SUPLEMENTO
R E V I S TA P O R T U G U E S A
DE
CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
Victor Manuel d'Albuquerque Matos
António Martins Mendes
Faculdade de Medicina Veterinária, UTL. Avenida da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa
Origens
Victor Manuel d'Albuquerque Matos, de seu nome
completo, nasceu em Queluz, no dia 12 de Dezembro
de 1923, filho de Manuel de Matos, sargento-ajudante
e de sua esposa D. Arminda dos Santos Albuquerque.
Formação profissional
Frequentou o ensino primário em Leiria e concluiu
os estudos secundários no Liceu D. João III, em
Coimbra, sendo já seu pai oficial do exército. No ano
lectivo de 1941-42 matriculou-se na Escola Superior
de Medicina Veterinária concluindo a licenciatura em
Ciências Médico-Veterinárias em Julho de 1946.
Quando ainda aluno finalista foi eleito presidente da
Associação de Estudantes e, por inerência, dirigiu
"Medicina Veterinária" - a respectiva revista técnica.
Foi um aluno distinto na frequência da nova disciplina
de "Tecnologia e Inspecção Sanitária dos Produtos de
Origem Animal", criada pelo excepcional Professor
que foi o Doutor Eugénio Antunes Tropa e que abria
novos horizontes aos futuros licenciados.
Dotado de grande habilidade para o desenho foi o
primeiro "sebenteiro" desse Professor, ilustrando os
apontamentos por ele elaborados. O Professor Tropa
não o esqueceu, pois, em carta pessoal datada de 12 de
Março de 1963, afirmava texualmente: «O senhor tem
que ser aproveitado para o Ensino Superior [...]
sinto que deve ir para os Estudos Gerais. Se não o
aproveitarem é porque desconhecem o mérito e sobretudo as qualidades dos jovens».
Penso, no entanto, que a carreira académica não
o atraía. Pelo menos a carta do Professor não teve
consequências.
Concluída a licenciatura, em 1946, não era fácil
conseguir um emprego estável. Albuquerque Matos
procurou então completar a formação recebida na
Escola, fazendo uma série de estágios na Intendência
de Pecuária de Coimbra (1946), no Matadouro
Municipal de Lisboa (1946) e no Serviço de
Parasitologia do Laboratório Central de Patologia
Veterinária (1948). Frequentou também o Curso de
Avicultura, da Direcção Geral dos Serviços Pecuários
(1946). Mais tarde, já com uma boa formação
profissional, procurou actualizar-se em Reprodução
Animal e Inseminação Artificial (1952),
Aperfeiçoamento em Avicultura (1954) e Gestão
Avícola (1966).
Primeiras ocupações profissionais na
Metrópole
Naquele tempo, terminada a guerra, a desmobilização
de numerosos médicos veterinários (milicianos ou
militares) que reocupavam as suas antigas ocupações
teve como consequência natural uma saturação do
mercado, mesmo para um licenciado dos mais
graduados do seu curso, como era o caso do colega
Matos. Mesmo assim, depois de exercer clínica em
Cantanhede, foi veterinário assalariado na Intendência
de Pecuária de Coimbra (1947). Essa situação,
extremamente precária, não podia seduzi-lo.
As Colónias, que haviam sofrido um desenvolvimento notável durante esse período, surgiam como
recurso alternativo, principalmente Angola, com a sua
pecuária e pescado... Sabia-se pouco da complexa
patologia das populações animais, quase toda por
estudar. Simplesmente, a ida para qualquer das
colónias era feita por concurso público, pois os únicos
serviços existentes eram os oficiais, e o último ainda
estava válido. Aliás, o mesmo sucedia com outras
profissões como a Agronomia, a Silvicultura e a
Saúde. Desconhecia-se quando seria aberto novo
concurso.
