ABDA ALVES VIEIRA DE SOUZA OS PROFESSORES E A AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO TEXTUAL: entre concepções e práticas RECIFE 2010 ABDA ALVES VIEIRA DE SOUZA OS PROFESSORES E A AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO TEXTUAL: entre concepções e práticas Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação. Orientadora: Profª. Drª. Maria Emília Lins e Silva RECIFE 2010 Souza, Abda Alves Vieira de Os professores e a avaliação da produção textual : entre concepções e práticas. / Abda Alves Vieira de Souza. – Recife : O Autor, 2010. 121 f. : il. ; 31 cm. Orientador: Profª.Drª. Maria Emília Lins e Silva Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, CE, Pós-Graduação em Educação, 2010. 1. Língua Portuguesa – Estudo e Ensino. 2. Língua Portuguesa - Linguagem. 3. Professores – Prática Docente - Avaliação. I. Silva, Maria Emília Lins e. II. Universidade Federal de Pernambuco. III. Título. 37 372.6 CDU (2.ed.) CDD (22.ed.) UFPE CE2010-77 Para minha filha, Laís AGRADECIMENTOS Sozinha não conseguiria realizar essa pesquisa, para fazê-la, tive o apoio de muita gente, por isso, vou dizer muitos “obrigados”. A Deus, pelo dom da vida, pelo amor incondicional e cuidado permanente. Até aqui Ele tem me ajudado! À minha orientadora Emilia Lins, pela competência na orientação e pelo apoio ao longo de toda pesquisa. À Professora Sandra Helena Melo, pela contribuição competente e sincera que realizou enquanto participante da banca de qualificação do projeto. À Professora Lívia Suassuna pela leitura atenta e critica desta dissertação e pela colaboração valiosa enquanto integrante da banca de qualificação do projeto, sugerindo leituras e caminhos ao longo da pesquisa e por participar da banca no momento da defesa. À Professora Profª. Dra. Alina Spinillo por tão gentilmente aceitar participar da banca no momento da defesa contribuindo com seus saberes. À Professora Eliana Albuquerque, por sempre ter me incentivado a prosseguir nos estudos, desde o tempo da especialização, seu estímulo e insistência muito me ajudaram! A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE, que partilharam suas experiências e saberes profissionais, pelo compromisso com a qualidade da educação. Aos meus amigos de turma, construídos no transcorrer desses dois anos, pela contribuição nos momentos de discussão durante as aulas, e pelos momentos agradáveis nos almoços e lanches acompanhados de muito riso e alegria, em especial a Christiane, Leila, Amanda, Sandra, Gilvânia, Priscila, Renata, Viviane e Cássia. Meu especial obrigada a Amara, amiga querida de longa data, inseparável no mestrado, desde a seleção até a defesa da dissertação. Sempre demos um jeito de coincidir nossos horários para desfrutarmos da companhia uma da outra (nas aulas, nos trabalhos acadêmicos...). Com certeza nossa amizade tornou mais fácil a caminhada. Agradeço especialmente também, a minha querida amiga Sirlene, pelas contribuições intelectuais tão relevantes e significativas à minha pesquisa, e principalmente sob o aspecto emocional, pela paciência comigo nos momentos difíceis, pelas conversas tão agradáveis sobre tantos assuntos divertidos. Aos amigos: Emilia, Leila, Gustavo, Carmi, Tony, Amara e Letícia, que tão gentilmente cederam seus materiais para enriquecer a pesquisa. Aos funcionários do Mestrado em Educação, pela presteza, gentileza e atenção durante o curso. À minha família, base de tudo na minha vida: À minha mãe, Carminha, por saber que sou um motivo de alegria em sua vida. À minha filha, Laís, pela alegria que ela é em minha vida. Ao meu marido Elan, companheiro de todas as horas, com quem compartilho meus sonhos, minhas esperanças, inquietações e também meus estresses. À minha querida sogra, Miriam, pelo apoio e carinho de sempre. A minha querida amiga Tereza Mariza, pela escuta, em vários momentos da minha vida pessoal e profissional, pelo carinho, incentivo e amizade. As professoras entrevistadas, que gentilmente se dispuseram a participar desta pesquisa, agradeço a presteza, o interesse, o carinho e principalmente a permissão em socializar seus saberes e suas práticas. E finalmente aos alunos que colaboraram escrevendo os textos analisados nesse estudo. A todos, de verdade, muito obrigada! RESUMO Este estudo teve como objetivo analisar as práticas avaliativas da produção textual de professoras do 5º ano do ensino fundamental. Buscamos identificar as concepções de língua, escrita e avaliação subjacente ao trabalho das docentes através dos aspectos priorizados na correção dos textos produzidos pelos alunos, bem como compreender as estratégias de correção através das marcas deixadas pelas professoras nos textos das crianças. Analisamos ainda os critérios de avaliação materializados na correção desses textos. A entrevista e a análise documental foram os procedimentos metodológicos utilizados na presente pesquisa. Adotamos como pressuposto teórico a idéia de que é indispensável ao professor, reconhecer e valorizar nos textos das crianças tanto os aspectos relativos à correção ortográfica e gramatical, como também, e principalmente, os aspectos relativos ao uso dos recursos linguísticos, à organização estrutural e à textualidade. A análise dos resultados revelou que as práticas avaliativas das professoras, no tocante à correção dos textos, enfatizam uma avaliação monológica, que não propicia o diálogo nas observações deixadas por elas nos textos. Os resultados apontam também, que o trabalho com o gênero não superou a dimensão estrutural, e que o caráter discursivo do gênero ainda não é considerado na prática de ensino e na avaliação, o que parece apontar para uma prática arraigada na perspectiva da redação escolarizada. Quanto aos critérios de avaliação presentes nas correções realizadas pelas mestras, observamos que as mesmas percebem com maior facilidade os aspectos presentes na superfície textual (problemas gramaticais e ortográficos) em detrimento dos aspectos relativos à textualidade. Com base nos dados coletados, percebemos que a prática avaliativa da produção textual parece ser um terreno difícil de ser percorrido pelos professores de língua materna, e que existe ainda uma distância entre o saber teórico produzido nas pesquisas acadêmicas e na prática pedagógica. Palavras-chave: linguagem produção de texto no ensino fundamental; correção e avaliação. ABSTRACT This study aimed to analyze the assessment practices of textual production of teachers in the fifth year of elementary school. We sought to identify the conceptions of language, writing and evaluation behind the work of teachers through the issues prioritized in the correction of texts produced by students as well as understand the strategies of correction through the marks left by the teachers in the texts of children, we analyze the criteria of assessment embodied in the correction of these texts. Interviews and documentary analysis were the methodological procedures used in this research. We adopt as theoretical assumption the idea that is indispensable to the teacher to recognize and appreciate of the texts of children both aspects of correct spelling and grammar, but also and especially those aspects relating to the use of language resources, the structural organization and textuality. The results showed that the assessment practices of teachers, concerning the correction of texts, emphasize an assessment monological, not conducive to the dialogue in the comments left by them in the texts. The results also indicate that the work with the gender dimension has not overcome the structural and the discursive character of the genre is still not considered the practice of teaching and assessment, which seems to point to a practice rooted in the perspective of standardized school composition. The criteria for evaluation in these corrections made by the masters, we observed that they more easily perceive aspects present in the surface text (spelling and grammatical problems) rather than aspects of textuality. Based on data collected, we realized that the evaluation practice of text production seems to be a difficult terrain to be traversed by native teachers, and that there remains a distance between the theoretical knowledge produced in academic research and the teaching practice Key-words: language, textual production in elementary education; Correction; Evaluation. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT LISTA DE QUADROS, TABELAS, EXEMPLOS E TRANSCRIÇÕES INTRODUÇÃO.......................................................................................................14 CAPÍTULO 1 - Fundamentação teórica..............................................................17 1.1 O ensino de Língua materna e as concepções de língua................................................................................................................19 1.1 .1 Concepções de ensino da escrita...............................................................23 1.1.2 Algumas considerações sobre a redação escolar........................................27 1.1.3 Produção textual na perspectiva dos gêneros............................................28 1.2 Concepções de Avaliação..............................................................................33 1.2.1 A avaliação do texto em uma perspectiva somativa ...................................34 1.2.2 A avaliação do texto em uma perspectiva formativa....................................36 1.3 Avaliação da produção textual e a adoção de critérios...................................38 1.4 A correção e avaliação da produção textual..................................................44 CAPÍTULO 2 - Metodologia................................................................................49 2.Objetivos............................................................................................................50 2.2 Os sujeitos participantes do estudo................................................................51 2.3 Os instrumentos de coleta..............................................................................53 2.3.1 Entrevistas...................................................................................................53 2.3.2 Análise documental: a produção textual dos alunos....................................55 CAPÍTULO 3 - Análise dos dados.......................................................................57 3.1 As concepções das professoras sobre o ensino da escrita.............................58 3.2 Quais as concepções subjacentes às condições de produção e avaliação dos textos?....................................................................................................................63 3.2.1 As atividades de produção textual revelam as concepções das mestras............................................................................................................75 3.4 A correção dos textos.......................................................................................80 3.4.1 Como as professoras tratam o erro: os alunos têm a oportunidade de reescrever os textos?..............................................................................................89 3.5 Os critérios de avaliação dos textos no discurso e na prática das professoras......................................................................................................93 3.5.1 As professoras explicitam os critérios de avaliação para os alunos?......................................................................................................97 3.6 Os conhecimentos necessários para produzir bons textos..............................99 3.7 As professoras têm dificuldade para avaliar?................................................103 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................110 REFERÊNCIAS APÊNDICE LISTA DE QUADROS, TABELAS, EXEMPLOS E TRANSCRIÇÕES Tabela 01: Número de textos disponibilizados pelas professoras.............................56 Quadro 01: Gêneros textuais.....................................................................................64 Exemplo 1: texto “Maria e João”................................................................................68 Exemplo 2: texto “Gripe suina e menigite”.................................................................70 Transcrição do texto “Gripe suina e menigite”...........................................................71 Ilustração da notícia Gripe suína..............................................................................72 Transcriçaõ do “texto o menino e a escova”..............................................................75 Exemplo 3: texto “O menino e a escova”...................................................................76 Exemplo 4: texto “A bruxa”........................................................................................79 Quadro 02: Tipos de correção..................................................................................82 Exemplo 5: correção indicativa..................................................................................83 Exemplo 6: correção resolutiva..................................................................................84 Exemplo 7: correção textual-sugestiva......................................................................86 Exemplo 8: correção textual-sugestiva (Ana e a natureza)........................................87 Transcrição do texto (Ana e natureza).......................................................................88 Quadro 03: trechos da entrevista...............................................................................94 Tabela 2: Critérios de avaliação adotados pelas professoras....................................95 INTRODUÇÃO 14 O professor tem que aprender a ler os textos de seus alunos e desaprender a corrigi-los (Percival Britto) Não é novidade que a avaliação da produção textual tem se constituído numa tarefa complexa para os professores de Língua Portuguesa como evidenciaram estudos realizados por Britto (1990), Geraldi (1991), Marinho (1997), Marcuschi (2004), Evangelista (1998) e outros. Pesquisas realizadas recentemente, no âmbito da Linguistica e Linguística Aplicada, da Sociolinguística, e das teorias sobre os gêneros discursivos, sobre o ensino de produção textual no Brasil têm mostrado que a tradição escolar de avaliação do texto escrito fundamenta-se em critérios apenas linguísticos, sem qualquer articulação com as condições de produção e que os textos são propostos apenas como objeto de avaliação. Nesse contexto, a escola tem promovido os alunos pela capacidade de escrever redações que apresentam poucas violações do ponto de vista gramatical e ortográfico e não pela competência de produzir bons textos. Nesse cenário, a produção de conhecimento acerca dos procedimentos de avaliação da escrita escolar se apresenta como um tema relevante e tem mobilizado não só os profissionais da educação e de áreas específicas como a Linguística Aplicada, mas também o poder público, que tem investido na instituição de programas destinados à formação continuada dos professores. Nosso interesse sobre avaliação da produção textual tem a ver com nossa trajetória pessoal enquanto aluna, e profissional, enquanto docente, nas observações empíricas realizadas no cotidiano da prática pedagógica nos anos iniciais do ensino fundamental. Intuitivamente acreditamos que a intervenção do professor no texto do aluno é de fundamental importância para o momento da reescrita e imprescindível para melhorar a competência do aluno como escritor, ou seja, percebia-se que as “dicas” dadas no momento da correção, quando compreendidas pelos alunos, no momento da refacção textual surtiam um efeito positivo. Outro motivo que nos levou a ter interesse sobre avaliação do texto escrito foi à participação em um curso de Especialização, cuja monografia foi resultante de um trabalho de intervenção pedagógica sobre produção de texto narrativo com crianças da terceira série de uma escola municipal do Recife. Nessa experiência, 15 percebemos que não haviam parâmetros claros estabelecidos para avaliar os textos que os alunos produziam. Foi necessário estabelecer critérios para ensinar e avaliar os textos. Desde essa época, a avaliação do texto escrito é uma temática que nos inquieta e fascina. Nesse sentido, desenvolvemos o presente estudo com a intenção de analisar as práticas avaliativas da produção textual de professoras do 5º ano do ensino fundamental. Buscamos identificar as concepções de língua, escrita e avaliação subjacente ao trabalho das docentes através dos aspectos priorizados na correção dos textos produzidos por seus alunos, tentamos compreender as estratégias de correção através das marcas deixadas pelas professoras nos textos das crianças e analisar os critérios de avaliação materializados na correção dos textos. Acreditamos que este estudo pode contribuir na área de estudo avaliação, para a reflexão da prática avaliativa dos docentes, se tais práticas ajudam ou não no processo de ensino. Por outro lado, aos discentes, essa pesquisa pode possibilitar a melhora da aprendizagem, visto que, ao se refletir sobre a prática a tendência é melhorar o ensino. Portanto, este trabalho, tem como objeto a prática docente, mas com a finalidade de melhorar a aprendizagem dos alunos. Nossa hipótese inicial baseada na experiência como professora e coordenadora pedagógica e em pesquisas1, é a de que os professores geralmente avaliam os textos considerando principalmente, os problemas gramaticais e ortográficos, e que os aspectos relativos a textualidade, como coesão e coerência, parecem não ser facilmente visualizados pelos docentes. Entretanto, é importante explicar que temos clareza de que é apenas uma proposição que pode não ser verdadeira e que não temos a intenção de perseguir tal hipótese, no sentido de confirmá-la2. Adotamos como pressuposto básico a ideia de que é indispensável ao professor, reconhecer e valorizar nos textos das crianças não apenas os aspectos relativos à correção ortográfica e gramatical, mas também, os aspectos relativos ao uso dos recursos linguísticos, a organização estrutural e à textualidade. Principalmente colocando-se como leitor dos textos observando como encontram-se 1 Cf. Leal e Guimaraes (1999) Atentamos para os riscos de formular uma hipótese em uma pesquisa. Cf: Luna (1996 p. 33) “É bem verdade que muito já se falou de Bacharach (1969) contra os perigos que qualquer tipo de hipótese pode representar, no sentido de tornar o pesquisador “míope” em relação aos resultados não esperados, mas este é apenas um viés, dentre outros, a atentar o pesquisador. 2 16 linguisticamente construídos, a partir das sinalizações que os alunos apresentam, dentro do contexto em que o texto está inserido proceder a construção de sentidos, valorizando o que o aluno quis dizer, numa atitude de interação. (LEAL e GUIMARÃES, 1999 e KOCH, 2003) Este estudo está organizado em quatro partes. Dedicamos o primeiro capítulo a fundamentação teórica, discutiremos sobre o ensino da Língua Portuguesa e as concepções atreladas aos objetivos propostos para o ensino da língua materna, dentro do contexto sócio-histórico brasileiro. Trataremos também sobre as concepções de escrita e faremos algumas considerações sobre a redação escolar, nessa discussão, refletiremos também sobre a produção textual na perspectiva dos gêneros discursivos. Ainda no primeiro capítulo, faremos algumas considerações sobre as concepções de avaliação, discutiremos as formas de avaliar o texto nas perspectivas: somativa e formativa. Entendemos que discutir avaliação implica estabelecer critérios, por essa razão, abordamos os critérios que os professores utilizam para avaliar os textos. Faremos ainda uma discussão em relação à correção textual, visto que o texto do aluno, corrigido pelo professor, é objeto dessa pesquisa, por isso, julgamos de fundamental importância tecer alguns comentários acerca dos modos de se corrigir e avaliar. No segundo capítulo, explicitamos os objetivos da pesquisa e descrevemos detalhadamente o processo de construção dos instrumentos de coleta, e os procedimentos utilizados para analisar o presente estudo, bem como, a perspectiva de análise adotada. No terceiro capítulo, analisamos o discurso das professoras sobre avaliação da produção textual a partir dos relatos das docentes e da análise das correções feitas pelas mestras. Por fim, na última parte apresentamos nossas considerações finais acerca das apreciações por nós realizadas nos dados analisados. CAPÍTULO 1 - Fundamentação teórica 18 As decisões pedagógicas que tomamos, as atividades que empreendemos – quer se trate de objetivos, quer se trate de currículos, ou de avaliação dependem do conjunto das concepções que temos mesmo que não saibamos explicitá-las. (Irandé Antunes) Iniciaremos esse capítulo concordando com Antunes (2009) quando afirma que as decisões tomadas na prática educativa trazem subjacente uma concepção de ensino, um ponto de vista, que direciona e orienta as ações em sala de aula. A concepção de linguagem adotada pelo professor de uma forma ou de outra influencia as decisões e as perspectivas priorizadas no ensino e na avaliação da língua, porém, nem sempre os docentes têm consciência das concepções que fundamentam sua prática e das escolhas metodológicas que fazem. Muitas vezes, não há uma reflexão sobre os pressupostos teóricos que adotam, chegando mesmo a não saberem exatamente o que estão fazendo ao realizarem determinados procedimentos metodológicos e quais objetivos desejam atingir com as atividades que propõem. Essa questão é preocupante, pois acreditamos que a eficiência do ensino passa pelo conhecimento das concepções e das teorias que estruturam a prática. Diante do exposto, julgamos pertinente discutir neste capítulo algumas concepções que tem relação direta com o nosso objeto de pesquisa. No primeiro momento, refletiremos como foram construídas as concepções que embasam o ensino da língua materna no Brasil, para isso faremos um breve histórico de como se estruturou o ensino da língua portuguesa nesse país, com a finalidade de compreender o contexto sócio-histórico e suas relações com os objetivos para o ensino. Não é nosso objetivo, neste tópico, apresentar uma reflexão profunda e detalhada sobre tais concepções, mas apenas retomar alguns conceitos que nos ajudam a entender a prática de ensino da língua atualmente. No segundo momento, refletiremos sobre as concepções de ensino da escrita buscando compreender os processos que levam o aluno a produzir textos. No terceiro momento discutiremos alguns estudos que diferenciam redação escolar de produção textual, logo após traremos a discussão do ensino e avaliação na perspectiva dos gêneros. 19 1.1 O ensino de Língua materna e as concepções de língua Magda Soares (2007) escreveu um artigo intitulado “Novas perspectivas do ensino da Língua Portuguesa: Implicações para a alfabetização”, a autora nos conta um pouco sobre a constituição do ensino de Língua Portuguesa no Brasil. Com a Reforma Pombalina, em 1759, o ensino de língua materna tornou-se obrigatório em Portugal e no Brasil, a partir de então, se consolidou seguindo o antigo modelo de ensino da Gramática da Língua Latina, ou seja, o ensino da Língua Portuguesa seguiu a tradição do ensino do latim. Tal ensino, quase exclusivamente restrito ao ensino da gramática existia predominantemente aqui no Brasil para a burguesia, já falante da norma padrão culta. Esperava-se do processo de escolarização, além da alfabetização, apenas o conhecimento ou reconhecimento das normas e regras de funcionamento desse dialeto de prestígio. Nessa perspectiva, acreditava-se que ensinar Língua Portuguesa era ensinar as regras da gramática normativa; as classes gramaticais e as regras ortográficas que eram estudadas de forma desvinculada da realidade cotidiana do uso da língua. A concepção vigente era de que a língua funcionava apenas como expressão do pensamento, a enunciação restringia-se a um ato monológico, pois acreditava-se que a expressão se construía no interior da mente, portanto, o modo como se constituíam os textos não dependiam em nada do contexto em que estavam inseridos. A língua era concebida como um simples sistema de normas: acabado, fechado, abstrato e sem interferência social. Em decorrência disso, a escola considerava apenas a norma culta, ignorando todas as outras formas de uso da língua consideradas corrupções da língua padrão. Assim, havia a exigência de que os falantes deveriam usar somente a variante de prestígio, sempre com clareza e precisão, de forma lógica, sem equívocos e ambiguidades. O professor nessa concepção de linguagem evidencia as regras a serem seguidas para a organização lógica do pensamento. Os conteúdos trabalhados seguem essa direção, o texto serve apenas como pretexto para ensinar. O professor como um avaliador, restringia-se a apontar os desvios linguísticos da norma padrão e orientar os aprendizes a não cometê-los, corrigindo os problemas ortográficos e as questões gramaticais. Segundo Soares (2007), na década de 1960 surgiram novas condições sociopolíticas que influenciaram o ensino de Língua Portuguesa, a democratização 20 da escola foi consolidada e houve uma mudança na clientela da escola pública, as camadas populares passaram a ter acesso à escolarização. Naquele momento, os objetivos da escola foram alterados, o contexto político buscava o desenvolvimento do capitalismo por meio da expansão industrial. A lei introduziu a qualificação para o trabalho, e o ensino 1º e 2º graus, tinha como finalidade fornecer recursos humanos para o desenvolvimento industrial. Em virtude disso, as escolas adequaram seus currículos, os conteúdos e objetivos buscavam basicamente instrumentalizar para o trabalho. Outra perspectiva se impõe para o ensino da língua materna, a gramática perde a evidência, e o ensino de Língua Portuguesa deixou de ser concebido como expressão do pensamento, e passou então, a ser regido pela teoria da comunicação, foi então que a linguagem começou a ser percebida como instrumento de comunicação. Assim, a disciplina que se chamava Língua Portuguesa passa a denominar-se Comunicação e Expressão (1ª a 4ª séries) e comunicação em Língua Portuguesa (5ª à 8ª series). Os objetivos são, agora, pragmáticos e utilitários, tratava-se da necessidade de desenvolver e aprimorar os comportamentos dos alunos enquanto emissores-codificadores e receptores-decodificadores de mensagens, para a utilização e compreensão de diversos códigos – verbais e nãoverbais, pois a principal função da linguagem era a transmissão de informações. Já não se trata mais de levar ao conhecimento do sistema linguístico, mas ao desenvolvimento das habilidades de compreensão de mensagens. Para atingir tais objetivos, a escola recorria às teorias da Psicologia Associacionista que fundamentava o ensino e conduzia sua operacionalização em uma pedagogia tecnicista: o ensino da Língua Portuguesa se dava através de “técnicas” de redação, e havia ênfase nas habilidades de leitura, sobretudo de textos informativos, jornalísticos e publicitários, era também enfatizado o desenvolvimento da expressão oral. Essa perspectiva instrumental perdurou durante a década de 1970 e os primeiros anos da década 1980. No início dos anos 1980, o ensino de língua materna começou a mudar devido ao surgimento de uma nova abordagem que concebia a linguagem como forma de interação. Tal concepção recebeu contribuições advindas de várias correntes e teorias de estudo da língua correspondentes à linguística da enunciação (Linguística Textual, Teoria do Discurso, Análise do Discurso, Análise da Conversação, Semântica Argumentativa, e todos os estudos ligados à Pragmática), que colocam 21 no centro da reflexão o sujeito da linguagem que é ativo em sua produção linguística, o qual realiza um trabalho constante com a linguagem dos textos orais e escritos. É importante salientar que o contexto político e ideológico da época da redemocratização do país, contribuiu para mudança dos objetivos