ISSN: 2317-1960 Ano III, Número 16 jul / ago 2015 ntu.org.br Os caminhos para a mobilidade sustentável pela priorização ao coletivo Prioridade aos meios de transporte coletivo e desestímulo ao individual é a única solução para o trânsito nas cidades. NTU promove evento para discutir os desafios para a melhoria do transporte público e da qualidade de vida das pessoas 25 Entrevista: Susan Zielinski Uma ótica inovadora sobre a mobilidade sustentável ANUÁRIO 2014/2015: Redução de passageiros e aumento dos investimentos em BRT Estatuto da Metrópole: uma luz no fim do túnel 8 16 36 Editorial Biênio 2015-2017 Prioridade ao coletivo é bom pra todos O transporte público no Brasil não consegue agradar a ninguém. Nem aos empresários, nem ao poder público, nem à população. É um serviço de extrema complexidade que depende justamente de todos os envolvidos estarem em perfeita sintonia e cientes das suas obrigações para que possa dar certo. Aos empresários, registra-se um descontentamento com a baixa produtividade e os altos custos de operação do ônibus urbano. Os operadores enfrentam ano após ano a redução na demanda de passageiros e o aumento crescente dos congestionamentos. Ainda assim, existe um esforço para cumprir o compromisso de manutenção do nível de serviço, e isso tem sido feito colocando mais ônibus para cumprir o mesmo número de viagens programadas. Poder público e população, por sua vez, encontram-se insatisfeitos principalmente com a qualidade do serviço que é oferecido. Uma única medida pode transformar essa relação e garantir mais contentamento a todos: a prioridade ao transporte coletivo. O tema é recorrente e está no discurso empresarial há décadas e ainda é a única solução para se alcançar uma mobilidade eficiente, de qualidade e sustentável. Além disso, dar prioridade ao transporte público é uma medida coletiva, que atende aos interesses de todos. Dados da NTU comprovam que, nas faixas exclusivas, os ônibus alcançam velocidade média 60% maior do que a desenvolvida em meio aos congestionamentos. E que, em decorrência disso, observa-se redução significativa de custos com combustíveis, operação e manutenção da frota. Conselho Diretor Membros titulares e suplentes Região Centro-Oeste Edmundo de Carvalho Pinheiro (GO) titular Ricardo Caixeta Ribeiro (MT) suplente Região Nordeste Dimas Humberto Silva Barreira (CE) titular Mário Jatahy de Albuquerque Júnior (CE) suplente Luiz Fernando Bandeira de Mello (PE) titular Paulo Fernando Chaves Júnior (PE) suplente Além disso, garante viagens mais rápidas com consequente ganho de tempo para os usuários do transporte público. Esse quesito, inclusive, foi eleito por 86% dos usuários do BRT Transcarioca, no Rio de Janeiro, como a principal vantagem desse sistema de ônibus, em uma pesquisa realizada pelo instituto Datafolha em maio deste ano. Região Sudeste Roberto José Carvalho (MG) titular Rubens Lessa Carvalho (MG) suplente Eurico Divon Galhardi (RJ) titular - presidente do Conselho Diretor Narciso Gonçalves dos Santos (RJ) suplente Lélis Marcos Teixeira (RJ) titular Francisco José Gavinho Geraldo (RJ) É preciso ampliar os investimentos em sistemas estruturais, mas, sobretudo, melhorar ao máximo as condições operacionais dos ônibus comuns, garantindo que consigam ganhar maior velocidade em faixas que não sofram a concorrência de carros, motos e outros veículos. A prioridade, contudo, não pode se limitar às vias públicas. Deve também estar presente nas políticas públicas e decisões de governo. É essa a discussão que a NTU propõe em mais uma edição do Seminário Nacional, que ocorre em setembro em São Paulo. Representantes do governo, do comércio, dos serviços e da sociedade debaterão juntos os caminhos e as soluções para se chegar à mobilidade que os brasileiros merecem ter. suplente João Antonio Setti Braga (SP) titular - vice-presidente do Conselho Diretor Mauro Artur Herszkowicz (SP) suplente Júlio Luiz Marques (SP) titular Paulo Eduardo Zampol Pavani (SP) suplente Região Sul Ilso Pedro Menta (RS) titular Enio Roberto Dias dos Reis (RS) suplente Conselho Fiscal Membros titulares e suplentes Heloísio Lopes (BA) titular Paulo Fernandes Gomes (PA) titular Simone Chieppe Moura (ES) titular Dante José Gulin (PR) suplente Ana Carolina Dias Medeiros de Souza (MA) suplente Fernando Manuel Mendes Nogueira (SP) suplente 4 Revista NTU Urbano S U M Á RIO 6 8 14 Expediente OPINIÃO DA NTU Eurico Divon Galhardi Dê passagem ao coletivo ENTREVISTA Diretoria Executiva Otávio Vieira da Cunha Filho Presidente Susan Zielinski Confira a entrevista com a pesquisadora e especialista em mobilidade sustentável PARADA OBRIGATÓRIA Notinhas para você se agendar, se informar e se atualizar 15 O desafio de transportar