XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
DESEMPENHO LOGÍSTICO DO BRASIL
NO COMÉRCIO INTERNACIONAL:
ESTUDO DOS INDICADORES
ALFÂNDEGA E PONTUALIDADE
Marcos Fattibene (UFSCar/Sor)
[email protected]
ADRIANO BRAATZ MOURA (UFSCar/Sor)
[email protected]
Adriana Cassetari (UFSCar/Sor)
[email protected]
Jose Geraldo Vidal Vieira (UFSCar/Sor)
[email protected]
Joao Eduardo Azevedo Ramos da Silva (UFSCar/Sor)
[email protected]
O presente artigo tem por objetivo avaliar o desempenho logístico do
Brasil no comércio internacional segundo os indicadores de Alfândega
e Pontualidade, publicados anualmente pelo LPI, Logístics
Performance Index, do Banco Mundial. A avaliiação teve como base
um levantamento de dados realizado em 50 empresas de setores
diversos, que mantém comércio internacional com vários países, sejam
operações de importação, exportação ou ambas. A análise dos dados
foi realizada por meio de estatística descritiva, teste t para amostra
simples e análise discriminante. Os resultados obtidos permitiram
constatar que a percepção dos entrevistados, no geral, contradiz a
constatação do LPI sobre o desempenho desfavorável do Brasil quanto
à Alfândega, e, também, traz elementos que contradizem o desempenho
positivo no requisito Pontualidade, principalmente no que se refere à
adição de prazos extra de entrega para as remessas de exportação e de
importação.
Palavras-chaves: Indicadores de desempenho logístico; Alfândega;
Pontualidade.
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1. Introdução
Segundo Dornier et al. (2007), atualmente os negócios são definidos em um ambiente global,
forçando as empresas, independente de sua localização, a considerar o desempenho logístico
internacional em suas estratégias competitivas.
Integrações econômicas, diminuição das barreiras alfandegárias e o constante
desenvolvimento de meios de transporte têm apresentado oportunidades de crescimento para
os países que se mostrarem competitivos. Dentro desta dinâmica, analisar a logística de cada
país pode indicar quais são suas características diferenciais e seus pontos mais vulneráveis.
Com este objetivo, em 2007 foi criado o LPI - Logistic Performance Index, que analisa o
desempenho logístico dos países participantes através de uma pesquisa do tipo “survey”.
Ao todo, seis indicadores de desempenho são avaliados, a saber: Alfândega, Infraestrutura,
Remessas Internacionais, Competência Logística, Rastreabilidade e Pontualidade. Em sua
última edição, o LPI contou com ampla cobertura, incluindo 155 países divididos em cinco
grupos, de acordo com o grau de desenvolvimento econômico (WORLD BANK, 2010).
Diversos estudos acadêmicos fazem uso dos dados do LPI, como, por exemplo, os trabalhos
de Ciortescu (2010) e Faria, Souza e Vieira (2011).
O objetivo desta pesquisa é estudar os dois indicadores de desempenho brasileiros com
avaliação extrema positiva e negativa, segundo o LPI: Pontualidade e Alfândega,
respectivamente. Atenta-se que embora os critérios de mensuração desses índices não sejam
os mesmos utilizados no LPI, avaliações adicionais sobre estes indicadores podem ajudar a
ampliar o desempenho do Brasil no comércio internacional.
2. Revisão bibliográfica
2.1. Indicadores Logísticos
Diversas organizações de classe e órgãos de pesquisa têm procurado subsidiar as práticas
utilizadas no comércio exterior com instrumentos que avaliem e comparem as operações
logísticas de cada país.
Segundo Barbero (2010) para avaliar o desempenho logístico de um país podem ser usados
três métodos: (i) análise macro com base nas contas nacionais; (ii) análise micro através de
pesquisas no âmbito das empresas e das cadeias produtivas; e (iii) um enfoque de percepção
com base em índices derivados de pesquisas entre atores selecionados.
Kang et al. (2011) afirmam que os governos devem manter seus indicadores logísticos
atualizados para a melhoria constante do desempenho do país no comércio internacional.
A Tabela1, elaborada a partir de Barbero (2010), mostra que estudos e indicadores podem ser
correlacionados e, a partir das análises dos índices, pode-se identificar os fatores críticos que
afetam o desempenho logístico, permitindo o aprofundamento dos estudos em questões
específicas e as comparações entre regiões e países.