mais amplos para o ensino de língua materna, que deixou de enfatizar apenas na comunicação, tão valorizada nos tempos da ditadura militar e passou a enfatizar o sujeito da aprendizagem, o aluno, como elemento ativo na construção do conhecimento e que aprende na interação com o outro. Neste estudo, adotamos a concepção dialógica de língua, que se contrapõe à conceituação de linguagem apenas como expressão do pensamento ou como veículo de comunicação, essas abordagens a consideram como um objeto autônomo, sem historicidade e sem interferência do social. Koch (2003), versando sobre essa concepção que também chama de dialógica, baseando-se em Bakhtin faz a seguinte afirmação: Adotando essa ultima concepção de língua, de sujeito, de texto, a compreensão deixa de ser entendida como simples “captação” de uma representação mental ou como a decodificação da mensagem resultante de uma codificação de um emissor. Ela é uma atividade interativa, altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza, evidentemente, com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas que requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes (enciclopédia) e sua reconstrução no interior do evento comunicativo. (p.17) Ao contrário das concepções citadas anteriormente, esta abordagem situa a linguagem como lugar de interação humana, como lugar de constituição de relações sociais. Nessa perspectiva, o bom texto, segundo Koch (2003), é aquele em que o escritor procura viabilizar o seu projeto do dizer, recorrendo a estratégias de organização textual, orientando o leitor (interlocutor) através de sinalizações textuais (indícios, marcas, pistas) para a construção dos possíveis sentidos; o texto organizado estrategicamente de dada forma, de acordo com as escolhas feitas pelo autor/ produtor, entre as diversas possibilidades que a língua oferece; o leitor, por sua vez, a partir do modo como o texto se encontra linguisticamente construído, a partir das sinalizações que o autor oferece, bem como pela mobilização do contexto relevante a interpretação, vai proceder a construção de sentidos. Até aqui, vimos que cada concepção de linguagem surgiu em um determinado momento histórico, e que os objetivos para o ensino da Língua 22 Portuguesa modificavam-se buscando atender às necessidades econômicas e políticas de cada época. No contexto sócio-histórico atual, e já tendo os conhecimentos científicos bastante divulgados, tais conhecimentos, apontam para a concepção de linguagem enquanto interação. Ainda assim, encontramos nas escolas, práticas pedagógicas que concebem a língua enquanto expressão do pensamento ou como instrumento de comunicação, supomos que isso acontece por lacunas na formação inicial e continuada dos docentes, resistência de alguns professores a novas teorias por não terem um conhecimento mais aprofundado das mesmas, ou ainda, porque na escolas não há um espaço de reflexão sobre as práticas de linguagem. Nesse sentido, para atender aos objetivos do ensino de língua, é necessário que o professor desenvolva uma forma de ensinar que realmente seja produtiva e que lhe permita refletir sobre o seu fazer pedagógico. Para romper com os paradigmas tradicionais, o professor deve ter clareza, que não basta mudar apenas os aspectos metodológicos, há uma questão mais ampla a ser resolvida antes de se adotar uma nova metodologia e de se pensar em novos procedimentos pedagógicos. Suassuna (2006) propõe que, se adote numa visão ampliada de linguagem: não mais como „código‟, para cujo domínio tenhamos que saber regras fixas; não mais o „veículo‟ do pensamento verbal ordenado; não mais o sistema acabado, que paira sobre nossas cabeças. E sim a linguagem prática simbólica sócio-histórica, forma de ação entre os sujeitos, condição mesma da constituição desses sujeitos. (p. 38) A autora supracitada esclarece que há implicações pedagógicas na adoção do conceito de interação e acrescenta que uma nova concepção de linguagem implica em uma mudança no objetivo de ação pedagógica e na seleção dos conteúdos a serem trabalhados. Concordamos com a autora de que é necessário que haja compreensão das concepções de linguagem e de ensino da língua, para que se possa refletir criticamente sobre a prática. Muitos docentes, ainda hoje, resistem a mudanças no processo de ensino da Língua Portuguesa. Tal fato revela-se nas práticas pedagógicas que são norteadas, ainda, por concepções de linguagem percebidas hoje como cientificamente ultrapassadas. No entanto, novas propostas de ensino estão sendo incorporadas no plano de curso das redes públicas e particulares, e alguns professores têm se esforçado para assimilá-las. Não estamos afirmando que tais propostas devem ser aceitas pelos professores pelo fato de serem novas, defendemos que deve ser um 23 processo crítico e consciente. Como bem disse Freire (2006, p.41) “[...] face ao novo, não repele o velho por ser velho, nem aceita o novo por ser novo, mas aceita-os na medida em que são válidos.” Acreditamos que os docentes devem avaliar criticamente as antigas formas de ensinar e conhecer as novas teorias, desprezando o que não é bom e adotando novas posturas para melhorar as suas práticas pedagógicas. Nesse sentido, é consensual entre os estudiosos da linguagem a necessidade urgente de uma ampla mudança de postura, visto que os alunos têm o direito de aprender a língua de maneira dialógica e participativa para poder manejá-la com eficiência, e a morosidade da teorização à prática, ainda é um entrave no ensino. 1.1.1 Concepções de ensino da escrita É fundamental ao professor compreender os processos que levam o aluno a produzir textos, para que possa planejar o ensino de forma mais eficiente. Sercundes (1997) aborda as concepções de escrita de uma maneira bem específica, após verificar episódios de produção e circulação de textos no interior das atividades escolares, a autora encontrou basicamente dois tipos de práticas que respondem a diferentes concepções do ato de escrever e a diferentes concepções metodológicas: produções textuais sem atividade prévia, e produções textuais com atividade prévia. O primeiro tipo, produções textuais sem atividade prévia, tem como pressuposto a concepção de escrita como dom. Nessa perspectiva, as atividades de escrita acontecem desvinculadas de qualquer atividade prévia que possa ativar os conhecimentos dos alunos a respeito do tema a ser desenvolvido na produção textual, ou seja, o professor propõe um tema, mas, não há nenhuma orientação para subsidiar o aprendiz na construção de seu texto. O aluno é solicitado a escrever acerca de assuntos sobre os quais nem sempre tem domínio, o que acaba por se tornar uma atividade sem propósito, desvinculada de qualquer trabalho discursivo, no qual o único objetivo é a avaliação. A autora classifica ainda, um segundo tipo de produção textual, a escrita com atividade prévia, que englobam a escrita como conseqüência e a escrita como trabalho. Na abordagem da escrita como consequência os textos são produzidos a partir de atividades prévias como: a leitura e interpretação de um texto, o estudo do vocabulário, ou ainda um filme, uma palestra, um passeio, etc. Tais atividades 24 seguem o roteiro tradicional dos livros didáticos e servem apenas como pretexto para a escrita, além de serem “previstas, controláveis, porque o material não é formulado para o professor usá-lo, e sim para segui-lo” (SERCUNDES, 1997, p. 80). No entanto, de acordo com a autora, o tempo dado para a produção textual não é suficiente para a sedimentação do conhecimento, nesse processo, não é possível incorporar vozes alheias ao texto veiculadas durante esse processo inicial, para que as palavras do outro se tornem palavras próprias do aluno. A escrita é vista, portanto, como resultante de um processo mecânico de aquisição de informações através da leitura. O que existe é uma homogeneização do sentido, a qual, conduzida pelo professor, induz os alunos a produzirem textos com um único sentido. A segunda abordagem de produção textual com atividade prévia é a escrita como trabalho, nesta perspectiva, o ato de escrever não ocorre através de um dom natural, ou apenas como decorrência de atividades escolares, mas do esforço intelectual do escritor (aluno) e do planejamento de atividades por parte do professor, já que se trata de um processo de construção contínuo, realizado em vários momentos, como acreditam Fiad & Mayrink-Sabinson (1994): planejamento, execução, leitura do texto e modificação, a partir da sua reescrita. Geraldi (1996,) baseando-se em Bakhtin, também propõe a escrita como trabalho em um processo de interação com atividades de refacção textual, em que o interlocutor determina o movimento “inter-intra-inter individual”. (p. 137) Sercundes (1997) corrobora com esses autores, de que a escrita como trabalho “surge de um processo contínuo de ensino/aprendizagem”, possibilitando “integrar a construção do conhecimento com as reais necessidades dos alunos” (p. 83), que passam a escrever na escola, conforme sugere Geraldi (1993), constituindo-se sujeitos de seu dizer, com objetivos e interlocutores definidos. Dessa forma, podem-se organizar procedimentos didáticos divididos por etapas, que podemos chamar também de sequências didáticas. Desse modo, as etapas seriam: leitura e discussão a respeito do assunto a ser estudado; levantamento e leitura de textos extras a respeito do assunto; organização das ideias levantadas; execução do texto. Assim, todas as atividades prévias darão suporte ao processo de produção. Todavia, na concepção de escrita como trabalho, tais atividades, não servirão apenas como pretexto, mas como ponto de partida para novas produções, as quais poderão ser revistas a partir da leitura do texto pelo próprio autor, pelo professor ou 25 por outros alunos. Assim, depois de realizadas as etapas iniciais, prosseguiria o trabalho de reescrita textual. Acreditamos que esse processo de construção do texto ajude o aluno a se reconhecer como usuário da língua, tornando-o capaz de usar e incorporar novas possibilidades que a língua oferece, e utilizá-la de maneira adequada para expor suas ideias. A autora destaca ainda, que esta forma de trabalhar a produção textual, possibilita aos educandos entenderem como a experiência vivenciada e a participação efetiva na sociedade pode influenciar na organização das ideias e na clareza do texto. Quando o aluno consegue perceber a organização da língua, ele descobre as várias possibilidades de discurso e se torna apto para absorver, ampliar e usar o conhecimento a respeito de si e do mundo que o cerca. Assim, o texto escrito é percebido pelo professor e pelo aluno como uma contínua construção do saber, como uma produção elaborada a partir da interação. Ressaltamos a importância dos saberes dos professores, o que estamos chamando atenção aqui é que, a concepção de escrita do professor pode influenciar na aprendizagem, é fundamental que os professores adotem uma postura críticoreflexiva como defendia Freire (1996) ao falar sobre os saberes necessários à prática educativa diz que não nascemos sabendo, “que somos programados, mas para aprender”. Portanto, aprender é inerente ao ser humano, assim, entendemos que escrever é um conhecimento como outro qualquer, que pode e deve ser ensinado e aprendido. Cabendo ao professor organizar o ensino da escrita de modo a facilitar a aprendizagem. Vamos retomar aqui a discussão da concepção do dom, que subjaz uma prática onde os docentes encaminham as atividades de produção textual de forma desarticulada e sem objetivos claros e definidos por conceberem que escrever não se ensina, esse saber nasce com o indivíduo. Sobre esta abordagem, Suassuna (2006) diz que [...] a persistência do mito do dom, segundo o qual redação é algo que já se nasce sabendo. Acreditando nisso, muitos professores de português encaminham a produção escrita na escola de modo espontaneísta, e não como instância articulada da prática da linguagem em geral [...] (p.91). Parafraseando Guix (2008)3, acreditamos que ensinar a produzir texto acreditando que a escrita é um dom, significa ensinar aos alunos com dificuldades No original: “Pertencer ao grupo dos „sem dons‟ nos transforma em eternos aprendizes de algo que, de antemão, já sabemos que nunca aprenderemos.”(p.7,8) 3 26 na escrita, que esses, pertencem ao grupo dos „sem dons‟ o que os transforma em eternos aprendizes de algo que, de antemão, já se sabe que nunca aprenderão. Essa dinâmica é desenvolvida muitas vezes, pelos professores na prática de sala de aula, ensinando a escrever sem acreditar que todos são capazes de aprender, mesmo que não tenham consciência disso. Entendemos que nossas aprendizagens derivam das oportunidades sociais que vivenciamos: pertencer a uma determinada cultura, a educação que recebemos em nossa família ou na escola, nos capacitam para desenvolver habilidades, como por exemplo, a escrita. A Sociologia da educação de Pierre Bourdieu tem como grande mérito ter fornecido as bases para um rompimento frontal com a ideologia do dom e com a noção moralmente carregada de mérito pessoal. A partir de Bourdieu, com o conceito de habitus4 tornou-se praticamente impossível analisar as desigualdades escolares, simplesmente, como fruto das diferenças naturais entre os indivíduos. (NOGUEIRA e NOGUEIRA, 2006 p. 121) Acreditamos que para que haja uma ruptura epistemológica com o senso comum, é necessário que essas teorias sejam tratadas nas formações de professores e que os esses passem a refletir mais sobre a sua própria prática. É esse movimento teoria/ prática / reflexão sobre a prática que pode contribuir para uma mudança qualitativa em relação ao ensino da língua, em particular, em relação à produção de texto. Dito de outra forma, é o exercício da prática pedagógica, o estudo da teoria que fundamenta a prática, o exercício dessa teoria e a reflexão crítica, que podem favorecer uma mudança de paradigma. Não estamos defendendo uma postura prescritiva, mas acreditamos que o pensar sobre, ou seja, a reflexão sobre a ação, pode contribuir para que o docente atue com mais segurança e tenha clareza de como atingir os objetivos para o ensino. Neste estudo investigamos a avaliação do texto escrito, para dar continuidade a essa discussão, consideramos imprescindível tratarmos sobre os conceitos de redação e produção textual e as implicações nas condições de produção e avaliação do texto. 4 O habitus seria a mediação entre a estrutura e a prática. Cada sujeito vivenciaria uma série de experiências, em função de sua posição nas estruturas sociais, que efetivariam sua subjetividade, constituindo uma espécie de “matriz de percepções e apreciações”, que orientaria suas ações nas situações posteriores. O habitus seria, então, produto da incorporação das estruturas sociais e da posição de origem pelo sujeito, que passaria a “estruturar as ações e representações dos sujeitos” (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2004, p. 28). 27 1.1.2 Algumas considerações sobre a redação escolar Alguns autores fazem uma diferenciação entre redação e produção de texto. Então, poderíamos nos perguntar: o que diferencia a redação da produção de texto? Não será apenas uma questão de nomenclatura? Estudos indicam que a terminologia “redação escolar” traz implícita a ideia de uma escrita para fins de treinamento, Geraldi (1993), nos ajuda a esclarecer esta questão estabelecendo uma dicotomia entre produção textual e ensino de redação. Segundo o autor, no trabalho com redação os textos são produzidos para a escola; já na perspectiva da produção textual, produzem-se textos na escola. Britto (1990), também faz algumas criticas a redação escolar. Em primeiro lugar, atenta para o fato de a mesma não ser uma atividade real de significação, mas “uma atividade linguística artificial,” cujo objetivo é treinar o aluno nas “técnicas da escritura.” Dito de outra forma, o aluno não lê um texto pelo valor que possa ter, nem o redige como um ato interlocutivo de fato, mas como treinamento. Do mesmo modo, o professor não “lê” o texto; ele avalia a produção do aluno em função de seus “erros e acertos.” Em segundo lugar, o autor refere-se a “coisificação” do texto, isto é, o texto como “coisa”, sem interlocução e sem sujeito. Seu início e fim é a correção “e por isso pode ser jogada fora depois que o professor atribui uma nota” (BRITTO, 1990: p. 19). Em outro momento, Britto (2002), classifica a redação como um gênero que só se escreve na escola, [...] caracterização da redação escolar enquanto um gênero escolar, que se subdivide em dissertação, narração e descrição, desvinculado do exercício efetivo de leitura e escrita, que se realiza no interior de uma disciplina. (p.108). Dificilmente será solicitado ao educando, fora dos muros da escola, que redija uma narração ou uma descrição. Já à dissertação, talvez esta seja solicitada em concursos e vestibulares, e nem todo vestibular, visto que atualmente, está sendo adotada por algumas universidades a redação mimética, ou seja, produção textual a partir dos gêneros discursivos. Marinho (1997), também faz uma diferenciação entre redação e produção de texto, segundo ela, a prática de produção de textos não deve ser confundida com o exercício de redação. Na redação, os alunos escrevem um texto com um tema proposto pelo professor, em que geralmente, não foi pensado e trabalhado 28 anteriormente, é o exercício de redação, que se dá numa situação artificial e forçada no emprego da língua, constituindo-se numa atividade de produção de textos para a escola, para o professor. Esse modelo se escora na visão de escrita como dom. Os autores supracitados convergem em um ponto: a redação escolar é uma proposta de escrita que não propicia situações reais de interesse, ou seja, há uma certa artificialidade nos textos, como se produzir texto na escola fosse uma tarefa desprovida de sentido. Geraldi (1993) propõe que ao se produzir um texto é necessário que se tenha o que dizer, se tenha uma razão para dizer, se tenha um interlocutor desse dizer. Nesse sentido, mesmo em uma conversa, há um projeto discursivo em jogo, ou seja, o interlocutor tem algo a dizer, tem um discurso a materializar, tem um interlocutor com quem interage. Já na redação “escolar” não, em vista disso, as redações comumente apresentam muita escrita e pouco texto (pouco discurso), pois o projeto discursivo não está claro para o estudante. Ao propor produções textuais em que o aluno não tenha o que dizer e, principalmente, para quem dizer, ou seja, interlocutores, a escola realiza uma atividade que se desenvolve mecanicamente. São exemplos disso, produção textual a partir da observação de uma gravura, sem o estabelecimento de uma interação, sem que o aluno tenha algo relevante a dizer, tais atividades podem ser consideradas apenas “preenchimento de folhas em branco”, assim, os aprendizes repetem muitas vezes a mesma coisa no texto, com o intuito de completar a quantidade de linhas estipuladas pelo professor. Tais exercícios de redação têm a finalidade de preparar o aluno para um depois, como se hoje, fosse uma não vida, e não orienta, para uma relação interdiscursiva, são atividades artificiais que não constroem sujeitos autores e produtores de discursos. 1.1.3 Produção textual na perspectiva dos gêneros Devido às influências que vieram de muitas direções, principalmente do campo da pragmática, das perspectivas interacionais de linguagem que contribuíram para uma ampliação de paradigma que afetaria a concepção de língua, de escrita, de texto, surge uma outra compreensão do conceito de redação. A redação tradicional passa a ser questionada, ganharam força às teorias sócio-discursivas, favorável ao ensino dos gêneros do discurso. Nessa abordagem, o texto deixa de 29 ser visto como uma estrutura tipológica, e passa a ser concebido como um gênero, possibilitando um trabalho de produção textual mais significativo para o educando. Tal proposta aponta para a necessidade de se priorizarem, no ensino de leitura e de escrita, as interações discursivas entre os sujeitos, bem como, inserir os aprendizes em práticas de escritas mais próximas da realidade. Nesse sentido, Marcuschi (2006) traz uma reflexão sobre redação, considerando a teoria dos gêneros, quando o gênero “redação escolar” é utilizado como objeto de ensino, compreende pelo menos dois subgrupos: redação clássica ou endógena e redação mimética. O primeiro grupo denominado redação clássica, refere-se ao texto presente na tradição escolar. Pode ser solicitada a partir da indicação de um tema, de uma tipologia textual, ou mesmo dos dois ao mesmo tempo. O tema das redações geralmente envolve algum evento, data comemorativa (dia das mães, dia da árvore, dia do estudante, natal, etc.), alguma ocorrência na comunidade ou simplesmente reproduz assuntos tradicionais da cultura escolar (minhas férias, uma aventura, um passeio). Nesses casos, o tema acaba se transformando muitas vezes no próprio título do trabalho do aluno, costuma ser escrito no quadro ou explicitado oralmente pelo professor, sem que seja fornecida qualquer orientação de planejamento do texto. È a redação clássica propriamente dita O segundo grupo denomina-se redação mimética, relativamente recente no ambiente escolar, não pode ser compreendida desconsiderando a enorme contribuição oferecida pelos estudos de Bakhtin (1994) às questões discursivas da linguagem, nem da abordagem mais ampla oferecida pela escola de Genebra, sobretudo por Schneuwly e Dolz (2004), no que concerne a transposição didática 5 dos gêneros textuais. A redação mimética é hibrida, pois é elaborada “a moda de um determinado gênero textual,” sem, contudo perder as características do gênero redação, ou seja, ao mesmo tempo em que ela preserva as características de gêneros que circulam em contextos sociointeracionais diversos, conserva igualmente os traços de uma redação tipicamente escolar, pois se constitui um objeto de ensino e de 5 Cf. Chevallard (1991) Transposição Didática: Trata especificamente da transformação que passa o saber, ou seja, do processo de transposição de saberes ensinados na escola. 30 aprendizagem com função nitidamente pedagógica. A redação mimética envolve ações que se inter-relacionam com encaminhamentos de uma avaliação formativa. A autora destaca que apesar dos dois procedimentos mencionados (clássico e o mimético) levarem a produção de uma redação escolar, é fundamental que o professor dê prioridade ao trabalho com o segundo grupo, a redação mimética, dada a contribuição que esta pode oferecer a construção da textualidade e a formação de um aluno produtor de texto autônomo e competente. (MARCUSCHI, 2006, p. 65) Nesse aspecto concordamos com a autora em priorizar o trabalho com a redação mimética, por acreditarmos que a produção de textos é uma atividade em que se produzem discursos. De acordo com Bakhtin (1994), é na interação verbal, estabelecida pela língua com o sujeito falante e com os textos anteriores e posteriores, que a palavra (signo social e ideológico) torna-se real e ganha diferentes sentidos conforme o contexto. Para este autor, os modos de dizer de cada indivíduo são realizados a partir das possibilidades oferecidas pela língua e só podem se concretizar por meio dos gêneros discursivos. Os gêneros discursivos são enunciados relativamente estáveis, veiculados nas diferentes esferas de atividade humana. Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos que recriá-los pela primeira vez no processo da fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase que impossível. (BAKHTIN, 1994 p.302). Partindo dessa citação, podemos considerar que os gêneros discursivos são inerentes a língua. Portanto, tornam-se objeto de ensino, uma vez que se concretizam nos textos que circulam na sociedade. Os gêneros discursivos são inúmeros e sofrem constantes mudanças e hibridizações, categorizá-los não é uma tarefa fácil. Todavia, no processo de transposição didática se faz necessário essa categorização. Sobre esse aspecto, Soares (1999), afirma que para ensinar tem escolarizar, que é um processo inevitável e necessário, é inerente ao âmbito escolar. Segundo ela, a questão não está em escolarizar ou não os conhecimentos, mas em escolarizá-los de forma adequada. Nesse sentido, a escolarização inadequada de conhecimentos é que deve ser criticada e não á escolarização em si. Nessa perspectiva, acreditamos que a proposta de Dolz e Schneuwly (2004), seja mais adequada no processo de escolarização dos gêneros. Os autores sugerem que os gêneros discursivos podem ser agrupados, no processo de ensino- 31 aprendizagem, em função de regularidades. Propõem agrupamentos dos gêneros em ordens, a partir do domínio social (áreas de atividade humana em que circulam); tipologia (estrutura, construção composicional) e capacidades de linguagem: do narrar; do relatar; do argumentar; do expor e do prescrever. Nessa perspectiva, o gênero discursivo é tomado como objeto de ensino de língua e o texto, como unidade de significação e de ensino: elemento integrador, sem artificialidade, das práticas de leitura, análise lingüística, de produção e refacção textual. No tocante ao trabalho com os gêneros discursivos em sala de aula Antunes (2009) elenca as implicações pedagógicas desse trabalho das quais vale a pena citar as seguintes: os textos tanto orais como escritos, com suas normas, passariam a ser objeto de estudo, mesmo nos primeiros anos do ensino fundamental. Poderia ter fim o monopólio da gramática e a velha prática de usar o texto como pretexto para encontrar classes de palavras que os alunos precisam aprender a reconhecer e classificar; as atividades de escrita deixariam a perspectiva generalizada e indefinida e a escola passaria a nomear os textos, ou seja, não seria apenas redação. recobraria pleno sentido o estudo das estruturas composicionais dos textos, visto que todo texto se concretiza numa determinada forma de construção que engloba certa sequência de elementos, mais ou menos, estipulados. Se somos capazes de empiricamente de reconhecermos a que gênero pertence um determinado texto, é porque identificamos as formas prototípicas de eles se concretizarem numa determinada sequência; as regras gramaticais ganhariam seu caráter de funcionalidade, uma vez que seriam exploradas de acordo com as particularidades de cada gênero são exemplos: o estudo dos pronomes de tratamento seriam estudados no trabalho com o gênero carta ou de outros tipos de comunicação interpessoal e, não, a partir das sequências de classes de palavras; as diferenças nos modos e usos dos tempos verbais ganhariam sentido quando trabalhadas em um determinado gênero narrativo, descritivo ou expositivo; uma noticia por exemplo, apresenta uma sequência de fatos que se evidencia pelo uso de verbos no pretérito e por expressões que marcam sequência temporal; os conectivos argumentativos mereceriam um estudo particular quando fossem analisados gêneros dissertativos ou opinativos e assim por diante; 32 as atividades de compreensão superariam a expectativa de simplesmente entender o texto, ou a semântica de seu conteúdo, para atingirem propósitos comunicativos com que foi posto em circulação. Ou seja, deve-se ir além do sentido para identificar também as intenções pretendidas pelo autor, as quais se expressam nas palavras e em muitos outros sinais; o estudo dos gêneros possibilitaria aos alunos perceber como a elaboração e compreensão de um texto resultam da conjunção de fatores internos e externos à língua, essa conjunção poderia fundamentar, inclusivamente a prática de análise linguístico-pragmática de mal entendidos e de conflitos, de impressões ou ambigüidades, atestados em uma comunicação; esses e outros objetivos influenciariam na avaliação, os conceitos de „certo‟ e „errado‟, formas quase exclusivas de se avaliar na escola, cedessem lugar a outras referências, reveladoras da relação entre língua e contexto, entre um interlocutor e outro, entre dizer e fazer. Nessa perspectiva, o bom texto não seria visto, simplesmente pela ótica da correção gramatical; no trabalho com os gêneros, as dificuldades de produção e de recepção dos textos seriam mais facilmente atenuadas e progressivamente superadas, devido a familiaridade dos alunos com a diversidade dos gêneros que os deixaria aptos para, além de produzir, favoreceria a capacidade de alterar os modelos e criar outros novos; cada gênero, constitui uma espécie de classe, de agrupamento particular, representa um conjunto de textos com semelhanças formais muito próximas. Assim, cada gênero admite subtipos no interior de seu próprio escopo. Cita como exemplo, a „carta‟ que corresponde a diferentes configurações (carta de amor, de recomendação, de cobrança, de apresentação, de solicitação de protesto, de demissão, de leitor, etc.). Por essas e outras razões, os gêneros textuais permitem que se apreenda o funcionamento da língua como parte de muitas e diferentes relações histórico-sociais; por isso mesmo, um funcionamento complexo e heterogêneo. As implicações, observadas por Antunes (2009), são bastante pertinentes, e nos levam a duas ideias básicas: que o trabalho na perspectiva dos gêneros discursivos pode ser mais eficiente na produção e avaliação do texto escolar e que pode impedir que o texto escolar seja apenas produto de treinamento ou 33 coisificação6. Por outro lado, para que isso aconteça é necessário que o docente se instrumentalize teoricamente para que as atividades realizadas não sejam encaminhadas apenas como técnicas em si mesmas, independente de sua base teórica, mas que seja resultado de uma atividade consciente e reflexiva por parte do professor. (SUASSUNA, 2006). Em relação à avaliação, acreditamos que para avaliar é necessário estabelecer critérios e que o professor terá mais condições de avaliar os textos dos alunos, tomando como um primeiro critério trabalhar produção textual partindo do gênero devido a contribuição que este pode oferecer a construção da textualidade 7. Além desse critério, outros são relevantes, como discutiremos mais adiante. 