III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 001-008 MUDANÇA DA TEMPERATURA E EFEITOS NA CALIBRAÇÃO DE CÂMARAS DIGITAIS: ESTUDO DE CASO MAURICIO GALO 1 ANTONIO MARIA GARCIA TOMMASELLI 1 JÚLIO KIYOSHI HASEGAWA 1 ROBERTO DA SILVA RUY 2 THIAGO TIEDKE DOS REIS 2 1 Universidade Estadual Paulista – UNESP Departamento de Cartografia, Presidente Prudente, SP Programa de Pós-Graduação em Ciências Cartográficas - PPGCC {galo, hasegawa, tomaseli}@fct.unesp.br 2 Engemap – Engenharia, Mapeamento e Aerolevantamento Ltda [email protected], [email protected] RESUMO - As câmaras digitais modernas, independente de sua geometria, possuem sensores a base de elementos semicondutores que são, por natureza, influenciados por mudanças de temperatura, que também podem afetam o sistema óptico das câmaras. Alguns trabalhos na literatura têm procurado analisar influências da mudança de temperatura na calibração das câmaras, ou, mais especificamente, nos parâmetros estimados neste processo, sendo relevante avaliar a existência de correlação entre a temperatura e estes parâmetros. Além disso, é importante avaliar quão significante é esta interdependência, bem como a sua influência em aplicações como mapeamento, por exemplo. Dada a diversidade de câmaras e sensores de imageamento disponíveis, não é possível afirmar que o comportamento se repita, ou seja significante, para diferentes câmaras. Deste modo, este trabalho tem o propósito de mostrar, com base em experimentos com imagens reais, adquiridas em diferentes temperaturas, o comportamento de alguns parâmetros de orientação interior (OI) estimados na calibração de uma câmara digital. Procurou-se avaliar a correlação entre a temperatura e alguns dos parâmetros de OI, sendo observado que algumas correlações podem ser consideradas significativas. ABSTRACT - The modern digital cameras, no matter the geometry of the sensitive surface, are based on semiconductors elements that are influenced by temperature changes, which also has an influence on the camera optical system. Some previous works on the literature approached the influences of the temperature change in the camera calibration, or more specifically in the estimated parameters, being relevant to evaluate the correlation between the temperature change and these parameters. Besides that, it is important to evaluate how significant is this interdependence and also the influence in the mapping applications, for instance. Considering the diversity of cameras and sensors available, it is not possible to state that the same behavior occurs for different cameras. This work has the aim to present, based on experiments with real images acquired in different temperatures, the behavior of some inner orientation parameters for one digital camera. It was also evaluated the correlation between the temperature and some of IO parameters, being observed that some correlations can be considered significant. 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS O crescente desenvolvimento tecnológico das câmaras digitais, o aumento da resolução espacial e espectral, a diversificação da geometria das câmaras (de quadro, com múltiplas objetivas, de varredura, dentre outras) mais e mais áreas passam a utilizar este tipo de sensor de imageamento. Em aplicações na área de Fotogrametria e Visão Computacional, este tipo de sensor é muitas vezes usado com finalidades métricas, sendo neste caso relevante conhecer o comportamento e a estabilidade do sistema óptico e dos sensores de imageamento em uso, que são baseados principalmente em dispositivos semicondutores a base de silício. Com este propósito, alguns autores avaliam o comportamento da câmara ao longo do tempo, pela análise da estabilidade dos parâmetros de orientação interior (OI), que têm relação com a