscimo de tensão axial que está atuando e a deformação vertical do corpo de prova. Esta deformação vertical é dividida pela altura inicial do corpo de prova, dando origem a deformação vertical específica, em função da qual se medem as tensões desviadoras, bem como as variações de volume e de pressão neutra. Estas tensões desviadoras durante a aplicação de carga axial permitem o traçado dos círculos de Mohr correspondentes, como é mostrado na Figura 06 a seguir. A tensão desviadora é representada em função da deformação específica, indicando o valor máximo, que corresponde à ruptura, a partir da qual, define-se o círculo de Mohr. Círculos de Mohr de ensaios feitos em outros corpos de prova permitem a determinação da envoltória de resistência, conforme os critérios de Mohr. Figura 06: Envoltória de resistência obtida com resultados de ensaios de compressão triaxial. Fonte: Bastos, (2005). 37 Na base do corpo de prova e no cabeçote superior existem pedras porosas, permitindo a drenagem através delas, porém a drenagem pode ser impedida por meio de registros apropriados. Se o corpo de prova estiver com elevado nível de saturação e a drenagem for permitida, a variação de volume do solo pode ser determinada por meio do volume de água que sai ou entra no corpo de prova. Para isso, as saídas de água são acopladas a buretas graduadas. No caso de solos secos, a medida de variação de volume só é possível com a instalação de sensores no corpo de prova, internamente a câmara. Com a drenagem impedida em qualquer fase do ensaio, a água ficará sob pressão; e neste caso as pressões neutras induzidas pelo carregamento podem ser medidas por meio de transdutores conectados aos tubos de drenagem. 2.2.1.3 Ensaios triaxiais convencionais No que diz respeito às condições de drenagem, pode se afirmar que existem três tipos de ensaios: ensaio consolidado drenado (CD), ensaio consolidado não drenado (CU) e o ensaio não consolidado não drenado (UU). No presente estudo referencia-se somente o ensaio de cisalhamento triaxial consolidado não drenado (CU), por ter sido o ensaio utilizado na obtenção dos parâmetros de resistência das amostras de solo ensaiadas para a obra objeto de estudo. 2.2.1.4 Ensaio adensado não drenado (CU) Neste caso, é aplicada a pressão confinante deixando-se dissipar a pressão neutra correspondente. Em seguida o corpo de prova é carregado axialmente, sem drenagem. 38 Este ensaio também é chamado de ensaio rápido pré-adensado. Ele indica a resistência não drenada em função da tensão confinante. Se as pressões neutras forem medidas, a resistência em termos de tensões efetivas também é determinada, razão pela qual esse ensaio é bastante empregado, pois permite determinar a envoltória de resistência em termos de tensões efetivas em um prazo muito menor que os outros. 2.3 Tensões nos solos Os solos são formados de partículas e as forças aplicadas a eles são transmitidas de partícula para partícula, além das forças que são suportadas pela água contida nos vazios. O somatório destas forças aplicadas em um plano definido é denominado tensão normal, em que a somatória das forças horizontais, tangente a esta tensão normal, divididas pela área do plano analisado, é denominada tensão cisalhante (Figura 07). Estas tensões dependem diretamente do tipo do mineral e formato dos grãos. Considerando minerais granulares, siltes e areias, que possuem as três dimensões ortogonais semelhantes, com a transmissão das forças de mineral para mineral. No caso de partículas de mineral argila, cujo formato é laminar, as forças são transmitidas com auxílio da água quimicamente adsorvida. Figura 07: Esquema do contato entre grãos para definição de tensões Fonte: Pinto (2002, p. 83). 39 2.3.1 Tensão deformação e resistência dos solos As deformações no solo, que é um sistema de partículas, têm características bastante diferentes de outros materiais. Nos solos, as deformações correspondem às variações de forma ou volume do conjunto. Entende-se que as deformações nos solos aconteçam devido às tensões efetivas, que correspondem à parcela das tensões, referente às forças transmitidas pelas partículas. Basicamente, os problemas geotécnicos são: análise de recalques (deformações) e análise de estabilidade (ruptura). Há alteração das tensões internas dos solos quando estes são submetidos a carregamentos ou descarregamentos. Sendo assim, as tensões efetivas no solo se alteram devido aos seguintes fatores: Compressão das partículas; Flexão de minerais com formato de placa (micas e argilas); Quebra de grãos; Rearranjo das partículas devido ao escorregamento. Este último item esclarece as deformações observadas externamente nos maciços terrosos. 2.3.2 Resistência ao cisalhamento dos solos A ruptura dos solos é quase sempre um fenômeno de cisalhamento, isto acontece quando a tensão admissível resistente é avançada, como, por exemplo, quando uma fundação é carregada até a ruptura ou quando ocorre o escorregamento de um talude. Somente em condições especiais ocorrem rupturas por tração. A tensão de cisalhamento de um solo pode ser definida como a máxima tensão que o solo pode suportar sem sofrer ruptura, ou a tensão de cisalhamento no solo no plano de ocorrência da ruptura. 40 Conforme a equação 2.1 é possível afirmar que a resistência ao cisalhamento é basicamente composta por dois componentes: a coesão e o ângulo de atrito. τ = c + σn . tg φ (2.1) Onde “τ” é a resistência ao cisalhamento do solo, "c" a coesão ou intercepto de coesão, “σn” a tensão normal vertical e "φ" o ângulo de atrito interno do solo. 2.3.3 Atrito A melhor forma de exemplificar o atrito nos solos é através da analogia clássica de um corpo sobre um plano horizontal (Figura 08), em que a força horizontal T, para fazer o corpo deslizar, deve ser superior à força vertical N multiplicada por um coeficiente de atrito entre os dois materiais, podendo ser descrita pela Equação 2.2. T = N . tg φ (2.2) Sendo: φ = ϕ = ângulo de atrito, resultante das duas forças com a normal. Figura 08: Esquema referente ao atrito entre dois corpos; Fonte: Bastos, (2005). Existem diferenças entre a transmissão das forças nos contatos entre grãos de areia e nos de argila. 41 Para as areias, os contatos ocorrem diretamente entre as partículas, pois a força nestes contatos é grande o suficiente para expulsar a água contida na superfície dos grãos. Nas argilas, por existir um número muito maior de partículas, a força aplicada num único contato é inferior, não sendo suficiente para expulsar as moléculas de água adsorvidas quimicamente, sendo elas responsáveis pela transmissão das forças. A Figura 09 exemplifica a transmissão de forças entre grãos de areias e argilas. Figura 09: Transmissão de forças entre partículas de areia e argila; Fonte: Pinto (2002, p. 250). 2.3.4 Coesão O atrito entre as partículas é o que realmente diz respeito à resistência ao cisalhamento. No entanto, existe uma parcela de resistência independente da tensão normal, agindo no plano que se define como coesão real. Isso ocorre devido a um fator físico-químico que tem importância no caso das argilas, pois é nas frações coloidais que as forças intergranulares são significativas em relação às massas das partículas. A coesão real não pode ser confundida com a coesão aparente. Esta última ocorre em solos úmidos não saturados, e está mais relacionada com o fenômeno do atrito, eis a origem do nome aparente. 42 2.3.5 Critérios de ruptura Estes critérios são formulações que procuram refletir as condições em que ocorre a ruptura. A aplicação de carga sobre um terreno faz com que as partículas reajam até a estabilização, fator esse que gera uma deformação. Quando esta solicitação se torna superior a resistência que o solo pode suportar, as partículas se deslocam de forma a descaracterizar o formato original do maciço de solo, definindo-se como ruptura do solo. Os critérios de ruptura que melhor explicam o comportamento dos solos são o de Coulomb e de Mohr. O critério de Coulomb é expresso como: ...não há ruptura se a tensão de cisalhamento não ultrapassar um valor dado pela expressão c+f.σ, sendo c e f constantes do material e σ a tensão normal existente no plano de cisalhamento”, onde c é a coesão e f o coeficiente de atrito interno, que pode ser expresso como a tangente do ângulo de atrito interno (PINTO, 2002, p. 251). O critério de Mohr é expresso como: ...não há ruptura enquanto o círculo representativo do estado de tensões se encontrar no interior de uma curva, que é a envoltória dos círculos relativos a estados de ruptura, observados experimentalmente para o material (PINTO, 2002, p. 251). A envoltória curvilínea é substituída por uma reta, que melhor se ajusta a curva. A definição da reta deve levar em consideração o nível de tensões do projeto em análise. Definida a reta, define-se o intercepto de coesão, coeficiente que expressa à resistência em função da tensão normal. Na Figura 10, é notável a semelhança entre os critérios de Coulomb e Mohr, justificando a expressão critério de “Mohr-Coulomb”. 43 Figura 10: Representação dos Critérios de Ruptura (a) Coulomb, (b) Mohr. Fonte: Pinto (2002, p. 251). Ambos os critérios citados indicam a importância da tensão normal no plano de ruptura. O plano de ruptura (Figura 11) ocorre num plano que faz um ângulo α igual a (45° + ϕ /2), com os planos principais em que estiver agindo a tensão normal indicada pelo segmento AB e a tensão cisalhante BC. No segmento DE observa-se a tensão cisalhante máxima, maior que BC. Neste plano, a tensão normal AD garante uma resistência ao cisalhamento superior a tensão cisalhante atuante (PINTO, 2002). Figura 11: Análise do estado de tensões no plano de ruptura Fonte: Pinto (2002, p. 252). 44 2.3.6 Resistência das argilas As argilas apresentam baixa permeabilidade (condutividade hidráulica), por esta razão é importante o conhecimento de sua resistência em termos de carregamento drenado e de carregamento não drenado. Argilas sedimentares se formam com elevados índices de vazios. Quando apresentam um índice de vazios baixo, significa que sofreram um préadensamento. Desta forma, se forem moldados diversos corpos de prova com diferentes índices de vazios iniciais, após alcançarem a tensão de préadensamento correspondente, as curvas de tensão-deformação de cada corpo de prova se fundem em uma única reta virgem, conforme indicado na Figura 12. Portanto, a resistência de uma argila depende diretamente do índice de vazios que ela se encontra, este índice é fruto das tensões a que esta argila foi submetida. Figura 12: Variação de índice de vazios em carregamento isotrópico; Fonte: Pinto (2002, p. 284). 2.3.7 Resistência das argilas em termos de tensões efetivas Como visto, a resistência ao cisalhamento de um maciço qualquer, depende primordialmente do atrito entre as partículas, conseqüentemente das 45 tensões efetivas, ainda que na maioria dos casos, a água nos poros esteja sob pressão. Em face de sua baixa permeabilidade, o dimensionamento dos maciços argilosos é realizado em condição não-drenada. Entretanto, é possível realizálo em condição drenante em termos de tensões efetivas, desde que se leve em consideração as pressões neutras provocadas pela água contida em seus vasos capilares. A envoltória de Mohr obtida estará expressa pela Equação 2.1 da reta de Coulomb. Caso seja mantida no ensaio de compressão triaxial CD, a pressão de confinamento superior a pressão de pré-adensamento (σa), e a amostra estiver em condições de normalmente adensada e saturada, a reta obtida para as envoltórias de Mohr passará pela origem do eixo das coordenadas, dando a estas argilas uma expressão para a resistência ao cisalhamento semelhante a das areias. Caso a pressão de pré-adensamento seja superior, a envoltória é curva. Porém, para efeitos de trabalho, esta é substituída por uma reta que melhor represente a envoltória. Perante tais colocações, Pinto (2002) apresenta as seguintes observações: Quando o solo é ensaiado sob tensão confinante inferior a tensão de pré-adensamento, a tensão axial cresce mais rapidamente em função da deformação, e o acréscimo máximo desta tensão ocorre para menores deformações, tanto menor, quanto maior a razão de sobreadensamento. A máxima tensão desviadora suportada é maior do que a correspondente para a mesma tensão confinante, para o mesmo solo na situação de normalmente adensado, e a diferença é tanto maior, quanto maior a razão de sobre-adensamento. A tensão desviadora máxima é bem distinta, ocorrendo sensível redução da tensão axial para maiores deformações. A diminuição de volume durante o carregamento axial é menos acentuada do que no caso do solo ser normalmente adensado, podendo ocorrer mesmo que o solo apresente um aumento de 46 volume, após uma inicial redução, no caso da razão de sobreadensamento. Ao realizarem-se ensaios de compressão axial em argilas, poderá ocorrer que alguns ensaios sejam realizados com tensões confinantes acima e outros abaixo da tensão de pré-adensamento. Isto porque, as argilas no seu estado natural apresentam certa tensão de pré-adensamento. Foram ensaiadas amostras de argilas variegadas, extraídas da cidade de São Paulo e outras argilas de diversas procedências. Os resultados obtidos por Pinto (2002), expressos em função do índice de plasticidade estão apresentados na Tabela 08 abaixo: Tabela 08: Valores típicos de ângulo de atrito interno efetivo para tensões acima da tensão de pré-adensamento; Ângulo de atrito interno efetivo (°) Índice de Plasticidade Geral São Paulo 10 30 a 38 30 a 35 20 26 a 34 27 a 32 40 20 a 29 20 a 25 60 18 a 25 15 a 17 Fonte: Pinto (2002, p. 288). 