Artes, Letras e Linguística - H.4.3 - Teoria e Análise Linguística Uma análise das práticas discursivas frente à cheia do Madeira em Porto Velho/RO/2014 1 2 3 4 5 Náara Balbino Guimarães , Sheylla Chediak , João B. Neto , Matheus. R. F. Passos , Sorhaya Chediak . 1. Bolsista de Iniciação Científica. Acadêmica do Instituto Federal de Rondônia - IFRO; * [email protected] 2. Mestre em Psicologia Escolar e Processos Educativos. Docente do Instituto Federal de Rondônia – IFRO - Campus Calama; 3. Acadêmico do curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia – FCR. Colaborador do grupo de pesquisa do IFRO; 4. Acadêmico da Faculdade de Rondônia – FARO. Colaborador do grupo de pesquisa do IFRO; 5. Mestre em Letras pela Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Palavras Chave: Discurso, Identidade, Cheia. Introdução A cheia do rio Madeira no primeiro semestre de 2014 é considerada histórica devido aos impactos sociais e ambientais. Essa situação mudou para sempre a vida de centenas de famílias ribeirinhas. Dessa forma, a análise das práticas discursivas demonstra o posicionamento do desabrigado em relação à enchente. Além disso, possibilita discutir os impactos da cheia em grupos familiares, afetados diretamente pelo transbordamento do rio, e ainda, analisar as marcas identitárias nos discursos das pessoas remanejadas. É importante compreender como uma catástrofe natural pode relacionar-se com a identidade, a memória e a estrutura familiar dos atingidos, para que possamos abordar sobre as práticas discursivas. Ao analisar o discurso é importante considerar o contexto sócio-histórico, ideológico e a posição discursiva que o sujeito ocupa na enunciação, já que são fatores fundamentais para a compreendermos o porquê de cada discurso. Para Fernandes (2007), os sentidos são produzidos face aos lugares ocupados pelos sujeitos em interlocução. Assim, o efeito das palavras podem variar dependendo do lugar socioideológico daqueles que a empregam ou, ainda, do contexto em que elas foram utilizadas. A Análise do Discurso permite a revelação de aspectos importantes que constituem o discurso e contempla várias áreas de estudos, como a Psicologia Social, a História, a Sociologia e a Linguística. Resultados e Discussão Os dados foram coletados a partir de entrevistas, com os desabrigados, e excertos midiáticos, observando as diferentes posições da sociedade com relação ao acontecimento. A análise apoiou-se nas noções de discurso de Foucault (2011), nos estudos de Hall (2011) sobre identidade e nas concepções de memória de Halbwachs (2003). Percebemos que os discursos dos desabrigados, devido à cheia do rio Madeira em 2014, sofrem efeitos advindos do deslocamento, segundo conceito de HALL (2005). O que influencia a cultura do indivíduo, a ideia de pertencimento e do modo como suas raízes são auto-interpretadas, criando uma batalha de sentimentos e indagações, diante as incertezas, devido às alterações de rotinhas ocasionadas pela catástrofe. Essa situação é esclarecida por Bauman (2005), o qual afirma que quando as pessoas se preocupam com o pertencimento, é difícil fixar uma identidade. Surge então, uma junção de diversas identidades, que se apresentam ao indivíduo, em vários momentos da vida, perante as situações em que se encontram. As entrevistas, pelo fato de produzirem discursos, exibem revelações das memórias dos indivíduos. “A memória, por sua vez, tem suas características em relação ao discurso. E, nessa perspectiva, ela é tratada como interdiscurso” (ORLANDI, 199, p. 31). Se a memória na Análise do Discurso é tratada como o que foi dito anteriormente, isso se dá ao fato dos sujeitos possuírem lembranças, por fazerem parte de um grupo ou de um acontecimento. Os sujeitos de pesquisas entrevistados puderam dar seu testemunho, expondo o transtorno causado pela cheia do Madeira, através de suas memórias individuais, mas que pertencem e se enquadram dentro das memórias coletivas. Conclusões Não pretendíamos mostrar com a análise uma verdade absoluta ou quem está ou não com a razão, mas suscitar a reflexão sobre temas de interesse coletivo, já que afetou diretamente parte da população. Por outro lado, foi possível abordar questões como: identidade, memória e ideologias. A cheia do Madeira afetou não apenas a herança histórica da cidade de Porto Velho, mas também ocasionou consequências ao âmago da sociedade portovelhense. Sendo assim, é preciso distinguir a enchente como um problema que vai além do aspecto ambiental e danos materiais, e considerar o lado social, a história e a identidade de um povo ribeirinho que são ameaçados pelas forças da natureza. As questões relacionadas ao pertencimento e à subjetividade do indivíduo podem ser verificadas ao observar no discurso dos sujeitos, a escolha lexical empregada para descrever o ambiente em que vivia; e a distinção entre elas: casa, que remete a um “porto seguro”, o lar do sujeito, que foi tirado da sua zona de conforto e sofreu um deslocamento. Notase que há expressões de opiniões dos sujeitos discursivos ao atribuir as construções das usinas no rio Madeira como a causa da cheia. Nos discursos analisados por parte dos colaboradores da pesquisa, foram observados os de cunho religiosos, o qual pode subentendido como alento para enfrentar a situação. Podemos também notar que existem resquícios nos discursos em relação aos sentimentos de constrangimento, humilhação e desconforto e indignação. Agradecimentos Agradeço à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação PROPESP do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia - IFRO, pela concessão da bolsa durante a pesquisa. ___________________ BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Beneditto Vecchi; trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. FERNANDES, Cleudemar Alves. A Noção de discurso: ideologia e efeito de sentido. 2. ed. São Carlos: Claraluz, 2007. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. Trad. Brasileira: Laura Fraga de Almeida Sampaio. 21. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2011. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva & Guacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2011. HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2003. ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do Discurso: princípios e procedimentos. Campinas, São Paulo: Pontes, 1999. 67ª Reunião Anual da SBPC