Atividade de horta terapêutica no auxílio ao tratamento de pacientes portadores de sofrimento mental grave. Daniel Lima Silveira1; Tâmara Prado de Morais1; Marina de Alcântara Rufino1; Marcela Borges1; Ricardo Gouveia1; José Magno Queiroz Luz2. 1 UFU, Programa de Educação Tutorial, Uberlândia,MG; 2 UFU, Instituto de Ciências Agrárias, Uberlândia,MG. RESUMO Atividades de oficinas terapêuticas são adotadas por diversas instituições e órgãos que tratam de pacientes portadores de sofrimento mental grave no auxílio a este tratamento. O Projeto Horta Terapêutica é uma oficina terapêutica, idealizado em parceria entre o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS Sul – da prefeitura de Uberlândia, MG, e o Programa de Educação Tutorial do curso de Agronomia da Universidade Federal de Uberlândia-UFU. O mesmo visa propiciar aos pacientes daquela unidade de saúde uma atividade auxiliar em seu tratamento e uma fonte de alimentação de qualidade para estes, em sua maioria carentes, e suas famílias. Em avaliação realizada no final de 2006 pela psicóloga do CAPS, o projeto, que se encontra em seu sétimo ano de execução, se mostrou eficiente na colaboração ao processo de reabilitação de pacientes portadores de sofrimento mental grave, tanto no tratamento das doenças psicológicas / psiquiátricas quanto na melhoria da qualidade alimentar dos pacientes. Palavras-chave: Horta Terapêutica, sofrimento mental grave, qualidade alimentar. ABSTRACT Therapeutical activity in vegetable garden in aid to treatments of patients of serious mental suffering. Activities of therapeutical workshops are adopted by many Institutions that deals with the treatment of patients that have serious mental suffering. The Therapeutical Vegetable Garden Project is an example of this kind of workshop, idealized in partnership between the Mental Illness Treatment Center – CAPS Sul – of the town hall of Uberlândia City, and the Tutorial Educational Program of the Agronomy course of the Federal University of Uberlândia - UFU. The project proposes to the patients an auxiliar activity in their treatments and to give them and to their family, mostly needed people, a source of quality feeding. In the evaluation made in the end of the year of 2006 by the phicologist of CAPS, the project, that is in its seventh year of work, showed efficience in the help of the rehabilitation of the patients with serious mental suffering, either in the treatment of psychological/psychiatric and in the improvement of the feeding quality of the patients. . Keywords: Therapeutical vegetable garden, serious mental suffering, feeding quality. INTRODUÇÃO Em todas as classes da sociedade, em todas as regiões do mundo há pessoas com algum tipo de deficiência mental, variando tanto quanto as causas como quanto as conseqüências. Essas variações resultam das circunstâncias sócio-econômicas e de medidas que os países adotam quanto ao bem estar dos cidadãos (PITTA, 2001). De muitas maneiras, ela reflete as condições gerais de vida e as políticas sociais e econômicas de diferentes épocas. Uma nova política de Saúde Mental, desencadeada a partir do processo de Reforma Psiquiátrica, vem sendo discutida e gradualmente implantada no cenário da Saúde no Brasil (SARACENO et al., 2001). Dentro do projeto geral está a proposta de criação de oficinas terapêuticas. Elas constituem-se em um importante espaço de tratamento, pois estimulam a capacidade de produção, de convivência e interação grupal. Diante desse cenário, professores e estudantes do curso de agronomia, especialmente do Programa de Educação Tutorial, formaram uma oficina de horta e têm por finalidade repassar informações técnicas aos pacientes e assistentes sociais do sistema de produção de hortaliças. A realização dessa atividade viabiliza a expressão, a espontaneidade, o conhecimento das potencialidades e das limitações dos pacientes e promove o desenvolvimento em diversos aspectos (emocional, social, intelectual e físico), possibilitando que o paciente adquira maior grau de independência e autonomia (ARRUDA, 1962). A oficina terapêutica contempla fundamentalmente o atendimento das necessidades e expectativas dos pacientes, por serem, na sua maioria, oriundos da zona rural. Por parte de estudantes e professores permite a integração com a sociedade civil. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar a oficina terapêutica citada e avaliar sua atuação nos objetivos propostos de auxiliar no tratamento de portadores de sofrimento mental grave e na melhoria da qualidade alimentar destes e suas familiar, por meio das verduras produzidas no projeto. MATERIAL E MÉTODOS As atividades do projeto Horta Terapêutica se fazem por meio de visitas semanais a uma horta mantida pelo mesmo e situada na Fazenda Experimental do Glória, de propriedade da Universidade Federal de Uberlândia - UFU. A orientação psicológica se faz por meio de assistentes sociais do CAPS e a orientação técnica por meio de alunos do Curso de Agronomia da UFU, bolsistas do PET Agronomia. O translado dos pacientes é feito por transporte cedido pela Divisão de Transportes da UFU. Durante estas visitas são realizadas pelos pacientes atividades de manutenção de uma horta de pequeno porte em constante produção, como plantio, capina e colheita, sempre acompanhadas da orientação da assistente social. Para tal, utilizam-se ferramentas comuns na produção em hortas, como enxadas, carros de mão e pás, o que requer avaliação prévia do paciente antes de destiná-lo ao projeto, para avaliar se este está apto a trabalhar com estas ferramentas. A produção é feita com uso mínimo de produtos químicos, sendo a adubação quase toda orgânica, sempre preocupando com a saúde dos pacientes. Durante as atividades os pacientes e os participantes do projeto dialogam, falando aqueles de seus problemas e angústias, em um ambiente favorável a um momento de tranqüilidade e relaxamento. As verduras produzidas são destinadas à melhoria da qualidade alimentar dos pacientes e de suas famílias, sendo distribuídas entre estes no final de cada dia de atividade, como forma de incentivo à participação no projeto. O excedente da produção é levado ao CAPS para servir de alimento aos demais pacientes não participantes do projeto. A avaliação dos resultados obtidos pelo projeto se faz em duas vertentes: análise da contribuição das atividades realizadas no projeto para com o processo de reabilitação dos pacientes e levantamento da produção de verduras. A primeira avaliação, realizada semestralmente, foi feita em novembro de 2006 por meio da elaboração de um questionário e entrevistas individuais com os pacientes, efetuados pelas assistentes sociais do CAPS. A segunda, destinada à alimentação, é freqüentemente efetuada pelos bolsistas do PET, com quantificações trimestrais. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em síntese, os resultados obtidos nas respostas dos pacientes foram os seguintes: a maioria dos pacientes, 80%, sentia-se mal antes de participar da oficina; metade dos pacientes está no projeto por indicação da equipe do CAPS e outra metade por gostar de trabalhar em atividades do tipo; a grande maioria relatou que sua alimentação melhorou com a participação no projeto; todos os pacientes relataram que se sentem mais tranqüilos ou em paz com o contato com a natureza; a metade dos pacientes sente-se um pouco insegura em estar fora das instalações do CAPS e a outra metade se sente feliz por estar em outro ambiente ou indiferente a isto; os pacientes relataram sentirem-se úteis ao participarem da oficina, esquecendo da doença por algumas horas e aprendendo coisas novas; A maioria, 90% diz estar utilizando o aprendizado da horta no dia-a-dia, em casa; quando perguntados sobre alguma melhoria que deveria ser feita para a horta, metade dos pacientes disse estar completamente satisfeito com o projeto e outra metade sugeriu a ampliação da horta, da freqüência semanal da oficina e maior variedade nas verduras, todos relatando a horta como algo positivo em seu tratamento. A quantidade de verduras colhidas (tabela 1) tem sido satisfatória para alimentação dos pacientes que participam do projeto e para incrementar a alimentação dos demais pacientes do CAPS, fato relatado por esses, suas famílias e profissionais do CAPS. Também a variedade das verduras tem sido satisfatória. É de interesse tanto do PET Agronomia quanto do CAPS dar continuidade ao projeto, e se possível ampliá-lo, dando possibilidade a um número maior de pacientes de participar da oficina. LITERATURA CITADA ARRUDA, E. 1962. Terapêutica ocupacional psiquiátrica. Rio de Janeiro: [s.n.]. 23-38p. PITTA, A. M. 2001. Reabilitação psicossocial no Brasil. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 45p. SARACENO, B.; ASIOLI, F.; TOGNONI, G. 2001. Manual de saúde mental. 3 ed. São Paulo: Hucitec, 105p. Verdura Quantidade Verdura Quantidade Abobrinha 90 kg Espinafre 45 molhos Acelga 67 pés Jiló 16 kg Alface 431 pés Mandioca 62 kg Almeirão 189 molhos Milho verde 195 espigas Beterraba 62 kg Mostarda 85 molhos Cebolinha 316 molhos Quiabo 46 kg Cenoura 87 kg Rabanete 15 kg Cheiro Verde 83 molhos Repolho 15 kg Chicória 170 pés Rúcula 60 molhos Chuchu 18 unidades Salsa 128 molhos Couve 245 molhos Fruta Quantidade Couve-flor 25 pés Banana 10 cachos Chicória 170 pés Tabela 1: Produção trimestral do projeto horta terapêutica no primeiro trimestre de 2007.