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A Companhia de Diamantes de Angola Diamang
Em 1913 os três prospectores da Companhia de
Pesquisas Mineiras de Angola descobriram os
primeiros diamantes num acampamento junto à sua
fronteira Nordeste, na região da Lunda, a Oeste do rio
Cassai, em terras de habitantes ainda não submetidos
à ocupação portuguesa. Os postos militares mais
avançados encontravam-se a cerca de 300 km a oeste
do rio Cassai.
A Companhia de Diamantes de Angola (Diamang)
fundou-se em 16 de Outubro de 1917. Dificuldades
decorrentes da I Grande Guerra atrasaram as
explorações mineiras até 1919 quando se instalou na
Lunda. A produção diamantífera aumentou gradualmente obrigando ao incremento das populações
europeias e nativas. Criaram-se novos Serviços,
indispensáveis ao progresso da empresa que possuía o
exclusivo de pesquisa e lavra dos diamantes em toda a
Colónia. Para além dos serviços técnicos e administrativos indispensáveis ao seu progresso, criaram-se
serviços de assistência médico-sanitária, cultural
e recreativa para os seus trabalhadores e toda a
população do Chitado. Fundou-se o Museu do Dundo
e o Laboratório de Investigação Biológica, aos quais
iriam caber o estudo e conservação de colecções
referentes à Etnografia e História da Fauna, Flora,
Arqueologia, Mineralogia e Folclore da Lunda. Os
trabalhos efectuados pelos melhores especialistas
seriam divulgados pelas suas excelentes publicações
Culturais e Científicas. Igualmente surgiu a Estação
Meteorológica do Dundo que fornecia observações
destinadas à agricultura e à navegação aérea.
Além de tudo isso a Diamang preocupou-se com a
Pecuária que fornecia gado de trabalho e alimentos
para os seus os trabalhadores. Em 1919 a Companhia
ainda era abastecida a partir do Bié (Angola) e
Charlesville (Congo Belga). Existiam apenas algumas
pequenas criações de gado bovino indígena que
forneciam leite e manteiga aos empregados europeus.
Outras pequenas criações de ovinos, caprinos e suínos
contribuíam para o abastecimento em carne.
Em 1920 desenhou-se um grande projecto para a
criação de bovinos em larga escala, com um efectivo
de 6000 cabeças, divididas em manadas conduzidas
por pastores europeus a cavalo. Encontraram-se
grandes dificuldades na sua realização, sobretudo pela
elevada mortalidade causada pela peripneumonia
contagiosa. Em todo o caso o estado geral do gado era
bom, de tal modo que o Alto-comissário General
Norton de Matos, quando em 1921 visitou a Lunda,
recomendou que a produção fosse desenvolvida e
fosse contratado um médico-veterinário. Por esse
tempo a influência americana ainda era dominante e o
inglês a língua mais falada. No entanto a adopção da
referida recomendação levou à contratação do Dr.
Abel Pratas, que foi o primeiro médico veterinário ao
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serviço da Diamang, durante um curto período de
tempo, pois na sequência de desentendimento com o
"acting manager" Eng. Retie, foi-lhe imposto o fim do
contrato nos termos do art. 12º: quando isso conviesse
à Companhia, sem aviso prévio e sem justificar a
demissão, mediante o pagamento de uma indemnização
igual a "três meses de ordenado", como descrevemos
noutro local destas memórias.
Continuam, no entanto as aquisições de gado de
talho, tracção e criação. No fim de 1922 o efectivo era
de 2900 cabeças – dos quais 958 vacas e touros e 1072
bois de trabalho.
Em 1927 a ideia da criação própria de bovinos
sofreu um forte revés, por ter sido possível fazer a sua
aquisição nas Rodésias a preços inferiores aos de
Angola. As dificuldades na alimentação eram grandes,
as perdas pelas doenças muito elevadas. Em 1927 o
número de cabeças de bovinos mantém-se à volta das
4000 cabeças de bovinos. A Diamang decide vender as
suas principais explorações pecuárias à Companhia
Agrícola e Pecuária de Angola ("K") e durante os 20
anos seguintes limitar-se-á ao gado julgado necessário
para carne durante um ano e algumas vacas para
fornecimento de manteiga e leite aos empregados.