2.4 Movimentos de massa Destaca-se como um dos principais processos geomorfológicos responsáveis pela evolução do relevo, sobretudo em áreas montanhosas. Remobilizam os materiais ao longo das encostas, em direção às planícies, e promovem, juntamente com os processos erosivos, o recuo das encostas e a formação de rampas coluviais. Entretanto, quando ocorrem em áreas ocupadas, podem se tornar um problema, causando mortes e prejuízos materiais. 47 A classificação é complexa, pois pode haver uma grande variedade de materiais e processos envolvidos. Devem ser levados em conta, parâmetros como: velocidade e geometria, mecanismo do movimento, características dos materiais, padrão e quantidade de fluxo de água. 2.4.1 Classificação dos movimentos de massa quanto ao tipo de movimento De uma maneira geral, as classificações modernas baseiam-se na combinação dos seguintes critérios básicos: Velocidade, direção e recorrência dos deslocamentos; Natureza do material instabilizado (solo, rocha, detritos e depósitos); Textura, estrutura e grau de saturação do maciço; Geometria das massas movimentadas; Tipo de deformação do movimento. O movimento de massa admite diferentes classificações, a partir das diferentes características do movimento gravitacional do regolito. As principais características são o tipo e a velocidade do movimento, a natureza do material envolvido e a quantidade de água presente no material em movimento. De uma forma simplificada, os movimentos gravitacionais do regolito, associados as encostas, podem ser assim classificados: Rastejo: é o movimento mais lento do regolito. Dependendo do material em movimento, fala-se em rastejo de tálus, rastejo de solo ou rastejo de rocha. A velocidade do rastejo, medida em milímetros por ano, é maior na superfície e diminui gradualmente até zero com a profundidade; Escorregamentos: as condições essenciais para o escorregamento são a falta de estabilidade da frente das encostas e a existência de superfícies de deslizamento. Tais condições ocasionam movimentos 48 rápidos e de curta duração, com velocidades medidas em metros por hora ou metros por minuto, com planos de ruptura bem definidos entre o material deslizado e o não movimentado; Corridas de Massa: se o solo e/ou o regolito, já sujeitos ao rastejo, estão saturados de água, a massa encharcada poderá mover-se encosta abaixo alguns centímetros ou decímetros por hora ou dia. A saturação da massa de solo, causada por chuvas de intensidade elevada, poderá levar a comportar-se como um fluido viscoso com deslocamentos rápidos (velocidades de metros por segundo), ao longo das linhas de drenagem ou talvegue na forma de avalanches; Quedas: são movimentos de blocos e fragmentos de rochas, a partir de afloramentos verticais e salientes, em queda livre ou pelo salto e rolamento ao longo de planos inclinados, com declividades altas, sem a presença de uma superfície de deslizamento. Estes movimentos apresentam velocidades muito altas, da ordem de metros por segundo. 2.4.2 Causas dos escorregamentos As causas dos escorregamentos podem estar ligadas a fatores extrinsecos (aumento das solicitações) e/ou intrínsecos (redução da resistência do maciço). Entre os fatores que agem externamente estão as sobrecargas excessivas no topo do maciço terroso; descarregamentos, tais como escavações no pé do talude, vibrações e até remoção do suporte de sustento na base do talude (por exemplo, cavernas). Como fatores extrínsecos encontram-se: o intemperismo físico-químico dos minerais, modificação estrutural e aumento da poropressão. (GEORIO, 2000). 49 2.5 Estabilidade de taludes de terra A Norma NBR-11682/1991 define um talude artificial como sendo o talude formado, ou modificado, pela ação direta do homem e um talude natural como sendo um talude formado pela ação da natureza, sem interferência humana. Segundo Caputo (1988), talude compreende quaisquer superfícies inclinadas que limitam um maciço de terra, de rocha ou de terra e rocha. Podem ser naturais, caso das encostas, ou artificiais, como os taludes de cortes e aterros. Sua geometria é definida conforme se apresenta na Figura 13. Teoricamente, considera-se um talude como uma massa de solo submetida a três campos de forças: as devidas ao peso, ao escoamento da água e a resistência ao cisalhamento. O estudo da análise da estabilidade dos taludes deve levar em conta o equilíbrio entre essas forças, uma vez que as duas primeiras se somam e tendem a movimentar a massa de solo encosta abaixo, enquanto a última atua como um freio a essa movimentação. Crista do talude Pé do talude θp H E θm Figura 13: Definições quanto à geometria de taludes. Fonte: NBR-11682(p.16) Sendo: H: Altura do talude; E: Extensão do talude; 50 θm: Ângulo médio do talude; θp: Ângulo parcial do talude; Pé do talude: Ponto mais baixo; Crista do talude: Ponto mais alto. Uma análise de estabilidade de taludes tem por objetivo examinar a condição de segurança existente e a eventual necessidade de medidas preventivas ou corretivas, obras de reforço de solos. A estabilidade de obras de terra é elaborada por meio de métodos de análise de estabilidade. Este grau é expresso de forma determinística, através de um fator de segurança (FS). Outra forma de obtenção do grau de estabilidade, ou seja, do fator de segurança, é através de técnicas probabilísticas, as quais levam em consideração as incertezas relacionadas com a forma de determinação dos dados e dos métodos a serem utilizados na análise. A escolha do método de análise mais apropriado dependerá da forma de obtenção dos parâmetros geotécnicos, da geometria da obra e do risco de perdas de bens materiais e vidas humanas. No estudo de estabilidade de taludes define-se o coeficiente de segurança (FS) pela Equação 2.3 (MASSAD, 2003). F= s τ (2.3) Onde: s = resistência ao cisalhamento do solo; τ = tensão cisalhante atuante. Considera-se um talude instável com fatores de segurança inferiores a unidade. Em alguns casos com FS > 1,0 considera-se o talude instável. Tal afirmativa é motivada pelas simplificações dos principais métodos de análise e pela variabilidade dos parâmetros geotécnicos e geométricos envolvidos nas análises (GEORIO, 2000). Para a definição do fator de segurança admissível (FSadm), faz-se uso da Tabela 09, que apresenta valores recomendáveis para o 51 FSadm correlacionados com os riscos, tanto de bens materiais como de perdas de vidas humanas. Tabela 09: Fatores de segurança admissíveis recomendados; RISCO DE PERDA DE VIDAS HUMANAS FS Adm RISCO DE PERDAS ECONÔMICAS Desprezível Médio Elevado Desprezível 1,1 1,2 1,4 Médio 1,2 1,3 1,4 Elevado 1,4 1,4 1,5 Fonte: Georio, (2000). 2.5.1 Métodos de análise de estabilidade Os métodos utilizados para análise de estabilidade de taludes em sua grande parte baseiam-se no critério do equilíbrio limite. Este critério admite uma superfície de ruptura, que é conhecida ou arbitrada a uma massa instável na iminência de entrar em colapso, devendo ser satisfeito o critério de ruptura de “Mohr-Coulomb” e um coeficiente de segurança único ao longo da superfície de ruptura. Analisa-se o equilíbrio desta massa, assumindo-se valores para as forças atuantes e calculando-se a força de cisalhamento resistente necessária. Esta força necessária é comparada com a resistência ao cisalhamento disponível, resultando um coeficiente de segurança (MASSAD, 2003). Segundo Massad (2003), dos métodos existentes para análise de estabilidade que se baseiam no critério descrito no parágrafo precedente, podem-se citar: Método dos Círculos de Atrito: analisa o equilíbrio de um corpo livre como um todo; Método Sueco: considera a linha de ruptura circular, divide o corpo livre em diversas lamelas verticais e considera o equilíbrio de cada lamela; 52 Método das Cunhas: considera um corpo livre subdividido em cunhas e analisa o equilíbrio entre elas e o restante do maciço, de forma que a cunha situada na parte inferior contribui para a estabilidade da superior, mobilizando-se as resistências ao cisalhamento nas superfícies de ruptura e de contato entre as cunhas. O Método Sueco consiste em dividir a massa instável em fatias, aplicando-se as seguintes equações de equilíbrio, com as incógnitas representadas na Figura 14: ∑ Forças Horizontais = 0 (2.4) ∑ Forças Verticais = 0 (2.5) ∑ Momentos = 0 (2.6) Figura 14: Forças atuantes em uma fatia genérica; Fonte: Massad (2003, p. 47). Onde: ℓ: Largura da lamela genérica; U: Forças resultantes das pressões neutras; E: Componentes horizontais atuantes na lateral direita da fatia; X: Componentes verticais atuantes na lateral direita da fatia; P: Peso da Fatia; T: Força tangencial atuante na base da fatia; N: Força Normal atuante na base da fatia. 53 Como mostrado na Figura 13, “T” pode ser expresso pela equação 2.7: (2.7) Fica claro que se aplicando as Equações 2.4, 2.5 e 2.6, chega-se a um sistema em que o número de incógnitas é superior ao número de equações, portanto, um sistema indeterminado. Para isto, faz-se necessário o uso de hipóteses simplificadoras, e são estas hipóteses que diferenciam os diversos métodos de análise de estabilidade de taludes, com uso da metodologia sueca e que caracteriza o grau de conservação para lidar com o estudo. 2.5.2 Método de Janbu simplificado Esta é uma simplificação do primeiro método generalizado de lamelas criado por Janbu em 1955, o qual se baseia no equilíbrio de forças e momentos. Esta simplificação trabalha como o Método de Bishop Simplificado, considerando-se o equilíbrio de forças e desprezando as componentes verticais e tangenciais às laterais das fatias. O método é adotado para qualquer superfície de ruptura, seja ela circular ou irregular. Seu fator de segurança pode ser obtido pelas Equações 2.8 e 2.9. (2.8) (2.9) 54 O método de Janbu Simplificado (1973), sugeriu a fórmula para satisfazer parcialmente o equilíbrio de momentos, foi a inserção de um fator de correção empírico f0 que depende do tipo do solo e da forma da superfície de deslizamento, para tanto pode-se utilizar o ábaco da Figura 15. Figura 15: Variação do fator f0 em função do parâmetro d/L e do tipo do solo; Fonte: PUC – Rio (2003). 2.5.3 Influência da água no solo e em estruturas de contenção Obras de terra são constantemente afetadas pela presença de água. Assim sendo, faz-se necessário estudos mais aprofundados para que seja determinada a influência da água no solo. Já em questão da estabilidade de obras de terra, a presença de água ocasiona tensões internas que originam as pressões neutras, e são destas pressões que são extraídas as tensões efetivas que governam a resistência dos solos. 55 Os métodos de cálculo de empuxo tratam apenas do empuxo efetivo do solo sobre a estrutura de contenção, que é considerada perfeitamente drenante. Caso a estrutura seja impermeável ou possua um sistema de drenagem ineficiente, pode ocorrer uma elevação do nível de água no solo, provocado, por exemplo, por chuvas intensas. Neste caso, a contenção passa a suportar também, o empuxo hidrostático (Eh) provocado pela água. O efeito do empuxo hidrostático (Eh) sobre a contenção é sempre contrário à estabilidade. Se a contenção for totalmente impermeável, com nível de água na superfície do solo, hipótese mais desfavorável, o valor do empuxo ativo total (solo + água) atuando na mesma, pode chegar ao dobro do empuxo do solo, comparado com a situação em que a contenção é permeável com nível de água profundo. Com base nesta afirmativa, pode-se concluir que é de fundamental importância, dotar as estruturas de contenção de sistemas de drenagem adequados, com vistoria e manutenção freqüentes. 2.6 Obras de Contenção O solo em suas propriedades originais pode não possuir características geológicas; geotécnicas satisfatórias para realização de determinadas obras, como taludes de corte e taludes de aterro (íngremes ou não), barragens de terra, etc. Medidas corretivas podem ser utilizadas para possibilitar a execução de determinadas obras, como o caso das técnicas de contenção de taludes. Dentre os mais utilizados listam-se os seguintes: Cortina Atirantada; Solo Grampeado. Os métodos acima visam fornecer condições de estabilidade a obras de contenção. De forma geral, consistem em introduzir nos solos, tirantes ou grampos de aço que possuam alta resistência à tração. 56 Além das vantagens de melhorias das características intrínsecas dos solos, há ainda a possibilidade de possibilidade de serem executados em geometrias alternativas torna-os econômica e esteticamente viáveis. 2.6.1 Cortina Atirantada A estabilização de taludes e escavações é obtida pelas tensões induzidas no contato solo face, as quais, em última análise, elevam o fator de segurança da superfície potencial de ruptura. Isso é possível através da protensão de tirantes que devem ser compostos por um trecho livre, a partir da face externa do talude, e um trecho injetado com calda de cimento, após a superfície potencial de ruptura. O dimensionamento estrutural da cortina é muito importante, haja vista o punsionamento causado pela aplicação de elevadas cargas nos tirantes. Neste caso, a execução é feita por etapas. Somente a primeira linha é escavada. Em seguida, são feitas as perfurações e a inserção dos tirantes, que são chumbados em nichos no fundo do orifício. Cada tirante é pintado com tinta epóxi anticorrosiva e envolvido em um tubo de borracha individual. O conjunto de tirantes é inserido num tubo coletivo e, já dentro do orifício, é revestido com calda de cimento. As placas são acondicionadas e os tirantes protendidos. Em seguida, é feita a escavação da segunda linha. A carga de protensão aumenta conforme a profundidade. 