XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. DESEMPENHO LOGÍSTICO DO BRASIL NO COMÉRCIO INTERNACIONAL: ESTUDO DOS INDICADORES ALFÂNDEGA E PONTUALIDADE Marcos Fattibene (UFSCar/Sor) [email protected] ADRIANO BRAATZ MOURA (UFSCar/Sor) [email protected] Adriana Cassetari (UFSCar/Sor) [email protected] Jose Geraldo Vidal Vieira (UFSCar/Sor) [email protected] Joao Eduardo Azevedo Ramos da Silva (UFSCar/Sor) [email protected] O presente artigo tem por objetivo avaliar o desempenho logístico do Brasil no comércio internacional segundo os indicadores de Alfândega e Pontualidade, publicados anualmente pelo LPI, Logístics Performance Index, do Banco Mundial. A avaliiação teve como base um levantamento de dados realizado em 50 empresas de setores diversos, que mantém comércio internacional com vários países, sejam operações de importação, exportação ou ambas. A análise dos dados foi realizada por meio de estatística descritiva, teste t para amostra simples e análise discriminante. Os resultados obtidos permitiram constatar que a percepção dos entrevistados, no geral, contradiz a constatação do LPI sobre o desempenho desfavorável do Brasil quanto à Alfândega, e, também, traz elementos que contradizem o desempenho positivo no requisito Pontualidade, principalmente no que se refere à adição de prazos extra de entrega para as remessas de exportação e de importação. Palavras-chaves: Indicadores de desempenho logístico; Alfândega; Pontualidade. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 1. Introdução Segundo Dornier et al. (2007), atualmente os negócios são definidos em um ambiente global, forçando as empresas, independente de sua localização, a considerar o desempenho logístico internacional em suas estratégias competitivas. Integrações econômicas, diminuição das barreiras alfandegárias e o constante desenvolvimento de meios de transporte têm apresentado oportunidades de crescimento para os países que se mostrarem competitivos. Dentro desta dinâmica, analisar a logística de cada país pode indicar quais são suas características diferenciais e seus pontos mais vulneráveis. Com este objetivo, em 2007 foi criado o LPI - Logistic Performance Index, que analisa o desempenho logístico dos países participantes através de uma pesquisa do tipo “survey”. Ao todo, seis indicadores de desempenho são avaliados, a saber: Alfândega, Infraestrutura, Remessas Internacionais, Competência Logística, Rastreabilidade e Pontualidade. Em sua última edição, o LPI contou com ampla cobertura, incluindo 155 países divididos em cinco grupos, de acordo com o grau de desenvolvimento econômico (WORLD BANK, 2010). Diversos estudos acadêmicos fazem uso dos dados do LPI, como, por exemplo, os trabalhos de Ciortescu (2010) e Faria, Souza e Vieira (2011). O objetivo desta pesquisa é estudar os dois indicadores de desempenho brasileiros com avaliação extrema positiva e negativa, segundo o LPI: Pontualidade e Alfândega, respectivamente. Atenta-se que embora os critérios de mensuração desses índices não sejam os mesmos utilizados no LPI, avaliações adicionais sobre estes indicadores podem ajudar a ampliar o desempenho do Brasil no comércio internacional. 2. Revisão bibliográfica 2.1. Indicadores Logísticos Diversas organizações de classe e órgãos de pesquisa têm procurado subsidiar as práticas utilizadas no comércio exterior com instrumentos que avaliem e comparem as operações logísticas de cada país. Segundo Barbero (2010) para avaliar o desempenho logístico de um país podem ser usados três métodos: (i) análise macro com base nas contas nacionais; (ii) análise micro através de pesquisas no âmbito das empresas e das cadeias produtivas; e (iii) um enfoque de percepção com base em índices derivados de pesquisas entre atores selecionados. Kang et al. (2011) afirmam que os governos devem manter seus indicadores logísticos atualizados para a melhoria constante do desempenho do país no comércio internacional. A Tabela1, elaborada a partir de Barbero (2010), mostra que estudos e indicadores podem ser correlacionados e, a partir das análises dos índices, pode-se identificar os fatores críticos que afetam o desempenho logístico, permitindo o aprofundamento dos estudos em questões específicas e as comparações entre regiões e países. 