BASES
PSICANALÍTICAS
DA CLÍNICA COM
BEBÊS
Daniela Teperman
DUAS ESPECIFIDADES INICIALMENTE
o lugar dos pais no tratamento
o lugar dos bebês tomados como sujeitos
em constituição
A ESCUTA DOS PAIS
Todo o estudo sobre a criança implica
sempre o adulto .
Não é uma orientação, uma terapia ou
análise.
É tratamento clínico pela escuta analítica,
manejos transferenciais e intervenções
específicas.
OBJETIVOS
localizar a posição da criança na estrutura
discursiva familiar
Obter deslocamento na posição subjetivas
dos pais em relação à problemática da
criança
No tratamento
Nas entrevistas preliminares não são
possíveis com as crianças.
Elas já estão petrificadas pelo significante.
São possíveis com os pais
Os bebês ao nascerem estão
imersos numa rede de linguagem
que os precede e que se atualiza
nos pais e familiares próximos
Presenças dos pais:
Podem dizer-nos das marcas que a criança
carrega;
Os pais são fundamentais para formularmos a
direção do tratamento;
Um bebê não existe sem os pais .

OS PAIS
muitas vezes sabe-se que os pais
demandam orientação, nestes casos, é
preciso lançar mão de manejos que
possam
mantê-los
trabalhando,
garantindo a continuidade do trabalho.
A FUNÇÃO EDUCATIVA DA CLÍNICA COM
SUJEITOS EM CONSTITUIÇÃO
o circuito pulsional na criança estaria
referida a primeira função educação;
São os pais enquanto agentes da
linguagem, portadores de um desejo em
nome próprio, não anônimo, que iniciam a
tarefa educativa.
A FUNÇÃO MATERNA OU COM0 EM
“MEIA LIBRA DE CARNE”
ADVÉM UM SUJEITO
O sujeito não está dado desde o início, mas se
constitui.
Essa constituição não ocorre espontaneamente,
não “brota” de dentro do bebê; não vem pronta
e matura com a passagem do tempo: é preciso
do Outro.
Relutamos em aceitar esta idéia, mas ao se
constatar o fracasso no laço com o Outro, que
constatamos que o bebê pode continuar como
“meia libra de carne”.
A função materna:
implica em algumas operações que
marcam a inscrição do bebê na
linguagem;
fundamental para a constituição do
sujeito;
Freud denominava esta capacidade de
“ilusão antecipatória materna”;
Winnicott a chamava de “loucura
necessária das mães”.
Incorporação simbólica:
0-6 meses
A mãe simbólica, sua tarefa primordial é supor
um sujeito no bebê.
Ela se ocupa dos objetos da necessidade,
visando às urgências vitais do bebê.
O bebê precisa do Outro para sobreviver.
O sistema (de marcas, signos perceptivos)
começa a construir-se. Freud;
A mãe simbólica faz uma intermediação que
instituirá no bebê o funcionamento pulsional que
caracteriza o ser falante.
Laznik (1997) descreve 3 tempos
do circuito pulsional:
1° - o bebê busca o objeto oral (seio,
mamadeira)
2º - é marcado pela capacidade auto-erótica do
bebê (que chupa seu dedo ou a chupeta)
3º - o bebê se assujeita a um Outro – ex.
estendendo seu pé, para que a mãe o coma –
que se torna sujeito da sua pulsão.
É neste 3º tempo que inaugura a alienação
O infantil propriamente dito:
6-18 meses
há uma mudança de posição da função
materna e no valor dos objetos.
Ocorre passagem da mãe simbólica para
a mãe real, encarnada para o bebê.
o bebê se dirige à mãe, lhe dirige
demandas, não visa somente o objeto,
mas à verificação do amor materno
CLÍNICA PSICANLÍTICA COM
BEBÊS: intervenção no laço
do bebê com o Outro
Nem sempre é a mãe a primeira a encarnar o
Outro para o bebê, mas o fundamental é que
alguém desempenhe essa função, para garantir
a inscrição do bebê na linguagem.
Devemos intervir na posição dos pais em
relação ao bebê e do bebê em relação ao Outro;
Intervir na estrutura simbólica na qual a criança
está inserida.
Para que o pai venha a ser real para
a criança, são necessários alguns
passos prévios, quando o pai
aparece enquanto tal, terminou-se o
bebê que dá lugar à criança.