2.6.2 Solo Grampeado A técnica de “Soil Nailing” ou “Solo Grampeado” vem sendo utilizada há cerca de quatro décadas. Trata-se de uma estabilização rápida, temporária ou permanente de taludes naturais ou provenientes de escavações, obtida por meio da inclusão de elementos resistentes à flexão composta, denominados de grampos ou chumbadores, aliada a revestimento de concreto projetado e tela metálica (ZIRLIS, 1988). 57 Os grampos são instalados sub-horizontalmente de forma a introduzir esforços resistentes de tração e cisalhamento. São aplicados geralmente, tanto na estabilização de taludes naturais quanto em escavações. 2.7 Solo Grampeado 2.7.1 Histórico A necessidade de estabilização rápida em escavações teve sua origem nas minas de exploração de minérios, sendo, portanto um problema antigo e basicamente restrito à engenharia de minas. A partir da década de 50, houve um crescimento muito grande da aplicação de ancoragens curtas, tipo Perfo, Sn Anker, Berg-Jet, para estabilização de túneis e emboques de túneis, na França, Alemanha e Áustria (ZIRLIS, 1988). A partir de 1945, o professor Ladislau von Rabcewicz desenvolveu o NATM (“New Austrian Tunneling Method”) para avanço de escavações em túneis rochosos, cuja patente foi depositada em 1948. Sob efeito do peso de terras e tensões confinantes, uma cavidade tende a se deformar, reduzindo seu diâmetro. Na circunvizinhança da cavidade se forma a chamada zona plástica, com tensões radiais crescentes. Obtinha-se a estabilização com a aplicação, logo após a escavação, de um revestimento flexível de concreto projetado, tela metálica e chumbadores curtos radiais na zona plástica, com controle de deformações da cavidade. Este revestimento estaria, portanto sujeito a uma carga reduzida, face às deformações já havidas. O método evoluiu para a aplicação num túnel em xisto grafítico argiloso (túnel Massemberg), em 1964. Seguiu-se com as aplicações em solo pouco competentes, como aqueles encontrados nas minas austríacas, substituindo pesados escoramentos de madeira por finas camadas de concreto projetado e chumbadores. Em 1970, Lizzi apresentou seu processo de estabilização de encostas em solo com chumbadores integrais longos não protendidos, executados em várias inclinações e fixados às vigas de concreto armado, denominando o processo de “Urditura Tridimenzionale Pali Radice”. Na França, 58 em 1972, a empresa Bouygues, com a experiência adquirida no NATM, em consórcio com a Soletanche, aplicou o sistema de solo grampeado para um talude ferroviário próximo a Versailles. Os taludes eram em arenitos com inclinação de 70 graus e área total de 12.000 m². Do sucesso desta obra decorreu a intensificação do uso do método para escavações e taludes neste país. Até 1986, cerca de 12.000 m² foram estabilizados e diversos programas de pesquisas estão em desenvolvimento (ZIRLIS, 1988). O desenvolvimento desta tecnologia na Alemanha Ocidental teve seu início em 1975, uma associação dirigida pela empresa Karl Bauer AG, a Universidade Karlsruhe e o Ministério da Pesquisa e Tecnologia, por meio de um programa de 4 anos para estudo de 8 modelos em escala real, analisados por Stocker, Gudehus e Gassler (1979). São poucas as publicações alemãs; porém, conforme Gassler e Gudehus (1981), já foram executadas mais de duas dezenas de obras desta natureza, com pleno sucesso (ZIRLIS, 1988). Nos Estados Unidos o sistema foi empregado em 1976, nas escavações para construção do Hospital “Good Samaritan” em Portland, Oregon, pela empresa Kulchin e Consorciados. Entretanto, cerca de 10.000m² de contenções com alturas de até 18 m foram executadas anteriormente a 1976, no Canadá. Um programa de pesquisas da Universidade da Califórnia foi conduzido por Shen (1981), com ensaios em modelos instrumentados e em escala real. Até o final da década de 70, engenheiros das três grandes potências realizaram seus trabalhos isoladamente, sem troca de informações. A partir de então, em 1979 houve uma conferência em Paris sobre o assunto, que permitiu em função da exposição das obras já executadas e estudos, um grande aumento nas obras projetadas e executadas (ZIRLIS, 1988). No Brasil o desenvolvimento da técnica de solo grampeado pode ser subdividido em duas fases: a fase empírica e a fase atual. A fase empírica iniciou em 1966, em que a empresa suíça radicada no Brasil, Ródio Perfurações e Consolidações, aplicou apenas concreto projetado e tela metálica para estabilização de taludes na barragem de Xavantes. Por volta de 1970, a técnica foi aplicada com base na experiência de construtores em NATM, sem um esforço de análise do comportamento, utilizando tratamento com chumbadores curtos, concreto projetado e tela metálica nos emboques do túnel-05 do Sistema Cantareira de Abastecimento de água para 59 São Paulo. A partir de 1972, foram aplicadas contenções por chumbadores, perfurados e injetados com calda de cimento ou somente cravados, e reticulados de microestacas nos túneis e taludes da Rodovia dos Imigrantes. A fase atual, com obras mais arrojadas foi iniciada recentemente, tendo sido projetada de uma maneira racional, através dos métodos de análise. A literatura divulgada sobre a aplicação do solo grampeado no Brasil vem crescendo, porém sabe-se que muitas obras permanentes já foram executadas e não foram escopos de trabalhos técnicos. Pretendendo-se compor um histórico nacional sobre a utilização de solo grampeado Abramento, Koshima e Zirlis (1998) realizaram uma pesquisa entre técnicos da área geotécnica, no período de 1983 a 1996. O resultado alcançado foi o número de 60 obras num total de 45.923 m², sendo todas de caráter permanente e em solo. Em 18 casos foi utilizada uma rotina de cálculo e houve somente um caso instrumentado, embora todos tenham indicado bom desempenho visual das obras. Não se sabe de obra projetada neste sistema que após sua execução se mostrou inadequada ou teve de ser alterada para outro método de contenção. 2.7.2 Conceitos O princípio do solo grampeado é o mesmo utilizado na técnica NATM de execução de túneis, na qual se aplica um suporte flexível que permite que o terreno se deforme, criando uma região plastificada no entorno da escavação, conforme pode ser observado na Figura 16. Figura 16: Comparação do NATM com a técnica convencional de revestimento rígido. Fonte: Ortigão, Zirlis e Palmeira, (1993). 60 O grampeamento promove um reforço do solo por meio da inclusão de elementos resistentes à flexão composta, denominados grampos (barras de aço, barras sintéticas de seção cilíndrica ou retangular, micro-estacas, ou estacas, em casos especiais). Os grampos são instalados sub-horizontalmente de forma a introduzir esforços resistentes de tração e cisalhamento. São aplicados, geralmente, tanto na estabilização de taludes quanto em escavações. Isso pode ser observado na Figura 17. Figura 17: Aplicações da técnica do solo grampeado Fonte: GeoRio, (1999). Os engenheiros brasileiros tiveram grande facilidade na absorção da técnica, isso se deve ao fato de que tinham grande familiaridade com as cortinas ancoradas, que foram introduzidas no país em 1957. Porém, a experiência obtida com o uso de chumbamento de abóbadas de túneis construídos pelo método NATM, também foi de suma importância para o desenvolvimento da técnica no Brasil. O método compreende também uma camada de concreto projetado, o qual exerce pouca influência na estabilidade do talude, e a sua função principal é evitar a desagregação do solo da superfície. O equilíbrio é mantido graças 61 ao funcionamento em conjunto dos grampos e do solo que os envolve, e que agem como uma estrutura estável que suporta o solo. Em um primeiro momento, os elementos resistentes (grampos) instalados não alteram o estado de equilíbrio do maciço. Logo que se escavam as bancadas do corte, iniciam-se os deslocamentos e a cada etapa de escavação surge uma nova deformação. As deformações maiores se dão na crista do talude, as quais decrescem até próximo de zero no pé do mesmo. As velocidades de deslocamento são decrescentes, tendendo a zero. Isso atesta o estado de equilíbrio alcançado após o alívio de tensões, oriundo das deformações controladas (GUIMARÃES FILHO, 1994). 2.7.3 Execução da técnica O processo executivo de solo grampeado é realizado em fases sucessivas de corte do terreno e colocação do grampo. O procedimento de corte pode ser ascendente ou descendente (do topo em direção ao pé do talude). Quando o material da região escavada é estável, os grampos são imediatamente instalados; fato contrário pode-se aplicar uma fina camada de concreto projetado, a fim de minimizar os deslocamentos prévios dos cortes antes do grampeamento. Os equipamentos utilizados na escavação devem perturbar o mínimo possível o material a ser escavado. Caso existam áreas desagregadas de solo na face escavada, as mesmas devem ser retiradas. Quando aplicado em escavações, são quatro as etapas constituintes do reforço com grampos: escavação da camada; perfuração do solo; introdução dos elementos resistentes e proteção da face (revestimento do paramento). Já para o caso de estabilização de taludes naturais, apenas as três últimas etapas são executadas. Após o término de um ciclo inicia-se nova escavação, dando continuidade ao processo. A Figura 18 ilustra as fases de execução da técnica do solo grampeado. 62 Figura 18: Construção de estrutura em solo grampeado em escavações com equipamentos mecânicos Fonte: Zirlis et al, (1999). No decorrer das escavações, é sujeito à descompressão lateral. Finalizada a execução, em geral os valores máximos de deslocamentos verticais e horizontais ocorrem no topo. Estes deslocamentos no topo do paramento são dependentes de alguns fatores, tais como: seqüência construtiva; altura das faces de escavação; espaçamento entre grampos; comprimento dos grampos; fator de segurança global admitido; razão entre o comprimento do grampo/altura do muro e inclinação dos grampos. Caso os deslocamentos laterais no topo sejam excessivos, pode ser utilizado o recurso de estruturas mistas, que consistem em uma estrutura de solo grampeado enrijecido com tirantes nas primeiras linhas de reforço. 63 2.7.4 Fases de execução Fase I Escavação da camada de solo Figura 19: Escavação da camada de solo. Fonte: Clouterre, (1991). Fase ll Perfuração do Solo Figura 20: Perfuração do solo. Fonte: Clouterre, (1991). Fase lll Introdução dos elementos resistentes Figura 21: Introdução dos elementos resistentes. Fonte: Clouterre, (1991). Fase lV Proteção da superfície Figura 22: Proteção da superfície. Fonte: Clouterre, (1991). 64 2.7.4.1 Escavação da camada de solo O corte do solo é iniciado conforme especificação em projeto. As escavações devem ser realizadas em bancadas quando possível, com profundidades variando entre 1 a 2m, em função do tipo de solo. Em geral, os solos capazes de serem grampeados são areias consolidadas, areias úmidas com coesão capilar, argilas adensadas e rochas brandas. No caso de solos arenosos, alturas superiores a 2,0m ou inferiores a 0,5m são raras. Em argilas sobreadensadas podem se alcançar profundidades superiores a 2m (BRUCE e JEWELL, 1987). Para cortes verticais, Gässler (1990), indicou profundidades de cada estágio de escavação em função do tipo de solo, conforme Tabela 10. Tabela 10: Altura das etapas de escavação; Tipo de Solo Incremento de Escavação (Hescav) Pedregulho 0,5m 1,5m (com coesão aparente) (solo com cimentação) 1,2m (medianamente 1,5m 2,0m Areia compacta, com (compacta, com (com cimentação) coesão aparente) coesão aparente) 2,0m Silte 1,2m (função do teor de humidade) 1,5m 2,5m Argila (normalmente consolidada) (sobreadensada) Fonte: Gässler, (1990). No decorrer da escavação, o solo deve permanecer estável. Assim como em outras técnicas de contenção, a execução de uma estrutura em solo grampeado envolve uma fase crítica durante o processo executivo que corresponde a uma instabilidade local (função da altura de solo a ser escavada). Se o solo não se sustentar pelo período de tempo necessário, sua face recém escavada deve ser estabilizada imediatamente (LIMA, 2007). Lima Filho (2000) recomenda uma inclinação de 5º a 10º do paramento, em relação à vertical, para obter-se um ganho na estabilidade geral do conjunto na fase construtiva. Quanto maior a inclinação, melhor o ganho na estabilidade do conjunto. Outro procedimento que pode ser realizado para minorar os deslocamentos do talude em solo grampeado, durante as etapas construtivas, 65 é a realização da escavação em bermas ou nichos, como pode ser observado na Figura 23. Figura 23: Processo de escavação em bancadas. Fonte: Lazarte et al., (2003). 2.7.4.2 Perfuração do solo O método de perfuração deverá ser escolhido de forma que a cavidade permaneça estável até a conclusão dos serviços. A perfuração é executada com um trado ou equipamento motorizado de fácil manuseio e pode ser que não haja necessidade de revestimento das paredes do furo. No processo de perfuração, utiliza-se água ou ar comprimido. O uso de lama bentonítica não é recomendado, devido a potencial redução do atrito entre o solo e o reforço; caso seja utilizada, recomenda-se a execução de lavagem eficiente do furo com calda de cimento. Os equipamentos para a perfuração pesam entre 0,05kN (5 kgf) e 10kN (1000kgf), portanto leves, de fácil transporte, manuseio e operação em qualquer talude, uma vez que geralmente as perfurações são de pequeno diâmetro chegando a 200mm e com comprimentos que chegam a 25m (SPRINGER, 2006). Para maiores diâmetros e comprimentos são utilizados equipamentos de maior porte, como sondas perfuratrizes, porém, com restrições de acesso a áreas acidentadas. 