Reorganização de Empresas no Brasil Inovação em um cenário de competitividade Índice Estímulo ao poder de competitividade e a capacidade de crescimento das organizações........................................................... 3 O ciclo de vida de uma empresa. ....................................................................................................................................................................... 4 A necessidade de repensar as estruturas......................................................................................................................................................... 6 Reestruturar para competir.................................................................................................................................................................................10 A prática de reorganizar. ..................................................................................................................................................................................... 15 Recuperar as bases para o crescimento.........................................................................................................................................................18 Metodologia e amostra do estudo................................................................................................................................................................. 22 “A adoção de um estilo de gestão baseado na reorganização contínua pressupõe encarar cada desafio como uma oportunidade efetiva de parar, repensar os negócios e, eventualmente, reinventá-los.” Luis Vasco Elias, sócio da área de Corporate Finance da Deloitte e especialista em reorganização de empresas Estímulo ao poder de competitividade e crescimento das organizações As mudanças de cenários vêm acontecendo de forma mais constante no ambiente globalizado de negócios. As empresas, inseridas em uma realidade na qual crescer é um requisito fundamental para a continuidade dos negócios, precisam estar preparadas de forma permanente para responder às novidades ocasionadas por um universo de transformações tão frequentes, incluindo as repentinas turbulências do mercado. Os últimos anos foram grandes provas disso. Por um lado, a economia global mostrou uma forte retração e taxas de crescimento praticamente nulas nas economias mais maduras. Já no Brasil, as medidas adotadas há mais de uma década foram pontuais para a retomada da expansão da economia, logo após o principal período de baixas no mercado internacional ao longo de 2008 e 2009, e o fortalecimento do mercado interno. Desde então, uma nova dinâmica se estabeleceu e vem exigindo das organizações que operam no País um planejamento adequado para possibilitar um ciclo ininterrupto de crescimento ou até mesmo a manutenção da operação em períodos nos quais a incerteza ainda aparece. Nesse contexto, as chamadas ações de reorganização aparecem como elemento essencial à rotina de negócios, conferindo às empresas a oportunidade de adotar as estratégias mais adequadas. As instabilidades econômicas, como as que aconteceram no segundo semestre de 2011, reforçam a importância dessa ação como uma forma de ter estrutura preparada para as mudanças conjunturais – que são constantes. A partir de um amplo diagnóstico e tratamento de fatores – que englobam entre diversas iniciativas, gestão organizacional, posicionamento estratégico, gestão societária, capital humano e situação financeira –, o processo contínuo de reorganização apoia a expansão dos negócios e a competitividade das organizações. O resultado da pesquisa “Reorganização de Empresas no Brasil” traz uma visão estrutural a partir das respostas das empresas participantes. As análises permitem conhecer como as empresas se posicionaram ao longo dos últimos anos, o que possibilita um panorama além dos movimentos e conjunturas que interferem constantemente no ambiente de negócios. A perspectiva de expansão da economia ao médio prazo, mesmo que moderada, faz com que as empresas continuem a pensar em estratégias de reestruturação, principalmente, para potencializar o modelo de gestão, o crescimento e o acesso a novos mercados. O fortalecimento do mercado interno trouxe novos parâmetros à competitividade entre as organizações, o que passou a ser um elemento de destaque e realçado pelo maior interesse de competidores internacionais em acessar uma das economias com maior índice de expansão. O processo contínuo de reorganização contribui para a manutenção do crescimento, impactando