Outros parâmetros para uma
clínica psicanalítica com bebês
Buscamos que os pais se dêem conta de
que estão implicados na criança-sintoma
que é objeto de sua queixa. Trata-se de
um trabalho de sinificantização;
a demanda é trabalhada como nos moldes
de uma psicanálise clássica;
Os pais, ao estabelecerem a transferência com
o psicanalista, autorizam o tratamento. A criança
rapidamente
estabelece
transferência,
reconhece o psicanalista, se reconhece. Isto se
dá na medida em que o pai participa em parte
das sessões com a criança.
Na “psicanálise com bebês” há um preceito:
falar com os bebês. Com a estimulação se dá a
intervenção. As entrevistas com o psicanalista
são realizadas com outro profissional e criança
não participa.
Na Psicoterapia breve, as
intervenções são realizadas
com os pais, na presença do
bebê, havendo poucas
intervenções diretamente com
este último.
Efeitos da intervenção
A prática a ser apresentada foi realizada no
Núcleo de Intervenção Precoce do Lugar de Vida,
primeiro começaram a receber alguns bebês com
aproximadamente 1 ano de idade, mas a maior
parte deles tem chegado ao tratamento com
idades entre 2 e 3anos.
Os laços dessas crianças com o Outro está
comprometido já nos primeiros anos de vida,
sendo que a constituição do sujeito não ocorreu
ou ocorreu de forma precária.
As crianças encaminhadas para o Núcleo
são recebidas pela equipe de triagem, para
uma primeira entrevista que é composta
pelos
seguintes
profissionais
um
psicanalista, um fonoaudióloga e a pediatra
da instituição, após a entrevista o caso é
discutido e juntos decidem qual é o melhor
forma de tratamento para cada criança. A
seguir estão inseridos quatro casos para
ilustrar a construção ocorrida a partir de
uma conexão permanente entre teoria e
clínica.
CASO D - supor um sujeito
ou dar testemunhos de seu
advento?
História Pessoal:
D apresentava hipertonia (dormia praticamente o
dia todo), hipotonia (ficava “largado” no colo da
mãe), ausência de qualquer tipo de reação (à dor,
a remédios com gosto desagradável, à posição na
qual era colocado, etc.), não sustentava a cabeça,
não conseguia segurar objetos. D não olhava e
apresentava nistagma “parecia um bebê amorfo
no colo de sua mãe”, a mãe relatava vários
episódios graves de convulsão (a primeira aos
seis meses) e seguidas internações decorrentes
de pneumonia;
Sua mãe saía para trabalhar pela manhã,
deixava-o no berço e, quando voltava,
encontrava o filho no mesmo lugar. A avó e
a tia revezavam-se nos cuidados do
menino. Quando D nasceu sua mãe
encontrava-se deprimida, pois havia
separado do marido á poucos meses e tinha
outro filho de 1 ano de idade, estava
bastante perturbada e delegava à sogra o
cuidado dos filhos.
CASO L - e
o “milagre”
História Pessoal:
L tem 3 ano, sua mãe relata que L foi separada
dela após o nascimento em decorrência de uma
infecção urinaria e diagnóstico de microcefalia. L
não andava, não falava apresentava estereotipias,
desconecta-se em alguns momentos e
apresentava convulsões. Foi encaminhada pela
fisioterapeuta que chegou a seguinte conclusão é
o “emocional” que não permite essa criança a
andar. No inicio da vida de L sua mãe a rejeitou
por causa de engolfamento, e por estar deprimida
porque foi abandonada pelo companheiro.
CASO C - pode-se furar o
corpo sem que se fure o
simbólico.
História Pessoal:
C tem 2 anos e desde que nasceu vem sendo
submetidas a intervenções médicas repetidas e
invasivas como cirurgias e sondas etc. C é uma
menina que tem atrasos no desenvolvimento. Os
pais relatam dos inúmeros problemas que a
menina possui e de consulta a vários
profissionais. É uma criança que dificulta a
aproximação dos especialistas para realizar as
terapias: fonoaudiologia e fisioterapeuta.
CASO A- autismo, refluxo
ou “perspicácia?”
História Pessoal:
A tem 2 anos, sua mãe relata que a criança
começou vomitar desde de que nasceu e não
parou mais, a hipótese de hérnia no estomago
foi descartada, a pediatra orientou a mãe a
alimentá-la dormindo a noite a cada duas horas
e ela aceitava somente mamadeira. Foi realizado
um eletro e tomografia e exame específico para
a deglutição, e nenhuma alteração foi
constatada. A psiquiatra diagnosticou A como
autista. A mãe não pôde amamentar essa
criança, pois tomava remédios para depressão,
porque seu pai havia morrido recentemente.
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