1.2 Concepções de Avaliação Há, pois, na avaliação, um olhar que é retrospectivo – vê o que foi feito antes – e outro prospectivo, que aponta para futuros rumos e para futuras opções. (Irandé Antunes) Como já discutimos anteriormente, temos como pressuposto básico que a prática educativa adotada pelo docente traz imbuída concepções que podem justificar as decisões e as perspectivas priorizadas no ensino e na avaliação. Suassuna (2006), ao abordar os paradigmas da avaliação, afirma que esta não é uma prática neutra, ou seja, ela se dá numa sociedade historicamente determinada, a partir de condições concretas, dentro de um quadro de valores que confere justificativa e coerência. A opção por um determinado modelo de avaliação relaciona-se com opções epistemológicas, éticas e políticas, as quais correspondem a uma visão de mundo, conforme objetivos e resultados pretendidos. (SUASSUNA, 2006) Silva (2006) corroborando com essa ideia, afirma que avaliar é um ato político, sempre vinculado a um modelo de sociedade. Quando esse modelo é neoliberal, a avaliação é classificatória, competitiva e excludente; quando o modelo é não-liberal, a avaliação é educativa, solidária, includente e emancipadora (SILVA, 2006). Consequentemente, o debate sobre avaliação educacional não pode ser visto 6 Tratar o texto como coisa, que só serve para exercitar a língua, ensinar regras, mas não funciona socialmente, como esfera de interlocução. 7 “Por textualidade, então, se pretende considerar a condição que têm as línguas de somente ocorrerem sob forma de textos e as propriedades que um conjunto de palavras deve apresentar para poder funcionar comunicativamente”. (Antunes,2009 p.50) 34 como um embate meramente técnico, de técnicas avaliativas, mas uma discussão político-pedagógica e epistemológica. Nesse sentido, podemos questionar: quais concepções de avaliação norteiam a prática pedagógica dos docentes? Para responder a essa questão, abordaremos duas principais concepções de avaliação. De acordo com Suassuna (2006) muitos autores do tema convergem que existiriam dois grandes paradigmas de avaliação: um, caracterizado pela classificação, pelo controle, pela competição, pela meritocracia que chamamos aqui de avaliação tradicional ou classificatória, e outro, caracterizado pelos aspectos formativo, processual, democrático – que chamaremos aqui de reguladora ou formativa (p.27) Nesta discussão, utilizamos o termo avaliação somativa quando nos referimos a avaliação tradicional ou classificatória e avaliação formativa quando nos referimos a uma avaliação de caráter democrático e processual . O objetivo desse debate é analisar a relação entre as concepções pedagógicas e os significados assumidos pela avaliação no contexto escolar, em particular, relacionadas com as práticas avaliativas da produção textual. Refletiremos sobre o papel do professor; a visão do erro nas duas abordagens ressaltando a concepção de língua que subjaz em cada uma delas. 1.2.1 A avaliação do texto em uma perspectiva somativa Também conhecida como avaliação classificatória, cujo principal objetivo é determinar o grau de conhecimento do aluno. Não leva em consideração as subjetividades e discrimina os modos diferentes de se perceber a aprendizagem. Todavia, o que queremos enfocar é que a avaliação deve ir muito alem do terreno de medir, controlar e classificar. De acordo com Marcuschi (2004), a avaliação somativa é aquela que ocorre na escola em períodos demarcados, sem o propósito de interferir no processo de ensino-aprendizagem, mas de fixar etapas para o tratamento do conteúdo por parte do docente. Essa abordagem tem como função punir, premiar, rotular e classificar o aluno. Esse tipo de avaliação enfatiza o certo ou o errado, o verdadeiro ou o falso, não há respostas parcialmente aceitas. Nesta concepção a avaliação é vista como um fim em si mesma, desvalorizando por conseqüência, os conhecimentos e as 35 competências dos alunos. O processo de construção do conhecimento não é valorizado, enfatiza-se o produto cujos resultados traduzem-se em notas. A avaliação do ensino da língua materna no Brasil tem sido tradicionalmente realizada na perspectiva somativa, a principal preocupação é atingir uma avaliação objetiva, que possa ser quantificada, priorizando na avaliação as violações detectadas na estrutura da língua. Trata-se de uma perspectiva que concebe e avalia a língua como código. Nessa abordagem, o erro é sempre visto como falha, falta, lacuna. As intervenções do professor, ao verificar o desvio em relação aos objetivos e conhecimento previamente estabelecidos deveriam reconduzir o aluno a atingir esses mesmos objetivos e conhecimentos conduzindo o aprendiz a “corrigir a rota” (SUASSUNA, 2006). Suassuna (2006) versando especificamente sobre o ensino da língua materna afirma que a avaliação não se configura como um processo dialógico, reduzindo-se muitas vezes, a uma mera aferição do conhecimentos metalingüístico acabado (nomenclaturas e classificações), ou de verificação de erros presentes na superfície textual (como os de ortografia, por exemplo). (p. 2008) De acordo com a autora, essa forma de avaliar o ensino da língua materna tem a ver com a própria origem do ensino de português baseado nas gramáticas normativas tradicionais, nas quais a língua é concebida como um código, exterior aos sujeitos e deslocados dos contextos sociais de uso. Em relação à concepção de escrita como código, Marcuschi (2004) afirma que dificilmente um professor que trabalhe a escrita como codificação, sem requerer investimento de autoria por parte do aluno, e que valorize, sobretudo, o acerto gramatical e ortográfico, irá considerar na avaliação de redações, o processo de construção textual vivenciado pelo aprendiz. Não se espera igualmente que estimule e avalie as atividades de planejamento, revisão e refacção textual. No máximo, será solicitado ao aluno que passe o texto a limpo, eliminando os erros cometidos no texto, todavia não há a preocupação com uma avaliação interativa. 36 1.2.2 A avaliação do texto em uma perspectiva formativa Em seus estudos sobre avaliação, Suassuna (2006) afirma que a abordagem formativa é um paradigma em construção que está comprometido com uma educação democrática; que busca qualificar o ensino e a aprendizagem; tem uma função diagnóstica; enfatiza aspectos qualitativos, considera não apenas os resultados, mas o processo de produção desses resultados. A natureza formativa da avaliação remete não para a correção do rumo e a homogeneidade, mas para o movimento próprio das relações pedagógicas e da linguagem. (SUASSUNA, 2006). Esta abordagem fundamenta-se no paradigma das aprendizagens significativas8, que se aplicam em diversos contextos e se atualizam o quanto for preciso para que se continue a aprender, prezando por uma educação continuada. Somente neste contexto, é possível falar em avaliação inicial e final, que contribui para o desenvolvimento das capacidades dos alunos e amplia a qualidade de ensino, prevendo-se que os sujeitos possuem ritmos e processos de aprendizagem diferentes. Ao contrario da abordagem somativa, a avaliação formativa não acontece na escola em períodos demarcados, mas é processual, isto é, ocorre durante todo o processo de ensino-aprendizagem. Nessa perspectiva valoriza-se o processo e não apenas o produto, o foco avaliativo não se resume, portanto, apenas a constatar se a tarefa foi bem resolvida ou não, atribuindo-se a partir daí uma nota, a verificar erros e acertos, mas em observar e descrever a capacidade do aluno em mobilizar e articular recursos da língua. Nessa concepção o que interessa é regular o ensino para adaptá-lo ao aluno e levá-lo a construir os conhecimentos pretendidos. O erro nessa abordagem é observado a partir de seu aspecto positivo, pois demonstra as hipóteses construídas pelo aprendiz, ou seja, o que ele já sabe e indica ao professor o que precisa ser ensinado sobre o conhecimento avaliado. O erro não pode ser entendido como falta total de conhecimento, concebendo o aluno como uma tábula rasa, mas deve ser analisado como elaborado, ainda que parcialmente, como aponta Vygotsky (1994), com o conceito de Zona de 8 “Este paradigma está inserido em um complexo de paradigmas que seguem diversos credos teóricos e políticos, que legitimam vários projetos de sociedade e que compõem o imenso leque de tentativas de superação da crise da sociedade capitalista transformando-a, em oposição aos paradigmas que intencionam apenas aperfeiçoá-las” .Cf. SILVA (200? p. 9) 37 Desenvolvimento Proximal, que se constitui como um dos níveis das funções psicológicas superiores, estabelecendo-se pelo processo de elaboração compartilhada, algo em que a criança, a pessoa ou o próprio sujeito é ajudado por outra pessoa mais experiente a desenvolver sua aprendizagem. Assim será possível dizer que o individuo “ajudado” reelaborará seus conceitos, suas ideias, seus pensamentos, suas sistematizações, para depois concretizar seu aprendizado, é o que Vygotsky denomina como Zona de Desenvolvimento Real, estabelecendo novamente a dialética entre o aprender e o desenvolver; é possível detectar também que a ideia de superação é fundamental para Vygotsky, isto se pode perceber quando ao tratar dos níveis de desenvolvimento, ele ressalta a importância da interação entre a criança e o outro em um nível mais avançado, pois com a ajuda do outro, a criança pode ter impulsionado o seu desenvolvimento cultural, levando a sua superação, indo além do nível em que se encontrava. O que antes se tratava de um nível de desenvolvimento potencial, com a ajuda do outro se torna um nível de desenvolvimento real e, assim sucessivamente. Essa visão do erro enquanto elemento do processo de ensino-aprendizagem trazida por Vygotsky, contempla como deve ser a compreensão do “erro” na perspectiva da avaliação formativa. Nesse sentido, é fundamental explicitar o papel do erro que, nesta concepção, em lugar de provocar sanção ou falta, passa agora a ser tratado de uma outra forma, porque demonstra os saberes do aprendiz construídos ou os que estão em construção. Para ilustrar, pegamos emprestado um exemplo de Marcuschi (2004), em uma redação, o aluno introduz outros textos sem a necessária atribuição de autoria, não é o momento de puni-lo, desqualificando sua tentativa como uma cópia, mas de valorizar sua iniciativa, trabalhando com ele a citação e a inserção de outras vozes no texto. A avaliação formativa associada ao ensino da Língua Portuguesa em particular a produção de texto, como defende a autora, deve ser regido com base em atividades linguísticas socialmente pertinentes e motivadoras, às quais subjaz a noção de língua como atividade, como interação, concebendo-se o texto como um processo. Nesse caso, em relação à avaliação textual, a primeira versão de um texto elaborada pelo aluno, nunca será a definitiva e os problemas identificados irão assumir papel relevante no plano didático do professor. Aliás, a primeira versão será também submetida a outros leitores, que não apenas o docente, conscientizando 38 assim seu autor de que o texto necessita de uma estruturação mínima para que possa ser compreendido por um destinatário exterior. 1.3. Avaliação da produção textual e a adoção de critérios Para começar a pensar o que, e como avaliar o ensino da produção textual, é necessário que reflitamos sobre quais critérios adotar. Diversos pesquisadores têm se dedicado a investigar essa temática Evangelista, e outros (1998), Leal e Guimarães (1999), Geraldi (1995), Val (1991, 2009), Marinho (1997) Marcuschi (2004), entre outros . Esses estudos defendem que o processo de avaliação deve ser conduzido a partir de uma análise criteriosa das condições de produção do texto na escola, apontam como deve ser tratada pelos docentes a avaliação da produção textual, em particular os critérios que devem ser estabelecidos para ensinar a produzir textos. Há vários anos, Val (1991) analisou redações de candidatos do exame vestibular da UFMG. A autora defende que um texto será bem compreendido quando avaliado sob três aspectos: o primeiro, o pragmático, que tem a ver com seu funcionamento enquanto atuação informacional e comunicativa; o segundo semântico-conceitual, de que depende a sua coerência; e terceiro, o formal, que diz respeito à sua coesão. Segundo Val, uma avaliação que pretenda respeitar o texto do aluno e percebê-lo na sua totalidade deve levantar alguns questionamentos: dada situação comunicativa, as características e as disposições dos interlocutores, e o tipo textual, essa produção linguística se mostra aceitável? Tem continuidade? Apresenta progressão? Mostra-se não-contraditória e bem articulada? Faz uso adequado dos recursos coesivos que servem à expressão dessas qualidades? É suficientemente clara e explícita na apresentação das informações? Comporta um mínimo de novidade que possibilite reconhecê-la como manifestação personalizada e capaz de atrair a atenção do leitor? A autora afirma que as respostas a essas perguntas não são redutíveis à exatidão de valores quantitativos, mas passam inevitavelmente pela interpretação e pelo bom senso de quem lê o texto, isto é, estão mais diretamente relacionados com a competência textual, que determina a capacidade das pessoas de produzir e interpretar textos. 39 Val destaca que a preocupação da escola de avaliar as redações escolares com objetividade tem resultado em esquemas de correção e atribuição de notas dos quais se tiram pontos quando às convenções relativas à ortografia e pontuação são violadas. Ou seja, a avaliação acaba privilegiando os aspectos mais superficiais do texto escrito, que nada te a ver com a essência do texto, ou com a textualidade, mas que são suscetíveis a avaliação objetiva. A autora defende que o ensino do texto escrito só teria a ganhar se a escola buscasse respeitar dizer do aluno. “A interação comunicativa de verdade é um processo essencialmente intersubjetivo: são as pessoas que produzem e interpretam os textos, e entram nesse jogo com toda a sua individualidade” (VAL, 1991 p.36). Nesta citação, Val sugere que o professor deve avaliar considerando principalmente o sentido do texto e valorizar o dizer do aluno/autor. Os resultados do estudo apontam que o maior problema de grande parte das redações analisadas não se encontrava na superfície do texto, ou seja, não apresentavam violações significativas da norma culta e traziam poucas falhas no tocante à utilização do código escrito (ortografia e pontuação), mas continham problemas relacionados aos aspectos cognitivos da macroestrutura que tem a ver com a eficiência pragmática do discurso, que tem relação direta com o conhecimento de mundo. A autora constatou que os textos não se tornariam melhores se fossem corrigidos, sem os erros gramaticais. Esse dado aponta duas questões: a primeira, os vestibulandos revelaram um desempenho satisfatório na aprendizagem dos aspectos superficiais (ortografia, pontuação, forma) que dependem de instrução e treinamento, mas que, não são suficientes para garantir a textualidade e a qualidade de um texto. A segunda questão revela a necessidade de uma mudança no sentido de ampliar as aprendizagens necessárias ao trabalho de escrita; para isso, deve-se criar oportunidades significativas de produção de textos, que permitam uma progressiva familiaridade com os mecanismos da escrita. Para Val (1991), as redações dos vestibulandos, a maioria certinhas e arrumadinhas, mas desinteressantes e inconsistentes, são fruto das condições de produção a que foram submetidos os autores, não só na hora do vestibular, mas na maioria das vezes que foram solicitados a escrever na escola. Dessa forma, ela sugere que “é hora de mudar a rota”, e estabelecer novos objetivos para o ensino de língua materna. Em sua pesquisa, Val adverte que o grau de textualidade de uma 40 produção linguística é determinado por sua coerência e que o fator que tem mais importância é a informatividade. Esses componentes se localizam no plano lógicosemântico-cognitivo, e não no formal, que tem merecido destaque nas avaliações das redações escolares. A autora reitera que é tarefa do professor dar conta da globalidade do fenômeno da interação comunicativa, considerando o texto em suas três dimensões básicas: a formal, a conceitual e a pragmática visando o pleno desenvolvimento da competência natural do aluno. Outro estudo que segue a direção apontada por Val é o de Geraldi (1995), quando traz a ideia de que o docente não deve deter-se na observação apenas superficial do texto, sugerindo que na avaliação deve-se privilegiar o trabalho com os níveis: estrutural, sintático, morfológico e fonológico do texto. As atividades didáticas devem ser encaminhadas levando-se em conta uma certa categorização, de problemas presentes nos textos dos alunos, tal categorização, pode ser assim detalhada: problemas de ordem sintática: questões relativas às diferentes formas de estruturação dos enunciados e às correlações sintagmáticas do tipo concordância, regência e ordem dos elementos no enunciado; problemas de ordem estrutural: referentes a questões de configuração do texto como um todo, seus objetivos, suas seqüências; problemas de ordem morfológica: centrados nas diferentes possibilidades de construção de expressões referenciais e nos processos de flexão e construção de itens lexicais; problemas de ordem fonológica , englobariam desde as formas de inscrição, na escrita, das entoações da oralidade, até as convenções ortográficas. Baseando-se nesses autores Marinho (1997) propõe que se avalie o texto: no plano semântico conceitual e no plano formal, partindo dos fatores responsáveis pela textualidade e sugere ainda que utilizando marcas convencionais que assinalam objetivamente todos os problemas que de alguma forma tenham contribuído para prejudicar o texto, e ainda, incentivando o trabalho de revisão e reescrita do texto, o professor estará se colocando como interlocutor de seus alunos. Evangelista e outros (1998) realizaram um estudo que trata da avaliação do texto escolar intitulado “Professor-leitor, aluno-autor”. Tal estudo, consistiu em avaliar redações de alunos da 5ª série do Ensino Fundamental e da 2ª série do Ensino Médio da rede escolar estadual de Minas Gerais durante os anos de 1994 e 41 1995. Esse trabalho propõe um conjunto de diretrizes teórico-metodológicas sobre o ensino e avaliação da escrita. Em 2009 o referido estudo foi reeditado com um novo título “Avaliação do texto escolar: Professor-leitor, aluno-autor9”, com alguns acréscimos que não constavam na primeira versão, como a ampliação e explicitação do conceito de gênero textual e suas implicações na avaliação. Nesse estudo Val e outros (2009), consideram três dimensões fundamentais para formular os critérios de avaliação de um texto: a discursiva (o texto convenceu?), a semântica (o texto foi compreendido?) e a gramatical (o texto apresenta uma “gramática” adequada?). De acordo com os autores, o processo de produção textual integra três atividades diferentes, mas inter-relacionadas: 1. A atividade relativa à situação, que consiste em considerar e interpretar os elementos que compõem o contexto comunicativo (quem fala ou escreve, para quê, para quem, por meio de que suporte, onde e quando) e se posicionar diante deles; 2. A atividade cognitiva, que consiste em pensar sobre o tema do texto, ativando conhecimentos armazenados na memória, relacionando-os com aqueles advindos de novas situações interlocutivas, articulando-os de forma a produzir novas ideias e novas maneiras de compreender a questão tratada e organizando-os num texto que pareça lógico, coerente e interessante para seus potenciais leitores; 3. A atividade de verbalização, que consiste em traduzir em palavras e frases as próprias intenções comunicativas, compondo um texto coeso, elaborado numa variedade adequada à situação. Na produção de um texto, é fundamental, ainda, que o aluno conheça as estruturas típicas de cada gênero. Além de uma leitura global, que permite um primeiro acesso ao conteúdo do texto, é necessária uma leitura detalhada, que priorize os elementos textuais e os recursos linguísticos e gramaticais empregados pelo autor. Na verdade o que os autores atentam nesse estudo, é que o processo de avaliação de um texto, especificamente no contexto escolar, não deve se orientar pela simples identificação de falhas, em função de parâmetros absolutos que separam o certo e o errado. Os autores defendem que se o objetivo do ensino é que os alunos compreendam e dominem efetivamente o funcionamento da escrita, é preciso, redimensionar o processo de avaliação, dando-lhe um alcance mais amplo. 9 Val e outros (2009) 42 Em outras palavras, sugerem avaliar o texto numa perspectiva discursiva, considerando a multiplicidade de situações do uso da escrita e explicitando para o aluno em que aspectos seu texto parece adequado ou inadequado para as condições de leitura previstas. Leal e Guimarães (1999) também realizaram uma pesquisa que nos serviu de subsídio teórico, analisando como as professoras avaliavam os textos narrativos escritos por alunos das séries iniciais. A pesquisa foi realizada com 160 professoras das cidades de Recife (PE) e Teresina (PI) das redes municipal e particular de ensino. Os resultados apontaram que as professoras explicitam que é importante considerar aspectos estruturais, ortográfico-gramaticais e organizacionais, e foram coerentes com estes critérios quando avaliaram os textos. No entanto, não houve uma confluência dos critérios em função das características essenciais do que seria um texto (ter unidade de sentido, ter interlocutores, objetivos, mediar situações de interação). Foi observado que houve falta de clareza desses aspectos, parece ter havido apenas uma compensação entre aspectos estruturais e ortográficogramaticais. Por outro lado, os aspectos ortográfico-gramaticais pareciam estar sendo avaliados apenas pela quantidade de violações e não pela riqueza de recursos linguísticos utilizados para manutenção temática e expressividade do texto. Os resultados da pesquisa, segundo as autoras, remetem à necessidade de se aprofundar questões junto aos professores: que estes não fiquem restritos aos aspectos superficiais dos textos; possam refletir mais sistematicamente acerca do que vem a ser realmente um texto e até a explorarem melhor as características dos mesmos; importância de redimensionar o ensino de gramática, de modo a propiciar ao aluno o uso de recursos que tornem o texto mais interessante e coerente, de modo que não se use o texto como pretexto para o ensino de gramática, nem se restrinja ao ensino de teorizações desvinculadas do texto. Ferreira e Morais (2006), versando sobre o que avaliar quando se ensina a produzir textos escritos citam a pesquisa de Leal e Guimarães (1999)10, explanada anteriormente, e comentam que algumas professoras tendiam a hipervalorizar a correção da superfície textual e julgavam “bem escritas” os textos que não apresentavam problemas ortográficos, pontuação, emprego de maiúscula e segmentação de palavras. Já outras professoras, valorizavam “o que o aluno tinha 10 Como as professoras avaliam os textos narrativos das crianças? (Leal e Guimarães 1999) 43 conseguido dizer”, a originalidade, criatividade do discurso produzido pela criança, independentemente das violações ortográficas e gramaticais cometidas pelos alunos. Ferreira e Moraes (2006) afirmam que aquelas duas tendências avaliadas pelas docentes da pesquisa de Leal e Guimarães, dizem respeito a duas dimensões inerentes a atividades de produzir textos. Uma dimensão diz respeito à convencionalidade da notação escrita, que engloba não só ortografia, mas outros aspectos da gramática, como, por exemplo, o emprego da concordância verbonominal e da regência, o manejo dos tempos verbais, etc. A outra dimensão, pode variar conforme as especificidades de cada gênero, um texto precisa cumprir certas exigências de organização: informatividade, coerência, coesão, uso de pontuação e paragrafação, etc. Os autores acrescentam ainda, que avaliar precisa ser uma atividade em que o professor analisa o que o aluno foi capaz de produzir, para a partir dessa constatação, ajudá-lo a melhorar, sugerindo três critérios básicos para o ensino e avaliação do texto escrito:” a adequação a situação de interação; textualidade e normatividade”. Um outro estudo que tratou da avaliação da produção textual e que serviu de subsídio nesta pesquisa, foi o realizado por Marcuschi (2004), o propósito da pesquisa era analisar como são construídas pelos professores de língua portuguesa as categorias avaliativas dos textos escritos. A pesquisa foi realizada com trinta e três professores de 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental das escolas públicas da capital e região metropolitana do estado de Pernambuco, o estudo constou de entrevistas com os professores e análise dos textos dos alunos depois de corrigidos e avaliados dos pelos docentes. Os resultados apresentados por Marcuschi (2004) apontam que os docentes tanto no discurso como na prática avaliativa, acionaram valores que consideraram importantes na construção textual. Tais valores, orientam-se do ponto de vista lingüístico, pelos fenômenos que podem ser observados na superfície do texto, tomada de modo holístico, quando se trata da higienização da redação e, de modo analítico, quando se trata de cumprir os mandamentos da gramática tradicional. Isso faz com que oscilem de uma avaliação detalhista (ortografia, concordância verbonominal, pontuação), até uma avaliação global impressionista, sem critérios consistentes. Tais conclusões, se semelham aos resultados encontrados por Leal e 44 Guimarães (1999), que também apontaram que os professores visualisam mais facilmente nos textos os aspectos superficiais e não têm critérios consistentes. Marcuschi (2004) constatou ainda que os professores valorizaram a atitude monológica na avaliação da redação, ignorando que os alunos estão imersos em práticas sociais. Para os docentes investigados, os alunos escrevem mal porque lêem pouco ou não lêem. Tal afirmativa entra em conflito com a exigência desses mesmos docentes de não serem incorporadas outras vozes na redação, com isso, afastam ainda mais a atividade escolar dos usos sociais da escrita e de uma concepção dialógica de linguagem. A autora sugere futuras investigações que considerem o caráter eminentemente sócio-interativo da linguagem e seus usos discursivos, incentivando que esse é um aspecto promissor que exige novas e aprofundadas investigações, que deverão levar a uma mudança de atitudes diante da língua e dos textos, bem como, a uma renovação dos critérios de analise da produção discursiva do aluno. De um modo geral os estudos citados convergem em um ponto, que o professor não deve avaliar o texto superficialmente, direcionando o olhar apenas para as violações gramaticais cometidas pelos alunos, mas devem observar o texto em sua totalidade estabelecendo critérios claros e, sobretudo, procurar entender o que o aluno/autor quis dizer, buscando perceber as diversas dimensões do texto, o que e como este diz, em uma atitude de interação, partindo desse entendimento a avaliação estará a favor do aluno e não contra ele, e o professor estará efetivamente ensinando a escrever bons textos e não apenas apontando erros, que muitas vezes, apenas mostram o que está errado e não ajudam as crianças a perceberem como escrever melhor, pelo contrário faz com que percam o estímulo e o gosto pela escrita . Esse estudo tem como ponto de partida analisar as marcas deixadas pelos professores nos textos dos alunos no processo de correção e avaliação, observando os critérios estabelecidos, portanto, consideramos importante tecer alguns comentários acerca dos modos de se corrigir e avaliar. 