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Segunda, 18 de Março de 2013
Crise. Especialidade enfrenta falta de profissionais e fechamento de 18 unidades nos últimos cinco
anos
Pediatria em Minas Gerais está à beira de um
colapso
Para associação, valor pago por consultas de emergência pelos planos de saúde e SUS é
inviável
JOANA SUAREZ
Publicado no Jornal OTEMPO em 18/03/2013
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FO TO : FO TO S JO ÃO MIR ANDA
Crianças deitadas em cadeiras, esparramadas no colo
das mães e sem o sorriso característico da faixa etária.
Esse era o cenário do Hospital Infantil João Paulo II, no
Santa Efigênia, na região Centro-Sul da capital, onde a
espera por atendimento na emergência pediátrica
superava quatro horas na última quarta-feira. A
reportagem de O TEMPO verificou que a unidade tinha
apenas um profissional para atender a cerca de 50
crianças. A situação se repete em outros prontos-
Segunda, 18/03
atendimentos de Belo Horizonte, inclusive privados.
Outras edições
Com o fechamento de 18 unidades nos últimos cinco
anos e a falta de especialistas no mercado, o setor vive
Colunas de hoje
em crise. Minas Gerais tem, em média, um pediatra para
cada 1.827 crianças e adolescentes, quase a metade do
Júlio Assis
recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
- um médico para cada mil habitantes. Entretanto,
muitos desses pediatras não atuam mais na área e
migraram para outras especialidades, conforme o
presidente da Associação Médica de Minas, Lincoln
Caos. Cerca de 50 crianças
aguardavam atendimento no Hospital
João Paulo II
Paulo Navarro
Ferreira.
Galeria de fotos
"O Sistema Único de Saude (SUS) paga R$ 2,70, e os
planos, R$ 30 por uma consulta de emergência. Fica
inviável manter os prontos-atendimentos. Vários
Canal 1
Por Flávio Ricco
médicos fecharam seus consultórios porque não
conseguem arcar com as despesas", explica. Situação
similar ocorre no Hospital Vila da Serra, em Nova Lima,
Luiz Tito
na região metropolitana, que recebe cerca de 4.000
crianças por mês, mas ameaça encerrar o serviço em
breve, o que pode sobrecarregar os demais.
O Ministério Público de Minas foi acionado pela Sociedade Mineira de Pediatria, para intervir no
Raquel Faria
problema. Um abaixo-assinado online também tenta impedir o fechamento da unidade. "As mães se
preocupam com a falta de pediatras e de opções para atender aos nossos filhos", destaca a
servidora Maria de Fátima de Melo, que articula o protesto.
Meu problema é
Fila. Quem precisa de atendimento sofre na sala de espera. Nesta época, com o aumento dos
casos de dengue e de doenças respiratórias, a procura pelo setor de emergência infantil cresce
José Reis Chaves
cerca de 30%. A cozinheira Vanilza Nogueira, 32, chegou às 11h, ao Hospital Infantil João Paulo II,
com sua filha de um ano, febril. Às 16h, não tinha sido atendida. "Sempre espero por muito tempo,
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mas prefiro aqui à Unidade de Pronto-Atendimento, que não faz todos os exames".
Na rede privada, o tempo de espera não é muito diferente. Rejane Valadares, 36, esperou durante
Rotary
Chico Maia
duas horas por uma consulta para a filha de 3 anos no Hospital São Camilo, na região Leste. "É
muito difícil conseguir marcar uma consulta com pediatra para a mesma semana, por isso a gente
usa a emergência", diz.
No interior, o cenário é ainda pior. A dona de casa Elidiane Sacramento, 28, vem de Itabirito, na
» Todas as colunas
região Central, para conseguir atendimento na capital. "Na minha cidade, só há três pediatras
particulares, e as policlínicas ficam lotadas", justifica.
Para a presidente da Sociedade Mineira de Pediatria, Raquel Pitchon, o Estado enfrenta uma
precariedade no setor. "Isso pode ser visto pelo tempo médio de espera por atendimento, que
chega a quatro horas", detalha. Segundo ela, a falta de leitos pediátricos também é um problema
que se agrava. "São 18 hospitais que deixaram de atender e hospitalizar crianças", destacou.
As secretarias estadual e municipal de Saúde não forneceram fonte para falar sobre o tema. O
órgão do Estado informou apenas que há 191 leitos de Unidade de Tratamento Intensivo
pediátricos em Minas.
CA RREIRA
Desvalorização desestimula profissionais
A relação desproporcional entre o número de crianças e adolescentes no Estado e a quantidade de
pediatras é um reflexo da desvalorização desse profissional nos últimos anos. Os baixos honorários
e a sobrecarga de trabalho desestimulam a categoria, tanto que a procura pela residência em
pediatria caiu 50% na última década, segundo a Sociedade Mineira de Pediatria (SMP).
"Os estudantes têm vontade de fazer a especialidade, mas a desvalorização faz com que eles
optem por áreas mais promissoras, como a dermatologia", destaca a presidente da SMP, Raquel
Pitchon.
Ainda assim, segundo a entidade, a concorrência pelas 222 vagas para residência em pediatria
oferecidas por apenas 19 hospitais mineiros é alta. Já o tempo de formação da especialidade, de
dois anos, pode aumentar para três, segundo projetos em discussão, devido à necessidade de
ampliar as disciplinas e atualizar o conhecimento na área.
"Nos últimos anos, perdemos muitos pediatras. O serviço público não atrai o profissional porque os
plantões são muito puxados e o salário, baixo. Há cidades sem pediatra", ressalta a diretora do
Sindicato dos Médicos de Minas, Ariete de Araújo. (JS)
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Pediatria em Minas Gerais está à beira de um colapso