todos os envolvidos com a empresa: clientes, colaboradores, investidores, financiadores, fornecedores, comunidade e outros. Ele assegura que as expectativas e necessidades das partes interessadas sejam conhecidas e consideradas pelos gestores. Outro elemento que possibilita o desenvolvimento de uma melhor relação entre as partes interessadas e estimula o ambiente de negócios, a Lei nº 11.101/05, a chamada Lei de Recuperação de Empresas e Falência, também foi analisada pelos participantes desta edição do estudo. Por meio do estudo “Reorganização de Empresas no Brasil”, a Deloitte, que completa um século de atuação no País, procurou identificar quais estratégias têm sido adotadas pelo empresariado brasileiro no desenvolvimento de práticas que ampliem a competitividade das organizações e as posicionem da forma mais adequada possível em uma economia, mesmo ainda influenciada por aspectos globais, com um grau maior de maturidade e de complexidade. Reorganização de Empresas no Brasil 3 O ciclo de vida de uma empresa Todas as empresas passam por diversos estágios de desenvolvimento em sua existência. Esse ciclo natural pode ser percebido por vários sinalizadores, entre eles o crescimento, a maturidade e a crise. O processo de reorganização pode atuar e apoiar em todas as etapas do negócio. Reinvenção Na maturidade – Ajuda as organizações a se reinventarem e a definir estratégias, operações e estruturas de forma inovadora, para retomar o caminho do crescimento sustentado. Relacionamento Na crise – Prevê o estabelecimento de um amplo diálogo para retomar a relação de confiança, fundamental com os públicos de interesse (financiadores, fornecedores, clientes etc) aliados ao intensivo controle de seu caixa, aumento de receitas e corte de custos. Reflexão No crescimento – Permite às empresas, por meio de um sólido plano de desenvolvimento, planejarem o seu crescimento sustentado. Também é possível efetuar melhorias em seus controles internos e implementar um modelo de governança corporativa e um plano para eventual abertura de capital. Etapas do ciclo de vida de uma empresa Reorganização Retomada de crescimento Fase 2 Maturidade Reestruturação Declínio Recuperação Fase 1 Crescimento Fase 3 Crise Falência 4 Diferenças entre as estratégias Reorganização, reestruturação e recuperação A reorganização das empresas pode ser feita por meio de uma reestruturação, no momento em que se inicia sua fase de declínio, ou por meio de uma recuperação, quando há o agravamento da crise, levando a riscos de insolvência. A reestruturação acontece após definições estratégicas, operacionais e financeiras, com o objetivo de retomar o ciclo de crescimento sustentado. A recuperação é o conjunto de estratégias e medidas adotadas pelas empresas para retomar a fase de crescimento ou reverter a situação negativa nos momentos de crise. Trata-se de um processo completo que parte do âmbito mais estratégico, alcançando todas as demais instâncias da empresa, inclusive as operacionais. Muitos gestores e acionistas têm conduzido processos de recuperação de suas empresas como medida para enfrentar momentos de grandes dificuldade, cujo agravamento da crise poderia levá-las ao encerramento de suas operações. A pesquisa “Reorganização de Empresas no Brasil” envolveu entidades em diferentes estágios de vida, concentrando-se, principalmente, em empresas em fase de crescimento (40%) e maduras (47%). Reorganização de Empresas no Brasil 5 A necessidade de repensar as estruturas O cenário no qual as empresas participantes da pesquisa atuam aponta para um período de manutenção do crescimento moderado da economia brasileira. Ainda marcado por ondas de instabilidade que cercam os mercados internacionais, o Brasil, após mais de uma década de estabilidade e de controle inflacionário, mostra no contínuo crescimento do mercado interno, índice que apresentou a melhor taxa nominal no mundo em 2010, uma das principais bases para responder possíveis retrações globais e continuar no caminho da expansão sustentável. As empresas participantes da pesquisa “Reorganização de Empresas no Brasil” responderam ao questionário em um momento no qual as perspectivas de elevação do Produto Interno Bruto (PIB) próxima dos 5% ainda não tinha sofrido interferências dos cenários de crise na zona do Euro e das negociações para a ampliação do teto da dívida pública dos Estados Unidos, fatos que trouxeram apreensão nos índices globais e fortes consequências nos mercados de capitais espalhados pelo mundo. Porém, conforme medidas como as conduzidas pelo