1.4 A correção e avaliação da produção textual Podemos afirmar que correção e avaliação textual são operações parecidas que se relacionam, mas que tem funções diferentes. Por serem diferentes, implicam 45 em procedimentos também diferenciados. Na correção, o professor faz a leitura do texto e indica para o aluno os aspectos que precisam ser melhorados, através de anotações registradas no texto. Já na avaliação, o professor faz apreciações, ou seja, elabora uma opinião, um parecer, ou um juízo de valor sobre o conhecimento construído, baseado nos critérios estabelecidos. Tanto a correção quanto a avaliação são operações bastante delicadas. No que se refere à correção, o importante é atribuir ao aluno um papel ativo na reelaboração de seu texto, utilizando não só as indicações do professor, mas também as de seus colegas. A correção de um texto não é uma tarefa simples, muito pelo contrário, trata-se de uma atividade complexa, envolvendo aspectos que vão, desde a subjetividade, até as técnicas de corrigir e avaliar Em relação à correção, Serafini (1987) aponta seis princípios que considera essenciais a uma boa metodologia de correção: 1) a correção não deve ser ambígua, o que deve ser mudado, na opinião do professor, deve estar bem especificado/claro para o aluno; 2) os erros devem ser reagrupados, catalogados e classificados especificados o tipo, as categorias dos erros devem ser claras não só para o professor, mas também para o aluno; 3) o aluno deve ser estimulado a rever as correções, compreendê-las e trabalhar sobre elas; 4) o professor deve corrigir poucos erros em cada texto, evitando abordar muitos pontos ao mesmo tempo. A capacidade do aluno de concentrar sua atenção sobre os erros e compreende-los é limitada. 5) o professor deve estar predisposto a aceitar o texto escrito pelo aluno, evitando preconceitos em relação à linguagem, ao tema, ao estilo do mesmo; e 6) a correção deve ser de acordo com a capacidade do aluno, abordar apenas erros que o aluno tem maturidade para corrigir. Tais princípios levam o professor a corrigir de maneiras diferentes o texto do aluno, a autora classifica três tipos de correção a primeira é a correção indicativa que Consiste em marcar junto à margem as palavras, as frases e os períodos inteiros que apresentam erros ou são pouco claros. Nas correções desse tipo, o professor frequentemente se limita à indicação do erro e altera muito pouco; há somente correções ocasionais, geralmente limitadas a erros localizados, como os ortográficos e lexicais. (Serafini, 1987, p.113) Percebemos na prática e, sobretudo, nesta pesquisa, que esse tipo de correção é bastante freqüente, a maioria dos professores faz uso dela para corrigir os textos dos alunos. O segundo tipo de estratégia e correção destacado pela autora é a resolutiva que 46 Consiste em corrigir todos os erros, reescrevendo palavras, frases e períodos inteiros. O professor realiza uma delicada operação que requer tempo e empenho, isto é, procura separar tudo que no texto é aceitável e interpretar as intenções do aluno sobre os trechos que exigem uma correção; reescreve depois tais partes, fornecendo um texto correto. Neste caso, o erro é eliminado pela solução que reflete a opinião do professor. (Serafini, 1987, p.113) De acordo com a autora, nenhuma das duas tendências, põe em prática os princípios básicos de uma correção eficaz; Serafini aponta um terceiro tipo, a correção classificatória, Tal correção consiste na identificação não-ambígua dos erros através de uma classificação. Em alguns desses casos, o próprio professor sugere as modificações, mas é mais comum que ele proponha ao aluno que corrija sozinho seu erro. (1987, p.114) Esse método de correção, segundo a autora, respeita os princípios de uma boa correção, porque não é ambíguo, ou seja, os erros são demarcados com precisão, isto é, são classificados, permitindo o reagrupamento e a classificação dos erros, nesse tipo de correção geralmente o professor cria códigos que são do conhecimento do aluno e classifica os erros cometidos no texto. Com essa codificação, o aluno por sua vez, quando recebe o texto, sabe que tipo de erro cometeu e busca refazê-lo e corrigi-lo. Ruiz (2001) parte da classificação feita por Serafini (1987), porém em sua pesquisa, encontra mais uma forma de correção utilizada pelos professores e complementa essa categorização, propondo um quarto tipo que denomina textualinterativa: Trata-se de comentários mais longos do que os que se fazem na margem, razão pela qual são geralmente escritos em seqüência ao texto do aluno (no espaço que aqui apelidei de pós-texto). Tais comentários realizam-se na forma de pequenos “bilhetes” (manterei as aspas, dado o caráter especifico desse gênero de texto) que, muitas vezes, dada sua extensão, estruturação e temática, mais parecem verdadeiras cartas.Esses “bilhetes”, em geral, têm duas funções básicas: falar acerca da tarefa de revisão pelo aluno (ou, mais especificamente, sobre os problemas do texto), ou falar meta discursivamente, acerca da própria tarefa de correção pelo professor. (p. 63) Essa estratégia é utilizada para reforçar positivamente, elogiar a tarefa realizada ou para destacar algo que não ficou claro durante a atividade. Esse quarto tipo de correção, segundo a autora, complementa as lacunas deixadas pelas outras formas de corrigir um texto, acima expostas, já que estabelece comunicação direta, estabelece um diálogo com o aluno-escritor. O que diferencia esta proposta de 47 correção da anterior é o seu caráter interativo. Tal proposta, corrobora com as ideias apresentadas por Marinho (1997) como podemos observar nessa citação: É necessário que o professor se coloque como interlocutor de seus alunos e não mais como avaliador de seus textos. Nos exercícios de redação, os textos dos alunos são corrigidos pelo professor-avaliador, que assinala seu “erros” ou “incorreções”e, depois de devolvidos aos alunos, não são sequer comentados, mas muitas vezes jogados fora. O professor tem o trabalho de corrigir todas as redações assinalando os problemas encontrados, e algumas raras vezes comentando-os, para depois, em sala, perder todo esse trabalho uma vez que, devolvendo-os aos alunos simplesmente, sem alertá-los para os problemas apresentados, sem levá-los a reescrever seus textos procurando sanar esses problemas, por exemplo, não dá continuidade ao que havia começado. (MARINHO, 1997 p. 89). Evangelista e outros (1998), também fazem algumas considerações em relação à correção de textos e mencionam que há duas maneiras de se olhar, ou “reparar”, o texto do aluno, a primeira, adotada por professores concebem a língua como código e corresponde a uma perspectiva normativa e prescritiva. Na correção do texto do aluno são abordados apenas os aspectos gramaticais, o aluno não é estimulado a ler o seu próprio texto e refletir sobre suas dificuldades. Essa perspectiva reforça a afirmação das autoras de que na tradição escolar, a avaliação tem se orientado pela busca de erros gramaticais. A segunda, adotada por professores que concebem a linguagem como processo de interação, para eles, o domínio da língua não depende apenas do conhecimento de regras gramaticais, mas da relação dessas regras com as regras pragmáticas e discursivas envolvidas no processo de comunicação. Dessa forma, o primeiro passo, para corrigir-se o texto do aluno é o estabelecimento de um “jogo interlocutivo”, cuja prioridade é a busca do sentido do texto. Interessa, portanto, ao professor, observar a correspondência da produção do aluno com a proposta solicitada, o que o aluno tem a dizer e ainda de que estratégias ele se utiliza para dizer. O professor deve atentar, sobretudo, para a inter-relação forma, conteúdo e contexto. Assim, na prática pedagógica, o professor não deve privilegiar um tipo específico de correção em detrimento de outro, visto que todos têm seu grau de importância e se complementam mutuamente. O que ele deve fazer é realizar sua correção de maneira clara, sem ambigüidade, para que o aluno possa realmente entender o que precisa ser melhorado em seu texto. Além disso, esse professor precisa ser, de acordo com Ruiz (2001), co-autor do texto do aluno e não um mero 48 observador que realiza apenas correções superficiais, sem considerar o texto em seus aspectos temáticos e composicionais, pontos também essenciais. CAPÍTULO 2 - Metodologia 50 Neste capítulo, inicialmente apresentamos os objetivos deste estudo. Em seguida, explicitamos a nossa opção em relação ao caminho metodológico que traçamos para a coletar analisar os dados empíricos aqui apresentados. Depois apresentaremos os sujeitos-participantes e, finalmente, especificamos os instrumentos de coleta os quais constituímos nosso corpus. 2.1 Objetivos 2.1.1 Geral Analisar as práticas avaliativas da produção textual de professoras do 5º ano do ensino fundamental. 2.1.2 Específicos Identificar as concepções de língua, escrita e avaliação subjacente ao trabalho das docentes através dos aspectos priorizados na correção dos textos produzidos por seus alunos; Compreender as estratégias de correção das mestras através das anotações (marcas deixadas pelas professoras) nos textos produzidos pelos alunos; Analisar os critérios de avaliação materializados na correção através das marcas deixadas pelas professoras nos textos dos alunos. Alves-Mazzotti e Gewandszajder (1998, p.160) partem do principio “de que não há metodologias boas ou más em si, e sim metodologias adequadas ou inadequadas para tratar um determinado problema”. Os autores recomendam que antes de iniciar a descrição dos procedimentos metodológicos, o pesquisador deve fazer referência ao paradigma adotado para tratar os dados da pesquisa. Nesse estudo, os dados são tratados preferencialmente de um ponto de vista qualitativo, devido à complexidade do objeto que nos propusemos analisar, as concepções do professor e as marcas deixadas por ele nas produções textuais dos alunos. Tais dados são carregados de subjetividade com características complexas e diferenciadas. Isso não significa abandonar a quantidade, ao contrário, corroboramos com Marcuschi (2001) quando defende que quantidade e qualidade não se opõem, mas podem ser associadas: 51 A discussão da relação entre análise qualitativa e quantitativa não se limita a contrapor interpretações e cálculos, pois ambas podem ser combinadas e cada uma oferece suas vantagens e desvantagens. O essencial é que se tenha presente, sempre, os objetivos da investigação e que em todos os casos se ande bem calçado por uma teoria de base. (p.40). Assim, os dados são tratados sob uma perspectiva quantitativa, quando necessário utilizar cálculos para entender ou explicar resultados, como por exemplo, tabelas com percentuais numéricos. Todavia, o viés que direcionamos esse estudo é de cunho qualitativo. De acordo com Richardson (1999, p. 80): Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades dos comportamentos dos indivíduos. Desse modo, acreditamos que a abordagem supracitada é imprescindível para compreendermos e interpretarmos a complexidade do objeto que nos propusemos a investigar, por nos parecer mais adequada, resolvemos adotá-la neste estudo. O corpus desta pesquisa provém de duas fontes: entrevista semi-estruturada com as docentes, cujo objetivo foi com compreender as concepções de língua, escrita e avaliação que possuíam e a relação das mesmas, com suas práticas avaliativas. a correção realizada pelas professoras nos textos das crianças, cujo objetivo é identificar os procedimentos de avaliação através da intervenção das docentes, materializada no texto do aluno. Essas modalidades foram necessárias para que pudéssemos responder as questões por nós levantadas na pesquisa. 2.2 Os sujeitos participantes do estudo Cinco professoras do 5º ano11 do ensino fundamental que atuam em escolas públicas da rede estadual de Pernambuco todas localizadas na cidade de Olinda. A preferência pelo 5º ano se deu por acreditamos que os alunos já estão alfabetizados 11 Antiga 4ª série, o 5º ano é considerado ultimo ano das series iniciais. 52 e nessa fase da vida escolar já devem vivenciar uma prática efetiva de produção textual na escola. As professoras participantes da pesquisa, atenderam a um perfil mínimo: ser efetiva na turma e não substituta, estar atuando na rede pública de ensino do Estado de Pernambuco em turmas regulares. A quinta professora participante da pesquisa entrou na pesquisa depois, ao longo da coleta de dados, resolvemos incluir mais uma docente que tivesse uma prática considerada boa, reconhecida na comunidade escolar, para checar se traria alguma contribuição diferenciada à pesquisa. Um outro dado que consideramos importante ressaltar, é que, duas participantes da pesquisa trabalham como professoras na mesma escola em que a pesquisadora exerce a função de coordenadora pedagógica. Traçamos o perfil das professoras a partir das informações obtidas na entrevista. Em relação à idade, as entrevistadas tinham entre 27 e 47 anos. Quanto ao tempo de experiência no magistério, apenas uma professora tinha menos de 10 anos de sala de aula, todas as outras mais de 15 anos de profissão. É importante acrescentar que três das cinco entrevistadas tem uma jornada dupla de trabalho, algumas lecionando mais de uma classe, uma delas desempenhando função administrativa na escola. No que diz respeito à formação escolar, todas encontram-se inseridas no nível superior, uma tem licenciatura em Letras e quatro em Pedagogia. Duas das cinco participantes da pesquisa já realizaram estudos a nível de pós-graduação, duas estavam cursando especialização no momento da entrevista, e apenas uma está concluindo a graduação em Pedagogia. As professoras entrevistadas são identificadas por pseudônimos, ou seja, escolhemos nomes fictícios para preservar a identidade das mestras. Vejamos a descrição de cada participante da pesquisa: Edina tem 47 anos, tem 28 anos de experiência no magistério. Cursou o ensino fundamental na década de setenta concluindo o magistério em 1978. Graduada em Pedagogia pela Universidade de Pernambuco, na Faculdade de Nazaré da Mata Osana tem 27 anos e oito anos de experiência como professora, todos na rede pública. Cursou o primeiro grau, e o magistério, na mesma escola pública concluindo no ano de 2000. Atualmente cursa Pedagogia na Universidade Católica de Pernambuco. 53 Vera tem 44 anos e 25 de experiência no magistério. Cursou o primeiro grau e o magistério na mesma instituição pública. É formada em Letras com licenciatura em Português e Francês pela Funeso (Fundação de Ensino Superior de Olinda). Atualmente está cursando Especialização em Coordenação e Gestão Pedagógica na Facho (Faculdade de Ciências Humanas de Olinda) Jessica tem 40 anos e 16 anos de profissão, 15 na rede privada e 9 anos na rede pública (jornada dupla). Cursou Pedagogia na Facho (Faculdade de Ciências Humanas de Olinda) e fez Especialização em Educação Especial na Funeso (Fundação de Ensino Superior de Olinda). Terzia tem 44 anos e 18 anos de exercício da profissão. Cursou o ensino fundamental e médio em uma escola particular tradicional do Recife. Graduou-se em Pedagogia pela Especialização Universidade em de Arte-educação Pernambuco, atualmente na (Universidade UNICAP está cursando Católica de Pernambuco). 2.3 Os instrumentos de coleta 2.3.1 Entrevistas As entrevistas realizadas com as professoras, sujeitos dessa pesquisa, tiveram um caráter semi-estruturado, isto é, com questões abertas, assim como apontam Lüdke e André (1986). Segundo Alves Mazzoti & Gewandsnajder, (2004) “[...] a entrevista é uma técnica de “natureza interativa, permite tratar temas complexos que dificilmente poderiam ser investigados adequadamente através de questionários, explorando-os em profundidade (...), a entrevista pode ser a principal técnica de coleta de dados, ou ser parte integrante da pesquisa” (p.168). Iniciamos a entrevista partindo de questões constantes no roteiro (em anexo), com perguntas flexíveis para todos os sujeitos entrevistados, através de tópicos que consideramos fundamentais. Todavia, durante a conversa deixamos que as professoras falassem livremente sobre a temática, e até de outros assuntos que não estavam diretamente ligados ao tema. Em alguns momentos da entrevista, os professores se antecipavam e respondiam as perguntas que seriam objeto de uma indagação posterior. Fizemos outras questões que não estavam no roteiro, que 54 fluíam naturalmente. Assim, as questões não tiveram uma sequência rígida12. É importante salientar, que a entrevista está em convergência com a proposta teórica por nós defendida nesta pesquisa, a de língua como interação, como diálogo que permite essas negociações. A entrevista foi dividida em dois blocos. No primeiro bloco, as professoras foram solicitadas a falar sobre suas concepções acerca da linguagem e avaliação, sobre o ensino de língua portuguesa, mais especificamente, da produção de textual. Buscamos entender um pouco como as professoras pensam sobre a própria avaliação e sobre o próprio ensino. No segundo bloco, tratamos das memórias do professor: como foi avaliado, como seus textos eram corrigidos pelos professores. Essas questões foram importantes para verificar se há alguma semelhança na forma como o docente avalia e como ele foi avaliado. Acreditamos que essas questões são fundamentais para ajudar a perceber a compreensão do professor sobre esses aspectos. (entrevista roteiro em anexo) As entrevistas foram realizadas de abril a outubro de 2009, de acordo com a disponibilidade de horário das professoras, totalizando cinco professoras entrevistadas. Todos os relatos foram gravados em áudio e o tempo de duração das entrevistas variou entre cinquenta minutos e duas horas. Procedemos depois da coleta de dados a transcrição das gravações. Nesse processo, destacamos o conteúdo das respostas e enfatizamos o que era essencial para responder as questões por nós levantadas na pesquisa. Após transcrever as entrevistas, como caminho metodológico, procedemos com a análise do conteúdo da seguinte forma: primeiramente, lemos cuidadosamente cada entrevista. No segundo, momento organizamos uma tabela com todas as perguntas e respostas das entrevistas objetivando ter uma visão geral do material coletado. No terceiro momento, voltamos diversas vezes a cada entrevista e alternamos leituras de trechos de relatos de outras pesquisas sobre a mesma temática. Buscamos com estas estratégias analisar os relatos das docentes 12 Durante a entrevista fizemos algumas indagações acerca das condições de produção tendo em mãos os textos dos alunos corrigidos pelas docentes, algumas não continham enunciados, então, perguntamos como havia ocorrido; se o texto era um resumo, ou o reconto de uma fábula, ou uma fábula criada pelo aluno, etc. Essa conversa teve como objetivo entender as propostas de atividades, para posteriormente fazer uma análise mais consistente das avaliações praticadas pelas mestras. 55 tentando perceber a materialidade do discurso a partir do referencial teórico que embasa esse estudo. 2.3.2 Análise documental: a produção textual dos alunos Escolhemos a análise documental por se constituir numa técnica valiosa de coleta de dados, no caso da presente pesquisa, os documentos analisados foram os textos dos alunos, cujo objeto de análise foram as correções realizadas pelas docentes nessas produções textuais. Considera-se como documento qualquer registro escrito que possa ser usado como fonte de informação. Regulamentos, atas de reunião, livros de frequência, arquivos etc. (...). No caso da educação livros didáticos, registros escolares, programas de curso, planos de aula, trabalhos de alunos são bastante utilizados.” (ALVES MAZZOTI e GEWANDSNAJDER, 2004, p. 169) De acordo com Marinho (1997), ao corrigir as redações, o professor usa certas marcas gráficas convencionais, ou seja, códigos de correção. Normalmente usam-se tais códigos para facilitar a atribuição de nota ao texto avaliado. Um texto todo marcado graficamente pelo professor está repleto de “incorreções” e normalmente os códigos utilizados assinalam problemas referentes apenas ao aspecto formal do texto: são marcados por problemas de estruturação de períodos, morfossintaxe, pontuação e ortografia. Não se costumam usar códigos que se refiram aos problemas textuais como contradições, circularidades, desarticulações das ideias, entre outros. Essas marcas que o professor deixa no texto do aluno no momento da correção e da avaliação serviram de subsídio e rica fonte de dados nessa pesquisa. Em relação aos documentos, foram analisadas: (a) as concepções de linguagem, acreditamos que tais concepções se revelam nos tipos de atividades propostas, nos gêneros textuais indicados na produção textual e nos critérios adotados na avaliação, materializados nos aspectos linguísticos destacados na correção (marcas deixadas pelas professoras) nos textos escritos pelas crianças.; (b) as concepções de avaliação, materializadas nos procedimentos de correção dos textos, nas estratégias de correção das mestras ; Desejamos ver efetivamente nos documentos, essa materialidade da avaliação escrita. 56 No inicio da entrevista, solicitamos as mestras os textos escritos pelos alunos após corrigidos por elas. Procuramos garantir o acesso aos textos antes de começar a fazer as perguntas, para que estes fossem objetos de discussão durante a entrevista. O quadro a seguir nos fornece um panorama geral do quantitativo de textos obtidos: Tabela 1 : Número de textos disponibilizados pelas professoras Número de textos com marcas avaliativas Número de textos sem marcas avaliativas % de textos sem marcas avaliativas Total de textos disponibilizados Osana 29 - 0 29 Edina 17 03 15 20 Vera 17 04 19 21 Jessica 12 01 07 13 Terzia 15 - 0 15 TOTAL 90 08 08 98 Professoras Esta tabela como finalidade quantificar a presença ou ausência de indícios avaliativos deixados pelas professoras nos textos dos alunos. Ao analisá-la, observamos que a maioria dos textos, disponibilizados pelas docentes, trazem alguma marca avaliativa que evidenciam os problemas identificados na produção escrita. É relevante explicar que dos noventa e oito textos fornecidos pelas mestras, obviamente não utilizamos todos na análise, o critério que elegemos para incluir como exemplo na dissertação, foi à freqüência do tipo de correção e dos critérios de avaliação, ou seja, os exemplos de correções mais comuns, são os escolhidos como amostra na pesquisa. No capítulo a seguir analisamos os dados da pesquisa tomando por base o suporte teórico previamente definido, bem como as entrevistas realizadas e as correções analisadas. CAPÍTULO 3 – Análise dos dados 58 Nesta etapa do trabalho, apresentamos de forma mais sistemática e detalhada a análise dos dados coletados a partir do discurso sobre avaliação da produção textual e das marcas produzidas pelas professoras na correção da produção textual de seus alunos. Direcionamos nosso olhar para seus depoimentos, buscando entender suas concepções de língua e de ensino da escrita com a finalidade de responder as questões por nós levantadas neste estudo, sem perder de vista nosso objetivo, que consiste em analisar as práticas avaliativas da produção textual das professoras do 5º ano do ensino fundamental. Analisamos o que as docentes dizem e fazem na avaliação da produção escrita: quais as condições de produção textual oferecidas aos alunos; com a finalidade de identificar as concepções de ensino da escrita, analisamos as correções feitas pelas mestras no intuito de compreender as estratégias de correção através das anotações (marcas deixadas pelas professoras) nos textos produzidos pelos alunos. Tais marcas nos possibilitaram analisar os critérios de avaliação estabelecidos pelas professoras. 3.1 As concepções das professoras sobre o ensino da escrita Iniciamos nossa reflexão buscando entender as concepções de ensino da escrita das docentes, por acreditarmos que tais concepções são determinantes na prática do ensino da língua. Ao analisarmos os relatos das professoras, facilmente identificamos o discurso da ideologia do dom que consiste em atribuir a habilidade em escrever a uma aptidão inata que o individuo já traz consigo antes de ingressar na escola, como uma dádiva concedida pela natureza. Para captar o entendimento das professoras sobre a escrita, propomos a seguinte questão: P13: Você acha que produzir texto é algo que pode ser ensinado? E14: Eu acredito que você pode orientar, você dá as ferramentas, mas a produção do texto em si não se ensina. 13 P: pesquisadora 59 P: Porque você acha que não se ensina? E: Eu acredito assim, não sei se eu sou metódica, mas, a produção de texto se torna um dom. Mecanicamente qualquer pessoa faz um bilhete, mas, um romance, só escreve quem tem um dom. É como se fosse assim, escrever textos que emocionem é um talento, você nasce com aquilo e desenvolve na escola ou num ambiente que favoreça aquilo ali. Mas, escrever um bilhete, uma lista, qualquer um consegue. (Osana) Observamos nesse depoimento, que a professora Osana considera que os textos mais comuns do dia-a-dia, como no caso do bilhete, pode ser ensinado, no entanto, os textos valorizados socialmente que carregam o sentido de uma escrita de maior complexidade e elaboração como o exemplo do romance, “só escreve bem quem tem dom”, ou seja, é uma produção escrita destinada apenas aos escritores de fato. Portanto, para a docente, textos que emocionem é questão de talento, não pode ser ensinado, o indivíduo traz consigo ao nascer e apenas desenvolve na escola as habilidades pré-existentes. Em síntese, esse dado parece apontar que, na compreensão da professora, o papel da escola seria apenas aperfeiçoar a habilidade em escrever, e não propriamente ensinar. A professora Vera quando questionada se produzir texto é algo que pode ser ensinado, diz o seguinte: E: Também, né? Acho que tem que ser ensinado, porque tem toda uma norma a ser seguida, diferentes tipos de texto. Ao iniciar sua fala usa a palavra “também”, quando questionada sobre o sentido que empregou essa palavra, explica: E: È porque às vezes, as pessoas já nascem, já é inato do aluno, tem coisas que ele traz que agente não ensina a ele, [...] Porque tem gente que já tem uma certa aptidão, já como tem pra português, tem pra matemática. Neste trecho, vemos que professora Vera também apresenta uma concepção de ensino da escrita como um dom. Embora afirme que tem que ser ensinado e enfatize a norma, em seguida, expressa que tem coisas que a criança traz que não é ensinado, e usa as palavras: inato e aptidão na explicação do “também”. Nesse sentido, esse depoimento traz uma certa semelhança com os pressupostos apresentados pela professora Osana. 