Escola Nacional de Saúde Pública 6º CURSO DE MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA O FAMILIAR CUIDADOR EM AMBIENTE DOMICILIÁRIO: Sobrecarga física, emocional e social Dissertação apresentada para obtenção do grau de mestre Paulo Alexandre Santos Orientação Científica: Sr. Prof. Dr. Francisco Ramos LISBOA Janeiro de 2005 O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário Dissertação elaborada para a obtenção do grau de mestre em Saúde pública, a ser apresentada na Escola Nacional de Saúde Pública/Universidade Nova de Lisboa, ao abrigo do regulamento nº 179 de 2000 de 4 de Agosto Paulo Alexandre Lopes dos Santos II O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário DEDICATÓRIA Dedico este meu trabalho à minha Esposa e aos meus dois Filhos pelo incentivo que me deram nos momentos de maior tensão e por vezes de desânimo; pela compreensão que demonstraram nas alturas em que apesar de necessário, não estive presente; e pelo apoio incondicional, tantas vezes necessária ao longo deste percurso. Paulo Alexandre Lopes dos Santos III O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário AGRADECIMENTOS Para a elaboração deste trabalho contei com o apoio e amizade de várias pessoas, às quais gostaria de expressar o meu agradecimento. o Ao Professor Doutor Francisco Ramos. o À Professora Teresa Martins, pela disponibilidade demonstrada ao longo deste percurso. o À Enfermeira Isabel Morais, Enfermeira chefe do Centro de Saúde de Mafra, pelo apoio e incentivo para a realização deste trabalho. o À Sra. Coordenadora da Sub-Região de Saúde Lisboa, Dra. Sílvia Graça. o A todos os Enfermeiros dos Centros de Saúde da Unidade F, pela forma como se disponibilizaram a colaborar neste trabalho. o A todos os Directores dos Centros de Saúde da Unidade F, por permitirem o acesso ao espaço da investigação. o Aos Familiares Cuidadores que aceitaram participar neste trabalho, porque sem eles não seria possível a realização deste estudo. o A todos estes e a outros que talvez de forma mais discreta me ajudaram, o meu OBRIGADO Paulo Alexandre Lopes dos Santos IV O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário O mundo espectáculo, só admira porque o sacrifício ignora o valor com do sacrifício escondido e silencioso (…) Josemaria Escrivá Paulo Alexandre Lopes dos Santos V O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário CHAVE DE ABREVIATURAS cf. – confronte pg. – página f. – folha % - percentagem CHAVE DE SIGLAS C.S. – Centro de Saúde DCID – Doença Crónica Incapacitante e Dependente FC – Familiar(es) Cuidador(es) GEFC – Grupo Etário do Familiar Cuidador NEFC – Nível de Escolaridade do Familiar Cuidador QASCI – Questionário de Avaliação da Sobrecarga do Cuidador Informal K-S – Kolmogorov-Smimov Paulo Alexandre Lopes dos Santos VI O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário RESUMO A avaliação da sobrecarga física, emocional e social dos familiares cuidadores a utentes com doença crónica incapacitante e dependentes, que se encontram em ambiente domiciliário, é o pressuposto para o desenvolvimento deste trabalho de investigação. A razão para o início deste processo, resulta da problemática do envelhecimento e longevidade da população Portuguesa, onde os doentes crónicos e dependentes têm vindo a adquirir uma importância crescente no sistema de saúde e de protecção social. Para minimizar este problema, as famílias são hoje cada vez mais solicitadas a desempenhar o papel de prestadoras dos cuidados. Para a concretização deste estudo foram definidos os seguintes objectivos: • Avaliar a sobrecarga física, emocional e social das famílias cuidadoras de utentes com doença crónica incapacitante e dependentes inseridas nas Unidades Móveis Domiciliárias da Rede de Cuidados Continuados dos Centros de Saúde da unidade F da Sub-Região de Lisboa. • Identificar se as características sócio demográficas dos familiares cuidadores, o nível e tempo de dependência dos utentes com doença crónica incapacitante e dependentes e a existência de suporte social de apoio, têm efeito modulador sobre a sobrecarga física, emocional e social do familiar cuidador. Trata-se de um estudo quantitativo correlacional, observacional e transversal. Através de uma amostra aleatória de 96 utentes com doença crónica incapacitante e dependentes, inseridos nas Unidades Móveis Domiciliárias da Rede de Cuidados Continuados, resultou a unidade de investigação constituída por 86 familiares cuidadores. A maioria dos participantes são do sexo feminino, casadas; destas, a maior parte eram filhas do utente alvo de cuidados. Estes últimos eram essencialmente idosos com nível de dependência moderado ou severo. A estrutura deste relatório encontra-se dividido em 4 partes; parte I, onde é apresentado o problema da doença crónica incapacitante e dependente dentro do círculo familiar; na parte II estão descritas e fundamentadas as metodologias aplicadas; os dados recolhidos e a sua interpretação estão apresentados na parte III; a discussão, na parte IV, é composta por uma reflexão fundamentada; e por último, na parte v, está a conclusão. As