2 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Estudo fonte/Indicador Fatores críticos Latin America Logistics Center As PMEs apresentam custos logísticos superiores aos das grandes empresas. Doing Business A facilitação comercial inadequada aumenta os tempos e os custos do comércio exterior. Logistics Performance Index Os principais problemas foram encontrados na documentação e nas inspeções, na alfândega, nos embarques internacionais e na impontualidade (tipicamente, transportadoras de carga que fazem entregas depois do prazo nos terminais portuários, sem respeitar os horários finais). Infrastructure Quality Group As rodovias figuram como a principal deficiência Trade Enablers A eficiência alfandegária e os servidos de transporte em geral figuram como os principais fatores determinantes. Fonte: BARBERO(2010) Tabela1 - Fatores críticos das comparações entre índices da América Latina e Caribe com os demais países 2.2. LPI O LPI é um índice criado para auxiliar os países a identificar desafios e oportunidades no desempenho da logística internacional por meio de técnicas estatísticas que consolidam dados em um único indicador, como mostra a Tabela 2. Essa abordagem permite realizar comparações entre países, regiões e grupos de renda, além de realizar diagnósticos para cada país individualmente. Países com LPI menor em um único indicador resultam de dois a quatro dias adicionais para movimentação entre o porto e o armazém da empresa e vice-versa. (WORLD BANK, 2010). Indicadores: Alfândega Infra estrutura Qualidade/competência logística Roteamento e Rastreamento Pontualidade Embarques internacionais Descrição Eficiência dos processos pelas alfândegas e outras agências de fronteiras Qualidade do transporte e infra estrutura de TI para logística Competência da indústria logística local Habilidade de rotear e rastrear embarques internacionais Pontualidade em que os embarques chegam no destino Facilidade e disponibilidade de embarques internacionais Outras Variáveis: Agencias de Exportação Agências de Importação Inspeção Física Inspeções Múltiplas Documentos para exportação Documentos para importação Liberação aduaneira c/ inspeção Liberação aduaneira s/ inspeção Número de agências de exportação Número de agência de importação Inspeção física dos embarques de importação Inspeções múltiplas dos embarques inspecionadas fisicamente Procedimentos alfandegários para exportações Procedimentos alfandegários para importações Tempo de liberação alfandegária com inspeção física. Tempo de liberação alfandegária sem inspeção física. Tabela 2 - Indicador e outros fatores que compõem o LPI Fonte: Adaptado de Faria, Souza e Vieira (2011) 3 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 2.2.1. Alfândega O indicador de desempenho “Alfândega” aborda a eficiência da rotina aduaneira, assim como os procedimentos do processo de liberação alfandegária: inspeção física, uso de submissão eletrônica, liberação antes e após a chegada, procedimentos de auditoria e a transparência dos procedimentos aduaneiros e administrativos, incluindo entre outros fatores, as mudanças na legislação. Segundo Nogueira et al. (2006), a competitividade brasileira é afetada por um conjunto de fatores que impedem que o Brasil participe ativamente do comércio internacional. A maioria deles está concentrada no chamado “Custo Brasil”, composto pelos altos custos do transporte terrestre, dos fretes internacionais, custos portuários e de comunicações, burocracia alfandegária, juros altos, custo dos encargos sociais, alto custo do capital, investimentos insuficientes em tecnologia e em infraestrutura, dificuldade em acesso ao financiamento das exportações, além de ter uma estrutura legislativa e tributária inadequadamente competitivas. Conforme apresenta o World Bank (2010), o tempo necessário para a liberação alfandegária dos produtos, que representa uma fração