14 E: entrevistada 60 Um dado que chamou nossa atenção no que se refere às concepções de ensino da escrita, foi perceber o uso do verbo orientar ao invés do verbo “ensinar, parece que a palavra ensino é algo tenso para a maioria das professoras participantes da pesquisa, que ao serem questionadas sobre o ensino da escrita preferiram utilizar o termo orientar. Vejamos como dizem: E: Pode ser orientado, dando as dicas: pontuação, parágrafo, etc. (Jessica) E: Bom, o nosso trabalho é justamente ensinar, mas a produção de texto, acho que tem muito a ver com orientação, é porque você encontra alunos que tem facilidade de escrever, então, de pequeninho ele já fala, ele não escreve mas, ele já produz texto oralmente. Ele faz uma leitura de imagem pega um livro uma gravura, faz aquela pseudoleitura. Então, nosso trabalho na quarta série é orientar mesmo. (Edina) A professora Jessica é sucinta em sua resposta e diz apenas que pode ser orientado. Já no relato da professora Edina, percebemos um conflito, no primeiro momento, ela afirma que o trabalho do professor é justamente ensinar, mas, esse “mas”, conjunção adversativa, se contrapõe ao que foi dito anteriormente, ou seja, o ensino, a docente defende que tem a ver com “orientação,” que alguns alunos têm mais “facilidade” em escrever, afirma que desde pequenina a criança fala e produz textos oralmente, logo depois, reafirma que o trabalho do professor, é “orientar mesmo”. Nesse relato vimos que a professora demonstra incerteza em relação ao ensino e defende que alguns têm mais facilidade em escrever e que, tal facilidade tem a ver com “orientação”, que percebemos aqui como dom. Sobre associar a facilidade em escrever a um dom Lins e Silva (2004) diz o seguinte: Associar a facilidade com a escrita a um “dom” revela uma concepção de escrita destinada a poucos privilegiados: aqueles que, tendo facilidade para escrever, escrevem livros a serem publicados. Um “dom” herdado na família [...] A concepção do dom justifica a naturalidade e a facilidade em escrever, dissimulando as desigualdades nas competências em escrever, ao se considerar ser uma habilidade pré-destinada a poucos na cultura escolar (p. 173). A autora nessa citação nos ajuda a compreender as concepções sobre o ensino da escrita das professoras, quando associaram a facilidade em escrever a um dom ou aptidão, ressaltando que tal facilidade, dissimula as desigualdades na escrita, criticando essa forma de conceber o ensino, nos remete a uma questão: se a 61 habilidade em escrever é inata e pré-destinada a poucos, para que se ensinar a produzir textos? Em contrapartida, no depoimento da professora Terzia, quando questionada sobre o ensino da produção textual, fica claro que ela acredita que escrever pode ser ensinado. Vejamos o que ela diz: E: Os nortes são necessários, agora, é muito bom você também dar o espaço para a liberdade do aluno de escrever, porque aí vai ser uma análise muito mais ampla, quando você tenta já direcionar para uma coisa, você às vezes, perde essa parte tão importante que é você resgatar do aluno o que ele está tendo de compreensão. Porque, agente vê aí o problema do letramento, que é a questão de que você até decodifica as coisas, mas, quando chega na hora de uma produção esbarra, porque você não sabe desenvolver, não sabe argumentar. Né? P: E essa argumentação pode ser ensinada? E: A partir do momento que você dá oportunidade pra que isso aconteça, quando você instiga o aluno aí flui naturalmente essa argumentação. Agora, precisa que o professor também saiba como fazer essa motivação, né? Instigar, mesmo para que essa problematização surja, porque é com essa problematização que ele vai conseguir, né? P: Então, pode ser ensinado? E: Pode ser, direcionado, com certeza! Mesmo não citando a palavra ensino, a educadora fala na possibilidade de instigar o aluno, e que o professor precisa “saber fazer” essa motivação, ou seja, problematizar, e reafirma que pode ser direcionado, pelo contexto percebemos que ela parece usar esse termo como sinônimo da palavra ensino. Em outro momento da entrevista, ela cita um exemplo, que ratifica nossa hipótese: E:[...] eu tenho uma aluna que é uma poetiza, a coisa mais linda! Mas, por quê? O pai incentivou a isso, motivou a dar livros, muita leitura. Fica claro nesse depoimento, o entendimento por parte da professora de que a criança escreve poemas, porque foi estimulada pelo pai, fez muitas leituras, conhece as características do gênero, por isso escreve bem. Nesse exemplo, mesmo citando a figura do pai da criança como incentivador da leitura, ou seja, esse 62 incentivo acontecendo em casa, fora do ambiente escolar, a mestra apresenta a compreensão de que as influências externas ao sujeito (a aluna) proporcionaram a facilidade na escrita, ou seja, não por um dom herdado da família ou porque “puxou” a algum parente, mas porque estava inserida em um contexto onde as práticas de letramento proporcionaram o aprendizado do gênero poema. Apesar de interpretarmos o discurso da docente diferenciado do das outras, foi possível observar que a mestra também não faz uso do termo “ensino”, igualmente usa os termos: “orientar” e “direcionar”. Acreditamos ser um dado relevante essa resistência a palavra “ensino”, que quase todas as professoras participantes da pesquisa demonstraram. Sobre esse aspecto, a escolha da palavra orientação é bem sugestiva, acreditamos que mesmo de forma inconsciente esse dado, mascara a concepção de ensino da escrita das docentes. Essa compreensão do “mito do dom” é algo comum ainda na concepção dos professores, Santos (2004) em sua pesquisa, ao analisar relatos de professores sobre as representações que fazem da escrita, trouxe a mesma questão “se escrever pode ser ensinado”, e encontrou entendimento semelhante entre os docentes pesquisados: É possível recuperar nestes relatos a ideologia do dom, segundo a qual as causas do sucesso e fracasso na escola devem ser buscadas nas características individuais dos alunos. No que diz respeito à aprendizagem da escrita, caberia, então, à escola motivar, fazer aflorar os possíveis dons existentes nos alunos. Assim sendo, o ensino visando o desenvolvimento da competência em produzir textos não seria algo necessário, mas apenas a exposição dos alunos a diferentes textos como modelos a serem utilizados (p. 155). Nesse trecho, a autora se refere aos depoimentos das docentes, que também trouxeram a ideologia do dom. Parece-nos que essa concepção, mostra a crença que o sujeito (aluno) está acabado, pronto, e a interferência da escola seria muito discreta, teria pouco a ser feito pelo professor no ensino da escrita, este elaboraria atividades, tais atividades, teriam o papel de revelar o talento para escrita de alguns e a falta de “dom” de outros. Até bem pouco tempo na atividade docente também compartilhávamos desse pensamento, de que escrever é um dom. Parece-nos ser senso comum entre os docentes, essa tensão em relação ao ensino da produção textual. Mudar a forma de pensar demanda muitas leituras, discussões com outros professores e reflexões sobre a prática, acreditamos que esse entendimento por parte dos docentes, tende a mudar com o acesso as novas teorias que concebem a língua como interação. 63 Buscando compreender como as concepções das professoras aparecem na prática, discutimos a seguir as condições de produção e avaliação dos textos propostas pelas docentes. 3.2. Quais as concepções subjacentes às condições de produção e avaliação dos textos? Nesta parte do trabalho, buscamos refletir sobre as condições de produção oferecidas pelas docentes aos aprendizes, para isso, nos reportamos a uma questão formulada por Morais e Ferreira (2006 p. 71) “Como os textos dos alunos podem refletir as condições de produção em que foram produzidos?” Vamos analisar os textos propostos e corrigidos pelas docentes buscando entender as concepções que estão implícitas nas propostas de atividades e na avaliação dos textos. Uma condição fundamental para analisar as condições de produção dos textos é saber das professoras qual o espaço destinado à produção escrita nas aulas de língua portuguesa. Para isso, perguntamos com que freqüência realizam essas atividades. As professoras Edina, Vera e Jessica responderam que realizam produção textual pelo menos uma vez por semana, Osana e Terzia mais de uma vez por semana. A professora Terzia fez uma observação interessante: E: No mínimo uma, e até três vezes por semana, porque eu foco nisso. Até nas aulas de matemática, eu peço pra eles criarem o problema. (Terzia) A docente coloca que até nas aulas de matemática solicita que as crianças produzam texto, criando problemas matemáticos, atentamos nessa fala para a compreensão por parte da professora de que não é apenas nas aulas de língua portuguesa que se trabalha a produção de textual. No geral, percebemos que pelo menos uma vez na semana as educadoras realizam produção textual na sala. A avaliação não começa na correção do texto, mas no planejamento das atividades, Silva (2003, p. 13) defende que “a avaliação cruza o trabalho pedagógico desde o seu planejamento até a sua execução.” Nesse sentido, julgamos necessário abordar nesse tópico, as condições de produção oferecidas pelas professoras aos alunos na elaboração dos textos. Tratar dessa questão é de fundamental 64 importância, pois a forma como o professor planeja e organiza as atividades revela as concepções de língua e de ensino da escrita, e pode nos ajudar a entender quais aspectos são priorizados pelas professoras na avaliação. Em outras palavras, vamos analisar os tipos de atividades e os gêneros textuais propostos pelas mestras, buscando compreender se existem critérios de avaliação, e como tais critérios se revelam. Nossa intenção aqui é, à luz dos referenciais teóricos explicitados, analisar algumas dessas condições, em particular, como o professor propõe e lê os textos de seus alunos. Perguntamos às professoras quais os tipos de atividades de escrita que realizam em sala de aula. Não levamos em consideração apenas o relato das docentes, porque entendemos que no momento da entrevista, é quase impossível que lembrassem de todas as atividades que vivenciam, o que atentamos no processo de análise, foi a comparação entre o que elas disseram e as propostas contidas nos textos que nos forneceram. Não tivemos acesso a todos os textos produzidos pelos alunos durante o ano15, foram disponibilizadas pelas educadoras apenas algumas atividades realizadas, depois de corrigidas por elas. Observamos que embora não correspondendo fielmente às atividades citadas, com as disponibilizadas pelas docentes, percebemos que há uma certa compatibilidade nos tipos de atividades ditas na entrevista com as atividades que tivemos acesso, conforme podemos observar no Quadro 1 . Quadro 1 : Gêneros textuais Professoras Edina Osana Jessica Gêneros textuais relatados pelas professoras Gêneros textuais disponibilizadas pelas professoras Quantitativo de textos 16 redação escolar (produção a partir de gravuras). 20 redação escolar. 29 reconto de filmes; fábula; história (produção a partir de gravuras). 03 02 08 redação escolar (produção a partir de gravuras). redação escolar; fichas de leitura; história em quadrinho; fábula. reconto de filme; fábula; história. 15 As atividades que tivemos acesso foram às realizadas durante o período de coleta de dados (de abril a outubro de 2009) 16 Texto em que é dado o tema para o aluno dissertar 65 Vera Terzia fábula; conto; redação escolar. tirinha/ historia em quadrinho; textos jornalísticos resumo; reconto de livro lido; relatório; propaganda; fábula; historia auto-biografia; Total Geral fábula; conto; lenda; redação escolar. texto jornalístico: reportagem; poema. 05 05 03 08 notícia e 10 05 98 Na análise do Quadro 1, dois aspectos nos chamam atenção. O primeiro é a predominância dos tipos textuais: narração e argumentação (redação escolar) nas atividades propostas pelas docentes. É interessante perceber como esses gêneros prevalecem no cotidiano da sala de aula, sobretudo no ensino fundamental I (1º ao 5 º ano). A esse respeito, Mendonça (2008) afirma que [...] o trabalho didático centrado apenas nos tipos textuais (narração, argumentação, descrição, exposição) não contribui para que o aluno se familiarize com os diferentes gêneros que circulam na sociedade. Ou seja, pedir que eles escrevam uma dissertação (ou narração, ou descrição) e expor sobre características gerais desses tipos textuais não é suficiente para que os estudantes, fora da escola, saibam lidar com a diversidade textual com a qual se deparam. Se assim fosse, com os conhecimentos escolares sobre narração, os alunos poderiam, com igual facilidade, escrever um conto, ler um romance, contar uma piada, todos eles, textos com estruturas semelhantes (personagens, cenários, conflitos, etc.), mas com funções distintas. Isso de fato, não acontece porque, embora todos eles sejam textos predominantemente narrativos, se diferenciam quanto as finalidades e aos modos como se organizam, ou seja, tem características distintas entre si. Isso exige, do leitor/autor, estratégias de compreensão e produção diferenciadas em cada caso. Portanto, não é mais possível supor que basta ensinar aspectos gerais da narração para que o estudante possa se apropriar (ler e escrever) de qualquer discurso narrativo (pp.14 e15) Concordamos que trabalhar priorizando apenas essas tipologias textuais não prepara os alunos para serem usuários competentes da língua. Uma professora durante a entrevista justificou espontaneamente a escolha dos gêneros que propõe para o ensino da escrita, o porquê da predominância dos gêneros da ordem do narrar, a educadora esclareceu o motivo de suas escolhas, assim, consideramos relevante comentar esse dado já que a maioria das docentes também priorizam esses gêneros. O argumento utilizado pela professora Vera, diz respeito à Provinha Brasil, demonstrando a preocupação em preparar as crianças para a avaliação externa: 66 P: Que tipos de atividades de escrita você realiza em sala de aula? Dê um exemplo: E: Fábulas, contos e texto argumentativo, que são os mais usados na provinha Brasil. (Vera) Percebemos que na seleção das atividades de escritas e dos gêneros textuais a serem trabalhados a avaliação externa é levada em consideração. Observamos que tem exercido influência sobre o trabalho do professor, indicando objetivos, conteúdos, metodologias e formas de avaliação; de um lado, o professor tem suas convicções e práticas curriculares e de outro, leva em consideração as avaliações externas (SAEPE, SAEB)17 na seleção dos gêneros textuais e das atividades, porque sabe que será cobrado o bom desempenho dos alunos nesses gêneros. Não estamos aqui nos contrapondo aos sistemas de avaliação ou discordando de se levar em consideração tais avaliações, apenas entendemos que este não deve ser o único parâmetro para selecionar os gêneros textuais a serem trabalhados. Podemos nos perguntar então, quais gêneros propor para ao ensino da língua? Acreditamos que os argumentos apresentados por Antunes (2009, p. 212), sobre quais gêneros escolher são pertinentes. Segundo ela, o ensino da língua deveria privilegiar a produção, a leitura e a análise dos diferentes gêneros e que “os critérios de escolha desses gêneros textuais devem ocorrer de acordo com cada estágio da escolaridade, poderiam advir da observação das ocorrências comunicativas atuais, ou seja, daquilo que, de fato, é usado no cotidiano de nossas transações sociais”. Ainda segundo a autora, os livros didáticos exploram certos gêneros, mas de forma apressada e superficial, de modo que as crianças não absorvem com muita clareza aspectos centrais desses gêneros. O segundo aspecto a ser considerado na análise dos elementos apresentados no quadro, é o fato que, das cinco professoras, três (Edina, Osana e Vera) ainda propõem atividades de escrita de alguns textos indicando para o aluno o gênero redação escolar, cuja atividade consiste apenas em dar um tema para ser desenvolvido, o que conhecemos como redação escolar clássica. Relembrando um pouco o que dissemos na fundamentação teórica, que, para avaliar é necessário estabelecer critérios e que o professor terá mais condições de avaliar os textos dos alunos, tomando como um primeiro critério trabalhar produção textual partindo do 17 SAEPE (Sistema de Avaliação Educacional de Pernambuco) e SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) 67 gênero, devido à contribuição que este pode oferecer a construção da textualidade. Fizemos ainda, algumas considerações sobre a redação escolar e discutimos a produção textual na perspectiva dos gêneros discursivos buscando entender a perspectiva teórica subjacente as atividades propostas pelas docentes. Nesse sentido, a mais de vinte anos, Geraldi (1984), como professor, criticava a precariedade de condições oferecidas aos alunos para a produção textual. Passado esses anos, algo mudou, logicamente evoluiu, no processo de produção textual. Todavia como dissemos anteriormente, ainda encontramos propostas de atividades que estão ancoradas nas concepções tradicionais de língua criticadas por Geraldi (1984), nesta citação: Queremos que nossos alunos escrevam, mas não lhes criamos as condições para tal. O processo rotineiro de orientar a redação tem sido mais ou menos assim: damos um título (silencioso por excelência porque coisa alguma lhes sugere!) ou aumentamos o sofrimento deles, deixando o tema livre e esperamos tranqüilos o fim da aula para recolher o produto suado daqueles angustiados minutos. Todos sabemos o quanto nos custava atingir os limites mínimos de linhas (estes limites são indispensáveis neste processo, do contrário ninguém escreve nada!). Mas assim mesmo, continuamos a submeter nossos alunos a essa tortura monstruosa que é escrever sem ter ideias (p.19). Nesse estudo, coletamos textos e encontramos encaminhamentos de atividades semelhantes aos criticados por Geraldi. Tais textos são denominados por Marcuschi (2006) como a típica redação clássica. O tema das redações geralmente envolve algum evento, data comemorativa, alguma ocorrência na comunidade ou simplesmente reproduz assuntos tradicionais da cultura escolar (minhas férias, um passeio). Muitas vezes o tema acaba se transformando no próprio título do trabalho do aluno. Selecionamos um exemplo de atividade cujo texto foi produzido no final da 2ª unidade como verificação da aprendizagem (prova), uma gravura com tema junino o comando da atividade segundo a professora Edina foi: “Produza um texto a partir da gravura”. 68 Exemplo1: Texto “Maria e João” /Texto produzido por aluno da professora Edina 69 O Exemplo 1 ilustra bem o que estamos abordando: a criança escreveu uma pequena história dentro do contexto, tema junino, obedecendo a indicação da gravura e a orientação da professora sobre os perigos dos fogos. Durante a entrevista, a docente comentou que havia trabalhado em classe essa temática. No final do texto o aluno escreveu carinhosamente para a professora: “beijos, tchau,” já percebendo que a mestra, é a única interlocutora de sua produção escrita. A educadora fez uma observação no rodapé da página, alertando que “um texto desses” não é um bilhete ou carta para terminar com despedida. Mas também, parece que pelo comando da atividade não indicou maiores detalhes sobre o que os alunos deveriam escrever, por isso, a criança arriscou escrever do jeito que sabia. Nessa proposta de produção textual encontramos elementos suficientes para responder a pergunta que fizemos no título deste tópico: Quais concepções estão subjacentes às condições de produção e avaliação dos textos? Percebemos que no entendimento da docente trabalhar o tema da redação “os perigos em soltar fogos nos festejos juninos”, é subsídio suficiente para que as crianças produzam um texto. Tal exemplo nos indica que, nos encaminhamentos das atividades propostos pela professora Edina, ainda não é considerado a perspectiva teórica dos gêneros, nem o entendimento da redação mimética, cuja circulação é relativamente recente no ambiente escolar, conforme mencionamos na fundamentação teórica. Essa atividade exemplifica as condições de produção desfavoráveis, sinalizando uma concepção de escrita como dom, onde se materializa a crença que a criança aprende espontaneamente. Outro dado importante, diz respeito à concepção de avaliação desta docente, ao afirmar na entrevista que depois da avaliação não propõe a reescrita do texto, logo, entendemos que se os alunos não têm a oportunidade de melhorarem suas produções, entendemos que a única finalidade da escrita é a avaliação. Vejamos agora um exemplo de produção textual que utiliza um gênero que circula socialmente: a notícia. 70 Exemplo 2: texto “Gripe suína e meningite” produzido por aluno da professora Terzia 71 Transcrição 18 do texto acima: “Gripe suína e meningite” Tema ? Piracicaba registra a 5ª morte de gripe suína Intertítulo ? A cidade de Piracicaba no interior de São Paulo Regis trou a terceira morte causada por gripe A (HGMT) segundo a secretaria municipal de saúde a vitima, uma mulher de 27 anos, morreu no dia 12 de agosto em decorrência de complicações do gripe suína Ela havia sido internado três dias antes no santa casa de piracicaba chapéu ? a acordo com a secretaria a vitima tinha sindrome de dow e sofria de cardiopatia e de pneumopatia crônicas. No município há 20 casos confirmados de gripe suína e 108 estão em investigação Tema ? Confirmados 4 mortes por miningite em Porto Seguro intertítulo? Quatro pessoas morreram ao contrair miningite Meningocócica em Porto Seguro litoral da Bhaia Outras quatro estão internadas com sintomas da doença todas as vitimas participaram de uma festa há cerca de uma semana. De acordo com Messias Boaventura secretario de saúde do município desconfia que um turista de São Paulo quei faleceu devido a doença a tenha transmitido aos outros 18 Esse texto é a transcrição do Exemplo 2. O texto foi transcrito da mesma maneira que o aluno escreveu, as palavras indicadas por setas correspondem as observações da professora. 72 ilustração da notícia Gripe suína Desenho produzido por aluno da professora Terzia para ilustrar o jornal mural Neste exemplo, a professora Terzia propôs a escrita de uma notícia. A finalidade da escrita desse texto foi a confecção de um jornal mural para ficar exposto na escola, ela relatou que a atividade partiu da leitura de notícias sobre os temas de interesse das crianças. Cada criança escolheu um tema e construiu seu texto, cada aluno fez também um desenho ou recortou figuras para ilustrar a notícia com o objetivo de chamar atenção dos leitores. Nesse 73 exemplo são duas notícias: uma sobre Gripe H1N1 (gripe suína) e outra sobre meningite. Em relação a correção e avaliação da atividade percebemos que as observações da professora referem-se apenas aos aspectos estruturais do texto, ela questiona fazendo uso de interrogações, a falta de alguns elementos que compõem a notícia (tema, intertitulo, chapéu19). Durante a conversa que tivemos com a professora, ela comentou que trabalhou esses componentes da notícia e essa nomenclatura com as crianças. Atentamos ainda, que na intervenção da mestra no texto ela não chamou atenção sobre outros problemas da escrita como: ortografia, pontuação, uso de letra maíuscula, ou conteúdo do texto. Se fossemos analisar essa correção isoladamente, sem a os dados da entrevista, certamente, questionaríamos tal correção, por estar focada apenas na estrutura textual. Todavia quando cruzamos os dados: as marcas deixadas pela docente na produção textual do aluno, com a entrevista, temos outra compreensão como podemos perceber nesse trecho da entrevista: E: Quando eu faço essas produções, eu tento dar um foco, o que é que eu estou querendo? Eu quero que ele faça uma análise, desenvolver uma fábula assim: o inicio, enredo, a moral, o desfecho da historia ou eu to querendo analisar a parte ortográfica, porque eu também tenho minhas angustias na questão da produção de texto. O que eu vou analisar é tudo? É parte? O que é que eu vou querer do meu aluno nessa avaliação? Então, pra uma avaliação ficar mais autêntica eu vejo que o professor tem que estipular critérios nessa avaliação desde cedo, sabe? Antes mesmo fazer uma prévia, dizer não, dessas produções o que eu vou querer? Talvez eu vá focar dificuldades ortográficas, no outro mês eu vou querer analisar a parte de estrutura de um texto, certo? Então, é dessa forma que eu tento trabalhar, tanto que nas autobiografias eu não vi 19 Intertítulo - Pequenos títulos colocados no meio do texto jornalístico. Esse artifício é usado para tornar o texto menos denso. Há publicações que preferem destacar frases retiradas do texto para colocar nos intertítulos.(Cf. Glossário de Jornalismo) Chapéu – É uma palavra, nome ou expressão, sempre sublinhada, usada acima do título e em corpo pequeno, para caracterizar o assunto ou personagem da notícia. (Cf. Glossário de Jornalismo) 74 nada dessa parte ortográfica, eu deixei eles livres, pra eles contarem a historia de vida deles... (Terzia) A docente ressaltou que quando avalia, elege os critérios que pretende trabalhar, no caso da noticia sobre gripe suina, restrigiu-se a ensinar apenas estrutura textual, por isso, não abordou outros aspectos na correção. No que diz respeito a intervenção da professora no texto, acreditamos que tal interferência facilita aos aprendizes melhorarem seus textos, quando atentam apenas para poucos aspectos, no caso, a estrutura do texto, ao invés de ver vários aspectos ao mesmo tempo. Observamos ainda, que a professora foi bem explícita sobre os elementos que estavam faltando na composição do texto. Não observamos a aula, mas acreditamos que se a criança entendeu os elementos da notícia destacados pela docente (tema, intertítulo e chapéu) é provável que ao refazer seu texto consiga reescrevê-lo de forma mais elaborada. De acordo com a mestra este exemplo é apenas a primeira versão do texto e iria passar ainda pela reescrita. Diversamente da professora Edina, que não oportuniza a reescrita do texto, a professora Terzia propõe a refacção textual. Sobre essa proposta textual, consideramos uma boa atividade, em primeiro lugar, porque tem uma finalidade, a elaboração de um jornal mural da classe, e tem um suporte onde esse texto vai circular, que é o próprio jornal mural, exposto nas paredes da escola, onde outras pessoas vão ler além da professora e dos colegas de sala. Em segundo lugar, porque é uma proposta de atividade com um gênero que circula socialmente, a tarefa partiu da leitura de notícias atuais que são do interesse e fazem parte do cotidiano das crianças. E, em terceiro lugar, porque refletiu sobre a estrura da notícia, que é um texto que sempre é lido e produzido na escola na oralidade, mas dificilmente se produz por escrito. Acreditamos que conhecer os elementos que compõem a estrutura da notícia é importante não só para aprender a escrever esse gênero, mas é fundamental para construir a criticidade na leitura de notícias e reportagens, para que a criança passe a perceber que a escrita tem intencionalidade, que os textos não são neutros, portanto refletir sobre tais caracteristicas é interessante, porque ajuda a formação do leitor crítico como também, a elaborar melhor a produção escrita. 