66 2.7.4.3 Introdução dos elementos resistentes Os grampos ou elementos resistentes são inclusões semi-rígidas capazes de resistir à tração e ao cisalhamento. Os grampos podem ser introduzidos no maciço por meio de pré-furo, seguido pela introdução de elemento metálico e preenchimento do furo com material cimentante (grampo injetado) ou por cravação direta de elementos metálicos (grampo cravado). Novos materiais sintéticos e compostos são pesquisados e tem levado à utilização dos plásticos reforçados por fibras (FRP - Fiber reinforced plastics), que são imunes à corrosão por uma grande maioria de agentes agressivos (Ortigão, 1995). As barras de FRP são produzidas por um processo denominado pultrusão e o produto final apresenta grande resistência à tração (até três vezes a do aço) e baixo peso específico, mas o custo é mais elevado. O uso do plástico reforçado só é recomendado em ambientes de extrema agressividade (SPRINGER, 2006). 2.7.4.3.1 Grampos Injetados Este procedimento exige pré-furo, quando finalizada a perfuração, segue-se à instalação e fixação dos elementos de reforços (grampos). No Brasil, os grampos são geralmente feitos de aço, do tipo CA-50, DYWIDAG, Resinex, Incotep ou Rocsolo de 12,5mm a 41mm (Tabela 11). Tabela 11: Tipos de barras de aço; Aço Seção Dywidag Gewi ST 50/55 Plena Diâmetro (mm) 32mm Dywidag ST 85/105 Plena 32mm CA 50 A Plena Entre 12,5 e 32,0mm CA 50 A Reduzida com rosca Entre 12,5 e 32,0mm Rocsolo ST 75/85 Rosqueada Entre 14,0 e 41,1mm Incotep Rosqueada Entre 19,0 e 50,0mm Resinex Rosqueada Entre 14,0 e 41,1mm Fonte: GeoRio,(1999). 67 Depois das barras terem sido introduzidas nos furos e posicionadas com o auxílio de centralizadores, os vazios são preenchidos com fluído cimentante qualquer; geralmente, calda de cimento com elevado teor de cimento. A injeção de calda de cimento é exercida por meio de tubulação acessória, injetando-se a calda de cimento do fundo para a superfície (processo ascendente), preenchendo-se totalmente a cavidade. A Figura 24 mostra uma seção típica do grampo injetado. Nota-se a presença de centralizadores que têm a função de evitar o contato do elemento metálico com o solo. Desta forma, garante-se uma espessura constante de material cimentante ao redor da barra. A extremidade do grampo pode ser dobrada ou fixada com placa e porca, junto ao revestimento de concreto projetado. Unido à barra, pode-se prever a instalação de um ou mais tubos de reinjeção perdidos, de polietileno ou similar, com diâmetro de 8 a 15 mm, providos de válvulas a cada 0,5 m, a até 1,5 m da boca do furo. A quantidade de tubos depende das fases de injeção previstas, e deve-se considerar um tubo para cada fase. Sugere-se que todo grampo receba, pelo menos, uma fase de re-injeção além da bainha. A re-injeção (segunda injeção), além de promover a melhor ancoragem do grampo, trata o maciço, adensando-o e preenchendo fissuras (SPRINGER, 2006). Figura 24: Detalhes dos grampos injetados Fonte: Manual de serviços geotécnicos- SOLOTRAT, (2009). 68 Souza et al.(2005) apresentam os resultados da escavação de 12 grampos, examinando detalhes relativos a diferentes estágios de injeção. Nos grampos com apenas injeção de preenchimento do furo (bainha), verificou-se que a exsudação da calda de cimento provoca vazios em grande parte do furo, não reconstituindo totalmente, o desconfinamento provocado pela perfuração. Se a injeção do grampo não promove um perfeito preenchimento do furo, o grampo tem sua função prejudicada. Nos grampos que receberam uma re-injeção, após a execução da bainha, houve o preenchimento dos vazios causados pela exsudação da calda de bainha. Este fato foi comprovado pela coloração diferente da calda de re-injeção. Esta reinjeção reconstitui o confinamento do furo e possibilita o tratamento do solo no entorno do grampo, promovendo uma redução dos deslocamentos da contenção. Zirlis e Pitta (2000) recomendam que a bainha (primeira injeção ou injeção de preenchimento do furo) seja injetada por tubo auxiliar removível, de forma ascendente, com calda de fator água/cimento próximo de 0,5 (em peso), proveniente de misturador de alta turbulência, até o seu extravasamento na boca do furo. Sugerem ainda que a re-injeção seja realizada após um tempo de cura da bainha, com um mínimo de 12 horas, por meio do tubo de re-injeção que contém as válvulas manchetes e que permanece no interior do furo. A Figura 25 apresenta os tipos mais utilizados de cabeça de grampos. O primeiro tipo (Figura 25a), a porca e a placa de apoio permitem a aplicação de uma pequena carga de incorporação, que serve para garantir o contato soloconcreto projetado, precaução importante no caso de muros com paramento vertical. O segundo tipo (Figura 25b) é empregado em taludes inclinados, a extremidade do grampo com diâmetro até 20 mm é dobrada para a fixação ao revestimento. No terceiro tipo (Figura 25c), a extremidade do grampo é embutida no terreno. A prática usual utiliza os grampos com dobra, ou embutidos no terreno, conforme Figura 25b e 25c, assim não há o acumulo de tensões junto à cabeça dos grampos. 69 (a) φaço ≥ 20 mm (b) φaço <20 mm (c) extremidade embutida no terreno Figura 25: Tipos de cabeça de grampos Fonte: Ortigão et al, (1993), GeoRio, (1999). A barra de aço não deve perder suas características de resistência ao longo do tempo. Portanto, deve receber tratamento anticorrosivo adequado, usualmente por meio de resinas epóxicas ou proteção eletrolítica. No caso do grampo injetado, a própria camada de cimento (de pelo menos 20 mm) fornece uma proteção considerável à barra metálica. Ainda pode-se utilizar tubo plástico, metálico ou de fibra (todos corrugados), preenchido com calda de cimento para proporcionar uma proteção dupla aos grampos, como recomendado em algumas situações pela ABNT NBR 5629, apresentado na Tabela 12 abaixo. 70 Tabela 12: Proteção anticorrosiva proposta na NBR 5629; Classes 1 2 3 Tipo de Chumbador Proteção Permanentes em meio agressivo, ou provisórios em meio muito agressivo Permanentes em meio agressivo ou provisórios em meio medianamente agressivo Dupla, com emprego de pintura anticorrosiva e calda de cimento. Simples, com injeção de calda de cimento. Permanentes ou provisórios em meio não agressivo. Fonte: Manual de serviços geotécnicos - SOLOTRAT, (2009). A Tabela 13 resume alguns cuidados a serem tomados durante a execução do grampo, que contribuem para melhoria do seu desempenho. Tabela 13: Especificações de projeto com grampos injetados; Item Descrição Em solos secos, é realizada a seco e com ar comprimido durante a perfuração. Em solos úmidos, o Limpeza do furo equipamento de perfuração deve utilizar água ou outro fluído de lavagem. O expansor de calda de cimento é um aditivo que evita a retração e, consequentemente, a diminuição do atrito Aditivos solo-grampo. Outro aditivo recomendado é o acelerador de cura, que reduz os prazos de execução do reforço Deve ser obrigatório, especialmente em grampos longos (L>3m), para garantir o preenchimento adequado do furo. Os espaçadores podem ser fabricados na própria obra Espaçadores ou com tubos de PVC e instalados a cada 3m ao longo da centralizadores barra de aço, garantindo a sua centralização no furo Tubo lateral de injeção Fonte: Ortigão, (1997). 2.7.4.3.2 Grampos cravados Os grampos podem ser executados com a cravação direta de barras de aço, cantoneiras ou tubos, os quais podem ser feitos manualmente ou com equipamentos mecânicos. Esta não é, entretanto, a prática brasileira. 71 O método por percussão é parecido com o processo de enfilagem usado por construtores de túneis NATM e leva a um processo de execução muito rápido, mas a resistência ao arrancamento é, em geral, pequena. Este processo não pode ser empregado quando há ocorrência de pedregulhos e é inconveniente no caso de argilas porosas, pois o atrito resultante é muito baixo. O processo de cravação por percussão também não pode ser empregado em solos muito resistentes, como os saprolitos de granito e gnaisses, devido à dificuldade de cravação do grampo nessas condições adversas. 2.7.4.3.3 Geometria dos grampos O dimensionamento do comprimento do grampo (L), ângulo de instalação e dos espaçamentos vertical e horizontal entre grampos, depende de alguns fatores, tais como: altura e ângulo de inclinação da face, tipo de grampo, quantidade de grampos, resistência ao arrancamento (qs) e variáveis ambientais que eventualmente possam alterar as características mecânicas do grampo. Como regra geral, para estruturas com face vertical e superfície do terreno horizontal, os grampos são dispostos em linhas, suavemente inclinados em relação à horizontal. Entretanto, os grampos são mais eficientes no controle de deslocamentos laterais da estrutura, quando instalados na horizontal. Na prática, a tecnologia de instalação dos grampos permite que se adotem ângulos de inclinação, variando de 5 a 15º em relação à face do talude. Deve-se atenção a este fator, em casos onde a estrutura não atende aos requisitos de face vertical e superfície horizontal, as inclinações podem ser maiores. A Tabela 14 apresenta valores típicos de parâmetros geométricos e características de grampos para estruturas com face vertical e superfície do terreno horizontal. 72 Tabela 14: Estruturas com face vertical e topo horizontal; Espaçamento entre Grampos Parâmetros Reduzidos (1) Elevados (2) Comprimento dos grampos 0,5 a 0,7 H 0,8 a 1,2 H Numero de grampos por m² de face 1a2 0,15 a 0,40 Perímetro do grampo 150 a 200mm 200 a 600mm Resistência a tração 120 a 200kN 100 a 600 kN (1) Grampos cravados ou grampos injetados de pequeno diâmetro. (2) Grampos injetados com grandes diâmetros. Fonte: Clouterre, (1991). Em projetos é recomendável que os grampos possuam o mesmo diâmetro, comprimento e ângulo de inclinação. Diferentes inclinações podem ser justificadas em casos especiais e quando os grampos são localizados próximos de obstáculos, tais como fundações de edificações vizinhas, pilares, cabos e interferências de qualquer espécie. 2.7.4.4 Proteção da superfície Logo após a introdução dos grampos, deve-se executar a proteção da face do maciço, a fim de que a mesma não sofra processos de rupturas localizadas e de erosão superficial, causados principalmente pela ação da chuva e outras intempéries naturais. Em solos, a proteção é geralmente executada por meio de aplicação de concreto projetado sobre uma malha metálica ou adicionado com fibras, a espessura varia entre 5cm e 15cm e deve possuir armadura suficiente para resistir à tração gerada pela dilatação térmica do próprio concreto Sobre toda a face do talude é aplicado concreto projetado, obtendo-se uma superfície protetora com boa resistência à erosão e grande durabilidade. Pode-se utilizar a aplicação por via seca ou úmida. Em obras de menor porte, como é o caso da maioria das obras de contenção, emprega-se o concreto por via seca, em face da extrema praticidade de aplicação. Ou seja, o trabalho pode ser interrompido e reiniciado sem perda de material e tempo para limpeza do equipamento. A via úmida só é utilizada, em geral, em casos de grandes volumes, superiores a 5m³ aplicados ininterruptamente, pois a cada paralisação 73 é necessário efetuar uma limpeza geral no mangote, o que não seria prático em pequenas obras (GEORIO, 1999). Porém, a perda por reflexão do concreto na parede da contenção, é bem maior no caso de concreto projetado por via seca (cerca de 40% maior) em comparação com o processo por via úmida (SPRINGER, 2006). O concreto é projetado com grande energia, o que proporciona uma ótima compactação do concreto, que colabora sobremaneira com sua alta resistência, bem como o adensamento da capa superficial do solo com uma eficiente colagem (GEORIO, 1999). A bomba de projeção mais comum é esquematizada na Figura 26. A mistura do cimento e agregados é introduzida no funil superior e encaminhada para um conjunto de cilindros rotativos. Quando a mistura atinge a posição do suprimento de ar comprimido, é impulsionada por meio do mangote (GEORIO, 1999). Figura 26: Máquina ou bomba de projeção por via seca. Fonte: GeoRio, (1999). No caso do processo por via seca, o controle do volume de água adicionado é regulado pelo operador ao final do mangote, diretamente no bico de projeção, de acordo com a sua experiência. No caso do concreto projetado por via úmida, o concreto já entra na bomba devidamente dosado e no bico de 74 projeção é injetado ar comprimido para o seu lançamento. Neste caso, o concreto projetado adquire maior qualidade e homogeneidade. O uso de telas soldadas confere ao concreto uma armação muito prática e eficiente. Ressalta-se a necessidade de garantir seu cobrimento, além de garantir a boa ligação entre ambos; além disso, deve se tomar cuidado para que não sejam deixados vazios entre a face do talude e a camada de concreto. Outra opção é representada pela adição de fibras metálicas ou sintéticas ao concreto, resultando em maior resistência à tração e impermeabilização da camada. Outros tipos de proteção vêm sendo executados atualmente, tais como a utilização, em solos, de malha metálica revestida de plástico ou geogrelha e a posterior plantação de vegetação para conter a erosão superficial da face. Além de ser uma opção econômica, é a que mais se integra ao meio ambiente. 