ALFABETIZAÇÃO VISUAL PARA RESÍDUOS SÓLIDOS: APRENDIZAGEM POR INTERPRETANTES A PARTIR DA LEITURA DE UMA IMAGEM INVENTIVA DE UM ESTUDANTE DO CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA Robson Francisco Pedrozo (Secretaria de Estado da Educação – SEED/PR) [email protected] Patrícia de Oliveira Rosa-Silva (Universidade Estadual de Londrina) [email protected] RESUMO Este trabalho teve o objetivo de através de um processo de alfabetização visual, tratar o tema resíduos sólidos no espaço das cidades, como estudo para a Educação Ambiental (EA), sob o olhar da semiótica peirceana e sobre os discursos ecológicos brasileiros. A proposta desta pesquisa consistiu em trabalhar com a imagem inventiva de um dos estudantes do Curso Técnico em Química na modalidade subsequente, de uma escola da rede estadual de Londrina/PR, no ano de 2014, buscando analisar o conhecimento do participante frente à temática e relevância para os resíduos sólidos. Para os encaminhamentos metodológicos, foram seguidos os preceitos da pesquisa participante, cuja abordagem é qualitativa. Fez-se uso de instrumentos, tais como: videogravação dos encontros, registros escritos e representações imagéticas. Desses últimos, foi montado um banco de dados contendo 12 imagens, produzidas pelos estudantes, das quais, selecionou-se apenas uma para este trabalho. A análise da imagem se deu sob a ótica da teoria da aprendizagem por interpretantes, além do discurso ecológico brasileiro presente nela. Do resultado, apresenta-se a predominância do interpretante lógico na imagem, além de explicitar sobre um signo novo a se pensar para os resíduos sólidos, no caso, o chorume, produto da decomposição da matéria orgânica. Sobre o discurso ecológico brasileiro, nota-se a influência do discurso ecológico oficial (DEO). Por meio desta pesquisa, se apresenta uma estratégia de refletir profundamente sobre as questões socioambientais que o assunto demanda em ambiente escolar. Palavras chave: Alfabetização Visual, Resíduos Sólidos, Teoria da Aprendizagem por Interpretantes, Discurso Ecológico Brasileiro. 1 INTRODUÇÃO A alfabetização visual, por via das implicações psicológicas e fisiológicas humanas, por elementos visuais básicos, permite a investigação analítica racional, que busca a ampliação e compreensão dos produtos gerados por meio dela. Como processo pedagógico para a Educação Ambiental (EA), a alfabetização visual, é 27 uma forma estratégica de retratar os problemas socioambientais e as ações condicionadas dos estudantes. Já a semiótica, como teoria de análise do conhecimento, revela inúmeras possibilidades de organizar ideias e pensamentos por conceitos e pelo conhecimento escolar. Consolidar a alfabetização visual com a semiótica garante a possibilidade de construir, organizar e interpretar uma rede de informações, a partir da posse de uma proposição ou uma imagem, tornando-se o início de uma caminhada para a construção e prática do saber. Esta pesquisa norteia-se pelas questões da geração desenfreada e do mau gerenciamento dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) dentro dos espaços da municipalidade. Essa temática tem se expressado, atualmente, em diversos meios. Entre eles, cita-se a obra de Layrargues (2011), cuja importância situa o discurso ambientalista governamental brasileiro em duas matrizes discursivas: o Discurso Ecológico Oficial (DEO) e o Discurso Ecológico Alternativo (DEA). A proposta desta pesquisa foi levar a discussão sobre a temática RSU a estudantes do Curso Técnico em Química (CTQ), subsequente, de uma escola da rede pública do município de Londrina/PR. A partir dessa discussão formou-se um banco de dados com registros escritos e videogravados dos encontros e das imagens inventivas fornecidas pelos participantes. Esta pesquisa é participante, com abordagem qualitativa. O dado escolhido para a análise foi a imagem inventiva de um dos estudantes. A análise dessa se deu sob o olhar da aprendizagem por interpretantes da semiótica de Charles Sanders Peirce, conforme as categorias fenomenológicas, e também, no dimensionamento dos Discursos Ecológicos Brasileiros defendidos por Layrargues (2011). A problemática estabelecida nesta pesquisa é: (Q1) A imagem que serviu de recorte para esta pesquisa, nota-se a predominância de qual interpretante de Peirce? (Q2) Qual o discurso ecológico que se expressa nela? Espera-se, através deste estudo, contribuir como uma estratégia pedagógica, por meio do processo de alfabetização visual para a EA. Assim, buscase validar os conhecimentos que os estudantes apresentam, consolidando-os pelo argumento apresentado na imagem a aquisição de saberes socioambientais. 