75 3.2.1 As atividades de produção textual revelam as concepções das mestras Dando continuidade a análise das condições de produção, uma das atividades que observamos muito presente na prática das professoras Edina e Jessica, foi a produção de texto a partir de gravuras. Tais atividades revelam as concepções dessas docentes sobre a linguagem e sobre o ensino da escrita. A professora Edina em sua prática adota um caderno de redação, cada criança tem o seu, onde são coladas gravuras retiradas de livros didáticos, os alunos são solicitados a escrever textos partindo dessas gravuras. Sobre tais atividades, nos chamou atenção, o fato de, no comando da tarefa não haver nenhuma orientação sobre qual gênero deveria ser produzido. Sobre esse tipo de atividade Antunes (2009) diz o seguinte: Imaginemos as dificuldades para se escrever um texto com base na seguinte solicitação: “Faça um texto a partir desta figura” (é apresentada, ao lado a figura de uma paisagem, de um animal, de uma pessoa etc.), mas texto de que gênero? Com que finalidade? Para quem? Para constar em que suporte? Admira que os alunos tenham dificuldade para escrever bons textos? (p. 213) Essa citação exemplifica bem o que apresentamos a seguir, segundo a professora Edina, o comando da atividade foi: escreva um texto sobre essa gravura. Vejamos o exemplo: Transcrição do texto: O menino e a escova produzido por aluno da prof. Edina 20 O menino e a escova Era uma vez um menino que tinha uma escova que estava nova Foi escovar os dentes com ela, no dia seguinte a escova estava Velha e cheia de bactéria e teve que comprar outra escova. A tarde seus dentes estavam podres e furados. *precisa explorar mais a gravura acrescentando idéias Ex: nome do menino que roupa usa, quem deu a escova, a quem pediu dinheiro pra comprar outra... 20 Esse texto é a transcrição do Exemplo 4. O texto foi transcrito da mesma maneira que o aluno escreveu, as palavras escritas em itálico correspondem as observações da professora. 76 Exemplo 3: texto “O menino e a escova” /Texto produzido por aluno da professora Edina 77 Em relação à finalidade da escrita, como já discutimos na fundamentação teórica deste trabalho, dificilmente será solicitado ao aluno fora dos domínios escolares que produza um texto dessa natureza. Sobre esse aspecto, Soares (2007) diz que: A insistência e a persistência da escola em levar os alunos a usar a escrita com as funções que privilegia, como principal instrumento, as condições de produção da escrita na escola e a avaliação dessa escrita, são, na verdade um processo de aprendizagem/ desaprendizagem das funções da escrita: enquanto aprende a usar a escrita com as funções que a escola atribui a ela, e que a transforma em uma interlocução artificial, a criança desaprende a escrita como situação de interlocução real.( p.73). Essa passagem foi escrita por Soares originalmente em 1988 em um artigo, e reeditado no ano de 2007 no livro “Alfabetização e letramento”, a autora tece observações justamente sobre esse tipo de atividade, é interessante perceber, que passados mais de vinte anos, esse comentário é tão atual, ou seja, ainda encontramos em nossas escolas condições de produção de textos semelhantes às descritas a duas décadas atrás. Além das condições de produção, é interessante salientar a correção da professora. No texto, observamos que o aluno criou uma história partindo da gravura, um pequeno enredo condizente com a proposta, que se corrigido de outra forma ou com outra orientação poderia melhorar muito, até porque, vemos que do ponto de vista gramatical o aluno tem uma boa escrita, quase não comete incorreções ortográficas. Todavia, do ponto de vista discursivo o texto apresenta problemas que poderia ter sido considerado pela professora, ela deveria ter feito observações relativas ao conteúdo textual. Mas, No final do texto, a professora escreveu um bilhete sugerindo apenas que o educando precisa explorar mais a gravura, acrescentando ideias e citando como exemplo: nome do menino, que roupa que usa, quem deu a escova, a quem pediu dinheiro para comprar outra escova.” Sobre explorar mais a gravura, há estudos que comprovam até que ponto os estímulos visuais podem ajudar ou não na escrita da narrativa. Há estudos que comprovam que presença ou ausência de estímulos visuais influenciam nas habilidades narrativas dos escolares21. Dessa forma, é 21 Estudos que tratam da presença de estímulos visuais na produção do texto escrito: Soares (2007 p.108- 113), Spnillo (1993), Lins e Silva (1994) e Silva (1996) 78 importante discutir tais pesquisas, cujos resultados devem ser considerados pelo professor na organização e planejamento das atividades de produção de textos. A predição de caráter mais geral, é que, tais pesquisas, observaram que as crianças produzem histórias mais elaboradas quando na ausência de estímulos visuais. Lins e Silva (1994) fez um estudo que trata da influência do estímulo visual da produção do texto, investigou o efeito de situações experimentais sobre a produção de histórias, em crianças que já dominam a leitura e a escrita, comparando o desempenho de escolas públicas e particulares. Os resultados mostraram que as crianças se saíram melhor na escrita de texto a partir de gravuras que apresentavam sequência que sugeria uma situação problema. Silva (1996) também encontrou resultado semelhante ao realizar um trabalho de intervenção pedagógica com crianças da terceira série de uma escola pública. Observou que em relação à produção de história a partir de estimulo visual, as sequências de gravuras que expunham situação problema levaram as crianças a produzirem historias de forma mais elaborada do que as sequências que não apresentavam um conflito. Tais resultados indicam que a apresentação de um modelo visual que sugira uma situação problema favorece o aparecimento de estruturas narrativas mais elaboradas do que tarefas a partir de gravura que não apresentam uma sequência, como o exemplo do texto “O menino e a escova”. A professora Jessica também disponibilizou atividades de produção textual a partir de gravuras. Porém, nessas tarefas, podemos observar que: 1) a professora no comando da atividade indicou o gênero história. 2) As gravuras faziam parte de uma sequência lógica que sugeriam uma situação problema, e 3) ainda continham o inicio ou o final da história para que a criança completasse. Podemos perceber que tais atividades faziam parte de uma sequência didática22 que tinha como objetivo ensinar o aluno a produzir texto narrativo especificamente o gênero história, vejamos o exemplo: 22 A professora Jessica disponibilizou outras atividades de produção textual com sequência de gravuras, que dava o final da história para que a criança criasse o inicio; sequência de gravuras para que a criança produzisse uma historia completa. 79 Exemplo 4: texto “A bruxa” Texto produzido por aluno da professora Jessica 80 Acreditamos que as atividades sugeridas pela professora Jessica ajudam mais ao aluno a escrever um texto narrativo do que as tarefas propostas pela professora Edina. Percebemos que a professora Jessica tem o planejamento mais organizado. As atividades propostas por ela sugerem os objetivos mais claros: o desenvolvimento de habilidades narrativas de escrita. Tais atividades demonstram as concepções da mestra. Durante a entrevista, ao comentar os critérios de avaliação Jessica citou a coerência e sequência lógica, percebemos tais critérios materializados desde a proposta da atividade, a preocupação da educadora com a categoria começo, meio e fim, e com a sequência lógica do texto. Nestes dois exemplos de as atividades de produção textual a partir de gravuras, encontramos mais elementos que revelam as concepções das mestras. A professora Edina demonstrou a concepção de escrita como dom, tanto nas propostas de atividades como na correção, ou seja, a crença de que dar o tema é suficiente para ensinar a escrever um texto. Já na atividade proposta por Jessica, observamos uma preocupação maior com o ensino na organização da atividade. Mas, na avaliação do texto da criança, a única marca deixada na correção foi a letra maiúscula o “R” do nome Rafael que iniciava com letra minúscula, esse indicio aponta a preocupação maior da professora Jessica com os aspectos superficiais do texto do que com o conteúdo propriamente dito. Até aqui, refletimos sobre as condições de produção e avaliação dos textos, os gêneros propostos e os tipos de atividades, no próximo tópico, analisamos como as docentes tratam o erro, tal análise implica observar mais especificamente, os modos de corrigir e avaliar os textos. 3.4. A correção dos textos A observação dos textos disponibilizados pelas docentes possibilitou traçar não apenas uma descrição da correção dos textos pelas professoras, mas perceber que não é indiferente a forma como se dá essa intervenção, ou seja, acreditamos que a natureza do trabalho do professor tem a ver com a concepção de ensino da língua e de avaliação que as docentes adotam. Na análise dos textos buscamos basicamente compreender as estratégias de correção através das anotações deixadas pelas professoras nos textos 81 produzidos pelos educandos, observar se tais intervenções contribuem ou não para a melhoria do texto do aluno. O primeiro aspecto que merece ser comentado, é que na análise dos textos percebemos que as professoras corrigem os textos de diferentes formas, ou seja, as professoras, não têm um padrão único de correção. Em alguns textos fazem uso da correção indicativa, em outros da resolutiva, em outros escrevem bilhetes e lembretes e em outros textos, não escrevem nada, apenas passam um visto (rubrica) no alto da folha, indicando para o aluno que o texto foi visto pelo professor. Sobre essa diversidade de formas de corrigir os textos, acreditamos que isso se dá devido aos problemas percebidos pelos professores nos textos das crianças, que são diferentes, cada aluno tem suas particularidades e, portanto, problemas de escrita também diferentes. Por outro lado, cada professor tem seu estilo próprio, suas concepções, suas idiossincrasias, sua maneira própria de ver que é peculiar de cada um, assim sendo, manifesta esse estilo na correção dos textos. Outro motivo que atribuímos à variedade de maneiras de intervir nos textos, é a questão do tempo, sabemos que o dia-a-dia do professor é bastante corrido e é praticamente impossível corrigir todos os textos minuciosamente, por isso, supomos que em alguns momentos, o mesmo professor corrige o texto detalhadamente e em outros momentos passa apenas um visto. Em relação a apenas passar o visto, essa não é uma prática tão incomum em nossas escolas, mesmo não sendo tal prática que desejamos evidenciar nesse estudo, achamos relevante comentá-la, porque neste estudo alguns textos estavam apenas com um visto como marca avaliativa. Acreditamos que a falta de correção é tão prejudicial quanto à correção exagerada e feita de maneira autoritária, concordamos com Val e outros (2009) quando abordam essa questão ao dizerem que Negar a possibilidade de uma atitude avaliativa diante do texto do aluno seria ir na direção contraria às práticas sociais comuns e esperadas pelos interlocutores; seria distanciar e diferenciar cada vez mais, o uso da linguagem tipicamente escolar daquele que é praticado fora da escola. Por isso entendemos que os prejuízos de uma atitude espontaneísta em relação ao texto do aluno são tão grandes quanto os de uma correção autoritária e sem critérios. Não apontar erro algum ou avaliar para punir são procedimentos extremos, que não correspondem ao uso da língua na interação 82 social e, portanto, não contribuem positivamente para desenvolver no aluno sua competência linguística.” (p. 32) Os autores defendem ainda, que os aprendizes devem ser alertados quantos aos problemas de seus textos através de uma avaliação criteriosa e honesta, pois se não forem, há a possibilidade de internalizarem a falsa ideia de que não existem parâmetros que orientem a produção do texto escrito. Assim, do ponto de vista dos alunos, a avaliação dos textos que escrevem é importante porque através dela poderão ser explicitadas as regras de utilização da língua escrita, e do ponto de vista do professor, a avaliação é importante porque pode orientar o trabalho, uma vez que nos textos produzidos pelos alunos é possível perceber as dificuldades e partindo dessas, selecionar os conteúdos a serem trabalhados na disciplina de Língua Portuguesa. (VAL e OUTROS, 2009). Para compreendermos melhor a dinâmica de correção dos professores, elaboramos o Quadro 3 com os tipos de correções praticadas pelas docentes sujeitos dessa pesquisa. Para isso, nos baseamos na classificação de Tereza Serafini (1987) e Eliana Ruiz (2001), e criamos ainda uma outra categoria que denominamos textual-sugestiva, para interpretar melhor nossos dados, cuja explicação daremos mais adiante junto com os exemplos. Quadro 2: Tipos de correção Professoras Tipos de correção Indicativa Resolutiva Classificatória Textual sugestiva Edina Sublinha palavras com incorreções ortográficas Escreve no rodapé da página palavras com incorreções ortográficas ___ Escreve bilhetes no rodapé da página. Osana Sublinha palavras com incorreções ortográficas Em alguns textos Escreve ao lado das palavras com incorreções ortográficas ___ Escreve bilhetes no rodapé da página. Jessica ___ Escreve ao lado das palavras corrigindo erros ortográficos ___ Vera Terzia Circula palavras com incorreções ortográficas Sublinha ou circula palavras com incorreções ortográficas Escreve ao lado das palavras, corrigindo os erros ortográficos ___ ___ ___ Escreve bilhetes chamando atenção para alguns aspectos que estão faltando no texto. ___ Escreve bilhetes chamando atenção para alguns aspectos que estão faltando no texto. 83 Na análise do Quadro 2, o primeiro aspecto que nos chama atenção é que nenhuma docente realiza correção do tipo classificatória, nos textos que nos foram fornecidos. Outro aspecto percebido é que a maioria das professoras corrigem os textos fazendo uso do tipo indicativo e resolutivo. Dado também observado por Ruiz (2001). Exemplo 5: correção indicativa / Correção realizada pela professora Vera No texto “Um sonho muito bom” a professora Vera faz uma correção do tipo indicativa, ou seja, indica para o aluno sublinhando ou circulando os erros cometidos na redação. Já no texto “O lobo a grande cidade e o menino da sombra”, a mesma professora, também circula ou sublinha as palavras com incorreções ortográficas, mas também escreve as palavras corretamente ao 84 lado ou em cima do que está incorreto, resolvendo o problema, demonstrando uma correção do tipo resolutiva. Conforme exemplo. Exemplo 6: correção resolutiva Correção realizada pela professora Vera 85 De acordo com Ruiz (2001), de todos os modos de corrigir o texto, aqui aventados, o tipo resolutivo é o que menos ajuda na reconstrução reflexiva do texto, por já apresentar as soluções prontas, isto é, o professor não dá oportunidade de o aluno pensar onde errou, induz apenas copiar as alterações feitas pelo docente. Outro aspecto importante a ser considerado, é que quase todas as professoras, com exceção de Vera, costumam escrever bilhetes para os alunos nas margens do texto, entretanto, tais bilhetes, em nosso entendimento, não podem ser classificados como uma correção interativa. Diferente do resultado encontrado por Ruiz (2001), que em sua pesquisa classificou os bilhetes escritos nas margens dos textos na categoria textual-interativa justamente por perceber que aqueles escritos, estabeleciam um diálogo entre professor e aluno. Neste estudo, as missivas escritas nas margens dos textos, em nossa concepção, não podem ser consideradas uma interação, porque não estabelecem uma interlocução com o aluno, isto é, seu conteúdo não ajudam a melhorar a qualidade da produção textual. Partindo dos exemplos que analisamos, criamos uma outra categoria para classificar as correções das docentes sujeitos dessa pesquisa, a qual denominamos textual-sugestiva: textual, por fazer uso do texto escrito e sugestiva, porque tais bilhetes se configuram como sugestões para o aluno. As indicações do que deve ser corrigido ou acrescentado no texto do aprendiz, em nossa compreensão, não estabelecem um diálogo entre educador e educando no sentido de melhorar o texto. As sugestões das docentes se aceitas pelos alunos na reescrita dos textos, não farão diferença no conteúdo, por isso, consideramos tais avaliações monológicas e unilaterais, resultado semelhante encontrado por Marcuschi (2004), ao verificar que os professores valorizaram a atitude monológica na avaliação da redação, ignorando que os alunos estão imersos em práticas sociais. Conforme exemplificamos a seguir: 86 Exemplo 7: correção textual-sugestiva /Correção realizada pela professora Osana No exemplo 7 “Os meus sonhos para o futuro, a professora Osana escreve no alto da página: “Melhore,” e no final da página escreve: “o texto está bom, mas precisa organizar melhor, treine mais”. Na escrita do bilhete a docente comete um engano no uso do primeiro “mais” ela utiliza um advérbio, quando seria necessário utilizar a preposição adversativa “mas”. Sobre o comentário escrito por ela, apesar de escrever um bilhete, acreditamos que não há uma interação com a criança, porque no recado da professora não fica claro para o aluno o que precisa ser organizado e melhorado no texto. Acreditamos que no conteúdo desse texto, o aluno revela concepções de mundo equivocadas, quando se refere a ser jogador de futebol e arrumar muitas namoradas, esse fato não é tratado na correção, ou seja, não 87 há inserção de ato discursivo na intervenção da mestra, ela apenas diz que precisa organizar, mas não especifica o quê. Sobre a expressão “treine mais”, esse comentário, transfere para o aluno a responsabilidade de gerar sua própria aprendizagem, sugerindo que quanto mais treinar escreverá melhor. Sabemos que o treino sem uma reflexão dos problemas do texto não ajuda o educando a aprender. Tal orientação, não fornece elementos para resolver os problemas do texto, nem aponta formas de superá-los, traduzindo a concepção de escrita como dom, essa correção foi feita pela professora Osana, a quem nos referimos anteriormente e que explicitou claramente tais concepções tanto no discurso como neste exemplo na materialidade da correção textual. No texto “Ana e a natureza”, corrigido pela professora Edina, a mestra realizou a correção do tipo resolutiva e também escreveu uma observação na margem direita do texto dizendo: “observar o uso de letras maiúsculas após os sinais." Exemplo 08: Ana e a natureza correção textual-sugestiva realizada pela professora Edina 88 Transcrição 23 do texto Ana e a natureza Ana e a natureza Observar o uso de letras maiúscula após os sinais. - Ana gosta muito da natureza! A MÃE dela dizia: Filha você gosta muito de ver pássaros voando não é? e Ana disse: eu gosto muito mãe certo dia um homem fez uma fabrica de mantega e Ana gostava de ir para o rio, certa dia ela deu um mergulho no rio e percebeu que o rio tava gordurento (gorduroso) e vio um cano que saia gorduras e ela fio (viu) que chegou uma fabrica de mantegas mas ela não sabia que a fabrica tinha chegado então ela resolvel e (ir) lar (lá) e disse: a o dono ei você sabia que esta polindo o rio? Ele disse que não ai resolveu tirar o cano dali e colocar em outro lugar e assim a natureza fica em paz Em relação ao bilhete escrito pela professora, a nosso ver, esse comentário não ajuda muito na aprendizagem do aluno. Na avaliação do texto, a mestra destacou para o aluno, apenas o uso de letras maiúsculas, quando haviam outros aspectos mais importantes a serem abordados, como por exemplo: a organização do texto, a coerência, a continuidade, já que a criança passa subitamente de um assunto para o outro, a pontuação que ajudaria a construir a coerência nos diálogos, e o próprio conteúdo que a criança trouxe no texto: a destruição da natureza. A criança até que procurou desenvolver o texto apesar das condições de produção da narrativa: “Escreva uma historia a partir da gravura”, mas deste assunto, trataremos mais adiante, na análise dos critérios, quando utilizamos este mesmo exemplo, por ora nos detivemos apenas à correção. Entendemos que é fundamental analisar em que a correção pode possibilitar oportunidades de aprendizagem aos educandos, ou seja, como os erros são aproveitados para entender a lógica do aluno e oportunizar novas aprendizagens. Ruiz (2001), defende que a prática de correção deve nascer de um encontro entre sujeitos (aluno, professor e outros) em processos lingüísticos que se prestam para produzir significação em episódios de interação pessoal e dialógica. E tal prática só é possível dentro de uma postura teórica específica: a textual, a discursiva. (RUIZ 2001, P.232) 23 O texto está escrito da mesma maneira que o aluno escreveu. As palavras entre parênteses e a observação contida na caixa de texto escritas em itálico correspondem às correções feitas pela professora. 89 Nesta perspectiva, concebemos que não cabe mais na correção dos textos apenas exigências de regras gramaticais, mas sim, ajudar as crianças a melhorar os aspectos relativos à textualidade, e principalmente que o professor crie situações de inserção do aluno na cadeia discursiva e esteja disposto a dialogar com o aluno no ato avaliativo, isso não significa excluir a gramática, mas buscar corrigir o texto observando o que o aluno quis dizer em atitude de interação e diálogo. Até aqui, vimos que as formas de corrigir nem sempre favorece o aprendizado do texto escrito. 3.4.1 Como as professoras tratam o erro: os alunos têm a oportunidade de reescrever os textos? Na escola, a oportunidade de revisão e refacção do texto antes de colocá-lo em circulação ou devolvê-lo ao aluno ainda é negado. Alguns professores ainda pensam que o texto escrito deve atingir os objetivos logo na primeira versão. Discordamos dessa ideia, pois entendemos que a aprendizagem é um processo e no caso especifico da escrita, para que se concretize a aprendizagem é preciso muitas idas e vindas na elaboração do texto: o rascunho, a primeira versão, a segunda, a terceira e quantas versões forem necessárias até atingir o objetivo da escrita, obviamente com a intervenção do professor nesse processo de reescritura textual. No capítulo 1, tratamos da postura do professor em relação ao erro do aluno, defendemos que o erro deve ser observado a partir de seu aspecto positivo, pois manifesta as hipóteses construídas pelo aprendiz, o que ele já sabe, e aponta para o professor o que precisa ser ensinado sobre o conhecimento avaliado. Assim, fizemos o seguinte questionamento às mestras, a fim de saber se elas propõem a refacção do texto. P: Você propõe a reescrita do texto? E: Não. É uma coisa que eu preciso melhorar, trabalhar a produção do texto, como eu disse pra você, eu não tenho tanta facilidade. (Edina) E: Eu já propus, e nas vezes que aconteceu a reescrita eles melhoraram muito. Eu acredito que eu tenho que partir por esse princípio, eles fazerem uma vez, eu corrigir, devolver, eles fazerem 90 outra e agente colher esse material pra averiguar o resultado final. Eu acredito que seja por aí. (Osana) P: Quer dizer que, quando você propôs a reescrita eles melhoraram? E: Melhoraram. Nas vezes que eu produzi, teve pessoas que até a utilização o parágrafo; no primeiro não fez, no segundo utilizou o parágrafo porque tinha um lembretezinho no rodapé: “use parágrafo”. (Osana) Nestes relatos observamos que duas professoras afirmaram que não costumam propor a reescrita. Ressaltamos que as mestras têm consciência da importância de reescrever o texto, mas não o fazem. Edina justifica dizendo que não tem tanta facilidade e Osana diz que já propôs, mas que, no momento, não está fazendo. Sabemos que trabalhar com a reescrita do texto não é uma tarefa fácil, pois envolve um conhecimento mais apurado do funcionamento da língua por parte do professor e exige também que ele queira dialogar, por parte do aluno, demanda mais paciência e a adoção do hábito de refazer o texto. É demorado e trabalhoso para ambos, mas é proveitoso e gratificante ao mesmo tempo. Proveitoso porque acreditamos que é através desse trabalho de interação entre professores e alunos na elaboração do texto, que os educandos compreenderão melhor o funcionamento da língua e poderão melhorar suas produções linguísticas, e gratificante porque o professor vai colher o fruto de seu trabalho, que é a aprendizagem significativa dos alunos e o alunos a melhoria da competência discursiva. Em relação a refacção do texto, podemos nos perguntar: como são tratados os erros dos alunos se eles não têm a chance de refazer seus textos? Podemos supor que os erros são apenas identificados, mas não são objeto de reflexão, nem por parte do professor, nem por parte do aluno. As outras professoras entrevistadas afirmaram que propõem a reescrita do texto, selecionamos aqui, um trecho da entrevista da professora Terzia por acreditarmos que esse depoimento ilustra positivamente como deve ser feita a reescrita textual: P: Você propõe a reescrita do texto? E: sim. P: Como é feita essa reescrita? E: Passei uma produção, vou dando uma olhada, ali eu vejo como estão, então, eu vejo aquele que está com mais dificuldade, é aquele 91 que eu vou colocar no quadro, escrevo aquela produção e faço assim, por exemplo: essa palavra “olinda”, escreveu com “o” minúsculo, mas vamos ver, aí eles vão dizer, isso é um substantivo próprio ou comum? P: Quando você vai fazer essa correção, você trabalha só o uso da maiúscula ou trabalha junto no mesmo dia, ortografia, a estrutura do texto? E: Não, eu já saí dessa loucura na minha vida, agora é focando cada coisa. Porque senão, até os pobres vão enlouquecer... é muita coisa pra eles reavaliarem, né?. É uma coisa de cada vez, sem stress!!! P: Como você faz? E: Quando eu faço essas produções, eu tento dar um foco. O que é que eu estou querendo? Eu quero que ele faça uma análise, desenvolver uma fábula assim: o inicio, enredo, a moral, o desfecho da história, ou eu to querendo analisar a parte ortográfica, porque eu também tenho minhas angustias na questão da produção de texto. O que eu vou analisar? É tudo? É parte? O que é que eu vou querer do meu aluno nessa avaliação? Então, pra uma avaliação ficar mais autêntica, eu vejo que o professor tem que estipular critérios nessa avaliação desde cedo, sabe? Antes mesmo fazer uma prévia, dizer não, dessas produções o que eu vou querer? Talvez eu vá focar dificuldades ortográficas, no outro mês eu vou querer analisar a parte de estrutura de um texto, certo? Então, é dessa forma que eu tento trabalhar, tanto que nas autobiografias eu não vi nada dessa parte ortográfica, eu deixei eles livres, pra eles contarem a história de vida deles. Porque, quem sou eu pra tá corrigindo algo que é da sua vida pessoal, né? Tá ali fazendo essas correções, letra maiúscula, me prendendo a essa parte ortográfica, não. Eu quis ver como eles iam colocar pra fora, tirar tudo de dentro, e teve assim, histórias que muita gente chorou. P: Então nesse projeto você olhou mais o sentido do texto? E: Exatamente. Tanto que, no projeto proposto pela coordenação da escola, não pedia: auto-retrato, nome estilizado, dedicatória, agradecimento. Mas, eu tentei fazer como um livrinho mesmo, pra eles terem a manhã de autografo deles, né? Então, e teve autoretrato, nome estilizado, dedicatória, agradecimento e o desenvolvimento da própria autobiografia e teve auto-retrato, porque 92 ali no desenho, agente sabe, que ele tá falando muito dele, é uma forma de escrita, também, o desenho. E o nome, porque eles também iriam estilizar. Radicalizem! Façam bem bonito! Se quisessem fazer grafitagem, deixei eles bem a vontade! Sobre esse depoimento, destacamos três enfoques que consideramos interessantes, primeiro, a correção e refacção coletiva, a mestra se refere a colocar no quadro. Acreditamos que essa prática é favorável a aprendizagem dos alunos, principalmente nos anos iniciais do ensino fundamental. É de suma importância que o professor eleja alguns aspectos a serem trabalhados nos textos e o faça coletivamente, pois serve de modelo para a criança, depois, quando for refazer seu texto individualmente, terá mais facilidade em reescrevê-lo. O segundo aspecto a ser destacado, é que nesse relato, a professora mesmo falando espontaneamente, enfatiza alguns dos seis princípios propostos por Serafini para uma boa metodologia de correção, conforme tratamos no marco teórico, e vamos relembrar aqui: 1) a correção não deve ser ambígua, o que deve ser mudado, na opinião do professor, deve estar bem especificado/claro para o aluno; 2) os erros devem ser reagrupados, catalogados e classificados especificado o tipo, as categorias dos erros devem ser claras não só para o professor, mas também para o aluno; 3) o aluno deve ser estimulado a rever as correções, compreendê-las e trabalhar sobre elas; 4) o professor deve corrigir poucos erros em cada texto, evitando abordar muitos pontos ao mesmo tempo. A capacidade do aluno de concentrar sua atenção sobre os erros e compreende-los é limitada. 