TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Dissertação para Mestrado em Química na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto — Vera Lúcia de Sousa Freitas — Departamento de Química Faculdade de Ciências da Universidade do Porto 2007 AGRADEÇO SINCERAMENTE… À Doutora Maria das Dores M. C. Ribeiro da Silva, orientadora desta dissertação, pelo incansável apoio, ajuda e orientação, amizade e carinho, durante estes anos. Ao Professor Doutor Manuel A. V. Ribeiro da Silva, chefe do Grupo de Investigação em Termoquímica do Departamento de Química da Universidade do Porto, pela orientação, amizade e possibilidade concedida de desenvolver este trabalho. A todos os Colegas de trabalho do Grupo de Termoquímica, pela ajuda, apoio e companheirismo. Aos demais membros do Grupo de Termoquímica que de forma directa ou indirecta contribuíram para a realização deste trabalho. Aos meus Pais, pelo apoio, amor e carinho. Aos meus irmãos, Ricardo e Carla… por tudo… à minha cunhada e aos meus sobrinhos. Ao Alexandre Guedes pelo seu infinito amor, paciência e carinho. Ao Ricardo Duarte pela amizade, apoio e carinho. A todos os meus amigos, sem excepção. E a todos aqueles que, de alguma forma, me ajudaram e apoiaram… I RESUMO O trabalho desenvolvido teve como objectivo a determinação de entalpias molares de formação padrão, no estado gasoso, a T.=.298.15.K, de compostos azotados, calculadas a partir dos valores de entalpias de formação padrão no estado condensado e de entalpias de transição de fase, dos respectivos compostos. Assim, foram estudados oito aminas heterocíclicas e uma amina aromática, tendo-se para tal desenvolvido o seguinte trabalho experimental: − medição de energias de combustão, por calorimetria de bomba estática ou de bomba rotativa, e subsequente cálculo dos respectivos valores das entalpias molares de formação padrão no estado condensado, ∆ f H mo (cr, l) , a T = 298.15.K; g o − determinação das entalpias de transição de fase, sublimação, ∆ cr H m , g o ou de vaporização, ∆ l H m , a T.=.298.15.K, por microcalorimetria Calvet ou pelo método de efusão de Knudsen. II ABSTRACT The work aimed the determination of the standard molar enthalpies of formation, in the gas-phase, at T.=.298.15.K, of some nitrogenous compounds, which were derived from the values of the enthalpies of formation, in the condensed state and of the enthalpies of phase transition, of the respective compounds. Eight heterocycle and one aromatic amines were studied. The following experimental work was performed: − measurement of energies combustion, by static and rotating bomb calorimetry, from which the values of the respective standard molar enthalpies of formation, in the condensed state, ∆ f H mo (cr, l) , at T = 298.15.K, were calculated; −.determination of the enthalpies of sublimation, ∆ gcr H mo , or vaporization, ∆ lg H mo , at T = 298.15.K, by Calvet microcalorimetry or by the Knudsen effusion method. III ÍNDICE GERAL Página 1. 2. 3. Introdução 1 1.1. A Termoquímica 3 1.2. Âmbito do trabalho 6 1.3. Unidades 9 Bibliografia 10 Caracterização dos compostos 11 2.1. Aminas heterocíclicas 16 2.1.1. Derivados da piridina 16 2.1.2. Derivados da imidazolidina 20 2.1.3. Derivados cíclicos afins da pirimidina 22 2.2. Aminas aromáticas 26 2.3. Purificação dos compostos 28 2.4. Compostos auxiliares 30 Bibliografia 31 Calorimetria de Combustão 35 3.1. Princípios gerais 39 3.1.1. Entalpia de formação padrão 39 3.1.2. Aspectos gerais da calorimetria de combustão 40 3.1.2.1. Calorimetria de combustão em bomba estática 42 3.1.2.2. Calorimetria de combustão em bomba rotativa 43 3.2. Calibração 45 3.3. Equipamento 53 3.3.1. Calorímetro de combustão de bomba estática 53 3.3.1.1. Bomba estática de combustão 53 3.3.1.2. Sistema calorimétrico e banho termostatizado 54 3.3.2. 3.4. Calorímetro de combustão de bomba rotativa 56 3.3.2.1. Bomba rotativa de combustão 57 3.3.2.2. Sistema calorimétrico e banho termostatizado 58 Procedimento 61 3.4.1. Calorímetro de combustão de bomba estática 61 3.4.1.1. Preparação do banho termostatizado 61 3.4.1.2. Preparação das amostras e montagem da bomba 61 3.4.1.3. Montagem do sistema calorimétrico 62 3.4.1.4. Registo de temperatura e ignição da amostra 63 IV 3.4.1.5. Análise dos produtos de combustão 64 Página 3.4.2. 3.5. 3.6. 4. 3.4.1.5.1. Recolha de dióxido de carbono 64 3.4.1.5.2. Análise de ácido nítrico 66 Calorímetro de combustão de bomba rotativa 67 3.4.2.1. Preparação do banho termostatizado 67 3.4.2.2. Preparação das amostras 67 3.4.2.3. Montagem da bomba e do sistema calorimétrico 68 3.4.2.4. Registo de temperatura e ignição da amostra 69 3.4.2.5. Análise dos produtos de combustão 70 3.4.2.5.1. Análise de óxido de arsénio (III) 70 3.4.2.5.2. Análise de ácido nítrico 70 Tratamento de resultados experimentais 72 3.5.1. Cálculo de ∆Tad 72 3.5.2. Correcções para o estado padrão 76 3.5.3. Variação de energia no processo de bomba isotérmico 78 3.5.4. Energias de formação e de combustão de reacções laterais 78 3.5.5. Equivalentes energéticos dos conteúdos de bomba 81 3.5.6. Energia mássica de combustão padrão 83 3.5.7. Entalpia molar de formação padrão 83 Resultados experimentais 86 Bibliografia 97 Determinação de Entalpias de Transição de Fase 98 4.1. Princípios gerais 103 4.1.1. Sólidos, líquidos e gases 103 4.1.2. Fusão, vaporização e sublimação 104 4.1.3. A importância das entalpias de sublimação e vaporização em termoquímica 105 4.1.4. Métodos experimentais de determinação de entalpias de transição de fase 106 4.1.4.1. Método de efusão de Knudsen 107 4.1.4.1.1. Introdução 107 4.1.4.1.2. Dedução de equação de Clausius-Clapeyron 111 4.1.4.2. Microcalorimetria Calvet 116 4.1.4.2.1. Introdução 117 4.1.4.2.2. Ensaios de branco 120 4.1.4.2.3. Calibração 120 4.1.5. Correcções para o estado padrão 121 4.1.6. Variação das entalpias de sublimação e vaporização com a temperatura 124 V Página 4.2. Equipamento 127 4.2.1. Método de efusão de Knudsen 127 4.2.1.1. Células de efusão 128 4.2.1.2. Câmara de sublimação e linha de vidro 129 4.2.1.3. Controlo e medição da temperatura 131 4.2.1.4. Sistema de vácuo 131 4.2.2. 4.3. 132 4.2.2.1. Bloco calorimétrico 133 4.2.2.2. Células calorimétricas 134 4.2.2.3. Controlo e medição da temperatura 135 4.2.2.4. Sistema de vácuo 135 Procedimento 136 4.3.1. Método de efusão de Knudsen 136 4.3.1.1. Preparação das células de efusão 136 4.3.1.2. Operações preliminares e processo de sublimação 136 4.3.2. 4.4. Microcalorímetro Calvet Microcalorimetria Calvet 138 4.3.2.1. Preparação e selecção dos tubos capilares de vidro fino 138 4.3.2.2. Operações preliminares e processo de transição de fase 138 Tratamento dos resultados experimentais 140 4.4.1. Método de efusão de Knudsen 140 4.4.1.1. Determinação da entalpia molar de sublimação padrão 140 4.4.1.2. Determinação da entropia e energia de Gibbs molares de sublimação padrão 4.4.2. 4.5. 141 Microcalorimetria Calvet 142 4.4.2.1. Calibração 142 4.4.2.2. Determinação das entalpias molares de sublimação e vaporização padrão 143 Resultados experimentais 145 4.5.1. Método de efusão de Knudsen 145 4.5.1.1. Ureia acíclica 145 4.5.1.2. Ureias cíclicas 146 Microcalorimetria Calvet 157 4.5.2.1. Citosina 157 4.5.2.2. 3,4,4’-triclorocarbanilida 157 4.5.2.3. Derivados piridínicos 157 4.5.2. Bibliografia 164 VI Página 5. Considerações Gerais 5.1. 167 Entalpias de formação molares padrão, no estado gasoso, dos compostos estudados no âmbito deste trabalho 5.2. 169 Análise e crítica de resultados 170 5.2.1. Derivados da piridina 170 5.2.2. Citosina 172 5.2.3. Ureias cíclicas 174 5.2.4. Ureia acíclica 177 Bibliografia 178 VII ÍNDICE DE TABELAS Tabela Página 1.1 − Compostos estudados e técnicas usadas no âmbito deste trabalho. 7 1.2 − Unidades fundamentais do SI utilizadas neste trabalho. 9 1.3 − Unidades derivadas do SI utilizadas neste trabalho. 9 2.1 − Propriedades características dos compostos derivados da piridina. 19 2.2 − Propriedades e características dos compostos derivados da imidazolidina. 22 2.3 − Propriedades características de compostos derivados cíclicos afins da pirimidinina. 24 2.4 − Propriedades características do composto 3,4,4’-triclorocarbanilida. 26 2.5 − Propriedades características dos compostos auxiliares. 30 3.1 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de 4-terc-butilpiridina. 87 3.2 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de 2,6-di-terc-butilpiridina. 88 3.3 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de 2,4,6-tri-terc-butilpiridina. 89 3.4 − Determinação da energia mássica de combustão padrão da citosina. 90 3.5 − Determinação da energia mássica de combustão padrão da imidazolidin-2-ona. 91 3.6 − Determinação da energia mássica de combustão padrão do ácido parabânico. 92 3.7 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de N,N’-trimetilenurea. 93 3.8 − Determinação da energia mássica de combustão padrão do barbital. 94 3.9 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de 3,4,4’-triclorocarbanilida. 95 3.10 − Energia mássica de combustão padrão, ∆ c u o o , energia molar de combustão padrão, o ∆ cU m , entalpia molar de combustão padrão, ∆ c H m ,e entalpia molar de formação o padrão, ∆ f H m , para os compostos orgânicos, à temperatura de 298.15 K. 96 4.1 − Substância padrão para a medição de entalpias de sublimação. 121 4.2 − Substâncias padrão para a medição de entalpias de vaporização. 121 4.3 − Valores do diâmetro e da área de cada célula de efusão e correspondentes factores de Clausing. 4.4 − Resultados experimentais obtidos pelo método de efusão de Knudsen para o composto imidazolidin-2-ona. 4.5 − Resultados experimentais obtidos pelo método de efusão de Knudsen para o composto ácido parabânico. 129 147 149 4.6 − Resultados experimentais obtidos pelo método de efusão de Knudsen para o composto N,N’-trimetilenurea. 151 4.7 – Resultados experimentais obtidos pelo método de efusão de Knudsen para o composto barbital. 153 VIII Página Tabela 4.8 – Parâmetros da equação de Clausius-Clapeyron, obtidos a partir de regressões lineares, e valores calculados para a entalpia e entropia de sublimação à temperatura média, para cada um dos compostos. 4.9 – Valores de pressão de vapor e correspondentes temperaturas para cada um dos compostos. 155 156 4.10 – Entalpia, entropia e energia de Gibbs molares de sublimação padrão e pressão de vapor à temperatura de 298.15.K, para cada um dos compostos. 4.11 − Resultados obtidos nos ensaios de calibração para o microcalorímetro Calvet com undecano à temperatura de 364-365.K. 4.12 − Determinação da entalpia de vaporização do 4-terc-butilpiridina. 4.13 − Resultados obtidos nos ensaios de calibração para o microcalorímetro Calvet com decano à temperatura de 323-324 K. 4.14 − Determinação da entalpia de vaporização do 2,6-di-terc-butilpiridina. 4.15 − Resultados obtidos nos ensaios de calibração para o microcalorímetro Calvet com naftaleno à temperatura de 329 K. 4.16 − Determinação da entalpia de sublimação do 2,4,6-tri-terc-butilpiridina. 5.1 –.Valores de entalpias molares de formação padrão no estado gasoso, calculados a 156 158 159 160 161 162 163 169 298.15 K. 5.2 – Valores de entalpia de sublimação para a citosina, disponíveis na literatura. 173 5.3 – Valores de entalpias molares de sublimação padrão, às temperaturas T e 298.15.K, e de entalpias molares de formação padrão, no estado condensado e no estado gasoso, para os compostos etilureia en-propilureia. IX 174 ÍNDICE DE FÍGURAS Figura Página 1.1 –.Ciclos termoquímicos da relação entre entalpias de formação e de transição de fase. 6 2.1 –.Fórmulas estruturais dos compostos submetidos a estudos termoquímicos. 13 2.2 –.Esquema de classificação dos compostos sujeitos a estudos termoquímicos. 15 2.3 –.Estrutura da piridina. 16 2.4 –.Estruturas de Kékulé da piridina e sua numeração. 16 2.5 –.Representação do híbrido de ressonância e da orbital molecular π de menor energia da piridina. 17 2.6 –.Desvios químicos (ppm) de hidrogénios primários (RMN) no benzeno e na piridina. 17 2.7 –.Estruturas de ressonância na molécula piridina. 18 2.8 –.Estrutura da imidazole. 20 2.9 –.Esquema das reacções de hidrogenação da imidazole e da imidazolina. 20 2.10 –.Esquema de introdução do grupo carbonilo na molécula imidazolidina. 21 2.11 –.Estrutura da pirimidina 22 2.12 –.Tautómeros da citosina. 23 2.13 –.Esquema das reacções de hidrogenação da pirimidina. 23 2.14 –.Formação do ácido barbitúrico a partir da reacção da ureia com o malonato de etilo. 25 2.15 –.Tautómeros do barbital. 25 3.1 –.Esquemas de definição do equivalente energético de um sistema calorimétrico. 47 3.2 –.Ciclo termoquímico para a determinação do equivalente energético, com a bomba vazia, εcal. 52 3.3 –.Esquema da bomba estática de combustão. 54 3.4 – Representação do sistema calorimétrico e banho termostatizado. 56 3.5 –.Esquema da bomba rotativa de combustão (vista de topo da bomba; corte longitudinal da bomba e respectiva cabeça). 58 3.6 –.Vaso calorimétrico: a) vaso calorimétrico com tampa, sem sistema de suspensão (corte longitudinal); b) sistema de suspensão. 59 3.7 –.Imagens do banho termostatizado. 60 3.8 –.Esquema do sistema de recolha de dióxido de carbono. 65 X 3.9 –.Tubos de absorção de pyrex. 66 Página Figura 3.10 –.Curva típica de variação de temperatura da água do calorímetro em função do tempo, numa experiência de combustão. 73 3.11 –.Ciclo termoquímico para aplicação das correcções de Washburn. 77 4.1. –.Diagrama p,T genérico do equilíbrio entre duas fases α e β. 111 4.2. –.Curva típica obtida para um processo de transição de fase endotérmico. 117 4.3. –.Esquema do bloco calorimétrico do microcalorímetro Calvet e ampliação da célula com capilar contendo a amostra em estudo. 118 4.4. –.Ciclo termoquímico da relação entre as entalpias de transição de fase a diferentes pressões. 122 4.5. –.Ciclo termoquímico da dependência das entalpias de transição de fase com a temperatura. 125 4.6. –.Representação esquemática do novo sistema de efusão de Knudsen. 127 4.7. –.Esquema da célula de efusão vista de topo e de lado. 129 4.8 – Representação esquemática da câmara de sublimação, vista de topo e de lado. 130 4.9 –.Representação esquemática dos blocos de alumínio, vista de topo e de lado. 132 4.10 –.Representação esquemática do novo sistema de microcalorímetra Calvet. 133 4.11 –.Esquema de uma das células calorimétricas do microcalorímetro Calvet e ampliações da célula calorimétrica e do topo do prolongamento da célula calorimétrica. 134 4.12 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios pequenos, para o composto imidazolidin-2-ona 148 4.13 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios médios, para o composto imidazolidin-2-ona. 148 4.14 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios grandes, para o composto imidazolidin-2-ona. 4.15 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), 148 para o conjunto de valores obtidos para o composto imidazolidin-2-ona. 148 4.16 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios pequenos, para o composto ácido parabânico. 150 4.17 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios médios, para o composto ácido parabânico. 150 4.18 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios grandes, para o composto ácido parabânico. 150 4.19 – Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos para o composto ácido parabânico. 150 XI 4.20 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios pequenos, para o composto N,N’-trimetilenurea. 152 Página Figura 4.21 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios médios, para o composto N,N’-trimetilenurea. 152 4.22 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios grandes, para o composto N,N’-trimetilenurea. 152 4.23 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos para o composto N,N’-trimetilenurea. 152 4.24 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios pequenos, para o composto barbital. 154 4.25 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios médios, para o composto barbital. 154 4.26 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos, com as células de efusão de orifícios grandes, para o composto barbital. 154 4.27 –.Representação gráfica de ln.p em função de (1/T), para o conjunto de valores obtidos para o composto barbital. [ ] 154 4.28 –.Esquema utilizado para a correcção H o − H o (g) do composto 4-terc-butilpiridina. 298.15 K T [ ] 159 4.29 –.Esquema utilizado para a correcção H o − H o (g) do composto 2,6-di-terc298.15 K T butilpiridina. 4.30 –.Esquema utilizado para a correcção [H o T ] butilpiridina. 5.1 161 − H 298.15 K (g) do composto 2,4,6-tri-terco 163 − .Incrementos entálpicos calculados para a introdução dos grupos metilo e terc-butilo na piridina. 171 5.2 –.Relações entre os incrementos entálpicos obtidos para as moléculas piridinicas contendo os substituintes metilo e terc-butilo. 172 5.3 –.Relações entre as entalpia de formação no estado gasoso para as ureias acíclicas e as correspondentes ureias cíclicas. 175 5.4 – Relações das entalpias de formação molares padrão no estado gasoso. XII 176 SÍMBOLOS AB alg − Ácido benzóico am − amostra Ao − área do orifício de efusão AC − auxiliar de combustão− Q − calor q cp − calor Cv − capacidade calorífica molar a volume constante C − capacidade carb − carbono ν − coeficiente estequiométrico S − coeficiente de sensibilidade comp − composto κ − constante − algodão − capacidade calorífica mássica a pressão constante ∆U Σ − correcção de energia para o estado padrão R − constante dos gases ∆Tcorr − correcção de temperatura σ − desvio padrão ∆U − energia de combustão ∆ cu − energia mássica de combustão ∆c u º ∆ cU o m − energia mássica de combustão padrão − energia molar de combustão padrão ∆ c H mº − entalpia molar de combustão padrão ∆f H − entalpia molar de formação padrão o m ∆ f H mo (cr, l) − entalpias molares de formação padrão no estado condensado ∆ f H mo (g) − entalpia molar de formação padrão no estado gasoso Hm − entalpia molar padrão ∆ r H mº ∆ gcr H mo − entalpia molar de reacção padrão ∆ gcr,l H mo − entalpias molares de transição de fase padrão ∆ lg H mo − entalpia molar de vaporização padrão o − entalpia molar de sublimação padrão XIII S − entropia Sm − entropia molar ∆cr S m − entropia molar de sublimação ε ε cal εf εi εc ε cf ε ci − equivalente energético l − espessura ωo − factor de Clausing f − factor de correcção α β − fase φ − fluxo de calor G Gm − função de Gibbs g G G − equivalente energético do calorímetro com a bomba vazia − equivalente energético nas condições finais − equivalente energético nas condições iniciais − equivalente energético do conteúdo da bomba − equivalente energético do conteúdo da bomba para o estado final − equivalente energético do conteúdo da bomba para o estado inicial − fase α β ign m − função de Gibbs molar − função de Gibbs para a fase alfa − função de Gibbs para a fase beta − ignição − massa M − massa molar mel − melinex C − número de componentes F − número de fases observ − observado p − pressão % − percentagem π − pi plat − platina poliet − polietileno µ − potencial químico n − quantidade nf − quantidade final ni − quantidade inicial r − raio Σ − somatório XIV fsol − solução final isol − solução inicial θ T − temperatura na escala Celsius Tc − temperatura na escala termodinâmica absoluta − temperatura de convergência Tf Ti − temperatura final Tmf Tmi Tmp − temperatura média do período final TR Tv − temperatura de referência t − tempo tf ti − tempo final Xi − valor individual X − valor médio ∆U − variação de calor a volume constante ∆U f (corr) ∆Ui (corr) − temperatura inicial − temperatura média do período inicial − temperatura média do período principal − temperatura da vizinhança − tempo inicial − variação de energia dos conteúdos da bomba, entre os estados reais e os estados padrão, para os produtos − variação de energia dos conteúdos da bomba, entre os estados reais e os estados padrão, para os reagentes ∆U (PBI) Δm − variação de energia do processo de bomba isotérmico ∆n − variação da quantidade de substância − variação de massa ∆Tad − variação de temperatura adiabática u − variação de temperatura devido ao calor de agitação gf − variação de temperatura por unidade de tempo no período final V Vf − variância de um sistema Vi − voltagem inicial gi − variação de temperatura por unidade de tempo no período inicial V − volume Vm − volume molar − voltagem final XV XVI MESTRADO EM QUÍMICA TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. A Termoquímica 1.2. Âmbito do trabalho 1.3 Unidades Bibliografia 2 1. INTRODUÇÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.1. A TERMOQUÍMICA 1.1. A TERMOQUÍMICA As questões formuladas e as descobertas realizadas no século XVIII, no âmbito da Química, revelaram-se de extrema importância para o impulsionamento da Química Moderna. Uma delas relaciona-se com a natureza do calor, tendo vários cientistas da época contribuído com o seu conhecimento para tentar clarificar as dúvidas existentes, de que se destaca o nome de Antoine Laurent Lavoisier, químico francês, considerado por muitos cientistas como o fundador da Química Moderna [1]. No período 1782-1783, Antoine L. Lavoisier e Pierre-Simon Laplace (matemático e físico) construíram o primeiro calorímetro, o calorímetro de gelo, para medir a quantidade de calor libertada por um corpo quente, fazendo uso da medição do volume de um líquido resultante da transição de fase provocada pela transferência de calor [2]. Estas experiências marcaram o nascimento da Termoquímica, e com ela, a definição de calor como uma forma de energia, que está sempre associada a um fluxo inerente a um gradiente de temperaturas. A Termoquímica faz parte de uma ciência mais ampla, a Termodinâmica, no âmbito da qual são estudadas as relações entre o calor e outras formas de energia [3]. Em linhas gerais, a Termoquímica estuda fundamentalmente variações de energia associadas a transformações químicas (reacções de formação, de atomização, de combustão, de hidrogenação, de dissolução, entre outras) e a transições de fase. Associada a esta ciência surge, frequentemente, a calorimetria no contexto da qual se procede à medição de quantidades de calor absorvidas ou libertadas durante uma transformação. A Primeira Lei da Termodinâmica (PLT) pode ser enunciada por: “Há conservação da energia total do universo, sendo o calor uma forma de energia”. A aplicação desta lei conduz, imediatamente, às leis fundamentais da Termoquímica: 1. Lei de Lavoisier e Laplace – a uma dada temperatura e pressão, a energia necessária para decompor um composto nos seus elementos é exactamente igual e de sinal contrário à libertação de energia do processo inverso; 3 1. INTRODUÇÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.1. A TERMOQUÍMICA 2. Lei de Hess – a quantidade de calor libertada ou absorvida numa reacção química, executada a pressão ou volume constantes, é a mesma qualquer que seja o caminho real ou hipotético, seguido pela reacção. A utilidade da Lei de Lavoisier e Laplace manifesta-se, particularmente, no estudo da ligação química, enquanto a Lei de Hess permite obter, por cálculo, calores de reacção não acessíveis experimentalmente (nas hipóteses admitidas, pressão ou volume constantes, são idênticos às variações de entalpia ou energia interna, respectivamente). Na evolução cronológica da Termoquímica, muitos são os cientistas que contribuíram de forma significativa para a sua evolução, entre os quais se podem referir nomes como Lavoisier, Laplace, Bunsen, Pouillet, Berthelot, Junkers ou Skinner que, ao desenvolverem calorímetros relativamente simples permitiram, na sua época, demonstrar os princípios básicos da medição de calor, podendo até ser considerados como os percursores de alguns aparelhos mais específicos e elaborados [4]. Nos últimos anos, o desenvolvimento tecnológico do equipamento científico teve um papel importante no aumento da quantidade de resultados termoquímicos experimentais, permitindo efectuar ensaios em intervalos de tempo menores, e até na facilidade de obtenção de resultados de elevada precisão. Hoje em dia, os parâmetros termoquímicos de compostos orgânicos são de elevada importância para a exigência e competitividade do desenvolvimento contínuo da Ciência e Tecnologia. Tais parâmetros revelam-se de extrema utilidade para a compreensão de problemas químicos, tais como a natureza das ligações químicas, bem como o conhecimento e/ou a confirmação da energética de tais ligações e, consequentemente, servir de suporte às correlações entre características estruturais e reaccionais dos compostos de que essas ligações fazem parte. Mas a importância do conhecimento de parâmetros termoquímicos não se limita apenas à Química, mas também a outras áreas como as indústrias de combustíveis convencionais ou espaciais, as indústrias farmacêutica e alimentar, a indústria metalúrgica, na indústria em geral, na 4 1. INTRODUÇÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.1. A TERMOQUÍMICA produção e caracterização de novos materiais, no estudo de processos biológicos e mesmo em problemas ambientais, em que as características energéticas das espécies sejam relevantes. A calorimetria tende e tornar-se um procedimento padrão de medida e controlo, implicando a necessidade de uma vasta base de dados termoquímicos fidedignos. A impossibilidade de obter experimentalmente valores de entalpia de formação de todas as espécies existentes, impõe a determinação de valores de compostos “chave”, numa tentativa de construir bases de dados que possibilitem o estabelecimento de esquemas de previsão de tais parâmetros para outros compostos, em que os estudos experimentais não existam. Hoje em dia, também é possível contar com o contributo de métodos de cálculo teóricos, aliados a valores experimentais, para a construção das bases de dados. 5 1. INTRODUÇÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.2. ÂMBITO DO TRABALHO 1.2. ÂMBITO DO TRABALHO A entalpia molar de formação padrão de um composto no estado gasoso, ∆ f H mo (g) , permite estabelecer correlações com as características estruturais da molécula, dado que na fase gasosa os efeitos das forças intermoleculares não se fazem sentir. A determinação experimental directa deste parâmetro nem sempre é viável, pelo que um método alternativo passa pela conjugação de parâmetros energéticos em fase condensada com entalpias de transição de fase, obtidos experimentalmente. Assim, para um dado composto orgânico, a medição das suas propriedades energéticas em fase condensada possibilita a determinação do valor da respectiva entalpia de formação, ∆ f H mo (cr, l) . Este parâmetro engloba, os efeitos energéticos das interacções intramoleculares e intermoleculares. Para derivar a entalpia de formação do mesmo composto no estado gasoso, ∆ f H mo (g) , a partir da entalpia de formação no estado condensado, é necessário considerar o efeito energético das forças intermoleculares, recorrendo, para isso, à determinação de entalpias de transição de fase, ∆ gcr,l H mo . A partir dos esquemas 1 e 2 representados na figura 1.1 e atendendo à Lei de Hess, é possível deduzir as expressões de cálculo da entalpia de formação no estado gasoso, (1.1) e (1.2), respectivamente, onde todos os parâmetros estão referidos a condições padrão e à mesma temperatura. ∆ f H mo (g) = ∆ f H mo (cr) + ∆gcr H mo (1.1) ∆ f H mo (g) = ∆ f H mo (l) + ∆gl H mo (1.2) Figura 1.1 – Ciclos termoquímicos da relação entre entalpias de formação e de transição de fase. 6 1. INTRODUÇÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.2. ÂMBITO DO TRABALHO Nos últimos anos, o estudo termoquímico de compostos azotados tem constituído uma importante área de trabalho neste Laboratório, contribuindo para a interpretação do seu comportamento, pelo estabelecimento de relações entre reactividade, características energéticas e estruturais. Esta dissertação surge nesse seguimento, tendo sido estudados nove compostos azotados, para os quais se pretendia determinar os respectivos valores de ∆ f H mo (g) . Para isso, foi desenvolvido o seguinte trabalho experimental: − medição de energias de combustão, por calorimetria em bomba estática ou em bomba rotativa, e subsequente cálculo dos respectivos valores das entalpias molares de formação padrão no estado condensado, ∆ f H mo (cr, l) , a 298.15.K; g o − determinação das entalpias de transição de fase, sublimação, ∆ cr H m , e vaporização, ∆ lg H mo , a 298.15.K, por microcalorimetria Calvet ou pelo método de efusão de Knudsen. Na tabela 1.1 encontra-se o resumo do trabalho experimental desenvolvido no âmbito desta dissertação, no que se refere as técnicas utilizadas para o estudo de cada um dos compostos. Tabela 1.1 – Compostos estudados e técnicas usadas no âmbito deste trabalho. CALORIMETRIA MÉTODOS EXPERIMENTAIS DE DETERMINAÇÃO DE DE COMBUSTÃO ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE 4-terc.-butilpiridina em Bomba Estática Microcalorimetria Calvet 2,6-di-terc.-butilpiridina em Bomba Estática Microcalorimetria Calvet 2,4,6-tri-terc.-butilpiridina em Bomba Estática Microcalorimetria Calvet citosina em Bomba Estática Microcalorimetria Calvet imidazolidin-2-ona em Bomba Estática Método de efusão de Knudsen ácido parabânico em Bomba Estática Método de efusão de Knudsen N,N’.-trimetilenurea em Bomba Estática Método de efusão de Knudsen barbital em Bomba Estática Método de efusão de Knudsen 3,3,4’-triclorocarbanilida em Bomba Rotativa Método de efusão de Knudsen COMPOSTO 7 Microcalorimetria Calvet 1. INTRODUÇÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.2. ÂMBITO DO TRABALHO O interesse do estudo termoquímico deste conjunto de compostos pode ser dividido em três objectivos: − estudo do efeito da introdução do substituinte terc.-butilo no anel piridínico; − confirmação dos parâmetros termoquímicos disponíveis na literatura para a citosina; − estudo da energética, estrutura e reactividade de quatro ureias cíclicas e uma ureia acíclica. Alguns compostos estudados são utilizados na indústria química, na produção de células fotovoltaicas, na indústria farmacêutica e na indústria cosmética. Alguns destes compostos são também alvo de estudos científicos relativamente às suas características com interesse biológico, como complexos host-guest, e aos malefícios que podem provocar à saúde humana, quando são encontrados como resíduos de fungicidas e pesticidas em alimentos. Esta dissertação foi estruturada de forma a proporcionar uma visão clara do trabalho realizado. Assim, neste primeiro capítulo é feita uma breve introdução deste trabalho. No capítulo dois é realizada a caracterização e indicada a aplicação dos compostos estudados. As técnicas utilizadas, a calorimetria de combustão (em bomba estática e em bomba rotativa) e os métodos experimentais de determinação de entalpias de transição de fase (a microcalorimetria Calvet e o método de efusão de Knudsen), são descritos nos capítulos três e quatro, respectivamente. Por último, no capítulo cinco são apresentados e interpretados os valores de entalpias de formação no estado gasoso dos compostos estudados. 8 1. INTRODUÇÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.3. UNIDADES 1.3. UNIDADES No presente trabalho utilizaram-se as unidades do Sistema Internacional (SI). Na tabela 1.2 resume-se as unidades fundamentais SI utilizadas, enquanto na tabela 1.3 se resume as unidades derivadas. Tabela 1.2 – Unidades fundamentais do SI utilizadas neste trabalho. Grandeza Unidade Símbolo Massa quilograma kg Quantidade de substância mole mol Temperatura kelvin K Tempo segundo s Tabela 1.3 – Unidades derivadas do SI utilizadas neste trabalho. Grandeza Unidade Símbolo Derivação Pressão pascal Pa kg.m .s Energia joule J kg.m .s Volume litro L 10 m -3 -1 -2 2 -2 3 Na literatura consultada, alguns dos dados referentes à energia vêm expressos em calorias (cal), pelo que foram convertidos em joules pela relação: 1 cal = 4.184 J Os valores de temperatura na escala Celsius, θ, e na escala termodinâmica absoluta, T, relacionam-se pela expressão T / K = θ / º C + 273.15 (1.3) Os valores das massas atómicas utilizados foram os recomendados pela IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) [5]. 9 1. INTRODUÇÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.3. UNIDADES BIBLIOGRAFIA [1] − http://en.wikipedia.org/wiki/Lavoisier (consulta em Agosto de 2007). [2] – http://www.chem.yale.edu (consulta em Julho de 2005). [3] – Atkins, P. W., Physical Chemistry, 6th edition, Oxford University Press, Oxford, 1998. [4] − Ribeiro da Silva, M. D. M. C., Química (Boletim SPQ.), 53 (1994) 63. [5] − Loss, R. D., Pure Appl. Chem. 75 (2003) 1107. 10 MESTRADO EM QUÍMICA TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS CAPÍTULO 2 CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS 11 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS 2. Caracterização dos compostos 2.1. Aminas Heterocíclicas 2.1.1. Derivados da piridina 2.1.2. Derivados da imidazolidina 2.1.3. Derivados cíclicos afins da pirimidina 2.2. Aminas Aromáticas 2.3. Purificação dos compostos 2.4. Compostos auxiliares Bibliografia 12 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS Na figura 2.1 estão representadas as estruturas dos compostos que foram objecto de estudo termoquímico, no âmbito desta dissertação. É possível verificar que os compostos apresentam estruturas bastante diferentes, tendo em comum a presença do grupo funcional amina na sua estrutura. As aminas são compostos de fórmula geral RNH2, R2NH ou R3N (.R.=.alquilo ou arilo.), classificados, respectivamente, como aminas primárias, secundárias e terciárias. Uma das principais características desta classe de compostos é o seu carácter básico. 