2.7.5 Medidas preventivas quanto à presença de água A drenagem é um fator muito importante em estruturas de contenção. Um sistema de drenagem adequado deve prevenir a geração de poropressões, além de proteger a face contra a deterioração causada pela água. A estrutura precisa estar protegida contra infiltração de água, que pode resultar em carregamentos na face podendo causar deslizamento ou ruptura do solo. A água pode também induzir uma rápida redução na resistência da estrutura, por meio da corrosão das barras, especialmente quando a água contiver substâncias corrosivas. Mesmo quando o terreno não possui um nível d’água permanente, pode ocorrer à presença de água por infiltração na superfície, ou pela existência ou desenvolvimento de fluxo subterrâneo, gerado, por exemplo, pela ruptura acidental de tubulações de água e esgoto. Para proteger a estrutura contra os efeitos nocivos da água, algumas medidas preventivas devem ser tomadas. A prática usual recomenda a execução dos convencionais serviços de drenagem profunda e de superfície. 75 No caso de drenagem profunda, recomendam-se drenos sub- horizontais, executados com tubos plásticos drenantes, de diâmetro variando entre 40 e 50mm, em perfurações no solo de 60 a 100mm de diâmetro (Figura 27). O comprimento dos drenos deve ser maior que o dos grampos, sendo o espaçamento dependente das condições locais. Figura 27: Detalhe do dreno profundo Fonte: ABMS / ABEF,(1999). Para os drenos de sub-superfície, recomenda-se a instalação de barbacãs na face do talude, além de drenos verticais, atrás da parede de concreto projetado. O dreno tipo barbacã é executado escavando-se uma cavidade com cerca de 40 x 40 x 40 cm, a qual é preenchida com material arenoso. A ligação entre a cavidade com areia e a atmosfera é realizada por meio de um tubo de PVC perfurado, encoberto com tela de nylon ou geotêxtil drenante, com inclinação decrescente (Figura 28). O dreno vertical atrás da parede pode ser executado a partir da instalação de calha plástica revestida por manta geotêxtil numa escavação de 10 x 30 cm, na direção vertical da crista até o pé do talude (Figura 28). A água coletada neste dreno é recolhida em uma canaleta instalada no pé da escavação. Esta alternativa é bastante eficiente e recomendada para o caso de estruturas permanentes. As canaletas de crista e pé, bem como, as escadas de descida d’água são moldadas in loco e revestidas por concreto projetado. 76 Figura 28: Detalhe dos drenos tipo barbacã e de paramento Fonte: ABMS / ABEF,(1999). 2.7.6 Vantagens A técnica de solo grampeado apresenta vantagens econômicas tanto no escoramento de escavações quanto na estabilização de taludes. Desde o primeiro emprego no Brasil, vários projetistas e construtores têm optado por esta solução e já se obteve uma razoável experiência em obras executadas. A evolução dos métodos de análise, a experiência na execução e os bons resultados permitem aperfeiçoar o projeto, reduzindo-se o comprimento total de grampos. A disseminação da técnica de solo grampeado deve-se a diversas vantagens: Baixo custo: a execução da obra requer poucos tipos de equipamentos: máquina para remover o solo de escavação, sonda de perfuração, equipamento de injeção de calda de cimento ou martelo 77 mecânico para cravação dos grampos e máquina para lançamento do concreto projetado do paramento. Facilidade de execução: a técnica pode ser executada utilizando-se equipamentos convencionais de perfuração e chumbamento, como, barras de aço, utilizadas na construção civil. Velocidade de execução: os avanços dos serviços de contenção ocorrem de forma contínua. A velocidade na execução do reforço é conferida por meio da utilização de equipamentos adequados. A utilização de concreto projetado na execução do paramento também confere velocidade à obra. Acessibilidade: os equipamentos utilizados são de fácil transporte, sendo, portanto particularmente interessantes em locais de difícil acesso, de área limitada, densamente ocupados ou instáveis. Segurança: os muros de solo grampeado podem facilmente ser inclinados no sentido do terreno, contribuindo para uma maior estabilidade do muro e redução do movimento de terra na obra. Além disso, a inclinação da parede minimiza a perda por reflexão do concreto projetado. 2.7.7 Limitações Apesar das vantagens expressivas, a técnica de solo grampeado também apresenta algumas restrições: Tipo de solo: o solo deve possuir alguma coesão ou cimentação, para que o talude permaneça estável por algumas horas até a instalação dos grampos. Presença de nível d’água: na presença de nível d’água, devem-se projetar sistemas eficientes de rebaixamento permanente do NA. Monitoramento obrigatório da obra: taludes resultantes de escavações junto a estruturas pré-existentes, sujeitas a danos por recalques, somente devem ser estabilizados pelo processo de grampeamento, se houver uma análise adequada e controle de 78 recalques da estrutura. Tal recomendação é decorrente das deformações inevitáveis que ocorrem durante a mobilização da resistência do solo e alongamento do grampo até atingir a sua carga de trabalho, que induzem recalques na superfície de montante do talude escavado. Qualidade do grampo: em estruturas de longa vida útil, deve-se prestar atenção particular a durabilidade dos grampos usados em solos corrosivos. 2.7.8 Modelos de análise e métodos de projeto Não há uma metodologia padrão ou única para dimensionamento de uma estrutura em solo grampeado. A literatura apresenta diferentes enfoques conceituais quanto à fenomenologia de funcionamento. Os principais métodos de análise de obras de solo grampeado estão sumariados na Tabela 15. Em todos os casos o terreno atrás do muro é subdividido em uma zona ativa, limitada por uma superfície potencial de deslizamento, sendo o restante considerado zona passiva (Figura 29). Os termos, ativo e passivo, referem-se à forma de mobilização dos esforços no grampo. O limite entre as duas regiões é definido pela localização em cada grampo do ponto de máxima força axial. A força axial é desenvolvida a partir do deslocamento do solo causado pela descompressão lateral (escavação). ξ Figura 29: Mobilização de esforços nos grampos nas zonas ativa e passiva Fonte: Springer, (2006). 79 A análise de estabilidade global é feita considerando os esforços estabilizantes dos grampos atuando nesta cunha ativa. Os métodos diferem, entretanto, quanto à forma da superfície de ruptura, quanto ao método de cálculo do equilíbrio das forças atuantes e quanto à sua natureza. Maiores detalhes sobre os métodos são apresentados por Stocker e outros (1979), Shen e outros (1981), Schlosser (1983), Juran e outros (1988), Bridle (1989), Anthonie (1990), Ortigão e outros (1993) e Dyminski (1994). Tabela 15: Métodos de análise; Métodos Características Alemão Davis Referência Stocker e outros (1979) Shen e outros (1981) Análise Equilíbrio Limite Divisão da massa de solo Fator de segurança Superfície de ruptura Multicritério Cinemático Cardiff Escoamento Schlosser (1983) Juran e outros (1988) Bridle (1989) Anthonie (1990) Equilíbrio Limite Equilíbrio Limite Tensões Internas 2 Blocos 2 Blocos Fatias - Fatias Bloco Rígido Global Global Global ou Local Local Global Global Bilinear Parabólica Circular ou Poligonal Espiral Log Espiral Log Espiral Log Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Sim Sim Não Não Não Sim Sim Sim Não Qualquer Vertical Qualquer Qualquer Qualquer Qualquer 1 1 Qualquer 1 1 1 ou Francês Equilíbrio Teoria de Limite Escoamento Grampo resistente a tração Grampo Resistente ao cisalhamento Grampo resistente a flexão Inclinação da parede Camadas de solo Fonte: Ortigão et al, (1993). 80 O método Multicritério é baseado em método de equilíbrio limite de fatias em que os grampos aplicam na base de cada fatia os esforços estabilizantes de tração e cisalhamento. O fator de segurança global pode então ser calculado para a massa total de solo. As demais hipóteses estabelecidas por Schlosser (1983), para este método dizem respeito: à resistência do material de reforço empregado (tração e o cisalhamento); supõe o atrito solo-grampo constante e igual à “qs”; admite que a tensão “p” aplicada pelo terreno normal ao eixo de um elemento de reforço deve ser inferior a um valor limite “pmáx” e admite a equação de Mohr-Coulomb para a resistência do solo. A Figura 30 apresenta os modelos de ruptura vistos na tabela acima. Figura 30: Modelos de ruptura. Fonte: Ortigão et al, (1993). 2.7.9 Comportamento mecânico do grampo O principal elemento de interação dos grampos está relacionado à mobilização do atrito existente entre a superfície dos mesmos e o solo circundante. Como as inclusões trabalham basicamente à tração, quanto maior o atrito entre os dois materiais, melhor será o desempenho do reforço. A resistência ao arrancamento depende não só do tipo e densidade do solo, mas também do tipo do grampo. Grampos injetados apresentam resistência ao arrancamento superior à obtida com os grampos cravados. Para que o atrito na 81 interface seja mobilizado é necessário que haja pequenos deslocamentos (de apenas alguns milímetros) entre o grampo e o material do maciço. A quantificação da resistência ao arrancamento é obtida por meio de ensaios de arrancamento, executados no campo. Estes ensaios podem ser realizados com um trecho livre de 1m seguido de trecho injetado com 3m de comprimento (não há normatização). O grampo é tracionado e a carga de tração deve ser acompanhada por célula de carga. Em obras de grande porte, os ensaios de arrancamento devem ser realizados antes da obra, para se estabelecer o valor da resistência ao arrancamento “qs” a ser adotada no projeto. Em obras menores, isso raramente ocorre. Os ensaios são realizados durante a obra e o projeto é ajustado à medida que se obtêm resultados desses ensaios. Recomenda-se que sejam efetuados ensaios de arrancamento, na quantidade mínima de um por fileira de reforços e a cada mudança de material constituinte do terreno. 2.7.10 Ensaios de arrancamento Um dos parâmetros mais importantes em projetos de solo grampeado é a resistência ao cisalhamento no contato solo-grampo “qs”. O valor de “qs” é função das propriedades do solo, do grampo e da interface solo-grampo (Schlosser e Unterreiner, 1990). É obtido experimentalmente em ensaio de arrancamento (“pull out test”), esquematizado na Figura 31. Os fatores que podem influenciar os valores de “qs” são: as características do terreno e o tipo de tecnologia empregada no processo executivo, tais como as propriedades do grampo, método de perfuração e de limpeza do furo, características da calda de cimento e o emprego de aditivos (SPRINGER, 2006). 82 (a) esquema do ensaio (b) detalhes da cabeça do grampo Figura 31: Ensaio de arrancamento. Fonte: Ortigão e Sayão, (2000). O valor de qs é definido no ensaio de arrancamento pela equação 2.10: qs = TN Π.φ furo .Linj (2.10) 83 Onde: qs: resistência ao cisalhamento no contato solo-grampo; TN: força normal máxima (carga que leva o grampo à ruptura por cisalhamento com o solo); Øfuro: diâmetro do furo; Linj: comprimento do trecho injetado do grampo. A Tabela 16 apresenta a quantidade de ensaios de arrancamento recomendada pelo Projeto Clouterre (Clouterre, 1991). Tabela 16: Quantidade de ensaios de arrancamento; Ensaios de Arracamento Preliminares e de Área da face Área da face (m²) conformidade em (m²) Até 800 6 800 a 2000 9 2000 a 4000 4000 a 8000 8000 a 16000 16000 a 40000 12 15 18 25 Fonte: Clouterre, (1991). De inspeção Até 1000. 5 (para cada camada de solo) e 1 (para cada fase de escavação). Maior que 1000. Aumenta-se 1 para cada 200m². 84 3 METODOLOGIA DO TRABALHO A metodologia de trabalho consistiu, em princípio, de pesquisas e busca de informações que melhor detalhassem o estudo proposto, os quais constituíram subsídios necessários à elaboração das análises de estabilidade da obra objeto deste estudo. Após embasamento teórico pertinente, fez-se um levantamento de todas as informações disponíveis e necessárias nos projetos e mapas pertencentes ao Programa de Ampliação da Capacidade Rodoviária do Corredor São Paulo – Curitiba – Florianópolis – Osório, da consultora consórcio Iguatemi – Dynatest e Segunda Revisão de Projeto da Construtora Queiroz Galvão. Nesta etapa, foi realizada a reunião de todas as informações obtidas, as quais, após criterioso julgamento, serviram para a complementação, visando à realização da caracterização geológica e geotécnica da área de estudo. A caracterização geológico-geotécnica da área baseou-se no estudo da sua estratigrafia e suas respectivas características físicas. Esta caracterização foi fundamental para a definição do comportamento físico e mecânico dos materiais (rochas e solos) presentes na área objeto de estudo e realizada através de sondagens SPT e sondagens rotativas, pela Construtora Queiroz Galvão, responsável pela elaboração do projeto de revisão da BR-101 do Lote 27. Para a determinação dos parâmetros de resistência dos solos (coesão e ângulo de atrito) foram realizados, pela Construtora Queiroz Galvão, ensaios triaxiais para as amostras, executados no Laboratório de Mecânica dos Solos (LMS) da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Nas análises de estabilidade aplicou-se o método de Janbu Simplificado (1973), através do programa computacional Slide do grupo Roc Science. As análises de estabilidade global para obtenção do FSadm≥1,5 foram realizadas sobre as informações obtidas a respeito do talude de projeto. Após a verificação dos resultados encontrados nestas análises, determinaram-se os elementos de reforço. Optou-se por adotar um sistema de drenagem profunda, associado à Técnica de Solo Grampeado quando necessário. 85 Após a constatação de que todos os FSmin calculados, atendiam os valores de FSadm, foi executado o projeto da estrutura de reforço aplicada, neste projeto encontram-se todas as seções e o tipo de intervenção proposta. Os preços, referentes aos serviços previstos em projeto, foram levantados, com a finalidade de determinar o impacto financeiro gerado pela alteração de projeto, não prevista em contrato inicial. 