principais conclusões deste estudo são: As Mulheres apresentam maior Sobrecarga Física, Emocional e Social, na globalidade, e maior Sobrecarga Emocional na especificidade. Os Homens têm maior Suporte Familiar e maior Satisfação com o Papel e com o Familiar. Os Familiares que têm a seu cargo Utentes com Doença Crónica Incapacitante mais novos, apresentam maior Sobrecarga Emocional. Os Cônjuges e os Reformados têm maior Sobrecarga Financeira. Os Familiares que são apoiados por uma Rede de Suporte Social Informal têm maior Suporte Familiar. Os Familiares que são apoiados por uma Rede de Suporte Social Formal e Informal têm menor Satisfação com o Papel e com o Familiar. Paulo Alexandre Lopes dos Santos VII O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário ABSTRACT The basis of this research is the assessment of the physical, emotional and social overload of families taking care of people suffering from chronic incapacitating illness and dependents, who are house-bound. The origins of this process go back to the ageing and longevity of the Portuguese population. In fact, chronic and dependent patients have been acquiring an increasing importance in both health and social protection systems. In order to minimize this problem, families are nowadays increasingly requested to play the role of carers. The following goals have been set for this research: • To assess the physical, emotional and social overload of families taking care of patients suffering from chronic incapacitating illness and dependents from the Health Centres at the F unit of Lisbon’s Sub-Region, who are benefiting from the Domiciliary Mobile Units provided by the Network of Continued Health Services. • To identify whether the socio-demographics characteristics of the family carers, the degree and time of dependence of the patients with chronic incapacitating illness and dependents, and the presence of social protection, have a modulating effect on the family carer’s physical, emotional and social overload. It’s a quantitative, correlational, observational and transversal study. Through a random sample of 96 patients suffering from chronic incapacitating illness and dependents who benefit from the Domiciliary Mobile Units provided by the Network of Continued Health Services, has resulted a research on 86 family carers. The majority of participants are married women; and most of them are the patients’ daughters. The patients are mostly elderly people with a moderate or high dependence level. this report is divided into 4 parts; part I, which discusses the problem of the patients suffering from chronic incapacitating illness and dependents, within the familiar environment; part II describes and justifies the applied methodologies; the collected data and its interpretation is presented in part III; the discussion, in part IV, is a thorough and grounded reflection; and lastly, the conclusion is in part V. The main conclusions of this research are: Globally, women present higher Physical, Emotional and Social overload, and, specifically, greater Emotional overload. Men have larger Familiar Support and greater Satisfaction with the role and with the relative. The familiar carers of younger patients suffering from Chronic Incapacitating Illness, show higher Emotional Overload. The Spouses and the Retired carers show higher Financial Overload. The familiar carers supported by an Informal Social Support Network have larger Familiar Support. The familiar carers supported by a Formal and Informal Social Support Network show less Satisfaction with both the role and the relative. Paulo Alexandre Lopes dos Santos VIII O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário ÍNDICE f. INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 16 I – DA PROBLEMÁTICA DA DOENÇA CRÓNICA INCAPACITANTE E DEPENDENTE AO PROBLEMA DA FAMÍLIA CUIDADORA. ............................... 21 1 – DOENÇA CRÓNICA INCAPACITANTE E DEPENDENTE ...............................21 1.1 – Reacções Psicológicas dos Pacientes às Doenças Crónicas ........................24 1.2 – Conceito de Dependência..............................................................................24 2 - A FAMILIA CUIDADORA E O DOENTE CRÓNICO E DEPENDENTE EM AMBIENTE DOMICILIÁRIO................................................................................26 2.1 - Alterações da Estrutura Familiar ao Longo dos Tempos ..............................29 2.2 - A Sobrecarga para o FC que Lida com o Utente com DCID ........................30 2.3 - A Adaptação Familiar à Doença Crónica Incapacitante e Dependente .......34 II – METODOLOGIA........................................................................................................................ 