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Estudo fonte/Indicador
Fatores críticos
Latin America Logistics Center
As PMEs apresentam custos logísticos superiores aos das grandes empresas.
Doing Business
A facilitação comercial inadequada aumenta os tempos e os custos do comércio exterior.
Logistics Performance Index
Os principais problemas foram encontrados na documentação e nas inspeções, na
alfândega, nos embarques internacionais e na impontualidade (tipicamente,
transportadoras de carga que fazem entregas depois do prazo nos terminais portuários,
sem respeitar os horários finais).
Infrastructure Quality Group
As rodovias figuram como a principal deficiência
Trade Enablers
A eficiência alfandegária e os servidos de transporte em geral figuram como os
principais fatores determinantes.
Fonte: BARBERO(2010)
Tabela1 - Fatores críticos das comparações entre índices da América Latina e Caribe com os demais países
2.2. LPI
O LPI é um índice criado para auxiliar os países a identificar desafios e oportunidades no
desempenho da logística internacional por meio de técnicas estatísticas que consolidam dados
em um único indicador, como mostra a Tabela 2. Essa abordagem permite realizar
comparações entre países, regiões e grupos de renda, além de realizar diagnósticos para cada
país individualmente. Países com LPI menor em um único indicador resultam de dois a quatro
dias adicionais para movimentação entre o porto e o armazém da empresa e vice-versa.
(WORLD BANK, 2010).
Indicadores:
Alfândega
Infra estrutura
Qualidade/competência logística
Roteamento e Rastreamento
Pontualidade
Embarques internacionais
Descrição
Eficiência dos processos pelas alfândegas e outras agências de fronteiras
Qualidade do transporte e infra estrutura de TI para logística
Competência da indústria logística local
Habilidade de rotear e rastrear embarques internacionais
Pontualidade em que os embarques chegam no destino
Facilidade e disponibilidade de embarques internacionais
Outras Variáveis:
Agencias de Exportação
Agências de Importação
Inspeção Física
Inspeções Múltiplas
Documentos para exportação
Documentos para importação
Liberação aduaneira c/ inspeção
Liberação aduaneira s/ inspeção
Número de agências de exportação
Número de agência de importação
Inspeção física dos embarques de importação
Inspeções múltiplas dos embarques inspecionadas fisicamente
Procedimentos alfandegários para exportações
Procedimentos alfandegários para importações
Tempo de liberação alfandegária com inspeção física.
Tempo de liberação alfandegária sem inspeção física.
Tabela 2 - Indicador e outros fatores que compõem o LPI
Fonte: Adaptado de Faria, Souza e Vieira (2011)
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2.2.1. Alfândega
O indicador de desempenho “Alfândega” aborda a eficiência da rotina aduaneira, assim como
os procedimentos do processo de liberação alfandegária: inspeção física, uso de submissão
eletrônica, liberação antes e após a chegada, procedimentos de auditoria e a transparência dos
procedimentos aduaneiros e administrativos, incluindo entre outros fatores, as mudanças na
legislação.
Segundo Nogueira et al. (2006), a competitividade brasileira é afetada por um conjunto de
fatores que impedem que o Brasil participe ativamente do comércio internacional. A maioria
deles está concentrada no chamado “Custo Brasil”, composto pelos altos custos do transporte
terrestre, dos fretes internacionais, custos portuários e de comunicações, burocracia
alfandegária, juros altos, custo dos encargos sociais, alto custo do capital, investimentos
insuficientes em tecnologia e em infraestrutura, dificuldade em acesso ao financiamento das
exportações, além de ter uma estrutura legislativa e tributária inadequadamente competitivas.
Conforme apresenta o World Bank (2010), o tempo necessário para a liberação alfandegária
dos produtos, que representa uma fração relativamente pequena do lead time total, aumenta
significativamente quando as mercadorias passam por inspeção física ou por múltiplas
inspeções de diversos agentes, tais como: inspeções de padrões de qualidade, órgãos de
fiscalização de saúde ou agências sanitárias e fitossanitárias.
Quanto à documentação para liberação alfandegária, dois ou três documentos são tipicamente
requeridos nos países de maior pontuação no LPI, contra cinco ou seis documentos nos países
com menor pontuação, segundo Faria, Souza e Vieira (2011), com base no LPI 2007.