relativamente pequena do lead time total, aumenta significativamente quando as mercadorias passam por inspeção física ou por múltiplas inspeções de diversos agentes, tais como: inspeções de padrões de qualidade, órgãos de fiscalização de saúde ou agências sanitárias e fitossanitárias. Quanto à documentação para liberação alfandegária, dois ou três documentos são tipicamente requeridos nos países de maior pontuação no LPI, contra cinco ou seis documentos nos países com menor pontuação, segundo Faria, Souza e Vieira (2011), com base no LPI 2007. Segundo estes autores, em termos de desembaraço aduaneiro, o Brasil apresentou o quarto maior tempo das alfândegas para liberação com inspeção física (5,5 dias) e o décimo primeiro maior tempo para liberação sem inspeção física (1,7 dias). Apesar de o governo brasileiro ter base motivacional para exportação, com inúmeros incentivos recentes, a burocracia despendida para tanto realmente desmotiva as pequenas e micro empresas em investir em sua produção para exportar o excedente. No trâmite de liberação de cargas para exportação, caso as empresas não tenham capital de giro de retaguarda, essa demora pode afetar seu fluxo de caixa (MORO, 2008). 2.2.2. Pontualidade O indicador “Pontualidade” trata a frequência com que os embarques chegam ao destinatário dentro do prazo programado. De forma integrada, ele aborda questões como procedimentos aduaneiros, desempenho do porto, trânsito internacional e investimento em serviços. Segundo Dornier et al. (2007), a pontualidade é um importante fator de planejamento, já que muitos aspectos da logística têm prazos finais e as atividades também afetam a habilidade de outras partes do processo em atender seus próprios objetivos relativos a prazo. Os esforços em andamento quanto à gestão alfandegária necessitam focar com prioridade a resolução de questões que tornam os processos aduaneiros mais lentos, como a inspeção física e a proliferação de procedimentos (canal vermelho) em países de menor desempenho logístico (WORLD BANK, 2010). Nos países de menor desempenho, somente 50% dos respondentes do LPI 2010 registraram que as entregas são realizadas dentro do prazo. Portanto, adicionar recursos prevenindo 4 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. gargalos devido a atrasos inesperados, pode ser uma estratégia eficiente para países com baixo desempenho. Alguns sistemas direcionados à melhoria do desempenho logístico brasileiro no comércio internacional foram implantados pelo Governo a partir do ano 2000, dentre os quais o Novoex e o SISCOMEX carga, o projeto Porto sem papel, o Despacho simplificado de exportação (DSE) e a Declaração Simplificada de importação (DSI). Tais medidas demonstram a preocupação das autoridades do país em abrandar a burocracia alfandegária, simplificando procedimentos e utilizando meios eletrônicos para o preenchimento e trâmite da documentação requerida, mantendo e/ou elevando a eficiência fiscal. 3. Metodologia Esta pesquisa se caracteriza como descritiva, cujo objeto de análise são as respostas dadas por profissionais que trabalham com logística internacional, que participaram do levantamento de dados sobre desempenho logístico. Conforme Andrade (2005), a pesquisa descritiva se caracteriza pela não interferência do pesquisador na observação, registro, análise, classificação e interpretação dos “fatos” e percepções de pessoas sobre um determinado assunto. No que tange ao método, a pesquisa adota a técnica de levantamento de dados ou “survey” eletrônico, que busca “[...] descrever com exatidão algumas características de populações designadas” (VIEIRA, 2009). Segundo Simsek (1999), o survey eletrônico tem como vantagens a economia de custo e a velocidade na realização da pesquisa. Neste estudo, o survey eletrônico se mostrou mais adequado para os propósitos da pesquisa, pois busca descrever e explicar as características do posicionamento do Brasil no comércio internacional, segundo os dois indicadores de interesse: Alfândega e Pontualidade. O questionário foi elaborado a partir do LPI, porém as questões