28 2 A IMAGEM NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO VISUAL E COMO SIGNO ANALÍTICO PARA A SEMIÓTICA A linguagem visual é uma das formas de comunicação mais utilizada no campo da informação, difundindo-se pelo uso de imagem e da ilustração. A imagem é o mecanismo de representação de pessoas, objetos ou fenômenos, sendo expressos em caráter gráfico (por meio de algum tipo de papel, um recurso audiovisual), ou mental (por meio de um processo mais complexo na forma de abstração). Já a ilustração refere-se à expressão específica de representação de caráter gráfico e que se submetem a um entendimento interligado à informação que se deseja transmitir através dela (PERALES PALACIOS, 2006). Ainda, segundo Perales Palacios (2006), a imagem quando utilizada como ferramenta científica, pode se classificar quanto ao critério de temporalidade em: estáticas, servindo como meios de transmissão da informação real (ilustrações, diagramas, desenhos, etc.); ou dinâmicas, sendo representadas por uma dimensão lúdica (vídeos, publicidade, desenhos animados, simulações, infográficos, etc.). Berger (1974) enfatiza e destaca o grande potencial que as imagens apresentam, quando expressa que: “as palavras não superam a função do que se pode ver”. Do mesmo modo, Santaella (2005) afirma que a imagem por si mesma tem o poder de transmitir uma determinada informação. Quando essa imagem está associada a uma mensagem pela linguagem verbal, ela ganha maior riqueza informativa que a dimensiona para uma melhor e eficaz compreensão da informação (SANTAELLA, 2005). Em específico para a sala de aula, Reigota (2009), destaca a grande relevância que as imagens apresentam frente aos objetos e significados pedagógicos acerca das questões científicas, históricas, culturais, econômicas e das situações cotidianas que os estudantes interagem. Para Gil Quílez e Martinez Peña (2005), as imagens, como instrumento pedagógico, podem apresentar uma maneira motivadora e satisfatória dos estudantes em quererem aprender ao tempo que se desenvolvem para a apreensão do conhecimento científico. Portanto, o uso de imagens proporcionam a compreensão, a interpretação de assuntos e temas que retratam a 29 contemporaneidade, os modelos, as analogias e aos conceitos científicos, garantindo a evolução cognitiva dos estudantes (GIL QUÍLEZ; MARTÍNEZ PEÑA, 2005). Dondis (2007) defende o conceito de alfabetização visual, ao destacar em amplo aspecto o conhecimento imagético aos quais todos estão envolvidos diariamente, no sentido não apenas de reter o conhecimento ao espaço escolar, mas também em nível de mundo. Dessa forma, a informação imagética, carregada de seu potencial de conhecimento pelo conjunto sintático e semântico dos signos, induz o intérprete a uma análise mais aprofundada da representação (DONDIS, 2007). Segundo Penn (2011), há diferenças marcantes entre as leituras de linguagens orais e das imagéticas. O que se percebe é que nas leituras imagéticas, o potencial de inferência que o leitor traz em seguimento ao material imagético e a ele exposto é dimensionado conforme o seu conhecimento e o seu meio cultural e de experiência. Dessa forma, o leitor realiza uma leitura interativa e simultânea de signos, através da linguagem oral ou escrita nas relações dos valores expressos na condição espacial da imagem (PENN, 2011). Em virtude desses vários apontamentos relevantes para o processo de alfabetização visual por meio de leituras imagéticas, é que Santaella (2005) emprega o grande papel da semiótica peirceana como procedimento metodológico analítico para tratar as questões de diferentes naturezas sobre a concepção humana. Para Perales Palacios (2006), a imagem é um objeto da linguagem visual. Quando se trata de uma imagem abstrata, ela é definida por uma analogia de elementos da realidade. Quanto à sua sintaxe linguística, ela é mais flexível que a linguagem verbal, pois possibilita um vasto campo de interpretação, além, é claro, por permitir a relação simultânea ou sequencial entre os seus elementos (PERALES PALACIOS, 2006). Santaella (2005) qualifica a imagem dentro da semiótica como sendo um signo, e tudo aquilo que ela representa o seu objeto. O signo se reporta a algo, que é o que denota aquilo que o signo busca representar. A imagem em si, a aquilo que ela corresponde, é um objeto dinâmico. Aquilo que está sob o entendimento, a expressão, a qualidade, a sensações, que a imagem infere a quem a analisa, é o objeto imediato. Portanto, o