Banco Central (BC) na redução da taxa básica de juros (Selic), o volume de crédito e a sustentação do consumo doméstico ainda terão importante papel no crescimento da economia, mesmo considerando as recentes revisões – mais conservadoras – sobre as expectativas em relação ao PIB. Pontos de atenção Os fatores estratégicos, conjunturais e de mercado que mais têm impactado as atividades das empresas (%) Estratégicos 67 Necessidade constante de inovação 60 Lançamento de novos produtos e serviços 57 Surgimento de novas tecnologias 50 Disputa por talentos Conjunturais Qualificação da mão de obra do País 61 60 Surgimento de novas regulamentações Falta de infraestrutura adequada 46 Evolução da inflação 46 Mercadológicos Requerimentos de governança corporativa 52 48 Mudança no comportamento de compra dos clientes Mudança no perfil socioeconômico da população Entrada de concorrentes nacionais 43 35 Percentual de empresas que assinalaram cada quesito; questão com respostas múltiplas 6 Com a perspectiva de um crescimento sustentado para o médio prazo, e com o exemplo de rápida reação a partir da retomada forte da expansão, o País traz às empresas que aqui atuam a oportunidade de avaliar suas estruturas internas, por meio de processo de reorganização, para que possam melhor se posicionar em um contexto no qual a economia brasileira melhor se projeta, o que acaba estimulando a maior necessidade no poder de competição das organizações. Para elas, inseridas em um mercado cada vez mais maduro, que consome mais e, portanto, exige na mesma proporção, a necessidade de inovação (67%) é o fator estratégico que mais tem impactado os negócios. Contar com produtos e serviços novos (60%) é um ponto importante para a condução das atividades em uma economia estável e que apresenta oportunidades. Para elas, a concorrência de empresas nacionais (35%) e a chegada de competidores estrangeiros (32%) atraídos por uma das economias globais com perspectiva de crescimento gradual no médio prazo também são motivos de preocupação e que exigem uma nova postura. Competitividade entre as nações O Brasil conta com um ambiente interno mais competitivo, o que impulsiona a sua colocação entre as demais nações. Mesmo assim, políticas para contornar os impactos registrados pelas empresas podem colaborar em uma elevação maior. A preocupação das empresas participantes do estudo no atendimento, e até mesmo no entendimento, dos novos hábitos de consumo estimulados pelo fortalecimento do poder de consumo da população do País ao longo da última década é destacado nos impactos mercadológicos que mais vêm causando impactos nas atividades. As mudanças no comportamento de compra do consumidor e no perfil socioeconômico da população, respectivamente com 48% e 43%, mostram um desafio na constante tarefa de avaliar o ambiente externo. As transformações presenciadas podem justificar o principal impacto apontado pelas empresas no quesito de mercado. Elas se veem mais pressionadas no atendimento de questões que atendam requerimento de governança corporativa (52%). Na avaliação conjuntural de fatores associados ao cenário nacional, o principal apontamento dos participantes coincide também com um ponto que afeta diretamente as estruturas das organizações. A qualificação da mão de obra disponível (61%) é apontada como o principal determinante do eixo que impacta as organizações. A avaliação ganha mais destaque pela preocupação dos participantes no campo estratégico em relação à forma como as organizações têm sido impactadas na disputa por talentos (50%). Ranking global de competitividade País Suíça Cingapura Estados Unidos China Brasil Posição em 2011 1º 2º 5º 26º 53º Posição em 2010 1º 3º 4º 27º 58º Fonte: Fórum Econômico Mundial. Em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC) e Movimento Brasil Competitivo Reorganização de Empresas no Brasil 7 No mês de setembro, em avaliação conduzida pelo Fórum Econômico Mundial, o Brasil elevou sua posição no Índice de Competitividade Global (GCI, em inglês), com destaque para o ambiente moderno de negócios e as políticas econômicas que colaboraram para a estabilização. A conquista de cinco posições em relação ao último relatório, ainda não insere o País entre as principais potências do mundo. Para as participantes do estudo “Reorganização de Empresas no Brasil”, após a falta de capital humano qualificado, as questões conjunturais do País que mais as afetam, e da mesma forma impactam o poder de competição, são o surgimento de novas regulamentações (60%), a falta de infraestrutura