A partir de 1928 o fornecimento anual de gado
bovino passou a ser efectuado pela "K" e são os
médicos vetrinários que lhe prestam a assistência.
Foi somente depois de terminada a guerra de 1939-45
que a ideia de possuir explorações pecuárias próprias
se impôs, pelo desenvolvimento da Companhia e
consequente aumento das populações que a serviam.
Albuquerque de Matos na Diamang
Um anúncio publicado nos jornais diários, em
meados de 1947 deu-lhe conhecimento que a
Diamang procurava contratar um médico veterinário
para os seus serviços na Lunda. Respondendo ao
pedido, foi submetido a entrevista com o respectivo
administrador-delegado, Comandante Ernesto de
Vilhena, e seleccionado. O contrato que assinou, em
12 de Fevereiro de 1947, numa folha de papel selado
com $30, segundo escreve, «...era mais do que leonino,
era Diamantino e foi melhorando, com o passar do
tempo, pela aposição de cláusulas e novas exigências»
concluindo: «mas, ou se tinha necessidade e espírito
de aventura ou se rejeitava!». «Desses contratos
assinei eu cinco! Mas de 30 meses além dos
prolongamentos...».
O primeiro trabalho feito por Albuquerque Matos
para a Diamang foi prestar assistência, durante a
viagem a bordo do navio Benguela e depois até à
Lunda, a um núcleo de animais, adquiridos em
Portugal e constituído por gado leiteiro das raças
Turina e Holandesa, suínos Large-White e cavalos de
sela. Os três novilhos e uma novilha da raça Holandesa
foram cedidos pela Direcção Geral dos Serviços
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Pecuários do lote com uma centena de animais por ela
importados directamente da Holanda. Os bovinos de
raça Turina foram adquiridos na região de Aveiro e os
cavalos provieram da Estação Zootécnica Nacional.
Recordo ainda a passagem de Victor Matos por Nova
Lisboa, comandando a operação "Arca de Noé"
numa composição especial do caminho-de-ferro de
Benguela. Recordo-me que os animais foram
desembarcados para que descansassem, antes de
continuarem viagem. Tal como ele, eu também era
recém-chegado à colónia.
A Secção Agricolo-Pecuária foi desdobrada em
duas: "Agricultura" e "Pecuária", passando esta a ser
chefiada pelo médico veterinário a partir de Junho de
1948, a qual veio depois, como consequência do
desenvolvimento atingido, a ser transformada em
Serviço.
Vejamos, sumariamente, alguns resultados
conseguidos e programas estabelecidos.
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3 - Bovinos
3.1 - Produção de leite - Até 1948 todo o leite
consumido pelos empregados da companhia era
produzido por vacas indígenas, por vezes cruzadas
com touros turinos. Em 1948 fizeram-se as primeiras
importações de 10 vacas das raças turina e holandesa.
Conseguiram-se produções razoáveis de leite, pelo
que se fizeram novas importações de 44 animais em
1952 e 1955. O número de descendentes era de 115,
dos quais 66 vacas em fins de 1961.
Numa tentativa de criar animais adaptados à região
importaram-se da Rodésia do Sul (Zâmbia) 16
novilhas e 4 novilhos de raça Jersey que pudessem ser
mantidos em regime que não fosse o de estabulação
permanente. Contra as expectativas o efectivo Jersey
mostrou-se de difícil aclimatação. Dos cruzamentos
realizados existiam, em 1961, 55 animais dos quais só
13 tinham iniciado a produção. A produção de leite
passou de 93.561 litros em 1948 para 255.627 litros
em 1961.
