AGENDA 21 NO MUNICÍPIO DE VOLTA REDONDA – A CIDADE DO AÇO Vânia Ferreira Cantamessa¹; Edson Trajano Vieira² ¹ Mestranda em Gestão e Desenvolvimento Regional - Programa de Pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional - PPGDR - Universidade de Taubaté – Rua Visconde do Rio Branco, 210 Centro - 12020-040 – Taubaté/SP – Brasil – e-mail: [email protected] ² Professor e Pesquisador do Programa de Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional – PPGDR Universidade de Taubaté – Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro - 12020-040 – Taubaté/SP – Brasil – e-mail: [email protected] Resumo É proposta deste artigo examinar como deu-se a implantação da Agenda 21 pelo Município de Volta Redonda. Trata-se de um processo de planejamento participativo que envolveu a criação de um Fórum para a criação da Agenda 21, que seria composto pela sociedade civil e Estado. Verifica-se a aplicabilidade da Agenda 21 no Município conhecido como Cidade do Aço, localizado no Sul Fluminense, Microrregião do médio Paraíba. Pressupõe-se que sua localização estratégica tenha contribuído na sua escolha para berço da primeira empresa siderúrgica brasileira, vanguarda que ao longo dos anos revelou-se onerosa para o Município que viu-se obrigado a arcar com os aspectos positivos e negativos desse empreendimento. Por meio de um estudo bibliográfico de cunho documental, apoiado em dados e documentos trabalhados, busca-se explorar o processo de criação e implantação da Agenda 21 para Volta Redonda. Palavras-chave: Volta Redonda. Desenvolvimento. Sustentabilidade. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Introdução O Município de Volta Redonda (Cidade do Aço) possui 182,483 Km² e uma população de 257.803 habitantes (IBGE, 2010). Localizado no entroncamento entre as Rodovias Presidente Dutra (BR116) e Lúcio Meira (BR 393), é o berço da primeira grande indústria de base brasileira. Considerado um Município de médio porte (IPEA, 2008) tem a seu favor a referida localização entre dois centros consumidores e acumuladores de capital brasileiros, as cidades São Paulo e Rio de Janeiro. A implementação da CSN marcou o processo de industrialização nacional e ajudou a delimitar novo perfil econômico brasileiro (SANTOS, 2010). Essa experiência serviu como laboratório à fase urbano-industrial inaugurada no país, o que proporcionou ao Município de Volta Redonda o acesso a um conhecimento de vanguarda no processo de industrialização, assumindo os efeitos positivos e também negativos, resultantes da sua condição e percebidos posteriormente, como por exemplo, o incremento populacional e suas consequências. Originada da Conferência Mundial sobre desenvolvimento e Meio Ambiente promovida pelas Nações Unidas no Rio de Janeiro em 1992, a ECO-92, com a participação de 179 países, a Agenda 21 surgiu como um compromisso voluntário entre os seus participantes. Trata-se de um programa de ação com base em um documento composto por quarenta capítulos, revelando-se uma tentativa abrangente de realizar novo padrão de desenvolvimento, buscando conciliar métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A expressão Agenda 21, deriva de um desejo de mudança diferenciado para o século XXI. (MMA, 2012) A polêmica do tema leva ao objetivo da pesquisa, que é verificar as alterações trazidas ao Município face a criação e implementação da sua Agenda 21. Idealizada sob o signo do desenvolvimento, Volta Redonda acostumou-se a priorizar as funções da Usina, em detrimento do meio no qual opera. Metodologia Segundo Marconi e Lakatos (2011, p. 5), “os critérios para classificação dos tipos de pesquisa variam de acordo com o enfoque dado pelo autor”. Vergara (2005) diz que pesquisas podem ser classificadas em diversas categorias e sugere duas formas: quanto aos fins e quanto aos meios. Objetivando analisar a implementação da Agenda 21 e seus resultados, buscou-se desenvolver, quanto aos fins, um estudo bibliográfico. A pesquisa bibliográfica foi empregada nos conceitos utilizados no estudo, bem como na consulta a outros estudos sobre a XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 história da criação do Município e as necessidades demandadas pela sociedade no sentido de tornarse sustentável. Utilizou-se para tal, livros, teses, dissertações, artigos científicos disponíveis ao público. Destarte, quanto aos meios trata-se de uma investigação documental, pois está baseada em materiais que ainda não sofreram tratamento analítico (Lima 2008), pois utilizou-se base de dados do IPPU VR – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano da Prefeitura de Volta