PROMOÇÃO E REALIZAÇÃO REDE METROLÓGICA DO ESTADO DE SÃO PAULO - REMESP REDE DE SANEAMENTO E ABASTECIMENTO DE ÁGUA - RESAG 29 a 31 de outubro de 2014 Local: Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos – ABIMAQ Influência da aplicação de vácuo em processos de dessalinização por destilação térmica Ana Paula Pereira da Silveira 1, Ariovaldo Nuvolari 2, Francisco Tadeu Degasperi 3 Wladimir Firsoff 4 1 Faculdade de Tecnologia de São Paulo, São Paulo, Brasil, [email protected] Faculdade de Tecnologia de São Paulo, São Paulo, Brasil, [email protected] 3 Faculdade de Tecnologia de São Paulo, São Paulo, Brasil, [email protected] 4 Faculdade de Tecnologia de São Paulo, São Paulo, Brasil, [email protected] 2 Resumo A água é um dos recursos de maior importância para a vida no planeta e vem sofrendo as consequências do mau uso e da irresponsabilidade humana ao longo dos tempos. Sabe-se que ¾ da superfície terrestre é recoberta de água. Algumas regiões do planeta, afetadas pela escassez hídrica já obtém parte ou, em alguns casos, a totalidade da água de abastecimento público, através de processos de dessalinização de águas salobras e salinas. Palavras-chave: Dessalinização; Tecnologia do vácuo; Sustentabilidade. 1. INTRODUÇÃO O problema da escassez da água, utilizada nas diversas atividades humanas, quer sejam: no abastecimento público, industrial ou uso agropecuário (irrigação de culturas agrícolas e dessedentação de animais) vem recrudescendo nas últimas décadas. A situação está se tornando cada vez mais crítica não só em virtude do aumento populacional (que exige uma produção crescente de água para suprir a demanda), mas também pelo alto nível de poluição dos corpos d´água, o que vem diminuindo a qualidade das águas brutas, exigindo cada vez mais técnicas avançadas e/ou produtos químicos para se fazer o tratamento, visando à obtenção de água adequada a cada uso [1]. Em várias regiões do planeta, onde a disponibilidade hídrica é baixa, a situação já é tão crítica que a única solução viável, apesar de ser ainda considerada de alto custo, é a dessalinização de águas salobras ou salinas. Isso ocorre, não somente nos países do oriente médio, mas também em algumas cidades da Austrália, Singapura, Argélia, Espanha, Israel, diversas ilhas no mundo todo (inclusive no Brasil) e algumas regiões costeiras dos EUA, nas quais a dessalinização já é uma corriqueira e viável alternativa [1]. Com os objetivos voltados a essa realidade, foi criado um grupo de estudos denominado: GEP – Dessalinização de águas salobras e salinas, cujos integrantes estão vinculados à FATEC-SP – Faculdade de Tecnologia de São Paulo. O grupo iniciou seus estudos no ano de 2011, tendo como objetivo estudar processos de dessalinização por destilação térmica, aliada à aplicação de vácuo, para futuramente estudar sistemas ambientalmente sustentáveis. 1 Até o momento, foram coletados dados experimentais em laboratório que estão permitindo a caracterização dos sistemas em estudo, e o comportamento do tempo de destilação e da remoção de sais (com base na medida da condutividade) e com utilização de vácuo no sistema. 