4-terc-butilpiridina 2,6-di-terc-butilpiridina 2,4,6-tri-terc-butilpiridina citosina imidazolidin-2-ona N,N’-trimetilenurea ácido parabânico barbital 3,4,4’-triclorocarbanilida Figura 2.1 – Fórmulas estruturais dos compostos submetidos a estudos termoquímicos. 13 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Dos nove compostos orgânicos apresentados apenas um é uma amina aromática, sendo os restantes aminas heterocíclicas cujo anel contém, além de carbono, pelo menos um átomo de azoto. As aminas heterocíclicas estudadas podem ser divididas em três grupos (figura 2.2): − derivados da imidazolidina, anel constituído por cinco átomos, dos quais três de carbono e dois de azoto; − derivados cíclicos afins da pirimidina, anel constituído por seis átomos, dos quais quatro de carbono e dois de azoto; − derivados da piridina, anel constituído por seis átomos, dos quais cinco de carbono e um de azoto. De entre as oito aminas heterocíclicas, é de salientar que quatro são ureias cíclicas, isto é, possuem o grupo funcional −NHCONH− integrado no anel. As aminas aromáticas caracterizam-se pela ligação directa do átomo de azoto a um anel aromático [1]. A amina aromática cujo estudo termoquímico se realiza no âmbito deste trabalho também é um derivado da ureia. De seguida, vão ser apresentadas propriedades, características e aplicações de cada um dos compostos orgânicos estudados. 14 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS 15 Figura 2.2 – Esquema de classificação dos compostos sujeitos a estudos termoquímicos. TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS 2.1. AMINAS HETEROCÍCLICAS 2.1.1. DERIVADOS DA PIRIDINA • 4-terc-butilpiridina • 2,6-di-terc-butilpiridina • 2,4,6-tri-terc-butilpiridina Para uma melhor caracterização dos derivados piridínicos em estudo, é relevante fazer algumas considerações gerais sobre a molécula heterocíclica fundamental, a piridina (figura 2.3). Esta molécula pode ser considerada um derivado do benzeno –.azabenzeno.– em que um átomo de azoto substitui uma unidade CH no anel, constituindo, assim, um anel hexagonal constituído Figura 2.3 –Estrutura da piridina. por cinco átomos de carbono e um de azoto (C5H5N).. A piridina, podendo ser considerada um híbrido das estruturas de Kékulé .I e II (figura 2.4), é uma molécula planar com todos os ângulos de ligação de cerca de 120º. No anel, os átomos encontram-se Figura 2.4 – Estruturas de Kékulé da piridina e sua numeração. ligados por sobreposição de orbitais sp2. A terceira orbital sp2, em cada átomo de carbono, é utilizada na formação da ligação σ com o hidrogénio, enquanto que no átomo de azoto contém um par de electrões não compartilhado, no plano molecular, que não faz parte do sistema π mas do sistema σ. As orbitais p orientam-se perpendicularmente ao plano molecular, formando, assim, nuvens π acima e abaixo do plano do anel. Na figura 2.5, está representada a orbital molecular π de menor energia da piridina, sendo possível visualizar que os electrões π se encontram efectivamente deslocalizados acima e abaixo do plano da molécula. As nuvens π contêm um total de 6 electrões conferindo, assim, à molécula um carácter aromático (Regra de Hückel.) [1,2]. A presença do átomo de azoto no anel confere à . 16 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS piridina um carácter básico e exerce uma grande influência na reactividade do anel [1]. O átomo de azoto é mais electronegativo do que o átomo de carbono e, em consequência disso, o azoto vai retirar densidade electrónica ao anel, tanto por efeito indutor como Híbrido de ressonância por ressonância. Esta tendência é confirmada pelos desvios químicos dos hidrogénios (figura primários 2.6), que na energia Figura 2.5 – Representação do híbrido de ressonância e da orbital molecular π de menor energia da piridina [3]. piridina evidenciam OM π de menor a capacidade do azoto retirar densidade electrónica ao anel, dado os valores dos desvios químicos dos hidrogénios ligados no C2 e C4 (valores estimados a partir do espectro protónico fornecido pela Aldrich [4]). Na molécula do Figura 2.6 – Desvios químicos (ppm) de hidrogénios primários (RMN) no benzeno e na piridina. benzeno todos os hidrogénios são magneticamente equivalentes, apresentando um desvio químico de 7.26 ppm (valor tabelado [5]). Comparando os desvios químicos obtidos para a piridina e para o benzeno, é possível verificar que o desvio químico do protão no C3 da piridina é aproximadamente igual ao desvio químico dos protões do benzeno, constatando-se que a introdução do átomo de azoto no anel não vai afectar os protões em posição meta. Esta observação é coerente com as estruturas de ressonância para a molécula da piridina (figura 2.7), onde se verifica que na posição meta não há acumulação de carga, enquanto que nas posições orto e para há acumulação de carga positiva. A acumulação de carga positiva é indicativo de uma menor densidade electrónica, daí o facto de se verificarem, nas posições orto e para, desvios químicos superiores ao benzeno. 17 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS É, assim, possível concluir que o átomo de azoto no anel piridínico vai retirar densidade electrónica na posição orto, tanto por efeito indutor como por ressonância, enquanto que na posição para. apenas é considerado o efeito de ressonância. Figura 2.7 – Estruturas de ressonância na molécula piridina. De uma maneira geral, os derivados piridínicos têm um papel fundamental em diversas áreas, por exemplo, no desenvolvimento de novos pesticidas (classe: orgânicos sintécticos [6]), na produção de diversos produtos como farmacêuticos, de derivados da borracha e adesivos, bem como um papel essencial em reacções químicas na indústria petroquímica [7]. Na tabela 2.1 são apresentadas algumas propriedades características dos três derivados piridínicos submetidos a estudo termoquímico. Com este conjunto de compostos pretende-se estudar o efeito de substituintes alquilo volumosos, como é o caso do substituinte terc.-butilo, no anel pirídinico. O composto monossubstituído, 4-terc.-butilpiridina, tem sido amplamente utilizado como aditivo na solução de electrólito de uma nova classe de células fotovoltaicas de baixo custo, denominadas de “dye-sensitized TiO2 solar cells”, devido à sua capacidade em aumentar a eficácia fotovoltaica destas células solares [9-13]. Estas células também conhecidas como células de Grätzel, têm sido objecto de intensos estudos no âmbito de energias renováveis, uma vez que se trata de um dispositivo fotovoltaico de baixo custo, que utiliza uma substância orgânica colorida (dye) para absorver a luz solar [14,17]. O composto dissubstituído, 2,6-di-terc.-butilpiridina, tem sido alvo de estudo por parte de alguns investigadores, devido à sua invulgar baixa basicidade, sendo mesmo referido como uma base não nucleofílica. Uma explicação proposta para esta característica é o facto de haver um 18 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS impedimento estereoquímico que dificulta a adição do protão ao azoto, sendo mesmo referida a incapacidade de rotação dos substituintes para minimizar as interacções estereoquímicas entre os dois substituintes [18-21]. Este composto é referido na produção de homopolímeros e copolímeros [22]. Tabela 2.1 – Propriedades características dos compostos derivados da piridina. Estrutura: Composto: 4-terc.-butilpiridina CAS number: 3978-81-2 Fórmula molecular: C9H13N Massa molar: 135.208 g.mol-1 Proveniência: Universidade North Texas Denton, USA Estado físico à temperatura ambiente: líquido Temperatura de ebulição: 196-197ºC [8] Densidade: 0.915 a 25 ºC [4] Estrutura: Composto: 2,6-di-terc.-butilpiridina CAS number: 585-48-8 Fórmula molecular: C13H21N Massa molar: 191.316 g.mol-1 Proveniência: Sigma-Aldrich Pureza indicada: 98.5.% Estado físico à temperatura ambiente: líquido Temperatura de ebulição: 100-101 (23 mmHg) [4] Densidade: 0.852 a 25 ºC [4] Estrutura: Composto: 2,4,6-tri-terc.-butilpiridina CAS number: 20336-15-6 Fórmula molecular: C17H29N Massa molar: 247.423 g.mol-1 Proveniência: Sigma-Aldrich Pureza indicada: 99.2.% Estado físico à temperatura ambiente: sólido Ponto de fusão: 67-71 ºC [4] Temperatura de ebulição: 115-120 ºC (20 mmHg) [4] Cuidados: armazenar e manusear em atmosfera inerte [4] 19 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS Relativamente ao composto trissubstituído, 2,4,6-tri-terc.-butilpiridina, não há grande informação relativamente à sua aplicação, excepto a sua utilização na acilação selectiva de um grupo orgânico sobre um zeólito [23]. Talvez a escassez de informação se deva à instabilidade deste composto, uma vez que tem que ser armazenado e manuseado em atmosfera de inerte [4]. 2.1.2. DERIVADOS DA IMIDAZOLIDINA • Imidazolidin-2-ona • Ácido parabânico A imidazole é um composto heterocíclico, com um anel pentagonal constituído por três átomos de carbono e dois de azoto (C3H4N2). A hidrogenação da imidazole, origina o composto imidazolina (4,5-dihidro-(1H.)-imidazole) e, por sua vez, a hidrogenação deste permite obter o composto imidazolidina Figura 2.8 – Estrutura (2,3,4,5-tetrahidro-(1H.)-imidazole) da imidazole. (figura 2.9). Assim, a imidazolidina é um composto heterocíclico derivado da imidazole pela adição de quatro átomos de hidrogénio. imidazole imidazolina Imidazolidina Figura 2.9 – Esquema das reacções de hidrogenação da imidazole e da imidazolina. A introdução de um grupo carbonilo na imidazolidina, na posição 2 dá origem ao composto imidazolidin-2-ona. Por sua vez, a introdução de três grupos carbonilo, nas posições 2,4,5 dá origem ao composto ácido parabânico (figura 2.10). Ambos os compostos resultantes são ureias cíclicas pentagonais, estando algumas das suas propriedades características resumidas na tabela 2.2. 20 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS Imidazolidin-2-ona Ácido parabânico Figura 2.10 – Esquema de introdução do grupo carbonilo na molécula imidazolidina. O composto imidazolidin-2-ona é uma ureia cíclica por ligação do grupo etilo aos dois átomos de azoto da ureia. É um composto usado na indústria de polímeros, lacas e adesivos, em produtos de acabamento na indústria têxtil e na indústria de peles curtidas de animais [24-26]. Recentemente tem sido utilizado em complexos host-guest de grande interesse biológico, tendo o papel de guest [27-29]. É referido como um resíduo de um fungicida (mancozeb.) e de um pesticida (zineb.), utilizados no cultivo de tomates e batatas [30-34]. O ácido parabânico é referido como um composto com efeitos soporíferos, mas com a desvantagem de ser hidrolisado facilmente, formando o ácido oxalúrico, para ser considerado um possível medicamento [35]. Em contrapartida, é referido como um importante marcador de reacções de radicais livres in vivo, sendo utilizado para monitorizar a actividade de radicais livres, como é o caso do oxigénio, no cérebro humano ferido produto da oxidação do ácido úrico [38,39]. 21 [35-37]. Surge também referido como um 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS Tabela 2.2 – Propriedades e características dos compostos derivados da imidazolidina. Estrutura: Composto: imidazolidin-2-ona CAS number: 120-93-4 Fórmula molecular: C3H6N2O Massa molar: 86.093 g.mol-1 Proveniência: Instituto de Química Física “Rocasolano”, Madrid Pureza indicada: 99.84% Estado físico à temperatura ambiente: sólido Cor: branco Ponto de fusão: 129-132 ºC [4] Densidade: 1.30 Estrutura: Composto: ácido parabânico Nome IUPAC: imidazolidin-2,4,5-triona CAS number: 120-89-8 Fórmula molecular: C3H2N2O3 Massa molar: 114.060 g.mol-1 Proveniência: Instituto de Química Física “Rocasolano”, Madrid Estado físico à temperatura ambiente: sólido Cor: branco Ponto de fusão: 249 ºC [4] 2.1.3. DERIVADOS CÍCLICOS AFINS DA PIRIMIDINA • Citosina • N,N´’-trimetilenurea • Barbital A pirimidina é um composto heterocíclico, com um anel hexagonal constituído por quatro átomos de carbono e dois de azoto (C4H4N2) (figura 2.11). Na natureza, é possível encontrar diversos compostos derivados da pirimidina com um elevado significado biológico. É o caso das bases 22 Figura 2.11 – Estrutura da pirimidina. 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS heterocíclicas azotadas presentes no ADN e ARN, entre elas a citosina. Outros exemplos importantes de derivados da pirimidina são os barbitúricos, drogas com efeitos sedativos. Na tabela 2.3 são apresentadas algumas propriedades características da citosina. A citosina possui um anel aromático com dois substituintes, um grupo amino na posição 4 e um grupo carbonilo na posição 2. Apresenta três tautómeros, o hidroxi-amino, o oxo-amino e o oxo-imino, cujas fórmulas de estrutura estão representadas na figura 2.12. O tautómero oxo-amino é a forma presente nos materiais biológicos [41]. hidroxi-amino oxo-amino oxo-imino Figura 2.12 – Tautómeros da citosina. Na figura 2.13 é possível observar os hidretos heterocíclicos resultantes da hidrogenação da pirimidina. Da hidrogenação completa da pirimidina resulta o composto piperimidina (o infixo <pe> indica hidrogenação completa) também denominado de 1,3-diazinano, segundo a nomenclatura IUPAC [42]. pirimidina 5,6-dihidropirimidina 3,4,5,6-tetrahydropirimidina piperimidina Figura 2.13 – Esquema das reacções de hidrogenação da pirimidina. A introdução de um grupo carbonilo na piperimidina na posição 2 dá origem ao composto N,N’´-trimetilenurea. Este composto é uma ureia cíclica hexagonal, por ligação do grupo propilo aos dois átomos de azoto da ureia. Na tabela 2.3 é possível encontrar algumas propriedades características deste composto. A N,N’´-trimetilenurea é referida como um resíduo de um fungicida 23 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS (propineb.) [43-45]. Relativamente às suas aplicações, é também um dos compostos utilizado como guest em complexos host-guest [27-29]. Tabela 2.3 – Propriedades características de compostos derivados cíclicos afins da pirimidina. Estrutura: Composto: citosina Nome IUPAC: 4-amino-3H-pirimidin-2-ona CAS number: 71-30-7 Fórmula molecular: C4H5N3O Massa molar: 111.103 g.mol-1 Proveniência: Aldrich Pureza indicada: >99% Estado físico à temperatura ambiente: sólido Cor: branco Ponto de fusão: >300 ºC [4] Densidade: 1.20 [40] Composto: N,N´-trimetilenurea Estrutura: Nome IUPAC: 1,3-diazinan-2-ona CAS number: 1852-17-1 Fórmula molecular: C4H8N2O Massa molar: 100.120 g.mol-1 Proveniência: Instituto de Química Física “Rocasolano”, Madrid Estado físico à temperatura ambiente: sólido Cor: branco Ponto de fusão: 263-267 ºC [4] Densidade: 1.19 Composto: barbital Estrutura: Nome IUPAC: 5,5-dietil-1,3-diazin-2,4,6-triona CAS number: 57-44-3 Fórmula molecular: C8H12N2O3 Massa molar: 184.194 g.mol-1 Proveniência: Instituto de Química Física “Rocasolano”, Madrid Pureza indicada: 99.95% Estado físico à temperatura ambiente: sólido Cor: branco Ponto de fusão: 190 ºC 24 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.1 AMINAS HETEROCÍCLICAS As ureias cíclicas que se formam a partir da reacção da ureia com um éster malónico são conhecidas por barbitúricos, sendo hipnóticos bastante importantes (figura 2.14). O barbital é um derivado do ácido barbitúrico a partir da introdução de dois grupos etilo na posição 5, daí as designações de ácido 5,5-dietilbarbitúrico ou dietilmalonilureia. Na tabela 2.3 são apresentadas algumas das propriedades características do barbital, sendo de referir ainda que foi o primeiro barbitúrico hipnótico, sintetizado em 1882 por Conrad e Guthzeit. Em 1903, foi sintetizado por um novo método, por Fisher e von Mehring, que se destacaram ao descobrir a actividade do barbital como hipnótico [46]. Recentemente é utilizado na indústria farmacêutica na produção de soporíferos, sendo vendido comercialmente pelo nome de Veronal. . ureia malonato de etilo ácido barbitúrico (malonilureia) Figura 2.14 – Formação do ácido barbitúrico a partir da reacção da ureia com o malonato de etilo [2]. Existem três tautómeros para esta molécula (figura 2.15), sendo a forma trioxo a responsável pelo seu carácter ácido, devido à presença do substrato −CONHCO− [46]. trioxo dioxo monoxo Figura 2.15 – Tautómeros do barbital. Devido à sua fraca solubilidade em água, normalmente, o barbital é convertido no seu sal de sódio que é facilmente solúvel em água. Existe uma considerável variedade de artigos científicos relativos ao efeito do barbital e seus derivados em organismos vivos [47-57]. Tal como os compostos imidazolidin-2-ona e N,N’-trimetilenurea, o barbital também é utilizado como guest em complexos host-guest [27-29]. 25 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.2. AMINAS AROMÁTICAS 2.2. AMINAS AROMÁTICAS A característica estrutural das aminas aromáticas é a ligação directa do átomo de azoto do grupo amino (−NH2) a um anel aromático [1]. Na tabela 2.4 são apresentadas algumas propriedades características do composto 3,4,4´-triclorocarbanilida (TCC). Observando a estrutura deste composto, facilmente se verifica que o composto, para além de ser considerado uma amina aromática, é também uma ureia acíclica, daí ser relevante apresentar duas abordagens diferentes para explicar a sua estrutura. Na primeira abordagem é considerado que o composto é um derivado da ureia, por substituição de cada um dos hidrogénios dos dois grupos −NH2 por dois substituintes clorofenilos. A outra abordagem considera que o composto é uma anilida, isto é, uma amida derivada da anilina por substituição do hidrogénio do grupo −NH2 pelo grupo carbonilo. Tabela 2.4 – Propriedades características do composto 3,4,4’-triclorocarbanilida. Composto: 3,4,4’-triclorocarbanilida Estrutura: Nome IUPAC: 3-(4-clorofenil)-1-(3,4-diclorofenil)ureia CAS number: 101-20-2 Fórmula molecular: C13H9N2OCl3 Massa molar: 315.58 g.mol-1 Proveniência: Instituto de Química Física “Rocasolano”, Madrid Estado físico à temperatura ambiente: sólido Cor: branco Ponto de fusão: 254-256 ºC [4] O composto TCC é uma substância com propriedades anti-fúngica e anti-bacteriana, daí ser amplamente utilizado como antisséptico pela indústria farmacêutica [58-61]. A nível dermatológico, a principal função do TCC é anular a actividade da enzima ENR, com um papel primordial na construção de membranas celulares de muitas bactérias e fungos [62]. Outras características dermatológicas inerentes ao composto são a capacidade de alterar a permeabilidade da 26 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.2. AMINAS AROMÁTICAS membrana citoplasmática e o controlo específico do pH da pele [63,64]. É também utilizado na produção de anti-transpirantes e prescrito no tratamento da hiperidrose (.transpiração excessiva.) [65,66]. A Bayer, uma das maiores indústrias farmacêuticas, refere mesmo a intenção de substituir os seus produtos com parabeno, com derivados do ácido benzóico e com bacteriostáticos, por um produto composto por TCC (Preventol SB.), que apresenta melhor custo/benefício para a indústria dos cosméticos [67]. Contudo, este composto tem uma vertente menos positiva, que se deve ao facto de persistir e acumular-se durante o tratamento de águas residuais, com a agravante de ser altamente prejudicial para os organismos aquáticos [4, 68-70]. 27 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.3. PURIFICAÇÃO DOS COMPOSTOS 2.3. PURIFICAÇÃO DOS COMPOSTOS O estado de pureza de uma amostra utilizada em medições calorimétricas, pode afectar significativamente a exactidão global da medição, havendo por isso, a necessidade de um controlo rigoroso da pureza de todos os compostos utilizados, afim de obter uma boa exactidão nos resultados obtidos [71]. Apesar de haver procedimentos que permitem corrigir a contribuição de algumas impurezas nas medições calorimétricas, o mais conveniente é evitá-las, utilizando substâncias que tenham sido submetidas a um tratamento de purificação, de forma a que as impurezas residuais presentes não tenham qualquer efeito na medição de calor. Hoje em dia, são vários os métodos disponíveis para a eficaz purificação de compostos orgânicos, permitindo obter substâncias com um elevado grau de pureza. As técnicas usadas, por rotina, para a purificação adicional das amostras, são a sublimação sob pressão reduzida, a fusão por zonas, a destilação fraccionada e a recristalização. Relativamente ao controlo de pureza dos compostos orgânicos, existe uma variedade de métodos disponíveis, desde análises químicas elementares, constantes físicas, métodos espectroscópicos, cromatografia gás-líquido e a calorimetria diferencial de varrimento. Alternativamente, uma concordância entre valores experimentais permite também comprovar a pureza da amostra, isto se, a propriedade física for sensível à presença de impurezas. Neste trabalho, cada um dos compostos teve um tratamento prévio diferente, tendo em conta a sua proveniência, o seu estado de pureza e as suas características. O composto 4-terc.-butilpiridina foi sintetizado na University of North Texas, Denton. Este composto foi submetido a sucessivas destilações a pressão reduzida, até se obter um estado de pureza aceitável, confirmado por análise cromatográfica gás-líquido (cromatógrafo HP 4890; coluna HP-5, 5% de difenil e 95% de dimetilpolisiloxano; azoto à pressão de 21 kPa; temperatura T = 423 K). 28 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.3. PURIFICAÇÃO DOS COMPOSTOS O composto 2,6-di-terc.-butilpiridina foi fornecido comercialmente pela Aldrich Chemical Co.. Este composto foi submetido a sucessivas destilações a pressão reduzida, até se obter um estado de pureza aceitável, confirmado por análise cromatográfica gás-líquido (cromatógrafo HP 4890; coluna HP-5, 5% de difenil e 95% de dimetilpolisiloxano; azoto à pressão de 21 kPa; temperatura T = 423 K). O composto 2,4,6-tri-terc.-butilpiridina foi fornecido comercialmente pela Aldrich Chemical Co.. Este composto foi armazenada e manuseado em atmosfera inerte. Foi sublimado sucessivamente sob pressão reduzida, até se obter um estado de pureza aceitável. Os compostos imidazolidin-2-ona, ácido parabânico, N,N‘–trimetilenurea, barbital e 3,4,4’-triclorocarbanilida foram sintetizados no Instituto de Química Física “Rocasolano”, Madrid. Não foram sujeitos a qualquer método de purificação, procedendo-se apenas a uma secagem prévia num banho de óleo (a uma temperatura inferior à sua temperatura de fusão) e a pressão reduzida, antes da sua utilização. O composto citosina, foi fornecido comercialmente pela Aldrich Chemical Co.. Não foi submetido a qualquer tratamento de purificação, dado que além de se encontrar num bom estado de pureza, qualquer tratamento adicional de purificação poderia alterar as suas características. A pureza de todos os compostos foi confirmada pela percentagem de dióxido de carbono recolhida após combustão (ver tabelas 3.1 a 3.8), à excepção do composto TCC. 29 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 2.4. COMPOSTOS AUXILIARES 2.4. COMPOSTOS AUXILIARES Na tabela 2.5 são apresentadas algumas propriedades características dos compostos auxiliares utilizados no estudo calorimétrico dos compostos orgânicos. Os compostos decano, undecano e naftaleno e o composto ácido benzóico foram utilizados, como substâncias padrão, respectivamente, na calibração do microcalorímetro Calvet e na calibração dos calorímetros de combustão. Os compostos n-hexadecano e ácido benzóico foram utilizados como auxiliares de combustão na técnica de calorimetria de combustão. Tabela 2.5 - Propriedades características dos compostos auxiliares. Composto: decano Fórmula molecular: C10H22 Estado físico à temperatura ambiente: líquido Massa molar: 142.284 g.mol-1 Temperatura de ebulição: 174 ºC [4] Proveniência: Aldrich Densidade: 0.73 a 25 ºC [4] Pureza indicada: 99+% Composto: undecano Fórmula molecular: C11H24 Estado físico à temperatura ambiente: líquido Massa molar: 156.311 g.mol-1 Temperatura de ebulição: 195-196ºC [6] Proveniência: Aldrich Densidade: 0.74 a 25 ºC [6] Pureza indicada: 99+% Composto: n-hexadecano Fórmula molecular: C16H34 Estado físico à temperatura ambiente: líquido Massa molar: 266.445 g.mol-1 Temperatura de ebulição: 287ºC [4] Proveniência: Aldrich Densidade: 0.773 a 25 ºC [4] Pureza indicada: (anidro) 99+% Composto: naftaleno Fórmula molecular: C10H8 Estado físico à temperatura ambiente: sólido Massa molar: 128.173 g.mol-1 Ponto de fusão: 80-82 ºC [6] Proveniência: Aldrich Composto: ácido benzóico Fórmula molecular: C6H5COOH Estado físico à temperatura ambiente: sólido Massa molar: 122.123 g.mol-1 Ponto de fusão: 121-125 ºC [6] 30 2. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA [1] – Vollhardt, K. P. C.; Schore, N. E., Organic Chemistry, 3th edition, W. H. Freeman and Company, New York, 1999. [2] – Morrison, R. T.; Boyd, R. N., Organic Chemistry, 6th edition, Prentice-Hall, Inc., 1992. [3] – http://courses.cm.utexas.edu (consulta em Julho de 2007). [4] – http://www.aldrich.com (consulta em Julho de 2007). [5] – Hesse, M.; Meier, H.; Zeeh, D., Spectroscopy Methods Inorganic Chemistry, George Thieme Verlag Stuttgart, New York, 1997. [6] – Teixeira, F., Utilização de Pesticidas Agrícolas, edições ISHST, 2006. [7] – Sax, N. I.; Lewis Sr., R. J.,Hazardous Chemicals Desk Reference, Van Nostrand Reinhold Co., New York, 1987 (citado em Gomes, J. R. B.; Amaral, L. M. P. F.; Ribeiro da Silva, M. A. V., Chem. Phys. Lett., 406 (2005) 154). [8] – http://webbook.nist.gov (consulta Julho de 2007). [9] – Boschloo, G.; Hagfeldt, A.; Haggman, L., J. Phys. Chem. B, 110 (2006) 13144. 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CARACTERIZAÇÃO DOS COMPOSTOS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS BIBLIOGRAFIA [68] – Halden, R. U.; Paull, D. H., Environ. Sci. Technol., 39 (2005) 1420. [69] – Heidler, J.; Sapkota, A.; Halden, R. U., Environ. Sci. Technol., 40 (2006) 3634. [70] – Thrall, L.; Environ. Sci. Technol., 40 (2006) 3444. [71] – Pilcher, G.; Cox, J. D., Thermochemistry of Organic and Organometallic Compounds, Academic Press, London, 1970. 34 MESTRADO EM QUÍMICA TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS CAPÍTULO 3 CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 35 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 3.1. Princípios gerais 3.1.1. Entalpia de formação padrão 3.1.2. Aspectos gerais da calorimetria de combustão 3.1.2.1. Calorimetria de combustão em bomba estática 3.1.2.2. Calorimetria de combustão em bomba rotativa 3.2. Calibração 3.3. Equipamento 3.3.1. 3.3.1.1. Bomba estática de combustão 3.3.1.2. Sistema calorimétrico e banho termostatizado 3.3.2. 3.4. Calorímetro de combustão de bomba estática Calorímetro de combustão de bomba rotativa 3.3.2.1. Bomba rotativa de combustão 3.3.2.2. Sistema calorimétrico e banho termostatizado Procedimento 3.4.1. Calorímetro de combustão de bomba estática 3.4.1.1. Preparação do banho termostatizado 3.4.1.2. Preparação das amostras e montagem da bomba 3.4.1.3. Montagem do sistema calorimétrico 3.4.1.4. Registo de temperatura e ignição da amostra 3.4.1.5. Análise dos produtos de combustão 3.4.2. 3.4.1.5.1. Recolha de dióxido de carbono 3.4.1.5.2. Análise de ácido nítrico Calorímetro de combustão de bomba rotativa 3.4.2.1. Preparação do banho termostatizado 3.4.2.2. Preparação das amostras 3.4.2.3. Montagem da bomba e do sistema calorimétrico 3.4.2.4. Registo de temperatura e ignição da amostra 3.4.2.5. Análise dos produtos de combustão 3.4.2.5.1. Análise de óxido de arsénio (III) 3.4.2.5.2. Análise de ácido nítrico 36 3.5. 3.6. Tratamento dos resultados experimentais 3.5.1. Cálculo de ∆Tad 3.5.2. Correcções para o estado padrão 3.5.3. Variação de energia no processo de bomba isotérmico 3.5.4. Energias de formação e de combustão de reacções laterais 3.5.5. Equivalentes energéticos dos conteúdos de bomba 3.5.6. Energia mássica de combustão padrão 3.5.7. Entalpia molar de formação padrão Resultados experimentais Bibliografia 37 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO A palavra calorímetro, derivada das palavras latina “calōre” (calor) e grega “métron” (medida), é usada para designar um instrumento utilizado na medição do calor envolvido numa mudança de estado de um sistema. Tal mudança de estado pode envolver uma mudança de fase, de temperatura, de pressão, de volume, de composição química ou qualquer outra propriedade do sistema associada com trocas de calor [1]. E o que é o calor? É uma forma de energia que está sempre associada a um fluxo inerente a um gradiente de temperaturas [2]. O recurso à terminologia da palavra calorímetro e à definição de calor, servem, assim, como nota introdutória a este capítulo onde vai ser apresentada a técnica de queima de substâncias num calorímetro cujo vaso reaccional contém oxigénio sob pressão. Deste modo, proporciona-se uma combustão rápida, completa e com produtos bem definidos, onde a variação de temperatura provocada irá corresponder, de forma inequívoca, à energia posta em jogo pela queima do composto. Esta técnica é denominada de calorimetria de combustão, e é um dos métodos mais utilizados para determinar entalpias de formação de compostos orgânicos sólidos e líquidos [3,4]. 38 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.1. PRINCÍPIOS GERAIS 3.1. PRINCÍPIOS GERAIS 3.1.1. ENTALPIA DE FORMAÇÃO PADRÃO A quantidade de calor envolvida na reacção de formação de uma mole de um composto no estado padrão, a partir dos seus elementos no estado padrão, a uma dada temperatura de referência, é denominada por entalpia molar de formação padrão, ∆ f H mo . Assim, em condições padrão e a uma dada temperatura, para qualquer composto é possível estabelecer a equação (3.1), o o o ∆ f H m (composto) = H m (composto) − ∑ν i H m (elementos) i o (3.1) o onde H m (composto) é a entalpia molar padrão do composto, ∑ νi H m (elementos) é o somatório das entalpias molares padrão dos elementos que fazem parte da composição do composto e ν i é um coeficiente estequiométrico. Atendendo a que, convencionalmente, o valor da entalpia molar de qualquer elemento no estado padrão, a uma dada temperatura de referência, é igual a zero, as parcelas do termo o ∑ νi H m (elementos ) na equação (3.1) são nulas, verificando-se, assim, para qualquer composto a igualdade: o o ∆ f H m (composto) = H m (composto) (3.2) De acordo com a Lei de Hess, para a reacção descrita pela equação traduzida, de forma generalizada, por ∆ Hº r m ν A A + ν B B + ... → ν X X + ν Y Y + ... (3.3) é possível estabelecer a equação (3.4) que permite calcular a entalpia da referida reacção, ∆ r H mº . o o o ∆r H m = ∑ν i∆ f H m (produtos) − ∑ν i∆ f H m (reagentes) i i 39 (3.4) 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.1. PRINCÍPIOS GERAIS Os termos que surgem na equação (3.4) são definidos em (3.5) e (3.6), em que ν i corresponde aos coeficientes estequiométricos das espécies envolvidas na equação (3.3). ∑ν i ∆ f H m (reagentes ) º i ∑ν i ∆ f H m (produtos ) º i νA ∆ f H mº (A ) + νB ∆ f H mº (B ) + ... (3.5) νX ∆ f H mº (X ) + νY ∆ f H mº (Y ) + ... (3.6) = = Assim, o cálculo da entalpia de formação de um dado composto envolvido na reacção descrita em (3.3) é possível a partir da equação (3.4), sendo para isso necessário conhecer o valor da entalpia padrão da reacção, bem como os valores das entalpias de formação padrão de todos os outros compostos participantes na reacção. Apesar da já vasta base de dados disponível para tais parâmetros, bem como a existência de esquemas de previsão, é impossível dispor de valores de entalpia de formação relativos a todas as espécies. Por dificuldade de efectuar previsões seguras, recorre-se frequentemente a medições calorimétricas para proceder à determinação de entalpias de formação para um dado composto. A selecção do método calorimétrico irá depender da reactividade química do composto, da precisão inerente aos resultados e da disponibilidade de equipamento. Assim, para o estudo experimental de compostos de baixa reactividade, a calorimetria de combustão no seio de oxigénio revela-se muitas vezes como o método mais apropriado, largamente utilizado na determinação de entalpias de formação padrão de compostos orgânicos, sólidos ou líquidos, com intervalos de incerteza menores do que 0.15 % [4]. 3.1.2. ASPECTOS GERAIS DA CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO No período de 1881 a 1905, Berthelot e seus colaboradores construíram o primeiro calorímetro de combustão. O calorímetro de Berthelot .pode ser considerado o percursor dos actuais calorímetros de combustão em bomba estática, que podem ser utilizados no estudo termoquímico de compostos orgânicos contendo carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto [4]. 