objeto imediato é quem remete o objeto dinâmico, afinal, essa é a função do signo, é mediar tudo aquilo que nos coloca em contato com ele e 30 ao que conduz ao que chamamos de realidade (SANTAELLA, 2005). Santaella e Nöth (2008) referem que na imagem há dois domínios: a representação visual e as imagens mentais. O que determina a unificação de um ao outro, são os conceitos de signo e representação. Desse modo, a semiótica e a ciência cognitiva, são ciências que se entrelaçam para o estudo da imagem através das representações visuais e as imagens mentais (SANTAELLA; NÖTH, 2008). A imagem como meio de comunicação e informação cede bases para exprimir e expor o conhecimento que estudantes apresentam frente aos conhecimentos prévios e adquiridos através do ensino. Afirmando que há cognição através do processo de alfabetização visual, busca-se através da questão socioambiental, RSU, apresentar a importância de se trabalhar com esta temática em ambiente escolar para a EA. 3 A APRENDIZAGEM POR INTERPRETANTES Os estudantes trazem intelectualmente consigo uma série de informações e conceitos sobre fatos, fenômenos e assuntos variados. Esses conceitos são veiculados por vias denotativas e conotativas aos quais se dão significação a eles (ROSA-SILVA, 2013, p. 63). O processo de significação é sempre contínuo com tendência a aumentar cada vez mais, em virtude ao que é expresso pelo objetivo do signo. Este signo pode ser expresso por uma imagem, um texto, uma fórmula química ou matemática (SANTAELLA, 1995 apud ROSA-SILVA, 2013). Segundo Peirce (1992 apud Santaella, 2005), os interpretantes incidem diretamente sobre a significação dada aos signos, por afetar a mente de quem entra em contato com este signo, ao qual se determina ou surge um efeito. Para Rosa-Silva (2013), a tricotomia dos interpretantes de Peirce sofre uma reformulação quando dimensiona o efeito interpretante para a aprendizagem sobre as atividades pedagógicas, em especial, para a análise de imagens como instrumento pedagógico. Na Figura 1, apresentam-se as categorias sígnicas da leitura imagética no processo de aprendizagem por interpretantes, obtido através da interação do conhecimento dos estudantes sobre os signos científicos que lhe são apresentados e a relação que se fundamenta entre eles (ROSA-SILVA, 2013). 31 Figura 1 – Diagrama das categorias sígnicas na leitura imagética Fonte: ROSA-SILVA (2013, p. 101). O Interpretante Imediato identifica-se no primeiro momento em que se trabalha com uma determinada representação com os estudantes, expressado pela interpretação desses em um primeiro nível de significação, limitado ao significado interno e ordinário do signo pela denotação de primeira ordem. Neste nível ele pode tomar o preceito de icônico (primeiridade) ou de índice (secundidade) (ECO, 2003 apud ROSA-SILVA, 2013). Quando Ícone, o signo é associado com o objeto figurado não dispondo de maior desprendimento intelectual, que não aquele já previamente conhecido. Quando Índice relaciona-se à dimensão do signo à existência ou causalidade (ROSA-SILVA, 2013). Ainda como Interpretante Imediato, há a ordem conotativa (terceiridade), expressa como segundo nível de significação. Neste nível, o estudante passa a experimentar, reconhecer e reelaborar novos conceitos que, transmitidos pelo processo educativo e por conteúdos direcionados, nortearão à construção de conhecimentos e saberes científicos institucionalizados. Desse modo, o estudante aprimora os conhecimentos prévios que possui, relacionando-os ao aprendizado através da conotação sígnica instrucional (ROSA-SILVA, 2013). Segundo Peirce (1992 apud SANTAELLA, 2005), o Interpretante Dinâmico é subdividido em três níveis: Emocional (primeiridade), Energético (secundidade) e Lógico (terceiridade). O nível Emocional evoca o Qualissigno, como Ícone, por meio do sentido de conotação, a sensibilidade, a estética, o valor, de quem interpreta o signo, no caso o estudante, firmado pela relação que o signo traz 32 com o conhecimento que é ensinado. O nível Energético requer a disposição exteriorizada por via de denotação do estudante, portanto, o Sinsigno é expresso por Índice, frente ao signo que é apresentado ao intérprete, exigindo um esforço mental de desenvolvimento desse signo. Nele a disposição física é perceptível pela reação ativa do intérprete pela ação do signo, a ser desenvolvido pelo seu interpretante em ações, atitudes e procedimentos. No nível Lógico, o interpretante volta-se de forma conotativa aos conteúdos conceituais e às regras apreendidos, dimensionado ao Legissigno, sendo