geometria do feixe perspectivo, como por exemplo feito por Habib e Morgan (2003, 2005) e Habib et al (2006). Nos trabalhos de Dähler (1987) e Gülch (1986) os autores procuraram avaliar se a mudança da temperatura tem efeito nas M. Galo, A. M. G. Tommaselli, J. K. Hasegawa, R. da S. Ruy, T. T. dos Reis Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 002-008 III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação medidas realizadas com as imagens adquiridas. Em Jacobsen e Wegmann (2002) os autores discutem, baseados em dados do trabalho de Meier (1978)1, a variação da distância focal de duas câmaras aerofotogramétricas com diferentes aberturas, em diferentes condições e os resultados indicam que o tipo de câmara, as condições de operação e o período em que a câmara permanece numa mesma temperatura têm efeito sobre a variação da distância focal. No trabalho de Mitishita et al (2009) os autores concluem, com base nos experimentos, que os resultados não indicaram que a causa das mudanças nos parâmetros de OI foram decorrentes de mudanças na temperatura. Com base no que foi exposto propõe-se, neste trabalho, a aquisição de imagens em diferentes condições térmicas, a realização da calibração da câmara bem como a análise do comportamento de alguns parâmetros de OI, nas diferentes temperaturas, procurando avaliar eventuais correlações. 2 MUDANÇA DA TEMPERATURA SENSORES CCD E CMOS E OS As modernas câmaras digitais são baseadas em sensores fotossensíveis a base de silício, sendo os mais utilizados o CCD (Charge Coupled Device) e o CMOS (Complementary Metal Oxide Semiconductor). As diferenças na arquitetura destes sensores implicam em diferenças de desempenho, que são normalmente avaliadas considerando oito atributos, conforme descrito por Litwiller (2001): quantidade de sinal gerado pelo sensor por unidade de energia incidente (responsivity), intervalo dinâmico, uniformidade, shuttering, velocidade, windowing, antiblooming e biasing / clocking. Independente da tecnologia considerada (CCD ou CMOS), um aspecto que é comum às duas tecnologias se refere aos efeitos da variação da temperatura. Um dos efeitos relacionados à temperatura é chamado dark current, que ocorre devido a propriedade do sensor CCD gerar cargas em cada fotodetector, com a mudança na temperatura. Deste modo, quanto maior a temperatura maior será este efeito e maior será o ruído na imagem (GRAHAM e KOH, 2002). Para outras fontes de ruído que ocorrem neste tipo de sensor são sugeridas as seguintes referências: Shortis e Beyer (1996) e Graham e Koh (2002). Uma vez que os efeitos mencionados têm alguma influência no processo de aquisição, observa-se que alguns fabricantes incorporam dispositivos de controle da temperatura em seus produtos. Um desse exemplo é a Hasselblad, que utiliza a tecnologia denominada DDC Double Duration Circuit incorporada em alguns modelos, como pode-se ver em Hasselblad (2004). Além da Hasselblad, a Leica Geosystems também tem esta preocupação, sendo a estabilização térmica realizada nas 1 câmaras ADS40 e ADS80, por exemplo. Como destacado por Eckardt et al (2000) a invariância à temperatura e à pressão são alguns dos elementos que devem ser considerados no desenvolvimento de sistemas ópticos, para câmaras de alto desempenho. Independente dos efeitos inerentes ao sensor, outro aspecto relevante consiste em realizar a calibração em uma dada condição térmica e depois adquirir as imagens em outra condição. Isso pode ocorrer devido ao gradiente térmico da atmosfera, que possui um valor médio de 1oC/153,9m (ou -0,98oC/1000 pés) o que significa uma redução de aproximadamente 19,5oC para uma altura de vôo de 3 km, como pode-se ver na Fig. 1. Figura 1 – Curva Altura de vôo x Temperatura, considerando o gradiente térmico médio da atmosfera. Deste modo, deve-se evitar utilizar parâmetros estimados em uma dada condição, para corrigir erros sistemáticos em imagens adquiridas em condições significativamente diferentes, caso o sistema não esteja equipado com dispositivos para estabilização térmica. 