ÁREA TEMÁTICA: SAÚDE ACOLHIMENTO À DEMANDA ESPONTÂNEA COMO TECNOLOGIA DO CUIDADO EM UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DE IMPERATRIZ-MA Paula Gabrielle Gomes Candido¹; Valéria Gomes Fernandes da Silva 1 ; Yêda Silva Santos¹; Jakeline Araújo Ribeiro²; Francisca Jacinta Feitosa³. 1 Acadêmicas de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão - UFMA – Campus Avançado. ² Enfermeira graduada na Universidade Federal do Maranhão. ³ Enfermeira. Ms. em Saúde Baseada em Evidências pela Universidade Federal de São Paulo. Docente do Curso de Enfermagem, na Universidade Federal do Maranhão. RESUMO O Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da AB. As tecnologias do cuidado constituem uma ferramenta ideal para que o SUS através do PMAQ ofereça dentro das redes de saúde uma assistência de qualidade, onde se objetiva aumentar a eficiência das atividades profissionais nas variadas esferas. O acolhimento classificado como um tipo dessas tecnologias consiste na prática presente em todas as relações de cuidado, na rotina entre profissionais de saúde e usuários, nos atos de receber e escutá-los, em que abrange tanto a demanda espontânea de uma UBS caracteriza-se pelo comparecimento inesperado à unidade, como a demanda programada. Esse estudo é vinculado ao projeto de pesquisa PROGRAMA NACIONAL PARA MELHORIA DO ACESSO E DA QUALIDADE - PMAQ: uma ferramenta para o fortalecimento da Atenção Primária em Saúde de Imperatriz-Maranhão e teve como objetivo avaliar a organização do acolhimento em Unidades Básicas de Saúde no município de Imperatriz-MA, em que se procurou verificar a estrutura e equipes que realizam o acolhimento nas UBSs, descrever o acolhimento à demanda espontânea no processo de atendimento e verificar a satisfação dos usuários em relação ao acolhimento. O estudo caracteriza-se descritivo de caráter transversal, com abordagem qualitativa, realizado no período de 15 de junho a 30 de julho de 2015, em três Unidades Básicas Saúde (UBS) de referencia da cidade. Os critérios de inclusão da pesquisa contemplam as Unidades Básicas de referência com maior número de Estratégias de Saúde da Família (ESF) da cidade, totalizando três unidades, a UBS Vila Cafeteira, a UBS Dr. Milton Lopes e a UBS Nova Imperatriz no bairro Nova Imperatriz, na qual possuíam as duas primeiras três e a última, duas estratégias, respectivamente. Foram elaborados e aplicados três questionários direcionados para o diretor da UBS, os enfermeiros das Estratégias de Saúde da Família e os usuários dos serviços de saúde, onde após a análise das falas pôde-se perceber uma controversa entre a concepção dos profissionais acerca do assunto, e o que de fato realizam na prática, demonstrando assim uma falha que impede a assistência humanizada e promove uma distância entre profissional e usuário. Palavras-chaves: Acolhimento. Unidade de Saúde. Atenção Básica. INTRODUÇÃO Atenção Básica é o primeiro nível de atenção em saúde e se caracteriza por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte positivamente na qualidade de vida das coletividades. Deste modo, a Estratégia Saúde da Família, se apresenta como modalidade prioritária para a reorganização dos serviços dessa atenção primária em todo o país, onde o desempenho dessas equipes e o seu funcionamento é o caminho para alcançar êxito e desenvolver melhorias para outros setores (BRASIL, 2011). O Ministério da Saúde com o intuito de melhorar e avaliar os serviços da Atenção Básica lançou em 2011 a Portaria N° 1.654 que regulamenta a implantação do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQAB), tendo como objetivo induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da ABS. Atuando no fortalecimento da capacidade dos gestores associado às equipes de saúde de atuarem no desenvolvimento dos programas das Estratégias de Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 2011). Todavia, para que o usuário tenha acesso a esses serviços utiliza a alguns setores dentro da Unidade de Saúde, para que o seu objetivo final seja alcançado, seja ele uma consulta demanda espontânea, ações programáticas, ou procedimento, necessitando de organização da demanda, o que tem sido encarada como um desafio constante por parte dos profissionais e gestores em saúde, uma vez que tanto a demanda programa quanto a espontânea necessitam de um suporte integral e eficaz no alcance de suas necessidades. As tecnologias do cuidado constituem uma ferramenta ideal para que o SUS ofereça dentro das redes de saúde uma assistência que tem como diretrizes os princípios do SUS – equidade, integralidade e universalidade (PAULINO, 2014). Nessa perspectiva, as tecnologias do cuidado em Enfermagem têm como objetivo central aumentar a eficiência das atividades profissionais nas variadas esferas, e para isso são produzidos vários objetos com a intenção de atender as necessidades da demanda. Essas ferramentas além de contribuir na otimização do tempo, colaboram nos processos produtivos que envolvem as ações humanas tomando uma dimensão interhumana na relação trabalhista. Portanto, o conceito de tecnologia referindo-se apenas a máquinas e equipamentos, torna-se ultrapassado e incompleto diante da sua função no cuidado em saúde e na enfermagem. Dessa forma, as tecnologias do cuidado podem assumir duas dimensões, as leves que se apoiam nas ciências naturais, na tecnologia não física e nas ciências comportamentais, e as duras associada à tecnologia física (KOERICH et al, 2007). O acolhimento é classificado como um tipo de tecnologia do cuidado leve, que abrange a prática presente em todas as relações de cuidado, na rotina entre profissionais de saúde e usuários, nos atos de receber e escutá-los, podendo acontecer de formas variadas. Ele constitui a primeira relação de contato, podendo desenvolver um elo ou uma barreira na comunicação entre as duas instâncias e isso reflete diretamente na prestação do serviço ao usuário. Sendo ainda o acolhimento, um aliado dos serviços da Atenção Primária, sendo uma ferramenta indispensável no atendimento que contempla desde a relação interpessoal entre profissional e cliente quanto à ambiência física do local, tanta à demanda programada quanto à demanda espontânea de uma Unidade Básica de Saúde (UBS), (BRASIL, 2011). Logo, a demanda espontânea de uma UBS caracteriza-se pelo comparecimento inesperado a unidade, seja a causa problemas agudos ou por razões que o próprio paciente julgue necessário. O acolhimento precisa acontecer da mesma forma, sobretudo a escuta atenciosa que vai gerar a construção de vínculos e contribuirá com um atendimento mais adequado e humanizado possível. Toda a equipe de saúde deve fazer parte do acolhimento onde se tornam responsáveis pela integralidade da assistência ao usuário (BRASIL, 2013). OBJETIVOS Objetivo Geral Avaliar a organização do acolhimento em Unidades Básicas de Saúde no município de Imperatriz-MA. Objetivos específicos Verificar a estrutura e equipes que realizam o acolhimento nas UBSs. Descrever o acolhimento à demanda espontânea no processo de atendimento. Verificar a satisfação dos usuários é em relação ao acolhimento. METODOLOGIA Trata-se de um estudo descritivo de caráter transversal, com abordagem qualitativa, realizado no período de 15 de junho a 30 de julho de 2015, em três Unidades Básicas Saúde (UBS) de referencia na cidade de Imperatriz – MA. Os critérios de inclusão da pesquisa contemplam as Unidades Básicas de referência com maior número de Estratégias de Saúde da Família (ESF) da cidade, totalizando três unidades, a UBS Vila Cafeteira localizada no bairro Vila Cafeteira, a UBS Dr. Milton Lopes situado no bairro Bacuri e a UBS Nova Imperatriz no bairro Nova Imperatriz, na qual possuíam as duas primeiras três, e a última duas estratégias, respectivamente Esse estudo é vinculado ao projeto de pesquisa PROGRAMA NACIONAL PARA MELHORIA DO ACESSO E DA QUALIDADE - PMAQ: uma ferramenta para o fortalecimento da Atenção Primária em Saúde de Imperatriz-Maranhão, e teve como objetivo principal descrever como o acolhimento é realizado nessas Unidades e como a equipe de saúde da mesma se organiza. Assim, foram elaborados e aplicados três questionários direcionados para o diretor da UBS, os enfermeiros das Estratégias de Saúde da Família e os usuários dos serviços de saúde. As variáveis estão relacionadas a avaliação do acolhimento, organização equipes de acolhimento e a satisfação.Para a coleta de dados foram entrevistados três diretores, seis enfermeiros ) onde de cada unidade um enfermeiro era de demanda espontânea e os demais das ESF, e quinze usuários (cinco de cada unidade). Para analise de dados foram descritos as falas dos participantes como forma de identificação, numeração para os diretores, nomes de flores para usuários e nomes de pensadores para os profissionais de enfermagem. RESULTADOS Para avaliar a organização do acolhimento como tecnologia do cuidado foram direcionadas e especificadas a cada participante que foram descritas, com base nas variáveis contidas nos questionários. 