seu efeito direcionado pela linguagem semântica com base sintática, na expressão de Lei. Nele há expressão internalizada pelos estudantes, com significados e sentidos que constroem e identificam os signos ao conhecimento científico (ROSA-SILVA, 2013). O Interpretante Final se eleva através do senso particular de cada estudante. Ele é uma resposta convergente de sentidos além do senso mental comum de uma sociedade, sendo de natureza coletiva, vincula-se por meio da relatividade do conhecimento dado pelo ensino. Nele, o intérprete ganha autonomia para expressar conceitos e atitudes que vão além dos Interpretantes Imediato e Dinâmico, desencadeando habilidades e condutas pertinentes ao conhecimento adquirido pela aprendizagem (ROSA-SILVA, 2013). A relevância da aprendizagem por significações sígnicas dos Interpretantes de Peirce, através da classificação dos signos por categorias fenomenológicas, apresenta-se o papel da imagem como instrumento pedagógico no processo de alfabetização visual para o conhecimento socioambiental. 4 OS DISCURSOS ECOLÓGICOS BRASILEIROS Um dos meios para tratar a gestão e produção de RSU, é defendido por Layrargues (2011), cuja substancialidade situa duas matrizes do discurso ambientalista governamental brasileiro, o discurso ecológico oficial (DEO) e o discurso ecológico alternativo (DEA). Layrargues (2011), apoiado nas ideias da Carvalho (apud Layrargues, 2011), transpõe esses discursos à área da EA, fazendo um alerta a respeito da complexidade dos fatores políticos, econômicos, sociais e culturais que envolvem o tema RSU, como o papel da reciclagem, da coleta seletiva, do catador, do consumismo e dos valores da sociedade moderna. 33 Para Layrargues (2011), o DEO vem representar a ideologia hegemônica, mantendo o status quo sobre o discurso dos RSU a favor da obtenção do lucro pelo capital. A ênfase do DEO está na reciclagem como um ato ecológico, induzindo o cidadão a uma prática comportamentalista sobre os mecanismos da geração do consumo (LAYRARGUES, 2011). O consumo desencadeia processos de alienação e exploração do trabalho, criando irracionalidades comandadas pela indústria, na proliferação de supérfluos e na obsolescência planejada. Gera um tipo de comportamento e de ideologia que sustentam não apenas a concepção de prazer e imediatismo, mas a de degradação das relações entre ser humano e natureza (LIMA, 2010). O DEA, por outro lado, parte de uma ideologia contra hegemônica, ou seja, de que os resíduos são gerados por condições culturais da sociedade do consumo e, portanto, esse tipo de sociedade merece ser questionada, por meio de reflexões sobre a obsolescência planejada material e simbólica, a descartabilidade, o incentivo ao consumismo, etc. (LAYRARGUES, 2011). Através da ênfase provocada pelo DEA, há a possibilidade de se compartilhar conhecimentos e reflexões voltados às questões socioambientais ocasionadas pela geração de resíduos, sendo a escola o lugar em que se pode atuar com maior esforço para as mudanças atitudinais, lançando-se mão de práticas reflexivas que visem o repensar sobre o tema (LAYRARGUES, 2011). De posse do referencial teórico baseado na semiótica peirceana para interpretantes e os discursos ecológicos brasileiros para EA como objeto de estudo para esta pesquisa, apresentam-se em seguida os encaminhamentos metodológicos norteados que garantiram a efetivação deste trabalho. 5 ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS Este trabalho foi um recorte de uma investigação, que integra atividades do Grupo de Estudo Semiótico em Educação Ambiental (GESEA) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), tratando-se de uma resposta da universidade às demandas socioambientais de uma relevante temática dos tempos atuais: a produção e o gerenciamento dos RSU no espaço da municipalidade. O projeto foi, primeiramente, analisado e aprovado pelas instâncias de pesquisa, dentre elas, o Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos 34 da UEL, cujo parecer é de n. 052/2014, com registro no CAAE sob o n. 30492614.6.0000.5231. Para satisfazer a sua natureza empírica, foi realizada uma parceria entre a Universidade e uma Escola Estadual de Londrina/PR, que oferece os cursos de Técnico em Meio Ambiente (CTMA) e Técnico em Química (CTQ), na modalidade subsequente, período noturno, turmas únicas. Antes de iniciar a pesquisa com os estudantes, o grupo de pesquisadores informou-lhes sobre os objetivos e metas da investigação, de posse do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e do Termo de Consentimento de Uso de Banco