3 MODELO MATEMÁTICO UTILIZADO NA CALIBRAÇÃO O modelo matemático fundamental utilizado na calibração de câmaras é baseado nas equações de colinearidade, com parâmetros adicionais, ou seja: x´= x0 + ∆x − c Nx D y´= y0 + ∆y − c Ny , (1) D onde N x = m 11 (X − X cp ) + m 12 ( Y − Ycp ) + m 13 ( Z − Z cp ) N y = m 21 ( X − X cp ) + m 22 (Y − Ycp ) + m 23 ( Z − Z cp ) , (2) D = m 31 (X − X cp ) + m 32 ( Y − Ycp ) + m 33 ( Z − Z cp ) sendo c a distância principal (ou constante) da câmara; (X,Y,Z) são as coordenadas de um ponto no espaço objeto; (Xcp,Ycp,Zcp) são as coordenadas dos centros perspectivos; mij são os elementos da matriz de rotação, calculados em funções das rotações ω, ϕ e κ em torno dos eixos X, Y e Z respectivamente; (x´,y´) são as Meier, H.-K. The effect of Environmental Conditions on Distortion, Calibrated Focal Length and Focus of Aerial Survey Cameras. In.: ISP Symposium, Tokyo, May 1978. M. Galo, A. M. G. Tommaselli, J. K. Hasegawa, R. da S. Ruy, T. T. dos Reis III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação coordenadas do ponto observado na imagem, no sistema com origem no centro da imagem; (x0,y0) são as coordenadas do ponto principal e (∆x,∆y) representam as funções capazes de modelar as distorções em x e y respectivamente. Nestas funções podem ser considerados diferentes efeitos. O mais usual, para o caso de câmaras não métricas, é considerar as distorções radial simétrica (δxr, δyr), a distorção descentrada (δxd, δyd) e, em alguns casos, a distorção de afinidade (δxa, δya), escritos de forma genérica por: ∆x δx r δx d δx a ∆y = δy + δy + δy . r d a (3) Os modelos escritos na Eq. 3 podem ser escritos em função dos parâmetros da distorção radial simétrica (k1, k2 e k3), da distorção descentrada (P1 e P2) e dos parâmetros de afinidade (A, B). Para detalhes adicionais sobre os modelos descritos, bem como para a interpretação física, as seguintes referências são sugeridas: Moniwa (1972), Merchant (1979), Andrade (2003) e Galo (1993). Para outros modelos de afinidade sugere-se consultar Habib e Morgan (2003, 2005) e ILBM (2007). Com base nas Eqs. 1 a 3 foi implementado um aplicativo CC – Calibração de Câmaras, que realiza o ajuste pelo Método dos Mínimos Quadrados (MMQ). Este aplicativo permite que o usuário escolha o conjunto de parâmetros a serem estimados no processamento, além de permitir a realização da autocalibração, sendo também incorporada neste aplicativo a análise da significância dos parâmetros, como descrito em Galo et al (2008). Além do aplicativo mencionado foi usado também, em algumas comparações e análises, o aplicativo CMC Calibração Multi-Câmara (RUY, 2008; RUY et al, 2009). Esta comparação foi feita com o propósito de avaliar os resultados de eventuais correlações entre a temperatura e os parâmetros de OI analisados em processamentos independentes realizados com os mesmos dados. 4 EXPERIMENTOS E RESULTADOS 4.1 Câmara utilizada Para a realização dos experimentos relacionados à mudança de temperatura, foram adquiridas imagens utilizando 3 câmaras. No entanto, neste trabalho serão discutidos apenas os resultados obtidos com as imagens obtidas com a câmara Fuji FinePix S3 PRO (Fig. 2), que possui as seguintes características: 4256 (h) x 2848 (v) pixels (12,1 Mpixel); sensor Super CCD SR II de dimensão 23 x 15,5 mm; dimensão do pixel de 5,4 µm; distância focal nominal de 28 mm e no de série 63A0072B. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 003-008 a) b) Figura 2 – Câmara Fuji FinePix S3 PRO utilizada na aquisição das imagens (a) e detalhe de um fotodetector do sensor utilizado por esta câmara (b). 