1. Conhecimento do Acolhimento como Tecnologia do cuidado O Diretor 1 relatou que é um instrumento que viabiliza o atendimento junto ao paciente, o Diretor 2 afirmou que procuram fazer o acolhimento de forma que possa agradar os usuários que necessitam dos programas existentes na unidade. E o Diretor 3 referiu que o acolhimento propõe resolutividade nas situações advindas dos usuários proporcionando um atendimento universal, ouvindo suas queixas e buscando a integralidade nos serviços, em que toda a equipe de saúde é responsável por assim fazer. O papel do diretor em uma unidade tem uma grande significância na instituição dos processos avaliativos das atividades, e o acolhimento faz parte dos mesmos. No entanto, para avaliá-los, é necessário além de conhecer a teoria deve-se está ativamente e presente nas atividades que envolvem a UBS. A ausência do diretor na rotina da unidade resulta em dificuldades e barreiras para que esse processo avaliativo aconteça de forma eficaz, o que se comprovou durante a coleta de dados dessa pesquisa. Na visão dos profissionais de enfermagem o conceito de acolhimento como tecnologia do cuidado se aprofundou onde todos tiveram falas semelhantes, como na fala de Aristóteles, primeiro cuidado ao cliente, escuta inicial das queixas e motivos que o levou a procurar o atendimento de saúde, seu objetivo é solucionar e da respostas as expectativas e duvidas dos usuários. Platão completou, (...) esta interligada com a humanização do atendimento, visando sempre à ética profissional. E Descartes concluiu afirmando que o acolhimento interfere na produção do cuidado. Existem as modelagens do acolhimento, no qual o enfermeiro é um dos principais atores nessa função de acolher o usuário tanto das ações programadas quanto da demanda espontânea realizando a primeira escuta. É perceptível que ele demonstram conhecimento sobre o assunto e afirmaram que realizam o acolhimento das duas demandas, entretanto, na fala de Platão percebe-se que há uma controversa na maneira como ele refere fazer o acolhimento, os mesmos chegam ao meu consultório ou mesmo quando me abordam nos corredores para fazer algum questionamento ou tirar duvidas.Isso contradiz o que o Ministério da Saúde recomenda a respeito do profissional de enfermagem no ato de acolher, onde o mesmo deve ir até o usuário. Os usuários dos serviços de saúde por sua vez, através de suas necessidades, buscam uma satisfação que consideram indispensável para sua qualidade de vida. Pensando nisso, que a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde (CDUS), elaborada pelo Conselho Nacional de Saúde e Ministério da Saúde (MS), descreve os princípios relacionados aos direitos que o usuário tem referente ao Sistema Único de Saúde (SUS) e evidencia que todo cidadão tem direito a receber tratamento adequado, de forma a resolver suas necessidades de saúde, ressaltando a importância de oferecer atendimento humanizado, acolhedor e livre de qualquer discriminação (CORRÊA et al, 2011). Logo, ao ser questionados a respeito do conceito de acolhimento, a maioria deles referiram o mesmo sentido, é tratar bem; uma recepção eficaz com paciência, carinho e atenção; é chegar e ser bem atendido; é receber informações; é quando eu necessito de algo e sou atendido. Entretanto, alguns usuários foram mais além em seus conceitos, como a Amarilis que afirmou, acolhimento acredito que seja uma assistência básica para pessoas de menor poder aquisitivo que depende da saúde e da atenção básica. E a Celósia, completou, é ser atendida, esclarecida, informada corretamente, tem profissionais que dão informação incorreta. Houve apenas um usuário que teve como resposta, não sei. Na fala da Amarilis percebe-se que ela não compreende que o acolhimento é universal e que não é algo especifico de uma população com menor poder aquisitivo. Já a fala de Celósia, traduz outra realidade onde os profissionais que realizam o acolhimento, não estão informados integralmente e qualificados para essa função. 