86 4 EXPOSIÇÃO DOS DADOS 4.1 Estudos geológicos Com base no relatório de projeto do Programa de Ampliação da Capacidade Rodoviária do Corredor São Paulo – Curitiba – Florianópolis – Osório da consultora consórcio Iguatemi – Dynatest, apresentado em março de 2002, serão apresentados os estudos realizados relativos à geologia da região denominada Lote 27, referente ao trecho do km 358,500 ao km 387,000, no qual se encontra inserida a obra objeto de estudo. 4.1.1 Relatório Os Estudos Geológicos tiveram por base consultas aos dados existentes e a interpretação expedita de fotografias aéreas na escala 1:8.000. Esta interpretação abrangeu aspectos geológicos, geomorfológicos e pedológicos. Os resultados destes levantamentos iniciais foram lançados sobre a base cartográfica disponível, constituindo as Cartas de Serviço. O traçado da rodovia BR-101 no Estado de Santa Catarina desenvolvese na borda continental dominada pela Planície Costeira. Pequenos trechos cortam rochas cristalinas e cristalofilianas do embasamento, que formam as Serras do Leste Catarinense. Nesse trecho sul do Estado de Santa Catarina, as rochas cristalinas são representadas pelo batolito granítico da Suite Intrusiva Pedras Grandes, enquanto que a Planície Costeira é composta por sedimentos areno-síltico-argilosos de origens diversas, desde marinha até continental, formando vários ambientes deposicionais. A Tabela 17 apresenta a Coluna Estratigráfica Regional. 87 Tabela 17: Coluna estratigráfica regional; Era/Período Símbolo Formação Cenozóico/ Quaternário Ambiente/Litologia DFH Depósitos Holocênicos DDP Depósitos Pleistocênicos Col+EI Planície de inundação/arenoargilosos. Flúvio-deltaicos/areno-argilosos. Depósitos gravitacionais e in-situ Colúvios e Elúvios/argilo-arenosos. Pleistocênicos Tálus e/ou regolito granítico. Mesozóico JKsg Serra Geral Ígneo/diques de diabásio. Paleozóico Rc Riolito Cambirela (Cambriano) SIPG Suite Intrusiva Pedras Grandes Ígneo/riolitos. Granitóides (sieno granito). Fonte: DNER – Programa de Ampliação da Capacidade Rodoviária do Corredor São Paulo – Curitiba – Florianópolis – Osório – Volume 01 (2002, p. 82). O trecho da rodovia BR-101/SC, entre o km 358,500 e o km 387,000, desenvolve-se em três ambientes geológicos distintos, descritos na continuação. O primeiro ambiente geológico é formado por rochas mais antigas, Eo-paleozóicas, oriundas de uma sequência intrusiva denominada de Suite Intrusiva Pedras Grandes (SIPG), composta por granitos grosseiros granulares hipidiomórficos, localmente sienogranitos, alcalinos cujo mineral principal é o oligoclásio (feldspato calco-sódico), podendo conter ainda pouco quartzo e, como mineral máfico, a biotita. O segundo ambiente geológico está representado por rochas sedimentares existentes na área, que podem ser agrupadas em duas Formações distintas, a saber: Formação Rio Bonito, caracterizada por rochas sedimentares areníticas, e Formação Palermo, rochas eminentemente pelíticas constituídas por siltitos arenosos, siltitos e folhelhos sílticos com intercalações delgadas e interlaminações de arenitos quartzosos muito finos. Já no que tange aos sedimentos modernos, quaternários, representativos do terceiro ambiente geológico, é possível reconhecer-se e mapear dois tipos de depósitos modernos: Depósitos Deltaicos Pleistocênicos (DDP) e Depósitos Fluviais Holocênicos (DFH). Os depósitos deltáicos pleistocênicos são formados em cotas mais altas, constituindo terraços elevados que originalmente eram depositados pelas drenagens na foz e no leito dos paleorios, e que foram retrabalhados pela ação marinha durante os eventos transgressivos. São constituídos por sedimentos grosseiros areno-argilosos a argilosos escuros em locais de paleolagoas. 88 Os depósitos fluviais holocênicos são constituídos por areias finas e argilas de origem continental, depositados em planícies de inundação, a partir do extravasamento dos rios locais, durante a evolução dos episódios paleoclimáticos do Quaternário recente. São camadas de argilas, interacamadadas com lentes arenosas finas, indicando a presença de baixa energia de transporte. É possível nestes locais ocorrer a presença de solos moles, isto é, lentes argilosas com baixa capacidade de carga. Capeando as rochas cristalinas, ocorre um manto profundo e espesso de solos formados “in situ”, compostos por argilas vermelhas, arenosas e fragmentos da rocha original (El); são os depósitos colúvio-eluviais. Além disso, também ocorre nas porções inferiores das encostas graníticas, depósitos gravitacionais, argilo-arenosos e siltosos sem estrutura deposicional, provenientes das porções superiores, formando coluviões (Col) e depósitos de tálus. A obra em questão está localizada entre o Km 380,000 e 382,000, região do município de Içara/SC, conforme mostra a Figura 32. Neste trecho a formação geológica existente é a formação Rio Bonito, constituinte do segundo ambiente geológico ao longo do Lote 27 da rodovia BR-101/SC. 89 Figura 32: Detalhe do mapa geológico da região de Içara (região do estudo). Fonte: DNER – Programa de Ampliação da Capacidade Rodoviária do Corredor São Paulo - Curitiba – Florianópolis – Osório – Volume 2.1(2002, p. 31). 90 4.2 Área de estudo A obra selecionada para realizar o estudo situa-se no km 380,873 - Lote 27 da obra de duplicação/restauração da Rodovia BR-101/SC, cruzamento da BR-101 com a SC–444, no município de Içara/SC. A Figura 33 apresenta o trecho que compreende o Lote 27. Figura 33: Mapa localização Lote 27 (região do estudo). Fonte: DNER – Programa de Ampliação da Capacidade Rodoviária do Corredor São Paulo – Curitiba – Florianópolis – Osório – Volume 2.1(2002, p. 07). Trata-se de uma alteração do projeto inicial previsto para o local, que sugere uma escavação de grandes proporções. Será verificada a estabilidade dos taludes de corte gerados, visando oferecer condições de segurança. 91 A Figura 34 ilustra melhor o local e a disposição da obra na Rodovia BR-101. Figura 34: Localização da área objeto de estudo. Fonte: Prefeitura Municipal de Içara/SC. 4.3 Projeto inicial Km 380,873 Com base no projeto do Programa de Ampliação da Capacidade Rodoviária do Corredor São Paulo – Curitiba – Florianópolis – Osório, da consultora consórcio Iguatemi – Dynatest, será apresentada a proposta inicialmente realizada, referente ao Km 380,873. O levantamento topográfico realizado em projeto, mostrou que a cota da pista existente (terreno natural), era de 30,683m, e que foi construída sobre um aterro com alturas chegando a 3,0m. Também é apresentada a cota em relação à pista da rodovia SC-444, a qual cruzava sob a rodovia BR-101, estabelecida na cota 28,316m. O projeto apresentado previa um novo viaduto para o local, no entanto, para que a solução fosse adotada, as novas pistas de duplicação deveriam ser estabelecidas na cota 34,806m, aumentando então, a altura do aterro. 92 Esta condição apresentaria aterros com alturas de até 6,5m, conforme pode ser observado na Figura 35. Figura 35: Km 380,873 - greide de pavimentação e terreno natural. Fonte: DNER – Programa de Ampliação da Capacidade Rodoviária do Corredor São Paulo – Curitiba – Florianópolis – Osório. A obra viria a segregar a comunidade de Vila Nova que é atravessada pela rodovia, dificultando os acessos. Desta forma, o prefeito do município de Içara/SC, então em exercício, encaminhou a supervisão do DNIT, um pedido para a alteração do projeto, solicitando que a rodovia BR-101 cruzasse sob a rodovia SC-444, assim, solucionando o problema que seria gerado pelo aterro. 93 4.3.1 Alteração de projeto Km 380,873 Após avaliação elaborada pela supervisão do DNIT sobre as condições impostas pelo então prefeito municipal de Içara/SC, chegou-se a conclusão de que um novo projeto deveria ser elaborado. Este projeto faria com que as novas pistas de duplicação da rodovia BR-101, cruzassem sob a pista da rodovia SC-444. Coube então, a empresa Construtora Queiroz Galvão, responsável pela execução das obras do Lote 27, a elaboração de um novo projeto levando em consideração as condições do local. Conforme especificado acima, as informações referentes aos estudos geológicos realizados, sondagens e ensaios de caracterização dos solos, geometria de corte, entre outras apresentadas a seguir, estão baseadas no 2º Relatório de Revisão de Projeto em Fase de Obra com Adequação de Quantitativos, Inclusão de Preços e Acréscimo de Valor Contratual a preços Iniciais, da Construtora Queiroz Galvão S/A, apresentado em setembro de 2006. 4.3.2 Projeto Km 380,873 Para que fosse possível fazer com que a rodovia SC-444 cruzasse sobre a rodovia BR-101, uma escavação de grande porte precisaria ser executada. A cota do terreno natural de 28,316 metros, e para a viabilização de um viaduto na rodovia SC-444, seria preciso rebaixar o greide de pavimentação para a cota 20,316, ou seja 8 metros abaixo da cota do terreno natural no ponto do viaduto. A Figura 36 apresenta esta nova condição. 94 Figura 36: Km 380,873 – Novo greide de pavimentação, terreno natural. Fonte: DNER – Programa de Ampliação da Capacidade Rodoviária do Corredor São Paulo – Curitiba – Florianópolis – Osório. Como se observa, a escavação deve rebaixar o Terreno Natural até a cota de Novo Greide de pavimentação. A seguir serão feitas análises de estabilidade para os taludes oriundos deste corte. 4.4 Análise de estabilidade Nesta fase do estudo almeja-se obter uma condição de segurança para o maciço de solo, um coeficiente de segurança que atenda às condições de estabilidade global, tendo um valor mínimo de 1,50, conforme Tabela 09 do item 2.5. As informações analisadas para essa fase se referem a: 95 Definição da geometria do talude de corte; Sobrecargas atuantes no talude; Método abordado para a análise de estabilidade; Geologia da região; Topografia e Sondagem; Determinação dos parâmetros de resistência dos solos através de ensaios de cisalhamento triaxial (CU); Determinação das seções a serem analisadas. 4.4.1 Definição da geometria do talude de corte A geometria do talude de corte prevista em projeto apresenta uma inclinação de 45º com a horizontal, ou seja, (1V:1H). Esta inclinação foi a máxima possível, devido a área necessária para execução das vias laterais que margeiam todo o corte, como pode ser observado na Figura 37. Figura 37: Geometria de corte. Fonte:O Autor, (2009). 4.4.2 Sobrecargas atuantes no talude O corte executado no cruzamento da rodovia BR-101 com a rodovia SC-444 é margeado por vias laterais em ambos os lados, onde serão distribuídas cargas advindas do pavimento. O viaduto previsto junto à obra possui estrutura de sustentação própria, portanto, não descarrega as cargas sobre o maciço de solo. 96 A carga atuante no maciço é de 40KN/m², referentes à camada de pavimento executado das Vias Laterais (20kN/m²) e cargas referentes às transmitidas pelo tráfego de veículos (20kN/m²). 4.4.3 Método abordado para análise de estabilidade do talude O método de análise de estabilidade aplicado à determinação da estabilidade do talude foi selecionado com base na necessidade da obra e no grau de confiabilidade dos resultados. Assim sendo, optou-se por utilizar um método de análise baseado no princípio de equilíbrio limite. Método de Janbu Simplificado (1973), para as análises de Estabilidade Global. 4.4.4 Perfis estratigráficos adotados Com base nas informações obtidas através de sondagens, localizadas na seção representada na Figura 38, foram elaborados os perfis estratigráficos do solo. Os furos de sondagem foram distribuídos com base nos boletins de sondagem a percussão: SP. 001, SP. 002, SP. 003 e SP. 004 (Anexo A), e nos boletins de sondagem rotativa SR. 001 e SR. 002 (Anexo A). 97 Figura 38: Planta de localização furos de sondagem. Fonte: 2º Relatório de Revisão de Projeto em Fase de Obra com Adequação de Quantitativos, Inclusão de Preços e Acréscimo de Valor Contratual a preços Iniciais. Foram adotados dois perfis estratigráficos, sendo um para as seções de 6,0 a 8,0 metros e o segundo foi adotado para as seções de 4,0 e 5,0 metros. Esse fato se deve pela variação de altura entre as seções, pois nesta região é comum encontrar a Formação Serra Geral, depositando-se sobre a Formação Rio Bonito. Os perfis estão apresentados nas Figuras 39 e 40, respectivamente. 98 Figura 39: Perfil estratigráfico estimado das seções de 6 a 8 metros. Fonte: O Autor, (2009). Figura 40: Perfil estratigráfico estimado das seções de 4 e 5 metros. Fonte: O Autor, (2009). 99 4.4.5 Determinação dos parâmetros geotécnicos As definições dos parâmetros de resistência ao cisalhamento dos materiais que constituem o talude são de fundamental importância, pois estão ligados diretamente à análise de estabilidade do talude. Todos os parâmetros das camadas, tais como y (peso específico), c (coesão) e φ (ângulo de atrito), foram determinados por meio de ensaios triaxiais consolidados não drenados (CU), e estão referenciados no 2º Relatório de Revisão de Projeto em Fase de Obra, realizado pela Construtora Queiroz Galvão. Os ensaios foram realizados no Laboratório de Mecânica dos Solos (LMS) da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Parâmetros geotécnicos das camadas de solo: O talude objeto de estudo apresenta-se constituído por três tipos de solos limitados pelo maciço rochoso, estes apresentam os parâmetros geotécnicos segundo a Tabela 18: Tabela 18: Parâmetros geotécnicos adotados; AMOSTRA y(kN/m³) c(Kpa) φ (º) Solo 1 (Argila siltosa, cor cinza avermelhada) 19,50 25,00 33,00 Solo 2 (Argila siltosa, cor cinza a rosa(roxa)) 19,50 23,00 28,20 Solo 3 (Silte arenoso, cor cinza ) 19,50 0,00 36,10 Rocha (Arenito escuro) Infinit Strength Fonte: O Autor, (2009). 