2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL A presente pesquisa de dessalinização de águas pelo processo de destilação térmica com aplicação de vácuo foi realizada utilizando água marinha, tendo como fonte energética 4 lâmpadas de 250W cada uma, direcionadas para um balão volumétrico (Ver Fig. 1). Fig. 1 – Vista geral do protótipo utilizado em 2014 Este balão volumétrico (de 1000 mL, com volume de amostra de 500 mL ) foi interligado a um sistema de arrefecimento, que por sua vez foi interligado a um recipiente (kitassato), usado para receber o líquido destilado. Ligada ao kitassato foi instalada uma bomba de vácuo e antecedendo a bomba, um filtro para evitar que os vapores chegassem até ela. Durante cada ensaio foi medida a temperatura, através de três termopares colocados em diferentes pontos: T1 - Ponto de medida de temperatura situado dentro do balão contendo a água bruta em processo de aquecimento. Esse líquido, ao final de cada ensaio foi chamado de condensado, por apresentar uma salinidade bem maior do que a da água bruta; T2 - Ponto de medida de temperatura situado na parte superior do balão contendo a água bruta em processo de aquecimento. Na verdade esse termopar mede a temperatura do vapor que passa em direção ao sistema de arrefecimento; T3 - Ponto de medida de temperatura situado dentro do kitassato que recebe o destilado. A pressão foi medida no manômetro instalado na bomba, podendo ser aferido pelo manômetro de coluna de mercúrio. Os ensaios realizados com esse protótipo foram feitos em dias e horários diferentes; O tempo de cada ensaio foi fixado em 90 minutos, contado a partir do momento em que a temperatura no ponto T1 (dentro do líquido em processo de aquecimento) atingia 30°C. Os ensaios foram feitos em triplicata, sempre mantendo a mesma pressão no kitassato durante cada ensaio. Com a ajuda da bomba de vácuo foram feitos ensaios com as seguintes pressões: 700 mmHg (valor estimado para a pressão atmosférica local), 600, 500, 400, 300, 200 e 100 mmHg. Toda destilação sempre gera um volume de destilado (coletado no Kitassato) e um volume de concentrado (armazenado no balão volumétrico onde a amostra foi colocada para ser destilada). Foram medidos os seguintes parâmetros de controle: condutividade, pH e turbidez da água bruta, do destilado e do condensado, além dos volumes de destilado e de concentrado ao final de cada ensaio. Os resultados de alguns dos parâmetros anteriormente listados são apresentados na Tab. 1. 2 3. RESULTADOS ANO DE 2014 - DESTILAÇÕES COM 4 LÂMPADAS DE INFRAVERMELHO de 250W cada Tab. 1 - Comparação dos resultados de alguns parâmetros de controle para pressões de 700 a 100 mmHg PRESSÃO Nº DO VOLUMES (mL) CONDUTIVIDADE (microSiemens/cm) pH mmHg ENSAIO CONC. DEST. AB CONC. % conc. DEST. % rem. AB 1º 235 265 51.500 88.100 71,1 232 99,5 7,89 8,05 4,84 2º 230 270 58.800 96.500 64,1 85 99,9 7,15 8,34 4,42 3º 225 275 53.500 99.500 86,0 74 99,9 7,92 7,89 4,42 MEDIA 232,5 267,5 55.150 92.300 67,6 158,5 99,7 7,5 8,2 4,6 1º 245 255 51.800 83.600 61,4 72 99,9 8,09 8,20 5,27 2º 225 275 64.200 99.300 54,7 98 99,8 6,98 8,32 4,90 3º 230 270 52.300 97.300 86,0 101 99,8 8,01 7,85 5,67 MEDIA 233,3 266,7 56.100 93.400 67,4 90,3 99,8 7,7 8,1 5,3 1º 210 290 51.100 104.300 104,1 101 99,8 8,15 8,20 4,58 2º 225 275 66.200 99.200 49,8 87 99,9 8,32 8,67 5,16 3º 205 295 54.100 106.600 97,0 90 99,8 7,85 7,86 5,21 MEDIA 213,3 286,7 57.133 103.367 83,7 92,7 99,8 8,1 8,2 5,0 1º 190 310 51.600 104.300 102,1 101 99,8 7,72 8,20 4,58 2º 205 295 62.700 106.300 69,5 96 99,8 8,16 8,14 4,44 700 600 500 400 300 CONC. DEST. 3º 195 305 53.200 108.800 104,5 127 99,8 8,12 8,04 5,48 MEDIA 196,7 303,3 55.833 106.467 92,1 108,0 99,8 8,0 8,1 4,8 1º 175 325 52.100 107.200 105,8 105 99,8 7,75 8,24 4,33 2º 190 310 53.000 112.400 112,1 106 99,8 6,91 8,27 4,45 3º 180 320 54.100 115.700 113,9 132 99,8 7,92 7,94 4,43 MEDIA 181,7 318,3 53.067 111.767 110,6 114,3 