4.2 Aquisição das imagens em diferentes temperaturas e medição das coordenadas Na análise do comportamento dos parâmetros de OI em diferentes temperaturas, deve-se considerar que vários fatores afetam a qualidade dos parâmetros obtidos no ajustamento pelo MMQ. Como exemplo, pode-se mencionar a geometria das imagens do bloco, a qualidade das medidas realizadas, a distribuição dos pontos no plano imagem, a qualidade das coordenadas do apoio de campo, dentre outros fatores. Considerando o propósito do trabalho de avaliar o efeito da temperatura, procurou-se realizar as aquisições das imagens de modo que este fator fosse o único a ser modificado significativamente. As variações de pressão não foram avaliadas neste trabalho. Deste modo, foram realizadas quatro séries de imagens, com a mesma câmara, em diferentes temperaturas, sendo as imagens adquiridas dos mesmos pontos de vista, de modo que a geometria fosse semelhante, afetando igualmente os processamentos. Para a mudança da temperatura as câmaras utilizadas na aquisição ficaram em uma sala climatizada durante uma noite inteira, de modo que na manhã seguinte as imagens fossem adquiridas com a câmara em uma temperatura reduzida. Para o transporte das câmaras foram usadas bolsas térmicas, a fim de modificar o mínimo a temperatura até o início da aquisição. Para a medição das temperaturas foram utilizados 3 termômetros digitais, sendo feita a média das leituras dos 3 termômetros. Deste modo, a primeira aquisição foi realizada com a câmara mais fria, logo pela manhã. Antes da segunda aquisição, após 4 horas, as câmaras ficaram em um ambiente climatizado (com temperatura superior à da primeira aquisição). Antes da terceira aquisição as câmaras foram colocadas dentro de um veículo ao sol, por algumas horas, de modo a elevar e estabilizar a temperatura. Finalmente, a última aquisição foi feita repetindo o mesmo procedimento da primeira, sendo as imagens adquiridas no dia seguinte. As imagens foram adquiridas no Campo de Calibração de Câmaras da FCT/UNESP, localizado numa das paredes externas do Ginásio de Esportes, como mostrado na Fig. 3. Nesta figura são mostrados os 5 pontos a partir do qual as imagens foram adquiridas. Dos pontos P1 a P4 foram adquiridas 4 imagens (giradas entre M. Galo, A. M. G. Tommaselli, J. K. Hasegawa, R. da S. Ruy, T. T. dos Reis III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação si de 90o) e do ponto P5 foi tirada uma imagem. Deste conjunto de imagem foram escolhidas 9 imagens: uma do ponto P5 e duas de cada uma dos demais pontos. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 004-008 Na Fig. 5a e 5b são mostrados os alvos e a posição estimada com qualidade subpixel pelo aplicativo MID e em 5c é mostrado um alvo medido pelo aplicativo PMonoComp. Um aspecto também importante na calibração, além da qualidade das medidas, se refere à distribuição dos pontos por todo o quadro, principalmente para a modelagem dos parâmetros relacionados à distorção do sistema óptico. Na Fig. 6 é mostrada a distribuição dos pontos medidos em todas as 9 imagens, para uma das coletas. Como é possível notar, embora algumas regiões apresentem uma concentração maior de pontos, os pontos observados estão distribuídos por todo o quadro. Figura 3 – Ginásio de esportes e a localização dos pontos onde as imagens foram adquiridas. Na Figura 4 é mostrado um dos grupos de imagens utilizados no processamento. Figura 6 – Pontos medidos nas 9 imagens de uma das coletas realizadas. 