40 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.1. PRINCÍPIOS GERAIS Os primeiros investigadores que se dedicaram ao estudo calorimétrico de compostos orgânicos contendo enxofre ou halogéneos, utilizando um calorímetro de bomba estática, verificaram que, durante a combustão, se formavam, simultaneamente, diferentes produtos de combustão em proporções variadas, impossibilitando, assim, a caracterização qualitativa e quantitativa desses produtos. Em medições calorimétricas, o requisito de definição rigorosa do estado final dos produtos de combustão impede, assim, que os compostos orgânicos contendo enxofre ou halogéneos possam ser estudados por calorimetria de combustão em bomba estática. A resolução deste problema teve a contribuição de vários investigadores, resultando no desenvolvimento de um novo calorímetro de combustão – o calorímetro de bomba rotativa. Em 1933, Popoff e Schirokich descreveram o primeiro calorímetro de bomba rotativa [5]. Este calorímetro foi projectado de forma a que, após a combustão completa do composto orgânico, se faça a rotação da bomba na qual se colocou uma solução apropriada, promovendo a uniformização do conteúdo da bomba e possibilitando a análise e caracterização dos produtos de combustão. Com isto, a composição dos compostos orgânicos submetidos a estudo termoquímico é também um dos factores a considerar na selecção do método calorimétrico. A calorimetria de combustão permite determinar a energia interna molar de combustão padrão, ∆ cU mo , para um dado composto, a uma dada temperatura de referência T, a partir da respectiva reacção de combustão, realizada a volume constante. o Conhecendo o valor da variação de energia interna, ∆ cU m , e a variação da quantidade de substância, em fase gasosa, ∆n , envolvida na reacção de combustão, é possível calcular a o entalpia molar de combustão padrão, ∆ c H m , à temperatura considerada, a partir da relação o o ∆ c H m = ∆ cU m + ∆n RT (3.7) onde R é a constante dos gases e T a temperatura de referência (298.15.K). Para a determinação da energia de combustão é essencial que, além da elevada pureza do composto a queimar, os estados físicos de todos os compostos envolvidos na reacção sejam 41 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.1. PRINCÍPIOS GERAIS claramente definidos. Assim, se o composto a estudar é um líquido à temperatura T, todo o composto presente inicialmente na bomba deverá estar no estado líquido, não vaporizando, e se o composto é um sólido à temperatura T deverá permanecer no estado sólido, não passando ao estado gasoso [4]. Quando a substância, líquida ou sólida, é muito pouco volátil, a quantidade de substância que se vaporiza na bomba é, de facto, desprezável, sendo por isso possível usar a substância sem qualquer invólucro na bomba. Contudo, quando a substância em estudo reage facilmente com o oxigénio ou com o vapor de água, antes da ignição, e quando se verifica uma volatilização significativa da substância, é necessário colocá-la (protegê-la) num invólucro adequado, sendo vulgarmente utilizados sacos de um polímero. A energia de combustão deste material auxiliar deve ser subtraída ao valor obtido na energia desenvolvida na combustão (ver 3.5.6.). Tal como o estado inicial, também o estado final de uma experiência de combustão deverá ser claramente definido. As quantidades e estados físicos de todos os produtos da reacção de combustão devem ser bem conhecidos. Há que ter em atenção que esta composição e descrição do estado final dever-se-á manter inalterada desde o fim do período reaccional até à fase de análise dos produtos [4]. Para trabalhos de elevada exactidão é essencial proceder a análises químicas dos produtos resultantes da combustão [4]. 3.1.2.1. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO EM BOMBA ESTÁTICA Já vários investigadores demonstraram que a calorimetria de combustão em bomba estática é a técnica mais adequada para o estudo de compostos que contenham os elementos carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto. Na combustão de um composto orgânico do tipo CaHbOcNd, traduzida pela equação química (3.8), verifica-se a formação de dióxido de carbono, azoto molecular e água. C a Hb O c N d (cr, l) + 4a + b − 2c O2 4 (g) → a CO 2 (g) + 42 b 2 H 2 O (l) + d 2 N 2 (g) (3.8) 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.1. PRINCÍPIOS GERAIS Para que no final da reacção toda a água, existente no interior da bomba, esteja no estado líquido, é necessário saturar a atmosfera da bomba com vapor de água, colocando-se inicialmente no interior da bomba de combustão, 1.00.cm3 de água desionisada. Durante a combustão, há também a formação de uma solução de ácido nítrico, como consequência da oxidação do azoto existente no interior da bomba (proveniente do composto ou do enchimento da bomba, pois por vezes o oxigénio está contaminado com algum azoto), na presença da água e do oxigénio, segundo a equação química (3.9). 1 N (g) + 5 O (g) + 1 H O (l) 2 2 4 2 2 2 → HNO 3 (aq) (3.9) 3.1.2.2. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO EM BOMBA ROTATIVA A calorimetria de combustão em bomba rotativa é utilizada no estudo de compostos organometálicos e no estudo de compostos orgânicos contendo enxofre ou halogéneos, para além dos elementos carbono, hidrogénio, oxigénio e azoto [4]. Na combustão de um composto orgânico clorado, do tipo CaHbOcNdCle, verifica-se a formação de dióxido de carbono, azoto molecular, água e mais do que um produto de combustão contendo cloro, pois parte dos átomos de cloro presentes no composto originam a formação de cloro molecular (15 a 20%), segundo o descrito pela equação química (3.10), enquanto os restantes originam directamente ácido clorídrico (80 a 85%), de acordo com a equação química geral (3.11) [4]. C aHb O c NdCle (cr, l) + 4a + b - 2c O2 4 C aHb O c NdCle (cr, l) + 4a + b - e - 2c O2 4 (g) → a CO 2 (g) + (g) + b 2 d e Cl 2 (g ) (3.10) N 2 ( g) + e HCl. n H 2 O (aq) (3.11) H2 O (l) + 2 N2 ( g) + 2 2e.n - b + e H O (l) → 2 2 → a CO 2 (g) + 43 d 2 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.1. PRINCÍPIOS GERAIS Afim de se garantir a obtenção de um estado final bem definido, é necessário colocar inicialmente no interior da bomba de combustão uma solução de óxido de arsénio (III), para que, aquando da rotação da bomba, o cloro molecular formado na combustão seja reduzido a ácido clorídrico, de acordo com a equação (3.12). e 2 Cl 2 (g) + e 4 As 2 O 3 (aq) + e 2 H2 O (l) → e HCl (aq) + e 4 As 2 O 5 (aq) (3.12) Assim, considera-se que o ácido clorídrico, em solução aquosa, é o único produto clorado na reacção global, descrita pela equação (3.11), e que o óxido de arsénio é oxidado segundo a equação (3.13). As 2 O 3 (aq) + O 2 (g) → As 2 O 5 (aq) (3.13) O volume de solução de óxido de arsénio (III) colocado no interior da bomba depende do teor em cloro do composto em estudo. Pretende-se, com esta adição, obter uma solução final de ácido clorídrico hidratado com 600 moléculas de água (n.=.600). Na solução final de bomba, existe ainda ácido nítrico resultante da oxidação do azoto, na presença da água e do oxigénio, segundo a equação química (3.9). 44 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.2. CALIBRAÇÃO 3.2. CALIBRAÇÃO A calibração de um calorímetro é efectuada adicionando ao sistema uma quantidade de energia conhecida, Q , que provoca uma elevação de temperatura, ∆Tad (ver 3.5.1.). Assim, o equivalente energético do sistema calorimétrico, ε, é, por definição, a quantidade de calor necessária para elevar a temperatura do calorímetro de uma unidade, conforme está traduzido em (3.14). ε= Q ∆Tad (3.14) O equivalente energético pode ser determinado por dois métodos: por determinação da elevação de temperatura produzida por adição de uma quantidade conhecida de energia eléctrica ou por determinação da elevação de temperatura produzida pela combustão de uma quantidade conhecida de uma substância padrão [6]. Neste trabalho, o equivalente energético de cada um dos calorímetros, de bomba estática e bomba rotativa, foi determinado pela combustão de uma substância padrão, o ácido benzóico. Este composto é considerado uma substância calorimétrica padrão devido aos seguintes factos: − é obtido numa forma sólida estável; − é facilmente purificado; − não é significativamente volátil à temperatura ambiente; − não absorve humidade da atmosfera; − é possível ser queimado quantitativamente na bomba; − pode ser facilmente prensado sob a forma de pastilhas. Quando a elevação de temperatura do calorímetro é produzida como o resultado de uma combustão na bomba, existem diferenças em relação à definição dada anteriormente para o equivalente energético. Assim, é de salientar que: 45 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.2. CALIBRAÇÃO − o sistema calorimétrico não se mantém fixo, uma vez que os reagentes na bomba são substituídos pelos produtos da reacção de combustão, e em consequência disso, o equivalente energético do sistema varia, em geral; − a variação de energia do sistema, correspondente à elevação de temperatura corrigida, ∆Tad , é nula; − a combustão, dentro da bomba, tem lugar num intervalo de temperaturas e não a uma temperatura fixa. É, então, necessário definir o equivalente energético para situações em que a elevação da temperatura do calorímetro é produzida como resultado de uma combustão na bomba. Assim, para um sistema constituído pelo vaso calorimétrico, contendo o fluído e a bomba calorimétrica com o seu conteúdo no estado inicial, a quantidade de calor libertada por este sistema na reacção de combustão que decorre a volume constante, com variação de temperatura de Ti a (Tf + ∆Tcorr ) , é zero ( ∆U = 0 ), uma vez que ∆Tcorr corrige para o efeito de qualquer energia trocada com a vizinhança. Quando o sistema é inicialmente aquecido de Ti a (Tf + ∆Tcorr ) e a combustão se inicia à temperatura (Tf + ∆Tcorr ) , hipoteticamente a quantidade de calor Q(Tf + ∆Tcorr ) pode ser removida do sistema de modo a que a sua temperatura final seja novamente (Tf + ∆Tcorr ) , estabelecendose, assim, o esquema 1 da figura 3.1. A partir deste esquema obtém-se a expressão (3.15), sendo εi o equivalente energético do sistema calorimétrico nas condições iniciais, referente à temperatura final. εi = Q ( Tf + ∆Tcorr ) (3.15) ∆Tad Quando a combustão se inicia à temperatura Ti , a quantidade de calor Q(Ti ) pode ser hipoteticamente removida do sistema, de modo a que a temperatura depois da combustão seja Ti , sendo o sistema no final aquecido de Ti a (Tf + ∆Tcorr ) , como é possível visualizar no esquema 2 da figura 3.1. Assim, obtém-se a expressão (3.16), em que εf é o equivalente energético do sistema calorimétrico nas condições finais, referente à temperatura inicial. 46 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.2. CALIBRAÇÃO εf = Q ( Ti ) ∆Tad (3.16) Figura 3.1 – Esquemas de definição do equivalente energético de um sistema calorimétrico. Se uma massa de ácido benzóico, mAB/g, é queimada na bomba, a uma temperatura T, os valores dos equivalentes energéticos do calorímetro, nas condições iniciais e finais, são dados, respectivamente, por: εi = mAB ( − ∆ c uAB(Tf + ∆Tcorr ) ) + ∆U ign + ∆U (HNO 3 ) + ∆U alg − ∆U carb ∆Tad εf = m AB ( − ∆ c u AB(Ti ) ) + ∆U ign + ∆U (HNO3 ) + ∆U alg − ∆U carb ∆Tad (3.17) (3.18) em que − ∆ c u AB(T ) − energia mássica de combustão, por grama, de ácido benzóico, à temperatura T, nas condições do processo de bomba (valor certificado); ∆U ign − energia eléctrica de ignição; ∆U (HNO3 ) − energia produzida pela formação do ácido nítrico na bomba à temperatura T ; ∆ U alg − energia de combustão do fio de algodão; ∆U carb − quantidade de energia associada à formação de carbono. O somatório das contribuições energéticas, relativas a todos os processos que ocorrem dentro da bomba, corresponde à variação de energia interna, associada ao processo de bomba 47 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.2. CALIBRAÇÃO isotérmico, ∆U (PBI) , obtendo-se, assim, alternativamente as expressões (3.19) e (3.20) para os equivalentes energéticos do calorímetro, nas condições iniciais e finais, respectivamente. εi = εf = Os termos εi e εf ∆U (PBI) ∆Tad ∆U (PBI) ∆Tad (3.19) (3.20) resultam da contribuição de duas parcelas: o equivalente energético do vaso calorimétrico contendo a água e a bomba calorimétrica vazia ( ε cal ) e o equivalente energético do conteúdo da bomba para o respectivo estado ( ε c ) . De facto, na medição dos calores de combustão de um dado composto, os equivalentes energéticos do sistema, ε i (3.17) e ε f (3.18), não se mantêm nos diferentes ensaios, dado que o correspondente sistema inicial é diferente do sistema inicial usado na calibração (ácido benzóico) e de uma experiência para outra com o mesmo composto. Consequentemente, os produtos da combustão, no sistema final, também são diferentes. Por esta razão, é conveniente definir um equivalente energético para um sistema calorimétrico “padrão”, com a bomba vazia ( ε cal ) , sendo para isso necessário determinar o equivalente energético do conteúdo da bomba. A partir do equivalente energético para o estado inicial, referente à temperatura final, é possível calcular ε cal dado por ε cal = ε i − ε ci onde (3.21) ε i é o valor do equivalente energético obtido numa experiência com ácido benzóico (expressão 3.17 ou 3.19) e ε ci , é o equivalente energético do conteúdo da bomba para o estado inicial. De modo semelhante, a partir do equivalente energético para o estado final, referente à temperatura inicial, é também possível calcular ε cal dado por ε cal = ε f − ε cf 48 (3.22) 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.2. CALIBRAÇÃO onde ε f é o valor do equivalente energético obtido numa experiência com ácido benzóico (expressão 3.18 ou 3.20) e ε cf , é o equivalente energético do conteúdo da bomba para o estado final. Numa experiência de combustão, os equivalentes energéticos dos conteúdos da bomba nos estados inicial e final, respectivamente, ε ci e ε cf , são calculados somando as capacidades caloríficas de todos os conteúdos da bomba. ε ci = Cv (O 2 ) n i (O 2 ) + c p (H2 O, l) m (H2O, l) + Cv (H2 O, g) n i (H2O, g) + + c p (AB) m AB + c p (alg) m alg + c p (plat) m plat (3.23) ε cf =Cv (O2 ) n f (O 2 ) + Cv (H2O, g) n f (H2O, g) + Cv (CO2 , g) n f (CO2 , g) + + c p (plat) m plat + c p (fsol) m fsol (3.24) onde −. Cv (O 2 ) , Cv (H2 O, g) e Cv (CO2 , g) representam, a capacidade calorífica molar a volume constante, respectivamente, do oxigénio, da água e do dióxido de carbono na fase gasosa; −. c p (H2O, l) , c p (AB) , c p (plat) , c p (alg) e c p (fsol) representam, a capacidade calorífica mássica a pressão constante, respectivamente, da água na fase líquida, do ácido benzóico, do fio de platina, do fio de algodão e da solução final; −.ni (O2) e nf (O2) representam a quantidade de oxigénio gasoso existentes na bomba antes e depois da combustão, respectivamente; −.ni.(H2O,g) e nf.(H2O,g) representam a quantidade de vapor de água existente na bomba antes e depois da combustão, respectivamente; −. n f (CO2 , g) representa a quantidade de dióxido de carbono formado; −. m (H2O, l) , m AB , m alg , m plat e m fsol representam as massas de água na fase líquida, de ácido benzóico, do fio de algodão, do cadinho de platina e da solução final, respectivamente. 49 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.2. CALIBRAÇÃO Neste trabalho, os equivalentes energéticos dos calorímetros com as bombas vazias, ε cal , foram determinados pela combustão de ácido benzóico NBS Standard Reference Material – 39j, com uma energia mássica de combustão, sob condições de bomba, de ∆ c u AB (ácido benzóico) = −.(26 434 ± 3) J.g-1. As condições de bomba referem-se à combustão em atmosfera de oxigénio, sob a pressão de 3.04 MPa, a uma temperatura de 298.15.K, quando a massa da amostra, mAB, e a massa de água, mág, adicionadas à bomba, forem iguais ao triplo do volume interno da bomba, V (massas expressas em g e volume em dm3): m AB /g = m ág /g = 3V /dm 3 (3.25) Para pequenos desvios destas condições, o valor mássico certificado de energia de combustão, − ∆ c u AB(T ) (ácido benzóico), pode ser corrigido multiplicando o valor certificado por um factor f dado por [6] −6 m m f =1+ 10 197 [(p − 3,04] + 42 AB − 3 + 30 ág − 3 − 45 ( T − 298.15 V V (3.26) onde p – pressão inicial de oxigénio (Pa) mAB – massa de ácido benzóico (g) mág – massa de água colocada na bomba (g) V – volume interno da bomba (dm3) T – temperatura absoluta (K) -6 Para que o erro de f não seja superior a 10 é necessário que as condições experimentais variem dentro dos seguintes limites: 2.03 MPa < p < 4.05 MPa m AB < 4 g.dm3 V 2 g.dm3 < 50 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.2. CALIBRAÇÃO m ág < 4 g.dm3 V 2 g.dm3 < 293.15 K < T < 313.15 K Para a determinação dos equivalentes energéticos dos calorímetros, de bomba estática e de bomba de rotativa, tem que se considerar qual a temperatura a que se inicia a ignição da reacção de combustão. A partir do ciclo termoquímico representado na figura (3.2), é possível estabelecer a expressão (3.27), que permite o cálculo do equivalente energético de cada um dos calorímetros, atendendo à temperatura a que se procedeu à ignição. ε cal = − ∆U (PBI) + ( Ti − 298.15 )ε ci + ( 298.15 − Tf − ∆Tcorr )ε cf ∆Tad (3.27) Assim, para o calorímetro de bomba estática a temperatura inicial da reacção de combustão é de Ti = 298.15 K e para o calorímetro de bomba rotativa a reacção de combustão é iniciada a uma temperatura inferior a 298.15.K, de modo a que a temperatura no final da reacção seja de (Tf + ∆Tcorr ) = 298.15 K . O equivalente energético, ε cal , será usado na determinação das energias de combustão padrão dos compostos a estudar, sendo o seu valor correspondente a uma massa de referência de água introduzida no vaso calorimétrico. Contudo, a massa de água que se adiciona ao vaso calorimétrico varia ligeiramente de experiência para experiência, sendo necessário corrigir os resultados para a massa de água de referência de cada calorímetro. Assim, para o calorímetro de bomba estática a massa de água de referência é de 2900.0.g, e para o calorímetro de bomba rotativa a massa de água de referência é de 5217.0.g. 51 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.2. CALIBRAÇÃO Figura 3.2 – Ciclo termoquímico para a determinação do equivalente energético, com a bomba vazia, εcal. 52 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.3. EQUIPAMENTO 3.3. EQUIPAMENTO 3.3.1. CALORÍMETRO DE COMBUSTÃO DE BOMBA ESTÁTICA O calorímetro de combustão em bomba estática utilizado neste trabalho foi construído e utilizado originalmente no National Physical Laboratory, em Teddington, tendo sido posteriormente transferido para o Departamento de Química da Universidade de Manchester e, por fim, para este Departamento de Química. Foi necessário efectuar algumas modificações no aparelho, de modo a adaptar o sistema calorimétrico ao equipamento auxiliar disponível neste Laboratório [7]. O calorímetro de bomba estática de alta precisão, é baseado no desenho de Dickinson, sendo projectado para fazer medições com uma precisão superior a ± 0,01%. Esta precisão é necessária, quando se pretende determinar entalpias de formação com valores próximos, sendo calculadas a partir das entalpias de combustão dos respectivos compostos e das entalpias de formação dos produtos de combustão (por exemplo, CO2 (g) e H2O (l)) [8]. O sistema calorimétrico, em termos funcionais e estruturais, pode ser dividido em três partes distintas: bomba de combustão, vaso calorimétrico e banho termostatizado; nesta secção, faz-se uma breve descrição de cada uma das partes. 3.3.1.1. BOMBA ESTÁTICA DE COMBUSTÃO Na figura 3.3 apresenta-se um esquema da bomba estática de combustão. A bomba é feita de aço inoxidável (o colar (I) é de bronze/alumínio) e a sua forma assemelha-se a um bloco cilíndrico com um volume interno de 0.290 dm3. A cabeça da bomba está equipada com duas válvulas para gases, uma de entrada (A) e outra de saída (B). À válvula de entrada está adaptado um tubo (C), que permite a entrada de oxigénio pela parte inferior do cadinho de combustão (D), de forma a minimizar quaisquer efeitos perturbadores que possam afectar o conteúdo do cadinho, durante o enchimento ou 53 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.3. EQUIPAMENTO desarejamento da bomba. Também na cabeça da bomba, encontram-se dois eléctrodos, o eléctrodo isolado (F), e outro eléctrodo (E) que possibilita a ligação à terra. Para a ignição, é colocado um fio de platina (G) a ligar os eléctrodos. O cadinho de platina é encaixado no suporte (H), que se encontra ligado ao tubo (C). A bomba é fechada pela adaptação da cabeça da bomba ao rebordo biselado do corpo da bomba, onde está um O-ring que permite uma melhor vedação, seguida de aperto manual do colar (I) na rosca do corpo da bomba, provocando um contacto metal-metal entre a cabeça e o corpo da bomba, de forma a assegurar que o O-ring é protegido da chama de combustão. A – Válvula de entrada B – Válvula de saída C – Tubo D – Cadinho de platina E – Eléctrodo F – Eléctrodo isolado G – Fio de platina H – suporte do cadinho I – Colar Figura 3.3 – Esquema da bomba estática de combustão. 3.3.1.2. SISTEMA CALORIMÉTRICO E BANHO TERMOSTATIZADO O sistema calorimétrico, conjuntamente com o banho termostatizado, estão representados na figura 3.4. O vaso calorimétrico (D) é de cobre, revestido por ródio e polido na face externa, e tem a forma de um cilindro (14.3 cm de diâmetro e 24.5 cm de altura). Na base interior do vaso 54 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.3. EQUIPAMENTO existem três pilares metálicos (J) que suportam o anteparo (F). A tampa do vaso calorimétrico está equipada com um agitador de pás (E), que está acoplado a um motor (Dunkermotor /.1500 rpm), que o faz rodar à velocidade de 8 Hz permitindo, assim, uma agitação constante, e uma boa circulação da água destilada (2900.0.g) colocada no interior do calorímetro. O veio (B) permite estabelecer o contacto mecânico entre o agitador de pás e o motor. A base do agitador de pás contém óleo de silicone que permite regular o seu movimento de rotação, impede a perda de vapor de água e permite uma pequena expansão do ar existente no calorímetro. Na tampa do vaso calorimétrico existe também um orifício que permite a introdução de um sensor de temperatura (Thermometrics, standard serial No. 1030) (H). Os fios para as ligações eléctricas na bomba (circuito da corrente para ignição) e para a resistência eléctrica (pré-aquecimento do fluído) passam pelo anteparo (F). O calorímetro é, então, introduzido num vaso isotérmico (C), feito de cobre e revestido exteriormente com cortiça aglomerada, cujo interior tem a mesma forma que o calorímetro, mas com dimensões globais ligeiramente superiores às do calorímetro, de forma a permitir um interespaço uniforme de 1 cm, para toda a sua superfície (exceptua-se a zona da tampa); por essa razão, na base interior do vaso existem três pinos (K) que vão suportar o calorímetro e permitir o interespaço de 1 cm. Por sua vez, o vaso isotérmico está ligado a um tanque exterior (L), com capacidade de 40.dm3, contendo água termostatizada, cuja temperatura é controlada, a cerca de 301.K -3 (precisão.±.10 .K), com um controlador de temperatura, TRONAC PTC 41, por meio de uma probe (N), existindo também uma resistência auxiliar de aquecimento (M) e uma serpentina de refrigeração (O). Uma bomba centrífuga (Extrema, 50.Hz, 2500.dm3/h), permite que a circulação da água termostatizada se faça entre o vaso isotérmico e o tanque. 55 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.3. EQUIPAMENTO A – Ligação ao motor G – Bomba calorimétrica M – Resistência auxiliar de aquecimento B – Veio H – Sensor de temperatura N – Probe C – Vaso isotérmico I – Resistência O – Serpentina de refrigeração D – Vaso calorimétrico J – Pilares metálicos P – Agitador de pás E – Agitador de pás K – Pinos F – Anteparo L – Tanque exterior Figura 3.4 – Representação do sistema calorimétrico e banho termostatizado. 3.3.2. CALORÍMETRO DE COMBUSTÃO DE BOMBA ROTATIVA O calorímetro de combustão de bomba rotativa utilizado neste trabalho foi construído na Universidade de Lund, Suécia, de acordo com o modelo originalmente desenvolvido por Stig Sunner [9]. Foi transferido do Departamento de Química da Universidade de Keele, Inglaterra, para este Departamento de Química, onde foi montado, calibrado e testado, tendo também sofrido algumas alterações e actualizações de alguns periféricos [10-12]. O sistema calorimétrico, em termos funcionais e estruturais, pode ser dividido em três partes distintas: bomba de combustão, vaso calorimétrico e banho termostatizado, cuja descrição sumária se faz de seguida. 56 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.3. EQUIPAMENTO 3.3.2.1. BOMBA ROTATIVA DE COMBUSTÃO Na figura 3.5 apresenta-se um esquema da bomba rotativa de combustão (vista de topo, corte longitudinal e respectiva cabeça). A bomba, cuja forma corresponde a um bloco cilíndrico com um volume interno de 0.258.dm3 (espessura de parede de 1.cm), é feita de aço inoxidável e revestida internamente a platina, com todos os constituintes trabalhados a platina. A cabeça da bomba está equipada com duas válvulas para gases (C), dois orifícios (D) de acesso às mesmas e uma palheta metálica (E) que permite a ligação eléctrica do eléctrodo isolado (F) ao exterior. Fixas à face interna da cabeça da bomba situam-se o eléctrodo isolado (F) e o eléctrodo não isolado (G), sendo, este último, parte constituinte do suporte do aro de platina (H), no qual é colocado o cadinho de platina (I), utilizando o seu anel de suporte. Os dois eléctrodos são postos em contacto por ligação de um fio muito fino de platina que, por descarga do condensador de capacidade de 1400 µF, aquando da ignição, provoca o seu aquecimento e fusão, ocorrendo a combustão do fio de algodão e da amostra existente no interior do cadinho. A bomba é fechada colocando-se a cabeça sobre o respectivo corpo e as duas peças são ajustadas por um colar (J) que enrosca no corpo da bomba. A vedação da bomba é garantida por um O-ring (neopreno, silicone ou de viton®) (K) e por aperto de seis parafusos (L), contra um anel metálico (M), minimizando, deste modo, os danos no corpo da bomba. No exterior do corpo da bomba, a cerca de meia altura, encontra-se uma engrenagem (N) que, após adaptação conveniente ao suporte instalado no vaso calorimétrico, permite a rotação axial da bomba. 57 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.3. EQUIPAMENTO E B O M C K D F G A N L I H J A – Corpo da bomba de combustão I – Cadinho de platina com anel de suporte B – Cabeça da bomba J – Colar de aperto da cabeça da bomba C – Válvulas de entrada e saída de gases K – O-ring D – Orifícios de acesso às válvulas L – Parafusos de aperto E – Palheta metálica M – Anel metálico F – Eléctrodo isolado N – Engrenagem para movimento axial G – Eléctrodo não isolado O – Terminal do eléctrodo isolado H – Aro de platina Figura 3.5.–..Esquema da bomba rotativa de combustão (vista de topo da bomba; corte longitudinal da bomba e respectiva cabeça) [13]. 3.3.2.2. SISTEMA CALORIMÉTRICO E BANHO TERMOSTATIZADO O vaso calorimétrico (A), representado esquematicamente na figura 3.6, é construído em aço inoxidável e tem uma capacidade aproximada de 5.dm3. Este é fechado por colocação da respectiva tampa (B) com aperto de 4 parafusos. A tampa do vaso do calorímetro tem suspensos, na parte interior, o agitador de pás (C), a resistência de aquecimento (D) de 6 Ω e o sistema de suspensão (b) da bomba. A adaptação dos veios dos motores, para a rotação da bomba e agitação da água do vaso, é realizada através dos orifícios (E) e (F), respectivamente, da tampa da bomba. Os contactos eléctricos para a ignição e aquecimento da água são estabelecidos através do dispositivo representado em (G), enquanto o orifício (H) permite a introdução da sonda do termómetro de quartzo (I). 58 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.3. EQUIPAMENTO A – Vaso calorimétrico B – Tampa C – Agitador de pás D – Resistência auxiliar de aquecimento E – Orifício para a introdução do veio de rotação da bomba F – Orifício para a introdução do veio de agitação da água calorimétrica G – Contactos eléctricos H – Orifício para a introdução da sonda do termómetro de quartzo . I – Sonda de termómetro Figura 3.6 – Vaso calorimétrico: a) vaso calorimétrico com tampa, sem sistema de suspensão (corte longitudinal); b) sistema de suspensão [13]. A temperatura da água do calorímetro é medida com precisão de ± 10 −4 K, em intervalos de 10 segundos, usando um termómetro de quartzo Hewlett-Packard (HP-2804 A), interfaciado a um computador. O banho termostatizado, figura 3.7, consiste num tanque paralelepipédico, construído em aço inoxidável, com capacidade de cerca de 36 dm3, tendo uma cavidade (A) com a forma do vaso calorimétrico, mas de dimensões cerca de 0.9 cm superiores às do referido vaso. A cavidade é fechada por uma tampa móvel (B) de dupla parede, sobre a qual se encontram os motores dos sistemas de rotação da bomba (C) e agitação da água do calorímetro (D), e possui quatro orifícios destinados à passagem da sonda do termómetro (E), dos contactos eléctricos (F) e, dos veios dos motores do agitador da água do calorímetro (G) e da rotação da bomba (H). A agitação da água do banho termostatizado é garantida por um agitador de pás, acoplado a um motor (Sand Blom STOHNE AB, modelo WKN 90-40). O banho de água é termostatizado à temperatura de 303.5.K, −3 com precisão de ±.10 .K, por um controlador de temperatura TRONAC PTC 41, (sensor do controlador de temperatura (J)). A temperatura do banho de água é mantida pelo controlador, e 59 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.3. EQUIPAMENTO ainda a uma fonte fria (K). Para um aquecimento inicial mais rápido da água do banho, recorre-se a uma resistência de aquecimento (L). B E H F G J D C E A I K L A – Cavidade do banho termostático F H – Orifício para a passagem do veio do motor do sistema de rotação da bomba B – Tampa móvel C – Motor do sistema de rotação da bomba I – Agitador de pás D – Motor do sistema de agitação da água do calorimétro J – Sensor do controlador de temperatura E – Orifício para a passagem do termómetro K – Fonte fria F – Orifício para a passagem dos contactos eléctricos L – Resistência de aquecimento rápido G – Orifícios para a passagem do veio do motor do sistema de agitação da água calorimétrica Figura 3.7 – Imagens do banho termostatizado [13]. 60 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO 3.4. PROCEDIMENTO 3.4.1. CALORÍMETRO DE COMBUSTÃO DE BOMBA ESTÁTICA Relativamente à execução experimental, há que ter em atenção uma série de procedimentos obrigatórios e essenciais para o sucesso dos ensaios: − Preparação do banho termostatizado − Preparação das amostras e montagem da bomba − Montagem do sistema calorimétrico − Registo de temperatura e ignição da amostra − Análise dos produtos de combustão 3.4.1.1. PREPARAÇÃO DO BANHO TERMOSTATIZADO Para preparar o banho termostatizado e promover a circulação da água entre o vaso isotérmico (C) e o tanque (L) (ver figura 3.4), é necessário ligar a bomba centrífuga, o agitador (P) e a resistência auxiliar de aquecimento do banho externo (M), que vai permitir um aquecimento rápido até uma temperatura próxima daquela a que o banho vai ser termostatizado (301.±.10-3.K), ligando-se de seguida o controlador de temperatura. 3.4.1.2. PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS E MONTAGEM DA BOMBA A preparação de amostras sólidas e líquidas tem procedimentos diferentes. A amostra sólida é pulverizada e prensada sob a forma de pastilha, enquanto que a amostra líquida é introduzida -5 dentro de um saco de melinex (previamente pesado - Mettler AE 240, precisão ± 10 g), com o auxílio de uma seringa, sendo este fechado logo de seguida. Por vezes é necessário recorrer a auxiliares de combustão, de modo a controlar ou melhorar a combustão dos compostos em estudo, afim de obter combustões limpas e evitar a formação de 61 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO produtos indesejáveis [4]. Neste trabalho, os auxiliares de combustão utilizados foram o ácido benzóico, o n.-hexadecano, sacos de melinex e de polietileno. Relativamente aos compostos líquidos submetidos a estudo termoquímico, 4-terc.-butilpiridina e 2,6-di-terc.-butilpiridina, e ao composto sólido, 2,4,6-tri-terc.-butilpiridina, foram colocados dentro de sacos de melinex. Este último composto foi colocado dentro de sacos de melinex uma vez que teve que ser manuseado em atmosfera inerte (ver tabela 2.1). Durante a preparação das amostras de um dos compostos sólidos em estudo, a citosina, surgiram algumas dificuldades, dado que as pastilhas deste composto facilmente “quebravam”. Foi necessário colocar as pastilhas a secar durante aproximadamente 48 horas, num exsicador [14], tendo sido posteriormente introduzidas dentro de um saco de melinex, de modo a garantir a sua combustão completa. Os compostos sólidos, imidazolidin-2-ona, N,N’.-trimetilenurea e o barbital foram apenas prensados sob a forma de pastilhas, não necessitando de qualquer auxiliar de combustão. Relativamente ao composto ácido parabânico, numa primeira fase, as suas combustões eram incompletas, com a formação de uma grande quantidade de resíduos, o que impôs o recurso ao uso de auxiliares de combustão. Verificou-se que, mesmo com a utilização dos auxiliares ácido benzóico, n.-hexadecano e sacos de melinex, a formação de resíduos continuava, apesar de ser em menor quantidade, só se ultrapassando este problema utilizando sacos de polietileno. 3.4.1.3. MONTAGEM DO SISTEMA CALORIMÉTRICO Antes da montagem da bomba, é necessário efectuar uma série de pesagens -5 (Mettler AE 240, precisão ± 10 g): – fio de algodão (que servirá de rastilho); – cadinho de platina; – cadinho de platina + amostra. Convém referir que o manuseamento das amostras, do cadinho e do fio de algodão é efectuado com o auxílio de pinças, afim de evitar qualquer contaminação. 62 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO A cabeça da bomba é colocada num suporte adequado, existente no laboratório, que facilita a sua montagem. O cadinho, contendo a amostra, é então colocado no suporte (H) e o fio de platina (G) é colocado entre os eléctrodos (E e F) (ver figura 3.3). O fio de algodão é preso, por uma das extremidades, ao fio de platina, sendo a outra extremidade colocada sob a amostra. 