relacionadas aos indicadores Alfândega e Pontualidade foram reformuladas a partir de um pré-teste com empresas brasileiras. Portanto, para captar as percepções dos respondentes, as questões foram baseadas na realidade das transações brasileiras no comércio internacional. O questionário foi encaminhado aos profissionais selecionados via correio eletrônico nos meses de dezembro de 2011 e janeiro de 2012, sendo estruturado em duas partes: i) perfil do respondente; ii) opinião dos respondentes sobre temas dentro e fora do LPI. O instrumento de pesquisa foi composto por doze perguntas fechadas, três delas com escala do tipo Likert, com respostas a assinalar do tipo: - (1) Discordo totalmente; - (2) Discordo na maior parte; - (3) Não concordo nem discordo; - (4) Concordo na maior parte; - (5) Concordo totalmente. A Tabela 3 mostra as variáveis relacionadas à Alfândega e Pontualidade coletadas na pesquisa. 5 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Atributos dos indicadores de desempenho logístico Alfândega Pontualidade Transparência no desembaraço aduaneiro Atrasos nas operações de gestão de armazenagem Informações disponíveis quanto a normas/regulamentos Atrasos devido a transbordos Atrasos na inspeção pré-embarque Adição de prazos extras na importação/exportação Pagamento de propina Atrasos na entrega de mercadorias Ocorrências criminais Tabela 3 - Atributos de Alfândega e Pontualidade O universo da pesquisa abrangeu profissionais de diversos setores que atuam no comércio internacional. A amostra, composta por 50 empresas, teve caráter aleatório, pois, partiu-se de uma lista de profissionais feita por meio de contatos dos autores, ampliada à medida que se avançou com a aplicação do questionário por meio de indicações dos próprios respondentes. Portanto, a amostra pode ser caracterizada como não probabilística e intencional que, segundo Vieira (2009), deve ser utilizada quando se está interessado na opinião de determinados elementos da população, mesmo que não representem o universo. Para análise dos dados, adotou-se uma abordagem quantitativa. Martins e Theófilo (2007, p. 103) afirmam que uma pesquisa é classificada como quantitativa quando pode “organizar, sumarizar, caracterizar e interpretar os dados numéricos coletados”. Dessa forma, realizou-se a verificação da percepção dos respondentes por meio da estatística descritiva (média, desviopadrão, quartis etc.). Segundo Malhotra (2001), fazer uma observação inicial dos dados por meio da análise descritiva é relevante para se obter maior conhecimento da amostra, antes de avançar para outros métodos mais robustos. Por fim, para a análise conjunta dos índices de desempenho Alfândega e Pontualidade, realizou-se uma análise discriminante múltipla (ADM) com base nos critérios que formam os dois índices. 4. Resultados e discussões 4.1. Perfil dos respondentes A amostra composta por 50 observações representa profissionais que ocupam cargos variados, como executivos, gerentes, supervisores, analistas e coordenadores. Dentre esses cargos, a pesquisa revelou que os profissionais que trabalham diretamente com operações logísticas representam 30% dos respondentes. Cerca de 50% da amostra foi constituída por empresas relativamente pequenas, em torno 50 a 250 funcionários, e cerca de 30% por grandes empresas, acima de 1000 funcionários, sendo todas elas com atuação no ramo de exportação de commodities agrícolas, produtos alimentícios, madeira, químicos e petroquímicos; e importação de produtos manufaturados. Aproximadamente 30% das empresas atuavam na exportação, 30% na importação e o restante em ambos. As empresas ainda prestavam serviços de distribuição e armazenagem de carga, serviços customizados de logística e outros serviços logísticos como embarque de containers e cargas a granel. 6 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Segundo os registros, o modal mais utilizado foram o aquaviário (marítimo) e o rodoviário ou a combinação dos dois (multimodal). As regiões de comércio abrangem países europeus, do oriente médio, Estados Unidos e China. 