adequada (46%) e a evolução da inflação no último período (46%). Na conjuntura de curto e médio prazos, a economia brasileira conta com perspectivas de manutenção do crescimento e de oportunidades para as empresas que aqui atuam e a entrada de novos concorrentes internacionais interessados no desempenho sustentável com um mercado interno em expansão. Dessa forma, manter atenção aos pontos estruturais da empresa e garantir uma rapidez nas respostas aos fatores que impactam o negócio têm desempenhado um papel cada vez mais determinante para um sólido plano de desenvolvimento – diferencial exigido de forma mais constante aos interessados no crescimento sustentado das organizações inseridas em um ambiente com perfil competitivo em ascensão. Cenário econômico Consumo privado em 2011* – Crescimento nominal (%) 21,5 19,2 16,3 16,1 13,3 8,3 6,9 5,1 4,7 1,9 China Brasil Rússia África do Sul Índia Espanha * Expectativa para 2011 Fonte: Research – Deloitte (com base em dados da Economist Intelligence Unit – EIU) 8 Holanda Estados Unidos Portugal Grécia O momento oportuno para criar diferenciais competitivos O que as empresas fazem ou pretendem adotar no curto prazo para tornarem-se mais competitivas em um cenário de manutenção sustentada do crescimento. 88% Lançamento de novos produtos e serviços 87% Melhoria nos processos operacionais 83% Busca constante por inovação 83% Melhoria na gestão dos recursos financeiros 82% Investimento em treinamento Confira todos os itens na página 17 Reorganização de Empresas no Brasil 9 Reestruturar para competir O momento oportuno para criar diferenciais Na ocasião da realização da pesquisa, ao longo dos últimos dois meses do primeiro semestre de 2011, as empresas se encontravam em um momento muito favorável ao crescimento da economia brasileira, com respaldos ainda da forte retomada concretizada no final de 2010. Do total da amostra, 82% afirmaram ter superado ou atingido suas metas de venda para o período anterior. A maioria (71%) sinalizava que a lucratividade obtida nos últimos três anos foi acima ou tinha atingido a meta. As condições financeiras das empresas condiziam com a expectativa de manutenção do crescimento da economia no País, o que, segundo as perspectivas atuais, ainda deve acontecer, porém em um ritmo mais moderado. Apenas 4% da amostra apontava alta taxa de inadimplência dos clientes, porém 52% afirmavam que os custos tinham aumentado, reflexo que pode ser entendido pela dificuldade no controle da meta inflacionária. Cenário econômico Índice de confiança Com forte retomada após o período que marcou a crise econômica registrada entre 2008 e 2009, o Índice de Confiança da Indústria, conduzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra uma sensível baixa nos últimos meses de 2011 associada ao cenário internacional. 120 115 110 105 100 95 90 85 80 75 70 Dez 2007 Dez 2008 Dez 2009 Fonte: Research – Deloitte (a partir da consolidação de dados da Fundação Getulio Vargas – FGV) 10 Dez 2010 Dez 2011 Nov Segundo a pesquisa, apenas 41% da amostra apontava para níveis altos ou médios de endividamento, o que reflete uma situação típica em momentos de grande expectativa de crescimento e desenvolvimento de negócios. Da mesma forma, 93% afirmavam contar com níveis de produtividade acima ou conforme o setor de atuação. Com o ritmo de negócios impulsionado pelo então recente anúncio da retomada acelerada do crescimento, 79% da amostra afirmava contar com média ou alta participação de mercado dentro do setor de atuação. Outro fator importante registrado é a satisfação dos clientes, no qual apenas 4% apontaram níveis de insatisfação. Cenário econômico Evolução do PIB – Crescimento % real 7,5 6,1 5,2 4,2* 4,0 3,2 3,3* 2,9* *Expectativa -0,6 2005 2006 2007 2008 2009 4,4* 2010 2011 2012 2013 2014 Fonte: Research – Deloitte (a partir da consolidação de dados do Banco Central – dez/2011) Nos últimos três anos, a empresa tem obtido os níveis de lucratividade esperados? (%) Inadimplência de clientes das empresas da amostra (%) 4 21 Nível de endividamento das empresas da amostra (%) 12 22 30 31 29 29 50 43 Acima da esperada Alta Alto Conforme esperada Média Médio Abaixo da esperada Baixa Baixo Muito baixa Muito baixo 29 Percentual de empresas que assinalaram cada quesito Reorganização de Empresas no Brasil 11 Participação de mercado (%) 5 42 16 Alta Média Baixa Muito baixa 37 Margem de lucro (%) 3 11 32 Alta Média Baixa Prejuízo 54 Concorrência por preço (%) 4 9 53 Alta Média Baixa 34 Percentual de empresas que assinalaram cada quesito 12 