de Dados (TCUD). Todos os participantes assinaram os termos em duas vias. A proposta foi dividida em duas fases, com encontros semanais de uma a quatro horas/aula ao final do primeiro e no decorrer do segundo semestre de 2014, à noite. A primeira fase compreendeu um total de 14 h, destinando-se ao estudo e à elaboração de duas unidades didáticas (UD) pelos pesquisadores, uma para cada turma, conforme a ementa das disciplinas: Gestão de Resíduos para o CTMA, e Análise Ambiental para o CTQ. E a segunda fase contou com 24 h no total, distribuídas no decorrer das aulas de um bimestre nos dois cursos. As UD contemplaram um acervo de gêneros imagéticos e textuais sobre o temário consumo na perspectiva antropológica, tendo como ponto de partida as obras de Layrargues (2011) e Lima (2010). O acervo foi usado para o desenvolvimento da alfabetização visual, em três momentos. No primeiro, houve a leitura de imagens dinâmicas e estáticas - termos estes empregados por Penn (2011) sobre o assunto, seguida do preenchimento de questionários abertos e discussões. No segundo, os estudantes, em casa, realizaram a criação das imagens, segundo seus entendimentos, a respeito das ações estabelecidas no Art. 9º da PNRS. E no terceiro, foram realizadas novas discussões sobre suas criações imagéticas. Na UD direcionada ao CTQ os três momentos para o desenvolvimento da alfabetização visual, se deram da seguinte forma: no primeiro, houve a leitura de imagens (charges, fotografias, tirinhas, filmes de curta-metragem e de longametragem) sobre o assunto que cada qual expressava, seguida do preenchimento de questionários abertos e discussões; no segundo, fora do horário em que o projeto se desenvolvia, ocorreu a criação das imagens pelos estudantes a respeito do entendimento deles sobre as ações estabelecidas no Art. 9º da PNRS; e no terceiro, 35 foram realizadas novas discussões da leitura das imagens dos próprios estudantes. No total, foram contabilizadas 24 horas aula. Para a pesquisa, em específico, direcionou-se apenas o processo de alfabetização visual realizado com a turma do CTQ. A turma do CTQ era composta por 10 pessoas. Para preservar os seus anonimatos, optou-se pela abreviatura de duas letras quaisquer do nome completo de cada uma delas. O dado que conduziu para este trabalho se deu sob a leitura da imagem inventiva de um dos estudantes. Para a escolha, foi considerada a imagem que trouxesse em seu contexto algo novo, que expressasse a temática ou que, na ocasião, um novo signo. A imagem escolhida foi do estudante Lh, masculino, 36 anos, casado, funcionário de controle de qualidade de empresa do ramo de produtos de higiene bucal do município de Londrina. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a videogravação e a audiogravação das aulas, os registros escritos e as imagens inventivas, termo este usado por Reigota (2009), dimensionado às representações dos participantes. Esta pesquisa é participante, qualitativa, de cunho interpretativo. Como é destacado por Brandão e Borges (2007), a pesquisa participante, é aquela em que o pesquisador posiciona-se como sujeito, juntamente com o grupo de indivíduos interessados e envolvidos na pesquisa. Neste tipo de pesquisa os objetivos traçados pelo pesquisador e participantes são convergentes para o desenvolvimento das atividades em equipe (BRANDÃO; BORGES, 2007). Para a análise do dado, foram seguidos os pressupostos dos interpretantes da semiótica de Peirce e os discursos ecológicos brasileiros apresentados por Layrargues (2011). 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Figura 2, é apresentada a análise referente à imagem reportada para este trabalho, também de modo a responder a Q1 e Q2 da pesquisa. 36 Figura 2 – Logística reversa Registro escrito “Morto-degradado. Que “É processado na “Tornando-se em sua forma não tem mais utilidade.” indústria.” original.” Fonte: Lh (2014). O título da imagem do estudante Lh, “Logística reversa”, faz referência a uma das ações trazidas pela PNRS (BRASIL, 2010). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2010), o termo: logística reversa é o “instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação”. O estudante traz um novo conceito para tratar a logística reversa, não para os RSU, mas para a gestão de “resíduos” decorrentes da decomposição da matéria orgânica morta, em especial, se faz pensar sobre o chorume, como produto dessa decomposição. No caso, da representação, sobre o chorume, e os processos industriais gerados para reaproveitamento ambiental. De maneira a responder a Q1 da pesquisa, nota-se a predominância do interpretante lógico, tanto no título quanto na imagem, norteados pelo legissigno cemitério, que não é um signo geral para discutir sobre o tema RSU. Há também, de forma particular, em cada cenário exposto na tirinha, a presença de outros interpretantes que conduzem à formação geral para o interpretante lógico. Observam-se no primeiro cenário (cemitério humano) e no terceiro (paisagem natural), os ícones cemitério e natureza, na qualidade de qualissignos, indicando a categoria de primeiridade de interpretante emocional. 