99,8 7,5 8,2 4,4 1º 185 315 52.100 104.900 101,3 116 99,8 7,85 7,93 4,18 2º 180 320 52.800 116.600 120,8 137 99,7 7,98 7,83 4,01 3º 175 325 54.300 117.400 116,2 45 99,9 8,11 7,91 4,27 MEDIA 180,0 320,0 53.067 112.967 112,8 99,3 99,8 8,0 7,9 4,2 1º 175 325 51.200 105.800 106,6 125 99,8 7,22 7,98 4,01 2º 165 335 51.900 122.700 136,4 196 99,6 7,85 7,68 3,69 3º 165 335 55.100 124.800 126,5 129 99,8 7,92 7,68 4,56 MEDIA 168,3 331,7 52.733 117.767 123,2 150,0 99,7 7,7 7,8 4,1 NTS NTS 54.667 105.690 NTS 113,1 NTS 7,80 8,06 4,62 DESVIO PADRÁO NTS NTS 3.914 10.035 NTS 37,5 NTS 0,36 0,22 0,49 MENOR VALOR 165,0 255,0 51.100 83.600 49,8 45,0 99,5 6,91 7,68 3,69 MAIOR VALOR 245,0 335,0 66.200 124.800 136,4 232,0 99,9 8,32 8,67 5,67 200 100 MÉDIA OBSERV: CONC. = concentrado DEST. = destilado AB = água bruta NTS = não tem sentido % conc. e % rem = percentuais de concentração e de remoção de condutividade Tab. 1 - Comparação dos resultados de alguns parâmetros de controle para pressões de 700 a 100 mmHg Utilizando-se os valores médios dos 3 ensaios realizados, foram estudadas as correlações e apresentadas nas Figuras 2, 3 e 4. Na Figura 2 é apresentado um gráfico que correlaciona as pressões efetivas aplicadas com os volumes de destilado obtidos e, como já se frisou, para um tempo de ensaio de 90 minutos. 3 PEFET = Pressões efetivas (mmHg) VDEST. = Volume de destilado (mL) 700 600 500 400 300 200 100 267,5 266,7 286,7 303,3 318,3 320,0 331,7 400 VDEST = Volume de destilado (mL) 350 300 250 VDEST = -0,1181 . PEFET + 346,43 R² = 0,956 200 150 100 50 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 PEFET = PRESSÃO EFETIVA ( m m H g ) Fig. 2 - Correlação entre a pressão efetiva aplicada e o volume de destilado (tempo de ensaio = 90 minutos) Analisando a figura 2, observa-se que houve boa correlação entre o volume de destilado produzido em relação à pressão aplicada, ou seja, a aplicação do vácuo resultou em maior volume de destilado durante o tempo de 90 min. de destilação. Na figura 3, é apresentada uma correlação entre a pressão aplicada e a condutividade do concentrado. PEFET = Pressões efetivas (mmHg) CONDCONC. = Condutiv. concentrado (microSiemens/cm) 700 600 500 400 300 200 100 92.300 93.400 103.367 106.467 111.767 112.967 117.767 CONDCONC = Condutividade do concentrado (microSiemens/cm) 140.000 120.000 100.000 80.000 CONDCONC. = - 44,263. PEFET. + 123.139 R² = 0,9597 60.000 40.000 20.000 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 PEFET = PRESSÃO EFETIVA ( m m H g ) Fig. 3 - Correlação entre a pressão efetiva aplicada e a condutividade do concentrado De acordo com a figura 3, houve boa correlação entre a condutividade do concentrado e a pressão aplicada. Isso se explica, pois quanto menor foi a pressão aplicada, maior foi o volume destilado, o que ocasiona na diminuição do volume inicial, tornando-o mais concentrado. A correlação entre a condutividade do destilado e a pressão aplicada não se torna possível, pois em todos os ensaios houve boa remoção de condutividade, o que faz com que esse resultado flutue muito. 