1 - Avicultura
1.1 - Galináceos - Em fins de 1948 existiam apenas
umas escassas centenas de galináceos de raça
indefinida que haviam produzido 14.500 ovos e
fornecido 324 aves. Foram ensaiadas as raças
Leghorn, Australorp, Transmontana e Rhode Island
Red. Em 1952, importaram-se 1000 pintos do dia da
África do Sul e iniciou-se a avicultura em larga escala,
tornando já possível o fornecimento do respectivo
núcleo-base, constítuido por 1000 pintos do dia e 3000
ovos para incubação, ao aviário de Malange em 1955
e 1956. Posteriormente a raça Rhode Island foi
substituída pela New-Hampshire. A Secção de
Pecuária detinha dois aviários em 1961, com 13.844
galináceos que forneceram 9725 pintos de um dia,
18.144 aves para consumo e 604.977 ovos,
quantidades suficientes para o abastecimento da
população mais diferenciada. De assinalar que todas
as rações eram compostas à base de produtos locais.
Existiam incubadoras para 8000 ovos.
1.2 - Meleagrídeos - Depois de 1955 importaram-se
200 perus da raça Beltsville - Small White. No fim de
1961 existiam 798 perus e produziram-se 12.062 ovos.
1.3 - Palmípedes - Um pequeno núcleo KhakiCampbell, que forneceu, em 1961, 150 aves e 5594
ovos.
2 - Suínos
As criações de suínos de raças primitivas foram
sendo substituídas pelas de "Large-White" trazidas de
Portugal em 1948 e 1955. Em fins de 1961 existiam
534 animais que contribuíram com 670 adultos e
36 adolescentes para o abastecimento de carnes,
satisfazendo as necessidades locais.
3.2 - Produção de carne
3.2.1 - Gado de talho - Foi somente a partir de 1957
que se iniciaram criações de gado de corte na região.
Até esse ano todo o gado para o abastecimento de carne
era fornecido pela "K". Em 1961 o número de animais
adquiridos foi de 2247 e o de abatidos de 3346.
3.2.2 - Gado de criação - Depois de fazer o
reconhecimento da região, em 1954, para determinar
as zonas mais favoráveis, iniciaram-se, 2 anos depois,
as aquisições de pequenos núcleos de raças angolanas
no Sul da Colónia e, no ex-Congo Belga produtos
resultantes dos cruzamentos Afrikander e Devon. Os
bons resultados obtidos levaram ao aumento das
aquisições desta procedência e da Rodésia do Sul
(Zâmbia). No fim de 1961 o total de gado de criação
era de 11.000 cabeças, prevendo-se o auto-abastecimento em 1965, quando o gado de criação atingisse as
20.000. As vacas angolanas foram também submetidas
a ensaios de cruzamentos com touros Zebu, dando
excelentes resultados.
4 - Instalações
O programa de desenvolvimento pecuário, iniciado
em 1956, implicou a ocupação de terras que atingiam
5 anos depois o total de 79.500 hectares, divididos em
10 unidades. Foram abertas centenas de quilómetros
de "picadas", construídas pontes, casas para empregados
e trabalhadores e 350 quilómetros de vedações de
arame de aço a 4 fiadas. Ficaram existentes 10
tanques-banheiros por imersão e 4 por aspersão,
10 mangas de vacinação, 7 balanças para gado,
armazéns, barragens, captações de água, enfim, tudo o
que era indispensável a uma exploração pecuária de
grande envergadura como se propunha a Diamang.
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SUPLEMENTO
5 - Pessoal
Em 1952 o quadro do pessoal médico veterinário foi
aumentado para dois e depois para 5, por se preverem
graves problemas sanitários e não haver pessoal subalterno com treino adequado. Em todo caso, existiam 12
auxiliares de pecuária, 1 escriturário e um auxiliar de
construções. Com a alteração da Secção para Serviço
o quadro de médicos veterinários foi aumentado para
7, estando já preenchidas 4 vagas. Previa-se o aumento
dos auxiliares de pecuária para dezasseis, devido á
necessidade de instalar novas explorações.