3 Após a colocação de 1.00.cm de água desionisada no fundo da bomba, esta é fechada, seguida de desarejamento duas vezes com oxigénio, à pressão de 1.5 MPa, procedendo-se por fim, ao enchimento da bomba com oxigénio, até à pressão de 3.04 MPa, à temperatura ambiente. A bomba fechada é, então, colocada dentro do vaso calorimétrico vazio (D) (figura 3.4), com o auxílio da ferramenta existente para o efeito. Os terminais dos eléctrodos da bomba são ligados de forma adequada. O vaso calorímetro é fechado colocando a respectiva tampa. De seguida, é necessário efectuar os seguintes procedimentos: − colocar o vaso calorimétrico (D) no vaso isotérmico (C), com o auxílio do utensílio adequado a esse fim, tendo em atenção que deve assentar perfeitamente nos pinos (K) situados no fundo do vaso (ver figura 3.4); − ligar os contactos eléctricos no vaso calorímetro, pela ordem estabelecida; − colocar 2900.0.g (Mettler PM 11-N, precisão ±10-1.g) de água destilada, a uma temperatura não superior a 24.ºC, dentro do vaso calorimétrico; − colocar o veio (B) no suporte do agitador de pás (E), adaptar a tampa do vaso isotérmico e colocar o sensor de temperatura (H); − adaptar o motor (A) ao veio (B) e ligar a agitação. 3.4.1.4. REGISTO DE TEMPERATURA E IGNIÇÃO DA AMOSTRA Após a execução de todos os passos referidos anteriormente é possível ligar o computador e iniciar o programa de aquisição de dados (Labtermo) [15]; depois, é ligado o sensor de temperatura (H). É necessário aquecer a água do calorímetro até à temperatura de 24.77 ºC, ligando a resistência interna (I) (ver figura 3.4). Deixa-se regularizar a variação de temperatura, e inicia-se o registo de leituras a 24.84 ºC, de 10 em 10 segundos. 63 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO Para a ignição da amostra, carrega-se o condensador, efectua-se a leitura da sua voltagem, procede-se à respectiva descarga quando a temperatura atingir 25.00 ºC, sendo lida também a voltagem final. A descarga através do fio de platina (que funciona como fusível) provoca o seu súbito aquecimento que faz com que o fio de algodão arda, propagando a chama à amostra, queimando-a. O registo da temperatura deve terminar quando se atingir o número suficiente de pontos para definir a curva que descreve a evolução de temperatura do calorímetro ao longo do tempo (ver 3.5.1). O sistema é, então, desmontado e a bomba é retirada do interior do calorímetro para se proceder à análise dos produtos de combustão. 3.4.1.5. ANÁLISE DOS PRODUTOS DE COMBUSTÃO Na análise dos produtos de combustão, é efectuada a recolha de dióxido de carbono (ver 3.4.1.5.1), seguida a abertura da bomba para proceder à determinação de ácido nítrico (ver 3.4.1.5.2). Há que ter o cuidado de verificar a existência de eventuais resíduos resultantes de uma combustão incompleta; caso se observe algum resíduo de composto não queimado ou uma quantidade considerável de carbono no cadinho, a experiência deverá ser desprezada. Se o resíduo de carbono for muito pequeno e estiver confinado ao cadinho, a sua quantidade poderá ser determinada pela diferença dos valores de pesagem do cadinho com carbono, imediatamente após a experiência e depois de calcinado ao rubro numa chama [8]. 3.4.1.5.1. RECOLHA DE DIÓXIDO DE CARBONO A extensão da reacção de combustão de um dado composto pode ser avaliada pela determinação da quantidade de dióxido de carbono produzida, sendo para isso necessário proceder à recolha dos gases contidos no interior da bomba, usando um sistema apropriado, adaptado à válvula de saída da bomba (figura 3.8). 64 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO A – Bomba calorimétrica B – Tubo de vidro com perclorato de magnésio C – Tubos de absorção D – Manómetro Figura 3.8 – Esquema do sistema de recolha de dióxido de carbono. Como é possível visualizar na figura 3.8, para a montagem do sistema de recolha de gases, é interposto um tubo de vidro (B), em forma de U (contendo perclorato de magnésio anidro para reter o vapor de água que provém da bomba), entre a válvula de saída de gases da bomba (A) e os tubos de absorção (C), estando estes ligados a um manómetro (D) que permite controlar a velocidade de saída dos gases. Os tubos de absorção (C) possuem hidróxido de sódio (constituinte do carbosob) que reage com o dióxido de carbono, de acordo com a equação química (3.28). CO 2 (g) + 2 NaOH (s) → Na 2 CO 3 (s) + H2 O (g) (3.28) Os tubos de absorção de pyrex (figura 3.9), são constituídos por duas partes, o corpo de absorção e a tampa. Cada uma destas partes possui adaptado um cone de alumínio com a respectiva tampa. Cada cone possui um O-ring e uma rosca que permite não só a adaptação da tampa, mas também a ligação dos tubos em série, com vedação eficaz. Como é possível visualizar na figura 3.9, o corpo de absorção possui em cada uma das extremidades tampões de lã de vidro (que evitam a obstrução dos orifícios existentes nos cones para a passagem de gases), sendo cheio com carbosob. A tampa também possui tampões de lã 65 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO de vidro nas suas extremidades, sendo preenchida com perclorato de magnésio anidro, Mg(ClO4)2 que permite a adsorção do vapor de água libertada quando o dióxido de carbono proveniente da bomba reage com o hidróxido de sódio. As duas partes do tubo de absorção possuem roscas em pyrex que permitem o seu ajuste. Figura 3.9 – Tubos de absorção de pyrex. . Antes de usar os tubos, é necessário que sejam desarejados com oxigénio e que todas as -5 pesagens (Mettler Toledo AT201, precisão ± 10 g) sejam efectuadas com os tubos desarejados com oxigénio. A velocidade de saída dos gases contidos na bomba deverá ser cerca de, aproximadamente, 150 cm3.min-1, à pressão atmosférica [8]. Quando a pressão de gás na bomba iguala a pressão atmosférica, a bomba é novamente pressurizada com oxigénio a 1.5.MPa, seguindo-se o seu esvaziamento. Este passo é efectuado duas vezes, para remover de forma eficaz o dióxido de carbono ainda existente na bomba. No final, são retirados os tubos e fechados. Deixam-se estabilizar até ao dia seguinte e procede-se, então, à sua pesagem. A massa de dióxido de carbono recolhida é calculada com base no aumento de peso dos tubos. 3.4.1.5.2. ANÁLISE DE ÁCIDO NÍTRICO Após a abertura da bomba, a cabeça e a parede interna do seu corpo são lavados com água desionisada. A solução resultante é analisada por volumetria ácido-base, usando solução de 66 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO hidróxido de sódio como titulante e vermelho de metilo como indicador, permitindo, assim, determinar a quantidade de ácido nítrico formada traduzida pela equação química (3.9) [8]. 3.4.2. CALORÍMETRO DE COMBUSTÃO DE BOMBA ROTATIVA Uma série de procedimentos obrigatórios e essenciais para o sucesso da execução experimental, são descritos de seguida: − Preparação do banho termostatizado − Preparação das amostras − Montagem da bomba e do sistema calorimétrico − Registo de temperatura e ignição da amostra − Análise dos produtos de combustão 3.4.2.1. PREPARAÇÃO DO BANHO TERMOSTATIZADO Para preparar o banho termostatizado é necessário ligar o agitador (I) e a resistência de aquecimento (L), que vai permitir um aquecimento rápido até uma temperatura próxima daquela a que o banho de água vai ser termostatizado (303.5.±.10-3.K), ligando-se de seguida o controlador de temperatura (TRONAC PTC 41) (ver figura 3.7). A temperatura do banho será mantida pelo controlador, com o auxílio de uma fonte fria (K). 3.4.2.2. PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS O composto 3,4,4’-triclorocarbanilida é o único composto estudado por recurso à técnica de calorimetria de combustão em bomba rotativa. As amostras sólidas foram pulverizadas e prensadas sob a forma de pastilha. Em algumas experiências, verificou-se a formação de resíduos no final da combustão, obrigando a desprezar tais ensaios. Em consequência disso, o composto, prensado sob a forma de pastilha, foi também colocado dentro de sacos de melinex. 67 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO 3.4.2.3. MONTAGEM DA BOMBA E DO SISTEMA CALORIMÉTRICO Antes da montagem da bomba, é necessário proceder às pesagens seguintes -5 (Mettler AE 240, precisão ± 10 g): – auxiliar de combustão; – fio de algodão (que servirá de rastilho); – cadinho de platina com anel de suporte; – cadinho de platina com anel de suporte + amostra + auxiliar de combustão. Para proceder à montagem da bomba é necessário colocar a cabeça da bomba (B) em posição invertida, num suporte apropriado existente no laboratório, que facilita tal montagem (ver figura 3.5). O cadinho, contendo a amostra, e o anel de suporte são, então colocados no suporte do aro de platina (H) existente na cabeça da bomba. Faz-se a ligação entre os eléctrodos (F e G) com um fio de platina, ao qual se prende uma das extremidades do fio de algodão, sendo a outra extremidade colocada sob a amostra. Para se obter um estado final bem definido, é necessário colocar inicialmente no interior da bomba uma solução de óxido de arsénio (ver 3.1.2.2.). O volume desta solução ([As2O3].=.0.09168.mol.dm-3) colocado no interior da bomba, atendendo ao teor em cloro do composto 3,4,4’-triclorocarbanilida, foi de 20.00.cm3. Com o O-ring (K) já colocado no rebordo do corpo da bomba, a cabeça da bomba é cuidadosamente invertida e adaptada ao corpo da bomba, colocando-se de seguida o anel metálico (M) na cabeça da bomba. O corpo e a cabeça são ajustadas por um colar (J), que enrosca no corpo da bomba, e por aperto de seis parafusos (L). É feito o desarejamento da bomba, duas vezes com oxigénio, à pressão de 1.5 MPa, procedendo-se por fim ao enchimento até à pressão de 3.04 MPa, à temperatura ambiente. De seguida, é necessário efectuar os seguintes procedimentos: − colocar a bomba no sistema de suspensão (b) que se encontra adaptado à tampa (B) do vaso calorimétrico (ver figura 3.6); − fazer o contacto da palheta metálica (E-figura 3.5) com os contactos eléctricos (G-figura 3.6), que permite a ligação do eléctrodo isolado (F-figura 3.5) ao exterior; − inverter cuidadosamente a bomba; 68 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO − colocar a tampa do vaso, com a bomba, no vaso calorimétrico (A-figura 3.6); por sua vez, o vaso calorimétrico é colocado na cavidade do banho termostatizado (A-figura 3.7). − colocar 5217.0.g (Mettler PM 11-N, precisão ±10-1.g) de água destilada dentro do vaso calorimétrico; − fechar a cavidade (A) com a tampa móvel (B), colocar a sonda do termómetro e estabelecer os contactos eléctricos através dos orifícios (E) e (F), respectivamente, adaptar os motores do sistema de rotação da bomba (C) e de agitação da água do calorimétro (D) ao vaso calorimétrico (ver figura 3.7). − finalmente, ligar o motor de agitação da água contida no vaso calorimétrico. 3.4.2.4. REGISTO DE TEMPERATURA E IGNIÇÃO DA AMOSTRA Para as experiências de combustão realizadas em bomba rotativa, pretende-se que a temperatura final de combustão seja de 298.15.K, para isso é necessário estimar a temperatura inicial (Ti), considerando-se a quantidade de energia libertada pela amostra, pelo auxiliar de combustão e resultante da agitação. Assim, o início do registo de temperatura da água do vaso calorimétrico deverá ser feito de modo a obter o número de pontos suficientes para definir o período inicial (ver 3.5.1), sendo as leituras de temperatura registadas em intervalos de 10.s, utilizando o programa de aquisição de dados (Labtermo) [15]. A ignição da amostra é, assim, efectuada à temperatura prevista, por descarga do condensador, registando-se as voltagens inicial e final. A descarga através do fio de platina (que funciona como fusível) provoca o seu súbito aquecimento que faz com que o fio de algodão arda, propagando a chama à amostra, queimandoa. A rotação da bomba é iniciada no momento em que se atinge 63% da variação de temperatura observada no período principal (ver 3.5.1), e é mantida até ao final da experiência. O registo de temperatura deve terminar quando se atingir o número suficiente de pontos para definir a curva que descreve a evolução da temperatura do calorímetro ao longo do tempo. O sistema é, então, desmontado e a bomba é retirada do interior do calorímetro para se proceder à análise dos produtos de combustão. 69 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO 3.4.2.5. ANÁLISE DOS PRODUTOS DE COMBUSTÃO O primeiro passo da análise dos produtos de combustão é verificar a existência de resíduos de carbono no interior da bomba. Quando se verifica a existência de resíduos, a experiência é rejeitada se estes se encontram na solução de bomba ou se a quantidade de carbono presente no cadinho é superior a 1.mg. Caso a massa de carbono seja inferior a este valor e estiver confinada ao cadinho, pode-se fazer a correcção energética correspondente. A solução de bomba e as águas de lavagem de todos os conteúdos da bomba são transferidas para um balão volumétrico de 100.0.cm3, sendo a partir desta solução diluída que se procederá à análise de óxido de arsénio (III) (ver 3.4.2.5.1) e de ácido nítrico (ver 3.4.2.5.2). O cadinho e o anel de suporte são calcinados e, depois de arrefecidos, são pesados, para se determinar a perda de massa de platina. 3.4.2.5.1. ANÁLISE DE ÓXIDO DE ARSÉNIO (III) Na combustão do composto clorado estudado, a determinação da quantidade de óxido de arsénio (III) presente na solução final é feita por iodimetria [16], utilizando uma solução de triiodeto 0.05618 mol.dm-3 como titulante. A titulação é feita em duas tomas de 20.00 cm3 da solução final de bomba diluída, utilizando como indicador uma solução de cozimento de amido. A equação química que descreve a reacção de titulação é: As 2 O 3 (aq) + 2 I 3 (aq) + H2 O (l) ←→ As 2 O 5 (aq) + 6 I − (aq) + 4 H + (aq) (3.29) 3.4.2.5.2. ANÁLISE DE ÁCIDO NÍTRICO O ácido nítrico presente na solução final é determinado pelo método de Devarda [16], que se baseia na redução do ião nitrato a amoníaco, por reacção com a liga de Devarda, em meio alcalino. A liga de Devarda é constituída por 50% de cobre, 45% de alumínio e 5% de zinco. A equação que descreve a reacção de redução é descrita pela seguinte equação química: 70 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.4. PROCEDIMENTO − 3 NO 3 (aq) + 8 Al (cr) + 5 HO (aq) + 2 H2 O (l) ←→ 8 AlO -2 (aq) + 3 NH 3 (g) (3.30) Uma toma de 50.00.cm3 de solução de bomba final diluída é colocada num balão de destilação perfazendo, com água desionisada, até um volume de cerca de 250.cm3. Adicionam-se 3.g de liga de Devarda, fecha-se o circuito de destilação recolhendo o destilado num matraz com 50.00.cm3 de HCl 0.1.mol.dm-3. Adiciona-se, inicialmente, ao balão de destilação uma solução saturada de hidróxido de potássio e deixa-se decorrer a destilação durante cerca de 1.5 horas. À solução recolhida no matraz adiciona-se 30.00.cm3 de uma solução de NaOH 0.2.mol.dm-3, de seguida é feita a titulação, por volumetria de retorno, do excesso de hidróxido, com uma solução de HCl 0.1000 mol.dm-3, utilizando o vermelho de metilo como indicador. O volume de titulante gasto é comparado com o mesmo volume de titulante, gasto num ensaio de branco, no qual se faz a titulação de uma solução com 50.00.cm3 de HCl 0.1.mol.dm-3 e 30.00.cm3 de NaOH 0.2.mol.dm-3. 71 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3.5.1. CALCULO DE ∆Tad A variação de energia associada à reacção de combustão pode reflectir-se na alteração das propriedades do sistema, como a pressão, o volume ou a temperatura. É possível relacionar a variação de energia com estas propriedades, desde que se conheça a sua forma de dependência. Neste trabalho, a propriedade escolhida é a temperatura, pelo que na combustão dos compostos em estudo, a variação de temperatura provocada irá corresponder, de forma inequívoca, à energia posta em jogo pela queima do composto. Se o sistema calorimétrico fosse adiabático (sem trocas de calor entre o calorímetro e o banho termostatizado) e não existisse produção de trabalho com a agitação, a variação de temperatura ocorrida no calorímetro, atribuída apenas aos processos envolvidos na combustão, seria ∆Tad . Contudo, experimentalmente há trocas de calor e produção de trabalho devido à agitação, pelo que estas contribuições devem ser quantificadas e corrigidas no cálculo de ∆Tad . Assim, no decurso uma experiência, o líquido calorimétrico (água) deve ser eficientemente agitado para se obter uma temperatura uniforme. Mas, dever-se-á ter cuidado para que a velocidade de agitação não seja demasiado elevada, afim de não se produzirem, por atrito, quantidades de calor excessivas. O método usado para as correcções considera que o calor produzido por agitação é constante ao longo de todo o ensaio, logo, é necessário que a velocidade de agitação se mantenha constante para que a quantidade de calor produzida, na unidade de tempo, se mantenha [6]. O método de cálculo de ∆Tad foi baseado no descrito por Coops, Jessup e van Nes [6], sendo, o registo de temperatura em cada experiência calorimétrica dividido em três períodos (figura 3.10): − períodos inicial e final em que a variação de temperatura é exclusivamente devida ao calor de agitação e à transferência de calor entre o calorímetro e o banho termostatizado (fuga térmica); − período principal em que a elevação de temperatura é fundamentalmente o resultado da reacção de combustão, no interior da bomba, embora a contribuição dos dois efeitos térmicos 72 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS referidos anteriormente continue presente durante este período. É de salientar que, no caso das experiências realizadas na bomba de combustão rotativa, tem que se considerar também, o calor devido à rotação da bomba, durante os períodos principal e final. Figura 3.10 – Curva típica de variação de temperatura da água do calorímetro em função do tempo, numa experiência de combustão. Na figura 3.10 está representada uma curva típica da variação da temperatura, T, da água do calorímetro em função do tempo, t., para uma experiência de combustão. As ordenadas Ti e Tf representam, respectivamente, as temperaturas inicial e final do período bc; Tv traduz a temperatura da vizinhança e Tc a temperatura de convergência. Por sua vez, as abcissas ti e tf representam os tempos inicial e final do período bc. As partes ab, bc, e cd da curva representam as relações temperatura-tempo nos períodos inicial, principal e final, respectivamente. A elevação de temperatura observada no calorímetro vem, assim, expressa por (Tf − Ti ) . Como já foi referido anteriormente, esta elevação tem de ser corrigida para o calor de agitação e fugas térmicas, em ordem a obter a elevação de temperatura resultante apenas da reacção que ocorre na bomba. 73 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS Esta correcção é calculada assumindo que a elevação de temperatura do calorímetro com o tempo, devida ao calor de agitação, é constante, u , e que a elevação de temperatura com o tempo, devida às fugas térmicas, é proporcional à diferença entre a temperatura do calorímetro e as vizinhanças (banho isotérmico) [6]. A elevação de temperatura, nos períodos inicial e final, devida a efeitos já referidos, calor de agitação e fuga térmica, é dada por dT = u + κ ( Tv − T ) dt (3.31) onde κ – constante de arrefecimento do calorímetro u – variação da temperatura do calorímetro devida ao calor de agitação T – temperatura do calorímetro considerada uniforme Tv – temperatura do banho termostatizado Outra expressão que é equivalente à expressão (3.31) é obtida considerando dT dt =0 quando T = Tc , representando Tc a temperatura de convergência, ou seja a temperatura que o calorímetro atingiria ao fim de um tempo infinito, considerando u e Tv constantes. Daqui resulta que Tv = Tc − u κ (3.32) substituindo esta expressão na equação 3.31, obtém-se: dT = κ ( Tc − T ) dt (3.33) Atendendo à equação (3.31) e (3.33) e considerando que gi e gf representam os valores de dT dt às temperaturas médias, Tmi e Tmf , dos períodos inicial (ab) e final (cd), respectivamente, obtemos as seguintes expressões, g i = u + κ ( Tv − Tmi ) (3.34) g f = u + κ ( Tv − Tmf ) (3.35) g i = κ ( Tc − Tmi ) (3.36) g f = κ ( Tc − Tmf ) (3.37) 74 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS A partir destas expressões é possível calcular a constante de arrefecimento do calorímetro: κ= ( gi − g f ) ( Tmf − Tmi ) (3.38) Pode ser obtida uma terceira expressão para dT dt combinando as equações (3.31) e (3.35) ou (3.33) e (3.37); em ambos os casos, obtém-se a seguinte expressão: dT = g f + κ ( Tmf − T ) dt (3.39) Assim, por integração de qualquer uma das equações (3.31), (3.33) e (3.39) resultam as equações (3.40), (3.41) e (3.42), respectivamente, que correspondem à correcção, ∆Tcorr , que deve ser adicionada à elevação de temperatura observada, (Tf − Ti ) , para eliminar os efeitos do calor de agitação e fugas térmicas, ∆Tcorr = − u ( t f − ti ) − κ ∫ tf ti ( Tv − T ) dt = − [ u + κ ( Tv − Tmp ) ] ( t f − ti ) tf ∆Tcorr = − κ ∫ ( Tc − T ) dt = − κ ( Tc − Tmp ) ( t f − ti ) ti ∆Tcorr = − g f ( t f − ti ) − κ ∫ tf ti ( Tmf − T ) dt = − [ g f + κ ( Tmf − Tmp ) ] ( t f − ti ) (3.40) (3.41) (3.42) onde Tmp representa a temperatura média do calorímetro no período principal. Não existindo nenhuma relação simples que traduza a relação T = f (t ) no período principal de uma experiência de combustão, o valor Tmp deve ser determinado por integração numérica ou gráfica. O método de Regnault-Pfaundler pode ser usado quando n registos de temperaturas, Tr , são efectuadas a intervalos de tempo iguais, ∆t , durante o período principal, sendo a temperatura média Tmp dada por (3.43) [6]. Tmp = n =1 ∑ Tr + r =2 Ti + Tf Δt = 2 t f − ti n =1 ∑T r =2 r + Ti + Tf 1 2 n −1 (3.43) Como já foi referido, em calorimetria de combustão em bomba rotativa tem que se ter em conta a energia associada à rotação da bomba, que não é constante ao longo do tempo de toda a experiência, uma vez que só se inicia no período principal, após a ignição. Good e co-autores 75 [17] 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS demonstraram que, se a rotação da bomba se iniciar no instante em que se atinge 63% da variação total da temperatura, (Tf − Ti ) , e se for mantida até ao final da experiência, a variação de temperatura provocada pela rotação da bomba está incluída na expressão (3.43). Assim, a rotação da bomba deve ser iniciada no instante do período principal, correspondente à temperatura { 0.63 (Tf − Ti )} . Considerando os aspectos anteriormente descritos, é possível definir a elevação de temperatura corrigida para efeitos alheios à reacção em estudo, que é dada por (3.44). ∆Tad = ( Tf − Ti ) + ∆Tcorr (3.44) A aquisição automática de dados e o cálculo de ∆Tad foram efectuadas em computador, num programa desenvolvido especificamente para cálculos deste tipo (Labtermo) [15]. 3.5.2. CORRECÇÕES PARA O ESTADO PADRÃO A energia molar de combustão padrão de um composto, ∆ cU mo , corresponde à variação de energia interna da reacção de combustão desse composto, traduzida em (3.8) para compostos do tipo CaHbOcNd e em (3.11) para compostos do tipo CaHbOcNdCle, em que os reagentes e os produtos de reacção estão nos respectivos estados padrão. Numa experiência de combustão, os reagentes e os produtos da combustão não se encontram no estado padrão , mas nas condições experimentalmente usadas – condições de bomba. Surge, assim, a necessidade de o valor medido ser convertido para o respectivo estado padrão, para o que é necessário proceder às devidas correcções. Neste trabalho, foi utilizado o método de cálculo de correcções denominado de Correcções de Washburn [18]. O princípio deste método é ilustrado no ciclo termoquímico da figura 3.11, para uma dada temperatura de referência T ( T = 298.15 K) , a partir do qual se pode estabelecer a expressão (3.45). 76 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS A energia molar de combustão padrão, ∆cU mo , vem, assim, expressa por ∆cU mo = ∆U (PBI) + [ ∆U f (corr) - ∆U i (corr)] (3.45) em que ∆U (PBI) é a variação de energia no processo de bomba isotérmico (ver 3.5.3.). Figura 3.11 – Ciclo termoquímico para aplicação das correcções de Washburn. A correcção de energia para o estado padrão, é dada pela expressão: ∆U Σ = [∆U f (corr) - ∆U i (corr)] (3.46) onde ∆Ui (corr) – variação de energia dos conteúdos da bomba, entre os estados reais e os estados padrão, para os reagentes; ∆U f (corr) – variação de energia dos conteúdos da bomba, entre os estados reais e os estados padrão, para os produtos. Estes termos de correcções individuais, ∆Ui (corr) e ∆U f (corr) , são devidos essencialmente às seguintes contribuições energéticas: − energia de vaporização da água colocada na bomba para saturar a fase gasosa, antes da combustão; − energias de compressão do conteúdo da bomba antes da combustão (água, amostra, cadinho, gases); 77 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS − energia de dissolução dos gases na fase líquida, antes da combustão; − energias de remoção do dióxido de carbono gasoso, e do azoto e oxigénio gasosos da fase líquida, depois da combustão; − energia de descompressão das fases sólida, líquida e gasosa presentes no final da combustão; − energia de diluição da fase líquida até se obter uma solução de ácido nítrico com concentração de 0.1.mol.dm-3. 3.5.3. VARIAÇÃO DE ENERGIA NO PROCESSO DE BOMBA ISOTÉRMICO A partir do ciclo termoquímico representado na figura 3.2, é possível estabelecer a expressão de cálculo da variação de energia no processo de bomba isotérmico, ∆U (PBI) , à temperatura de referência de 298.15.K. [ ] ∆U (PBI) = − εcal + ∆m (H2O) × c p (H2O, l ) ∆Tad + εci ( Ti − 298.15 ) + εcf ( 298.15 − Ti − ∆Tad ) (3.47) onde ε cal c p (H2 O, l ) ∆m (H2 O) – equivalente energético do calorímetro com a bomba vazia; – capacidade calorífica mássica a pressão constante da água líquida; – desvio de massa de água, adicionada ao calorímetro, da massa média utilizada na determinação de ε cal ; εci – equivalente energético dos conteúdos da bomba no estado inicial; εcf – equivalente energético dos conteúdos da bomba no estado final; ∆Tad – variação de temperatura corrigida, para condições de adiabaticidade; 3.5.4. ENERGIAS DE FORMAÇÃO E DE COMBUSTÃO DE REACÇÕES LATERAIS Em algumas expressões referidas neste trabalho, existem termos correspondentes a quantidades de energia devidas a reacções laterais, que devem ser devidamente contabilizadas, como as energias de formação padrão de solução de ácido nítrico e de solução de ácido 78 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS hexacloroplatínico, energia de combustão do fio de algodão, energia de combustão do carbono formado por combustão incompleta, energia de combustão de melinex, energia de combustão de polietileno, energia de ignição e energia de oxidação do óxido de arsénio (III). ENERGIA DE FORMAÇÃO DA SOLUÇÃO DE ÁCIDO NÍTRICO Durante o processo de combustão há a formação de uma solução de ácido nítrico como consequência da presença de azoto no interior da bomba (proveniente do composto ou do oxigénio de enchimento da bomba que por vezes está contaminado com algum azoto), que reage com o oxigénio e a água existente (equação 3.9). Em calorimetria de combustão em bomba estática a quantidade de ácido nítrico formada é determinada por volumetria ácido-base, usando como titulante uma solução de hidróxido de sódio (ver 3.4.1.5.2.). Em calorimetria de combustão em bomba rotativa a quantidade de ácido nítrico formada é determinada pelo método de Devarda [16] (ver 3.4.2.5.2). A correcção, ∆U (HNO3 ) , energia de formação da solução de ácido nítrico, traduzida em (3.48), é, assim, igual ao produto da energia molar de formação padrão de uma solução de -1 [19] }, HNO3 0.1 mol.dm-3 { ∆U mo (HNO 3 ) = − 59.7 kJ.mol com a quantidade de ácido nítrico, n ( HNO3 ) . ∆U (HNO3 ) = ∆U mo (HNO3 ) × n ( HNO3 ) (3.48) ENERGIA DE FORMAÇÃO DA SOLUÇÃO DE ÁCIDO HEXACLOROPLATÍNICO Durante o processo de combustão no calorímetro de bomba rotativa, há a formação de uma solução de ácido hexacloroplatínico (H2PtCl6), embora em quantidade residual, como consequência do contacto da platina com a solução ácida de ácido clorídrico. 6 HCl (aq) + O 2 (g) + Pt (s) → H2PtCl 6 (aq) + 2 H2O (l) (3.49) A quantidade de solução de H2PtCl6 em solução é determinada pela perda de massa do cadinho de platina e do seu anel de suporte mplat . A energia de correcção, ∆U (H2PtCl6 ) , energia 79 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS de formação de ácido hexacloroplatínico em solução, é determinada a partir da expressão (3.50), atendendo à energia molar de formação padrão ∆ f H mo (H2PtCl6, aq) =.−.(676.1 ± 0,1).kJ.mol-1 [19]. o ∆U (H2PtCl6 ) = Δ f Hm (H2PtCl6 , aq) × mplat × 1000 M (H2PtCl6 ) (3.50) ENERGIA DE COMBUSTÃO DO FIO DE ALGODÃO A energia de combustão do fio de algodão, ∆U alg , usado para queimar a amostra é calculada por ∆U alg = m alg × ∆ c u º (alg) (3.51) em que m alg é a massa de algodão usada e ∆ cuº (alg) é a energia mássica de combustão padrão do algodão. O fio de algodão utilizado tem a fórmula empírica CH1.686 O0.843 e uma energia mássica de combustão padrão de ∆ c u º (alg) = − 16.250 J.g-1 [6]. ENERGIA DE COMBUSTÃO DO CARBONO A energia de combustão do carbono, ∆U carb , formado por combustão incompleta é calculado pela expressã0 (3.52), em que m carb é a massa de carbono formada e ∆ c u º (carb) é a energia mássica de combustão padrão do carbono, cujo valor é de ∆ cu º (carb) = − 33 kJ.g-1 [6]. . ∆U carb = m carb × ∆ c u º (carb) (3.52) ENERGIA DE COMBUSTÃO DO SACO DE MELINEX A energia de combustão do saco de melinex, ∆U mel , usado para colocar as amostras é calculada por ∆U mel = m mel × ∆ c u º (mel) (3.53) em que m mel é a massa de melinex usada e ∆c u º (mel) é a energia mássica de combustão padrão do saco de melinex, cujo valor é de ∆ c u º (mel) = − (22 902 ± 5) J.g-1 [20]. 80 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS ENERGIA DE COMBUSTÃO DO SACO DE POLIETILENO A energia de combustão do saco de polietileno, ∆U poliet , usado como auxiliar de combustão, é calculada pela expressão seguinte, onde mpoliet é a massa de polietileno usada e ∆ cu º (poliet) é a energia mássica de combustão padrão do saco de polietileno, cujo valor é de ∆ cu º (poliet) = − (46336 ± 5) J.g-1 [21], determinado neste laboratório. ∆U poliet = mpoliet × ∆ c u º (poliet) (3.54) ENERGIA DE IGNIÇÃO A energia de ignição, ∆U ign , é determinada a partir da variação de potencial provocada pela descarga de um condensador, sendo o seu valor calculado a partir da seguinte expressão: ∆U ign = − 1 2 C ( Vf2 − Vi 2 ) (3.55) -6 em que C é a capacidade do condensador (C = 1400 × 10 F), Vi é a voltagem registada antes da ignição e Vf a voltagem registada após a ignição. ENERGIA DE OXIDAÇÃO DE ÓXIDO DE ARSÉNIO (III) Para o cálculo do termo energético ∆U (As 2O 3 ) , correspondente à energia de oxidação de As 2O 3 a As2O5 em solução aquosa, traduzida em (3.13) foi utilizado o procedimento descrito por Hu .e co-autores, [22] utilizando a entalpia de oxidação de As2O3 (aq) por Cl2 (g) [23] e os efeitos térmicos provocados pela mistura de As2O5 (aq) com ácidos fortes [24]. A extensão da oxidação de As2O3 foi determinada por iodometria, utilizando uma solução de triiodeto como titulante (ver 3.4.2.5.1.). 3.5.5. EQUIVALENTES ENERGÉTICOS DOS CONTEÚDOS DE BOMBA Os equivalentes energéticos dos conteúdos da bomba nos estados inicial e final, ε ci e ε cf , são calculados somando as capacidades caloríficas de todos os conteúdos da bomba. As expressões (3.56) e (3.57) permitem calcular os equivalentes energéticos dos conteúdos da 81 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS bomba no estado inicial, para os calorímetros de bomba estática e de bomba rotativa, respectivamente. Os equivalentes energéticos dos conteúdos da bomba no estado final, para os calorímetros de bomba estática e de bomba rotativa, são calculados a partir da expressão (3.58). ε ci =Cv (O 2 ) n i (O 2 ) + c p (H2 O, l) m (H2 O, l) + Cv (H2O, g) n i (H2 O, g) + + c p (comp) m comp + c p (alg) m alg + c p (plat) m plat + c p (AC) m AC ε ci =Cv (O 2 ) n i (O 2 ) + c p (isol) m isol + Cv (H2 O, g) n i (H2 O, g) + + c p (comp) m comp + c p (alg) m alg + c p (plat) m plat + c p (AC) m AC (3.56) (3.57) ε cf =Cv (O2 ) n f (O2 ) + Cv (H2O, g) n f (H2O, g) + Cv (CO2 , g) n f (CO2 , g) + + Cv (N2 , g) n f (N2 , g) + c p (plat) m plat + c p (fsol) m fsol (3.58) onde −. Cv (O 2 ) , Cv (H2 O, g) , Cv (CO2 , g) e Cv (N2 , g) representam, a capacidade calorífica molar a volume constante, respectivamente, do oxigénio, da água do dióxido de carbono e do azoto molecular na fase gasosa; −. c p (H2O, l) , c p (AC) , c p (comp) , c p (plat) , c p (alg) , c p (isol) e c p (fsol) representam, a capacidade calorífica mássica a pressão constante, respectivamente, da água na fase líquida, do auxiliar de combustão, de composto, do fio de platina, do fio de algodão, da solução inicial e da solução final; −.ni (O2) e nf (O2) representam a quantidade oxigénio gasoso existente na bomba antes e depois da combustão, respectivamente; −.ni (H2O,g) e nf (H2O,g) representam a quantidade de vapor de água existente na bomba antes e depois da combustão, respectivamente; −. n f (CO2 , g) e n f (N2 , g) representam as quantidades de dióxido de carbono e de azoto molecular formadas; −. m (H2O, l) , m AC , m comp , m alg , m plat , misol e m fsol representam as massas de água na fase líquida, do auxiliar de combustão, de composto, do fio de algodão, do cadinho de platina, da solução inicial e da solução final, respectivamente. 82 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3.5.6. ENERGIA MÁSSICA DE COMBUSTÃO PADRÃO Para cada ensaio, as correcções efectuadas permitem o cálculo da energia mássica de combustão padrão, ∆ c u º , de amostra. As expressões (3.59) e (3.60) permitem determinar o valor de ∆ c u º para ensaios realizados nos calorímetros de combustão de bomba estática e de bomba rotativa, respectivamente. [ ] −1 ∆ cu º = ∆U (PBI) − ∆U (HNO3 ) − ∆U ign − ∆U Σ − ∆U alg − ∆U AC + ∆U carb × m comp (3.59) −1 ∆ cu º = [∆U (PBI) − ∆U (HNO3 ) − ∆U (As2O3 ) − ∆Uign − ∆U Σ − ∆U alg − ∆U AC + ∆U carb ] × mcomp (3.60) onde ∆U (PBI) – energia de combustão no processo de bomba isotérmico; ∆U (HNO3) – energia de formação da solução de ácido nítrico; ∆U (As2O3) – energia de oxidação de As2O3 a As2O5 ; ∆Uign – energia de ignição; ∆U∑ – correcções de energia para o estado padrão; ∆Ualg – energia de combustão do fio de algodão; ∆UAC – energia de combustão do auxiliar de combustão utilizado; ∆Ucarb – energia de combustão do carbono; mcomp – massa de amostra de composto calculada a partir da massa de dióxido de carbono recolhida após a combustão. 