2. Recepção e organização do acolhimento do usuário na UBS É importante compreender o que acontece com o usuário assim que ele dá entrada na unidade, partindo do pressuposto que pode haver perda de tempo e aborrecimentos quando não conduzido e informado coerentemente. O Diretor 1 respondeu que paciente se identifica ao atendente e procura seu agente de saúde, caso não tendo agente, será atendido na demanda livre, depois marca-se a consulta com o enfermeiro ou com o médico da unidade. O Diretor 2 afirmou que eles procuram saber local, ou seja a sala e a pessoa da qual trabalha no programa, encaminha-se para o programa e a pessoa que toma conta do setor cuida das necessidades da unidade. E o Diretor 3 disse que o usuário chega na recepção e solicita o atendimento, ele é encaminhado ao setor onde poderá ser atendido. Quando não é na unidade, este é orientado onde deve procurar. Quando o mesmo possui ACS este será encaminhado a área correspondente a ESF. Deve haver uma investigação se o diretor está realmente ciente do que ocorre na rotina do acolhimento, para que como gestor possa melhorar e estimular sua equipe a trabalhar de forma humanizada e integral. Esse conhecimento deve se associar aos conceitos dos profissionais mais próximos do usuário, no caso o enfermeiro, que deve ser um dos protagonistas nos cuidados iniciais. O enfermeiro como atuante da equipe de saúde, deve compor a linha de frente do acolhimento, diante disso foi indagado ao mesmo, sobre o que acontece quando o usuário de demanda espontânea dá entrada na unidade. Algumas opções foram colocadas, e um enfermeiro marcou a opção da escuta inicial, dois responderam que realizam a consulta do dia, e dois marcaram que realizam todas as opções – escuta inicial, consulta do dia, atendimento de urgência e atendimento agendado. O que é intrigante, uma vez que não deixam clara a organização do seu atendimento e não esclarecem o que importante a princípio no processo de acolher o usuário. Sob a ótica dos usuários, 74% deles afirmaram que os profissionais que os recebem disponibilizam informações claras e acessíveis, já 26% responderam que não recebem essas informações, o que pressupõe um empecilho na assistência inicial e já se torna uma barreira na criação de vínculos. 3. Acolhimento e a infraestrutura da UBS O acolhimento permite que o paciente se sinta incluso nos cuidados que a UBS oferece mesmo ele não pertencendo a nenhum programa. Os aspectos envolvidos vão além do “tratar bem” contemplando ainda a infraestrutura do local e a existência de equipamentos necessários. Nisso, é preciso identificar o que de fato as unidades de saúde estão ofertando nesse processo de acolher, uma vez que nem sempre o usuário se sente acolhido e as equipes podem não está atenta a isso. Nesse questionamento o Diretor 1 respondeu que é ofertado atendimento da recepcionista, recepção ampla contendo televisão, senha de atendimento por critério de avaliação. O Diretor 2 afirmou que é realizado a triagem, prescrição de medicamento e encaminhamento para outros profissionais. E o Diretor 3 relatou que é ofertado três ESF, atendimento de demanda livre e equipe do NASF que traz apoio aos usuários. Verifica-se que apenas o Diretor 1 destacou a importância da estrutura física como uma oferta que interfere no acolhimento. Percebe-se nessas falas de um modo geral, a distorção das respostas em relação à pergunta, em face da preocupação que eles demonstraram em expor o que a unidade em si oferecia e não o que de fato é ofertado no acolhimento, como por exemplo, a escuta atenciosa, o repasse de informações importantes, acessibilidade. Eles foram questionados ainda se a unidade em que atuam dispõe de infraestrutura e equipamentos necessários para um acolhimento ideal, os Diretores 1 e 2 responderam que não e os comentários se resumiram em a comunidade é grande, é necessária a ampliação das equipes exigindo mais salas e equipamentos (Diretor 1); Não é algo completo (Diretor 2). E o Diretor 3, respondeu que sim e acrescentou, temos a infraestrutura que corresponde as nossas necessidades, temos uma recepção ampla, área de convivência, sala para palestras e grupos, local arejado. Considerando que o local deve possuir boa condição de ambiência, acústica, ventilação, iluminação, fluxo de usuários, pisos, paredes e tetos adequados, instalações hidráulicas e elétricas adequadas para um atendimento de qualidade. Convém mencionar alguns problemas identificados nas UBSs contempladas na pesquisa no momento da coleta de dados, falta de iluminação na sala de espera prejudicando a locomoção dos usuários, bebedouros com copos de vidros que facilita a disseminação de doenças infectocontagiosas, assentos desproporcionais com o número de pacientes, desorganização no fluxo de usuários. Para comprovar esses dados, os usuários foram questionados se a UBS dispõe de estrutura física e equipamentos adequados para um bom atendimento, 60% deles responderam que não, e 40% disseram que sim. Logo, para eles a estrutura física é insuficiente para atender as demandas com qualidade, isso coloca em dúvida o planejamento e a execução dos serviços de manutenção que irão garantir o bom funcionamento das instalações físicas, equipamentos e instrumentais da UBS (BRASIL, 2012). 