4.3 Estratégia usada nos processamentos Como mencionado na Seção 3, um dos aplicativos foi utilizado para realizar a autocalibração, onde o mínimo de informações do espaço objeto é utilizado. No entanto, antes de realizar a autocalibração a seguinte estratégia foi adotada: Figura 4 – Conjunto de 9 imagens utilizadas num dos processamentos. Adquiridas e selecionadas as imagens, foram realizadas as medidas dos alvos, no espaço imagem. Para tanto foram utilizados os aplicativos MID (REISS, 2002). e PMonoComp2 . No aplicativo MID pode-se fazer medidas usando o centro de massa ou determinar a intersecção a partir de duas retas. O aplicativo PMonoComp utiliza também o centro de massa. Na Fig. 5 são mostrados 3 alvos medidos. ■ ■ ■ ■ ■ a) b) c) Figura 5 – Exemplos de 3 alvos circulares medidos, usando o aplicativo MID (a e b) e PMnonoComp (c). 2 ■ Foi feito um pré-processamento, realizando a calibração clássica com parâmetros adicionais, usando as coordenadas dos pontos do campo de calibração; Os resíduos obtidos deste processamento foram analisados e os pontos com resíduos maiores que 1,5 pixels foram medidos novamente; Após o pré-processamento foram escolhidos dois conjuntos de parâmetros de OI: - c, x0, y0, k1, k2 - c, x0, y0, k1, k2, P1, P2 Para a autocalibração foi fixada a posição e orientação de uma das câmaras, correspondendo a 6 injunções; Como o número mínimo de injunções para definir o referencial é 7, mais uma injunção bastaria, mas foram dadas 2 injunções de distâncias. Estas distâncias foram medidas diretamente no objeto com um paquímetro de precisão (Pantec 2000mm / 80", leitura ±0,020mm); Como o programa necessita das coordenadas aproximadas de, pelo menos, um ponto do espaço Autor: Prof. Dr. Júlio K. Hasegawa, UNESP – Dep. de Cartografia, Presidente Prudente SP. M. Galo, A. M. G. Tommaselli, J. K. Hasegawa, R. da S. Ruy, T. T. dos Reis III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação objeto, foram dadas 3 injunções de posição, com desvio-padrão de σX = 2 m, σY = 2 m e σZ = 1 m, sendo todos os demais pontos livres no ajustamento. Além desse processamento foram realizados processamentos usando a calibração com os pontos de apoio (e não autocalibração) com o aplicativo CMC, a fim de avaliar as correlações entre a temperatura e os parâmetros de OI, por processamentos independentes. 4.4 Resultados dos processamentos Os processamentos foram realizados, considerando a estratégia descrita na sub-seção anterior. Na Fig. 7 são mostrados os resíduos, no espaço imagem, após o processamento das imagens da primeira coleta. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 005-008 Os resíduos mostrados na Fig. 7 dão uma indicação da qualidade do ajuste dos dados ao modelo, sendo também importante ter algum tipo de controle externo da qualidade. Para este controle as coordenadas dos pontos no espaço objeto estimadas no ajustamento foram usadas para o cálculo de distâncias, sendo estas distâncias “estimadas” comparadas com as distâncias de referência medidas diretamente no espaço objeto, também com o paquímetro de precisão mencionado (Seção 4.3). Nesta análise, não foram incluídas as duas distâncias usadas como injunção em cada processamento e o maior valor de EMQ3 das distâncias, para as 4 coletas, foi de 2,1mm (no espaço objeto). Na Figura 8 são mostrados três gráficos de barras: os dois primeiros (Figuras 8a e 8b) com os valores da distância focal estimada em cada coleta, para dois conjuntos de parâmetros de OI (c, x0, y0, k1, k2, P1, P2 e c, x0, y0, k1, k2), bem como os valores das temperaturas em cada caso (8c). Pode-se observar que o maior valor de c, para os dois processamentos, correspondeu ao conjunto de imagens onde a temperatura foi maior, podendo-se observar visualmente que existe correlação, que será estimada e avaliada na próxima seção. Figura 7 – Resíduos nos pontos imagem após a autocalibração dos pontos da coleta 1 considerando os parâmetros: c, x0, y0, k1, k2, P1, P2. a) A Fig. 7 é mostrada apenas para