4 Na Tab. 2 são apresentados os valores das temperaturas iniciais e finais de cada ensaio realizado, bem como a média dos três ensaios, nos três termopares: Termopar situado no interior do balão, o qual mede a temperatura inicial da água bruta e final no líquido T1 = concentrado; Termopar situado no topo do balão, o qual mede a temperatura do vapor em direção ao sistema de T2 = resfriamento; Termopar situado no interior do kitassato, que recebe o líquido destilado, o qual mede a temperatura T3 = deste líquido, após a passagem pelo sistema de resfriamento. Tab. 2 - Temperaturas iniciais e finais de cada ensaio, medidas nos termopares: T1, T2 e T3 PRESSÃO (mmHg) 700 600 500 400 300 200 100 ( °C ) 1º ENSAIO T1 °C T2 °C T3 °C 2º ENSAIO T1 °C T2 °C T3 °C 3º ENSAIO T1 °C T2 °C T3 °C T1 °C inicial 18,3 19,2 19,2 20,0 22,5 21,8 19,0 21,5 19,7 19,1 21,1 20,2 final 96,8 95,9 20,6 97,5 97,0 21,8 98,0 96,6 21,8 97,4 96,5 21,4 inicial 19,5 20,6 19,2 19,8 22,6 22,6 19,4 21,8 20,2 19,6 21,7 20,7 final 92,7 91,0 20,7 94,1 92,0 26,5 94,0 85,3 22,5 93,6 89,4 23,2 inicial 20,7 21,5 20,5 19,9 22,3 21,7 19,1 21,4 20,0 19,9 21,7 20,7 final 88,2 86,9 24,4 88,8 86,2 26,0 88,5 81,4 21,9 88,5 84,8 24,1 inicial 21,3 22,7 21,2 20,0 22,2 22,3 19,6 21,5 21,2 20,3 22,1 21,6 final 82,9 80,7 22,3 85,5 80,9 26,0 84,2 77,5 21,7 84,2 79,7 23,3 inicial 20,7 22,1 22,2 18,5 20,5 20,5 19,1 20,7 20,4 19,4 21,1 21,0 TEMP. MEDIAS T2 °C T3 °C final 77,1 74,3 23,9 77,7 68,7 23,3 76,8 72,8 21,6 77,2 71,9 22,9 inicial 19,6 21,7 21,1 19,1 20,6 20,6 18,8 20,9 21,1 19,2 21,1 20,9 final 68,0 65,1 25,7 69,6 65,0 25,7 67,6 64,1 22,4 68,4 64,7 24,6 inicial 19,7 21,5 21,5 18,9 21,2 19,2 18,9 20,7 19,3 19,2 21,1 20,0 final 57,5 63,6 25,4 58,5 52,4 22,6 56,5 59,3 21,0 57,5 58,4 23,0 Tab. - Temperaturas iniciais e finais de cada ensaio, medidas nos termopares: T1, T2 e T3 OBS.: As médias das2temperaturas finais de cada ensaio foram obtidas utilizando as 7 últimas leituras, ou seja: após relativa estabilização das leituras (tempos de destilação de 60 minutos a 90 minutos). O valor utilizado Na Fig. 4 sãonaapresentadas três12,curvas, as epressões efetivas elaboração da Figura é a médiacorrelacionando das temperaturas iniciais finais dos três ensaios aplicadas e a média das temperaturas finais dos três ensaios e nos três termopares. Pressões efetivas (mmHg) 100 200 300 400 500 600 700 T1 = temperatura final no concentrado (ºC) 57,5 68,4 77,2 84,2 88,5 93,6 97,4 T2 = temperatura final no topo do balão (ºC) 58,4 64,7 71,9 79,7 84,8 89,4 96,5 T3 = temperatura final no destilado (ºC) 23,0 24,6 22,9 23,3 24,1 23,2 21,4 100 T1= 16,213 . PEFET.0,2737 T1, T2 e T3 = Temperaturas finais (ºC) R2 = 0,999 80 T2 = 16,972 . PEFET.0,2594 R2 = 0,97 60 40 20 T3 = 26,361 . PEFET.-0,022 R2 = 0,1164 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 PEFET = Pressão efetiva (mmHg) Fig. 4 - Fig. Correlação entre entre a pressão efetiva aplicada finais termopares: 12 - Correlação a pressão efetiva aplicadae eas astemperaturas temperaturas finais nosnos termopares: T1, T2T1, e T3T2 e T3 5 4. CONCLUSÃO Os processos de destilação térmica tornam-se mais viáveis quando utilizadas instalações com duplo propósito (produção de energia termo-elétrica e dessalinização); Com o uso do vácuo, para um mesmo tempo fixo de destilação, houve maior produção de destilado. Nos ensaios realizados, tivemos como média 99,7% de remoção de condutividade, cabendo observar que não houve perda na eficiência de remoção com a aplicação de vácuo. Houve uma produção média de destilado de 267,5 mL para pressão atmosférica e de 331 mL quando a pressão aplicada foi de 100 mmHg, ou seja, um ganho de 63,5 mL, o que comprova, neste estudo, a eficiência da utilização do vácuo no processo de destilação térmica. REFERÊNCIAS [1] REBOUÇAS, Aldo da C. Água doce no Brasil e no mundo. In: BRAGA, B., REBOUÇAS, A., e TUNDISI, J. (org.) Águas doces no Brasil: Capital Ecológico, Uso e Conservação. 3ª ed. São Paulo: Escrituras, 748p. 2006 6