3.5.7. ENTALPIA MOLAR DE FORMAÇÃO PADRÃO CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO EM BOMBA ESTÁTICA A reacção de combustão de um composto de fórmula geral CaHbOcNd traduzida na equação química (3.8), transcrita de seguida : 83 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS C a Hb O c N d (cr, l) + correspondendo-lhe uma 4a + b − 2c O2 4 (g) → a CO 2 (g) + b 2 H 2 O (l) + d 2 N 2 (g) padrão, ∆ cU mo , à determinada energia molar de combustão temperatura de referência T ( T = 298.15 K). Sabendo o valor desta energia e a variação do número de moles das espécies gasosas envolvidas na reacção, é possível calcular a entalpia o molar de combustão padrão, do composto, ∆ c H m , a partir da expressão (3.7). Por aplicação da Lei de Hess, a entalpia molar de formação padrão do composto em estudo é, então, calculada por o o ∆ f H m (C aHb O cNd ) = a ∆ f H m (CO2 , g) + b 2 o o ∆ f H m (H2O, l) − ∆ c H m (3.61) sendo o ∆ f H m (CO2 , g) = − 393.51 ± 0.13 kJ.mol-1 [25] o ∆ f H m (H2O, l) = − 285.83 ± 0.04 kJ.mol-1 [25] CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO EM BOMBA ROTATIVA A reacção de combustão de um composto de fórmula geral CaHbOcNdCle é traduzida pela equação química (3.11), transcrita de seguida, C aHb O c NdCle (cr, l) + 4a + b - e - 2c O2 4 (g) + 2e.n - b + e H O (l) → 2 2 → a CO2 (g) + d N (g) + e HCl. n H O (aq) 2 2 2 correspondendo-lhe uma determinada energia molar de combustão padrão, ∆ cU mo , à temperatura de referência T ( T = 298.15 K). É possível determinar a correspondente entalpia molar de combustão padrão, ∆ c H mo , a partir da expressão (3.7), conhecendo ∆ cU mo do composto e a variação do número de moles das espécies gasosas envolvidas na reacção de combustão. 84 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.5. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS Assim, por aplicação da Lei de Hess, a entalpia molar de formação padrão do composto clorado estudado, com fórmula molecular C13H9ON2Cl3, é, então, calculada por o o o ∆ f H m (C13H9ON2Cl3 ) = 13∆ f H m (CO 2 , g) + 3 ∆ f H m (HCl.600H2O, l) − o o − (−3) ∆ f H m (H2O, l) − ∆ c H m (3.62) sendo o ∆ f H m (CO2 , g) = − 393.51 ± 0.13 kJ.mol-1 [25] o ∆ f H m (HCl.600H2O, l) = − 166.54 ± 0.01 kJ.mol-1 [19] o ∆ f H m (H2O, l) = − 285.83 ± 0.04 kJ.mol-1 [25] 85 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Nas tabelas 3.1 a 3.8 são apresentados os resultados dos estudos efectuados por calorimetria de combustão em bomba estática e na tabela 3.9 são apresentados os resultados de calorimetria de combustão em bomba rotativa. Em cada uma das tabelas é também apresentado o valor médio de energia mássica padrão, calculado para o composto orgânico submetido a estudo termoquímico. O intervalo de incerteza associado aos valores de energia mássica de combustão padrão, é igual ao desvio padrão da média correspondente: σ n 2 ∑ (Xi − X ) i =1 = n (n − 1) 12 (3.63) sendo n o número de ensaios, X o valor médio e X i o valor individual. Na tabela 3.10 são resumidos os valores de energia molar de combustão padrão e os valores de entalpias molares de combustão e formação padrão dos compostos orgânicos, no estado condensado, a 298.15 K. Os intervalos de confiança associados aos valores de energia molar de combustão padrão, de entalpias molares de combustão e formação padrão são, de acordo com a prática termoquímica, duas vezes o desvio padrão da média do conjunto de determinações e incluem, além das incertezas associadas à calibração, incertezas associadas aos parâmetros termoquímicos auxiliares, como se verifica na expressão (3.64). σ total = 12 σ 2 o ∆ c u (composto) +σ 2 o ∆ c u (ácido benzóico) +σ 86 2 o ∆ c u (calibraçã o) + σ o ∆ c u (auxiliar) 2 (3.64) 2.76990 0.90757 0.04730 0.00177 2.39087 16.08 − 2.0 37 204.27 52.55 0.74 18.79 1 083.30 28.74 39 688.40 m (CO2, total) / g m (composto) / g m (melinex) / g m (algodão) / g ∆Tad / K εcf / J K-1 ∆m (H2O) / g −∆U (PBI) / J −∆U (HNO3) / J −∆U (ignição) / J −∆U Σ / J −∆U (melinex) / J −∆U (algodão) / J − ∆cu º(composto) / J.g-1 4 39 620.73 32.80 1 209.86 6.35 1.08 20.33 13 675.71 − 2.0 14.11 0.87896 0.00202 0.05283 0.31310 1.04147 % CO2 = 100.01 ± 0.04 39 694.02 31.51 1 152.97 8.86 0.68 28.37 18 907.97 − 0.7 14.54 1.21478 0.00194 0.05034 0.44555 1.42365 3 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 39 667 ± 11 ) J.g-1 39 700.58 27.45 1 226.53 10.79 0.71 36.23 22 726.36 + 0.4 14.83 1.45965 0.00169 0.05356 0.53966 1.70629 2 87 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 15 553.27 ± 0.91 J.K-1 [26]. 1 39 660.29 27.93 1 237.27 7.62 0.92 23.53 16 301.60 − 1.4 14.34 1.04754 0.00172 0.05402 0.37832 1.23479 5 Tabela 3.1 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de 4-terc-butilpiridina. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 39 648.36 36.70 1 185.19 8.61 1.16 28.20 18 373.51 + 0.1 14.49 1.18020 0.00226 0.05175 0.43164 1.38663 6 39 658.70 38.98 1 197.75 10.86 1.17 37.40 22 865.22 − 0.5 14.84 1.46892 0.00240 0.05230 0.54416 1.71757 7 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.40425 0.43317 0.04625 0.00182 1.22638 14.75 + 0.3 19 085.35 19.11 0.60 7.91 1 059.31 29.56 41 482.62 m (CO2, total) / g m (composto) / g m (melinex) / g m (algodão) / g ∆Tad / K εcf / J K-1 ∆m (H2O) / g −∆U (PBI) / J −∆U (HNO3) / J −∆U (ignição) / J −∆U Σ / J −∆U (melinex) / J −∆U (algodão) / J − ∆cu º(composto) / J.g-1 41 527.47 29.07 1 185.41 6.47 0.60 19.11 15 664.13 + 1.9 14.40 1.00613 0.00179 0.05176 0.34732 1.16010 3 88 4 41 522.89 32.80 906.71 6.19 0.60 16.85 15 270.07 − 0.3 14.27 0.98141 0.00202 0.03959 0.34456 1.12433 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 41514.5 ± 8.5) J.g-1 % CO2 = 99.97 ± 0.03 41 496.37 32.32 1 153.89 6.89 0.55 17.66 16 658.72 0 14.51 1.07056 0.00199 0.05038 0.37226 1.23184 2 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 15 546.3 ± 1.3 J.K-1 [27]. 1 41 519.75 27.28 1 209.40 7.18 0.62 10.46 17 286.40 + 0.7 14.56 1.11068 0.00168 0.05281 0.38590 1.27768 5 41 538.09 36.70 1155.94 6.94 0.77 17.37 16 746.38 + 0.2 14.53 1.07613 0.00226 0.05047 0.37384 1.23722 6 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 3.2 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de 2,6-di-terc-butilpiridina. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 1.071028 0.25806 0.12595 0.00242 0.00039 0.89340 13.02 + 0.6 13 902.94 10.23 0.58 5.44 2 884.61 39.30 12.87 42 530.89 m (CO2, total) / g m (composto) / g m (melinex) / g m (algodão) / g m (carbono) / g ∆Tad / K εcf / J K-1 ∆m (H2O) / g −∆U (PBI) / J −∆U (HNO3) / J −∆U (ignição) / J −∆U Σ / J −∆U (melinex) / J −∆U (algodão) / J −∆U (carbono) / J −∆cu º(composto) / J.g-1 3 42 528.58 0 37.68 1 261.03 5.86 0.58 15.79 16 972.19 − 0.9 13.44 1.09104 0 0.00232 0.05506 0.36802 1.24268 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 42 543.5 ± 7.7) J.g-1 % CO2 = 100.04 ± 0.05 42 548.27 0 40.60 1 730.26 6.13 0.63 17.47 17 187.51 − 0.3 13.49 1.10470 0 0.00250 0.07555 0.36176 1.27098 2 89 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 15 546.3 ± 1.3 J.K-1 [27]. 1 42 538.60 0 34.92 1 233.16 4.49 0.58 14.11 13 134.32 0 12.93 0.84415 0 0.00215 0.05385 0.27850 0.96894 4 42571.04 0 35.73 1 395.13 6.41 0.56 16.05 18 385.30 0 13.63 1.18158 0 0.00220 0.06092 0.39772 1.34572 5 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 3.3 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de 2,4,6-tri-terc-butilpiridina. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 1.46154 0.81957 0.06976 0.00198 1.09120 14.42 − 0.2 16 986.52 72.97 0.98 18.10 1 597.53 32.16 18 625.34 m (CO2, total) / g m (composto) / g m (melinex) / g m (algodão) / g ∆Tad / K εcf / J K-1 ∆m (H2O) / g −∆U (PBI) / J −∆U (HNO3) / J −∆U (ignição) / J −∆U Σ / J −∆U (melinex) / J −∆U (algodão) / J − ∆cu º(composto) / J.g-1 18 615.00 35.57 1 290.96 11.08 0.87 49.10 10 727.23 + 1.7 13.86 0.68878 0.00219 0.05637 0.50173 0.92761 3 90 4 18 631.99 32.80 1 167.37 12.54 0.60 53.07 11 999.68 − 1.2 13.99 0.77108 0.00202 0.05097 0.57607 1.03276 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 18 618.8 ± 6.8) J.g-1 % CO2 = 99.989 ± 0.002 18594.97 33.13 1 481.48 11.37 0.84 50.64 11 030.45 0 13.87 0.70857 0.00204 0.06469 0.50836 0.95693 2 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 15 553.27 ± 0.91 J.K-1 [26]. 1 Tabela 3.4 − Determinação da energia mássica de combustão padrão da citosina. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 18 606.04 33.45 1 097.92 14.23 0.92 66.39 13571.60 − 2.2 14.07 0.87232 0.00206 0.04794 0.66423 1.16557 5 18639.40 31.51 1 258.06 13.29 1.05 62.09 12 785.87 − 0.4 14.00 0.82142 0.00194 0.05493 0.61267 1.09970 6 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.16561 0.75814 0.00183 1.00781 14.69 − 0.2 15 688.76 74.92 0.72 12.54 29.72 20 538.30 m (CO2, total) / g m (composto) / g m (algodão) / g ∆Tad / K εcf / J K-1 ∆m (H2O) / g −∆U (PBI) / J −∆U (HNO3) / J −∆U (ign) / J −∆U Σ / J −∆U (algodão) / J − ∆cu º(composto) / J.g-1 20 467.59 33.13 15.30 0.96 75.16 18 662.26 − 2.5 15.14 1.19953 0.00204 0.90571 1.39227 3 91 4 20 527.06 31.02 14.43 0.62 71.04 17 708.51 − 1.8 15.03 1.13802 0.00191 0.85699 1.31733 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 20 507 ± 12 ) J.g-1 % CO2 = 99.62 ± 0.09 20 470.44 31.18 16.60 0.94 94.68 20 452.27 − 1.6 15.22 1.31426 0.00192 0.99211 1.52457 2 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 15 553.27 ± 0.91 J.K-1 [26]. 1 5 20 514.80 27.45 14.06 0.71 71.22 17 303.74 − 1.2 14.97 1.11184 0.00169 0.83795 20 522.76 31.34 12.31 0.65 70.39 15 427.41 − 0.6 14.68 0.99113 0.00193 0.74613 1.14737 6 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 1.28778 Tabela 3.5 − Determinação da energia mássica de combustão padrão da imidazolidin-2-ona. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 1.33165 0.15064 0.36731 0.00215 1.17068 15.60 + 0.4 18 219.96 21.49 0.57 8.11 17 038.52 34.92 7 410.54 m (CO2, total) / g m (composto) / g m (polietileno) / g m (algodão) / g ∆Tad / K εcf / J K-1 ∆m (H2O) / g −∆U (PBI) / J −∆U (HNO3) / J −∆U (ign) / J −∆U Σ / J −∆U (polietileno) / J −∆U (algodão) / J − ∆cu º(composto) / J.g-1 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 7 429.4 ± 7.6 ) J.g-1 (*) % CO2 = 99.97 ± 0.04 7 444.05 40.92 17 109.49 8.28 0.47 22.78 18 355.46 + 2.6 15.71 1.17868 0.00252 0.36884 0.15764 1.34516 2 7 438.99 38.33 18 228.82 9.35 0.56 25.75 19 706.17 − 0.3 15.86 1.26639 0.00236 0.39297 0.18865 1.45659 3 7 424.22 37.84 16 477.23 6.98 0.56 19.09 17 335.18 + 0.3 15.61 1.11386 0.00233 0.35521 0.10688 1.24327 4 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 92 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 15 546.3 ± 1.3 J.K-1 [27]. apenas quatro valores concordantes, sem formação de resíduos, utilizando sacos de polietileno. composto não queimava completamente, formando uma grande quantidade de resíduos, de dezanove experiências de combustão realizadas seleccionaram-se (*) − O valor de energia mássica de combustão padrão é um valor provisório pois não foi possível completar o seu estudo. Como foi referido em 3.4.1.2., o 1 Tabela 3.6 − Determinação da energia mássica de combustão padrão do ácido parabânico. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 1.15248 0.65372 0.00189 1.01480 14.72 − 1.0 15 786.44 56.28 0.64 10.52 30.69 23 999.59 m (CO2, total) / g m (composto) / g m (algodão) / g ∆Tad / K εcf / J K-1 ∆m (H2O) / g −∆U (PBI) / J −∆U (HNO3) / J −∆U (ign) / J −∆U Σ / J −∆U (algodão) / J − ∆cu º(composto) / J.g-1 23 982.90 29.56 11.15 0.59 52.58 16 565.03 + 0.1 14.87 1.06452 0.00182 0.68681 1.21055 3 93 4 23 983.12 26.96 10.49 0.69 51.42 15 684.37 0 14.75 1.00797 0.00166 0.65027 1.14604 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 23 987.7 ± 4.2 ) J.g-1 % CO2 = 99.60 ± 0.04 24 000.98 33.13 11.54 0.58 54.48 17 096.44 + 1.4 14.93 1.09828 0.00204 0.70819 1.24850 2 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 15 553.27 ± 0.91 J.K-1 [26]. 1 23 975.88 28.91 12.95 0.61 69.42 19 193.20 − 1.7 15.21 1.23398 0.00178 0.79588 1.40226 5 23 983.75 26.96 11.35 0.60 57.90 16 938.36 − 2.8 14.87 1.08936 0.00166 0.70223 1.23741 6 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 3.7 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de N,N’-trimetilenurea. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 1.14751 0.59881 0.00180 0.86360 14.33 − 1.2 13 439.80 40.67 1.10 9.76 29.23 22 309.34 m (CO2, total) / g m (composto) / g m (algodão) / g ∆Tad / K εcf / J K-1 ∆m (H2O) / g −∆U (PBI) / J −∆U (HNO3) / J −∆U (ign) / J −∆U Σ / J −∆U (algodão) / J − ∆cu º(composto) / J.g-1 4 22 286.70 33.62 10.91 1.16 36.07 14 795.80 + 0.2 14.55 0.95036 0.00207 0.66022 1.26532 % CO2 = 99.99 ± 0.02 22 316.77 32.64 13.92 1.15 53.81 18 648.49 − 0.9 14.87 1.19815 0.00201 0.83108 1.59182 3 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 22 306.0 ± 4.0 ) J.g-1 22 311.58 36.05 12.40 1.03 40.96 16 633.30 − 0.7 14.74 1.06863 0.00222 0.74306 1.41992 2 94 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 15 553.27 ± 0.91 J.K-1 [26]. 1 22 306.23 33.62 14.26 1.17 46.11 18 922.83 − 1.1 14.98 1.21584 0.00207 0.84405 1.61672 5 Tabela 3.8 − Determinação da energia mássica de combustão padrão do barbital. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 22 294.24 32.80 14.17 1.17 48.82 18 860.61 − 0.2 14.95 1.21155 0.00202 0.84164 1.61202 6 22 316.83 31.34 10.62 1.15 35.53 14 441.78 − 0.7 14.51 0.92785 0.00193 0.64395 1.23333 7 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 0.76 51.91 1.28 0 36.54 19 778.89 − ∆U (H2PtCl6) / J − ∆U Σ / J − ∆U (ign) / J − ∆U (melinex) / J − ∆U (algodão) / J − ∆cu º(composto) / J.g-1 19 784.36 79.25 1 277.53 1.29 38.01 1.97 316.21 28.66 16 928.80 + 0.2 91.18 93.69 0.67022 24.99350 24.30672 0.00488 0.05578 0.76757 3 〈 ∆ c u º (composto) 〉 = ( − 19 760 ± 12 ) J.g-1 19746.82 66.91 0 1.28 40.86 0.43 322.92 124.18 20 510.80 + 0.4 0.81200 25.01221 24.18284 0.00412 0 95 Observações: A constante de calibração utilizada foi de εcal = 25 164.0 ± 2.1 J.K-1 [28]. 410.22 − ∆U (As2O3) / J 111.57 35.82 114.81 εci / J K-1 εcf / J K-1 − ∆U (HNO3) / J 0.77449 ∆Tad / K 19 580.04 24.94931 (Tf / K)−273,15 − ∆U (PBI) / J 24.15579 (Ti / K)−273,15 + 0.5 92.35 0.00225 m (algodão) / g ∆m (H2O) / g 93.90 0 m (melinex) / g 0.78810 0.96282 m (composto) / g 2 1 19 717.99 74.05 2 448.36 1.27 38.95 1.97 326.35 29.85 16 963.95 + 1.0 91.25 93.70 0.67152 24.98526 24.29663 0.00456 0.10691 0.71220 4 19 770.03 61.55 1 854.15 1.31 45.97 1.38 420.71 40.83 20 882.28 0 91.07 93.88 0.82678 24.98576 24.14238 0.00379 0.08095 0.93358 5 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 3.9 − Determinação da energia mássica de combustão padrão de 3,4,4’-triclorocarbanilida. Ensaio 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS − 41 514.5 ± 8.5 − 42 543.5 ± 7.7 − 18 618.8 ± 6.8 − 20 507 ± 12 − 7 429.4 ± 7.6 (*) − 23 987.7 ± 4.2 − 22 306.0 ± 4.0 − 19 760 ± 12 2,6-di-terc-butilpiridina (l) 2,4,6-tri-terc-butilpiridina (s) citosina (s) imidazolidin-2-ona (s) ácido parabânico (s) N,N’-trimetilenurea (s) barbital (s) 3,4,4’-triclorocarbanilida (s) (*) – Valor provisório. − 39 667 ± 11 4-terc-butilpiridina (l) −1 ∆ c u / J.g Composto o −1 96 − 6 235.9 ± 7.5 − 4 108.6 ± 1.6 − 2 401.6 ± 1.0 − 847.4 ± 1.7 (*) − 1 765.5 ± 2.1 − 2 068.6 ± 1.6 − 10 526.2 ± 4.9 − 7 942.4 ± 4.0 − 5 363.3 ± 3.4 o ∆ cU m / kJ.mol o −1 − 6 235.9 ± 7.5 − 4 109.9 ± 1.6 − 2 402.9 ± 1.0 − 842.4 ± 1.7 (*) − 1 765.5 ± 2.1 − 2 066.7 ± 1.6 − 10 543.0 ± 4.9 − 7 954.2 ± 4.0 − 5 370.1 ± 3.4 ∆ c H m / kJ.mol molar de formação padrão, ∆ f H mo , para os compostos orgânicos, à temperatura de 298.15 K. −1 − 236.9 ± 7.7 − 753.2 ± 1.9 − 314.5 ± 1.1 − 623.9 ± 1.8 (*) − 272.5 ± 2.1 − 221.9 ± 1.7 − 291.2 ± 5.4 − 162.7 ± 4.4 − 29.4 ± 3.6 o ∆ f H m / kJ.mol Tabela 3.10 − Energia mássica de combustão padrão, ∆ c u o , energia molar de combustão padrão, ∆ cU mo , entalpia molar de combustão padrão, ∆ c H mo , e entalpia 3.6. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA [1] − Ribeiro da Silva, M. D. M. C., Química (Boletim SPQ), 53 (1994) 63. [2] − www.chem.yale.edu (consulta em Julho de 2005). [3] − Ribeiro da Silva, M. D. M. C., Química (Boletim SPQ), 84 (2002) 60. [4] − Cox, J. D., Thermochemistry of Organic and Organometallic Compounds, Academic Press, London, 1970. [5] − Popoff, M. M.; Schirokich, P. K.; Z. Phys. Chem. (Leipzig), 167 (1933) 183 (citado em Minas da Piedade, M. E.; em Energetics of stable Molecules and Reactive Intermediates, Capítulo 2, M. E. Minas da Piedade editor; NATO Science Séries, Portugal, 1998). [6] − Coops, J; Jessup, R.S.; van Nes, K. em Experimental Thermochemistry, Vol. I, Capítulo 3, F. D. Rossini editor; Interscience, New York, 1956. [7] − Ribeiro da Silva, M. D. M. C.; Santos, L. M. N. B. F.; Silva, A. L. R.; Fernandes, O.; Acree, W. E.; J. Chem. Thermodyn., 35 (2003) 1093. [8] − Ribeiro da Silva, M. A. V.; Ribeiro da Silva, M. D. M. C.; Pilcher, G., Rev. Port. Quím., 26 (1984) 163. [9] − Sunner, S., em Experimental Chemical Thermodynamics, Vol. I, Capítulo 2, em S. Sunner, M. Mansson, editors, Pergamon Press, Oxford, 1979. [10] − Vale, M. L. C., Seminário em Termoquímica, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, 1989. [11] − Silva, A. M. R. O. A., Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, 1993. [12] − Ribeiro da Silva, M. A. V.; Ferrão, M. L. C. H.; Jiye, F., J. Chem. Thermodyn., 26 (1994) 839. [13] − Ferreira, A. I. M. C. L., Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, 2005. [14] − Wilson, S. R.; Watson, I. D.; Malcolm, G. N., J. Chem. Thermodyn., 11 (1979) 911. [15] − Santos, L. M. N. B. F., Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, 1995. [16] − Vogel, A. I., Qantitative Inorganic Analysis, Longmans, London, 1978. [17] − Goog, W. D.; Scott, D. W., J. Phys. Chem., 60 (1956) 1080 (citado na referência [9]). 97 3. CALORIMETRIA DE COMBUSTÃO TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS BIBLIOGRAFIA [18] − Hubbard, W. N.; Scott, D. W.; Waddington, G. em Experimental Thermochemistry, Vol. I, Capítulo 5, F. D. Rossini editor; Interscience, New York, 1956. [19] − The NBS Tables of Chemical Thermodynamics Properties, J. Phys. Chem. Ref. Data, 11 (1982) Suplemento 2. [20] − Skinner, H. A.; Snelson, A., Trans. Faraday Soc., 56 (1960) 1176. [21] − Dias, A. C. M., Seminário em Termoquímica, Faculdade de Ciências, Universidade do Porto, 2007. [22] − Hu, A. T.; Sinke, G. C.; Mansson, M.; Ringner, B., J. Chem. Thermodyn., 25 (1993) 229. [23] − Sunner, S.; Thorén, S., Acta Chem. Scand., 18 (1964) 1528. [24] − Sellers, P.; Sunner, S., Acta Chem. Scand., 18 (1964) 202. [25] − CODATA, J. Chem. Thermodyn., 10 (1978) 903. [26] − Monteiro, R. A., Comunicação Pessoal, 2006. [27] − Cabral, J., Comunicação Pessoal, 2007. [28] − Ferreira, A. I. M. C. L., Comunicação Pessoal, 2007. 98 MESTRADO EM QUÍMICA TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS CAPÍTULO 4 DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE 99 4 DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE 4.1. Princípios gerais 4.1.1. Sólidos, líquidos e gases 4.1.2. Fusão, vaporização e sublimação 4.1.3. A importância das entalpias de sublimação e vaporização em termoquímica 4.1.4. Determinação de entalpias de transição de fase 4.1.4.1. Método de efusão de Knudsen 4.1.4.1.1. 4.1.4.2. Dedução de equação de Clausius-Clapeyron Microcalorimetria Calvet 4.1.4.2.1. Ensaios de branco 4.1.4.2.2. Calibração 4.1.5. Correcções para o estado padrão 4.1.6. Variação das entalpias de sublimação e vaporização com a temperatura 4.2. Equipamento 4.2.1. 4.2.1.1. Células de efusão 4.2.1.2. Câmara de sublimação e linha de vidro 4.2.1.3. Controlo e medição da temperatura 4.2.1.4. Sistema de vácuo 4.2.2. 4.3. Método de efusão de Knudsen Microcalorímetro Calvet 4.2.2.1. Bloco calorimétrico 4.2.2.2. Células calorimétricas 4.2.2.3. Controlo e medição da temperatura 4.2.2.4. Sistema de vácuo Procedimento 4.3.1. 4.3.2. Método de efusão de Knudsen 4.3.1.1. Preparação das células de efusão 4.3.1.2. Operações preliminares e processo de sublimação Microcalorimetria Calvet 4.3.2.1. Preparação e selecção dos tubos capilares de vidro fino 4.3.2.2. Operações preliminares e processo de sublimação 100 4.4. Tratamento dos resultados experimentais 4.4.1. 4.4.2. 4.5. Método de efusão de Knudsen 4.4.1.1. Determinação de entalpia de sublimação molar padrão 4.4.1.2. Determinação da entropia e energia de Gibbs molar padrão Microcalorimetria Calvet 4.4.2.1. Calibração 4.4.2.2. Determinação das entalpias de sublimação e vaporização molar padrão Resultados experimentais 4.5.1. 4.5.2. Método de efusão de Knudsen 4.5.1.1. 3,4,4’-triclorocarbanilida 4.5.1.2. Imidazolidin-2-ona 4.5.1.3. Ácido parabânico 4.5.1.4. N,N’-trimetilenurea 4.5.1.5. Barbital Microcalorimetria Calvet 4.5.2.1. Citosina 4.5.2.2. 3,4,4’-triclorocarbanilida 4.5.2.3. 4-terc-butilpiridina 4.5.2.4. 2,6-di-terc-butilpiridina 4.5.2.5. 2,4,6-tri-terc-butilpiridina 101 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE As substâncias são constituídas por partículas mantidas nas vizinhanças umas das outras por forças atractivas mais ou menos intensas, denominadas de forças intermoleculares. Nas mudanças de estado físico, a passagem de estados “mais condensados” para estados “mais fluidos” (sólido.→.líquido, líquido.→.gasoso e sólido.→.gasoso) é acompanhada de consumo de energia, necessária para a ruptura de ligações intermoleculares, enquanto que nas transformações inversas é libertada energia. A uma dada pressão, os sólidos e os líquidos puros têm uma temperatura de sublimação e uma temperatura de ebulição, respectivamente, bem definida, que reflecte a intensidade das interacções existentes entre as moléculas. Para avaliar a grandeza dessas interacções, em substâncias sólidas e líquidas, terá que se determinar a sua entalpia de sublimação e vaporização, respectivamente. . Apresenta-se, de seguida, os métodos experimentais usados na determinação de entalpias de sublimação e vaporização (microcalorimetria Calvet e método de efusão de Knudsen) no presente trabalho. 102 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS 4.1.1. SÓLIDOS, LÍQUIDOS E GASES Algumas das propriedades de uma determinada substância dependem do estado físico em que esta se encontra. Conforme as condições de pressão e temperatura, a maioria das substâncias pode existir em qualquer um dos três estados da matéria: sólido, líquido e gasoso. Normalmente, cada um destes estados é referido como uma fase − parte homogénea de um sistema em contacto com outras partes do mesmo sistema, mas separadas por uma fronteira bem definida. A distância entre as moléculas revela-se como um factor determinante na intensidade das forças atractivas existentes e, por sua vez, a presença ou a ausência destas forças irá determinar qual o estado físico de uma determinada substância. As forças atractivas, denominadas de forças intermoleculares, têm um pequeno raio de acção, logo o seu efeito diminui drasticamente com o aumento da distância entre as moléculas e cai para um valor quase desprezável para distâncias de quatro a cinco vezes maiores que o diâmetro molecular [1]. Na fase cristalina, as moléculas estão separadas, aproximadamente, por uma distância menor do que o seu diâmetro molecular, num arranjo altamente ordenado, não tendo quase nenhuma liberdade de movimento individual, vibrando apenas em torno de posições fixas. Na fase líquida, as moléculas estão separadas por uma distância da mesma grandeza que os seus diâmetros moleculares, possibilitando que estas se movimentem livremente umas relativamente às outras. A tão curtas distâncias o efeito das forças intermoleculares é considerável, sendo, por isso, responsável pela existência dos estados condensados da matéria, sólido e líquido, assumindo um papel preponderante em várias características destes estados. O movimento molecular nos gases é aleatório, como resultado das elevadas distâncias entre as moléculas e das quase inexistentes forças de atracção entre estas, podendo cada molécula mover-se livremente e de um modo quase independente das outras moléculas. Para pressões iguais a zero, o efeito das forças intermoleculares é nulo e qualquer gás é descrito pela lei dos gases ideais. 103 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS 4.1.2. FUSÃO, VAPORIZAÇÃO E SUBLIMAÇÃO As mudanças de fase entre os estados cristalino e líquido (fusão/solidificação), entre os estados líquido e gasoso (vaporização/condensação) e entre os estados cristalino e gasoso (sublimação/condensação) são descritas pelos seguintes equilíbrios traduzidos de (4.1) a (4.3): X (l) (4.1) X (l) X (g) (4.2) X (cr) X (g) (4.3) X (cr) Os processos de fusão, vaporização e sublimação são transformações endotérmicas. Atendendo a isto, o deslocamento dos equilíbrios (4.1) a (4.3) no sentido directo é possível através do aumento de temperatura de cada um dos sistemas. O conhecimento da quantidade de calor absorvida em cada uma das transições de fase irá possibilitar a determinação da entalpia de l o g o g o fusão, ∆ cr H , da entalpia de vaporização, ∆ l H , e da entalpia de sublimação, ∆ cr H . Para o processo (4.1), o efeito do aumento da temperatura do sistema a nível molecular provoca um aumento da energia cinética das moléculas, permitindo, assim, que se libertem do arranjo cristalino, adquiram uma maior distância intermolecular e que se movam livremente. Como consequência, o efeito das interacções intermoleculares na fase líquida é menor do que o das forças presentes na fase cristalina. Nos processos traduzidos em (4.2) e (4.3) o aumento da temperatura de cada um dos sistemas irá provocar o aumento da energia cinética das moléculas de um modo tal, que irá romper as atracções intermoleculares, possibilitando, assim, que as moléculas gasosas não tenham restrições de movimento. Como o efeito das forças intermoleculares na fase cristalina é superior ao das forças presentes na fase líquida, para a mesma substância, a quantidade de energia envolvida no processo de sublimação é superior à energia necessária para a vaporização. Para uma dada temperatura e pressão fixas, a energia envolvida no processo de sublimação pode também ser determinada pela soma das energias dos processos de fusão e vaporização. 104 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS 4.1.3. A IMPORTÂNCIA DAS ENTALPIAS DE SUBLIMAÇÃO E VAPORIZAÇÃO EM TERMOQUÍMICA As entalpias de sublimação e vaporização são propriedades termodinâmicas importantes dos estados condensados, que servem uma variedade de propósitos que inclui o seu uso na Termoquímica. Estas propriedades termodinâmicas são uma medida macroscópica da grandeza das interacções intermoleculares existentes nos estados condensados. Como já foi referido (ver 1.2.), em Termoquímica o estudo de relações de interdependência entre energética, estrutura e reactividade é feito no estado gasoso, impondo-se, assim, o conhecimento de valores de entalpias de formação em fase gasosa. Contudo, nem sempre é viável a determinação experimental directa destes parâmetros, pelo que um método alternativo passa pela conjugação de valores de entalpias de formação em fase condensada com valores de entalpias de transição de fase, obtidos experimentalmente. Neste âmbito, para um dado composto orgânico, é feita a determinação do valor da o respectiva entalpia de formação, em fase condensada, ∆ f H m (cr, l) , parâmetro que engloba os efeitos energéticos das interacções intramoleculares e intermoleculares. Para derivar a entalpia de formação do mesmo composto no estado gasoso, ∆ f H mo (g) , a partir da entalpia de formação no estado condensado, é necessário considerar o efeito energético das forças intermoleculares, recorrendo, para isso, à determinação da entalpia de transição de fase ∆ gcr,l H mo . A partir dos esquemas 1 e 2 representados na figura 1.1 e atendendo à Lei de Hess, é possível deduzir as expressões de cálculo da entalpia de formação no estado gasoso, (1.1) e (1.2), transcritas seguidamente, onde todos os parâmetros estão referidos em condições padrão e à mesma temperatura. ∆ f H mo (g) = ∆ f H mo (cr) + ∆gcr H mo ∆ f H mo (g) = ∆ f H mo (l) + ∆gl H mo As entalpias de sublimação e vaporização, além de possibilitarem a determinação da entalpia de formação em fase gasosa, também têm um papel fundamental na determinação de calores de reacção em fase gasosa, a elevadas temperaturas, a partir dos calores de reacção em fase condensada medidos à temperatura de 298.15.K 105 [2]. O valor de entalpia de sublimação é, 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS ainda, de grande utilidade em estudos de polimorfismo e de previsão da forma de empacotamento molecular [3]. O conhecimento do valor destas propriedades termodinâmicas também se revela de grande utilidade em outras áreas, como por exemplo, na avaliação de características de transportes a nível ambiental, fazendo o estabelecimento de relações entre pressões de vapor e temperatura, através da equação de Clausius-Clapeyron [4] (ver 4.1.4.1.2.). Para um engenheiro químico, o conhecimento da grandeza da entalpia de vaporização é um factor a ter em consideração no design de equipamento destinado a processos químicos e de síntese [5]. 4.1.4. MÉTODOS EXPERIMENTAIS DE DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE Os métodos experimentais de determinação de entalpias de sublimação e vaporização podem ser agrupados em duas categorias: métodos directos e indirectos [2]. Num método directo é feita a determinação calorimétrica da quantidade de calor absorvida pela substância, sólida ou líquida, durante a volatilização isotérmica. Num método indirecto, é feita, a diversas temperaturas, a medição da pressão de vapor da substância em estudo ou de uma propriedade relacionada com essa pressão de vapor. As principais dificuldades técnicas inerentes à aplicação destes métodos, estão relacionadas com a baixa volatilidade de muitos compostos sólidos, facto que exige grande sensibilidade dos aparelhos de medição utilizados nos métodos directos, capazes de detectarem as fracas quantidades de energia colocadas em jogo, durante o processo de transição de fase em condições próximas do equilíbrio. Neste trabalho, foram utilizados dois métodos experimentais na determinação de entalpias de transição de fase: − a microcalorimetria Calvet (método directo) na determinação de entalpias de sublimação e vaporização; − método de efusão de Knudsen (método indirecto) na determinação de entalpias de sublimação. 106 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS O método de efusão de Knudsen requer medições particularmente cuidadosas, pois os erros experimentais associados às determinações de pressão e temperatura, podem ser ampliados no processo de cálculo da entalpia de transição de fase, que é obtida a partir do declive da função ln p = f (1 T ) (ver 4.4.1.1.), enquanto que a determinação de entalpias de transição de fase por microcalorimetria Calvet está limitada apenas pela correcção para as capacidades caloríficas na fase gasosa (ver 4.4.2.2.). 4.1.4.1. MÉTODO DE EFUSÃO DE KNUDSEN Nesta secção será apresentada uma breve introdução ao método de efusão de Knudsen e a dedução da relação de Clausius-Clapeyron, dada a importância desta relação na determinação de entalpias de transição de fase a partir de diagramas p.−.T do equlíbrio entre fases. 4.1.4.1.1. INTRODUÇÃO O método de efusão de Knudsen foi introduzido em 1909 por M. Knudsen [6-8] e, desde então, tem sido um método largamente utilizado na medição de pressões de vapor de compostos orgânicos cristalinos, para pressões menores do que 1.Pa [9]. Knudsen começou por analisar o comportamento dos gases, a baixas pressões, com o objectivo de verificar experimentalmente algumas consequências da Teoria Cinética dos Gases [10]. Numa experiência de efusão efectuada pela técnica de Knudsen, uma amostra sólida ou líquida, em condições ideais, está em equilíbrio com o seu vapor no interior de uma célula, a uma temperatura constante e conhecida, que comunica com um sistema de vácuo através de um pequeno orifício, de espessura nula, existente na tampa. As moléculas atravessam o orifício a uma velocidade igual à velocidade de colisão dessas moléculas com as paredes das células, e com a superfície da fase condensada. Nestas condições, a pressão de saturação de vapor, p., da amostra pode ser calculada a partir da quantidade de vapor que atravessa o orifício durante um intervalo de tempo conhecido, utilizando a equação (4.4) m 2π R T p= Ao t M 107 1 2 (4.4) 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS em que os símbolos têm o seguinte significado: m − massa de vapor que se efunde Ao − área do orifício de efusão t − tempo de efusão R − constante dos gases T − temperatura da célula de efusão M − massa molar do composto Nas experiências percursoras, eram implicitamente admitidas condições ideais, embora estas não pudessem ser atingidas em células de efusão “reais” e, consequentemente, os valores calculados para a pressão de vapor podiam diferir bastante dos valores reais. Em rigor, a equação (4.4) só é aplicável a um sistema ideal célula-amostra, em que se verifiquem as seguintes condições [11]: − orifício de espessura nula; − vapor saturado em toda a célula; − célula isotérmica de temperatura conhecida, em equilíbrio térmico com a amostra; − coeficiente de condensação de vapor unitário; − regime de fluxo molecular através do orifício; − colisões entre as moléculas e as paredes da célula obedecendo à Lei de emissão de Lambert; − inexistência de fenómenos de difusão superficial; − inexistência de reacções químicas entre a amostra e a célula. Foram vários os investigadores que contribuíram com os seus estudos para a compreensão da influência do afastamento das condições ideais, em experiências de efusão com células e amostras “reais”. À partida, a existência de um orifício numa célula de efusão, transforma um processo idealmente de equilíbrio, num processo irreversível de transporte de massa, impedindo, assim, que algumas das condições definidas anteriormente para um sistema ideal não sejam atingíveis. Um orifício “real” de uma célula de efusão tem espessura finita. As moléculas de vapor que se dirigem para o orifício podem colidir com as suas paredes ou efundir-se directamente para fora da célula, para um espaço com uma pressão muito baixa. Relativamente às moléculas que 108 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS colidem com as paredes do orifício, podem prosseguir em direcção ao exterior ou voltar para o interior da célula, contribuindo desta forma para um valor de pressão, calculado pela expressão (4.4), menor que o valor real. Na sequência dos estudos efectuados, considerando que para um orifício de raio r e de espessura l .uma fracção (1.