4.4.6 Seções adotadas na análise de estabilidade As seções adotadas têm suas alturas variando entre 4 e 8 metros de altura, isso devido às condicionantes topográficas do local. Todas as seções que serão analisadas, como visto acima, estão apresentadas respectivamente, conforme Figuras 41,42,43,44 e 45. 100 Figura 41: Seção de análise 4,0 metros de altura. Fonte: Programa SLIDE. Figura 42: Seção de análise 5,0 metros de altura. Fonte:Programa SLIDE. As seções acima estão baseadas no perfil estratigráfico da Figura 40, as seções a seguir baseiam-se no perfil estratigráfico da Figura 39. 101 Figura 43: Seção de análise 6,0 metros de altura. Fonte: Programa SLIDE. Figura 44: Seção de análise 7,0 metros de altura. Fonte: Programa SLIDE. Figura 45: Seção de análise 8,0 metros de altura. Fonte: Programa SLIDE. 102 Dentre as seções apresentadas, a seção considerada crítica está situada entre o Km 380,810 e Km 380,920. Esta seção está na área de influência do viaduto, sendo o ponto de maior altura. Outro fator importante desta seção, é que uma movimentação do solo poderia gerar problemas aos elementos de fundação do viaduto, que estão diretamente em contato com o talude. A Figura 46 apresenta a planta de situação destas seções. Figura 46: Planta de situação da seção critica. Fonte:O Autor, (2009). As demais seções apresentadas estão devidamente localizadas, no projeto executivo (Apêndice D). 4.4.6.1 Análise de estabilidade global das seções adotadas Para determinação dos fatores de segurança das seções analisadas, utilizouse o programa computacional Slide, do grupo RocScience, cedido pela empresa GN Consult. Foram consideradas na análise de estabilidade à ruptura global, as seções consideradas no item anterior. A Tabela 19 apresenta os valores do fator de segurança, obtidos na análise de estabilidade para as seções consideradas. 103 Tabela 19: Análise de estabilidade das seções adotadas; adotadas ALTURA (NA) EM RELAÇÃO FS MÍNIMO CALCULADO SEÇÃO AO PÉ DO TALUDE (FSmin) (m) (m) Janbu Simplificado (FSadm) 4,00m 3,00m ,00m 1,279 1,5 5,00m 4,00m ,00m 1,043 1,5 6,00m 5,00m ,00m 0,937 1,5 7,00m 6,00m ,00m 0,853 1,5 8,00m 7,00m ,00m 0,743 1,5 FS ADMISSÍVEL Fonte: O Autor, (2009). A análise dos resultados da tabela acima, permite concluir que existe a necessidade de se intervir, uma vez que, os coeficientes de segurança nas referidas seções, ões, foram inferiores ao FSadm ≥ 1,5 estabelecido para a obra. A execução de uma escavação, sob estas condições, colocaria em risco iminente de ruptura o talude analisado. No entanto, percebe-se percebe a redução do FSmin em função da variação da altura das seções (Gráfico 01), 01) isso ocorre devido a influência ncia que a geometria exerce sobre estes valores. Como esperado, a pior condição encontra-se encontra se no talude com maior altura, denominado de seção crítica. Gráfico 01: Relação entre FSmin e variação na altura das seções; seções 1,400 1,279 1,200 1,043 0,937 FSmin 1,000 0,853 0,743 0,800 Fsmínimo Janbu 0,600 0,400 0,200 0,000 4m 5m 6m 7m Altura das Seções Fonte: O Autor, (2009). 8m 104 A título de demonstração das análises de estabilidade global realizadas, será apresentada, a análise executada na seção crítica, a qual possui o menor fator de segurança. A Figura 47 mostra a superfície de ruptura e o coeficiente de segurança da mesma, determinado pelo Método de Janbu Simplificado (1973). Figura 47: Superfície de ruptura para seção crítica. Fonte: Programa SLIDE. As demais seções analisadas encontram-se no Apêndice A, deste trabalho. 4.5 Alternativa de técnicas para a estabilização e/ou reforço do talude de corte Algumas alternativas de contenção para o talude podem ser aplicadas neste caso, ou mesmo a união de alguma destas alternativas pode ser a solução mais viável para o problema de instabilização e/ou reforço deste talude. Foram selecionadas as seguintes opções de técnicas para a obra: Drenagem: aspecto muito importante em estruturas de contenção, um sistema de drenagem adequado deve prevenir a geração de poropressões no maciço de solo. Solo Grampeado: introdução de elementos resistentes a flexão composta, denominados grampos. As inclusões são passivas até que haja uma deformação no maciço, causada por descompressão lateral ou outros fatores. 105 Cortina Ancorada: protensão de tirantes ancorados no interior do terrapleno e cortina devidamente dimensionada, devido ao punsionamento causado pela aplicação de elevadas cargas nos tirantes. 4.6 Análise de estabilidade global das seções adotadas aplicando a técnica de drenagem do solo Para proteger a estrutura contra os efeitos nocivos da água, algumas medidas preventivas devem ser tomadas. A prática usual recomenda a execução dos convencionais serviços de drenagem profunda e de superfície. Para a obra em questão, será realizada a análise de estabilidade da seção de maior altura (crítica), seção esta onde se obteve o menor valor de FSmin, será analisado a alteração no valor de FSmin em função da variação do NA. A Tabela 20 demonstra os valores de FSmin obtidos nas análises de estabilidade para diferentes níveis de lençol freático para a seção crítica. Tabela 20: Análise de estabilidade da seção crítica – Fatores de segurança obtidos com a variação do NA em relação ao pé do talude; ALTURA (NA) EM RELAÇÃO FS MÍNIMO CALCULADO SEÇÃO AO PÉ DO TALUDE (FSmin) (m) (m) Janbu Simplificado (FSadm) 8,00m 7,00m 0,743 1,5 8,00m 6,00m 0,819 1,5 8,00m 5,00m 0,911 1,5 8,00m 4,00m 1,020 1,5 8,00m 3,00m 1,110 1,5 8,00m 2,00m 1,192 1,5 8,00m 1,00m 1,258 1,5 8,00m 0,00m 1,316 1,5 FS ADMISSÍVEL Fonte: O Autor, (2009). Conforme as análises apresentadas na tabela, os valores demonstram, a pior condição onde o FSmin = 0,743 quando considerado o NA, como obtido durante a etapa de investigação do solo. Quando rebaixamos esse NA, e consideramos o talude completamente drenado o valor de FSmin = 1,316. A diferença dos valores 106 obtidos, demonstra a redução causada quando considerado o efeito exercido da água sobre o solo. Para esta condição, condição optou-se se por introduzir elementos de drenagem profunda (DHP’s),, no ponto onde o FSmin = 1,258, e onde o nível do lençol freático admitido fica a 1,0 metro do pé do talude. O Gráfico 02,, representa o aumento do FSmin em função da variação do nível do lençol freático. Gráfico 02: Valores dos diferentes FSmin em função do nível do lençol freático em relação ao pé do talude; talude 1,316 1,400 1,258 1,192 1,110 1,200 1,020 1,000 0,911 FSmin 0,819 0,800 0,743 Fsmínimo Janbu 0,600 0,400 0,200 0,000 7,00m 6,00m 5,00m 4,00m 3,00m 2,00m 1,00m 0,00m Nível do Lençol Freático Fonte: O Autor, (2009). Admitindo para esta situação que, que tanto acima de onde os elementos estão sendo introduzidos quanto abaixo, abaixo tem-se a condição de drenagem total, devido à execução de drenagem junto ao pé do talude, talude a qual tem a função de captar a água que tende a ascender no maciço de solo. solo Para ara que se chegasse ao comprimento ideal dos drenos, drenos diversas análises foram feitas variando-se se a posição do lençol freático em relação relação à crista e ao pé do talude. Porém, somente a análise que atende as condições vistas na Tabela 20 é representada na Figura 48. 4 107 Figura 48: Superfície de ruptura para seção crítica considerando drenagem. Fonte: Programa SLIDE. Seguem na Tabela 21, as análises referentes a todas as seções em estudo, considerando os níveis de lençol freático, após a introdução dos drenos subhorizontais profundos e drenagem de pé do talude. Tabela 21: Análise de estabilidade das seções adotadas considerando o talude drenado. ALTURA SEÇÃO FS MÌNIMO CALCULADO (FSmin) FS ADMISSÍVEL (m) Janbu Simplificado (FSadm) 4,00m 1,888 1,5 5,00m 1,741 1,5 6,00m 1,488 1,5 7,00m 1,382 1,5 8,00m 1,316 1,5 Fonte: O Autor, (2009). Conforme apresentado na tabela acima, fica evidente a influência da drenagem na análise de estabilidade dos taludes, para as seções de 4,0 e 5,0m de altura, o coeficiente de segurança FSmin foi atendido, ficando acima do esperado após a condição de drenagem estabelecida. Para a seção de 6,0m o FSmin ficou muito próximo ao FSadm ≥ 1,5, portanto, para esta condição serão considerados apenas elementos de drenagem. Para as demais seções de 7,0m e 8,0m, ainda com a introdução dos elementos de drenagem, os valores de FSmin não atendem ao valor mínimo de 1,5 108 para o FSadm. Nestes casos, os valores mostram que apesar de o talude estar estável com FSmín≥1,0, as condições de segurança ainda não foram atendidas, necessitando desta forma reforçar as seções. Para esse reforço, a opção será a associação da drenagem com uma técnica de contenção, que corresponda com as condicionantes locais. As demais seções analisadas encontram-se no Apêndice B, deste trabalho. 4.7 Escolha da estrutura de reforço de talude Os parâmetros levados em consideração para a estrutura de reforço são: viabilidade econômica; velocidade de execução; acessibilidade para equipamentos e segurança. Como especifica no item 4.4.1, a inclinação do talude de projeto é de 45°, não justificando a utilização de cortinas ancoradas, estas são geralmente utilizadas para paramentos verticais, onde as deformações na crista do talude são elevadas. Outro fator importante para esta técnica, é a necessidade de cortina de concreto, devidamente dimensionada, devido às cargas de trabalho aplicadas nos tirantes que estão fixados na cortina. A Técnica de Solo Grampeado tem seu desempenho melhorado quando aplicada em taludes inclinados, e leva vantagem quanto a velocidade de execução e viabilidade econômica, não havendo necessidade de dimensionamento da cortina, que serve apenas como proteção da face contra agentes degradantes. Os materiais utilizados são similares com os aplicados para cortinas ancoradas. Os equipamentos utilizados para a execução da Técnica de Solo Grampeado são de pequeno porte, o que facilita o acesso. Os materiais para a execução dos grampos podem ser os mesmos utilizados para a construção civil. Os avanços dos serviços de contenção ocorrem de forma contínua e rápida, e a execução do concreto projetado para o paramento também confere velocidade à obra. As características desta técnica estão descritas a seguir: Sistema construtivo: ascendente ou descendente; Aplicação: taludes naturais ou taludes de corte; 109 Reforço: introdução de barras de aço com injeção de calda de cimento por fases; Paramento vertical: concreto projetado com tela metálica ou fibras; Drenagem: drenos horizontais profundos, canaletas e drenos de superfície para proteção da face; Altura máxima do talude: 8,0m (seção crítica). 4.7.1 Características dos grampos Considerou-se para o dimensionamento, a utilização para os grampos de barras de aço CA-50, nervuradas de 25,0 mm de diâmetro. As características deste material encontram-se resumidas na Tabela 22. Tabela 22: Propriedades das barras de aço utilizadas como grampos; Diâmetro Massa Nominal Nominal (mm) (kg/m) 25,0 3,853 Resistência Característica de Escoamento – fy (MPa) 500 Limite de Alongamento Módulo de Resistência Mínimo em Elasticidade (MPa) 10Ø(%) (kN/m²) 1,10xfy 8 2,1x108 Fonte: Catálogo Gerdau, (2009). Foi considerado, para carga de trabalho, um fator de minoração de 1,75, e limitando as cargas à condição de 90% da carga de escoamento, o limite máximo admissível para a relação Fmáx./Fescoamento é de 51,42%, ou seja, Fmáx (admissível) = 126,22 kN, conforme Tabela 23. Tabela 23: Carga de trabalho para barra de aço CA-50 25mm; Área da Seção Escoamento Limite de Ensaio Carga de Trabalho Transversal (As) Fe = σe . As Flim = 0,9 . σe Ft = Flim /1,75 (cm²) (kN) (kN) (kN) 4,91 245,43 220,89 126,22 Fonte: O Autor, (2009). 110 4.7.2 Análise de estabilidade global das seções reforçadas Após a definição da estrutura de reforço a ser utilizada nas seções com h>6,0m, serão executadas análises sobre a seção crítica, com a finalidade de determinar a inclinação de introdução dos grampos. As características dos grampos de Aço CA 50 estão relatadas no item anterior. Na Tabela 24 encontra-se o valor de FSmin em função da variação de inclinação para os grampos. Tabela 24: Análise de estabilidade Solo Grampeado – Fatores de segurança variando inclinação dos grampos; GRAMPO (m) 6,50m ÂNGULO DE FS MÍNIMO CALCULADO INCLINAÇÃO (FSmin) (º) Jambu Simplificado 15° 1,349 20° 1,396 25° 1,450 30° 1,480 35° 1,539 40° 1,439 45° 1,436 50° 1,385 55° 1,350 FS ADMISSÍVEL (FSadm) 1,5 Fonte: O Autor, (2009). Observa-se que os valores de FSmin variam conforme a inclinação dos grampos, sendo crescente até a inclinação de 35°, e após esta inclinação, os valores decrescem, como mostrado no Gráfico 03 abaixo. 111 Gráfico 03: Valores dos diferentes FSmin em função da inclinação dos grampos; 1,550 1,539 1,500 1,480 FSmin 1,450 1,450 1,439 1,436 Fsmínimo Janbu 1,400 1,396 1,385 1,350 1,350 1,349 1,300 1,250 15° 20° 25° 30° 35° 40° 45° 50° 55° Ângulo de Inclinação Fonte: O Autor, (2009). Quando a inclinação é de 35º, o método de Janbu Simplificado apresenta o maior FSmin, a superfície de ruptura para esta condição, pode ser observada na Figura 49. Sendo assim, para todas as seções ainda instáveis após a introdução dos elementos de drenagem, os grampos introduzidos no maciço terão a inclinação de 35°, atendendo as condições apresentadas para a seç ão crítica. Figura 49: Superfície de ruptura para seção crítica considerando drenagem e Solo Grampeado. Fonte: Programa SLIDE. 