4.2. Opinião dos respondentes Segundo os entrevistados, o desempenho logístico do Brasil no comércio internacional tem vários entraves, entre eles o baixo investimento em infraestrutura aeroportuária e principalmente portuária, burocracia no desembaraço alfandegário, pequeno investimento de parcerias público-privado e alto valor de taxas e impostos nas transações. Para a maioria dos respondentes, o investimento em infraestrutura poderia ser uma das principais ações governamentais para melhorar o desempenho logístico, seguido da diminuição dos valores de taxas e impostos alfandegários e a diminuição de burocracia alfandegária. Neste sentido, considerando a escala Likert de 1 a 5 (sendo 1 o grau mais baixo e 5 o grau mais alto), 95% dos respondentes declararam como baixo a médio o índice de desempenho do processo de desembaraço pelos órgãos brasileiros no comércio internacional, incluindo o trâmite alfandegário, disponibilidade de informação adequada no tempo certo, transparência e velocidade das transações. A Tabela 4 mostra o resultado da pesquisa quando há comparação de características das transações entre o Brasil e os países que as empresas comercializam. Apesar de serem apenas percepções dos respondentes, estes são aspectos ou características interessantes que revelam as deficiências, e ao mesmo tempo, oportunidades de melhoria para o Brasil no comércio exterior. Talvez isto se refira à baixa credibilidade que as pessoas dão à gestão dos órgãos governamentais do Brasil. Foi utilizada a escala Likert com notas de 1 a 5 (sendo os extremos, 1 discordo totalmente e 5 concordo totalmente). Característica Média Devio-Padrão Mediana Elevados custos de transporte, embarque e estocagem 3,8 1,2 4 Alta agilidade e eficiência dos órgãos governamentais 2,4 1,2 2 As normas e regulamentos são atualizadas 2,7 1,0 3 Alta confiabilidade dos prazos de entrega 2,6 1,0 3 Forte cumprimento das leis 2,7 1,2 3 Tabela 4. Estatística descritiva de aspectos das transações comerciais Observa-se pela Tabela 2 que, para a maioria dos respondentes, o Brasil apresenta características que dificultam as transações no comércio exterior. As duas primeiras características mostram as maiores médias, mas também o maior desvio padrão das notas. No entanto, a mediana mostra que mais da metade das respostas confirmam estatisticamente a insatisfação dos respondentes quanto à baixa eficiência em infraestrutura logística e à alta burocracia no desembaraço aduaneiro. Quanto à característica “Elevados custos de transporte, embarque e estocagem”, este resultado denota, de certa forma, a falta de infraestrutura logística adequada para escoamento e guarda 7 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. dos produtos, via importação ou exportação. A pesquisa também destaca o fraco desempenho da característica “Alta agilidade e eficiência dos órgãos governamentais”. Este resultado sugere que existe forte burocracia no desembaraço aduaneiro e assimetrias de informação entre os órgãos públicos e as empresas privadas, quando comparados aos principais países parceiros. A seção seguinte mostra os resultados em relação aos indicadores de desempenho “Alfândega” e “Pontualidade” e uma discussão da melhoria dos resultados do Brasil à luz dessas variáveis, segundo as percepções dos respondentes. 4.3. Indicador de desempenho “Alfândega” Em geral o indicador “Alfândega” é apontado como um dos que o Brasil apresenta maior deficiência, tanto pelo lado da burocracia para o desembaraço aduaneiro, com elevada exigência de documentos, inspeções e quantidade de agências para emissão de documentos solicitados por órgãos brasileiros, entre outros, quanto do lado da assimetria de informação existente entre os órgãos controladores e as empresas privadas. Um fato interessante se observa na Figura 1, que contraria a opinião pública, que sinaliza que as empresas pouco têm se deparado com situações de corrupção e questões de sinistro. Ou seja, para os respondentes, o pagamento de propina e atividades criminais, relacionadas à roubos e furtos, apresentaram uma pontuação menor. Isto