4. Profissionais responsáveis pelo acolhimento à demanda espontânea e o seu preparo É importante que as equipes discutam e definam o modo como os diferentes profissionais participarão do acolhimento, fazendo com que todos se envolvam. O Diretor 1 questionado a respeito de qual ou quais profissionais realizam o acolhimento da demanda espontânea respondeu, os recepcionistas, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Da mesma forma o Diretor 2, ao dizer a recepção e um técnico de enfermagem e o Diretor 3, funcionários da recepção. De acordo com o manual de acolhimento à demanda espontânea, é errado direcionar a responsabilidade pelo ato de acolher apenas aos trabalhadores da recepção (ou a qualquer trabalhador isoladamente), pois o acolhimento não se reduz a uma etapa nem a um lugar. Em relação ao preparo desses profissionais, os diretores responderam se eles participam ou não de capacitações para o acolhimento, o Diretor 1 e 2 responderam que sim, acrescentando o seguinte comentário a nível de posto sim no entanto a nível geral, não (Diretor 1); sim, porém há dificuldades e barreiras na absorção do conhecimento (Diretor 2). E o Diretor 3 relatou que não há, e acrescentou há uma necessidade muito grande de mais capacitações. A equipe de atenção básica tem a oportunidade de participar de cursos de atualização, aperfeiçoamento e qualificação de acordo com a disponibilidade das ofertas, sendo que esses cursos podem ser promovidos pelos gestores de saúde geral do município ou pelo próprio gestor da UBS. Portanto, nos relatos dos diretores percebe-se que existem dificuldades que impedem que essas atividades aconteçam, como a falta de estímulo para promover essas qualificações por parte do gestor da unidade, a falta de interesse dos profissionais em participar, a dificuldade de absorção de conhecimento. Dessa forma, os usuários responderam a questão justamente indaga quem o atende em sua chegada a UBS, 80% deles disseram ser as recepcionistas que fazem o atendimento, 6,6% disseram ser os agentes de saúde, 6,6% os profissionais dos serviços gerais e 6,6% a recepcionista e o diretor da unidade. Isso apenas reafirma, que infelizmente não é toda a equipe de saúde que acolhe o usuário, provando que essa função ainda está muito restrita ao profissional recepcionista. Os enfermeiros já foram questionados se a unidade em que trabalham oferecem essas capacitações e 67% responderam que sim, 33% responderam que não. Aristóteles completou ainda, possui raramente e são oferecidos treinamentos ao profissional que atende demanda. Platão já afirmou que, o enfermeiro deve ministrar essas capacitações orientandos os integrantes da equipe de enfermagem, afim de, proporcionar um bom atendimento aos pacientes. Descartes respondeu, no período que estou trabalhando nesta unidade houve apenas um treinamento voltado ao acolhimento dos usuários, porém os enfermeiros não participaram. Essa realidade se revela contraposta diante da necessidade que existe de somar o conhecimento sobre esse tema, e apenas na fala de Platão, o próprio enfermeiro tomou para si essa responsabilidade, uma vez que possui autonomia e durante a graduação recebeu o conhecimento acerca desse tema. Em relação a se sentir acolhido 87% dos usuários afirmaram que sim, e 13% responderam que não, e classificaram esse atendimento, 54% responderam que é bom, 33% apontaram que é regular, 6,5% afirmaram ser ótimo e também 6,5% reponderam ser péssimo. Mesmo a maioria se sentindo bem acolhido, ao fazer a classificação desse atendimento, nota-se que o percentual do conceito regular e péssimo somam uma quantidade significante de usuários insatisfeitos. 5. Perfil e satisfação da demanda espontânea no atendimento da UBS O perfil de uma demanda é traçado a partir do conhecimento da população em que a UBS está inserida, a taxa de natalidade, mortalidade, morbidade, violência, condições sociais, saneamento. A partir disso, foi indagado aos enfermeiros qual seria o perfil da demanda espontânea que ele atende, a maioria deles responderam que são pessoas de áreas descobertas, de municípios vizinhos, de bairros que não possuem unidades de saúde, que em número podem ultrapassar a demanda programada. Completaram que a maioria são idosos, gestantes e jovens. A população ainda carrega consigo a ideia do modelo biomédico em que a assistência da saúde esta diretamente ligada ao médico. Foi notado nas respostas que a maioria dos usuários citaram a falta de médicos como a principal dificuldade para conseguir atendimento, ou ainda responderam que, há ausência