−.ωo) das moléculas que entram no orifício regressa à célula, a equação (4.4) pode ser corrigida pela introdução de um factor relativo à probabilidade de transmissão das moléculas de vapor através do orifício, denominado de factor de Clausing, ω o, obtendo-se a expressão (4.5). 2π R T p= ωo Ao t M m 1 2 O factor de Clausing .pode ser calculado para (4.5) ( l r ) 〈 0,1 , a partir da expressão (4.8) deduzida por Dushman [12]. 3l ω o = 1 + 8 r −1 (4.6) O orifício de efusão gera um gradiente de pressão no interior da célula, que será tanto maior quanto maior for a área do orifício, afectando, assim, as condições de saturação do vapor no interior da célula, podendo mesmo provocar fenómenos de auto-arrefecimento da amostra, em consequência de uma volatilização da amostra demasiado rápida. Se este arrefecimento não for rapidamente compensado por transferências de calor, da vizinhança termostatizada da célula para a superfície da amostra, a pressão de vapor calculada, atendendo à temperatura da vizinhança da célula, será superior à pressão de vapor real. Os fenómenos de auto-arrefecimento serão mais graves nos casos de fraca condutividade térmica da amostra e de um fraco contacto térmico entre a vizinhança e a célula ou entre a célula e a amostra. Whitman [13] foi o primeiro investigador a considerar que parte das moléculas de vapor colide com as paredes da célula e regressam à fase condensada. Whitman também considerou que uma fracção das moléculas de vapor colide com a superfície da fase condensada, condensando. Para a maioria dos compostos orgânicos é admitido um coeficiente de condensação unitário. Para pressões baixas, o livre percurso médio das moléculas de um gás é geralmente grande quando comparado com a dimensão característica da célula onde flui. Nestas condições, as 109 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS colisões entre as moléculas em fase gasosa são raras e o fluxo só é limitado pelas colisões moleculares com as paredes da célula. No caso de pressões mais elevadas, em que o livre percurso médio das moléculas é pequeno quando comparado com a dimensão característica da célula, as colisões intermoleculares são muito mais frequentes que as colisões com as paredes da célula e o fluxo é considerado viscoso. Existirá um intervalo de valores de pressão em que os dois tipos de colisão influenciam as características do fluxo, que, neste caso, é considerado de transição. Dado isto, na prática é normal aplicar-se o método de efusão de Knudsen para valores de pressão inferiores a 1.Pa. Knudsen quando considerou a Lei de emissão de Lambert (segundo esta lei a radiação de um emissor luminoso encerrado num espaço fechado é igualmente distribuída em todas as direcções, ou seja é perfeitamente difusa), para a reflexão das moléculas gasosas, admitiu que o fenómeno de reflexão difusa poderia ser atribuído quer às irregularidades, à escala atómica, da superfície das células, ou a um processo de adsorção das moléculas do gás, nessas paredes. Langmuir [14,15] e Volmer e co-autores [16] demonstraram que a segunda hipótese de Knudsen estava correcta e que as moléculas do gás não eram reflectidas pelas superfícies sólidas com que colidem, por um simples mecanismo de ressalto, mas por um mecanismo de difusão superficial, em que as moléculas colidem com a parede da célula, são adsorvidas e a sua desadsorção só ocorre depois de um certo “tempo de residência”. Assim, o transporte das partículas para fora do orifício de efusão é feito, para além do processo de efusão, pelo processo de difusão superficial. Este último processo provoca um aumento do transporte das moléculas para fora do orifício de efusão conduzindo, assim, a elevados valores de pressão. Winterbottom e Hirth [17-19] concluíram que o processo de difusão superficial pode ser uma importante fonte de erros no cálculo de pressões de vapor, especialmente quando são utilizadas células com orifícios de efusão pequenos, pois a razão entre a quantidade de substância transportada por difusão e a quantidade de substância transportada por efusão aumenta com a diminuição dos orifícios. Por outro lado, ao utilizarem-se orifícios de efusão com áreas grandes, a velocidade de efusão irá ser superior ao processo de sublimação ocorrendo, assim, fenómenos de auto-arrefecimento da amostra, fazendo com que a pressão de vapor seja inferior à pressão de vapor que corresponde à temperatura da vizinhança da célula. Dado isto, é essencial que a área dos orifícios de efusão seja suficientemente pequena. Adicionalmente, em ordem a assegurar as 110 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS condições de fluxo molecular através do orifício de efusão, o livre percurso médio das moléculas é inversamente dependente da pressão, e o uso de orifícios com áreas grandes podem não permitir uma medição correcta da pressão de vapor, a pressões tão elevadas como 1 Pa. Para evitar as fontes de erros anteriormente descritas, neste trabalho, a medição de pressões de vapor dos compostos orgânicos cristalinos, foi efectuada para pressões compreendidas entre 0.1 e 1.Pa, utilizando orifícios das células de efusão com diâmetros compreendidos entre 0.8 e 1.2 mm (ver 4.2.1.1.). Assim, numa típica experiência de efusão, a amostra cristalina em estudo é colocada na base de uma célula cilíndrica a uma temperatura T, constante e conhecida, e o vapor da amostra (em equilíbrio com a fase cristalina) efunde-se através do pequeno orifício existente no topo da célula para um espaço com uma pressão muito baixa. A pressão de vapor em equilíbrio com a amostra, pode ser determinada a partir da quantidade de vapor que atravessa o orifício da célula, durante um intervalo de tempo conhecido, utilizando a equação (4.5). A partir do tratamento dos resultados experimentais obtidos (ver 4.4.1.), considerando a equação de Clausius-Clapeyron, as correcções para o estado padrão e a equação de Kirchhoff , é possível determinar a entalpia de sublimação molar padrão à temperatura de 298.15.K. 4.1.4.1.2. DEDUÇÃO DA EQUAÇÃO DE CLAUSIUS-CLAPEYRON Na determinação experimental de entalpias de sublimação e de entalpias de vaporização, recorrendo a métodos indirectos, primeiramente é feita a medição da pressão de vapor de um . dado composto Χ a diversas temperaturas. Da relação obtida entre a pressão e a temperatura é possível construir um diagrama p.−.T, cuja representação simplificada se apresenta na figura 4.1, onde é visível a linha que separa as fases α e β [20]. Esta linha não é mais do que o lugar geométrico dos pontos representativos das fases em equilíbrio, isto é, ao longo desta linha, as fases α e β encontram-se em equilíbrio. . 111 Figura 4.1 – Diagrama p-T genérico do equilíbrio entre duas fases α e β [20]. 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS O aspecto geral dos diagramas de fases é uma consequência da regra das fases, lei de aplicação geral simples a todos os equilíbrios heterogéneos. Segundo esta regra, a variância do sistema com C componentes e F fases (isto é, o número de variáveis de estado intensivas que podem ser variadas independentemente sem alterar a composição fásica do sistema) é igual a [F(C-1)+2] variáveis de estado intensivas, necessárias para descrever o sistema (a menos da quantidade total de massa) menos [C(F-1)] variáveis que não podem ser variadas independentemente, por terem de ser satisfeitas determinadas condições de equilíbrio. Assim, a variância é dada pela relação (4.7) que constitui a regra das fases. V =C −F + 2 (4.7) No caso particular do diagrama p.−.T de substâncias puras, a regra das fases é responsável pela divisão do plano em campos monofásicos e por linhas que relacionam as variáveis quando há duas fases em equilíbrio. No entanto, a regra das fases nada diz quanto à forma e inclinação das linhas do diagrama. Estas são consequência de uma outra relação, a equação de Clausius-Clapeyron. Um sistema heterogéneo está em equilíbrio, quando cada fase está em equilíbrio, e por sua vez, quando as várias fases estão em equilíbrio entre si. Para que cada fase esteja em equilíbrio é necessário que a pressão, a temperatura e a composição se mantenham constantes, nessa mesma fase. Relativamente às condições de equilíbrio heterogéneo entre fases, terá que haver simultaneamente equilíbrio térmico, mecânico e químico, isto é, terá que haver equilíbrio total, pelo que a temperatura, a pressão e o potencial químico de cada componente têm que ser iguais em todas as fases. Nestas condições, obtemos o equilíbrio total, onde a derivada da função de Gibbs é igual a zero. dG = 0 (4.8) Assim, para um sistema constituído por duas fases α e β, a condição de equilíbrio anterior vem expressa por, α dG + dG β =0 (4.9) A função de Gibbs, G, é um potencial termodinâmico para certas variáveis de estado apropriadas. Este potencial termodinâmico é uma função que depende da temperatura, da pressão e da quantidade de cada componente i, 112 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS G = G (T , p , n 1, n 2 ,..., n i ) (4.10) e, portanto, ∂G ∂G ∂G dG = dT + d p + ∑ dn i ∂T p, n i i ∂ ni ∂ p T , n i T , p, n (4.11) j onde ni ≠ n j . Considerando que, ∂G = −S ∂T p, n i (4.12) ∂G =V ∂p T , n i (4.13) ∂G = μi ∂ n i T , p, n j (4.14) sendo S a entropia, V o volume e µi o potencial do constituinte i, a substituição das expressões (4.12) a (4.14) na expressão (4.11) conduz à expressão (4.15). dG = − S dT + V dp + ∑ μ i dn i i (4.15) Na relação (4.15), é de salientar que p e T são variáveis intensivas, enquanto que, n1, n2,..., ni, são variáveis extensivas. Sendo G uma função homogénea de grau um nessas variáveis, e atendendo à expressão (4.14), a expressão (4.15) simplifica-se para (4.16). …… G = ∑ μi n i i (4.16) Esta expressão é particularmente importante, pois em geral estudam-se reacções a temperatura e pressão constantes e é também a única expressão de um potencial termodinâmico em que só figuram potenciais químicos como variáveis intensivas independentes. Se o sistema for constituído por n moles de uma substância pura, a expressão (4.16) fica, G=μn (4.17) o que significa que o potencial químico de uma substância pura é igual à função de Gibbs molar, Gm. 113 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS Assim, atendendo ao que foi referido anteriormente, verifica-se que se um composto Χ estiver em equilíbrio nas fases α e β, à pressão p e à temperatura T, então os potenciais químicos, µ, de Χ nas duas fases são iguais. μ ( α , p, T ) = μ ( β , p, T ) (4.18) Para uma mole de Χ a expressão (4.18) é equivalente à expressão (4.19) Gm ( α , p, T ) = Gm ( β , p, T ) (4.19) onde Gm representa a função de Gibbs para uma mole de Χ. Considerando uma variação infinitesimal da pressão, dp, e da temperatura, dT, resultando num novo estado de equilíbrio entre as duas fases, ter-se-á, Gm ( α , p + dp, T + dT ) = Gm ( β , p + dp, T + dT ) (4.20) e, consequentemente, dGm ( α ) = dGm ( β ) (4.21) Usando a relação de Gibbs Duhem, d μ = − S m dT + V m dp (4.22) onde Sm representa a entropia molar e Vm o volume molar e sendo o potencial químico de uma substância pura igual à função de Gibbs molar, surge, assim, a relação (4.23). dGm = − S m dT + V m dp (4.23) A condição de equilíbrio entre as duas fases, expressão (4.21), implica que se verifique a relação − S m (α ) dT + V m (α ) dp = − S m (β ) dT + V m (β ) dp (4.24) que reorganizada conduz à expressão (4.27), a equação de Clapeyron. [V m (α ) −V m (β ) ] dp = [ S m (α ) − S m (β ) ] dT (4.25) dp S m (α ) − S m (β ) = dT V m (α ) −V m (β ) (4.26) β dp ∆ α S m = dT ∆βα V m 114 (4.27) 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS Facilmente se relaciona esta expressão com o diagrama de fases. Em condições de equilíbrio total, ∆G =0 ao longo da linha de fase α−β. Pretende-se conhecer o declive da linha do diagrama de fases, sendo então, necessário derivar, utilizando a relação de Euler (4.28) e as expressões (4.12) e (4.13), obtendo-se a expressão de Clapeyron (4.27). A equação de Clapeyron é termodinamicamente exacta e não contém qualquer aproximação. ∂G ∂T p, n i ∂p =− ∂G ∂T ∆ G ∂ p T , n i (4.28) Há outra forma da equação de Clapeyron resultante da substituição da expressão (4.29) na expressão (4.27), conduzindo a (4.30). β ∆ H ∆ Sm = α m T β α (4.29) β ∆ H dp = αβ m dT T ∆ α V m (4.30) As equações (4.27) e (4.30) são equações gerais aplicáveis a qualquer mudança de estado ou transição de fase (sólido → líquido, sólido → gás, líquido → gás e transições entre formas cristalinas) de substâncias puras. Contudo, para as transições de fase sólido → gás e líquido → gás, é possível fazer duas aproximações que fornecerão uma equação muito útil, a equação de Clausius-Clapeyron. A primeira aproximação resulta do facto de que o volume de uma mole de um gás ser muito maior do que o volume de uma quantidade idêntica de sólido ou líquido. β Assim, podemos aproximar ∆α Vm do volume molar de um gás, ∆α V m = V m ( β = gás ) − V m ( α = líquido ) ≈ V m ( β = gás ) (4.31) ∆α V m =V m ( β = gás ) −V m ( α = sólido ) ≈V m ( β = gás ) (4.32) β ou β Na segunda aproximação consideramos que a pressão é suficientemente baixa para que se possa considerar que o vapor se comporta como um gás ideal. Atendendo a isto, substituímos o Vm ( β = gás ) pela expressão, V m ( β = gás ) = RT p 115 (4.33) 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS Substituindo estas duas aproximações na equação (4.30), obtém-se a expressão (4.34), que rearranjada resulta na expressão (4.35). β dp ∆ H = α m dT RT T p (4.34) β d ln p ∆ α H m = 2 dT RT (4.35) 5 Para pressões de vapor não muito elevadas, da ordem de 10 .Pa ou inferiores, as aproximações utilizadas não introduzem erros significativos. β Assim, admitindo que no intervalo definido pelos limites (p1, T1) e (p2, T2), ∆α H m é constante, então a integração da equação (4.35) entre aqueles limites, conduz à equação (4.36), e que representa o integral indefinido relativo à equação (4.35) β ∆ H ln p = − α m + constante RT (4.36) Para as transições de fase sólido → gás e líquido → gás, a expressão (4.36) toma as formas (4.37) e (4.38), respectivamente, g ∆ H ln p = − cr m + constante RT (4.37) g ∆H ln p = − l m + constante RT (4.38) Assim, a partir da determinação experimental das pressões de vapor, medidas num intervalo de temperatura não muito extenso, é possível o cálculo de entalpias de sublimação e de vaporização. 4.1.4.2. MICROCALORIMETRIA CALVET Nesta secção será feita uma breve introdução à técnica de microcalorimetria Calvet seguida da importância da realização de ensaios de branco e de calibração nesta técnica. 116 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS 4.1.4.2.1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento de um microcalorímetro de células gémeas por Calvet, em 1948, constitui a base actual da microcalorimetria Calvet [21,22]. Contudo, os princípios em que Calvet se baseou remontam ao ano de 1923, quando Tian utilizou pela primeira vez o princípio de condução de calor na construção de um calorímetro. Ao longo dos anos, o sistema calorimétrico desenvolvido por Calvet .tem sofrido algumas modificações e adaptações, afim de ser melhorada a precisão e a exactidão dos resultados experimentais. A designação de microcalorímetro provém do facto de este aparelho permitir o estudo de um grande número de fenómenos térmicos lentos e a medição de efeitos caloríficos pequenos, associados a processos tais como a adsorção, a dissolução, mudanças de fase, processos biológicos etc. [21]. Com este calorímetro é possível efectuar um estudo termocinético de um fenómeno, a partir da medição do fluxo de calor com o tempo, obtendo-se a relação, dq dt = f (t ) (4.39) onde q. representa o calor e t. o tempo. A partir desta relação poder-se-á definir um termograma, semelhante à curva representada na figura 4.2, cuja integração permitirá determinar a quantidade total de calor inerente a uma dada transformação, fornecendo, assim, uma quantidade termodinâmica básica denominada de variação de entalpia ou variação do conteúdo energético do ENDO Fluxo de calor / mW sistema [21]. tempo / s Figura 4.2 – Curva típica obtida para um processo de transição de fase endotérmico (adaptada de [23]). 117 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS O calorímetro é fundamentalmente constituído por duas células idênticas dispostas simetricamente em duas cavidades, num bloco metálico de elevada capacidade calorífica, controlado isotermicamente, com grande precisão, para uma dada temperatura seleccionada T (figura 4.3). As paredes externas da célula e as paredes internas do bloco metálico constituem, respectivamente, a vizinhança interna (temperatura variável) e a vizinhança externa (temperatura constante e uniforme) dos elementos calorimétricos. Cada cavidade interpõe entre a célula e o bloco metálico duas termopilhas constituídas por um elevado número de termopares idênticos, colocados segundo uma distribuição regular, na parede da célula, cobrindo-a completamente, proporcionando uma elevada sensibilidade e condutividade térmica. Uma destas termopilhas vai permitir detectar qualquer diferença de temperatura entre as vizinhanças internas e externas e a outra termopilha é usada para compensar, por efeito de Peltier (para compensar a libertação de calor inerente a processos exotérmicos) ou de Joule (para compensar a absorção de calor durante processos endotérmicos), as variações de energia na célula, permitindo assim que a temperatura seja sempre constante [21,22]. Figura 4.3 – Esquema do bloco calorimétrico do microcalorímetro Calvet e ampliação da célula com capilar contendo a amostra em estudo. 118 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS Se a distribuição dos termopares em volta da célula for regular, rodeando-a completamente, há uma proporcionalidade directa entre o fluxo total de calor emanado da célula e o sinal obtido pelo calorímetro [22]. É importante referir, que é impossível cobrir toda a célula com junções das termopilhas, como é o caso do topo da célula, onde há uma perda de calor. Para reduzir esta perda de calor, as células usadas são longas e de pequeno diâmetro, de modo a que o topo corresponda a uma pequena percentagem de toda a superfície da célula (ver 4.2.2.2.). Neste trabalho, para a determinação de entalpias de sublimação e vaporização de um grupo de compostos, foi utilizada a técnica de microcalorimetria Calvet, idêntica à técnica de microcalorimetria de sublimação em alto-vácuo, descrita por Skinner .e co-autores, para a sublimação de sólidos [24]. Neste laboratório, a aplicação da microcalorimetria Calvet na medição de entalpias de vaporização, foi iniciada por Ribeiro da Silva e colaboradores, com resultados bastante satisfatórios [25]. Em cada ensaio experimental são utilizados dois tubos capilares de massas muito próximas, com uma diferença máxima de 10.µg. A amostra em estudo é colocada num dos capilares, denominando-se por isso de capilar da amostra, enquanto que o outro capilar, vazio, é denominado de capilar de referência. Os capilares são lançados em simultâneo, à temperatura ambiente, nas respectivas células calorimétricas, colocadas na zona quente do calorímetro mantida à temperatura seleccionada T. O fenómeno térmico em estudo, irá ter lugar apenas numa delas, na célula onde se lançou o capilar da amostra, designando-se por isso de célula da amostra, e a outra célula designa-se de célula de referência. A existência da célula de referência vai permitir compensar os efeitos irregulares de calor [2]. Quando os tubos capilares, na zona quente do calorímetro, atingem a termoestabilidade, a amostra é vaporizada e removida da zona quente do calorímetro por vácuo. Enquanto isso, o fluxo de calor observado nas células da amostra e de referência é registado ao longo do tempo, obtendo-se o termograma. Da integração do termograma obtém-se, assim, a quantidade total de g,T calor inerente à transformação em que há sublimação ou vaporização, ∆ cr,l, 298.15K H m . A partir de variação entálpica total medida para o processo de transição de fase, é possível determinar a entalpia de transição de fase à temperatura de 298.15.K, considerando para isso o termo de correcção para as capacidades caloríficas da fase gasosa (ver 4.4.2.2.). 119 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS 4.1.4.2.2. ENSAIOS DE BRANCO Em cada ensaio é utilizado um par de tubos capilares com massas tão próximas quanto possível. Devido às diferenças de massa entre os capilares e devido às diferentes sensibilidades das duas células face a perturbações térmicas, há a necessidade de efectuar correcções de branco para ter em conta o efeito energético da queda dos tubos capilares em cada ensaio experimental. Nos ensaios de branco, são lançados pares de tubos capilares vazios em ambas as células calorimétricas, registando-se o sinal entálpico resultante. A expressão de cálculo da correcção entálpica dos brancos ∆Hcorr (brancos)./.(mJ), traduzida em (4.20), foi obtida por outros investigadores [23], utilizando capilares com massas compreendidas entre 20 e 30.mg. ( ∆H corr ( brancos ) = a + b m capam + c m capref + d )(T − T ) amb (4.40) onde a = −20,3902 b = −0,88204 c = 0,816818 d = 1,814894 mcapam − massa do capilar da amostra (mg) mcapref − massa do capilar de referência (mg) T Tamb − temperatura seleccionada para a zona quente do calorímetro (K) − temperatura ambiente (K) 4.1.4.2.3. CALIBRAÇÃO O microcalorímetro deve ser calibrado à temperatura de trabalho, utilizando padrões termoquímicos, em condições o mais próximo possível das usadas na transformação em estudo. Na escolha da substância padrão, para a determinação da constante de calibração, κ, dever-se-á atender ao intervalo de temperaturas para o qual o composto é utilizado como calibrante (tabelas 4.1 e 4.2). Neste trabalho, na determinação da constante de calibração para medições de entalpias de vaporização, utilizaram-se as substâncias decano e undecano, enquanto que para medições da entalpia de sublimação utilizou-se o naftaleno. Afim de aproximar as condições da experiência de calibração das condições usadas na determinação das entalpias 120 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS de vaporização, na escolha da substância, além do intervalo de temperaturas, também se considerou qual a substância que possuía a temperatura de ebulição mais próxima dos compostos em estudo. O método de cálculo da constante de calibração, κ, é descrito em 4.4.2.1.. O valor da constante de calibração é posteriormente utilizado no cálculo das entalpias de sublimação e vaporização para cada um dos compostos sólidos e líquidos, respectivamente (4.4.2.2.). Tabela 4.1 – Substância padrão para a medição de entalpias de sublimação. Fórmula molecular C10H8 Substância naftaleno Temperatura de Intervalo de fusão / K temperaturas / K 353.15−355.15 250 − 353 g -1 ∆ cr H m (298.15K) / kJ.mol Classificação 72.51 ± 0.12 [26] Primária Tabela 4.2 – Substâncias padrão para a medição de entalpias de vaporização. Fórmula molecular Substância Temperatura de Intervalo de ebulição / K temperaturas / K g -1 ∆ l H m (298.15K) / kJ.mol Classificação C10H22 decano 447.15 268 − 348 51.42 ± 0.21 [26] Primária C11H24 undecano 469.15 294 − 382 56.58 ± 0.57 [26] Primária 4.1.5. CORRECÇÕES PARA O ESTADO PADRÃO A entalpia de sublimação padrão à temperatura TR , ∆ gcr H mo (TR ) , de um composto cristalino X, define-se como a variação de entalpia associada à sublimação de uma mol de X, descrita pelo processo isotérmico traduzido em (4.41), onde X.(cr) e X.(g) se encontram nos respectivos estados padrão. X (cr) X (g) (4.41) A entalpia de vaporização padrão à temperatura TR , ∆ lg H mo (TR ) , de um composto líquido X, define-se como a variação de entalpia associada à vaporização de uma mol de X, descrita pelo processo isotérmico (4.42), onde X.(l) e X.(g) se encontram nos respectivos estados padrão. X (l) X (g) 121 (4.42) 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS Os estados padrão referidos nos processos isotérmicos (4.41) e (4.42), à temperatura TR , definem-se [2]: − para um sólido, como o estado referente à sua forma cristalina mais estável à pressão de 105 Pa, a essa temperatura; − para um líquido, como o estado correspondente ao líquido puro à pressão de 105 Pa, a essa temperatura; − para um gás, como o estado correspondente ao do gás ideal à pressão de 105 Pa e a essa temperatura, sendo o seu conteúdo entálpico equivalente ao do estado do gás real a pressão nula ,à temperatura TR . A entalpia de transição de fase medida à pressão de saturação do vapor da substância condensada, p v , e à temperatura TR , ∆ gcr,l H m (TR ) , podem ser relacionadas com o correspondente valor padrão, ∆ gcr,l H mo (TR ) , através do ciclo termoquímico representado na figura 4.4. Figura 4.4 – Ciclo termoquímico da relação entre as entalpias de transição de fase a diferentes pressões. Usando a Primeira Lei da Termodinâmica, é possível obter a expressão de cálculo da entalpia de transição de fase padrão, à temperatura TR , ∆ gcr,l H o (TR ) , a partir da entalpia de transição de fase medida experimentalmente à mesma temperatura e à pressão de vapor de g saturação da substância, ∆ cr,l H (TR ) : 122 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS ∆ gcr,l H o (TR ) = ∆ H 1 (TR ) + ∆ gcr,l H (TR ) + ∆ H 2 (TR ) (4.43) As quantidades ∆ H 1 (TR ) e ∆ H 2 (TR ) podem ser estimadas a partir da integração da equação termodinâmica (4.44), sendo necessário considerar os limites de integração de cada um dos termos, o que resulta nas expressões (4.45) e (4.46). ∂H ∂p ∂V = − T m + V m ∂T p T (4.44) onde T = TR , pv ∆H 1 (TR ) = − TR 5 (4.45) ∂V m +Vm d p − TR ∂T p (4.46) ∫ 10 0 ∆H 2 (TR ) = dp ∫ pv ∂V m ∂T +Vm p Na expressão (4.45) V.m..representa o volume molar da fase condensada, sólido ou líquido, conforme se tratar de um processo de sublimação ou vaporização, respectivamente, enquanto que na expressão (4.46) V m.representa o volume molar da fase gasosa. Para a resolução da equação (4.45) é considerado que, para uma mole de um composto −4 3 orgânico sólido ou líquido, o valor do integrando é da ordem de, aproximadamente, 10 .m , podendo ser considerado independente da pressão, obtendo-se, assim, a expressão (4.47) [2]. ( )(10 ∆H 1 (TR ) = 10 −4 5 − pv ) (4.47) Do mesmo modo, para a resolução da expressão (4.46) é considerado que, para uma mole de vapor orgânico, o valor do integrando estará compreendido entre 10 −3 e 10 −2 3 m , sendo considerado independente da pressão, resultando, assim, a expressão (4.48) que fornece um intervalo para o valor do termo ∆H 2 (TR ) ( − 10 −3 ) [2]. ( p v 〈 ∆H 2 (T1 ) 〈 − 10 −2 pv ) (4.48) . A contribuição dos termos ∆ H 1 (TR ) e ∆ H 2 (TR ) na equação (4.43) dependerá da grandeza do valor de p.v. Assim, da análise da expressão (4.47), verifica-se que o termo ∆ H 1 (TR ) terá um 123 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS valor máximo da ordem de 10.J, para p.v.=.0. Atendendo a que, para a maioria dos compostos 5 orgânicos, a ordem de grandeza de ∆ gcr,l H (TR ) é de 10 .J e que a incerteza associada aos erros 1 3 experimentais da sua determinação se situa, normalmente, entre, 10 e 10 .J, a contribuição do termo ∆ H 1 (TR ) é desprezável relativamente a ∆ gcr,l H (TR ) . Quanto à contribuição do termo ∆ H 2 (TR ) , para substâncias com p.v.<.104.Pa o seu valor é desprezado, contudo, para substâncias com. 104 Pa.<.p.v.<.105.Pa, a grandeza de ∆ H 2 (TR ) estará compreendida entre –100 e –10.J, podendo-se cometer um erro ao desprezar a contribuição deste termo na equação (4.43) [2]. Atendendo a que, a maioria dos compostos orgânicos, para uma temperatura de 4 298.15.K, possuem pressões de vapor menores que 10 .Pa, os termos ∆ H 1 (TR ) e ∆ H 2 (TR ) , podem ser desprezados na equação (4.43), sem introduzir erros significativos, obtendo-se, assim, a expressão (4.49), que será utilizada nesta dissertação. g o g ∆ cr,l H (TR ) ≈ ∆ cr,l H (TR ) (4.49) 4.1.6. VARIAÇÃO DAS ENTALPIAS DE SUBLIMAÇÃO E VAPORIZAÇÃO COM A TEMPERATURA O conhecimento do efeito da temperatura na variação da entalpia associada a uma transição de fase é de extrema importância, pois normalmente as entalpias de sublimação e vaporização são medidas a uma temperatura superior à temperatura de referência, TR = 298.15 K , determinada pela volatilidade da substância em estudo. Utilizando o ciclo termoquímico representado na figura 4.5 é possível relacionar as entalpias de sublimação e vaporização molares padrão determinadas experimentalmente à temperatura média de trabalho, Tm , ∆ gcr,l H mo (Tm ) , com as entalpias de sublimação e vaporização padrão à temperatura de 298.15.K. As capacidades caloríficas padrão, das fases condensada e gasosa o o estão representadas por C p ,cr,l e C p ,g , respectivamente. Atendendo ao ciclo termoquímico, obtém-se a equação (4.50). Esta equação, geralmente referida como a equação de Kirchhoff, permite o cálculo da entalpia de transição de fase à temperatura de 298.15.K quando é conhecido o valor da entalpia de transição de fase à temperatura Tm . 124 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS g o g o ∆ cr,l H m (298,15 K) = ∆ cr,l H m (Tm ) + ∫ (Cp ,cr,l − Cp ,g )dT Tm o o (4.50) 298,15 Figura 4.5 – Ciclo termoquímico da dependência das entalpias de transição de fase com a temperatura. Integrando a expressão anterior, considerando que as capacidades caloríficas padrão são independentes da temperatura, no intervalo considerado, obtêm-se as expressões de determinação de entalpias molares de sublimação e vaporização padrão, (4.51) e (4.52), respectivamente. g o g o [ o o ][ ∆ cr H m (298.15 K) = ∆ cr H m (Tm ) + Cp ,cr − Cp ,g Tm − 298.15 g o g o [ o o ][ ∆l H m (298.15 K) = ∆l H m (Tm ) + Cp ,l − Cp ,g Tm − 298.15 ] ] (4.51) (4.52) A grande dificuldade que poderá estar associada ao uso das expressões (4.51) e (4.52) é a falta dos valores disponíveis para as capacidades caloríficas. Alternativamente, a capacidade calorífica dos gases pode ser estimada por um método de grupos aditivo ou calculada a partir da mecânica estatística [27,28], enquanto que, as capacidades caloríficas para sólidos e líquidos podem ser estimadas por método de grupos [29,30]. Quando um composto, sólido ou líquido, se encontra à temperatura de 298.15.K e o respectivo processo de sublimação e vaporização se dá à temperatura de Tm , as entalpias de transição de fase à temperatura de 298.15.K, podem ser derivadas da variação total medida para 125 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.1. PRINCÍPIOS GERAIS T o o processo, ∆ g, cr,l, 298.15K H m , a partir das equações (4.53) e (4.54), para o processo de sublimação e vaporização, respectivamente, deduzidas a partir do ciclo termoquímico da figura 4.5. g o g,Tm o g,Tm [ o o ] o ∆cr H m (298.15K) = ∆cr, 298.15K H m − H Tm − H 298.15K (g) g [ o o o ] ∆ l H m (298.15 K) = ∆ l, 298.15K H m − H Tm − H 298.15K (g) [ ] o (g) representa a correcção entálpica em fase gasosa. onde o termo H Tom − H 298.15K 126 (4.53) (4.54) 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO 4.2. EQUIPAMENTO 4.2.1. MÉTODO DE EFUSÃO DE KNUDSEN O sistema de efusão de Knudsen utilizado neste trabalho foi recentemente desenhado, construído e testado neste laboratório. O bom funcionamento em termos de exactidão e precisão do novo sistema foi confirmada medindo as pressões de vapor, entre 0.1 e 1.Pa, para intervalos de temperaturas de 20.K, dos seguintes compostos: ácido benzóico, fenantreno, antraceno, benzatroeno e 1,3,5-trifenilbenzeno [9]. Este sistema permite a operação simultânea de nove células de efusão, divididas em três grupos de três células com orifícios de diferentes áreas, mantidas a uma dada temperatura controlável para cada um dos conjuntos de células. Assim, num único ensaio experimental, são determinadas as pressões de vapor da substância para três valores diferentes de temperatura. Na figura 4.6 encontra-se a representação esquemática do sistema de efusão de Knudsen utilizado, apresentando-se de seguida a sua legenda. . Figura 4.6 – Representação esquemática do novo sistema de efusão de Knudsen [9]. 