Inexistente Empresas mais bem preparadas devem repensar continuadamente avaliar as estratégias e até mesmo reinventar o negócio. Em um ambiente competitivo, com a possibilidade de novos concorrentes e produtos substitutos, a empresa, para sobreviver ou se diferenciar, deve criar mecanismos de fortalecimento dentro do mercado, o que pode implicar mudanças de estratégia e mix de produtos para atender às demandas dos consumidores. Períodos que favorecem a expansão do mercado consumidor, impulsionando o ambiente de negócios, são, muitas vezes, decisivos para o crescimento da organização. Da mesma forma, são momentos muito propícios para efetivar ou ampliar a estrutura funcional e estratégias competitivas e de mercado. A amostra do estudo aponta um baixo número de organizações que registraram alto índice em suas margens de lucro (11%), fator que pode garantir uma melhor rentabilidade e ser melhor estruturado à luz de um cenário sustentável de expansão e com bases mais sólidas para superar os solavancos internacionais. Cenário econômico Incremento de renda e empregabilidade Associado ao desempenho na concessão de crédito, a ampliação dos rendimentos mensais e a baixa na taxa de desemprego são fatores que apoiam o crescimento e contínuo aquecimento do mercado interno – elemento que pode ser considerado importante para a manutenção do crescimento. A expansão do consumo doméstico tem sido um importante contraponto aos cenários de instabilidades internacionais que afetam pilares importantes ao desempenho da economia nacional como o preço das commodities ou o mercado de capitais. 1.515,1 1.010,8 1.344,4 1.282,4 1.161,6 1.085,7 874,0 861,6 908,0 12 10 10,5 10,9 9,6 8,3 8 8,4 7,4 6,8 6,8 5,3 6 Rendimento do trabalhador (média nominal mensal em R$) 4 2 0 Taxa de desemprego (%)* 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 * Correspondente às áreas metropolitanas de Belo Horizonte, P orto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo Fonte: Research – Deloitte (a partir da consolidação de dados do IBGE) “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.” Charles Darwin Reorganização de Empresas no Brasil 13 Para 53% dos entrevistados, a concorrência para oferecer melhores preços é alta. A busca por diferenciais que sejam melhor percebidos pelo consumidor é um dos apontamentos que explica a busca constante por inovação pelas empresas (83%). Já o cenário de crédito bancário, modalidade em expansão tanto na concessão às empresas e pessoas físicas, foi apontado como facilitado, sendo que 45% da amostra não apontam dificuldades em sua obtenção. Da mesma forma, as empresas participantes se mostram confiantes na capacidade de pagamento de empréstimos e financiamentos e também na de fornecedores. Um cenário oposto ao apresentado nestes quesitos pode despertar a necessidade de uma reestruturação da situação financeira e que deve ser encarada como uma oportunidade no diagnóstico de outros fatores que podem levar a organização a um processo mais amplo de reorganização. Cenário econômico O avanço consistente do crédito – Taxas de juros (%) / Prazos para pagamentos O resultado histórico desde o início da década passada, marcado por juros mais baixos e maior prazo de financiamento ao consumidor final, sustenta o atual cenário de facilidade de acesso e alta procura. A modalidade é um dos principais pilares para a ampliação do mercado interno. Prazo (em dias) 600 Taxa de juros (%) 90 573 dias de prazo 87,3 80 550 500 450 70 389 dias de prazo Jan/2007 60 400 63,6 350 300 50 250 264 dias de prazo Nov/2004 44,7 43,9 200 40 191 dias de prazo Jan/2001 30 2001 150 2002 2003 2004 2005 2006 Fonte: Research – Deloitte (a partir da consolidação de dados do Banco Central) Prazo médio em dias para crédito pessoal Taxa de juros média para recursos livres – pessoa física 14 2007 2008 2009 2010 100 2011 (até nov.) A prática de reorganizar Capacidade de investimento, financiamento, competitividade e rentabilidade Do total de respondentes do estudo “Reorganização de Empresas no Brasil”, 78% da amostra afirmam já ter participado ou estar em meio ao processo de reorganização no momento da realização da pesquisa. Dos participantes que apontaram a utilização da prática, 22% assinalaram como sendo uma prática regular da empresa. Ao ser adotada na fase de crescimento, a reorganização permite às empresas planejarem o seu crescimento sustentado. Já na etapa de maturidade das empresas, a prática apoia os gestores na definição de novas estratégias, operações e estruturas para retomar o crescimento. O