Albuquerque Matos desempenhou funções de Chefe
de Secção de Pecuária até Setembro de 1960, Chefe do
Serviço Agro-pecuário de Fevereiro de 1961 a Julho
de 1962, quando a Secção foi desdobrada em dois
Serviços, ficando ele como chefe do Serviço de
Pecuária. O Serviço Agrário foi entregue a um
Engenheiro Agrónomo com vencimento superior ao
seu. Sentindo-se desconsiderado pela nova organização, requereu o fim do seu contrato e regressou a
Portugal em Abril de 1963.
Durante os 15 anos ao serviço da Diamang
organizou e desenvolveu a pecuária em moldes de
exploração racional, introduziu raças importadas de
bovinos, suínos e aves, estudou a sua aclimação,
patologia e condições locais de alimentação e reprodução; realizou a prospecção para o desenvolvimento
da criação extensiva de bovinos; na Circunscrição
do Chitado instalou 8 unidades de exploração que,
adicionadas às duas já existentes, totalizavam cerca de
80.000 hectares ocupados com 22.000 cabeças de
gado bovino. Para 1963 projectava-se a ocupação de
mais 12.000 hectares, para serem ocupados por mais
duas unidades de exploração.
A partir de 1951, em viagens de estudo percorreu
o ex-Congo Belga, a ex-África Equatorial Francesa e
a ex-Rodésia do Sul (Zâmbia). Os contactos com o
ex-Congo Belga mantiveram-se até 1961 por frequentes
viagens de informação e missões de compras. Em
Angola, colaborando com os Serviços de Veterinária,
realizou repetidas viagens de informação por toda a
Colónia e missões de compras no Sul, estacionando
alguns meses na região do Humbe, adquirindo gado
bovino e organizando a sua deslocação em autênticos
"comboios de gado" que se deslocavam "a passo de
boi" até à Lunda. Em Moçambique visitou Estações
Zootécnicas e as mais importantes criações de gado
bovino de leite e de corte.
Regresso a Portugal em 1963
Em Fevereiro de 1964 foi nomeado Delegado da
Comissão Reguladora do Comércio do Bacalhau, em
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Aveiro e Figueira da Foz. Interessou-se então pelos
problemas da pesca e da tecnologia do bacalhau e
pelos da respectiva armazenagem frigorífica. Por
inerência do cargo foi vogal permanente das
Comissões Técnicas Regionais dos Distritos de
Aveiro, Coimbra, Viseu, Leiria e Castelo Branco.
Contudo continuou a manter interesse pelos
problemas da produção pecuária, tendo realizado
viagens de estudo a organizações cooperativas da
Holanda e da França.
Regresso a Angola
A reforma do Dr. Abel Pratas, que fora Director dos
Serviços de Veterinária em Angola, durante várias
dezenas de anos, e a promoção do seu adjunto Dr.
Isidoro Martins dos Santos a Inspector Provincial,
estava gerando um natural movimento de interesse
pelo cargo de Director Provincial dos Serviços de
Veterinária que, nos termos do respectivo Estatuto, era
de livre escolha do Ministro de entre os médicos
veterinários chefes do quadro, o que não era do
agrado do Governo Central sempre cioso das suas
prerrogativas. Segundo a legislação em vigor só
excepcionalmente poderia essa nomeação recair num
médico veterinário privado. A escolha vai cair sobre
um médico veterinário que desenvolvera uma actividade excepcional ao serviço de uma empresa privada
- o colega Albuquerque de Matos - que é nomeado, em
comissão ordinária de serviço, por Portaria de 14 de
Setembro de 1967. Tomou posse no Ministério do
Ultramar, em 28 de Dezembro do mesmo ano e iniciou
as suas funções em Angola, em 25 de Janeiro de 1968.