Segundo estes autores, em termos de desembaraço aduaneiro, o Brasil apresentou o quarto
maior tempo das alfândegas para liberação com inspeção física (5,5 dias) e o décimo primeiro
maior tempo para liberação sem inspeção física (1,7 dias).
Apesar de o governo brasileiro ter base motivacional para exportação, com inúmeros
incentivos recentes, a burocracia despendida para tanto realmente desmotiva as pequenas e
micro empresas em investir em sua produção para exportar o excedente. No trâmite de
liberação de cargas para exportação, caso as empresas não tenham capital de giro de
retaguarda, essa demora pode afetar seu fluxo de caixa (MORO, 2008).
2.2.2. Pontualidade
O indicador “Pontualidade” trata a frequência com que os embarques chegam ao destinatário
dentro do prazo programado. De forma integrada, ele aborda questões como procedimentos
aduaneiros, desempenho do porto, trânsito internacional e investimento em serviços.
Segundo Dornier et al. (2007), a pontualidade é um importante fator de planejamento, já que
muitos aspectos da logística têm prazos finais e as atividades também afetam a habilidade de
outras partes do processo em atender seus próprios objetivos relativos a prazo.
Os esforços em andamento quanto à gestão alfandegária necessitam focar com prioridade a
resolução de questões que tornam os processos aduaneiros mais lentos, como a inspeção física
e a proliferação de procedimentos (canal vermelho) em países de menor desempenho logístico
(WORLD BANK, 2010).
Nos países de menor desempenho, somente 50% dos respondentes do LPI 2010 registraram
que as entregas são realizadas dentro do prazo. Portanto, adicionar recursos prevenindo
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gargalos devido a atrasos inesperados, pode ser uma estratégia eficiente para países com baixo
desempenho.
Alguns sistemas direcionados à melhoria do desempenho logístico brasileiro no comércio
internacional foram implantados pelo Governo a partir do ano 2000, dentre os quais o Novoex
e o SISCOMEX carga, o projeto Porto sem papel, o Despacho simplificado de exportação
(DSE) e a Declaração Simplificada de importação (DSI). Tais medidas demonstram a
preocupação das autoridades do país em abrandar a burocracia alfandegária, simplificando
procedimentos e utilizando meios eletrônicos para o preenchimento e trâmite da
documentação requerida, mantendo e/ou elevando a eficiência fiscal.
3. Metodologia
Esta pesquisa se caracteriza como descritiva, cujo objeto de análise são as respostas dadas por
profissionais que trabalham com logística internacional, que participaram do levantamento de
dados sobre desempenho logístico. Conforme Andrade (2005), a pesquisa descritiva se
caracteriza pela não interferência do pesquisador na observação, registro, análise,
classificação e interpretação dos “fatos” e percepções de pessoas sobre um determinado
assunto.
No que tange ao método, a pesquisa adota a técnica de levantamento de dados ou “survey”
eletrônico, que busca “[...] descrever com exatidão algumas características de populações
designadas” (VIEIRA, 2009). Segundo Simsek (1999), o survey eletrônico tem como
vantagens a economia de custo e a velocidade na realização da pesquisa. Neste estudo, o
survey eletrônico se mostrou mais adequado para os propósitos da pesquisa, pois busca
descrever e explicar as características do posicionamento do Brasil no comércio internacional,
segundo os dois indicadores de interesse: Alfândega e Pontualidade.
O questionário foi elaborado a partir do LPI, porém as questões relacionadas aos indicadores
Alfândega e Pontualidade foram reformuladas a partir de um pré-teste com empresas
brasileiras. Portanto, para captar as percepções dos respondentes, as questões foram baseadas
na realidade das transações brasileiras no comércio internacional.
O questionário foi encaminhado aos profissionais selecionados via correio eletrônico nos
meses de dezembro de 2011 e janeiro de 2012, sendo estruturado em duas partes: i) perfil do
respondente; ii) opinião dos respondentes sobre temas dentro e fora do LPI. O instrumento de
pesquisa foi composto por doze perguntas fechadas, três delas com escala do tipo Likert, com
respostas a assinalar do tipo:
- (1) Discordo totalmente;
- (2) Discordo na maior parte;
- (3) Não concordo nem discordo;
- (4) Concordo na maior parte;
- (5) Concordo totalmente.
A Tabela 3 mostra as variáveis relacionadas à Alfândega e Pontualidade coletadas na
pesquisa.