ciclo de vida das empresas que participaram do estudo aponta que 40% estavam na fase de crescimento e 47% já tinham alcançado o nível de maturidade. Pretensão em realizar um processo de reorganização (%) Os processos de reorganização podem envolver, também, a preparação da empresa para operações de fusão e aquisição ou de abertura de capital. Os procedimentos estratégicos foram apontados, respectivamente, por 39% e 16% como um dos motivos para participar de um processo de reorganização. A pesquisa também aponta que 46% enxergam no capital vindo de fundos de private equity – o que pode levar a organização a uma fusão ou aquisição –, e na abertura de capital (39%) estratégias que podem garantir sua competitividade no mercado. A busca pela melhoria na gestão foi o principal fator apontado para a participação em um processo de reorganização. Na visão dos empresários que participaram ou estão conduzindo a prática de Motivos para participar de um processo de reorganização (%) Melhoria dos processos de gestão 19 77 Necessidade de expansão 15 63 Busca de novos mercados 7 59 Necessidade de inovação 56 Redução na lucratividade 22 37 45 Aumento da concorrência 43 Preparação para um processo de fusão, aquisição ou parceria estratégica Melhoria na capacidade de obtenção de recursos e/ou redução nos custos de captação 39 38 34 Adequação às novas tecnologias do mercado Sim, participamos há algum tempo Sim, pretendemos participar Sim, estamos participando neste momento Sim, é uma prática regular da empresa Adequação às mudanças no perfil dos consumidores ou em seus padrões de consumo 29 Percentual de empresas que assinalaram cada quesito; questão com respostas múltiplas Não Percentual de empresas que assinalaram cada quesito Reorganização de Empresas no Brasil 15 O processo de reorganização, ao integrar as expectativas de todas as partes que compõem a organização, oferece uma visão que permite ao gestor definir estratégias que possam apoiar as tomadas de decisões na atuação de mercado até a estrutura societária e de governança corporativa. reorganizar, o processo também se mostrou associado a uma necessidade de expansão e de busca por novos mercados. A importância da inovação aparece como destaque entre os motivos que levaram as organizações a reorganizar suas atividades. Para elas, a busca constante por inovação é também um dos principais pontos para ampliar a capacidade de competitividade da empresa (83%). Para aproveitar as melhores oportunidades de crescimento em um mercado com perspectivas de crescimento contínuo no longo prazo, e até mesmo responder as repentinas oscilações do mercado globalizado, as organizações precisam cada vez mais contar com estruturas que permitam uma minimização de riscos e facilitem a tomada de decisões estratégicas para responder prontamente às mudanças de cenários. Os resultados da pesquisa apontam que 73% das empresas participantes enxergam na adoção de políticas de governança corporativa um caminho para contar com estruturas que melhorem sua competitividade. Já 66% consideram as melhorias nas políticas de gestão de riscos e controles internos um ponto fundamental. Das participantes, 36% ainda contam com um modelo de gestão e governança com controle familiar, mas com executivos em algumas funções estratégicas. Com relação ao sistema de gerenciamento de informação, 57% contam com sistemas integrados no modelo ERP (Enterprise Resource Planning). Sistemas de informações gerenciais adotados pelas empresas (%) Modelo de gestão e governança das empresas (%) 3 8 36 14 57 26 26 30 Existente – modelo ERP integrado Existentes – não integrados ontrole familiar com executivos C em algumas funções estratégicas Controles por planilhas onselho familiar no controle da C empresa e gestão por executivos Não existente Controle e gestão familiar Controle e gestão familiar, em início de processo sucessório Percentual de empresas que assinalaram cada quesito 16 Para garantir competitividade, as organizações mostram uma forte tendência em investir e adotar práticas que exigem uma reorganização e avaliação de processos internos, como na melhoria dos processos operacionais e necessidade de investir no treinamento de equipes. A inovação contínua na estrutura das empresas também é fortemente destacada e de importante avaliação no principal ponto para garantir respostas rápidas e que ampliem a competitividade em processos de visibilidade externa. Neste ponto, os participantes apontaram que adotam e pretendem ampliar no curto prazo estratégias para o lançamento de novos