5) o professor deve estar predisposto a aceitar o texto escrito pelo aluno, evitando preconceitos em relação à linguagem, ao tema, ao estilo do mesmo; e 6) a correção deve ser de acordo com a capacidade do aluno, abordar apenas erros que o aluno tem maturidade para corrigir. Na fala da professora Terzia ela explicita alguns desses princípios e por esse motivo, cremos que a forma de fazer a reescrita descrita pela professora ajuda a criança na reconstrução do seu texto escrito. E por último, a finalidade da produção textual das cinco professoras entrevistadas, Terzia foi a única que manifestou a preocupação com ter um sentido para escrever. Vejamos como responde a essa pergunta: P: Depois que a produção textual é corrigida por você o que é feito com o texto? 93 E: Fica com eles, sempre trabalho com projetos que tem alguma culminância, por exemplo: manhã de autógrafo da autobiografia. Como no exemplo citado na entrevista, a docente esclareceu que a autobiografia foi um livrinho onde, cada criança escrevia sobre sua vida, estes livros tiveram como finalidade uma manhã de autógrafos no encerramento do 5º ano do ensino fundamental. Em outros momentos da entrevista a professora citou outros exemplos de produção de gêneros textuais que tinham alguma finalidade, geralmente dentro de projetos didáticos, como o trabalho com poemas tendo como culminância um sarau poético, onde as crianças recitaram e expuseram poemas produzidos por elas e por outros autores e o jornal mural, citado como exemplo anteriormente. Na entrevista, ficou explicito que as outras docentes propõem o texto apenas com a finalidade de avaliá-lo. Vejamos o que dizem: P: Depois que a produção textual é corrigida por você, o que é feito com o texto? E: Devolvo para ele (aluno). (Edina) E: Na maioria das vezes o texto fica no caderno. Quando o texto fica comigo eu passo o visto, dou uma leiturazinha, sublinho sempre as palavras erradas e devolvo pra eles.(Osana) E: Corrijo, deixo que eles levem para casa e façam a auto-correção e trazem para refazer aqui na classe. (Vera) E: Eles fazem a reescrita, eu corrijo e devolvo pra eles. (Jessica) Para o ensino eficiente da produção textual é necessário que os professores mudem sua forma de trabalhar a produção de texto. Nesse sentido, concordamos com Marcuschi (2006), como já abordamos no primeiro capítulo, ao defender o ensino do texto na perspectiva da redação mimética onde sugere que o professor priorize o trabalho com os gêneros textuais e ao mesmo tempo não pode perder de vista que aquele texto também é uma redação, pois se constitui um objeto de ensino e de aprendizagem. Portanto, discordamos das atividades que não fazem sentido para o aluno que o único objetivo é a avaliação. 3.5 Os critérios de avaliação dos textos no discurso e na prática das professoras Nesta parte do trabalho, enfocamos os aspectos que as docentes enfatizam na correção e na avaliação das produções textuais, que servem de parâmetro para 94 sua apreciação. Em outras palavras, nossa reflexão gira em torno dos critérios que aparecem tanto no discurso, como na prática, materializado nas marcas deixadas pelas docentes na avaliação dos textos das crianças. Nos depoimentos das docentes aqui parcialmente reproduzidos sobre os critérios para avaliar fizemos algumas indagações, a primeira foi: você acha que é preciso definir critérios para avaliar os textos produzidos pelos alunos? Todas responderam que consideram importante definir critérios para avaliar. A segunda pergunta foi: quais os critérios que você utiliza para avaliar os textos dos alunos? As respostas foram às seguintes: Quadro 3: Trechos da entrevista Professoras Trechos das entrevistas “Se tem começo, meio e fim; se não fugiu do tema; as ideias dele, se não ficou Edina restrito ou se ele ampliou, se enriqueceu ; o uso de preposições.” Osana “Meus critérios são: ortografia; acentuação; coerência e coesão, se expressou bem e conseguiu defender sua ideia durante o texto de uma forma completa.” “Pontuação, ortografia, uso da letra maiúscula.” Vera Jessica “Pontuação, ortografia, coerência e sequência lógica.” “Primeiro é o significado do que agente vai trabalhar com eles, porque se não tiver um significado não adianta nada [..] .Os critérios são: a estrutura e a parte Terzia ortográfica porque agente também não pode fugir da ortografia.” Fazendo uma breve análise destes depoimentos, inicialmente gostaríamos de destacar a fala da professora Terzia, quando se refere ao significado, que interpretamos como finalidade, como já discutimos anteriormente, Terzia nesse relato manifesta mais uma vez a preocupação com a finalidade da escrita. Continuando nossa análise, observamos que, apenas Edina não citou ortografia, todas as outras enfatizaram aspectos ortográficos. Outro enfoque que aparece na fala das mestras é o conteúdo textual, que para fins de análise agrupamos no mesmo bloco: começo, meio e fim; coerência e coesão; não fugir do tema; sequência lógica. Apenas Vera não citou essa categoria. Logicamente na interpretação dessas falas, consideramos que no momento da entrevista, as mestras mencionaram alguns aspectos que vieram à memória e não outros, certamente há outros critérios que são levados em consideração pelas professoras e não foram explicitados, temos clareza que isso vai depender do gênero textual que está sendo ensinado, ou das dificuldades apresentadas pelos alunos. Assim, para tirar nossas 95 conclusões não nos baseamos apenas na fala, o que de fato levamos em consideração nesta análise, foi o cruzamento dos dados, entre o discurso e o que efetivamente as docentes consideram na avaliação dos textos. Para isso, construímos um quadro com os critérios avaliativos explicitados pelas professoras na correção textual. Tabela 2: Critérios de avaliação adotados pelas professoras. Critérios de avaliação Uso de letra maiúscula Concordância verbo-nominal Fuga do tema Repetição de palavras Coerência/ coesão Pontuação Paragrafação Ortografia Acentuação Tema/título Estrutura textual Caligrafia Total de textos Osana 27 20 10 29 25 12 29 Frequência que os critérios aparecem nos textos Edina Vera Jessica 93% 69% 34% 100% 85% 41% 100% 08 03 05 11 16 12 8 03 17 47% 17% 30% 65% 94% 70% 47% 17% 100% 12 15 05 17 12 17 70% 90% 30% 100% 70% 100% 05 03 02 02 06 04 04 09 05 12 40% 25% 17% 17% 50% 33% 33% 75% 40% 100% 04 05 06 10 07 14 15 Terzia 26% 33% 40% 66% 46% 94% 100% Na análise da tabela 2, o primeiro aspecto que nos chama atenção, é o destaque dado aos aspectos superficiais do texto: pontuação, paragrafação e acentuação e principalmente a ortografia. Comparando com os depoimentos citados anteriormente, vemos que há uma convergência, tanto no discurso como na prática, os aspectos ortográficos são considerados como fundamentais para a maioria das professoras, ou seja, na leitura do texto as professoras evidenciaram esses aspectos com maior facilidade. Outro elemento enfocado na fala das mestras foi o conteúdo do texto: começo, meio e fim; coerência; não fugir do tema; sequência lógica. No entanto, no confronto do discurso com a prática percebemos uma divergência, tais aspectos, quase não aparecem na organização das atividades e na avaliação dos textos. Das cinco docentes pesquisadas, apenas duas (Jessica e Terzia) destacam os problemas relativos ao conteúdo na correção. A esse respeito Suassuna (2006) diz que: [...] os problemas relativos ao domínio da ortografia são os mais evidenciados na avaliação da produção escrita, quando, na verdade, esta 96 deveria se centrar em aspectos mais globais do funcionamento do texto. Assim é que os professores, no momento da leitura dos textos dos alunos, detectam mais imediatamente uma troca de letras do que mesmo uma contradição entre ideias ou conceitos. (Suassuna, 2006 p. 31). Esta citação explica o que observamos no quadro 7, que os professores identificam com maior facilidade os aspectos superficiais do texto, como evidenciamos no exemplo do texto 8 “Ana e a Natureza 24”, citados como exemplo anteriormente, onde a professora identifica na avaliação apenas dificuldade do emprego de letras maiúsculas após os sinais de pontuação, quando havia outros aspectos relativos ao conteúdo a serem abordados, como por exemplo: a organização do texto, a coerência, a continuidade, entre outros. Tal exemplo, ilustra o que atentamos no quadro de critérios. Nesse sentido, nossa hipótese inicial parece se confirmar, que os professores geralmente avaliam os textos considerando os erros, principalmente, quanto à violação às normas gramaticais e ortográficas; em contra partida, os elementos linguísticos, como coesão e coerência, parecem não ser facilmente visualizados pelos docentes. Como já explicitamos na fundamentação teorica é fundamental que o professor estabeleça um quadro de criterios como sugerem Val e outros (2009) [...] é importante o estabelecimento de um quadro coerente de critérios, os mais objetivos e coerentes possíveis, que prevejam as possibilidades de enviesamento do olhar sobre o texto e busquem viabilizar uma avaliação justa, consistente e racional. Esses critérios estariam baseados em conhecimentos teóricos, metodológicos e políticos, de forma a contemplar todos os componentes da produção escrita, tendo em vista a objetividade nas avaliações. (2009 p. 88) Os autores sugerem que esses critérios devem estar fundamentados em conhecimentos teóricos, ou seja o professor deve conhecer as teorias e escolher as que acredita e considera mais adequada para embasar sua prática de linguagem, mas apenas conhecer os aspectos teóricos nao é o bastante, é necessário ter uma boa metodologia, e que avalie o tempo todo o suas escolhas isto é, ter uma postura reflexiva de sua prática. Percebemos que construir um quadro coerente de critérios para avaliar os textos nao é algo tão simples. Demanda conhecimentos por parte do professor. Defendemos que o professor não deve avaliar o texto superficialmente, direcionando o olhar apenas para as violações gramaticais cometidas pelos alunos, principalmente nos os primeiros anos de escolaridade, mas devem observar o texto 24 Veja o exemplo nº 8: Ana e a natureza ( p.90) 97 em todas as suas dimensões estabelecendo critérios claros e, sobretudo, procurar entender o que o aluno quis dizer, buscando perceber as diversas dimensões do texto, o que e como este diz, em uma atitude de interação, partindo desse entendimento a avaliação estará a favor do aluno e não contra ele, e o professor estará efetivamente ensinando a escrever bons textos e não apenas apontando erros, que na maioria das vezes, não ajudam as crianças a perceberem como escrever melhor, pelo contrário faz com que percam o estímulo e o gosto pela escrita. 3.5.1 As professoras explicitam os critérios de avaliação para os alunos? Outro questionamento feito às mestras, diz respeito aos critérios para avaliar, a pergunta foi a seguinte: você expõe aos alunos os critérios de avaliação antes da atividade de produção textual? Das cinco professoras entrevistadas, duas (Osana e Vera) disseram que não. Não combinam previamente com as crianças o que será cobrado no texto. E: Não, eu digo que vou avaliar a questão dos pontos, a questão da ortografia, que eu vou avaliar a letrinha que tá melhor, qual é o que tá se colocando bem. Eu não dou as referencias que nós temos de linguagem, mas as referências que eles conseguem ter, no linguajar deles, o mais popular possível. (Osana) A professora Osana apesar de afirmar que não explica os critérios antes da produção textual, elenca algumas categorias, cita a ortografia, a caligrafia, e se o aluno está se colocando bem no texto, esclarecendo que não explicita as referências de linguagem que ela tem, mas as referências que as crianças conseguem entender, no linguajar delas. Esse depoimento da professora expressa a crença de que, se ela enumerar os critérios com a nomenclatura correta: ortografia, pontuação, coerência, coesão, etc. os alunos não entenderão, por isso, cita alguns critérios e não outros. Discordamos desse argumento, acreditamos que no quinto ano os alunos já têm maturidade suficiente para entender os aspectos que a educadora vai observar na avaliação dos textos, e se o professor não usa e não ensina os termos adequados, como os alunos aprenderão? Já a professora Vera, justifica que não expõe os critérios para os alunos porque acredita que eles ficam nervosos sabendo que estão sendo avaliados. 98 E: Não. Porque eu acho que eles ficam nervosos sabendo que estão sendo avaliados, eu não uso a palavra prova para que os alunos não sintam medo. (Vera) Também divergimos desse ponto de vista, tal acepção demonstra um sentido equivocado de avaliação, já discutimos neste estudo, que concebemos avaliação enquanto processo e, portanto, a todo momento estamos avaliando nossos alunos, não apenas na prova. O medo de uma avaliação formal é normal e acontece com todo mundo, omitir os critérios apenas mascara a avaliação, mas tais critérios são cobrados, mesmo que o aluno não tenha consciência que eles existam. Assim, consideramos que não se deve omitir os parâmetros que usamos para avaliar os textos das crianças Nos dois depoimentos a pesquisadora contra-argumentou, perguntando se quando as docentes estão sendo avaliadas, principalmente na produção de um texto, se elas não preferem ser informadas previamente pelo professor, sobre os critérios que serão cobrados na avaliação. Elas pensaram, e concordaram, que é melhor ser avaliado sabendo os aspectos que serão considerados pelo professor e que nunca haviam parado pra pensar nessa questão. As outras três (Edina, Jessica e Terzia) responderam que sim, costumam informar antecipadamente os critérios de avaliação dos textos aos alunos. E: Sim. O aluno é informado no texto o que eu vou avaliar. (Edina) E: Sim. Sempre eu coloco no quadro o que eles devem ter atenção: pontuação, ortografia, uso de letra maiúscula parágrafo, título. (Jessica) E: Sim. Penso ser necessário para a própria compreensão dos alunos, sabendo assim como desenvolver seu texto. (Terzia) A professora Jessica comenta que escreve os critérios no quadro e Terzia acredita que conhecer os critérios se faz necessário, para ajudar os alunos a desenvolver o texto. Concordamos com as docentes, que é conveniente acertar previamente com os aprendizes os parâmetros que serão cobrados na produção escrita. Morais e Ferreira (2006 ) afirmam que Quando o professor propõe uma atividade de produção textual está estabelecendo um contrato didático com os alunos, sobre o que espera deles, e sobre o que eles podem esperar do professor. Evangelista e outros (1998) defendem que é importante o estabelecimento de um quadro de critérios os mais objetivos e explícitos possíveis e vão mais além, 99 completam que “a própria construção de um quadro de critérios para avaliação do texto, desde que conte com a participação do aluno, pode se tornar um mecanismo importante de aprendizagem” (p. 72). Aderimos à opinião dos autores, para que a avaliação possa ser um instrumento de aprendizagem coerente, é necessário que os critérios sejam explicitados e se possível combinados previamente com os aprendizes, de forma que eles possam participar da avaliação de modo mais efetivo e corresponder de forma mais eficiente não só as expectativas do professor, mais ao mesmo tempo, as suas próprias expectativas, enquanto aluno/autor de seus textos, tendo plena consciência de suas possibilidades linguísticas. Endossamos que o diálogo, entre professor e aluno, ou seja, a combinação, é o melhor caminho para chegar a aprendizagem. 3.6 Os conhecimentos necessários para produzir bons textos Indagamos as docentes a respeito dos conhecimentos necessários para que o aluno aprenda a produzir bons textos. O primeiro relato, é o da professora Osana, percebemos a ênfase na ortografia como conhecimento importante para produzir bons textos. Vejamos o que disse a mestra a esse respeito: E: A vivência dele conta muito, na maioria das vezes, eles já têm o básico. Eu tenho o máximo de cuidado para orientar na questão ortográfica. P: Com a ortografia tranqüila, ou escrevendo bem ortograficamente, eles vão produzir um bom texto? E: Se ele tiver criatividade e se ele for estimulado pra produzir, com a questão da ortografia e do tipo textual, faz ele ter um norte, agora, se vai produzir bem ou criativamente aí é um talento que ele vai desenvolver. Como já vimos anteriormente nos critérios de avaliação dos textos, confirmamos que a ortografia é o aspecto que mais aparece na avaliação da professora Osana. Os textos corrigidos por ela têm muitas observações chamando atenção para os erros ortográficos, como também, para outros aspectos que estão na superfície textual, entre eles o uso de letra maiúscula, a caligrafia, a pontuação, a paragrafação, etc. A docente em seu relato refere-se ainda, que a criatividade é justificada pelo talento do aluno, salientando a crença de que aqueles que escrevem 100 bons textos, o fazem, por méritos pessoais e não devido á aprendizagem, como já discutimos anteriormente. As concepção e prática a avaliativa da Professora Osana enfatizam a gramática normativa, a qual privilegia a variedade padrão. O que estamos chamando atenção aqui, é que, as concepções dos docentes podem determinar a aprendizagem dos alunos, ou seja, a organização das atividades, a intervenção no texto do aluno, esses aspectos sofrem influência direta das concepções dos professores. Persistir na concepção de que escrever não se aprende que é um “dom”, tem sérias consequências na prática. As atividades propostas pelos professores são encaminhadas espontaneamente, os docentes que assim pensam, acreditam que apenas a exposição dos alunos a diferentes textos como modelos seria suficiente para garantir a aprendizagem. Nos contrapomos a esse tipo de encaminhamento por acreditarmos que o ato de escrever não é apenas fruto de um “talento do aluno, mas demanda um planejamento por parte do professor, que deve ser realizado em vários momentos: planejamento, execução, leitura do texto, correção pelo docente, modificação do texto, a partir da reescrita, assim como postulam Fiad & Mayrink-Sabinson (1994). O segundo relato é o da professora Jessica, que expressa a preocupação com o conteúdo do texto, sobretudo com a coerência textual como conhecimentos importantes para elaborar um bom texto: E: Acho que os conhecimentos necessários para que o aluno aprenda a produzir bons textos são: organização, coerência, lógica, não fugir do tema. (Jessica) Na análise dos dados ficou evidente tanto na organização das atividades quanto na avaliação dos textos, a preocupação da docente com a coerência e a organização estrutural dos textos, Jessica elaborou algumas atividades visando a sequência lógica textual (atividades com gravuras sugerindo situação problema). Segundo Costa Val (1991) a coerência é responsável pelo sentido do texto, enredando fatores lógicos e cognitivos, porque depende do partilhar conhecimentos entre os interlocutores, ou seja, um discurso é coerente, quando apresenta uma configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo entre autor e leitor. Assim, o sentido do texto é construído não só pelo autor, que o escreve, mas também pelo leitor, a coerência do texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados construídos. 101 Dessa forma, é fundamental que na avaliação dos textos, os professores observem não apenas os aspectos que estão na superfície textual (aspectos gramaticais), mas é fator importante atentar para a lógica do texto, buscando compreender o que o aluno-autor quis dizer, assim, o docente, através da avaliação pode ajudar sinalizando os problemas de construção de sentido no texto. Não que os aspectos gramaticais não sejam importantes, são também, mas o sentido vem primeiro. E mais o professor deve ainda, ver a forma como o aluno disse e se posicionar diante do que foi dito. As outras professoras entrevistadas destacaram a importância da leitura para a aprendizagem da escrita evidenciando a crença de que se o aluno for um bom leitor será um bom escritor: E: Na minha opinião, ele deve ter o hábito de ler, deve ser um bom leitor, quanto mais ele ler, vai enriquecer o vocabulário e escrever melhor. (Edina) E: A leitura, ser um bom leitor, e o professor, deve estimular a leitura. (Vera) Edina e Vera destacam apenas a leitura como importante para aprender a escrever bons textos. Concordamos com as professoras, quando afirmam que leitura é fundamental para a aprendizagem da escrita conforme sugerem Leal & Melo (2006), ao refletirem sobre as relações entre ler e produzir texto, as autoras destacam que há dois motivos para se articular leitura a escrita na produção textual escolar. O primeiro é que, para escrever precisamos ter o que dizer, e para isso, é necessário construir conhecimentos, tais conhecimentos, adquirimos na leitura. O segundo motivo é ter familiaridade com uma boa diversidade de gêneros textuais para adotá-los de acordo com as finalidades de uso. A leitura de bons materiais de variados gêneros é de grande ajuda para fornecer conhecimento e conteúdo e um grau satisfatório de informatividade. Antunes (2009, p.125), explica que informatividade “é uma propriedade que diz respeito ao grau de novidade, de imprevisibilidade que a compreensão de um texto comporta”. Sabemos que a leitura propicia familiaridade com os diversos gêneros e facilita na escrita. Entretanto, gostaríamos de esclarecer que não estamos afirmando que apenas o contato com o texto, ou a simplesmente a leitura, vai garantir a aprendizagem do gênero. Acreditamos que apenas ler não é suficiente para aprender a escrever determinado gênero, para que isso ocorra, é necessário um 102 investimento por parte do professor, propondo atividades que levem a reflexão sobre as características dos gêneros e suas finalidades, para tanto, é fundamental um planejamento mais efetivo do trabalho pedagógico. A professora Terzia também enfatiza a leitura como elemento fundamental, porém, vai mais além, evidenciando a importância de se refletir sobre o que se lê, ela descreve como faz a problematização depois da leitura. E: Bem, primeiro, eu acredito que precisa ter muita leitura antes da escrita. Porque ele vai ter o contato com aquelas produções escritas então, tudo pra mim sempre partiu, a escrita da leitura, então, depois que ele leu e que vê toda aquela estrutura, como aconteceu e aí, agente vai falando, esse final aí, essa conclusão, foi o que ? Em que deu essa historia? Mas vocês já leram algum livro que conta o final da historia antes da historia acontecer? Já leram alguma noticia assim no jornal? Porque agente trabalha, a questão do jornal, a história em quadrinho, tirinhas, né? (...) Mas, para eles ter contato com essa historia em quadrinho precisaram ter contato com o texto, primeiro ler. Eu acredito que todo o desenvolvimento aí, está na ligação com o título e com as perguntas que ele vai fazer com aquele título. Porque aí, já é um bom caminho com as respostas das perguntas sobre o titulo, ele já conseguiria desenvolver. É uma coisa que eu também faço com eles: quais perguntas a gente pode fazer sobre esse tema? (...) Essa questão do conhecimento prévio e a questão da própria estrutura do texto, não é? Ele ter essa apropriação, que é pra poder ele ter a coesão e a coerência. (Terzia)”. Dos depoimentos sobre leitura, a professora Terzia foi a única que elencou a questão do gênero textual, citou vários: história, tirinha, história em quadrinho, notícia. Fala na apropriação da estrutura através do contato com o gênero, explicando como problematiza a leitura, fazendo a ligação do tema e do título, instigando a compreensão do texto através de perguntas elaboradas pelos próprios alunos. Portanto, no relato da professora Terzia, observamos que ela enfatiza a leitura, mas que também compreende que apenas a leitura não é o bastante para que os alunos se apropriem de determinado gênero descrevendo como costuma fazer essa reflexão. As concepções apresentadas pela professora Terzia parecem 103 se aproximar mais da proposta que defendemos, como já evidenciamos em outros momentos nesse trabalho. Os dados apontam que, tanto no discurso, como na prática, as docentes evidenciaram aspectos diferentes, mesmo ensinando na mesma rede, tendo a mesma orientação curricular e atuando na mesma série; as docentes focam o olhar em aspectos diferentes na avaliação dos textos e na categorização do que vem a ser um bom texto, parece que as concepções teóricas são fator determinante na prática e na avaliação, e que é essa perspectiva que vai direcionar o trabalho com a língua. 3.7 As professoras têm dificuldade para avaliar? Questionamos as professoras se elas têm alguma dificuldade para avaliar os textos produzidos pelos alunos e quais seriam essas dificuldades. Das cinco professoras, quatro responderam que sim, encontram algum tipo de dificuldade para avaliar: E: Sim. No momento que eu tenho dificuldade de passar (ensinar) eu tenho dificuldade de cobrar (Edina) E: Sim, quando eles não escrevem com uma letra ilegível. E também, às vezes eu tenho muito a questão assim, tem sempre um norte pra você corrigir, mas tem vezes que eles conseguem escapar, às vezes ele começa com uma incoerência você acha que o texto todo tá incoerente, mas você vai lendo, aí já volta de novo, então, muitas vezes eu fico com um coração mole, pra que o texto sempre esteja bom, e eu não seja tão carrasca. Na correção e eu tenho que me colocar que, eu tenho que avaliar eles, porque no próximo ano eles vão ser 5ª serie, e não vai ter um professor que vai passar a mão. Então, eu me perco nessa questão de sempre usar as mesmas ferramentas, os mesmos parâmetros de correção pra todos. (Osana) Edina explicitou que sente dificuldades não apenas na avaliação e no ensino. O depoimento da professora Osana foi mais categórico, por isso, vamos comentá-lo mais detalhadamente. A docente aborda várias questões: primeiro, ela destaca a letra ilegível, depois aponta a coerência textual, percebendo que os textos não são totalmente incoerentes, aborda também a questão de ser justa e fazer uma avaliação imparcial, de usar os mesmos parâmetros para 104 todos, mas ao mesmo tempo, fala do medo de ser considerada “carrasca”, e a dúvida em promovê-los para o sexto ano (antiga 5ª série). É bastante comum essa preocupação dos professores que ensinam o quinto ano (antiga 4ª série), por saberem que a dinâmica de ensino a partir do sexto ano é diferente, na escola pública, até o quinto ano, o professor é “polivalente”, ou seja, ensina todas as disciplinas, por isso tem uma visão geral do aluno e tem aquele acompanhamento, mais de perto, a partir do 6ª ano é um professor para cada matéria, esse fato, faz diferença para a professora e pesa em sua avaliação. Observamos que no relato da professora Osana, são muitas as angústias sobre avaliação, que vão desde a legibilidade do texto à preocupação com o ano seguinte (no caso, 6º ano), de como o próximo professor vai trabalhar com esses alunos. Já a professora Vera ao falar de seus saberes práticos e teóricos quando questionada sobre as dificuldades para avaliar, respondeu o seguinte: E: Tenho, eu ainda preciso me aprimorar nessa técnica. Você tem que ter uma técnica, fazer um estudo para corrigir os textos dos alunos. Eu não tenho ainda, mas já eu estou começando a adquirir. (Vera) Sobre esse depoimento, acreditamos ser relevante relembrar essa variável, conforme já explicitamos na metodologia, a professora Vera ensina na mesma escola em que a pesquisadora desempenha a função de coordenadora pedagógica25. Realizamos enquanto coordenadora uma formação continuada sobre avaliação do texto escrito em que a referida docente participou. Acreditamos que os conteúdos trabalhados na formação continuada e o pensar sobre as questões da entrevista, levaram a professora Vera a refletir sobre sua prática e a perceber que precisa se apropriar de novos conhecimentos para melhorar sua forma de avaliar os textos. O mesmo aconteceu com a professora Edina, que também expressou, em outro momento da entrevista, que participar da pesquisa foi uma oportunidade de reflexão sobre a prática, ao responder o porquê aceitou participar da pesquisa ela disse o seguinte: 25 Realizamos a primeira parte da entrevista com professora Vera e não deu tempo de completar a entrevista toda no mesmo dia, então deixamos para terminar depois. Na semana seguinte, fizemos uma formação continuada em serviço. Dias depois, fizemos a segunda parte da entrevista. Acreditamos que a afirmação de que “precisa aprimorar as técnicas de correção”, se deu devido ao estudo que foi feito na formação. O tema específico da formação foi como avaliar o texto escrito, baseado nas pesquisas de Serafini(1987) e Ruiz (2001). 