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Atributos dos indicadores de desempenho logístico
Alfândega
Pontualidade
Transparência no desembaraço aduaneiro
Atrasos nas operações de gestão de armazenagem
Informações disponíveis quanto a normas/regulamentos
Atrasos devido a transbordos
Atrasos na inspeção pré-embarque
Adição de prazos extras na importação/exportação
Pagamento de propina
Atrasos na entrega de mercadorias
Ocorrências criminais
Tabela 3 - Atributos de Alfândega e Pontualidade
O universo da pesquisa abrangeu profissionais de diversos setores que atuam no comércio
internacional. A amostra, composta por 50 empresas, teve caráter aleatório, pois, partiu-se de
uma lista de profissionais feita por meio de contatos dos autores, ampliada à medida que se
avançou com a aplicação do questionário por meio de indicações dos próprios respondentes.
Portanto, a amostra pode ser caracterizada como não probabilística e intencional que, segundo
Vieira (2009), deve ser utilizada quando se está interessado na opinião de determinados
elementos da população, mesmo que não representem o universo.
Para análise dos dados, adotou-se uma abordagem quantitativa. Martins e Theófilo (2007, p.
103) afirmam que uma pesquisa é classificada como quantitativa quando pode “organizar,
sumarizar, caracterizar e interpretar os dados numéricos coletados”. Dessa forma, realizou-se
a verificação da percepção dos respondentes por meio da estatística descritiva (média, desviopadrão, quartis etc.). Segundo Malhotra (2001), fazer uma observação inicial dos dados por
meio da análise descritiva é relevante para se obter maior conhecimento da amostra, antes de
avançar para outros métodos mais robustos.
Por fim, para a análise conjunta dos índices de desempenho Alfândega e Pontualidade,
realizou-se uma análise discriminante múltipla (ADM) com base nos critérios que formam os
dois índices.
4. Resultados e discussões
4.1. Perfil dos respondentes
A amostra composta por 50 observações representa profissionais que ocupam cargos variados,
como executivos, gerentes, supervisores, analistas e coordenadores. Dentre esses cargos, a
pesquisa revelou que os profissionais que trabalham diretamente com operações logísticas
representam 30% dos respondentes.
Cerca de 50% da amostra foi constituída por empresas relativamente pequenas, em torno 50 a
250 funcionários, e cerca de 30% por grandes empresas, acima de 1000 funcionários, sendo
todas elas com atuação no ramo de exportação de commodities agrícolas, produtos
alimentícios, madeira, químicos e petroquímicos; e importação de produtos manufaturados.
Aproximadamente 30% das empresas atuavam na exportação, 30% na importação e o restante
em ambos. As empresas ainda prestavam serviços de distribuição e armazenagem de carga,
serviços customizados de logística e outros serviços logísticos como embarque de containers e
cargas a granel.
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Segundo os registros, o modal mais utilizado foram o aquaviário (marítimo) e o rodoviário ou
a combinação dos dois (multimodal). As regiões de comércio abrangem países europeus, do
oriente médio, Estados Unidos e China.
4.2. Opinião dos respondentes
Segundo os entrevistados, o desempenho logístico do Brasil no comércio internacional tem
vários entraves, entre eles o baixo investimento em infraestrutura aeroportuária e
principalmente portuária, burocracia no desembaraço alfandegário, pequeno investimento de
parcerias público-privado e alto valor de taxas e impostos nas transações.
Para a maioria dos respondentes, o investimento em infraestrutura poderia ser uma das
principais ações governamentais para melhorar o desempenho logístico, seguido da
diminuição dos valores de taxas e impostos alfandegários e a diminuição de burocracia
alfandegária. Neste sentido, considerando a escala Likert de 1 a 5 (sendo 1 o grau mais baixo
e 5 o grau mais alto), 95% dos respondentes declararam como baixo a médio o índice de
desempenho do processo de desembaraço pelos órgãos brasileiros no comércio internacional,
incluindo o trâmite alfandegário, disponibilidade de informação adequada no tempo certo,
transparência e velocidade das transações.
A Tabela 4 mostra o resultado da pesquisa quando há comparação de características das
transações entre o Brasil e os países que as empresas comercializam. Apesar de serem apenas
percepções dos respondentes, estes são aspectos ou características interessantes que revelam
as deficiências, e ao mesmo tempo, oportunidades de melhoria para o Brasil no comércio
exterior. Talvez isto se refira à baixa credibilidade que as pessoas dão à gestão dos órgãos
governamentais do Brasil. Foi utilizada a escala Likert com notas de 1 a 5 (sendo os extremos,
1 discordo totalmente e 5 concordo totalmente).