Ficava dependente do Secretário Provincial do
Fomento Rural que era desempenhado por um outro
colega, o Dr. Vasco Antunes Sousa Dias. Por ocasião
da posse em Lisboa e sua confirmação em Luanda
produziram-se os habituais discursos, pelo Ministro,
pelo referido Secretário Provincial e pelo empossado.
Naturalmente que Albuquerque de Matos tinha o seu
próprio programa para o desempenho do seu cargo,
mas o mesmo sucedia com o Secretário Provincial Dr.
Sousa Dias que era quem mandava... Qualquer deles
possuía uma personalidade forte... e o choque foi
inevitável. Vítor Matos recusava-se a contemporizar
com a burocracia oficial, como profundo conhecedor
do meio ambiente e da sua melhor utilização para o
fomento pecuário em Angola. No desempenho das
suas funções foi: Presidente da Comissão Provincial
de Fomento Pecuário e Presidente do Conselho
Administrativo do Fundo de Fomento Pecuário; Vogal
do Conselho Administrativo da Caixa de Crédito
Agro-pecuário de Angola; Vogal do Grupo de
SUPLEMENTO
Trabalho para o Estudo do Fomento Pecuário do
Ultramar; Membro do Grupo de Trabalho para a
revisão do III Plano de Fomento (sector Pecuário)
em Angola; Presidente do Fundo de Caça; Vogal
do Conselho de Protecção da Natureza; Vogal
da Comissão Executiva da Junta Provincial de
Povoamento de Angola. Como Delegado de Angola
participou em numerosas reuniões internacionais em:
Paris, Luanda, Lourenço Marques, Pretória e
Johannesburg. Em 1969 visita oficialmente o Instituto
Francês para a Febre Aftosa e em Inglaterra os
Laboratórios de Weibridge e o Centro de Referência
Mundial para a Febre Aftosa em Pirbright. Em 1970
visita na República Federal Alemã: as Estações de
Melhoramento animal em Hanover, Warburg,
Landshut, Deustad e Munique.
Regresso definitivo a Portugal
Por despacho de 30 de Janeiro de 1971, foi-lhe
dada por finda a comissão ordinária de serviço como
Director Provincial dos Serviços de Veterinária de
Angola. Terminou as suas funções em 22 de Fevereiro
do mesmo ano e regressou a Lisboa no dia seguinte.
Foi louvado por despacho do Governador-geral de
Angola de 15 de Março de 1971.
Retoma funções na Comissão Reguladora do
Comércio do Bacalhau. O seu sentido de previdência
aconselhara-o a ir para Angola em comissão ordinária
de serviço e, desse modo, ficara com direito ao seu
lugar logo que terminasse aquela comissão.
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Trabalhos publicados
1 – Contribuição para o estudo da Doença
Respiratória Crónica das Aves – Furaltadona e
Tilosina-Furaltadona (1969). Instituto de Investigação
Científica de Angola, Luanda.
2 – Mycoplasma (1970). Bibliografia Temática –
Centro de Documentação Científica do Instituto de
Investigação Científica de Angola, Luanda.
3 – Intoxicações Alimentares – Procedimentos a
adoptar em surtos colectivos (col. de H. Tondela e
Cruz).
4 – Ocupação Pecuária de Angola (2005). RPCV,
100 (555-556): 115–123.
Nota do autor deste escrito – Infelizmente a maior
parte dos trabalhos científicos de Albuquerque Matos
perderam-se nos arquivos da Diamang. Muitos outros,
como os apresentados nas Jornadas Veterinárias de
Angola e de Moçambique foram apenas policopiados
e distribuídos aos participantes ou tiveram a publicação impedida por motivos relacionados com a independência de Angola.
Agradecimentos
À Exma. Senhora D. Maria Augusta Albuquerque de
Matos e ao colega H. Tondela e Cruz pelos elementos
recolhidos no arquivo pessoal do falecido e sem os
quais este trabalho não poderia ter sido escrito. Aos
colegas Alexandre Leitão e Cardoso Resende, pelos
seus incentivos e ajudas pessoais.
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