verificar a magnitude dos resíduos, podendo-se notar que em todos os pontos os resíduos foram menores que 1 pixel. A Tab. 1 mostra os valores dos parâmetros de OI (c, x0, y0, k1, k2, P1, P2) com os respectivos desvios padrão, bem como os valores de graus de liberdade (gl), qui-quadrado (χ2) amostral (QQa) e χ2 teórico (QQt) para as 4 coletas. Estes últimos valores foram usados para avaliar a aceitação do ajustamento, via teste χ2, com nível de confiança de 90%. Tabela 1 – Parâmetros de OI e estatísticas para cada uma das 4 coletas feitas com a câmara Fuji FinePix S3 PRO. b) c) Figura 8 – Valores da distância focal estimada considerando o conjunto de parâmetros (c, x0, y0, k1, k2, P1, P2) em (a); os parâmetros (c, x0, y0, k1, k2) em (b); e as temperaturas em cada uma das 4 coletas (em c). 4.5 Análise da correlação entre a temperatura e alguns parâmetros de OI Nesta seção é feita uma análise da correlação existente entre a temperatura e alguns dos parâmetros de OI estimados para cada uma das 4 coletas. A correlação é 3 Admite-se que EMQ é equivalente a RMSE - Root Mean n Square Error, i. e.: 2 RMSE = ∑ (x i − x ) (n − 1) i =1 M. Galo, A. M. G. Tommaselli, J. K. Hasegawa, R. da S. Ruy, T. T. dos Reis III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação calculada pelo Coeficiente de Correlação de Pearson (ρ), que varia no intervalo [-1,1]. A Tabela 2, na sequência, mostra os valores dos parâmetros de OI estimados por autocalibração, bem como os valores de ρ entre a temperatura e cada parâmetro do conjunto (c, x0, y0, k1, k2). Nesta tabela a seta à esquerda aponta para os valores de ρ. Por exemplo, a partir da Tabela 2, pode-se ver que o coeficiente de correlação entre a temperatura (T) e a distância focal (c) obtido foi de ρ(T,c)=90,2%. Tabela 2 – Parâmetros de OI estimados por autocalibração e correlações com a temperatura, para a câmara Fuji FinePix S3 PRO. Ao observar os valores de ρ mostrados na Tabela 2, onde foram considerados os parâmetros, pode-se notar que todos os valores de ρ foram, em valor absoluto, maiores que 75%, indicando a existência de significativas correlações. Processamento análogo foi realizado considerando o conjunto de parâmetros de OI (c, x0, y0, k1, k2, P1, P2) usando autocalibração, sendo calculados também os valores de ρ. Como mencionado na Seção 4.3, utilizando o mesmo conjunto de dados foram feitos experimentos, para as 4 coletas, considerando a calibração clássica e usando as coordenadas dos pontos de apoio, ou seja, sem realizar a autocalibração. Como meio de controle externo nestes processamentos foram avaliados os valores de EMQ para as discrepâncias nos pontos de apoio, sendo observado que o maior valor de EMQ foi de 3mm, indicando que os processamentos são compatíveis. As correlações entre a temperatura e alguns dos parâmetros de OI (c, x0, y0), neste experimento, bem como nos dois anteriores, considerando a autocalibração, são sintetizados na Tabela 3. Tabela 3 – Correlações entre a temperatura (T) e os parâmetros de OI c, x0 e y0, para os experimentos realizados com a câmara Fuji FinePix S3 PRO. Correlações (%) Experimentos [Aplicativo] ρ(T,c) ρ(T,x0) ρ(T,y0) Autocalibração [CC] 90,2 96,3 80,8 (c,x0,y0,k1,k2) Autocalibração [CC] 73,3 72,8 41,7 (c,x0,y0,k1,k2,P1,P2) Calibração [CMC] 73,0 93,3 90,4 (c,x0,y0,k1,k2) Média ± Desvio padrão 78,8 ±9,8 87,5 ±12,8 71,0 ±25,8 Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 006-008 Com base na Tabela 3, onde apenas 3 correlações para cada experimento são destacadas, pode-se notar que todas as correlações são maiores ou iguais a 73%, exceto a correlação ρ(T,y0) para o segundo experimento (considerando c, x0, y0, k1, k2, P1, e P2), que resultou numa correlação pequena (ρ(T,y0)=41,7%). Ao observar na Tabela 3 os dois experimentos nos quais