Redonda. O seu desenvolvimento deu-se por meio do levantamento de informações em dados secundários, de um assunto ainda pouco explorado na literatura, cuja responsabilidade se limita em observar, registrar, analisar e correlacionar manifestações ou ações sem engendrá-las. A sua abordagem é de cunho qualitativo, pois busca a interpretação de uma situação, por meio de seu delineamento detalhado, acepção e indicação de significados, que consiste em examinar, em linhas gerais todo o processo de criação e implementação da Agenda 21 local, os autores participantes e a produção de resultados junto à sociedade. Resultados Com o crescimento populacional e crescimento econômico local, foi necessária a regulamentação da divisão e ocupação do solo, que aconteceu por meio da Lei Orgânica Municipal de 1990 e encontrou na Agenda 21, criada a partir da Lei 3.386, sancionada em 11 de novembro de 1997, um reforço nessa questão, assim como outras questões das quais dependem o desenvolvimento, pretendendo proporcionar sustentabilidade ao Município. A Agenda 21 visa promoção do desenvolvimento sustentável juntos às populações, independentemente de onde estejam localizadas ou fixadas. Destarte, para atender a toda sociedade é necessário um trabalho conjunto que deve partir do atendimento às necessidades locais para chegar ao atendimento das necessidades globais. Verifica-se que a Agenda 21 brasileira trata-se de um planejamento participativo, que analisa a situação do País, Estados, Municípios e Regiões, planejando-lhes um futuro sustentável. Supõe-se um ajuste a partir do estudo da situação presente e de propostas para alterações futuras, se assim for necessário. (MMA, 2012) São atores da Agenda 21 os indivíduos e instituições que pertencem a vários setores da sociedade, dos excluídos aos que têm algum tipo ou muito poder, com o objetivo de promover debates pacíficos, para a partir daí, buscarem a construção de um pacto que traga soluções práticas para o dia-a-dia comum. Em 1988, através da Constituição Federal, os Municípios receberam a atribuição de elaborar um plano Diretor, objetivando melhores condições de vida e desenvolvimento, através da participação dos interessados – indivíduos e instituições. Da mesma forma, foi a Agenda 21 Local idealizada: com a participação do maior número possível de atores da sociedade. Inicialmente o processo de elaboração da Agenda 21 local, contou com a anuência da sociedade através da participação de entidades que se propuseram pesquisar e detectar as prioridades comuns à cidade, e foram eleitos tópicos que a comunidade julgou mais importantes e necessária e de maior urgência em sua resolução: a poluição atmosférica, os recursos hídricos, recolhimento e tratamento do lixo, arborização urbana, trabalho e renda, e educação e cultura. A preferência por esses assuntos originou a seis grupos temáticos incumbidos de se reunirem regularmente em busca de soluções sustentáveis para cada item proposto. (CMMA, 2008) Após a aprovação de seu Estatuto pelo Legislativo Municipal, o Fórum da Agenda 21 foi formalmente instaurado, o que ocorreu apenas em 12 de Abril de 2000, quando também foi instaurado um sétimo Grupo Temático, que veio somar trazendo a questão da criança e do adolescente. (AGENDA 21- VR, 2008) O Município mantém em seu site oficial uma página para que a população possa apresentar suas sugestões para a Agenda 21. Possivelmente este fato contribuiu para o esvaziamento dos Fóruns organizados para discussão sobre a implementação e desenvolvimento da Agenda 21 local, que em 2000 contava com 58 participantes entre instituições e pessoas físicas, passando para 23 participantes no ano de 2005 (AGENDA 21-VR, 2008). Discussão Ainda no início da década de 1940, com uma população igual a 2.782 habitantes, sendo 1.765 considerados rurais (IBGE, 1940) o espaço urbano ainda era parecido ao que existia no século XIX. No processo de implantação da CSN a transformação de Volta Redonda foi evidente. A construção da CSN deu-se em conjunto com a Cidade Operária cujo projeto inicial previa a construção de habitações em área próxima à Usina, com total infraestrutura com o objetivo de fixar a mão de obra ao local (IPPU-VR, 1994), esse empreendimento provocou a propulsão da XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 economia na área externa à siderúrgica, pois o seu funcionamento pressupunha a necessidade de outras atividades, fato que estimulou o ingresso de migrantes à Volta Redonda. Os proprietários locais se transformaram em loteadores, lucravam ao atender à demanda por moradias gerada pelos prestadores de serviços e comerciantes