Característica
Média
Devio-Padrão
Mediana
Elevados custos de transporte, embarque e estocagem
3,8
1,2
4
Alta agilidade e eficiência dos órgãos governamentais
2,4
1,2
2
As normas e regulamentos são atualizadas
2,7
1,0
3
Alta confiabilidade dos prazos de entrega
2,6
1,0
3
Forte cumprimento das leis
2,7
1,2
3
Tabela 4. Estatística descritiva de aspectos das transações comerciais
Observa-se pela Tabela 2 que, para a maioria dos respondentes, o Brasil apresenta
características que dificultam as transações no comércio exterior. As duas primeiras
características mostram as maiores médias, mas também o maior desvio padrão das notas. No
entanto, a mediana mostra que mais da metade das respostas confirmam estatisticamente a
insatisfação dos respondentes quanto à baixa eficiência em infraestrutura logística e à alta
burocracia no desembaraço aduaneiro.
Quanto à característica “Elevados custos de transporte, embarque e estocagem”, este resultado
denota, de certa forma, a falta de infraestrutura logística adequada para escoamento e guarda
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dos produtos, via importação ou exportação. A pesquisa também destaca o fraco desempenho
da característica “Alta agilidade e eficiência dos órgãos governamentais”. Este resultado
sugere que existe forte burocracia no desembaraço aduaneiro e assimetrias de informação
entre os órgãos públicos e as empresas privadas, quando comparados aos principais países
parceiros.
A seção seguinte mostra os resultados em relação aos indicadores de desempenho
“Alfândega” e “Pontualidade” e uma discussão da melhoria dos resultados do Brasil à luz
dessas variáveis, segundo as percepções dos respondentes.
4.3. Indicador de desempenho “Alfândega”
Em geral o indicador “Alfândega” é apontado como um dos que o Brasil apresenta maior
deficiência, tanto pelo lado da burocracia para o desembaraço aduaneiro, com elevada
exigência de documentos, inspeções e quantidade de agências para emissão de documentos
solicitados por órgãos brasileiros, entre outros, quanto do lado da assimetria de informação
existente entre os órgãos controladores e as empresas privadas.
Um fato interessante se observa na Figura 1, que contraria a opinião pública, que sinaliza que
as empresas pouco têm se deparado com situações de corrupção e questões de sinistro. Ou
seja, para os respondentes, o pagamento de propina e atividades criminais, relacionadas à
roubos e furtos, apresentaram uma pontuação menor. Isto sugere uma evolução da
credibilidade das empresas frente àquelas de outros países ou que as transações são realizadas
sob forte esquema de segurança ou, ainda, de que os parceiros são de alta idoneidade.
Figura 1. Atributos de Alfândega
Por outro lado, a Figura 1 indica que quando se analisa os dados referentes aos atributos de
Alfândega, por meio de estatística descritiva, as respostas indicam valores próximos à média.
Ou seja, dentro da escala Likert com nota 3, as informações referentes às normas e
regulamentos são atualizadas e disponibilizadas às empresas, “às vezes” há transparência no
desembaraço aduaneiro e “às vezes” a burocracia causa atrasos na inspeção pré-embarque.
Portanto, torna-se necessário melhor entendimento dessas opiniões.
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Considerando a Lei dos Grandes Números, partiu-se do pressuposto de que a amostra de
dados segue uma distribuição normal. Logo, foi aplicado o teste t para uma amostra simples
com o objetivo de comparar a média de uma variável em relação a um valor fixo. A hipótese
nula utilizada foi: “a média de cada atributo é igual a 3 (valor médio)”. Se a hipótese nula for
rejeitada quer dizer que há uma maior ou menor valor para os atributos. A Tabela 5 mostra os
resultados da aplicação do teste t. Atenta-se que os dois primeiros atributos possuem
características positivas e os demais características negativas.
Atributos
Distribuição
t
Valor
Sig.