foram considerados apenas os parâmetros (c, x0, y0, k1, k2,), com aplicativos distintos e diferentes abordagens, as correlações mostradas foram elevadas (≥73%), indicando uma concordância dos resultados em termos de correlação entre temperatura os parâmetros c, x0, e y0 para os processamentos independentes. A partir dos parâmetros de k1 e k2, mostrados na Tab. 2 as curvas da distorção radial simétrica podem ser traçadas, como mostrado na Fig. 9a. Em 9b mostra-se um detalhe ampliado das mesmas curvas, podendo-se observar as diferenças em seu comportamento para cada uma das coletas. a) b) Figura 9 – Comportamento da curva de distorção radial simétrica para cada uma das coletas, em diferentes temperaturas. 5 CONCLUSÕES Neste trabalho foram discutidos e avaliados alguns aspectos relacionados ao efeito da temperatura nos parâmetros de OI para câmaras digitais, sendo realizados experimentos com dados reais em diferentes temperaturas. A fim de realizar os experimentos com o mínimo de influência dos pontos do espaço objeto alguns processamentos foram realizados considerando a M. Galo, A. M. G. Tommaselli, J. K. Hasegawa, R. da S. Ruy, T. T. dos Reis Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 007-008 ECKARDT, A.; BRAUNECKER, B.; SANDAU, R. Performance of the imaging system in the LH Systems ADS40 Airborne Digital Sensor. In.: IAPRS - International Archives of Photogrammetry and Remote Sensing, Vol. XXXIII, Amsterdam, 2000. III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação autocalibração. Nestes processamentos foram impostas injunções na posição do CP de uma das câmaras e em medidas de distâncias realizadas diretamente no espaço objeto com um paquímetro. Na calibração clássica foram utilizados somente os pontos de apoio. Em ambos os casos foram utilizadas imagens convergentes. Como controle externo, no caso da autocalibração, foi calculado o EMQ das distâncias e, no caso da calibração clássica, os valores do EMQ para as discrepâncias nas componentes dos pontos do espaço objeto. Para os experimentos realizados com diferentes grupos de parâmetros de OI foi possível observar que o coeficiente de correlação médio entre a temperatura da câmara durante a coleta e a distância focal estimada foi da ordem de 78,8 % ± 9,8 %. Quando foi utilizado o conjunto de parâmetros de OI (c, x0, y0, k1, k2) as correlações obtidas entre a temperatura e todos os parâmetros de OI foram maiores ou iguais a 73 %. Em especial, a correlação entre a temperatura e a distância focal foi da ordem de 90 % no processamento quando foram considerados os parâmetros (c, x0, y0, k1, k2) com autocalibração. De forma geral, foi possível observar que, em condições térmicas distintas, os parâmetros de OI foram modificados, alguns mais que outros. Os resultados obtidos sinalizam que estratégias de compensação desta variação devem ser consideradas, principalmente quando as condições térmicas no momento da calibração são significativamente diferentes das condições de operação das câmaras. Os resultados, embora preliminares, não devem ser generalizados para diferentes câmaras e sistemas e, nestes casos, sugere-se a realização de testes com este propósito. Em termos de continuidade deste trabalho pretende-se realizar processamentos e análises com imagens obtidas por outras câmaras, e também com a mesma câmara (em outras épocas), no sentido de avaliar se o comportamento observado é confirmado. AGRADECIMENTOS GALO, M. Calibração e aplicação de câmaras digitais. 1993. 151 p. Dissertação (Mestrado em Ciências Geodésicas), Universidade Federal do Paraná, Curitiba. GALO, M.; TOMMASELLI, A. M. G.; HASEGAWA, J. K.; CAMARGO, P. de O. Significância dos parâmetros de orientação interior na calibração de câmaras. 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