127 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO Legenda da figura 4.6: a − manómetro Edwards Active Inverted Magnetron AIM-S b − bomba difusora de óleo Edwards Cryo-Cooled Diffstak CR160 c − bomba rotativa Edwards RV12 d − válvula de diafragma Edwards IPV40 MKS e − manómetro Edwards Active Pirani APG-M f − “cold-finger” para o azoto líquido g − válvulas Speedivalves Edwards SP25K h − válvula de admissão de ar AV10K i − válvula de teflon para admissão de ar J. Young ALS1 j − blocos de alumínio (fornos) k − sistema de aquisição de dados Agilent 34970A l − câmara de sublimação m − controladores de temperatura PID Omron E5CN n − computador com programa de aquisição de dados O sistema de efusão, em termos funcionais e estruturais, pode ser dividido em quatro partes: células de efusão, câmara de sublimação e linha de vidro, controlo e medição da temperatura e sistema de vácuo. Nesta secção irá ser feita uma breve descrição de cada uma das partes. 4.2.1.1. CÉLULAS DE EFUSÃO As células de efusão apresentam uma forma cilíndrica e são feitas em alumínio maciço. No topo de cada célula enrosca uma tampa de alumínio com um orifício central de 10.mm de diâmetro. Por sua vez, em cada tampa é colocada uma lâmina de platina muito fina, de 21.mm de diâmetro e espessura 0.0125.mm, com um orifício de efusão no centro. Na tabela 4.3, são apresentados os valores dos diâmetros e das áreas dos orifícios das células de efusão, utilizadas neste trabalho, bem como os respectivos factores de Clausing, calculados a partir da expressão (4.8). 128 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO Tabela 4.3 – Valores do diâmetro e da área de cada célula de efusão e correspondentes factores de Clausing. orifícios pequenos orifícios médios orifícios grandes ωo Célula Diâmetro / mm Ao / mm A1 0.7998 0.5024 0.9884 A2 0.8050 0.5090 0.9885 A3 0.8160 0.5230 0.9886 B4 0.9924 0.7735 0.9906 B5 0.9986 0.7832 0.9907 B6 1.0040 0.7917 0.9907 C7 1.1830 1.0992 0.9921 C8 1.1970 1.1253 0.9922 C9 1.2000 1.1310 0.9922 2 As dimensões internas das células de efusão têm um diâmetro de 20.mm e uma altura de 23.mm, enquanto que, as dimensões externas das células são semelhantes às dimensões das cavidades existentes nos blocos de alumínio, diâmetro de 23.mm e altura de 27.mm (figura 4.7). Figura 4.7 – Esquema da célula de efusão vista de topo e de lado [9]. 4.2.1.2. CÂMARA DE SUBLIMAÇÃO E LINHA DE VIDRO Cada célula de efusão é colocada numa das três cavidades existentes em cada bloco de alumínio. Os três blocos de alumínio fazem parte do sistema de termostatização e 129 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO encontram-se dentro da câmara de sublimação, apoiados numa base deslizante de alumínio, (figura 4.8). Legenda: a − blocos de alumínio maciço b − plataforma deslizante de alumínio c − cold finger para o azoto líquido d − abraçadeira e − o-ring de neopreno f − tubo cilíndrico de vidro de borossilicatos g − cavidades das células de efusão h − células de efusão …. Figura 4.8. – Representação esquemática da câmara de sublimação, vista de topo e de lado [9]. . A câmara de sublimação é constituída por um tubo cilíndrico de vidro de borossilicatos, com 296.mm de diâmetro, 360.mm de altura e 5.mm de espessura. Possui uma tampa de alumínio no topo e está apoiada sobre uma base deslizante de alumínio, para facilitar a montagem e desmontagem do sistema. Para evitar contaminações de compostos nas bombas, a ligação de vidro, entre o sistema de vácuo e a câmara de sublimação, é feita por um cold-finger, onde se coloca aproximadamente 3 400.cm de azoto líquido, fazendo com que o composto sublimado condense, no cold-finger. 130 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO As junções alumínio-vidro são asseguradas com o-ring de neopreno. 4.2.1.3. CONTROLO E MEDIÇÃO DA TEMPERATURA Cada bloco de alumínio contém três cavidades com dimensões próximas das dimensões externas das células de fusão. Estes podem ser aquecidos até à temperatura desejável, por duas resistências eléctricas da Ari, modelo Aerorod BXX, de 115.Ω ligadas em paralelo a uma tensão de alimentação. A temperatura de cada bloco é mantida constante por um controlador PID Omron E5CN, ao qual está ligado um termómetro de platina Pt-100, colocado próximo do elemento de aquecimento como se verifica na figura 4.9. A temperatura das três células de efusão, existentes em cada bloco, é medida por um termómetro de platina Pt-100, colocado na parte central, perto da base das cavidades que contêm as células de efusão. O termómetro está ligado a um sistema de aquisição automático de dados, controlado por um multímetro, Agilent 34970A, que por sua vez está ligado a um computador que faz o registo contínuo das temperaturas, ao longo da experiência, com uma resolução de 0.001.K. Cada bloco está assente em três pilares de cerâmica, de modo a minimizar a condução de calor dos blocos para a base da câmara de sublimação, evitando perturbações na termostatização das células. 4.2.1.4. SISTEMA DE VÁCUO O sistema de vácuo é constituído fundamentalmente por duas bombas de vazio, a bomba rotatória e a bomba difusora. A bomba rotatória, modelo Edwards RV12, assegura a evacuação do sistema e serve de apoio à bomba difusora de óleo, Cryo-Cooled Diffstak CR160 da Edwards, que vai proporcionar um vazio fino. Esta última está ligada a uma trap para azoto líquido com uma capacidade de 3 6 dm de azoto líquido. 131 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO A medição do pré-evacuamento é feita através do manómetro Edwards Active Pirani APG-M, e a medição do vazio fino é feita por um manómetro Edwards Active Inverted Magnetron AIM-S. -4 -5 O sistema de vácuo permite alcançar pressões abaixo de 5×10 até 5×10 Pa. . Legenda: a - termómetro de platina Pt-100 ligado ao controlador PID b - termómetro de platina Pt-100 para medição da temperatura c – base de alumínio d – cavidade das células e – elementos circulares de aquecimento f – blocos de alumínio g – pilar de cerâmica h – ligação dos elementos de aquecimento i – ligação do termómetro j – células de efusão Figura 4.9 – Representação esquemática dos blocos de alumínio, vista de topo e de lado [9]. 4.2.2. MICROCALORÍMETRO CALVET O microcalorímetro Calvet utilizado neste trabalho foi recentemente instalado e testado neste laboratório, tendo o seu bom funcionamento sido confirmado pela medição de entalpias de 132 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO sublimação, a diferentes temperaturas, dos seguintes compostos: ferroceno, ácido benzóico e antraceno [23]. Na figura 4.10 encontra-se a representação esquemática deste sistema calorimétrico, que, em termos funcionais e estruturais, pode ser dividido em quatro partes: bloco calorimétrico, células calorimétricas, controlo e medição de temperatura e sistema de vácuo. Segue-se uma breve descrição de cada uma das partes. D I E F B C G H A A – bomba rotatória de vácuo F – células calorimétricas B – bomba difusora de vácuo G – bloco isotérmico C – trap de vidro H – bloco calorimétrico HT1000D D – manómetros Pirani e Penning I – válvula E – linha de vácuo Figura 4.10 – Representação esquemática do novo sistema de microcalorimetra Calvet [23]. 4.2.2.1. BLOCO CALORIMÉTRICO O bloco calorimétrico do calorímetro Calvet foi comercializado pela Setaram (modelo -1 HT1000D), apresentando uma sensibilidade de 3.µV.mW . Como é possível visualizar na figura 4.10, o bloco isotérmico (G), de elevada capacidade calorífica, controlado isotermicamente para uma dada temperatura seleccionada, possui duas cavidades que se encontram dispostas no centro do bloco e onde são introduzidas as células calorimétricas (F). Cada cavidade interpõe, 133 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO entre a célula e o bloco isotérmico, 496 termopares (Pt-Pt/Rh) agrupados em 16 camadas (cada camada possui 31 termopares), colocadas segundo uma distribuição regular, de forma a rodear por completo a célula calorimétrica. 4.2.2.2. CÉLULAS CALORIMÉTRICAS Na figura 4.11, está representado o esquema de uma das células calorimétricas, atendendo a que estas são idênticas. A célula calorimétrica é feita de vidro pyrex, e tem a forma de um cilindro, de diâmetro interno de 12.mm e comprimento de 50.mm. Encontra-se dentro de um cilindro de kanthal (B), que proporciona um bom contacto térmico com a zona quente. Cada uma das células possui um prolongamento até ao exterior do bloco calorimétrico (C), também em vidro pyrex, através do qual é feita a ligação à linha de vácuo (D). E F D G C A – célula calorimétrica A B – cilindro de kanthal C – prolongamento das células calorimétricas D – linha de vácuo E – ligação à linha de vácuo B F – tampa do prolongamento da célula calorimétrica G – tubo de vidro Figura 4.11 – Esquema de uma das células calorimétricas do microcalorímetro Calvet e ampliações da célula calorimétrica e do topo do prolongamento da célula calorimétrica (adaptada de [23]). Quando se trabalha com compostos menos voláteis, quando estes volatilizam e são removidos da zona quente por vácuo, tendem a cristalizar nas paredes do prolongamento das células calorimétricas, impossibilitando, assim, outras medições. Afim de ultrapassar esta 134 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.2. EQUIPAMENTO limitação, foi colocado um tubo de vidro (G) ao longo do prolongamento das células, com ambas as extremidades abertas, de fácil remoção, afim de proceder à sua limpeza, sem perturbar significativamente o equilíbrio térmico das células. 4.2.2.3. CONTROLO E MEDIÇÃO DA TEMPERATURA O controlo e medição da temperatura do sistema calorimétrico é feito por um sistema de controlo G11. Este sistema também tem a função de amplificar e digitalizar o sinal proveniente dos termopares. O sinal obtido à saída do calorímetro, como resultado do fluxo de calor, φ, observado nas células calorimétricas, é uma diferença de potencial (µV) que é convertida em unidades de energia a partir da expressão (4.55), onde S representa o coeficiente de sensibilidade, obtido a partir da calibração do calorímetro a diversas temperaturas [23]. φ (mW) = φ ( µV) S (4.55) 4.2.2.4. SISTEMA DE VÁCUO O sistema de vácuo é constituído por duas bombas, a bomba rotatória (Edwards, modelo RV5) e a bomba difusora (Edwards, modelo Diffstak 63) (figura 4.10). A bomba rotatória faz uma pré-evacuação do sistema, antecipando um vazio mais eficaz proporcionado pela bomba difusora. Estão acoplados ao sistema de vácuo dois manómetros, o manómetro Pirani (Edwards, modelo APG-M) utilizado para medir o vácuo durante o pré-evacuamento e o manómetro Penning (Edwards, modelo AIM-S) utilizado para medir o vácuo do sistema durante o processo de transição de fase. Numa posição central da linha de vácuo, existe uma válvula (I) que, depois de aberta, permite que se faça vazio nas células calorimétricas. Entre a linha de vácuo e o sistema de bombas de vazio é colocada uma trap de vidro (C), que por sua vez é refrigerada num dewar contendo azoto líquido, permitindo condensar os vapores de compostos que provêm da célula contendo a amostra, evitando a sua passagem para o sistema de bombas. 135 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. PROCEDIMENTO 4.3. PROCEDIMENTO 4.3.1. MÉTODO DE EFUSÃO DE KNUDSEN Para a determinação das pressões de vapor de um dado composto, utilizando o método de efusão de Knudsen, é necessário atender a uma sequência de procedimentos obrigatórios e essenciais: − preparação das células de efusão; − operações preliminares; − processo de transição de fase. 4.3.1.1. PREPARAÇÃO DAS CÉLULAS DE EFUSÃO O composto antes de ser introduzido nas células é devidamente pulverizado. São colocadas diferentes quantidades de composto nas células de efusão, aproximadamente 200, 250 e 350 mg para células com os orifícios pequenos, médios e grandes, respectivamente. A amostra é, então, comprimida dentro da célula, utilizando um pistão, de modo a obter uma superfície uniforme para melhorar o contacto térmico. As células contendo a amostra são, então, pesadas numa balança analítica (Mettler AE163, precisão ± 10-5 g). 4.3.1.2. OPERAÇÕES PRELIMINARES E PROCESSO DE SUBLIMAÇÃO No conjunto de operações preliminares ao processo de sublimação é necessário atender a certos procedimentos pela seguinte ordem: − programar o sistema de termostatização (m) (ver figura 4.6); − ligar o sistema de bombas (b) e (c) (ver figura 4.6); 136 para a temperatura desejada 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. PROCEDIMENTO − lubrificar as células de efusão com uma fina camada de Apiezon L e colocar cada uma das células, na cavidade dos fornos (g), no respectivo lugar (ver figura 4.8); − colocar o tubo cilíndrico de vidro de borossilicatos (f) e a tampa de alumínio (ver figura 4.8); − controlar a temperatura dos fornos através do sistema de aquisição (k) ligado ao computador (n) (ver figura 4.6); − quando as células são aquecidas até à temperatura desejada, é colocado o cold-finger (f), e quando se verifica a estabilização térmica das células, é possível fazer a ligação da câmara de sublimação (l) com o sistema de vácuo usando a válvula de diafragma IPV40 MKS (d), procedendo, então, a uma pré-evacuação (ver figura 4.6); − logo de seguida, a válvula de diafragma é fechada e é necessário que a temperatura das células estabilize novamente. Para dar início ao processo de sublimação, é feito, novamente, uma evacuação e quando a pressão é menor do que 10.Pa é colocado azoto líquido no cold-finger (f). Por seu lado quando a pressão atinge 1.Pa dá-se início à contagem do tempo de efusão (ver figura 4.6). Após terminar o período de tempo de efusão estabelecido, a válvula de diafragma (d) é fechada e é permitida a entrada de ar dentro da câmara de sublimação, utilizando a válvula de teflon J. Young ALS1 (i) (ver figura 4.6). O registo do tempo de efusão termina, assim, imediatamente. O sistema é desmontado, as células de efusão são cuidadosamente limpas e, quando estas arrefecerem até à temperatura ambiente e estabilizarem, são, pesadas usando uma balança analítica (Mettler AE163). No final de cada experiência, obtém-se, assim, a massa de composto efundida em cada célula de efusão e a temperatura média registada em cada conjunto de células de efusão. O primeiro ensaio não é considerado para fins quantitativos, pois é um ensaio prévio, cujo objectivo é o de provocar a efusão de partículas alojadas nas paredes interiores da célula e eliminar possíveis partículas soltas na superfície da amostra compactada. 137 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. PROCEDIMENTO 4.3.2. MICROCALORIMETRIA CALVET A determinação das entalpias de sublimação ou vaporização, utilizando a microcalorimetria Calvet, é sujeita a uma sequência de procedimentos obrigatórios e essenciais: − preparação e selecção dos tubos capilares de vidro fino; − operações preliminares; − processo de transição de fase. 4.3.2.1. PREPARAÇÃO E SELECÇÃO DOS TUBOS CAPILARES DE VIDRO FINO Os tubos capilares de vidro fino utilizados são preparados a partir de capilares de maior comprimento, sendo uma das suas extremidades fechada. Numa microbalança (Microbalance Mettler-Toledo UMT2) com uma resolução de ± 0,1 µg, determinam-se as respectivas massas dos tubos capilares preparados, seleccionando-se os que têm massas compreendidas entre 19 e 30 mg. Em cada par de tubos capilares utilizados (mcapref e mcapam), as massa não devem diferir mais do que 10 µg. 4.3.2.2. OPERAÇÕES PRELIMINARES E PROCESSO DE TRANSIÇÃO DE FASE No conjunto de operações preliminares ao processo de transição de fase, é necessário atender a certos procedimentos pela seguinte ordem: − ligar o sistema de bombas de vácuo (A) e (B) (ver figura 4.10); − colocar a trap de vidro (C), num dewar contendo azoto líquido (ver figura 4.10); − determinar com rigor as massas do par de tubos capilares, na microbalança (Microbalance Mettler-Toledo UMT2); − colocar a amostra em estudo no capilar da amostra, com todos os cuidados inerentes; − pesar o conjunto, amostra mais capilar, na microbalança. 138 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. PROCEDIMENTO Com o sistema calorimétrico estabilizado e efectuados os passos anteriores, é possível dar início à aquisição de dados para definir a linha de base do termograma, para o estudo do processo de transição de fase. Os tubos são, então, lançados simultaneamente nas respectivas células calorimétricas, procedendo-se de seguida, ao isolamento das células com o exterior, pela sua ligação à linha de vácuo. A pressão é verificada nos manómetros Pirani e Penning (D) (ver figura 4.10). No final do ensaio, cessa-se a aquisição de dados, fecha-se a válvula que se encontrava a meio da linha de vazio e retiram-se as ligações de vidro entre o sistema calorimétrico e a linha de vazio. No final de cada experiência obtém-se, assim, a massa de amostra, a quantidade de calor total envolvida no processo de transição de fase e a temperatura da experiência. 139 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS 4.4. TRATAMENTO DOS RESULTADOS EXPERIMENTAIS 4.4.1. MÉTODO DE EFUSÃO DE KNUDSEN A partir dos resultados experimentais obtidos é feito o cálculo da pressão de vapor de cada uma das células de efusão a partir da equação (4.5), utilizando o factor de Clausing correspondente a cada uma das células (tabela 4.3). De seguida, é feita a representação gráfica de ln.p em função de 1/.T, para cada conjunto de valores obtidos nos ensaios com as células de efusão de orifícios pequenos, médios e grandes, procedendo-se também à representação gráfica conjunta de todos os valores obtidos. A construção destes quatro gráficos, para cada composto, tem como objectivo analisar os resultados obtidos para os orifícios de vários tamanhos comparativamente com os resultados globais. 4.4.1.1. DETERMINAÇÃO DA ENTALPIA MOLAR DE SUBLIMAÇÃO PADRÃO A partir da regressão linear efectuada em cada um dos gráficos, obtém-se os parâmetros a e b da equação de Clausius-Clapeyron (equação 4.37), ln ( p / Pa ) = a − b ( K / T ) , sendo g g b = ∆ cr H m ( Tm ) / R . Assim, o valor de ∆ cr H m ( Tm ) é igual ao produto do declive obtido na representação gráfica pela constante dos gases. Atendendo às correcções para o estado padrão, facilmente se obtém a entalpia molar de sublimação padrão à temperatura média, utilizando a expressão (4.49) deduzida em 4.1.5. g o g ( ∆ cr,l H (TR ) ≈ ∆ cr,l H (TR ) ). A expressão (4.56), equivalente à equação integrada de Kirchhoff (4.51), deduzida anteriormente em 4.1.6., permite determinar a entalpia de sublimação padrão à temperatura de 298.15 K. g o g o g o [ ∆ cr H m (298.15 K) = ∆ cr H m (Tm ) − ∆ cr C p ,m Tm − 298.15 140 ] (4.56) 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS Neste trabalho, o valor utilizado para a diferença média das capacidades caloríficas foi de g o −1 −1 ∆ cr Cp ,m = − (50 ± 20)JK mol , um valor tipicamente utilizado para compostos orgânicos sólidos [31]. 4.4.1.2. DETERMINAÇÃO DA ENTROPIA E ENERGIA DE GIBBS MOLARES DE SUBLIMAÇÃO PADRÃO g A entropia molar de sublimação, à temperatura e pressão média, ∆ cr S m ( Tm, p m ) , pode ser determinada a partir da expressão (4.57), obtida em condições de equilíbrio. g ∆ H (T ) ∆ cr S m ( Tm, p m ) = cr m m Tm g (4.57) Considerando uma mole de um dado composto num processo de sublimação que passa de um dado estado A para um estado B, caracterizados respectivamente por, pm, Tm, e p.º, T.=.298.15.K, é possível determinar a variação de entropia de sublimação do estado A para o estado B, a partir da expressão (4.58). g o g ∆ cr S m ( 298.15 K ) − ∆ cr S m ( Tm, p m ) = 298.15 ∫ Tm dT ∆ cr C p ,m − T g o p o ∫R pm dp p (4.58) Da integração da expressão anterior, obtém-se a expressão de cálculo da entropia molar de sublimação padrão, à temperatura de 298.15 K, traduzida em (4.59). 298.15 g o g g o p ∆ cr S m ( 298.15 K ) = ∆ cr S m ( Tm , p m ) + R ln m + ∆ cr C p,m ln pº Tm (4.59) A energia de Gibbs molar de sublimação padrão, à temperatura de 298.15 K, é determinada a partir dos valores de entalpias molares de sublimação e de entropia de sublimação padrão, utilizando a expressão (4.60). g o g o g o ∆ cr Gm ( 298.15 K ) = ∆ cr H m ( 298.15 K ) − (298.15) ∆ cr S m ( 298.15 K ) 141 (4.60) 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS 4.4.2. MICROCALORIMETRIA CALVET Em microcalorimetria Calvet, o processo de transição de fase (sublimação ou vaporização) que decorre na célula da amostra, a uma dada temperatura T, é traduzido na equação química (4.61), cuja variação de entalpia corresponde a ∆ gcr,l H (T ) . X (cr ou l, T ) ∆g l H (T ) cr, → X (g, T ) (4.61) g,T Contudo a entalpia medida, ∆ cr,l, 298.15K H m , corresponde ao processo traduzido em (4.62). ∆ l, 298.15K H m cr, → g, T X (cr ou l, 298.15 K) X (g, T ) (4.62) A partir da integração do termograma obtido em cada ensaio experimental, é possível calcular a energia envolvida no processo de transição de fase, recorrendo para isso ao programa disponível no sistema informático do laboratório. Por questões de simplicidade, o termo ∆ g,cr,Tl, 298.15K H m irá ser representado por ∆ H observ . 4.4.2.1. CALIBRAÇÃO A execução experimental de um ensaio de calibração é idêntica à execução de um ensaio normal. Assim, a partir da integração do termograma obtido em cada ensaio de calibração, obtém-se a energia envolvida no fenómeno térmico, ∆ H observ . A contribuição da diferença de massa dos tubos capilares usados em cada ensaio e das diferentes sensibilidades das duas células de medição face a perturbações térmicas, têm que ser considerados no valor de entalpia de transição de fase medido, ∆ H observ . O termo da correcção entálpica dos brancos, ∆H corr (brancos) , determinado a partir da expressão (4.40) é, assim, considerado no valor de entalpia de transição de fase medido, obtendo-se o valor entálpico corrigido ∆H corrigido . ∆H corrigido = ∆H observ + ∆H corr (brancos) 142 (4.63) 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS O termo [H o T o − H 298,15 K ] (g) é obtido a partir dos valores fornecidos por Stull e co-autores [33]. A entalpia de transição de fase (sublimação ou vaporização) do calibrante, g ∆ cr,l H m (calibrant e,T ) , para a referida temperatura de trabalho é calculado, recorrendo ao valor de entalpia de transição de fase para a temperatura de 298.15 K, (ver 4.1.4.2.3 ) é dada pela expressão (4.64). [ g o o ∆ cr,l H m (calibrante , T ) = H T − H 298.15 K ] (g) + ∆ g cr,l o H m (298.15 K ) (4.64) Assim, atendendo à temperatura de cada ensaio experimental, T, é possível calcular a constante de calibração para cada um dos ensaios, através da expressão, κ g ∆ H (calibrante,T ) × m am = cr,l m ∆H corrigido × M (4.70) onde mam − massa de calibrante M − massa molar do composto O valor médio da constante de calibração, κ , resultante dos valores obtidos em vários ensaios realizados, determinado para uma dada temperatura, utilizando uma substância padrão, utilizando o padrão de referência adequado, é posteriormente considerado no cálculo das entalpias de sublimação e vaporização dos compostos derivados da piridina. 4.4.2.2. DETERMINAÇÃO DAS ENTALPIAS MOLARES DE SUBLIMAÇÃO E VAPORIZAÇÃO PADRÃO Atendendo ao que foi referido anteriormente, a contribuição da diferença de massa dos tubos capilares usados em cada ensaio experimental e a contribuição das diferentes resposta de sensibilidade das duas células de medição face a perturbações térmicas, têm que ser consideradas no valor da entalpia de vaporização observado, ∆ H observ . O valor da correcção 143 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.3. TRATAMENTO DE RESULTADOS EXPERIMENTAIS entálpica dos brancos, ∆H corr (brancos) , obtido a partir da expressão (4.40), é assim considerado no valor de energia total medido, obtendo-se o valor de ∆H corrigido , expressão (4.63). O valor da entalpia de transição de fase (sublimação ou vaporização) observada é calculado a partir da expressão, g,T ∆ cr,l, 298.15K H m = κ × ∆H corrigido × M (4.64) m am onde κ − constante de calibração M − massa molar do composto ∆H corrigido − valor entálpico corrigido mam − massa do composto submetido a estudo termoquímico Atendendo às correcções para o estado padrão (ver 4.1.5.), obtém-se a entalpia molar de transição fase padrão, utilizando a expressão (4.65). g,T g,T º ∆ cr,l,298.15K H m ≈ ∆ cr,l,298.15K H m (4.65) As formas de cálculo das entalpias de sublimação e vaporização molar padrão a 298.15 K, estabelecidas a partir do ciclo termoquímico da figura 4.5, são apresentadas nas expressões (4.6) e (4.67), respectivamente. g o g,T o g,T [ o o ] o ∆ cr H m (T = 298.15 K) = ∆ cr,298.15K H m − H T − H 298.15K (g) g o ∆ l H m (T = 298.15 K) = ∆ l,298.15K H m onde, [H o T o − H 298.15 K [ o o − H T − H 298.15K ] (g) (4.66) (4.67) ] (g) , representa o termo entálpico de correcção relativo à diferença de capacidades caloríficas em fase gasosa. Este termo é estimado por um método de grupos, atendendo aos valores fornecidos por Stull e co-autores [33]. 144 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS 4.5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS Nesta secção são apresentados os resultados obtidos nos estudos realizados para a determinação de entalpias de transição de fase, pelo o método de efusão de Knudsen ou por microcalorimetria Calvet. O intervalo de incerteza associado a um conjunto de determinações repetidas de uma grandeza, corresponde a duas vezes o desvio padrão da média correspondente, traduzida na expressão (3.63), transcrita de seguida: n 2 ∑ (Xi − X ) i =1 σ = n (n − 1) 12 onde, n é o número de ensaios, X é o valor médio e X i é o valor individual. Por sua vez, o intervalo de incerteza associado a cada um dos parâmetros é determinado pela equação de propagação dos erros (4.68). σ 2 f ( xi ) = ∑ i ∂f ∂xi 2 (∆x ) i 2 (4.68) 4.5.1. MÉTODO DE EFUSÃO DE KNUDSEN ………. De seguida vão ser apresentados, para as ureias acíclica e cíclicas estudadas pelo método de efusão de Knudsen, os resultados experimentais obtidos e o respectivo tratamento atendendo a 4.4.1. 4.5.1.1. UREIA ACÍCLICA Na tentativa de determinar da entalpia de sublimação da ureia acíclica, 3,4,4’-triclorocarbanilida, esta foi estudada pelo método de efusão de Knudsen numa gama de 145 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS temperaturas de 180 ºC a 190 ºC, obtendo-se pressões de vapor entre 0.15 e 0.48 Pa. Contudo, os resultados eram bastante díspares, devido ao facto de se ter verificado em algumas células de efusão que o composto condensava na tampa da célula de efusão, junto ao orifício, obstruindo mesmo a efusão do composto para o sistema em vácuo e, consequentemente, impossibilitando o seu estudo pelo método de efusão de Knudsen. 4.5.1.2. UREIAS CÍCLICAS Os ensaios experimentais, para cada uma das quatro ureias cíclicas estudadas por esta técnica, foram realizados numa gama de pressões compreendidas entre 0,1 e 1,0.Pa. Os resultados experimentais obtidos e as pressões de vapor calculadas para cada um dos compostos, encontram-se registados nas tabelas 4.4 a 4.7. Cada tabela é seguida de um conjunto de quatro figuras (figuras 4.12 a 4.15, 4.16 a 4.19, 4.20 a 4.23 e 4.24 a 4.27), relativas às representações gráficas de ln.p em função de 1/T, para cada conjunto de valores obtidos nos ensaios de estudo de cada composto, com as células de efusão de orifícios pequenos, médios e grandes e a representação gráfica conjunta de todos os resultados obtidos. Na tabela 4.8 estão registados os parâmetros a e b da equação de Clausius-Clapeyron obtidos a partir da regressão linear efectuada em cada um dos gráficos, para cada composto, e os respectivos valores calculados de entalpia de sublimação à temperatura média e de entropia de sublimação à temperatura e pressão médias. Substituindo os parâmetros a e b, obtidos nos resultados globais, na equação de Clausius-Clapeyron, e propondo valores de pressão compreendidos entre 0.1 e 1.0.Pa é possível obter as respectivas temperaturas de equilíbrio, para cada um dos compostos, registadas na tabela 4.9. Por fim na tabela 4.10 são apresentados os valores molares padrão de entalpia, entropia e energia de Gibbs à temperatura de 298.15.K, bem como a pressão de vapor à referida temperatura, para cada um dos compostos. 146 t/s 20252 20252 20252 15980 15980 15980 11775 11775 11775 10681 10681 10681 T/K 327.20 329.21 331.14 333.19 335.21 337.15 339.20 341.21 343.14 345.19 347.20 349.16 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 células 11.3 9.17 8.05 7.08 5.95 5.21 5.28 4.62 3.85 3.66 3.11 2.50 mA 147 17.37 14.65 12.12 11.16 9.70 8.11 8.70 7.37 5.97 5.76 4.67 3.83 mB m / mg 23.97 19.99 16.76 15.16 13.64 11.02 12.33 10.03 8.17 8.17 6.60 5.28 mC 0.9806 0.7833 0.6672 0.5525 0.4570 0.3883 0.3010 0.2592 0.2095 0.1631 0.1364 0.1064 pA 0.9769 0.8114 0.6621 0.5644 0.4831 0.3984 0.3214 0.2681 0.2142 0.1664 0.1328 0.1074 pB p / Pa 0.9472 0.7693 0.6399 0.5387 0.4721 0.3784 0.3200 0.2535 0.2049 0.1658 0.1305 0.1035 pC TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 4.4 – Resultados experimentais obtidos pelo método de efusão de Knudsen para o composto imidazolidin-2-ona. 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE -1 0,00306 148 -2,40 0,00286 0,00290 -1 1/T (K ) 0,00294 0,00298 0,00302 0,00306 -1 0,00298 0,00302 0,00306 -1 0,00302 0,00306 valores obtidos para o composto imidazolidin-2-ona. 0,00298 Figura 4.15 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de 1/T (K ) 0,00294 Figura 4.14 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores 0,00290 ln (p /Pa) = -11373(1/T )+ 32,55 R2 = 0,9979 obtidos, com as células de efusão de orifícios grandes, para o composto imidazolidin-2-ona. 1/T (K ) -2,40 0,00286 0,00294 o - orifícios pequenos o - orifícios médios o - orifícios grandes -2,40 0,00286 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 -2,00 0,00290 ln (p /Pa) = -11334(1/T ) + 32,42 R2 = 0,9978 0,00 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00 imidazolidin-2-ona Imidazolidin-2-ona (valores individuais) 0,00302 Imidazolidin-2-ona (orifícios grandes) 0,00298 ln (p /Pa) = -11418(1/T ) + 32,70 R2 = 0,9980 obtidos, com as células de efusão de orifícios médios, para o composto imidazolidin-2-ona. 1/T (K ) 0,00294 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 obtidos, com as células de efusão de orifícios pequenos, para o composto imidazolidin-2-ona. 0,00290 ln (p /Pa) = -11366(1/T ) + 32,53 R2 = 0,9990 -0,40 0,00 Imidazolidin-2-ona (orifícios médios) Figura 4.13 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores -2,40 0,00286 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00 Imidazolidin-2-ona (orifícios pequenos) . TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Figura 4.12 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores ln (p/Pa) . ln (p/Pa) 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE ln (p/Pa) ln (p/Pa) t/s 28970 20423 20423 20423 28970 22049 22049 22049 20007 20007 28970 14280 14280 10050 14280 10073 381.17 383.17 385.18 387.17 387.17 389.17 391.18 393.18 395.17 397.16 397.18 399.17 401.18 403.17 405.20 406.17 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A3-B6-C9 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A2-B5-C8 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A3-B6-C9 células 12.64 15.77 10.79 11.81 10.39 15.58 11.51 10.05 8.65 7.47 6.36 6.75 4.10 4.09 3.46 4.06 mA 149 19.03 24.05 15.85 18.26 15.50 25.19 18.05 14.91 12.29 11.60 9.57 10.74 7.33 6.38 5.10 5.85 mB m / mg 23.64 33.61 21.44 24.68 21.42 35.08 24.32 20.49 18.89 15.79 13.31 14.19 9.92 8.63 6.85 4.39 mC 1.0468 0.9581 0.4877 0.4133 0.3353 0.2850 0.2355 0.1950 0.1672 0.1373 0.1133 pA 1.0389 0.9469 0.4840 0.4042 0.2870 0.2336 0.8169 0.6635 0.5715 0.3334 0.1972 0.2012 0.1590 0.1691 0.1334 0.1078 pB p / Pa pC TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 4.5 – Resultados experimentais obtidos pelo método de efusão de Knudsen para o composto ácido parabânico. T/K 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE . 0,00250 -1 1/T (K ) 0,00254 0,00258 0,00262 ln (p /Pa) = -13759(1/T ) + 33,92 R2 = 0,9998 Ácido parânico (orifícios pequenos) 0,00262 150 0,00258 0,00262 0,00250 o - orifícios pequenos o - orifícios médios o - orifícios grandes -2,40 0,00246 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00 -1 1/T (K ) 0,00254 0,00258 0,00262 ln (p /Pa) = -13789(1/T )+ 33,99 R2 = 0,9994 Ácido parabânico (valores individuais) obtidos, com as células de efusão de orifícios médios, para o composto ácido parabânico. valores obtidos para o composto ácido parabânico. 0,00258 -1 1/T (K ) 0,00254 Figura 4.19 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de 1/T (K ) -1 0,00254 0,00250 ln (p /Pa) = -13809(1/T ) + 34,04 R2 = 0,9992 Figura 4.17 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores -2,40 0,00246 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00 Ácido parabânico (orifícios médios) obtidos, com as células de efusão de orifícios grandes, para o composto ácido parabânico. 0,00250 ln (p /Pa) = -14123(1/T ) + 34,81 R2 = 0,9995 . TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Figura 4.18 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores -2,00 0,00246 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00 Ácido parabânico (orifícios grandes) obtidos, com as células de efusão de orifícios pequenos, para o composto ácido parabânico. Figura 4.16 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores -2,40 0,00246 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE ln (p/Pa) ln (p/Pa) ln (p/Pa) ln (p/Pa) t/s 26723 26723 26723 11005 11005 11005 12769 12769 12769 12141 12141 12141 T/K 363.19 365.18 367.14 369.19 371.17 373.15 375.18 377.18 379.16 381.18 383.18 385.16 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 células 13.81 11.73 10.12 8.15 6.97 5.95 4.14 3.41 2.96 5.77 4.87 4.10 mA 151 17.83 14.99 12.95 10.73 9.1 6.36 5.31 4.39 8.95 7.42 6.07 mB m / mg 1.0269 29.08 0.8463 0.8587 0.5887 0.7020 0.5717 0.4804 0.4020 0.3988 0.4813 0.3328 0.3343 0.2737 0.2232 0.2283 0.2710 0.1913 0.1562 0.1261 pB 0.1903 0.1581 0.1292 pA 0.7190 20.56 18.01 14.96 7.38 12.37 10.17 8.38 mC p / Pa 0.9846 0.6730 0.5753 0.4655 0.2643 0.1858 0.1488 0.1216 pC TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 4.6 – Resultados experimentais obtidos pelo método de efusão de Knudsen para o composto N,N’-trimetilenurea. 