Desvio
padrão
1,79
0,04
0,35
-3,21
-14,14
-10,61
Transparência no desembaraço aduaneiro
Informações disponíveis quanto a
normas/regulamentos
Atrasos na inspeção pré-embarque
Pagamento de propina
Ocorrência de atividades criminais
48 graus de liberdade
Limites do intervalo de
confiança
1,03
Inferior
2,96
Superior
3,56
0,36
1,23
2,70
3,41
0,00
0,00
0,00
1,02
0,70
0,87
2,23
1,37
1,42
2,82
1,77
1,92
Valor de referência = 3
Interv. de confiança de 95%
Tabela 5. Teste t para os atributos de Alfândega
A Tabela 5 mostra que o teste t para o atributo “Informações disponíveis quanto às
normas/regulamentos” não apresentou valor significativo (t=0,35), mantendo-se a hipótese
nula. Para os demais o teste t foi significativo, apresentando média superior a 3 para o atributo
“Transparência no desembaraço aduaneiro” e inferiores a 3 para os demais. Logo, pode-se
dizer que os respondentes têm boa percepção em relação aos “Atrasos na inspeção préembarque”, ao “Pagamento de propinas” e à “Ocorrência de atividades criminais” como, por
exemplo, roubo ou furto de carga.
Os resultados sugerem uma melhoria dos processos alfandegário do Brasil frente às
transações de importação e exportação, principalmente em relação à corrupção. De fato, pelo
tamanho reduzido da amostra e pela variabilidade dos dados, não se pode comprovar a
veracidade das informações no âmbito geral.
De qualquer forma, para esta amostra, o indicador Alfândega não tem se mostrado como o
mais crítico dentre os indicadores que são utilizados para medir o desempenho logístico do
país no comércio internacional. Talvez essas percepções reflitam mudanças recentes e, neste
caso, a pesquisa deve abranger um maior número de participantes para que tais fatos possam
ou não ser corroborados e generalizados.
4.4. Indicador de desempenho “Pontualidade”
O indicador “Pontualidade” é dependente de uma infraestrutura logística adequada às
transações entre os parceiros. Ou seja, espera-se que as empresas importadoras e exportadoras
possam usufruir de uma infraestrutura básica de transporte e sistemas de informação que
confiram maior agilidade para o escoamento seguro de mercadorias, bem como a recepção
destas de forma rápida e sem avarias.
Com o aumento do comércio internacional, espera-se que as empresas privadas invistam em
infraestrutura de armazenagem e tecnologia de informação para controle e manutenção de
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veículos, centros de distribuição, com recursos de rastreabilidade e monitoramento de
produtos e veículos.
Os resultados obtidos mostram que as empresas apresentam forte incremento de prazos extras
nas transações de importação e exportação, como medida de precaução aos atrasos de suas
remessas. Na importação, há necessidade de melhorias no recebimento nos portos e
aeroportos e aumento de velocidade no desembaraço, transbordo e chegada ao destino final.
Na exportação, o processo pode ser ainda mais complexo devido à adição da etapa de
consolidação de carga.
A análise por meio de estatística descritiva mostrou valores medianos abaixo da média 3. Para
verificar estaticamente se os valores representam um cenário positivo, foi aplicado o teste t
para amostra simples nos mesmos moldes do indicador “Alfândega” (Tabela 6).
Atributos
Atrasos nas operações de gestão
de armazenagem
Adição de prazos extras na
importação/exportação
Atrasos devido a transbordos
Atrasos na entrega de
mercadorias
48 graus de liberdade
Limites do intervalo de
confiança
Inferior
Superior
Distribuição
t
Valor
Sig.
Desvio
padrão
-0,79
0,21
0,89
2,64
3,15
10,12
-0,74
0,00
0,23
0,89
0,96
4,03
2,62
4,54
3,17
2,81
0,00
1,11
Valor de referência = 3
3,12
3,77
Intervalo de confiança=95%
Tabela 6 - Teste t para os atributos de Pontualidade
A Tabela 6 mostra que o teste t não foi significativo para “Atrasos nas operações de gestão de
armazenagem” e “Atrasos devido a transbordos”. Logo, não se pode afirmar que esses
atributos possam refletir um baixo índice de pontualidade.
No entanto, seguramente ocorrem “Atrasos na entrega de mercadorias” mesmo que se tenha
que adicionar prazos extras. Este fato alerta que as empresas e os órgãos públicos devem
procurar investir em tecnologia de informação para melhor a agilidade na entrega das
mercadorias no destino final.