sugere uma evolução da credibilidade das empresas frente àquelas de outros países ou que as transações são realizadas sob forte esquema de segurança ou, ainda, de que os parceiros são de alta idoneidade. Figura 1. Atributos de Alfândega Por outro lado, a Figura 1 indica que quando se analisa os dados referentes aos atributos de Alfândega, por meio de estatística descritiva, as respostas indicam valores próximos à média. Ou seja, dentro da escala Likert com nota 3, as informações referentes às normas e regulamentos são atualizadas e disponibilizadas às empresas, “às vezes” há transparência no desembaraço aduaneiro e “às vezes” a burocracia causa atrasos na inspeção pré-embarque. Portanto, torna-se necessário melhor entendimento dessas opiniões. 8 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Considerando a Lei dos Grandes Números, partiu-se do pressuposto de que a amostra de dados segue uma distribuição normal. Logo, foi aplicado o teste t para uma amostra simples com o objetivo de comparar a média de uma variável em relação a um valor fixo. A hipótese nula utilizada foi: “a média de cada atributo é igual a 3 (valor médio)”. Se a hipótese nula for rejeitada quer dizer que há uma maior ou menor valor para os atributos. A Tabela 5 mostra os resultados da aplicação do teste t. Atenta-se que os dois primeiros atributos possuem características positivas e os demais características negativas. Atributos Distribuição t Valor Sig. Desvio padrão 1,79 0,04 0,35 -3,21 -14,14 -10,61 Transparência no desembaraço aduaneiro Informações disponíveis quanto a normas/regulamentos Atrasos na inspeção pré-embarque Pagamento de propina Ocorrência de atividades criminais 48 graus de liberdade Limites do intervalo de confiança 1,03 Inferior 2,96 Superior 3,56 0,36 1,23 2,70 3,41 0,00 0,00 0,00 1,02 0,70 0,87 2,23 1,37 1,42 2,82 1,77 1,92 Valor de referência = 3 Interv. de confiança de 95% Tabela 5. Teste t para os atributos de Alfândega A Tabela 5 mostra que o teste t para o atributo “Informações disponíveis quanto às normas/regulamentos” não apresentou valor significativo (t=0,35), mantendo-se a hipótese nula. Para os demais o teste t foi significativo, apresentando média superior a 3 para o atributo “Transparência no desembaraço aduaneiro” e inferiores a 3 para os demais. Logo, pode-se dizer que os respondentes têm boa percepção em relação aos “Atrasos na inspeção préembarque”, ao “Pagamento de propinas” e à “Ocorrência de atividades criminais” como, por exemplo, roubo ou furto de carga. Os resultados sugerem uma melhoria dos processos alfandegário do Brasil frente às transações de importação e exportação, principalmente em relação à corrupção. De fato, pelo tamanho reduzido da amostra e pela variabilidade dos dados, não se pode comprovar a veracidade das informações no âmbito geral. De qualquer forma, para esta amostra, o indicador Alfândega não tem se mostrado como o mais crítico dentre os indicadores que são utilizados para medir o desempenho logístico do país no comércio internacional. Talvez essas percepções reflitam mudanças recentes e, neste caso, a pesquisa deve abranger um maior número de participantes para que tais fatos possam ou não ser corroborados e generalizados. 4.4. Indicador de desempenho “Pontualidade” O indicador “Pontualidade” é dependente de uma infraestrutura logística adequada às transações entre os parceiros. Ou seja, espera-se que as empresas importadoras e exportadoras possam usufruir de uma infraestrutura básica de transporte e sistemas de informação que confiram maior agilidade para o escoamento seguro de mercadorias, bem como a recepção destas de forma rápida e sem avarias. Com o aumento do comércio internacional, espera-se que as empresas privadas invistam em infraestrutura de armazenagem e tecnologia de informação para controle e manutenção de 9 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. veículos, centros de distribuição, com recursos de rastreabilidade e monitoramento de produtos e veículos. Os resultados obtidos mostram que as empresas apresentam forte incremento de prazos