que foram atraídos pelas oportunidades em potencial. O número de habitações oferecidos pela CSN era insuficiente, seus próprios operários buscavam instalações fora da Cidade Operária, contribuindo para o aquecimento do mercado imobiliário. (SANTOS, 2010) Até a década 1970 havia um processo de migração para Volta Redonda devido à atração exercida pela CSN devido às expansões promovidas pela empresa, que quando terminadas, deixavam seus trabalhadores não aproveitados na produção, como herança para a cidade, fato que contribuía para o desemprego local e que, somado ao deficit habitacional gerou uma consequente ocupação desordenada e a degradação do espaço territorial. (MOREIRA, 2003) Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2012), a Agenda 21 visa o desenvolvimento sustentável e para que ele ocorra, o crescimento econômico é uma condição necessária, assim como a inclusão social, o acesso a programas de atendimento à saúde, a educação, além de oferta de melhor qualidade nos empregos e renda mais elevada. Dos Municípios brasileiros, um dos que primeiro propôs discussões preliminares sobre os temas ligados a Agenda 21, foi Volta Redonda. Foi criado o programa da referida agenda e uma comissão denominada “Pró-Forum 21” do município. (CMMA, 2008) “[...] é que as dificuldades relativas à participação, tanto do Executivo, quando do Legislativo e, também da sociedade civil, podem ser creditadas à falta de prática governamental no compartilhamento das decisões relacionadas às políticas públicas e à excessiva fragmentação das políticas.” (BARROSO; REZENDE; HERCULANO, 2008, p.10) O exercício do diálogo, da troca de experiências seria eficaz entre os grupos de profissionais em busca de equalizar a questão da sustentabilidade desde que essa questão fosse desenvolvida com equilíbrio entre as partes, levando em consideração os diversos setores que compõem a sociedade, como por exemplo, a economia, a cultura e o ambiente onde se desenvolvem os processos urbanos. O desenvolvimento sustentável da população é o discurso atual e pressupõe-se que produza transformações em uma estrutura urbano-regional, daí a necessidade de diálogos e acordos fundamentados em fatos reais e possíveis, a fim de atender aos anseios da sociedade no que tange à qualidade de vida e criação de um ambiente salutar a todos os habitantes daquela cidade ou localidade abrangida pela Agenda 21. Conclusão A Agenda 21 envolve assuntos relativos à área econômica, social, cultural e ambiental dos processos urbanos, além da temporalidade para chegar ao âmago da questão: a sustentabilidade do município que a está desenvolvendo. Seus fundamentos tendem a influir nas condições de vida da população, pois é encarregada de articular ações locais face a políticas globais. (AGENDA 21-VR, 2008) Nota-se que, para alicerçar a Agenda 21, a participação da sociedade é fundamental, pois aí será exercido o direito a uma cidade sustentável, através da elaboração de uma relação estável e equilibrada entre urbanização e o meio ambiente. Observa-se que a implantação da indústria, gerou impactos ao meio ambiente local, evidenciados pela geração de resíduos poluentes – sólidos, gasosos ou líquidos, resultantes do processo de produção do aço. (SOUZA, 1992) Outrossim, outros tópicos também apontados pela sociedade como relevantes como o que trataria do trabalho e renda local, a questão da educação e cultura e da criança e do adolescente, parece não ter recebido o mesmo tratamento, aparenta ter ficado pelo caminho sem uma conclusão, uma vez que os fóruns destinados à implementação dos pareceres da Agenda 21, esvaziaram-se. Parece paradoxal tal situação, pois essa mesma sociedade deixou de participar da Agenda 21, demonstrando desinteresse para que o seu desenvolvimento fosse levado à prática por meio de providências concretas. A falta de interesse dos participantes da Agenda 21 é notada de cima para baixo, ou seja, não apenas a sociedade deixou de se manifestar, mas também o Poder Público, tanto na figura do Executivo, quanto do Legislativo. Observa-se que, seja pela sociedade ou pelo Estado, a busca da sustentabilidade urbana, entendida como um método de supor e planejar as cidades, deve ser buscada como uma alternativa possível e necessária, no sentido de compatibilizar desenvolvimento e sustentabilidade. Referências XVI Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e XII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 BARROSO, Letícia; REZENDE, Vera Lúcia Ferreira Motta; HERCULANO, Selene. Agenda 21 de Volta Redonda (RJ): uma experiência. 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