105 E: Em algum momento eu fiquei assim, eu não estudei, eu devia ter me preparado. Eu espero ter contribuído para enriquecer o seu trabalho, porque com certeza o meu trabalho já foi enriquecido, algumas perguntas que você fez, me deu alguns toques que serviram para eu repensar a minha prática. (Edina) Supomos que o mesmo ocorreu com a professora Vera, que tanto as questões da entrevista, quanto nas informações obtidas na formação continuada causaram questionamentos na compreensão de avaliação, desconstruiu alguns conceitos e construiu outros. Retomando a discussão sobre as dificuldades das professoras para avaliar. A professora Jessica, também afirmou em seu relato que, sim, encontra dificuldades: E: Sim. Medir a capacidade de conhecimentos da pessoa através de média ou conceito não é fácil. P: O sistema de registro de avaliação da rede estadual não mais média ou conceito é parecer descritivo. Você também sente dificuldades em elaborar um parecer sobre a aprendizagem dos alunos? E: Sim. É complicado elaborar um parecer do que a pessoa sabe. Nesse depoimento, vemos que inicialmente a docente se refere à dificuldade de medir o conhecimento através de média ou conceito, porém, quando é questionada pela pesquisadora sobre a sistemática de avaliação da rede estadual, também alegou que é complicado elaborar um parecer sobre a aprendizagem dos alunos. Na rede estadual de Pernambuco, no ensino fundamental I (1º ao 5º ano), o registro das avaliações ocorre por meio de parecer descritivo e não de nota ou conceito. Desde a implantação do sistema de ciclo em substituição ao sistema seriado, que o registro das avaliações é feito por meio de parecer descritivo das aprendizagens de acordo Instrução Normativa nº 04/200826. Esse relato da professora Jessica indica que, tanto na avaliação quantitativa, que o professor atribui uma nota ou conceito no final da avaliação, quanto numa abordagem qualitativa, a qual é a orientação da rede estadual, a professora admite 26 “II‐ nos Ciclos/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a avaliação das aprendizagens do (a) estudante será realizada através de instrumentos diversificados e registrada sob a forma de Parecer Descritivo da trajetória do estudante, de acordo com o disposto no Art. 4º, incisos de I a V da Instrução Normativa nº 01/2006 que orienta procedimentos para reorganização do ensino em Ciclos no Sistema Educacional.” Instrução Normativa nº 04/2008. 106 que encontra dificuldades nos dois tipos de avaliação. Sobre esse aspecto, podemos comentar que, apesar do ciclo exigir uma nova postura perante a avaliação, muitos docentes ainda mantêm a mesma forma de pensar e agir sobre os processos de ensino e de aprendizagem, o que nos reitera a questão de que não basta mudar as nomenclaturas nem a realização de atos mecanizados. A avaliação no ciclo pressupõe um novo paradigma na educação sob a ótica de um desdobramento na organização do ensino. A avaliação e o ensino se constituem em eixos de reflexões e de novas propostas. É preciso, no entanto, mudar a forma de pensar, passar a pensar criticamente sobre o processo de ensino, o que mais uma vez nos reporta à importância de uma formação continuada para os docentes, pois é por meio dela que o professor pode se apropriar das novas teorias para subsidiar a prática. A professora Terzia, foi à única que firmou não encontrar dificuldades para avaliar: E: Não, quando estabeleço meus critérios não encontro dificuldades. (Terzia) Em seu depoimento a professora faz referência ao estabelecimento de critérios, que quando define tais critérios não encontra dificuldades no processo avaliativo. Continuamos indagando as professoras acerca de suas concepções sobre avaliação com a seguinte questão: Para você o que é avaliar? Nesses relatos identificamos diversas concepções de avaliação. Para facilitar a análise, agrupamos os depoimentos considerando a semelhança entre eles, as professoras Osana, Vera e Jessica têm opiniões diferentes, porém a palavra difícil está presente nos três relatos: E: É tão difícil, você cai em contradição o tempo todo. Na maioria das vezes você não sabe que norte você está indo. Você não sabe se avalia pelo quantitativo ou pelo qualitativo; se você vai pela questão das notas, o problema que o aluno esta vivenciando, se você aposta nele e dá uma chance de novo, é complicado. (Osana) A professora Osana foi bastante audaz em seu depoimento, ao assumir suas dificuldades, ela elenca muitas incertezas em relação avaliação, expressando sua dificuldade em conceituá-la, admitindo insegurança quando afirma que “na maioria das vezes não sabe que norte seguir.” A dúvida entre avaliação quantitativa /somativa ou qualitativa/ formativa; se investe no aluno e dá uma nova chance, isto 107 é, como tratar o erro. São muitas as angústias dessa professora em relação à avaliação e confirmamos essas dúvidas na materialidade da correção/avaliação dos textos que nos foram fornecidos pela docente. Já professora Vera, foi bem sucinta em sua declaração, e também falou que é difícil, definindo avaliação como “testar o conhecimento”. E: É difícil, viu? É testar o conhecimento. (Vera) No relato da professora Jessica, parece que ela tem a compreensão da avaliação como processo, quando se refere a conhecer o aluno dia-a-dia e não somente no momento da prova, indicando traços da avaliação formativa. E: É conhecer o aluno no dia-a-dia, não somente no momento da prova, a avaliação é continua. É a parte mais difícil. Aprendi no magistério com uma professora a corrigir sem observar o nome do aluno para não cometer injustiça. (Jessica) Mas, também afirma que é a parte mais difícil, como vimos em seu relato sobre as dificuldades para avaliar. Em seu depoimento expressa ainda, a preocupação com a questão da imparcialidade do professor na avaliação, e explica que no magistério aprendeu com uma professora, a corrigir sem observar o nome do aluno, ou seja, no momento da correção, tem a preocupação em ser justa, procura observar apenas o desempenho do aluno sem considerar as preferências pessoais, preocupação demonstrada também pela professora Osana quando se refere às dificuldades em avaliar, em usar os mesmos parâmetros para todos. Os depoimentos das professoras Edina e Terzia se assemelham porque ambas fazem referência ao planejamento, uma fala dos critérios e a outra dos objetivos, vejamos o que dizem: E: Avaliar é você medir aquilo que você ensinou ate que ponto o aluno aprendeu. Diante dos critérios que você formulou, vê o que ele aprendeu. (Edina) E: É o momento de observar o desempenho do aluno e o meu, analisando os objetivos que foram alcançados ou não. (Terzia) Edina diz que avaliar é “medir” e fez a ligação dos critérios estabelecidos no planejamento. Já a professora Terzia, fez a ligação da avaliação com os objetivos, se foram alcançados ou não. No entanto, foi à única das cinco docentes, que se coloca no processo avaliativo, ela diz que avaliar é observar o desempenho do aluno e o dela enquanto professora, demonstrando a consciência de que compreende que 108 na avaliação está em jogo, não apenas o desempenho do aluno, mais também, o do professor. Nesse sentido concordamos com Teixeira e Nunes (2008) quando afirmam que Cabe, mais do que nunca, ressaltar aqui que, quando o professor avalia, não avalia somente o aluno e os processos de ensino e de aprendizagem, mas, sobretudo avalia a si próprio e o trabalho que desenvolve. Como também, o aluno que é avaliado não passa por esse processo de forma passiva, avalia de modo intermitente o professor e as atividades desenvolvidas, mesmo que isso ocorra inconscientemente, o que se torna algo valioso, se feito de maneira consciente... (p. 90) Consideramos a interpretação do ato de avaliar da professora Terzia como algo valioso, porque demonstra a consciência de que o professor é co-responsável pelo sucesso ou fracasso da aprendizagem. Acrescentamos ainda, que a avaliação também é um momento de aprendizagem para o aluno, e se no final de um período de ensino, os objetivos não foram alcançados é o momento de traçar novas estratégias de ensino para que se alcance a aprendizagem desejada. Todos esses relatos sobre o que é avaliar apontam várias concepções de avaliação, das cinco entrevistadas, três consideram avaliar uma tarefa difícil. A professora Vera afirmou que avaliar é testar, Edina disse que é medir, podemos então, enquadrar avaliação da aprendizagem, em um contexto paradoxal: o de medir e outro de se sobrepor a esta perspectiva, de encarar a avaliação como processo contínuo. Sobre essa dicotomia Teixeira e Nunes (2008) dizem que A avaliação adquire um aspecto (caráter) dicotômico, sabendo-se que, apesar de estar ligada às atividades de exame, que englobam o medir, o corrigir e o qualificar, não pode ser reduzida e confundida com elas, pois não começam nem terminam em si mesmas. O ato avaliativo para progredir na trajetória escolar precisa romper com a ideia de linearidade. E, além disto, deixar de ser ato fracionado, que se realiza em determinado momento e se esquece em outro. A avaliação não é uma ação estanque, que ocorre somente em determinado momento e desconsidera a aprendizagem em outro. Tal condicionamento empobrece consideravelmente o leque de possibilidades das atividades praticáveis em sala de aula. (TEIXEIRA & NUNES, 2008, pp. 87 e 88) As autoras defendem que o ato avaliativo para progredir na trajetória escolar precisa romper com a ideia de linearidade. Sobre essa ideia Suassuna (2006), baseada na teoria sóciointeracionista de Mikhail Bakhtin, defende que para ultrapassar ideia de linearidade na avaliação, é necessário que esta funcione como um mecanismo efetivo de ampliação e garantia da aprendizagem, é preciso também que na prática de ensino-aprendizagem ela seja concebida como discurso/ interação. A autora propõe que se adote uma concepção ampliada de avaliação e afirma que seria benéfica em dois níveis: 109 institucional – na medida em que ela funciona como indutora de políticas educacionais, visando a melhoria da qualidade de ensino, à garantia da aprendizagem e à socialização do trabalho escolar; epistemológico - na medida em que propicia uma nova abordagem do erro: ao invés de considerá-lo como uma produção linguística diferente da estabelecida nas gramáticas normativas, ou mesmo como índice de fracasso do ensino e da aprendizagem da leitura/escrita, deve-se entende-lo como uma produção linguística resultante da relação do usuário com a situação de discurso e do seu nível de conhecimento da língua, gerado pelas situações de ensino e manifestado na forma de um conjunto de hipóteses (que podem ser inadequadas, incompletas, provisórias...) (SUASSUNA 2006 p. 209). Concordamos com a autora, ao afirmar que ampliar a concepção de avaliação concebendo-a como interação é o caminho mais favorável para se ultrapassar a linearidade e consolidar uma prática avaliativa significativa, tanto a nível institucional, impulsionando as políticas educacionais, através da promoção de formações em serviço, como a nível epistemológico, contribuindo para que a mudança aconteça na escola nas práticas avaliativas dos docentes e que resultem na melhoria do ensino e da aprendizagem da língua materna. CONSIDERAÇÕES FINAIS 111 Neste trabalho, buscamos analisar as práticas avaliativas de docentes do ensino fundamental. Partimos do pressuposto de que as concepções das professoras refletem e retratam a prática da produção textual no espaço escolar. Nesse sentido, o primeiro aspecto observado nos resultados das análises, refere-se à resistência ao termo “ensino”, que todas as professoras participantes da pesquisa demonstraram quando responderam se produzir texto é algo que pode ser ensinado. As docentes sentiram-se mais seguras em usar a terminologia “orientar”. Verificamos que a noção de dom parece perpassar o ensino da escrita. Tais concepções demonstradas pelas professoras se refletem no ensino e na avaliação da escrita, vimos materializada nas condições de produção textual arraigada à perspectiva da redação escolarizada. Outro aspecto importante a ser considerado na avaliação refere-se a correção, a análise dos textos possibilitou traçar não apenas uma descrição da maneira de corrigir os textos das professoras, mas foi possível perceber que não é indiferente a forma como se dá essa intervenção, ou seja, verificamos que a natureza do trabalho docente demonstrou ter relação direta com as concepções que as docentes adotam. Constatamos que na maioria das vezes, as estratégias de correção não contribuem para a melhoria do texto do aluno. As professoras realizam uma avaliação monológica da qual o aluno não participa efetivamente, não há uma atitude de diálogo, nas observações deixadas pelas mestras nos textos corrigidos, logo fica evidente que a avaliação não tem um caráter interativo e dialógico, como defendemos neste estudo. Analisamos também como o erro é concebido pelas docentes na correção, em alguns casos a oportunidade de refazer o texto é negado aos alunos. Averiguamos que os erros são apenas identificados, mas não são objeto de reflexão, nem por parte das professoras, nem por parte dos alunos. Entendemos que se os aprendizes não têm a oportunidade de refazerem suas produções, o erro não é analisado sob seu aspecto positivo, que diz respeito ao diagnóstico do que o aluno sabe ou nao sabe. Defendemos que a correção e avaliação dos textos pelos docentes deve possibilitar oportunidades de aprendizagem aos educandos, ou seja, os erros devem ser aproveitados para entender a lógica do aluno e oportunizar novas aprendizagens. Quanto aos critérios definidos pelas mestras para avaliar os textos, nas marcas deixadas nas correções, as docentes destacaram valores que consideram 112 relevantes na construção textual, observamos que a maioria das delas percebem com maior facilidade aspectos presentes na superfície textual do que aspectos mais globais do funcionamento do texto. Evidenciando uma concepçao de língua que privilegia o ensino de regras gramaticais e ortográficas, aproximando-se de uma abordagem de linguagem, em que a língua é concebida como um sistema de normas. Observamos ainda, que nem sempre os critérios de avaliação são explicitados aos alunos, as mestras em suas práticas, não costumam negociar as categorias que são objeto de avaliação na produção textual. Em relação aos conhecimentos necessários para produzir bons textos, foram citados pelas professoras diversos aspectos: ortografia, organização, coerência, lógica, mas a maioria das entrevistadas citou a leitura como fundamental para desenvolver essa habilidade, evidenciando a crença de que se o aluno for um bom leitor será um bom escritor. Tanto no discurso, como na prática, as docentes citaram aspectos diferentes, mesmo ensinando na mesma rede, tendo a mesma orientação curricular, todas com formação no ensino superior e atuando no mesmo ano do Ensino Fundamental; as mestras focam o olhar em aspectos diferentes na avaliação dos textos e na categorização do que vem a ser um bom texto. Parece que as concepções são o fator determinante na prática e na avaliação, e que é essa perspectiva que vai direcionar o trabalho com a língua Percebemos que há a necessidade de se mudar a concepção de linguagem que rege o ensino e, consequentemente, a prática de avaliação dos textos. Acreditamos que o caminho mais lógico para se converter a novas concepções seria a apropriação por parte dos professores dos estudos mais recentes do ensino da linguagem, sobretudo aqueles advindos de áreas específicas, como a Linguística textual, Sociolinguística e Análise do discurso. Neste estudo vimos que as docentes que avançaram na perspectiva de propor textos com uma finalidade; que funcionam e circulam socialmente; e que avaliam o texto de uma forma mais interativa, considerando aspectos referentes à textualidade na avaliação, demonstram ter concepções diferenciadas de escrita, de língua e de avaliação, parece-nos que esse aspecto faz toda diferença na prática docente. Vale ressaltar ainda, que a prática avaliativa da produção textual parece constituir um terreno difícil de ser trilhado pelas professoras. Na análise dos resultados, vimos que as educadoras sabem muitas coisas sobre avaliação, mas 113 que a maioria reconhece que encontra dificuldades de cunho teórico, prático e metodológico para avaliar. Percebemos que existe ainda uma distância entre o saber teórico acadêmico e a elaboração didática da sala de aula; distância esta que precisa ser posta em discussão na formação inicial ou acadêmica e na escola, na formação continuada. Para que haja compreensão das novas concepções (que afinal, não são tão novas assim!), entendemos que esse processo leva um tempo, para que essas teorias sejam discutidas e compreendias. Porém não simplesmente “um tempo” precisa principalmente, que esse tempo seja dedicado ao processo de reflexão coletiva na escola, para que os professores possam construir caminhos que lhes pareçam coerentes para desenvolver uma nova prática e de forma mais consciente. Se há algo importante para o contexto escolar que essa pesquisa pode ressaltar, ou seja, a relevância educacional que este estudo trouxe, ao explicitar as concepções e as práticas dos docentes, diz respeito à necessidade dos professores repensarem sua prática avaliativa em relação ao texto, tomando por base uma postura discursiva de linguagem que, dê condições para se reflita sobre os conceitos de língua, escrita, e avaliação. Entendemos que esta pesquisa respondeu a uma questão principal: que as concepções podem determinar a prática. Nos cinco estudos de caso abordados, as concepções das professoras explicitadas na correção ou na entrevista, possibilitaram a compreensão do que estava implícito na prática avaliativa. Todavia, uma outra questão vem à tona, ao constatar que as correções não propiciam uma interação entre professor e aluno, para futuras pesquisas seria interessante abordar o outro lado da moeda: os alunos. Investigar como ficam as produções das crianças, reescritas a partir das correções realizadas pelos professores, considerando outro campo de estudo muito relacionado ao tema deste trabalho que é a revisão textual. Esse estudo não pretendeu esgotar o tema, ao contrário, esperamos que este, sirva para suscitar novos estudos que supram as lacunas existentes na avaliação da produção textual, principalmente no que diz respeito à interação professor e aluno na avaliação do texto escrito e nos encaminhamentos de sua reescrita, pois acreditamos que essa perspectiva pode promover a melhoria da qualidade do ensino da língua materna. REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, A. J; GEWANDSZNAJDER, F. O método das ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1998. ANTUNES, I. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 4. ed. Trad. de M. Lahud e Y.W. Pereira. São Paulo: Hucitec, 1988. _________. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1994. BRITTO, L. P. L. A redação: essa cadela. In: Leitura – teoria e prática, ano 9, no 15,jun., 1990, p. 17-21.1990. BRITTO, L. P. L. A sombra do caos: ensino de língua x tradição gramatical. Campinas: SP: Mercado de Letras, ALB, 2002. CHEVALLARD, Y. La Transposición Didáctica: del saber sabio al saber enseñado. Argentina: La Pensée Sauvage 1991. EVANGELISTA, A. A. M. et al. Professor-leitor - aluno-autor: reflexões sobre avaliação do texto escolar. Cadernos CEALE, v. 3, ano II, out. 1998. Ferreira, A. T. B. &. MORAIS, A. G. Avaliação do texto escrito: uma questão de concepção de ensino-aprendizagem. In: Org. LEAL, T. F. & BRANDÂO, A. C. P. Produção de texto na escola: reflexões e práticas no Ensino Fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. FIAD, R. S. ; MAYRINK-SABINSON, M. L. T. A escrita como trabalho. Em: MARTINS M. H. (Org.). Questões de linguagem. 4. ed. São Paulo: Contexto, 1994. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. ________FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. – Rio de Janeiro: Paz e terra, 2006 GERALDI, J. W. O texto na sala de aula. 2.ed. Cascavel: Assoeste, 1984. ________ Da redação à produção de textos. Em: CHIAPPINI, L. (coord. geral). Aprender e ensinar com textos. São Paulo: Cortez, 1997. ________. Escrita, uso da escrita e avaliação. In: GERALDI, J. W. (org.). O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997. ________. Linguagem e ensino – exercícios de militância e divulgação. Campinas: ALB/Mercado de Letras, 1996. ________. O professor como leitor do texto do aluno. Em: MARTINS, M. H. (org.). Questões de linguagem. São Paulo: Contexto, 1991. ________. Portos de passagem. 3. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1995. GUIX, X. Comunique-se melhor: fale em público sem perder a calma. São Paulo: Ciranda Cultural, 2008. Instrução Normativa nº 04/2008. http://www.educacao.pe.gov.br/diretorio/instnormfinal.pdf Acesso em 29/07/2009 KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2003. LEAL, T. F.; GUIMARÃES, G. L. Analisando algumas relações entre produção e avaliação de textos por professores das series iniciais. Anais da anped.org.br. 1999. Disponível em:http://www.anped.org.br/reunioes/24/T1065118597184.doc Acesso em: 23 jul. 2008. LEAL, T. F.; GUIMARÃES, G. L.Como as professoras avaliam os textos narrativos das crianças? R. Bras. Est. pedag., Brasília, v. 80, n. 195, p. 262-276, maio/ago. 1999. LEAL. T. F. Intencionalidades da avaliação na língua portuguesa. Em: SILVA, J. F.; HOFFMAN, J. e ESTEBAN, M. T. (orgs.) Práticas avaliativas aprendizagens significativas em diferentes áreas do currículo. Porto Alegre: Mediação, 2003. LINS e SILVA, M. E. O desenvolvimento da escrita de histórias. Recife: UFPE, Dissertação de Mestrado. 1994. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 2005. LUNA, S. V. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 1996. MARCUSCHI, L. A. Aspectos da questão metodológica na análise verbal: o continuum qualitativo-quantitativo. Revista da Aled. 2001. MARCUSCHI, B. As categorias de avaliação textual no discurso do professor. Recife, UFPE, 2004. Tese de doutorado. ________. Avaliação da língua materna: concepções e práticas. Revista de Letras, v. 1/2, nº 26, jan./dez., Fortaleza: UFC. ________. Avaliação da língua portuguesa: pressupostos básicos. Em: MARCUSCHI, E. (org.) Formação do educador, avaliação e currículo. Recife: Editora da UFPE, 1999. ________. Avaliação em língua portuguesa: contribuições para a prática pedagógica. In: O texto escolar: um olhar sobre sua avaliação. B. Marcuschi e Suassuna, L. (orgs.). Belo Horizonte: Autêntica, 2006. MARINHO, J. H. C. A produção de textos escritos. In: DELL‟ISOLA. R. L. e MENDES, E. A. (orgs.). Reflexões sobre a língua portuguesa – ensino e pesquisa. Campinas: Pontes, 1997. MENDONÇA, M. (org.) Diversidade Textual. Recife: MEC e UFPE/CEEL, 2008. NOGUEIRA, M. A.; NOGUEIRA, C. M. Bourdieu e a Educação 2. Ed. – Belo Horizonte: Autêntica, 2006. RIBEIRO. M. R. Glossário de Jornalismo. www.o globo.com.br. data de acesso 25/03/2010 RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo: Ed. Atlas. 1999. RUIZ, E. M. S. D. Como se corrige redação na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2001. SANTOS, C. F. O professor e a escrita entre práticas e representações. Tese de doutorado. Campinas: 2004. SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado das Letras 2004. SERCUNDES, M. M. I. Ensinando a escrever. In: GERALDI, J.W.; CITELLI, B. (Org.) Aprender e ensinar com textos dos alunos. Vol. 1. São Paulo: Cortez, 1997. SERAFINI, M. T. Como escrever textos. Trad. de Maria Augusta Bastos de Mattos Rio de Janeiro: Globo, 1987. SILVA, A. A. Trabalhando a produção de Histórias com crianças da terceira série. UFPE, Monografia, UFPE 1996. SILVA, J. F. Avaliação do ensino e da aprendizagem numa perspectiva formativa reguladora. Em: SILVA, J. F.; HOFFMAN, J. e ESTEBAN, M. T. (orgs.) Práticas avaliativas aprendizagens significativas em diferentes áreas do Conhecimento. 2006 SILVA, J. F. Avaliação Formativa Reguladora Intencionalidade, Características e Princípios. Em CARVALHO, M. H. C. Avaliação da Aprendizagem: da Regulação à Emancipação – Fundamentos e Práticas. Recife: Bagaço, 2006. SILVA, M. A. S. A utilização do conceito de habitus em Pierre Bourdieu para a compreensão da formação docente. Revista Extra-Classe • N1 - V2 • Agosto 2008. SOARES, M. B. Alfabetização e letramento, 5. Ed. São Paulo: Contexto, 2007. SPINILLO, A. Era uma vez... e foram felizes para sempre: esquema narrativo e variações experimentais, temas em Psicologia nº 1, 1993. SUASSUNA, L. Ensaios de Pedagogia da Língua Portuguesa. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2006. TEIXEIRA J.; NUNES L. Avaliação escolar: da teoria à prática. Rio de Janeiro: Wak, 2008. TRAVAGLIA, L.C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 2. ed. São Paulo: Cortez,1997. VAL, M. G. C. & Outros. Avaliação do texto escolar: Professor-leitor/Aluno-autor. Belo Horizonte: Autentica, 2009. VAL, M. G. C. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994. APÊNDICE ENTREVISTA Dados Pessoais 1. Nome completo: 2. Idade: 3. Tempo de experiência no magistério: 4. Ocupa outra função além de professor(a)? 5. Formação: Ensino fundamental: ano de conclusão: Instituição: Ensino médio: ano de conclusão: Instituição: Ensino Superior: ano de conclusão : Curso: Instituição: Pós-Graduação: ano de conclusão : Curso: Instituição: 6. Grau de instrução dos pais: 7. Profissão do pai: / Profissão da mãe: Concepções de linguagem e avaliação Escrita e Ensino 1. Que tipos de atividades de escrita você realiza em sala de aula? 2. Com que freqüência você realiza produção textual em sua turma? 3. Você acha que produzir texto é algo que pode ser ensinado? 4. O que deve ser ensinado para a produção de bons textos? 5. O que você considera um bom texto? O aluno, a escrita e reescrita 6. O que o aluno deve aprender para ser um bom produtor de textos? 7. Quais as dificuldades mais freqüentes apresentadas pelos alunos na produção escrita? 8. Por que você acha, que os alunos têm tais dificuldades? 9. O que deve ser feito, na sua opinião, para sanar essas dificuldades? 10. Quais os erros mais comuns cometidos pelos alunos na escrita de textos? 11. Depois que a produção textual é corrigida por você (ou coletivamente), o que é feito com o texto? 12. Você propõe a reescrita do texto? Como é feita essa reescrita? Escrita e avaliação 13. Como você avalia as produções dos alunos: individual, coletiva em dupla outra forma? 14. Você acha que é preciso definir critérios para avaliar os textos produzidos pelos alunos? 15. Quais os critérios que você utiliza para avaliar os textos dos alunos? 16. Você expõe aos alunos os critérios de avaliação antes da atividade de produção textual? 17. Você tem alguma dificuldade para avaliar os textos produzidos pelos alunos? Qual(is)? 18. Para você o que é avaliar?