de medicamentos, fichas para consultas, dificuldade em marcar exames. Amarilis respondeu, há uma desproporção entre o publico necessitado de atendimento e quantidade de funcionário do posto; grande quantidade de pessoas demanda grande, que dificulta o atendimento, tornando-o demorado; Margarida relata, o fato de não ter boa receptividade para consultas que não estão agendadas. Rosa complementa, porque têm que ir cedo demais, poucas vagas para consultas médica, remédio que não tem, arrogância por parte de alguns profissionais. Quando o acolhimento não funciona em uma unidade, sobretudo o acolhimento humanizado, a tendência é que a desorganização por parte da própria equipe, impessa que o usuário consiga suprir suas necessidades, ou ainda, impede que a própria equipe tenha êxito na assistência prestada. Outro fator que interfere, é a desproporção da demanda para profissionais que atendem na unidade, onde há um prejuízo para ambas as partes se não houver uma forma de organizar, ouvir e atender a todos por meio do acolhimento, principalmente quando a demanda espontânea for maior que a demanda programada. Em relação ao tempo de espera para ser atendido, foi apresentado aos usuários algumas opções de tempo que eles ficam esperando, 33% disseram que esperam mais de uma hora, 27% afirmaram esperar menos de trinta minutos, 20% responderam que são atendidos assim que chegam e 20% relataram esperar exatamente uma hora. Esse é um problema que persegue todos os ambientes de serviço de saúde, mas existem estratégias para minimizar essa espera que podem está associado ao processo do acolhimento, onde a pessoa que realiza a primeira escuta, já pode atuar na resolução do problema, otimizando assim o tempo. CONSIDERAÇÕES FINAIS A importância da compreensão do acolhimento como uma tecnologia do cuidado tomou uma grande dimensão quando se refere aos serviços da Atenção Básica de Saúde. As Unidades Básicas de Saúde constitui a porta de entrada dos usuários que buscam resolutividade para suas necessidades e os profissionais de saúde devem está sempre preparados para prestar um bom atendimento. Para isso, é indispensável que determinados conceitos, ações e estratégias não passem despercebidos dos profissionais diante do usuário, que necessita de cuidados e principalmente, ser ouvido. Todos os profissionais que compõe a equipe de saúde atuante em uma UBS devem realizar o acolhimento sob a perspectiva tanto de tratar o usuário de forma humanizada como de melhorar e organizar sua assistência, que irá refletir em todo o processo de trabalho da equipe. O atendimento à demanda espontânea requer uma atenção criteriosa, onde normalmente esses indivíduos já não são contemplados com uma ESF, portanto, precisam ser acolhidos tendo sempre como objetivo central a escuta atenciosa e ações que os levem a suprir suas necessidades. A estrutura física da unidade também integra o ato de acolher o usuário, devendo proporcionar um conforto básico e uma ambiência agradável, sobretudo quando existem as filas de espera para atendimento. A infraestrutura com equipamentos necessários associados a uma relação inter-humana entre profissional e usuário resulta no conceito ideal de acolhimento nas Unidades Básicas de Saúde. Identificar à visão do diretor da UBS somada e comparada a visão do profissional de enfermagem, e ainda integrada à visão dos usuários dos serviços de saúde, a respeito de como se dá o processo de acolhimento, vem colaborar para o reconhecimento das deficiências que estão impedindo que funcione como deve ser. A partir desse estudo, pôde-se perceber uma controversa entre a concepção dos profissionais acerca do assunto, e o que de fato realizam na prática, demonstrando assim uma falha que impede a assistência humanizada e promove uma distância entre profissional e usuário. Para que essa realidade mude, é necessário que os próprios profissionais, diretor e enfermeiro, se motivem a transformar conceitos distorcidos que norteiam o acolhimento em suas próprias unidades de saúde, onde possuem autonomia suficiente para sempre buscar melhorias e qualificações para os serviços de saúde. REFERENCIAS BALLESTER. D. et al. A inclusão da perspectiva do paciente na consulta médica: um desafio na formação do médico. Revista Brasileira de Educação Médica, vol. 34, n° 4, Rio de Janeiro – RJ, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Acolhimento à demanda espontânea. Caderno de Atenção Básica, n. 28, volume I. Brasília, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. 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