112 Foi analisa também a seção com h=7,0m de altura, do mesmo modo teve os grampos introduzidos com a inclinação de 35°, satis fazendo o maior valor de FSmin . Nas análises foram encontrados valores apresentados na Tabela 25. Tabela 25: Análise de estabilidade Solo Grampeado – Fatores de segurança considerando elementos de reforço e drenagem; FS MÍNIMO CALCULADO ALTURA SEÇÃO FS ADMISSÍVEL (FSmin) (m) Janbu Simplificado (FSadm) 7,00m 1,525 1,5 8,00m 1,539 1,5 Fonte: O Autor, (2009). As demais seções analisadas encontram-se no Apêndice C, deste trabalho. 4.8 Configuração dos drenos e grampos utilizados para estabilização dos taludes Os elementos de drenagem profunda foram introduzidos em todas as seções analisadas e estão relacionados na Tabela 26. Tabela 26: Elementos de drenagem profunda (DHP) – Arranjo dos drenos por seção; SEÇÕES DRENOS (DHP) Linhas (m) de Altura da 1ª Comprimento Dreno. (nº) do Dreno. (L) (m) Inclinação (°) Diâmetro Drenos (mm) Eh Ev (m) (m) Linha em Relação ao Pé do Talude 4,00m 1 9,00m 5° 50mm 3,20m - 1,0m 5,00m 2 9,00m 5° 50mm 3,20m 3,20m 1,0m 6,00m 2 9,00m 5° 50mm 3,20m 4,80m 1,0m 7,00m 2 9,00m 5° 50mm 3,20m 6,40m 1,0m 8,00m 2 10,00m 5° 50mm 3,20m 6,40m 1,0m Fonte: O Autor, (2009). 113 O primeiro dreno de cada seção deverá ser introduzido a uma distância de 1,0 metros do pé do talude, conforme projeto apresentado no Apêndice D, deste trabalho. Para a técnica de Solo Grampeado, dados como a altura das seções, quantidade de grampos por seção, comprimentos de grampos(L), inclinação, espaçamentos horizontais (Sh) e verticais (Sv), estão relacionados na Tabela 27. Tabela 27: Análise de estabilidade Solo Grampeado – Arranjo dos grampos por seção; SEÇÕES GRAMPOS Linhas de Comprimento grampo. do Grampo.(L) (nº) (m) 1 5,50m 35° 2 5,50m 3 (m) 7,00m 8,00m Inclinação Diâmetro Eh Ev (m) (m) 25mm 1,60m 1,60m 35° 25mm 1,60m 1,60m 5,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m 4 5,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m 5 5,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m 6 5,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m 1 6,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m 2 6,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m 3 6,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m 4 6,50m 35° 1,60m 5 6,50m 35° 25mm 25mm 1,60m 1,60m 1,60m 6 6,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m 7 6,50m 35° 25mm 1,60m 1,60m (°) Barra de Aço (mm) Fonte: O Autor, (2009). O primeiro grampo de cada seção deverá ser introduzido a uma distância de 50,0 cm em relação ao pé do talude, conforme projeto apresentado no Apêndice D, deste trabalho. As seções onde serão introduzidos os elementos de drenagem profunda e a técnica de Solo Grampeado estão representadas na Tabela 28. 114 Tabela 28: Análise de estabilidade Solo Grampeado – Seções para introdução dos elementos de estabilização; Localização (Km) 380+625 ao 380+670 Lado 90,00m D/E 70,00m D/E 90,00m D/E 120,00m D/E 220,00m D/E 100,00m D/E 30,00m D/E 30,00m D/E 40,00m 380+705 ao 380+750 380+750 ao 380+810 380+810 ao 380+920 380+920 ao 380+970 381+970 ao 381+985 380+985 ao 381+000 381+000 ao 381+020 (m) D/E 380+670 ao 380+705 Extensão Altura Seção (m) 3,00 a 4,00m 4,00 a 5,00m 5,00 a 6,00m Comprimento Comprimento de de Drenos Grampos (PVC 50mm) (Aço CA-50 25mm) Drenagem 253,13m - Drenagem 393,75m - Drenagem 506,25m - 675,00m 2.475,00m 1.375,00m 6.256,25m 562,50m 2.062,50m Drenagem 168,75m - Drenagem 168,75m - Drenagem 112,50m - 4.215,63m 10.793,75m Tipo de Intervenção 6,00 a Drenagem e 7,00m Grampos 7,00 a Drenagem e 8,00m Grampos 6,00 a Drenagem e 7,00m Grampos 5,00 a 6,00m 4,00 a 5,00m 3,00 a 4,00m TOTAL Fonte: O Autor, (2009). 115 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS A Tabela 29 abaixo apresenta os resultados obtidos nas análises de estabilidade das seções adotadas, e são consideradas todas as situações impostas em análise. Tabela 29: Análise de estabilidade das seções adotadas, considerando todas as situações impostas; FSmin p/ ALTURA Condição SEÇÃO Após Escavação. (FSmin), (FSmin), Considerando Considerando Elementos de Drenagem FS Admissível para a Elementos de Profunda e Aplicação da Obra. Drenagem Técnica de Solo (FSadm) Profunda. Grampeado. Janbu Janbu Simplificado Simplificado 4,00m 1,279 1,888 - 5,00m 1,043 1,741 6,00m 0,937 1,488 - 7,00m 0,853 1,382 1,525 8,00m 0,743 1,316 1,539 (m) Janbu Simplificado (FSadm) 1,5 Fonte: O Autor, (2009). Analisando-se os dados apresentados nesta tabela, constata-se que os resultados obtidos demonstram a influência provocada pela alteração da geometria de uma camada de solo, todavia para que estas alterações sejam realizadas de forma consciente e segura é preciso uma criteriosa avaliação das condicionantes locais. Após esta criteriosa avaliação montam-se os modelos de análise e então são calculados os fatores de segurança quanto às condições de estabilidade desejáveis. Na obra em estudo, fica evidente o risco de não serem levados em consideração, as condicionantes locais, estas que podem viabilizar com restrições uma obra ou até mesmo inviabilizá-la. Para o caso de estudo, após as análises das seções adotadas, foi verificado que após a execução de uma escavação, o talude de corte estaria sob a condição de instabilidade, necessitando de cuidados especiais. Pode-se perceber claramente em outra etapa, a influência da água nas estruturas de contenção, como identificado no item 2.5.3 deste trabalho. Esta água que fica retida no interior dos solos gera tensões neutras indesejáveis para a estabilidade de um talude. Diante disso, é importante criar caminhos para que esta 116 água não venha a instabilizar o solo. Neste trabalho, trabalho estes “caminhos” para a drenagem da água foram criados através da introdução de drenagem profunda profu (Tabela 21). Os drenos têm a função de expulsar a água do interior do solo, trazendo novamente ente a condição de estabilidade, estabilidade, já que se pode trabalhar em termos de tensões efetivas. Na terceira etapa, após as verificações quanto à estabilidade do talude em suas condições naturais,, e a verificação feita após a introdução da drenagem coube aplicar a Técnica do Solo Grampeado. Para atingir o FSadm para a obra, os grampos foram introduzidos juntamente com os elementos ementos de drenagem, drenagem com esta associação de elementos pode-se pode atingir fatores de segurança superiores aos previstos. previstos A Tabela 25 mostra todos os detalhes referentes aos resultados obtidos nesta análise, e percebe-se se no caso grampos com comprimentos que chegam che ao máximo a 6,5 metros na seção considerada crítica, com espaçamentos verticais e horizontais de 1,6 metros. O Gráfico 04 apresenta um resumo resumo de tudo o que foi mostrado acima. Gráfico 04: Valores dos diferentes FSmin para o método de Janbu Jan Simplificado; 0,743 1,316 1,539 8,00m FSmin p/ Condição Após Escavação. Altura das Seções 0,853 1,382 1,525 7,00m 0,937 6,00m (FSmin), Considerando Elementos de Drenagem Profunda. 1,488 0 1,043 5,00m 1,741 0 1,279 4,00m 1,888 0 0,00 Fonte: O Autor, (2009). 0,50 1,00 FSmin Obtido 1,50 2,00 (FSmin), Considerando Elementos de Drenagem Profunda e Aplicação da Técnica de Solo Grampeado. 117 5.1 Análise de Custos Conforme a Tabela 30, foram analisadas as áreas onde será utilizada somente a drenagem, e as áreas onde será aplicada a associação de drenagem com a técnica de solo grampeado. Para o projeto apresentado no Apêndice D, deste trabalho, realizou-se o orçamento do projeto com base nos elementos utilizados para garantir a as condições de estabilização e/ou reforço para o talude após a escavação. A Tabela 30 descreve os itens necessários e seus respectivos valores. Tabela 30: Preços de serviços para a estabilização de taludes; Custo Item Descrição do Serviço 1. Solo Grampeado 1.1 Perfuração mecanizada Ø 10 cm até 12m em solo. Fornecimento, corte e instalação de barras de CA-50 A, pintura anticorrosiva e montagem com espaçadores a cada 1,5 m, diâmetro de 25 mm. Injeção de bainha e uma reinjeção (2tubos) de calda de cimento, através de válvulas manchete a cada 0,5 m. 1.2 1.3 Unid. Quant. Base: 2009 Preço TOTAL Unit. (R$) m 10.793,75 75,79 818.058,31 m 10.793,75 35,30 381.019,38 m 4.189,00 23,00 96.347,00 SubTotal R$ 2. Drenagem 2.1 Execução de Dreno sub-horizontal diâmetro 50 mm em solo (perfuração, montagem e fornecimento). m 4.215,63 1.295.424,69 110,45 SubTotal R$ 3. Concreto Projetado 3.1 Concreto projetado, via seca, com adição de fibras poliméricas, resistência de 4 MPa c/ 10 horas,e fck = 20 MPa, espessura 8cm. m³ 525,00 465.616,33 465.616,33 787,00 SubTotal R$ TOTAL R$ 413.175,00 413.175,00 2.174.216,02 Fonte: O Autor, (2009). No Gráfico 05, é possível observar a diferença de valores entre os serviços utilizados para a contenção dos taludes. 118 Em primeiro lugar tem-se tem a Técnica de Solo Grampeado que foi aplicada em uma área de 4.353,80 m², seguida pela drenagem renagem adotada em todo o perímetro da obra, totalizando uma área de 6.565,70 m², juntamente com o faceamento de concreto projetado. reços dos serviços utilizados para contenção dos taludes; taludes Gráfico 05: Preços Concreto Projetado 413.175,00 19% Drenagem (DHP) 465.616,33 21% Fonte: O Autor, (2009). Solo Grampeado Solo Grampeado 1.295.424,69 60% Drenagem (DHP) Concreto Projetado 119 6 CONCLUSÕES Observou-se após a determinação do fator de segurança do talude, obtido através de análises de estabilidade das seções de projeto, a inviabilidade da execução da obra, sem a adoção de elementos para a estabilização, e/ou reforço do talude. As seções apresentaram um fator de segurança abaixo do fator admissível (FSadm≥ 1,5). Algumas seções estariam em condição de instabilidade após a análise, que considera o talude de projeto. Outras mesmo não atendendo o FSadm estariam estáveis, porém necessitando de reforço. Para estas seções, foram adotadas medidas corretivas, com o intuito de viabilizar a obra objeto de estudo. Após a verificação, da efetiva necessidade de estabilização, e/ou reforço das seções foram adotadas técnicas de reforço para a obra. Dentre as técnicas apresentadas, foi escolhida a drenagem do talude, executada através de drenagem profunda (drenos sub-horizontais), tendo em vista a influência do NA, na estabilidade do talude. Estes drenos foram responsáveis pelo rebaixamento do lençol freático apresentado para as seções, podendo-se considerar o talude totalmente drenado. Após esta consideração os resultados das análises demonstraram, para as seções com h≤6,0m que o FSadm foi alcançado. Para as seções com h>6,0m as análises apresentaram valores ainda inferiores ao fator de segurança adotado para a obra. Para que, o FSadm estabelecido fosse alcançado, nas seções com h>6,0m, além da drenagem, foi utilizada, a técnica de Solo Grampeado. Por meio de inclusões passivas, esta técnica é responsável pela introdução de grampos injetados com nata de cimento, estes grampos, têm a função de aumentar a resistência do solo componente do talude. A análise realizada após a associação de elementos de drenagem e da técnica de Solo Grampeado, mostrou que se atingiram os valores de FSadm esperados. Quando elaborada a análise dos custos referentes aos elementos utilizados na obra, percebeu-se a influência nestes valores da utilização da Técnica de Solo Grampeado, que corresponde a 60% do valor total da obra, a utilização dos drenos, 120 corresponde a uma porcentagem de 21% do valor da obra e, ficando com 19% deste valor, o concreto projetado utilizado para a proteção da parede. Essa avaliação justifica a utilização dos elementos de drenagem, mostrando que sem a utilização destes, certamente o custo total da obra seria mais elevado, devido à necessidade de utilização da Técnica de Solo Grampeado em uma área maior do que a adotada neste caso. Este valor não previsto no projeto inicial elaborado para a obra de duplicação da BR-101, gera um impacto financeiro bastante significativo, correspondendo a uma porcentagem de aproximadamente 2% do valor total disponível em contrato para o Lote 27. Por estas obras de contenção e reforço serem obras de elevado custo, é de fundamental importância, que todas as áreas sejam estudadas, para que não existam surpresas no decorrer dos serviços. 121 7 RECOMENDAÇÕES Verificação da efetividade dos elementos de drenagem profunda (DHP), através de ensaios de capacidade de vazão, e sua área de influência; Execução de monitoramento de talude, proveniente de corte, aplicando-se a Técnica de Solo Grampeado; Realização de ensaios de arrancamento em grampos injetados; Elaboração de itens fundamentais para a execução de uma norma técnica sobre a Técnica de Solo grampeado. 122 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 6484: Solos – Sondagens de simples reconhecimento com SPT; método de ensaio, 2001. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - NBR 8036: Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios, 1983. 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Figura: Curva de ruptura para seção de 7m. 138 Figura: Curva de ruptura para seção de 8m. 139 APÊNDICE B – Análises de Estabilidade das Seções Considerando elementos de Drenagem 140 Figura: Curva de ruptura para seção de 4m com drenagem. Figura: Curva de ruptura para seção de 5m com drenagem. 141 Figura: Curva de ruptura para seção de 6m com drenagem. Figura: Curva de ruptura para seção de 7m com drenagem. 142 Figura: Curva de ruptura para seção de 8m com drenagem. 143 APÊNDICE C – Análises de Estabilidade das Seções Considerando elementos de Drenagem e técnica de Solo Grampeado 144 Figura: Curva de ruptura para seção de 7m com drenagem e técnica de Solo Grampeado. Figura: Curva de ruptura para seção de 8m com drenagem e técnica de Solo Grampeado. 145 APÊNDICE D – Projeto Executivo de Estabilização de Talude