37 1 – TIPO DE ESTUDO .....................................................................................................38 2- POPULAÇÃO DE ESTUDO E AMOSTRA ..............................................................38 3- MODELO DE INVESTIGAÇÃO ...............................................................................41 4 – VARIÁVEIS ................................................................................................................43 4.1 – Variável Dependente .....................................................................................43 4.2 - Variáveis Independentes ................................................................................43 5 – HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO .........................................................................44 6 – CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO .........................................................44 7 – MATERIAL.................................................................................................................45 8 – PRÉ-TESTE ................................................................................................................45 9 – PROCEDIMENTO NA RECOLHA DE DADOS ....................................................46 Paulo Alexandre Lopes dos Santos IX O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário 10 – ASPECTOS ÉTICOS................................................................................................46 III – APRESENTAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS ................................ 48 IV – DISCUSSÃO ................................................................................................................................ 76 1 - CARACTERÍSTICAS SÓCIODEMOGRÁFICAS DO FC DO UTENTE COM DCID ..................................................................................................................................78 2 – SOBRECARGA FÍSICA, SOCIAL E EMOCIONAL DO FAMILIAR CUIDADOR – da dimensão do stresse à dimensão dos mediadores ...........................83 2.1 - Hipóteses de Investigação em Análise ...........................................................85 2.2 - Modelo de Investigação em Análise...............................................................89 V – CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 92 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................. 95 ANEXOS................................................................................................................................................ 102 ANEXO I - ESCALA DE AVALIAÇÃO DEPENDÊNCIA RÁPIDA E GLOBAL .........103 ANEXO II – AUTORIZAÇÃO DA SUB-REGIÃO DE LISBOA PARA APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO ................................................................................105 ANEXO III - AVALIACÃO DO IMPACTO FÍSICO, EMOCIONAL E SOCIAL DO PAPEL DO CUIDADOR INFORMAL .......................................................................108 ANEXO IV - QUESTIONÁRIO........................................................................................111 ANEXO V – DOCUMENTO DE EXPLICAÇÃO DO ESTUDO E CONSENTIMENTO ..........................................................................................................120 Paulo Alexandre Lopes dos Santos X O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário ÍNDICE DE QUADROS f. . Quadro 1 – Estrutura por idades de população residente (%), índices resumo, esperança de vida à nascença – Portugal 2000-2050 ..................................................... 28 Quadro 2 – Trajectória da Doença ....................................................................................... 34 Quadro 3 – População de Estudo e Amostra ....................................................................... 40 Quadro 4 – Modelo de Investigação...................................................................................... 42 Quadro 5 – Consistência Interna do QASCI ....................................................................... 62 Quadro 6 – Matriz de Correlações de Pearson - QASCI e as suas dimensões.................. 63 Quadro 7 – Modelo Teórico Explicativo .............................................................................. 91 Paulo Alexandre Lopes dos Santos XI O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário ÍNDICE DE TABELAS f. Tabela 1 – Distribuição da amostra por Centro de Saúde..................................................49 Tabela 2 – Distribuição da amostra por Sexo (frequência e %) ........................................49 Tabela 3 – Distribuição da amostra por Grupo Etário do FC (frequência) .....................49 Tabela 4 – Distribuição da amostra por Estado Civil do FC (frequência)........................50 Tabela 5 – Distribuição da amostra por Anos de Escolaridade do FC (frequência)........51 Tabela 6 – Distribuição da amostra por Actividade Profissional do FC (frequência) .....52 Tabela 7 – Distribuição da amostra por Grau de Parentesco e Sexo do FC (frequência e %) ........................................................................................................................53 Tabela 8 – Distribuição da amostra por Coabitação Conjunta (frequência)....................54 Tabela 9 – Distribuição da amostra por Grau de Parentesco do FC e Coabitação Conjunta com o Utente com DCID (frequência e %)........................................54 