extras nas transações de importação e exportação, como medida de precaução aos atrasos de suas remessas. Na importação, há necessidade de melhorias no recebimento nos portos e aeroportos e aumento de velocidade no desembaraço, transbordo e chegada ao destino final. Na exportação, o processo pode ser ainda mais complexo devido à adição da etapa de consolidação de carga. A análise por meio de estatística descritiva mostrou valores medianos abaixo da média 3. Para verificar estaticamente se os valores representam um cenário positivo, foi aplicado o teste t para amostra simples nos mesmos moldes do indicador “Alfândega” (Tabela 6). Atributos Atrasos nas operações de gestão de armazenagem Adição de prazos extras na importação/exportação Atrasos devido a transbordos Atrasos na entrega de mercadorias 48 graus de liberdade Limites do intervalo de confiança Inferior Superior Distribuição t Valor Sig. Desvio padrão -0,79 0,21 0,89 2,64 3,15 10,12 -0,74 0,00 0,23 0,89 0,96 4,03 2,62 4,54 3,17 2,81 0,00 1,11 Valor de referência = 3 3,12 3,77 Intervalo de confiança=95% Tabela 6 - Teste t para os atributos de Pontualidade A Tabela 6 mostra que o teste t não foi significativo para “Atrasos nas operações de gestão de armazenagem” e “Atrasos devido a transbordos”. Logo, não se pode afirmar que esses atributos possam refletir um baixo índice de pontualidade. No entanto, seguramente ocorrem “Atrasos na entrega de mercadorias” mesmo que se tenha que adicionar prazos extras. Este fato alerta que as empresas e os órgãos públicos devem procurar investir em tecnologia de informação para melhor a agilidade na entrega das mercadorias no destino final. 4.5. Análise conjunta dos indicadores “Alfândega” e “Pontualidade” O objetivo desta seção é fazer uma análise conjunta dos indicadores “Alfândega” e “Pontualidade” a partir da média aritmética e desvio-padrão de seus respectivos atributos. Esta medida pareceu ser razoável, pois o cálculo do desvio-padrão se mostrou baixo. Para a análise do desempenho logístico das empresas segundo esses indicadores, utilizou-se a Análise Discriminante Múltipla (ADM) que consiste na análise de regressão quando se deseja verificar o comportamento de mais de dois grupos dentro da amostra. Essa técnica estatística usa informações disponíveis num conjunto de variáveis independentes (no caso Alfândega e Pontualidade) para prever o valor da variável dependente (Desempenho logístico das empresas ou análise conjunta desses dois indicadores). O objetivo foi criar uma regra de classificação para prever e confirmar a qual grupo cada observação pertence. Neste sentido, optou-se pela escolha dos três seguintes grupos: - Grupo 1 - Desempenho acima da média (Alto Desempenho Logístico – ADL); 10 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. - Grupo 2 - Desempenho médio (Médio Desempenho Logístico - MDL); - Grupo 3 - Desempenho abaixo da média (Baixo Desempenho Logístico – BDL). Embora para os grupos, cada amostra tenha sido calculada pela média, a ADM confirmou estatisticamente, pela medida de distância de Mahalanobis, o grupo que cada observação está mais próxima. Assim, foi possível discriminar a porcentagem de respostas que se enquadram nos grupos de desempenho para cada indicador. A Tabela 7 mostra os resultados da ADM. Grupo Previsto TOTAL Grupo Real ADL MDL BDL Alto desempenho logistico (ADL) 4 0 0 4 Médio desempenho logístico (MDL) 0 34 2 36 Baixo desempenho logístico (BDL) 0 0 9 9 TOTAL 4 34 11 49 Percentual de observações por Grupo previsto 8 69 22 100 Percentagem total de acerto (%) 95,9 Tabela 7 - Análise conjunta dos indicadores Alfândega e Pontualidade A Tabela 7 mostra que as amostras de Alto Desempenho Logístico (ADL) e de Baixo Desempenho Logístico (BDL) estavam corretamente classificadas como provenientes dos respectivos grupos (Grupo Real), enquanto que duas observações do grupo de Médio Desempenho Logístico (MDL) foram classificadas no grupo BDL (Grupo Previsto). A alta porcentagem de acerto mostra que os grupos foram divididos e as amostras classificadas de maneira correta. Logo, pode-se afirmar estatisticamente que os indicadores Alfândega e Pontualidade, quando analisados de maneira conjunta, refletem um médio desempenho logístico para a maioria dos respondentes. 