4.5. Análise conjunta dos indicadores “Alfândega” e “Pontualidade”
O objetivo desta seção é fazer uma análise conjunta dos indicadores “Alfândega” e
“Pontualidade” a partir da média aritmética e desvio-padrão de seus respectivos atributos.
Esta medida pareceu ser razoável, pois o cálculo do desvio-padrão se mostrou baixo. Para a
análise do desempenho logístico das empresas segundo esses indicadores, utilizou-se a
Análise Discriminante Múltipla (ADM) que consiste na análise de regressão quando se deseja
verificar o comportamento de mais de dois grupos dentro da amostra.
Essa técnica estatística usa informações disponíveis num conjunto de variáveis independentes
(no caso Alfândega e Pontualidade) para prever o valor da variável dependente (Desempenho
logístico das empresas ou análise conjunta desses dois indicadores). O objetivo foi criar uma
regra de classificação para prever e confirmar a qual grupo cada observação pertence.
Neste sentido, optou-se pela escolha dos três seguintes grupos:
- Grupo 1 - Desempenho acima da média (Alto Desempenho Logístico – ADL);
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- Grupo 2 - Desempenho médio (Médio Desempenho Logístico - MDL);
- Grupo 3 - Desempenho abaixo da média (Baixo Desempenho Logístico – BDL).
Embora para os grupos, cada amostra tenha sido calculada pela média, a ADM confirmou
estatisticamente, pela medida de distância de Mahalanobis, o grupo que cada observação está
mais próxima. Assim, foi possível discriminar a porcentagem de respostas que se enquadram
nos grupos de desempenho para cada indicador. A Tabela 7 mostra os resultados da ADM.
Grupo Previsto
TOTAL
Grupo Real
ADL
MDL
BDL
Alto desempenho logistico (ADL)
4
0
0
4
Médio desempenho logístico (MDL)
0
34
2
36
Baixo desempenho logístico (BDL)
0
0
9
9
TOTAL
4
34
11
49
Percentual de observações por Grupo previsto
8
69
22
100
Percentagem total de acerto (%)
95,9
Tabela 7 - Análise conjunta dos indicadores Alfândega e Pontualidade
A Tabela 7 mostra que as amostras de Alto Desempenho Logístico (ADL) e de Baixo
Desempenho Logístico (BDL) estavam corretamente classificadas como provenientes dos
respectivos grupos (Grupo Real), enquanto que duas observações do grupo de Médio
Desempenho Logístico (MDL) foram classificadas no grupo BDL (Grupo Previsto).
A alta porcentagem de acerto mostra que os grupos foram divididos e as amostras
classificadas de maneira correta. Logo, pode-se afirmar estatisticamente que os indicadores
Alfândega e Pontualidade, quando analisados de maneira conjunta, refletem um médio
desempenho logístico para a maioria dos respondentes.
5. Considerações finais
Este trabalho buscou analisar a visão de um grupo de profissionais, que representam
cinquenta empresas que atuam no comércio internacional, sobre o desempenho do Brasil
quanto aos índices de desempenho “Alfândega” e “Pontualidade”, que fazem parte das
análises do LPI.
Os indicadores de desempenho logístico quando analisados conjuntamente indicaram uma
avaliação positiva do Brasil. Para o indicador Alfândega, conclui-se que os “atrasos na
inspeção pré-embarque”, “pagamento de propinas”, “ocorrência de atividades criminais” e
“transparência no desembaraço aduaneiro” não comprometem o desempenho logístico do
Brasil, pois foram conceituados com uma avaliação positiva. Para Pontualidade, é interessante
notar que a “adição de prazos extras na importação/exportação” foi avaliada negativamente,
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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
ou seja, atrasos nessas atividades são recorrentes, o que implica em adotar medidas de
precaução para entrega/envio de remessas nas transações de comércio internacional.
A pesquisa é limitada pelo restrito tamanho da amostra, e assim, suas conclusões não podem
ser generalizadas para todo o Brasil. Para estudos complementares, recomenda-se: (i)
reaplicar esta pesquisa no mesmo grupo selecionado, para identificar a evolução da percepção
destes mesmos profissionais em relação aos indicadores avaliados; (ii) ampliar a pesquisa a
um grupo mais representativo de profissionais ligados à logística internacional e (iii) ampliar
o escopo com outros indicadores considerados no LPI, que possam sugerir caminhos e
políticas promissores para a melhoria do desempenho logístico brasileiro no comércio
exterior.
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desempenho logístico do brasil no comércio internacional