Tabela 10 – Distribuição da amostra por sexo do Utente com DCID (frequência e %) ..55 Tabela 11 – Distribuição da amostra por Grupo Etário do Utente com DCID (frequência) ...........................................................................................................55 Tabela 12 – Distribuição da amostra por Nível de Dependência (MDA) do Utente com DCID ......................................................................................................................56 Tabela 13 – Diferença em média face ao sexo do utente com DCID, por Nível de Dependência do utente com DCID ......................................................................57 Tabela 14 – Distribuição da amostra por Tempo de Dependência do Utente com DCID (frequência) ...........................................................................................................58 Paulo Alexandre Lopes dos Santos XII O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário Tabela 15 – Diferença em média face ao sexo do utente com DCID por Tempo de Dependência do utente com DCID ......................................................................59 Tabela 16 – Correlação de Spearman – Tempo Dependência do Utente com DCID; Grupo Etário do Utente com DCID; Nível de Dependência do utente com DCID ......................................................................................................................59 Tabela 16.1 – Diferença em média face ao Grau de Parentesco do FC por Grupo Etário do Utente com DCID ................................................................................60 Tabela 17 – Distribuição da amostra por Mediadores Extrínsecos (frequência) .............60 Tabela 18 – Teste de Normalidade K-S face ao Sexo do FC por QASCI e suas dimensões...............................................................................................................64 Tabela 19 – Diferença em média face ao Sexo do FC por QASCI e suas dimensões .......65 Tabela 20 – Diferença em média face Estado Civil do FC por QASCI e suas dimensões66 Tabela 21 – Diferenças em média face ao grau de parentesco do FC por QASCI e suas dimensões...............................................................................................................67 Tabela 22– Diferença em média face à Actividade Profissional do FC por QASCI e suas dimensões ......................................................................................................68 Tabela 23 - Matriz de Correlação de Pearson – QASCI e suas dimensões; GEFC;NEFC.........................................................................................................70 Tabela 23.1 - Coeficiente de Correlação Parcial - QASCI e suas dimensões; GEFC; NEFC .....................................................................................................................70 Tabela 23.2 - Coeficiente de Correlação Parcial QASCI e suas dimensões; GEFC.........71 Tabela 23.3 - Coeficiente de Correlação Parcial - QASCI e suas dimensões; NEFC......71 Tabela 24 – Diferença em média face ao Sexo do Utente com DCID por QASCI e suas dimensões...............................................................................................................72 Paulo Alexandre Lopes dos Santos XIII O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário Tabela 25 - Matriz de Correlação Pearson – QASCI e suas dimensões; Grupo Etário do Utente com DCID; Nível de Dependência do Utente com DCID; Tempo de Dependência do Utente com DCID ................................................................73 Tabela 26– Diferença em média face aos Mediadores Extrínsecos por QASCI e suas dimensões...............................................................................................................74 Paulo Alexandre Lopes dos Santos XIV O Familiar Cuidador em Ambiente Domiciliário ÍNDICE DE GRÁFICOS f. Gráfico 1 – Distribuição da amostra por Grupo Etário do FC (%) ....................................50 Gráfico 2 – Distribuição da amostra por Estado Civil do FC (%) ......................................50 Gráfico 3 – Distribuição da amostra por Anos de Escolaridade do FC (%).......................51 Gráfico 4 – Distribuição da amostra por Actividade Profissional do FC (%)....................52 Gráfico 5 – Distribuição da amostra por Grau de Parentesco do FC (%)..........................53 Gráfico 6 – Distribuição da amostra por Coabitação Conjunta (%) ..................................54 Gráfico 7 – Distribuição da amostra por Grupo Etário do Utente com DCID (%) ...........56 Gráfico 8 – Distribuição da amostra por Nível de Dependência do Utente com DCID (%) ................................................................................................................57 Gráfico 9 – Distribuição da amostra por Tempo de Dependência do Utente com DCID (%) ................................................................................................................58 Gráfico 10 – Distribuição da amostra por Mediadores Extrínsecos (%) ............................61 Paulo Alexandre Lopes dos Santos XV