5. Considerações finais Este trabalho buscou analisar a visão de um grupo de profissionais, que representam cinquenta empresas que atuam no comércio internacional, sobre o desempenho do Brasil quanto aos índices de desempenho “Alfândega” e “Pontualidade”, que fazem parte das análises do LPI. Os indicadores de desempenho logístico quando analisados conjuntamente indicaram uma avaliação positiva do Brasil. Para o indicador Alfândega, conclui-se que os “atrasos na inspeção pré-embarque”, “pagamento de propinas”, “ocorrência de atividades criminais” e “transparência no desembaraço aduaneiro” não comprometem o desempenho logístico do Brasil, pois foram conceituados com uma avaliação positiva. Para Pontualidade, é interessante notar que a “adição de prazos extras na importação/exportação” foi avaliada negativamente, 11 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. ou seja, atrasos nessas atividades são recorrentes, o que implica em adotar medidas de precaução para entrega/envio de remessas nas transações de comércio internacional. A pesquisa é limitada pelo restrito tamanho da amostra, e assim, suas conclusões não podem ser generalizadas para todo o Brasil. Para estudos complementares, recomenda-se: (i) reaplicar esta pesquisa no mesmo grupo selecionado, para identificar a evolução da percepção destes mesmos profissionais em relação aos indicadores avaliados; (ii) ampliar a pesquisa a um grupo mais representativo de profissionais ligados à logística internacional e (iii) ampliar o escopo com outros indicadores considerados no LPI, que possam sugerir caminhos e políticas promissores para a melhoria do desempenho logístico brasileiro no comércio exterior. Referências ANDRADE, M. M. Introdução à metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005. BARBERO, J. A. A logística de cargas na América Latina e no Caribe: uma agenda para melhorar seu desempenho. Banco Interamericano de Desenvolvimento, Normas técnicas. No. IDB-TN-103. 2010. CIORTESCU, C. G. Performance assessment in operating dry ports. Annals of Faculty of Economics, Örebro, n., p.934-938, 2010. DORNIER, P. P.; ERNST, R.; KOUVELIS, P. Logística e Operações Globais: Texto e Casos. 1a São Paulo: Atlas, 2007. 721 p. FARIA, R. N; SOUZA, C. S.; VIEIRA, J. G. V. Evaluation of logistic performance indicators of Brazil in the international trade. In: The 18th International Annual Euroma Conference, 2011, Cambridge. 18th International Annual EurOMA Conference Exploring interfaces. Cambridge: University of Cambridge, Institute for Manufacturing, 2011. v. 1. p. 6-151. KANG, S; HUR, S. H; YOON, T; SONG, M; SON, H. A Study on the Development of Performance Indicators for National Logistics Policy Proceedings of the Eastern Asia Society for Transportation Studies, Vol. 2011 (2011) No. SPACE pp.122 MARTINS, G.; THEÓPHILO, C. R. Metodologia da investigação científica para Ciências Sociais Aplicadas. São Paulo: Atlas, 2007. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. MORO, M. Entraves ao Fluxo das Operações de Exportação das Vinícolas da Região do Alto Vale do Rio do Peixe. 2008. Monografia. (Aperfeiçoamento/Especialização em MBA em Logística Empresarial) - Fundação dos Administradores de Santa Catarina. Orientador: Francine Barcellos Régis. NOGUEIRA, N. PV. ; VELHO, P. R. ; ACHCAR, J. A. O desempenho das exportações brasileiras frente aos mecanismos de financiamento entre 1995 e 2005. Revista UNIARA, v.1, p. 107-124, 2006. ; Meio de divulgação: Impresso; Série: 19; ISSN/ISBN: 14153580. SIMSEK, Z. Sample surveys via eletronic mail: a comprehensive perspective. RAE: Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 77-83, 1999. VIEIRA, S. Como Elaborar Questionários, Ed. Atlas, São Paulo-SP, 2009. WORLD BANK (2010). The Logistics Performance Index and Its Indicators. Connecting To Compete: Trade Logistics in the Global Economy, Washington, v. 2, n., p.01-64, 2010. 12