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE -1 0,00270 0,00274 0,00276 0,00270 0,00274 0,00274 152 valores obtidos para o composto N,N’-trimetilenurea. 0,00270 Figura 4.23 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de 1/T (K-1) 0,00266 Figura 4.22 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores 0,00262 ln (p /Pa) = -13186(1/T ) + 34,23 R2 = 0,9990 obtidos, com as células de efusão de orifícios grandes, para o composto N,N’-trimetilenurea. 1/T (K-1) -2,20 0,00258 0,00266 o - orifícios pequenos o - orifícios médios o - orifícios grandes -2,20 0,00258 -1,40 -1,00 -0,60 -1,80 0,00262 ln (p /Pa) = -13214(1/T ) + 34,28 R2 = 0,9996 -0,20 0,20 -1,80 -1,40 -1,00 -0,60 -0,20 0,20 N,N' -trimetilenurea (valores individuais) 0,00272 N,N' -trimetilnurea (orifícios grandes) 1/T (K ) -1 0,00268 obtidos, com as células de efusão de orifícios médios, para o composto N,N’-trimetilenurea. 0,00264 ln (p /Pa) = -13172(1/T ) + 34,20 R2 = 0,9996 N,N' -trimetilenurea (orifícios médios) obtidos, com as células de efusão de orifícios pequenos, para o composto N,N’-trimetilenurea. 1/T (K ) -2,20 0,00260 0,00266 -2,20 0,00258 -1,40 -1,00 -0,60 -1,80 0,00262 ln (p /Pa) = -13164(1/T ) + 34,19 R2 = 0,9993 -0,20 0,20 -1,80 -1,40 -1,00 -0,60 -0,20 0,20 N,N' -trimetilenurea (orifícios pequenos) TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Figura 4.21 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores ln (p/Pa) Figura 4.20 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores ln (p/Pa) 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE ln (p/Pa) ln (p/Pa) t/s 25 196 25 196 25 196 21 605 21 605 21 605 16 799 16 799 10 187 10 187 10 187 16 799 T/K 355.11 357.14 359.18 361.13 363.17 365.18 367.17 369.23 371.18 373.21 375.15 377.18 4.5. RESULTADOS OBTIDOS A3-B6 A1-B4-C7 A2-B5-C8 A3-B6-C9 A2-B5-C8 A1-B4-C7 A3-C9 A2-B5-C8 A1-B4-C7 A3-B6-C9 A2-B5-C8 B4-C7 células 28.04 13.86 11.48 9.51 12.48 10.36 11.00 8.86 7.00 7.08 5.59 mA 42.08 20.76 17.69 14.45 19.49 15.73 153 13.63 10.88 10.62 8.57 6.81 mB m / mg 29.55 24.42 20.01 26.91 0.8675 1.0445 1.0559 0.7281 0.5868 0.4839 0.3943 0.2609 0.2103 0.1715 0.1395 0.1119 pB 0.8937 0.7288 0.5859 0.4779 0.4008 0.3169 22.65 21.94 0.2616 0.2088 0.1735 0.1404 pA 18.64 15.25 14.68 11.83 9.56 mC p / Pa 0.8677 0.6985 0.5679 0.4643 0.3865 0.3007 0.2480 0.2072 0.1657 0.1338 0.1104 pC TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 4.7 – Resultados experimentais obtidos pelo método de efusão de Knudsen para o composto barbital. 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE -1 1/T (K ) 0,00272 0,00276 0,00280 -2,40 0,00264 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00268 -1 1/T (K ) 0,00272 0,00276 0,00280 ln (p /Pa) = -13627(1/T ) + 36,18 R2 = 0,9999 -1 0,00280 -2,40 0,00 264 0,0 0268 -1 1/T (K ) 0,00272 0 ,00276 0 ,0028 0 154 valores obtidos para o composto barbital. 0,00276 o - orifícios pequenos o - orifícios médios o - orifícios grandes ln(p /Pa) = -13704(1/T ) + 36,38 R2 = 0,9991 Figura 4.27 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de 1/T (K ) 0,00272 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 Figura 4.26 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores 0,00268 ln (p /Pa) = -13686(1/T ) + 36,31 R2 = 0,9992 0,00 Barbital (valores individuais) obtidos, com as células de efusão de orifícios grandes, para o composto barbital. -2,40 0,00264 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00 Barbital (orifícios grandes) obtidos, com as células de efusão de orifícios médios, para o composto barbital. 0,00268 ln (p /Pa) = -13705(1/T ) + 36,40 R2 = 0,9996 0,00 Barbital (orifícios médios) valores obtidos, com as células de efusão de orifícios pequenos, para o composto barbital. -2,40 0,00264 -2,00 -1,60 -1,20 -0,80 -0,40 0,00 Barbital (orifícios pequenos) TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Figura 4.25 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de valores ln (p/Pa) Figura 4.24 – Representação gráfica de ln p em função de (1/T), para o conjunto de ln (p/Pa) 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE ln (p/Pa) ln (p/Pa) TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 14 123 ± 127 13 789 ± 66 13 172 ± 86 13 214 ± 102 32.70 ± 0.48 32.42 ± 0.50 32.55 ± 0.27 33.92 ± 0.17 34.04 ± 0.31 34.81 ± 0.32 33.99 ± 0.17 34.19 ± 0.29 34.20 ± 0.23 34.28 ± 0.27 34.23 ± 0.21 36.40 ± 0.25 36.18 ± 0.10 36.31 ± 0.35 36.38 ± 0.20 Médios Grandes Resultados Globais Pequenos Médios Grandes Resultados Globais Pequenos Médios Grandes Resultados Globais Pequenos Médios Grandes Resultados Globais 13 704 ± 74 13 686 ± 126 13 627 ± 37 13 705 ± 93 13 186 ± 78 13 164 ± 110 13 809 ± 123 13 759 ± 67 11 373 ± 91 11 334 ± 169 11 418 ± 163 11 366 ± 111 32.53 ± 0.33 Pequenos b a Orifícios média, para cada um dos compostos. Pa K 338.18 338.18 338.18 393.67 393.67 393.67 393.67 0.9991 0.9992 0.9999 0.9996 0.9990 0,9996 0,9996 0,9993 155 barbital 366.15 366.15 366.15 366.15 374.18 374.18 374.18 374.18 N,N´-trimetilenurea 0.9994 0.9995 0.9992 0.9997 ácido parabânico 0.9979 0.9978 0.9980 338.18 0.351 0.344 0.355 0.357 0.364 0.355 0.367 0.371 0.355 0.345 0.354 0.357 0.340 0.340 0.345 0.340 p (Tm ) Tm imidazolidin-2-ona 0.9990 r 2 113.9 ± 0.6 113.8 ± 1.0 113.0 ± 0.3 114.0 ± 0.8 109.6 ± 0.6 109.9 ± 0.8 109.5 ± 0.7 109.4 ± 0.9 114.6 ± 0.6 117.4 ± 1.1 114.8 ± 1.0 114.4 ± 0.6 94.6 ± 0.8 94.2 ± 1.4 94.9 ± 1.4 94.5 ± 0.8 kJ ⋅ mol −1 ∆gcr H mo (Tm ) 311.1 ± 1.7 310.8 ± 2.7 309.4 ± 0.8 311.4 ± 1.9 293.0 ± 1.7 293.6 ± 2.3 292.7 ± 1.9 292.5 ± 2.4 291.2 ± 1.4 298.3 ± 2.7 291.6 ± 2.6 290.6 ± 1.4 279.6 ± 2.2 278.7 ± 4.2 280.7 ± 4.0 279.4 ± 2.7 J ⋅ K −1 ⋅ mol−1 ∆gcr Sm (Tm , pm ) Tabela 4.8 – Parâmetros da equação de Clausius-Clapeyron, obtidos a partir de regressões lineares, e valores calculados para a entalpia e entropia de sublimação à temperatura 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE ácido parabânico 379.94 387.34 391.80 395.03 397.57 399.67 401.47 403.03 404.42 405.68 imidazolidin-2-ona 326.32 332.94 336.94 339.83 342.12 344.00 345.61 347.02 348.27 349.40 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0 p / Pa T/K 385.22 384.04 382.72 381.25 379.55 377.57 375.17 372.13 367.92 360.94 N,N’-trimetilenurea Tabela 4.9 – Valores de pressão de vapor e correspondentes temperaturas para cada um dos compostos. 376.69 375.60 374.39 373.03 371.47 369.65 367.44 364.62 360.73 354.27 barbital TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS −1 96.6 ± 0.8 119.4 ± 0.6 113.4 ± 0.7 117,3 ± 0.6 ácido parabânico N,N’-trimetilenurea barbital kJ.mol Imidazolidin-2-ona Composto ∆gcr H mo (298.15 K ) −1 156 216.9 ± 1.7 200.2 ± 1.7 200.8 ± 5.7 181.2 ± 2.2 −1 J.K .mol ∆gcr Smo (298.15 K ) 52.6 ± 0.8 53.7 ± 0.9 59.5 ± 1.8 42.6 ± 1.0 −1 kJ.mol ∆gcr Gmo (298.15 K ) 6.09 ×10-5 3.91 ×10-5 3.77 ×10-6 3.44 ×10-3 Pa p (298.15 K ) Tabela 4.10 – Entalpia, entropia e energia de Gibbs molares de sublimação padrão e pressão de vapor à temperatura de 298.15.K, para cada um dos compostos. 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4.5.2. MICROCALORIMETRIA CALVET De seguida vão ser apresentados, para cada composto estudado pela microcalorimetria Calvet, os resultados experimentais obtidos e o respectivo tratamento atendendo a 4.4.2. 4.5.2.1. CITOSINA Para a determinação da entalpia de sublimação da citosina, a temperatura seleccionada para a zona quente do calorímetro foi de, aproximadamente, 300 ºC, dadas as características do composto (tabela 1.3). Não foi possível determinar a quantidade total de calor inerente à sublimação deste composto, uma vez que se verificou a sua decomposição no interior do calorímetro, à temperatura seleccionada. 4.5.2.2. 3,4,4´-TRICLOROCARBANILIDA Invalidado o estudo do composto 3,4,4´-triclorocarbanilida pelo método de efusão de Knudsen para a determinação da respectiva entalpia de sublimação, a microcalorimetria Calvet foi o método alternativo que se tentou usar. Verificou-se, que para temperaturas inferiores a 200 ºC, o composto não sublimava e, para temperaturas superiores, o composto decompunha-se no interior do calorímetro. 4.5.2.3. DERIVADOS PIRIDÍNICOS Os resultados experimentais obtidos na determinação das entalpias de sublimação e vaporização, dos derivados piridínicos são apresentados nas tabelas 4.13, 4.15 e 4.17. Os valores das constantes de calibração para a temperatura de estudo de cada um dos compostos são apresentados nas tabelas 4.11, 4.13 e 4.15. Os esquemas utilizados para a correcção [H o T o ] − H 298.15 K (g) dos derivados piridínicos, são apresentados nas figuras 4.28 a 4.30. 157 o T −9.502 1.681 1.671 ∆Hcorr (brancos) / mJ ∆Hobserv / J ∆H corrigido / J 1.0192 κ g 75.96 g ∆ l H m (T ) / kJ.mol-1 19.38 3.505 mam / mg -1 24.400 mcapref / mg ] 24.475 mcapam / mg o 295.7 Tamb / K − H 298.15 K (g) / kJ.mol 364.86 T/K Dados : ∆ l H m (298.15K, undecano ) = 56.58 ± 0.57 kJ.mol [H 1 Ensaio -1 [26] 1.0171 76.10 19.52 1.717 1.720 −3.334 3.587 23.605 23.640 295.2 364.92 2 158 κ = 1.011 ± 0.007 1.0123 76.07 19.49 1.850 1.851 −0.285 3.849 22.725 22.775 295.2 364.81 3 0.9939 75.98 19.40 1.864 1.868 −3.784 3.811 22.705 22.738 295.7 364.93 4 1.0121 75.94 19.36 1.512 1.514 −2.232 3.150 23.260 23.300 295.7 364.81 5 1.0093 75.98 19.40 1.872 1.871 −0.494 3.887 23.016 23.030 295.7 364.94 6 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 4.11. − Resultados obtidos nos ensaios de calibração para o microcalorímetro Calvet com undecano à temperatura de 364-365.K. 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE o T −5.617 2.791 2.786 66.62 ∆Hcorr (brancos) / mJ ∆Hobserv / J ∆H corrigido / J ∆l,298.15 H m / kJ.mol-1 − H 298.15 K o -1 5.714 mam / mg o 24.440 mcapref / mg -1 l g m º 54.03 53.97 〈∆ H 12.67 12.65 2.773 −1.882 5.677 23.136 23.180 [ ] -1 55.00 12.67 67.67 3.566 3.571 −5.046 7.200 23.755 23.805 295.7 364.94 4 (298.15 K)〉 = (54.4 ± 1.3) kJ.mol 54.50 12.65 67.15 2.493 2.498 −5.619 5.072 23.647 23.714 295.7 364.84 3 54.75 12.65 67.39 2.435 2.442 −7.189 4.937 23.913 23.986 295.7 364.82 5 159 53.77 12.73 66.50 1.842 1.842 0.128 3.785 23.243 23.250 295.2 365.23 6 54.66 12.71 67.36 2.193 2.197 −3.400 4.449 23.604 23.639 295.7 365.13 7 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS o Figura 4.28 – Esquema utilizado para a correcção H To − H 298.15 (g) do composto 4-terc-butilpiridina. K ] (g) / kJ.mol ∆ l H m (298.15 K) / kJ.mol g [H 66.70 24.450 mcapam / mg o 2.771 295.2 Tamb / K g,T 364.94 364.82 T/K 295.7 2 1 Tabela 4.12. − Determinação da entalpia de vaporização do 4-terc-butilpiridina. Ensaio 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE o T 23.037 23.010 3.851 − 11.640 1.566 1.555 mcapam / mg mcapref / mg mam / mg ∆Hcorr (brancos) / mJ ∆Hobserv / J ∆H corrigido / J 1.0228 κ g 58.75 ∆ l H m (T ) / kJ.mol-1 g 7.33 − H 298.15 K (g) / kJ.mol-1 ] 293.65 Tamb / K o 323.79 T/K -1[26] Dados : ∆ l H m (298.15K, decano) = 51.42 ± 0.21 kJ.mol [H 1 Ensaio 1.0158 58.78 7.36 1.869 1.883 − 14.680 4.595 23.920 23.995 293.65 323.92 3 160 κ = 1.018 ± 0.002 1.0188 58.78 7.36 1.773 1.786 − 13.937 4.371 24.558 24.558 293.65 323.92 2 1.0233 58.78 7.36 2.054 2.068 − 14.029 5.087 23.252 23.352 293.65 323.92 4 1.0073 59.01 7.59 1.913 1.925 − 12.621 4.645 23.260 23.316 293.65 323.92 5 1.0194 58.98 7.56 2.132 2.145 − 12.610 5.243 23.982 23.983 293.65 323.79 6 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 4.13. − Resultados obtidos nos ensaios de calibração para o microcalorímetro Calvet com decano à temperatura de 323-324 K. 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE o g T 1.665 1.652 ∆Hobserv / J ∆H corrigido / J -1 − 13.380 ∆Hcorr (brancos) / mJ o o ] − H 298,15 K (g) / kJ.mol l,298.15 g,T l g m o 56.84 7.39 64.22 1.792 1.804 − 11.610 5.435 23.026 [ ] -1 56.94 7.39 64.33 2.010 2.025 − 14.986 6.085 24.183 24.250 293.65 323.92 4 (298.15 K)〉 = (56.6 ± 1.2) kJ.mol 56.36 56.35 〈∆ H 7.35 7.35 63.71 1.762 1.775 − 12.752 5.387 23.977 23.052 293.65 323.91 3 56.53 7.39 63.92 2.050 2.062 − 11.949 6.247 23.321 23.338 293.65 323.92 5 161 56.58 7.39 63.97 1.516 1.530 − 14.246 4.615 23.700 23.775 293.65 323.92 6 56.51 7.39 63.90 1.616 1.628 − 12.119 4.924 23.242 23.266 293.15 323.92 7 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Figura 4.29 – Esquema utilizado para a correcção H o − H o (g) do composto 2,6-di-terc-butilpiridina. 298.15 K T ∆l H m (298.15 K) / kJ.mol-1 [H 5.050 mam / mg 63.70 23.656 mcapref / mg o 23.705 mcapam / mg H m / kJ.mol-1 293.15 293.15 Tamb / K ∆ 323.79 323.79 T/K 23.979 2 1 Tabela 4.14. − Determinação da entalpia de vaporização do 2,6-di-terc-butilpiridina. Ensaio 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE o T − 4.974 1.869 1.864 ∆Hcorr (brancos) / mJ ∆Hobserv / J ∆H corrigido / J 0.9709 κ g 76.91 g ∆ cr H m (T ) / kJ.mol-1 4.31 3.016 mam / mg -1 21.127 mcapref / mg ] 21.134 mcapam / mg o 293.15 Tamb / K − H 298.15 K (g) / kJ.mol 328.9 T/K Dados : ∆ cr H m (298.15K, naftaleno ) = 72.51 ± 0.12 kJ.mol [H 1 Ensaio -1[26] 0.9824 76.90 4.30 2.118 2.131 − 12.787 3.468 23.706 23.766 293.65 328.9 3 162 κ = 0.986 ± 0.005 1.0108 76.90 4.30 1.499 1.506 − 7.014 2.526 21.533 21.568 293.65 328.9 2 0.9827 76.92 4.32 2.074 2.080 − 5.633 3.396 21.118 21.141 293.65 329.0 4 0.9864 76.92 4.32 2.080 2.085 − 5.324 3.419 21.077 21.093 293.65 329.0 5 0.9837 76.92 4.32 0.933 0.935 − 1.967 1.530 19.975 19.965 293.65 329.0 6 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Tabela 4.15 − Resultados obtidos nos ensaios de calibração para o microcalorímetro Calvet com naftaleno à temperatura de 329 K. 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4. MÉT. EXP. DE DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE o T H m (298.15 K) / kJ.mol-1 º − H 298.15 K (g) / kJ.mol cr º 76.73 11.90 88.63 0.752 0.751 1.255 2.070 19.735 [ ] H m (298.15 K)〉 = (78.33 ± 1.7) kJ.mol 77.79 11.90 0.520 − 1.189 1.412 20.000 19.652 293.2 329.2 3 -1 78.12 11.88 90.00 0.412 0.414 − 1.714 1.118 20.310 20.269 293.7 329.1 4 163 79.76 11.79 91.55 0.631 0.634 − 2.830 1.681 20.535 20.590 293.7 328.9 5 78.92 11.84 90.76 0.729 0.727 2.156 1.961 19.432 19.330 293.7 329.0 6 TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS Figura 4.30 – Esquema utilizado para a correcção H o − H o (g) do composto 2,4,6-tri-terc-butilpiridina. 298.15 K T 78.64 g 90.47 ∆l,298.15 H m / kJ.mol-1 〈∆ 1.144 ∆H corrigido / J 11.84 1.144 ∆Hobserv / J -1 − 0.224 ∆Hcorr (brancos) / mJ ] 3.084 mam / mg o 89.69 19.446 mcapref / mg cr g ∆ [H 0.519 19.410 mcapam / mg o 293.7 294.2 Tamb / K g,T 329.2 329.0 T/K 19.966 2 1 Tabela 4.16 − Determinação da entalpia de sublimação do 2,4,6-tri-terc-butilpiridina. Ensaio 4.5. RESULTADOS OBTIDOS 4.DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA [1] − Castellan, G. W., Physical Chemistry, 3th, The Benjamin/Cummings Publishing Company, Inc. Califórnia, 1983. [2] − Cox, J. D.; Pilcher, G., Thermochemistry of Organic and Organometallic Compounds, Academic Press, London, 1970. [3]− Chickos, J. S.; Acree Jr., W. E., J. Phys. Chem. Ref. Data, 31 (2002) 537. [4] − Grain, C. F., em Lyman, W. J.; Reehl, W. F.; Rosenblatt, D. H. (editors), Handbook of Chemical Property Estimation Methods A.C.S. Washington D. C., 1990 (citado em Chickos, J. S., Thermochimica Acta, 313 (1998) 19. [5] − Chickos, J. S.; Acree Jr., W. E., J. Phys. Chem. Ref. Data, 32 (2003) 519. [6] − Knudsen, M., Ann. Phys. 28 (1909) 75 (citado na referência [9]). [7] − Knudsen, M., Ann. Phys. 28 (1909) 999 (citado na referência [9]). [8] − Knudsen, M., Ann. Phys. 29 (1909) 179 (citado na referência [9]). [9] − Ribeiro da Silva, M. A. V.; Monte, M. J. S.; Santos, L. M. N. B. F., J. Chem. Thermodyn. 38 (2006) 778. [10] − Knudsen, M., The kinetic theory of gases: some moderns aspects, 3th Mathew & Co. Ltd., London, 1950 (citado na referência [11]). [11] − Monte, M. J. S., Tese de Doutoramento, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 1990. [12] − Dushman, S., Scientific Foundations of Vacuum Technique, 2nd, John Wiley & Sons Inc., New York, 1962 (citado na referência [11]). [13] − Whitman, C. I., J. Chem. Phys. 20 (1952) 161 (citado na referência [11]). [14] − Langmuir, I., Phys. Rev. 8 (1916) 149 (citado na referência [11]). [15] − Langmuir, I., J. Am. Chem. Soc. 38 (1916) 2250 (citado na referência [11]). [16] − Volmer, M.; Estermann, I.; Z. Physik, 7 (1921) 13 (citado na referência [11]). [17] − Winterbottom, W. L., J. Chem. Phys. 47 (1967) 3546. 164 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS BIBLIOGRAFIA [18] − Winterbottom, W. L.; Hirth, J. P., J. Chem. Phys. 37 (1962) 784. [19] − Dunham, T. E.; Hirth, J. P., J. Chem. Phys. 49 (1968) 4650. [20] − Chagas, A. P., Termodinâmica Química, Editora da Unicamp, Campinas Brasil, 1999. [21] − Calvet, E. em Experimental Thermochemistry, Vol. 1, Capítulo 12, F. D. Rossini editor: Interscience Publishers, New York, 1956. [22] − Calvet, E. em Experimental Thermochemistry, Vol. 2, Capítulo 17, H. A. Skinner editor: Interscience Publishers, New York, 1962. [23] − Santos, L. M. N. B. F.; Schröder, B.; Fernandes, O. O. P.; Ribeiro da Silva, M. A. V., Thermochim. Acta, 415 (2004) 15. [24] − Adedeji, F. A.; Brown, D. L. S.; Connor, J. A.; Leung, M.; Paz-Andrade, M. I.; Skinner, H. A., J. Organomet. Chem. 97 (1975) 221. [25] − Ribeiro da Silva, M. A. V.; Matos, M. A. R.; Amaral, L. M. P. F., J. Chem. Thermodyn. 27 (1995) 565. [26] − Sabbah, R.; Xu-wu, A.; Chickos, J. S.; Planas Leitão, M. L.; Roux, M. V.; Torres, L. A., Thermochim. Acta, 331 (1999) 93. [27] − Domalski, E. S.; Hearing, E. D., J. Phys. Chem. Ref. Data, 17 (1988) 1637 (citado em Chickos, J. S.; Nichols, G.; Wilson, J.; Orf, J.; Webb, P.; Wang, J., em Energetics of Stable Molecules and Reactives Intermediates, Minas da Piedade (editor), Nato Science, 1998). [28] − Benson, S. W.; Thermochemical Kinetics, 2.ª edição, John Wiley and Sons, 1976 (citado em Chickos, J. S.; Nichols, G.; Wilson, J.; Orf, J.; Webb, P.; Wang, J., em Energetics of Stable Molecules and Reactives Intermediates, Minas da Piedade (editor), Nato Science, 1998). [29] − Chickos, J. S.; Hesse, D. G.; Liebman, J. F., Struc. Chem. 4 (1993) 261 (citado em Chickos, J. S.; Nichols, G.; Wilson, J.; Orf, J.; Webb, P.; Wang, J., em Energetics of Stable Molecules and Reactives Intermediates, Minas da Piedade (editor), Nato Science, 1998). [30] − Birkett, J. D., em Lyman, W. J.; Reehl, W. F.; Rosenblatt, D. H. (editores), Handbook of Chemical Property Estimation Methods, Amer. Chem. Soc., Washington D. C., 1990 (citado em Chickos, J. S.; Nichols, G.; Wilson, J.; Orf, J.; Webb, P.; Wang, J., em Energetics of Stable Molecules and Reactives Intermediates, Minas da Piedade (editor), Nato Science, 1998). 165 4. DETERMINAÇÃO DE ENTALPIAS DE TRANSIÇÃO DE FASE TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS BIBLIOGRAFIA [31] − Burkinshaw, P. M.; Mortimer, C. T., J. Chem. Soc. Dalton, (1984) 75. [32] − Santos, L. M. N. B. F., Dissertação de Doutoramento pela Faculdada de Ciências da Universidade do Porto. [33] − Stull, D. R.; westrum, E. F.; Sinke, G. C., The Chemical Thermodynamics of Organic Compounds, Wiley, New York, 1969. 166 MESTRADO EM QUÍMICA TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 167 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 5.1. Entalpias de formação molares padrão, no estado gasoso, dos compostos estudados no âmbito deste trabalho 5.2. Análise e crítica de resultados 5.2.1. Derivados da piridina 5.2.2. Citosina 5.2.3. Ureias cíclicas 5.2.4. Ureias acíclicas 168 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 5.1. ENTALPIAS MOLARES TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS DE FORMAÇÃO PADRÃO, NO ESTADO GASOSO, DOS COMPOSTOS ESTUDADOS NO ÂMBITO DESTE TRABALHO 5.1. ENTALPIAS MOLARES DE FORMAÇÃO PADRÃO, NO ESTADO GASOSO, DOS COMPOSTOS ESTUDADOS NO ÂMBITO DESTE TRABALHO Os valores das entalpias molares de formação padrão, no estado gasoso, ∆ f H mo (g) , a 298.15.K, dos compostos estudados no âmbito deste trabalho, encontram-se registados na tabela 5.1. Estes valores foram calculados a partir das equações estabelecidas anteriormente em 1.2. e a seguir transcritas, conjugando os valores das entalpias de formação na fase condensada, ∆ f H mo (cr, l) , obtidos em 3.6., com as entalpias de transição de fase, ∆gcr,l H mo , obtidas em 4.5.. ∆ f H mo (g) = ∆ f H mo (cr) + ∆gcr H mo ∆ f H mo (g) = ∆ f H mo (l) + ∆gl H mo Tabela 5.1 – Valores de entalpias molares de formação padrão no estado gasoso, calculados a 298.15 K. Composto Fórmula Estrutural ∆ f H mo (cr, l) / kJ.mol -1 o -1 ∆gcr,l H mo / kJ.mol-1 ∆ f H m (g) / kJ.mol − 29.4 ± 3.6 54.4 ± 0.2 25.0 ± 3.6 2,6-di-terc-butilpiridina (l) − 162.7 ± 4.4 57.2 ± 0.1 − 105.5 ± 4.4 2,4,6-tri-terc-butilpiridina (cr) − 291.2 ± 5.4 79.8 ± 0.4 − 211.4 ± 5.4 citosina (cr) − 221.9 ± 1.7 155.0 ± 3.0 [1] − 66.9 ± 3.0 imidazolidin-2-ona (cr) − 272.5 ± 2.1 96.6 ± 0.8 − 175.9 ± 2.2 ácido parabânico (cr) − 623.9 ± 1.8 (*) 119.4 ± 0.6 − 504.5 ± 1.9 (*) N,N’-trimetilenurea (cr) − 314.5 ± 1.1 113.4 ± 0.7 − 201.1 ± 1.3 barbital (cr) − 753.2 ± 1.9 117.3 ± 0.6 − 635.9 ± 2.0 3,4,4´-triclorocarbanilida (cr) − 236.9 ± 7.7 4-terc-butilpiridina (l) (*) – Valor provisório. 169 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS 5.2.1. DERIVADOS DA PIRIDINA Os valores das entalpias molares de formação padrão dos compostos piridínicos, no estado gasoso, a 298.15.K, encontram-se registados na tabela 5.1, assim, como os respectivos valores das entalpias de formação na fase condensada e de transição de fase. Nos esquemas 1 e 2 da figura 5.1 encontram-se registados os incrementos entálpicos, Γ , para a introdução dos grupos Χ=terc-butilo e Χ=metilo, respectivamente, no anel da piridina, em posições para, orto-orto e orto-para-orto. Os incrementos são calculados como a diferença entre as entalpias molares de formação padrão na fase gasosa da piridina substituída e da piridina: Γ = ∆ f H mo ( Χ − piridina, g) − ∆ f H mo (piridina, g) (5.1) A introdução do grupo terc-butilo em posições orto e para, deverá contribuir, assim, para o aumento da densidade electrónica no anel piridínico, e consequentemente para uma estabilização da molécula. De facto, comparando os incrementos entálpicos relativos à introdução de um grupo terc-butilo com os de um grupo metilo num anel piridínico, nas posições orto e para, verifica-se que há uma maior contribuição para o efeito de estabilização da molécula no caso do grupo terc-butilo. Ribeiro da Silva [3] verificou que o valor de ∆ f H mo (g) para a molécula 2,4,6-trimetilpiridina é igual, dentro da incerteza experimental, à entalpia de formação da piridina acrescida dos incrementos entálpicos verificados para as moléculas 4-metilpiridina e 2,6-dimetilpiridina. Infere-se, assim, que nestes derivados da piridina há uma transferibilidade das contribuições entálpicas dos substituintes metilo. De forma idêntica, calculando o valor da ∆ f H mo (g) para a molécula 2,4,6-tri-terc-butilpiridina a partir da soma da entalpia de formação da piridina com os incrementos entálpicos calculados para as moléculas 4-terc-butilpiridina e 2,6-di-terc-butilpiridina, o −1 obtém-se o valor de ∆ f H m (g) = − 220.9 ± 5.8 kJ.mol . Dentro da incerteza associada, o valor experimental é próximo deste, apontando contudo para uma relativa instabilidade que poderá ser justificada pela tensão estereoquímica dos dois substituintes volumosos junto ao azoto, que contém um par de electrões não compartilhado no plano molecular. 170 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS . Esquema 1 Esquema 2 Figura 5.1 − Incrementos entálpicos calculados para a introdução dos grupos metilo e terc-butilo na piridina. Na figura 5.2 estão representados os incrementos entálpicos obtidos para as moléculas piridínicas, mono-, di- e trissubstituídas, com os substituintes metilo e terc-butilo. Analisando os incrementos entálpicos obtidos para as moléculas contendo o mesmo número de grupos substituintes, metilo e terc-butilo, é possível identificar um factor multiplicativo de valor aproximadamente 3, que deverá traduzir o efeito do número de grupos metilo (−CH3) existentes nos substituintes. Na mesma figura, encontram-se ainda assinalados os factores multiplicativos existentes entre os incrementos entálpicos das moléculas mono-, di- e trissubstituídas (assinalados a cor vermelha para os substituintes metilo e a cor azul para os substituintes terc-butilo), cuja diferença de valor relativamente ao número de substituintes envolvidos traduz a estabilização relativa da molécula, constituindo uma forma alternativa de confirmar a análise anterior. 171 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS Figura 5.2 – Relações entre os incrementos entálpicos obtidos para as moléculas piridinicas contendo os substituintes metilo e terc-butilo. 5.2.2. CITOSINA A citosina é uma das bases heterocíclicas azotadas presentes no ADN e ARN, como já foi referido em 2.1.3. Dado o seu significado biológico, o conhecimento dos seu dados termoquímicos é de grande importância para a interpretação da reactividade dos compostos onde esta molécula está presente. Na literatura é possível encontrar diversos trabalhos recentes relativos a estudos termoquímicos, em fase condensada ou gasosa, da citosina e seus derivados [4-12]. Apesar do trabalho científico desenvolvido, ainda existem dúvidas relativamente ao valor de entalpia de formação em fase gasosa da citosina. De facto, a incerteza associada ao seu valor é 172 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS facilmente detectável depois de uma consulta ao NIST WebBook [13] onde o valor da entalpia de formação para a citosina é registado como ∆ f H mo (g) = − (59 ± 10) kJ.mol −1 . Este valor é o resultado da conjugação de dados experimentais obtidos por vários autores para a combustão e sublimação da citosina. No caso das experiências de combustão, as técnicas de calorimetria de combustão em bomba estática e em bomba rotativa utilizadas por Wilson Sabbah e co-autores [15], [14] e co-autores e respectivamente, proporcionam entalpias de combustão que diferem de aproximadamente 14 kJ.mol-1, que resulta numa diferença semelhante na entalpia de formação no o estado condensado: o valor obtido por Wilson é de ∆ f H m (cr) = − (221.3 ± 2.3) kJ.mol o -1 e o -1 obtido por Sabbah é ∆ f H m (cr) = − (235.4 ± 0.5) kJ.mol . Mas a maior incerteza dos resultados termoquímicos surge nas entalpias de transição de fase, onde os valores variam num intervalo superior a 25 kJ.mol-1 [13,16,17]. Na tabela 5.2 é possível visualizar diferentes valores de entalpias de sublimação obtidos por diferentes técnicas a diferentes temperaturas. Tabela 5.2 – Valores de entalpia de sublimação para a citosina, disponíveis na literatura. Autor T/K Yanson e co-autores 458 Zielenkiewicz 515 Burkinshaw e Mortimer 298.15 Ferro e co-autores 298.15 Sabbah 298.15 Técnica Efusão de Knudsen por perda de massa Efusão de Knudsen por perda de massa Efusão de Knudsen por perda de massa Efusão de Knudsen pelo método de torsão Calorimetria ∆gcr H mo / kJ.mol −1 150.6 [18,19] 151.7 ± 0.7 [20] 155.0 ± 3.0 [1] 167 ± 10 [21] 176 ± 10 [22] Atendendo ao que foi referido anteriormente, o estudo termoquímico da citosina neste trabalho, teve como objectivo confirmar valores disponíveis na literatura. A partir do valor de energia de combustão medido neste trabalho e do valor de entalpia de sublimação medido por Burkinshaw e Mortimer [1], registados na tabela 5.1, calcula-se um valor de ∆ f H mo (g) para a citosina que difere apenas de 1.8 kJ.mol-1 do obtido por via computacional (cálculos DFT, ao nível G3MP2//B3LYP) [23]. o −1 Sugere-se, assim, que o valor ∆ f H m (g) = − (66.9 ± 3.0) kJ.mol , deveria ser considerado em revisões futuras das tabelas de dados termoquímicos. 173 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS 5.2.3. UREIAS CÍCLICAS Os compostos imidazolidin-2-ona, ácido parabânico, N,N´-trimetilenurea e barbital são ureias cíclicas, como já se tinha referido no capítulo 2. Os seus valores de ∆ f H mo (g) , a 298.15.K encontram-se registados na tabela 5.1. Na figura 5.3 são apresentadas as relações entre os valores de ∆ f H mo (g) para as ureias alifáticas, etilureia e n-propilureia, e as correspondentes ureias cíclicas, imidazolidin-2-ona e N,N´-trimetilenurea. Os valores das ∆ f H mo (g) para os compostos etilureia e n-propilureia foram calculados a partir dos valores de ∆ f H mo (cr) e de ∆gcr H mo , a 298.15.K, referidos na tabela 5.3. Os g o valores de ∆ cr H m (298.15K ) foram derivados dos valores de entalpia de sublimação disponíveis na literatura, a temperaturas diferentes de 298.15.K, utilizando o valor para a diferença média das capacidades caloríficas de ∆gcr Cp,o m = − (50 ± 20) kJ.mol −1 [1] e atendendo à equação (4.57). Relativamente aos valores de ∆ f H mo (cr) , na literatura estava disponível apenas o valor para e etilureia. A partir do trabalho desenvolvido por Simirsky, Kabo e Frenkel [25], relativamente à aditividade das entalpias de formação dos derivados alquilo da ureia no estado cristalino, foi possível calcular a ∆ f H mo (cr) para o composto n-propilureia. Tabela 5.3 – Valores de entalpias molares de sublimação padrão, às temperaturas T e 298.15.K, e de entalpias molares de formação padrão, no estado condensado e no estado gasoso, para os compostos etilureia e n-propilureia. Composto ∆gcr H mo (T ) kJ.mol −1 g o ∆ cr H m (298.15K ) kJ.mol −1 etilureia T.=346.K; 86.0 ± 1.9 [24] 88.4 ± 2.1 n-propilureia T.=351.K; 88.2 ± 1.9 [24] 90.8 ± 2.2 ∆ f H mo (cr) kJ.mol o ∆ f H mo (g) −1 kJ.mol −1 − 357.8 ± 0.7 [25] − 269.4 ± 2.2 − 359.1 (*) (− 270.7) − 388.5 (*) (− 297.7) (*) – valor calculado atendendo à entalpia de formação da ureia ∆ f H m (cr) = − 333.59 kJ.mol -1 [26] e aos valores dos incrementos de substituição de H por CH3 e das correcções para as interacções, fornecidos por Simirsky [25]. Analisando a figura 5.3 é possível verificar uma instabilização da ordem de 90 kJ.mol-1, quando se passa das ureias alifáticas para as ureias cíclicas. 174 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS Figura 5.3 - Relações entre as entalpia de formação no estado gasoso para as ureias acíclicas e as correspondentes ureias cíclicas. Na Figura 5.4 são apresentadas as relações entre as ∆ f H mo (g) das quatro ureias cíclicas juntamente com alguns compostos relacionados. Segundo Schleyer e co-autores [27] a diferença de −.45.9.kJ.mol-1 entre o ciclohexano e o ciclopentano é igual à soma de duas contribuições: do efeito do metileno −.21.4.kJ.mol-1 e da tensão do anel, −.24.5.kJ.mol-1, sendo este último valor igual à diferença da tensão do anel no ciclohexano +.5.6.kJ.mol-1 e da tensão do anel no ciclopentano +.30.1.kJ.mol-1. Liebman e van Vechten [29] consideraram que o ciclohexano tem uma energia de tensão de aproximadamente zero. Considerando o valor de −.25.2.kJ.mol-1 da diferença das ∆ f H mo (g) entre os compostos N,N´-trimetilenurea e imidazolidin-2-ona, e atendendo ao que foi referido, a contribuição do “efeito metileno” é de −.21.4.kJ.mol-1 sendo o efeito da tensão do anel de −.3.8.kJ.mol-1, muito menor do que nos anéis cíclicos carbonados. Podendo-se, com isto, concluir que a planaridade imposta pela unidade ureia, faz com que os compostos tenham uma tensão similar [30]. Ainda na figura 5.4 é possível visualizar que a estrutura do composto ácido parabânico é obtida a partir da substituição de dois grupos metileno por dois grupos carbonilo no composto imidazolidin-2-ona, assim, como o ácido barbitúrico a partir do composto N,N´-trimetilenurea. Apesar do valor de ∆ f H mo (g) relativo ao ácido parabânico não ser ainda um valor definitivo é possível estabelecer algumas relações. A introdução dos dois grupos carbonilo na molécula imidazolidin-2-ona provoca uma estabilização de −.328.6.kJ.mol-1. O valor de ∆ f H mo (g) para o ácido barbitúrico, assinalado na figura 5.4 estava disponível na literatura [28]. As diferenças das ∆ f H mo (g) entre o ácido barbitúrico e o ácido parabânico e entre o ácido barbitúrico e a 175 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS N,N´-trimetilenurea são de −.5.2 e −.308.6.kJ.mol-1, respectivamente. Calculando a ∆ f H mo (g) do ácido barbitúrico a partir da soma da ∆ f H mo (g) do ácido parabânico e do valor −.25.2.kJ.mol-1, o resultado é igual −.529.7.±.3.2.kJ.mol-1. Obtém-se o mesmo valor, calculando a ∆ f H mo (g) do ácido barbitúrico utilizando a ∆ f H mo (g) da N,N´-trimetilenurea mais a diferença obtido para a introdução dos dois grupos carbonilo. Atendendo a isto, é pertinente efectuar uma nova determinação da ∆ f H mo (g) do ácido barbitúrico, afim de confirmar o seu valor. A substituição de dois H por dois grupos etilo no ácido barbitúrico, provoca uma estabilização de − 106.2 kJ.mol-1, utilizando o valor de ∆ f H mo (g) calculado. Esta estabilização pode ser justificada por uma possível existência de ligações intramoleculares existentes na molécula do barbital. Figura 5.4 – Relações das entalpias de formação molares padrão no estado gasoso. 176 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS TERMOQUÍMICA DE COMPOSTOS AZOTADOS 5.2. ANÁLISE E CRÍTICA DE RESULTADOS 5.2.4. UREIA ACÍCLICA O valor da entalpia molar de formação padrão no estado condensado, ∆ f H mo (cr) , a 298.15.K obtido para o composto 3,4,4´-triclorocarbanilida encontra-se registado na tabela 5.1. As dificuldades inerentes ao processo de sublimação, referidas em 4.5.1.1. e em 4.5.2.2., inviabilizaram a obtenção de valor de ∆ f H mo (g) . No actual estado de conhecimento não é possível alargar a discussão. 177