produtos e serviços. Da mesma forma, e muito alinhado com a crescente exigência por parte do consumidor, elas também apontam a importância em melhorar a qualidade no nível de serviços e pensar em ofertas que atendam nichos específicos de clientes. Estratégias para garantir a competitividade no atual cenário e no curto prazo (%) Lançamento de novos produtos e serviços 88 Excelência no nível de serviços 76 Expansão geográfica dos mercados de atuação 67 Ofertas customizadas para públicos específicos 63 Capital via fundos de private equity Abertura de capital 46 39 Melhoria nos processos operacionais 87 Busca constante por inovação 83 Melhoria na gestão de recursos financeiros 83 Investimento no treinamento das equipes 82 80 Investimento em novas tecnologias 73 Implantação de normas de governança corporativa Investimento em marketing 68 Adoção de políticas de gestão de riscos 66 Políticas de remuneração variável aos executivos 65 Investimentos em programas de responsabilidade social 65 Adaptação e respostas aos cenários externos à organização Reorganização e reestruturação de processos internos Percentual de empresas que assinalaram cada quesito; questão com respostas múltiplas Reorganização de Empresas no Brasil 17 Recuperar as bases para o crescimento A visão das empresas sobre a nova Lei de Para 59% dos participantes, a LREF prevê condições efetivas para a empresa recuperar seus negócios e evitar falências. Apesar dos aspectos positivos, parte dos entrevistados ainda vislumbra alguns entraves aos processos como a ausência de uma cultura empresarial voltada para o compartilhamento de informações sobre a empresa e até mesmo o comportamento empresarial que evita pôr em discussão as dificuldades das empresas em crise. Com a entrada em vigor da Lei nº 11.101, também conhecida como nova Lei de Recuperação de Empresas e Falência (LREF), em 2005, um novo horizonte de melhorias foi aberto aos empresários e aos credores em geral. A Lei e seus desdobramentos assumiram um importante papel na redução de falências, ao mesmo tempo em que possibilitaram o desenvolvimento de uma melhor relação entre as partes envolvidas nas negociações e casos falimentares. Aspectos positivos da Lei (%) Apoio à recuperação do negócio da empresa 56 Manutenção de empregos na empresa em recuperação 51 Apresentação de um Plano de Recuperação Judicial pelo devedor que poderá ser aprovado, modificado ou rejeitado pelo credor em Assembleia 32 Manutenção ou retomada do pagamento de encargos tributários 17 Percentual de empresas que assinalaram cada quesito; questão com respostas múltiplas Cenário econômico Eficácia da Lei – falências requeridas e decretadas Exceto pelo ano de 2009, impactado pelas intempéries econômicas do ano anterior, a quantidade de empresas que não conseguem se recuperar e decretam falência vem caindo vertiginosamente desde a entrada em vigor da nova Lei, em 2005. 20.671 19.891 13.925 11.594 Falências requeridas Falências decretadas 9.548 4.774 3.810 2001 2002 4.389 2003 3.497 2004 4.192 2.876 2005 Fonte: Research – Deloitte (a partir da consolidação de dados da Serasa Experian) 18 1.977 2006 2.721 1.479 2007 2.371 2.243 969 2008 1.939 908 2009 732 2010 1.617 603 2011 (até nov.) Recuperação e Falências A empresa esteve diretamente envolvida em algum processo de recuperação? (%) 6 5 7 82 Não Sim, como credor sem garantia Sim, como credor com garantia real Sim, era a empresa em recuperação Percentual de empresas que assinalaram cada quesito Cenário econômico Movimento de recuperação (%) Desde a aprovação da nova Lei de Recuperação de Empresas e Falências, em 2005, nota-se um grande aumento no total de pedidos de recuperação judicial. Do total de 475 pedidos registrados, 361 foram deferidos em 2010. 670 492 Pedidos de recuperação registrados Pedidos deferidos 475 458 361 356 312 269 252 222 195 156 110 53 2005 (A partir de) julho) 2006 2007 2008 2009 2010 2011 (até nov.) Fonte: Research – Deloitte (a partir da consolidação de dados da Serasa Experian) Reorganização de Empresas no Brasil 19 A Lei ainda necessita melhorias e os participantes do estudo apontam os principais pontos. Para eles, ainda existem conflitos entre a nova Lei e a legislação trabalhista e tributária. Da mesma forma, eles apontam a falta de previsão para o tratamento diferenciado entre credores da mesma classe como um dos aspectos negativos. A exigência da Certidão Negativa de Débitos (CND) para a admissão de uma empresa no processo de recuperação ainda aparece como um dos pontos a ser revisto. Das empresas que participaram