JORNAL DA
associação
médica
Abril/Maio 2011 • Página 11
ECIAL
uscam novas áreas de atuação
Alexandre Guzanshe
Embora considere a pediatria gratificante, Ana Maria Pimenta afirma que não deseja essa carreira para a filha que se forma este ano em
medicina: “Estou desencorajando
minha filha, pois ela mesma vê a
falta de tempo e a vida dura do pai,
que também é pediatra. Mas, caso
ela insista, o conselho é que ela lute para abrir o próprio consultório
e faça seus horários”, afirma.
Perícia médica também foi a
opção de Vânia Maria Corrêa Borba, que exerceu a pediatria por 16
anos e, em 2004, abandonou a especialidade. “Meu tempo era dividido entre três empregos e, mesmo assim, era mal remunerada. Na
pediatria ganhamos apenas pela
consulta. E, para fazer volume, alguns profissionais optam por fazer
atendimentos rápidos. Pessoalmente, acho impossível realizar
uma consulta de qualidade em dez
minutos. Então, para fazer a pediatria mal feita, achei melhor mudar de área”, conta.
Vânia Borba afirma que a remuneração por parte dos convênios representa um dos maiores
problemas: “A exigência é muito
grande e os honorários não correspondem ao trabalho exercido
pelo pediatra. A insatisfação é grande”. Hoje, perita da Previdência Social, ela não recomenda a pediatria
a nenhum médico, embora acredite que o futuro pode ser melhor.
“Crianças não vão parar de nascer
e precisarão de pediatras para atendê-las. Com a iminente escassez na
pediatria, minha esperança é de
que valorizem aqueles que ainda
persistem na profissão”, reflete.
O que o futuro reserva
Para o presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, Paulo Poggiali, o futuro da especialidade depende da continuidade na mobilização dos pediatras de todo o
País por remuneração justa, qualidade no atendimento e também
por maior independência em relação às empresas da saúde suplementar. No final de 2005, a Sociedade Mineira de Pediatria lançou o movimento “SOS Pediatria”,
pela valorização da especialidade.
Desde então, entidades em todo
o País têm procurado mobilizar
médicos e opinião pública para o
problema.
“Poderemos reverter a tendência à extinção que hoje baila sobre
as especialidades clínicas, como a
pediatria, ou poderemos ver cada
vez mais a medicina caminhar para o abismo do alto custo, na busca cada vez maior de tecnologia,
como forma de proteção a anamnese e exame clínico mal feitos”,
analisa Fernando Mendonça.
Poggiali destaca ainda a necessidade da aprovação de projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional, como a regulamentação da Emenda Constitucional 29, que destina recursos para as ações da saúde. “Falta também uma política de valorização
do profissional, com piso salarial
que atenda às recomendações do
Conselho Federal de Medicina,
condições de trabalho adequadas
e um plano de carreira que permita ao médico atuar no interior
com qualidade”, afirma.
Maria Cláudia Vítor Brito Moura, ex-chefe de Pediatria do Hospital Felício
Rocho, em Belo Horizonte, lamenta o fim do atendimento pediátrico
Médica critica fechamento de serviço
Em março deste ano, o serviço
de pediatria do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte, fechou as
portas, deixando quase 3.500
crianças sem atendimento por
mês. A ex-chefe do serviço, a pediatra e cardiologista Maria Cláudia Vítor Brito Moura, ficou revoltada com o encerramento das atividades. Segundo ela, a unidade já
era referência na capital por receber os casos mais graves. “Criada
há cerca de 15 anos, a pediatria do
Felício Rocho sempre deu conta
do atendimento primário às crianças com encaminhamento imediato e internações, quando necessários. Chefiei o serviço nos últimos quatro anos e me dói muito
ver as portas fechadas devido às
péssimas condições de trabalho
impostas por operadoras de plano de saúde”, critica.
A equipe chefiada por Moura
contava com 36 pediatras que, segundo ela, têm qualificação em
emergência e a maioria conta
com duas subespecialidades. “Embora tivesse uma excelente equipe, quisemos dar um basta à situação em que nos encontrávamos. Trabalhamos cerca de três
meses sem receber adicional noturno e tentamos negociar esse
pagamento. No entanto, a diretoria do hospital foi radical no
sentido de que não pagaria mais
o adicional. A tentativa seria de
negociação com o convênio. Este, por sua vez, também negou,
pagando apenas R$ 35,00, valor
de uma consulta comum. O plano chegou a falar que o Felício Rocho não era importante e nos chamou para atuar no serviço de seu
hospital próprio. Ficou inviável
trabalhar assim”, desabafa.
Ela espera que os demais serviços de pediatria da capital consigam se manter e faz um alerta:
“Que o fechamento do Felício Rocho seja um exemplo para que todos os profissionais vejam a necessidade de lutar por essa especialidade que pode entrar em extinção.
Que nossos pediatras possam receber adequadamente por esse serviço, que é diferenciado”.
PEDIATRIA EM NÚMEROS
NO CADASTRO NACIONAL DE ESTABELECIMENTOS DE SAÚDE
Março 2011
Número de médicos
Número de pediatras
Brasil
293.331
21.460
Minas Gerais
31.984
2.077
Belo Horizonte
11.519
927
Fonte: Sociedade Mineira de Pediatria.
NO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DE MINAS GERAIS
Maio 2011
Número de médicos
Número de pediatras
com inscrição ativa
com inscrição ativa
Minas Gerais
37.847
2.362
Belo Horizonte
14.765
1.084
Fonte: CRMMG.
VAGAS DE RESIDÊNCIA EM MINAS
126, sendo 71 na capital
Fonte: Cerem-MG.
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