323 adolescentes serão mortos em Cuiabá até 2012 se cenário não mudar A GAZETA - CADERNO B CUIABÁ, 22 DE JULHO DE 2009 PÁGINA 3 15 HORAS DE JULGAMENTO ‘Tato’ é condenado a 12 anos após confessar que mandou matar o pai Réu tentou justificar crime por maus-tratos, tese que caiu por terra com depoimento da mãe e irmã ANA PAULA BORTOLONI DA REDAÇÃO arlos Renato Gonçalves Guimarães, o “Tato”, 37, foi condenado a 12 anos de prisão em regime fechado por ter encomendado a morte do pai, o fazendeiro José Carlos Guimarães, em 29 de janeiro de 2008. Ao ser interrogado pela juíza Maria Erotides Kneip Baranjak, o réu confessou o mando e contou como se deu a contratação dos outros 5 envolvidos no crime. Alegou, porém, que quis a morte do pai em decorrência de um histórico de humilhações que sofria. O julgamento, ocorrido no Tribunal do Júri de Várzea Grande, teve quase 15 horas de duração, sendo encerrado às 3h40 da madrugada de terça-feira. No mesmo tom dos depoimentos das testemunhas de defesa, “Tato” afirmou que era maltratado pelo pai. Chegou a chorar durante o interrogatório, dizendo que nunca recebeu qualquer demonstração de afeto e carinho. Ao ser questionado do porquê de ter cometido o crime respondeu que foi “porque ele tinha me matado 36 anos atrás”. O réu era quem gerenciava as fazendas Fartura e Bonsucesso, no município de Nova Maringá (400 km a Chico Ferreira/Arquivo médio-norte de Cuiabá), que juntas somavam Da esquerda para direita: Alex Sandro, Jonathan Soares, uma área de mais de 6 mil hectares, mas alega Wedson Rodrigues e Willian Moraes, todos condenados que atuava como verdadeiro peão, recebendo um salário de R$ 1,4 mil, além de mesada de R$ 500. Caso precisasse de um dinheiro extra para A funcionária admitiu que intermediava o contato entre o réu e a despesas, diz que o adiantamento era descontado vítima, uma vez que os 2 não se falavam, mas mandavam recados no próximo pagamento. Reclamou que o pai o para que ela os repassassem. destratava na frente de amigos e empresários. De acordo com o réu, o gado estava perdido no dia da vacinação, Na segunda-feira à tarde, a ex-mulher de mas em seguida ele localizou as reses e aplicou a vacinação. No Carlos Renato, Marli da Silva Nunes, com quem interrogatório, ele negou as acusações e sustentou que ele tem uma filha de 12 anos, disse que enquanto o assassinato foi em decorrência da relação com o pai. foram casados chegou a procurar tratamento O crime - Na época do homicídio de José Carlos, psicológico para o marido, mas as consultas Carlos Renato morava em São José do Rio Claro (315 foram interrompidas porque os 2 não tinham km a médio-norte de Cuiabá). No interrogatório, o réu condições de arcar com os custos e os pais dele afirmou que entrou em contato com Wedson não ajudavam. Eles ficaram casados por cerca de Rodrigues Feitosa, o “Tampa”, para a prática do crime. 6 anos e o relacionamento teria terminado, entre Disse que a partir daí o comparsa entrou em contato outros motivos, em virtude do problema familiar Disseram que ele era com Alex Sandro Alves Moreira, o “Tubi”, Jonathan do rapaz. Relatou que pai e filho nunca preocupado com os Soares de Souza e Marcos Pacheco Galiano, o ocupavam o mesmo ambiente na casa onde filhos, embora “Marquinhos”, até chegarem a Willian da Silva, o “Zé moravam em Cuiabá. “Se o José Carlos chegava, exigente Pequeno”, que foi quem efetuou os disparos que o Carlos Renato ia para o quarto. Eu nunca vi os mataram o fazendeiro. Ele negou que a encomenda 2 na sala conversando como pai e filho”. tenha sido acertada em gados, conforme apontou o Uma outra testemunha de defesa relatou que a MP. Segundo o réu, o pagamento seria discutido vítima se referia ao filho como “aquele cara”. depois do crime. Desmentido - No entanto, conforme a juíza No dia 29 de janeiro, “Tato” marcou um encontro com o pai no Maria Erotides, os depoimentos das testemunhas escritório do advogado dele, mas deixou o local antes da chegada da caíram por terra a partir da exibição das Otmar de Oliveira/Arquivo vítima. Os passos de José Carlos estava sendo monitorado pelos declarações da mãe e viúva Idê e da filha e irmã, Marcos Pacheco é o único dos 6 acusados que ainda comparsas. Foi “Zé Pequeno” quem se aproximou da vítima, Adriana, em vídeo. As 2 descreveram José não foi julgado pelo homicídio do empresário perguntou o nome dela e atirou. Os outros co-réus deram suporte Carlos como uma pessoa carinhosa, amorosa e para a ação criminosa. O homicídio ocorreu por volta das 20h. Dos cuidadosa com os filhos e que adorava os 2 6, apenas “Marquinhos” ainda não foi julgado e condenado. A Wedson, Willian e Alex netos. “Disseram que ele era preocupado com os filhos, embora exigente”. Sandro, foram aplicadas penas de 10 anos de prisão. Já Jhonatan foi condenado a cumprir 8 Intimadas como testemunhas, ambas foram dispensadas de prestarem depoimentos anos em regime fechado. durante o julgamento. Inicialmente, a pena para “Tato” foi fixada em 13 anos, mas reduziu em um ano diante O Conselho de Sentença entendeu que a motivação do crime não foram as desavenças da confissão do crime. O advogado de Carlos Renato, Waldir Caldas, afirma que ainda não entre pai e filho, mas sim por dinheiro. José Carlos era proprietário de 3 usinas de calcário e decidiu se vai recorrer da sentença. das 2 fazendas que o filho gerenciava, e, conforme denúncia do Ministério Público Estadual, o réu desviava dinheiro das propriedades rurais a partir da ocultação da venda clandestina de cabeças de gado e de toras de madeira. Uma das funcionárias da vítima, Rita de Cássia Ribeiro Furtado, afirmou em depoimento na segunda-feira que o filho era obrigado a apresentar relatórios mensais da produtividade das fazendas e que a descoberta do desfalque ocorreu em novembro de 2007, época de vacinação do rebanho. Na ocasião, disse que a contagem in loco apontou a ausência de 200 animais. Ela disse que relatou o problema ao empresário, que determinou que a funcionária fizesse um relatório por escrito para ser mostrado à mãe de “Tato”, para discutirem as medidas a serem tomadas. C “ João Vieira/Arquivo Advogado de Carlos Renato ainda não decidiu se vai recorrer da sentença, que saiu na madrugada de ontem