da pesquisa, 16% (27 empresas) estavam envolvidas de alguma forma em processos de recuperação. Dessa parcela, oito empresas estiveram efetivamente em condição de organização em processo de recuperação judicial ou extrajudicial. Entraves ao sucesso dos processos de recuperação de empresas no Brasil (%) Ausência de uma cultura empresarial voltada para o compartilhamento da gestão na organização 25 Cultura empresarial que evita expor as dificuldades da empresa em crise 10 Pouco conhecimento da Lei pelas empresas em crise econômica financeira 9 Dificuldade de negociação entre a empresa e os credores sobre o plano de recuperação 7 Redução do custo financeiro necessário à implementação do processo de recuperação 7 Ausência de profissionais capacitados que auxiliem a empresa em recuperação 7 Ausência de legislação específica para o parcelamento de tributos 5 Número insuficiente de varas judiciais especializadas em questões empresariais 4 Percentual de empresas que assinalaram cada quesito; questão com respostas múltiplas Aspectos negativos da Lei de Recuperação de Empresas e Falências (%) Conflitos entre a Lei nº 11.101 e a legislação trabalhista e tributária 26 Falta de previsão de um tratamento diferenciado a credores de uma mesma classe, em situações específicas 19 Exigência da Certidão Negativa de Débitos (CND) para concessão da Recuperação Judicial 12 Exclusão do proprietário fiduciário de bens móveis e imóveis, arrendador mercantil e do titular de contrato de venda com reserva de domínio do processo de Recuperação Judicial Definição imprecisa de Unidade Produtiva Isolada 5 2 Percentual de empresas que assinalaram cada quesito; questão com respostas múltiplas 20 Reorganização de Empresas no Brasil 21 Metodologia e amostra do estudo O universo de organizações que participaram da pesquisa “Reorganização de Empresas no Brasil” é composto por 168 empresas com receitas líquidas em 2010 somadas de R$ 78,1 bilhões. Para a realização da pesquisa foram enviados questionários impressos pelos Correios. Todos os questionários foram remetidos à Deloitte, responsável por compilar e analisar os dados. Adicionalmente, durante o período de estudo, que ocorreu ao final do primeiro semestre de 2011, o questionário também esteve disponível para preenchimento no site da Deloitte (www.deloitte.com.br). A análise dos questionários mostra uma avaliação estrutural das empresas, que retrata o posicionamento que elas vêm conduzindo nos últimos períodos. Os resultados são válidos para qualquer momento da economia, entre eles os que são impactados por crises e determinam conjunturas de curto e médio prazos. Perfil das empresas O conjunto de respostas resultantes do preenchimento do questionário, cujos temas abordam diretamente os aspectos de reorganização e da Lei de Recuperação de Empresas e Falências, reflete a opinião de empreendedores que atuam em organizações com participação média de 40 anos no mercado em todo o território brasileiro. 22 Estado São Paulo Rio de Janeiro Paraná Rio Grande do Sul Minas Gerais Distrito Federal Bahia Pará Pernambuco Espírito Santo Santa Catarina Mato Grosso Mato Grosso do Sul Sergipe Ceará Maranhão % de empresas da amostra 50 9 9 7 5 4 4 3 2 1 1 1 1 1 1 1 A amostra da pesquisa contempla diversas atividades econômicas, com destaque para o setor de serviços, que, atualmente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa 67,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A maior parte das empresas apresenta origem brasileira (78%) e apenas 18% delas são de capital aberto. Distribuição por atividade Setor de atuação da empresa % da amostra Serviços 36 Bens de consumo 12 Financeiro 6 Construção civil 4 Indústria digital 4 Energia 4 Siderurgia e metalurgia 4 Agronegócio 4 Comunicação 3 Bens de capital 3 Telecomunicações 2 Química e petroquímica 2 Automobilística 2 Não resposta 3 Outros (Transporte, Papel e Celulose, Educação) 11 Contato Luis Vasco Elias Sócio da área de Corporate Finance da Deloitte [email protected] + 55 (11) 5186 1777 Direção geral do projeto: Luis Vasco Elias Heloisa Helena Montes Coordenação de pesquisa primária: Fernando Ruiz Sheila Salina Coordenação de pesquisa econômica: Fernando Ruiz Giovanni Cordeiro Coordenação editorial: Renato de Souza Julio Meneghini Apoio editorial: Ester Rossi Pesquisa de imagens: Elisa Paulillo Arte: Mare Magnum Contato para leitores: [email protected] Tel.: (11) 5186 6686 Estão reservados à Deloitte todos os direitos autorais desta publicação. 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