37 No segundo cenário, por via conotativa, percebe-se a caracterização de lei/argumento, da ação da indústria em se incumbir do papel de reaproveitamento de materiais para fins beneficentes à preservação ambiental. É aqui que se revela o novo conceito de logística reversa para o estudante, sendo um novo signo a ser pensado para tratar os resíduos provenientes da decomposição da matéria humana morta. Neste nível, o estudante passa a experimentar, reconhecer e reelaborar conceitos que transmitidos pelo processo educativo, viabilizam a construção de conhecimento e saber institucionalizado. A mensagem deixada para a imagem traça um novo percurso mental de raciocínio, típico do plano conotativo da terceiridade. A indução da mensagem mantém-se firmada ao interpretante lógico, ao tratar sobre os resíduos da decomposição do organismo humano e do reaproveitamento destes pela indústria para prol do meio ambiente. Para responder à Q2 da pesquisa, há influência do DEO a partir da imagem e do argumento apresentado. Nestes produtos, o estudante procura apresentar uma nova proposta dentro da logística reversa em se repensar sobre o reaproveitamento de organismos mortos, para resgatar algo de aproveitável que possa ser devolvido ao meio ambiente. Veicula então, ainda, o papel que a indústria tem em reprocessar resíduos, para garantir benfeitorias a natureza, e posteriormente haver a compensação dos recursos naturais, para ser novamente utilizada pela indústria na forma de matéria-prima. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A alfabetização visual se mostrou eficaz como estratégia pedagógica por associar conhecimentos prévios com aqueles ensinados aos estudantes. E claro, pelas interações destes com o professor da disciplina de Análise Ambiental do CTQ, os colaboradores, e a coordenadora do projeto de pesquisa, na troca de informações. Ao decorrer do processo de ensino aprendizagem por alfabetização visual foi possível observar e constatar o conhecimento que os estudantes expressavam por meio do diálogo, os registros escritos e as imagens inventivas. Além disso, pela espontaneidade em expressar seus sentimentos e visionar na pesquisa sua relevância para a temática RSU. 38 Da imagem selecionada para esta investigação, sobre a análise para os interpretantes de Peirce, observou-se para a imagem do estudante, titulada “Logística reversa”, o conhecimento ensinado dentro da PNRS sobre o papel da indústria em realizar a coleta e destino final aos RSU servindo de subsídio para a criação imagética. O estudante traz uma nova proposta de repensar a logística reversa para tratar os resíduos gerados pela decomposição da matéria orgânica morta, em especial o chorume, como sendo um desses produtos. O interpretante predominante na imagem é o interpretante lógico, sendo também eminente ao título, imagem e argumento. Para a análise sob os discursos ecológicos, a imagem traz em seu contexto, a predominância do DEO, por expor o papel da indústria em tratar os resíduos. Propõe a uma nova condição a ser pensada pela indústria, na logística reversa de material orgânico em decomposição para garantir a manutenção do meio natural. Mas não condiciona ao papel da indústria sobre suas ações para os recursos naturais que são retirados da natureza de modo a permitir sua manutenção produtiva e lucrativa. Por meio desta análise, remete-se a grande relevância da alfabetização visual para retratar as questões entorno do temário resíduos sólidos. Também se destaca a partir dela a possibilidade de outra maneira de ensinar e ao mesmo tempo de aprender. Como houve a colaboração e participação unânime dos estudantes da turma do CTQ na adesão ao decorrer do processo de ensino-aprendizagem, visionase aqui, uma estratégia a ser desenvolvida por uma nova forma de aprender a ensinar, na rotina de uma sala de aula. REFERÊNCIAS BERGER, John. Modos de ver. Barcelona: Gustavo Gilli, 1974. BRANDÃO, Carlos Rodrigues; BORGES, Maristela Correa. 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