passageiros no Brasil 16 Redução de passageiros e aumento dos investimentos em BRT marcam DIÁLOGO TÉCNICO Marcos Bicalho dos Santos Diretor Administrativo e Institucional André Dantas André Dantas Diretor Técnico NTU EM AÇÃO desempenho operacional 18 SAUS Q. 1, Bloco J, Ed. CNT 9º andar, Ala A legislação Invasão de vias exclusivas para ônibus passa a ser infração gravíssima Acessibilidade no transporte público precisa ser ampliada a toda a infraestrutura do País 24 Os caminhos para a mobilidade sustentável pela priorização ao coletivo acessibilidade CAPA 32 Os desafios do transporte coletivo de passageiros em São Paulo 35 O transporte coletivo no contexto metropolitano 40 41 42 GESTÃO EMPRESARIAL EMBARQUE NESSA IDEIA Luis Antonio Lindau . POLÍTICAS PÚBLICAS Estatuto da Metrópole: uma luz no fim do túnel E-mail: [email protected] Site: www.ntu.org.br Editora responsável Bárbara Renault (DF 7048 JP) Editora assistente Hellen Tôrres (DF 9553 JP) Colaborou nesta edição Evelin Campos Flávio Neponucena Laisse Nonato Diagramação PELO MUNDO Conheça as novidades e soluções de mobilidade adotadas mundo afora PONTO DE ÔNIBUS Tel.: (61) 2103-9293 Fax: (61) 2103-9260 20 36 Brasília (DF) CEP 70070-944 Adamo Bazani Licitação de São Paulo: sistemas mais enxutos e eficientes Duo Design Esta revista está disponível no site www.ntu.org.br #NTURECOMENDA Dicas de livros, sites, aplicativos e vídeos sobre transporte Siga a NTU nas redes sociais www.twitter.com/ntunoticias www.facebook.com/ntubrasil www.flickr.com/ntubrasil www.youtube.com/transporteurbanontu Revista NTU Urbano 5 O p i n i ã o d a NT U Autor: Eurico Divon Galhardi Dê passagem ao coletivo O nome coletivo, em si, traduz o propósito do transporte que nos últimos 25 anos vêm resistindo bravamente à perda acentuada de demanda de passageiros. Atender ao maior número de pessoas, transportá -las em segurança e no menor tempo possível é a razão de ser do transporte coletivo urbano. É a essência do trabalho que nós, empresários do setor, prestamos à sociedade. Contudo, o passar dos anos tem nos mostrado que o segmento não pode mais continuar arcando sozinho com o ônus de transformações estruturais e conjunturais. Nessas mais de duas décadas, por exemplo, foram muitas as mudanças no contexto urbano das cidades e, por consequência, uma maior cobrança por parte do cidadão, por melhoria, qualidade, rapidez e eficiência para que ele possa realizar seus deslocamentos diários. A amplitude do conceito de mobilidade urbana extrapola a simples oferta de um serviço que perde milhares de passageiros a cada ano e se fragiliza cada vez mais diante da ausência de políticas públicas eficazes para o setor. Ainda assim, o ônibus continua responsável por mais de 80% do transporte público no País. Por isso, precisamos, urgentemente, 6 Revista NTU Urbano em ações conjuntas com o Poder Público, investir em iniciativas que deem prioridade ao coletivo urbano nas nossas vias, e nas nossas vidas. Necessitamos, de uma vez por todas, assumir esse compromisso com atitudes concretas. E é o que a NTU tem feito, quando vem insistindo na priorização do transporte público por meio da ampliação do número de faixas exclusivas para ônibus e na construção de redes de transporte modernas, integradas, multimodais, racionais e de alto desempenho, por exemplo. É importante também dar continuidade aos investimentos federais, estaduais e municipais voltados à infraestrutura desse tipo de transporte; manter as desonerações federais, estaduais e municipais sobre os insumos que impactam no segmento; destinar parte dos orçamentos públicos para custear as gratuidades que sobrecarregam os usuários comuns e instituir uma política de preços reduzidos para o óleo diesel. Além disso, precisamos subvencionar o transporte coletivo urbano. Essas e outras questões já estão na pauta do nosso próximo encontro nacional, nos dias 1º, 2 e 3 de setembro, em São Paulo, quando a NTU reúne especialistas de todo o Brasil, gestores públicos e convidados internacionais para encontrar meios de se chegar à tão sonhada mobilidade urbana ideal para os dias de hoje. Você também está convidado a contribuir com essa importante agenda que não é só de um setor, mas de um país inteiro. Eurico Galhardi é advogado, bacharel em Comunicação Social, Master in Transport Business (MTB) Coppe-RJ, empresário de transporte urbano de passageiros no Rio de Janeiro. Autor do livro “Conduzindo o Progresso” e pesquisador da história do transporte. Atualmente é presidente do Conselho Diretor da NTU. PRIORIDADE AO COLETIVO PARA UMA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL 1-3 / SETEMBRO / 2015 TRANSAMÉRICA EXPO CENTER, SÃO PAULO (SP) CONFIRA A COBERTURA COMPLETA DO EVENTO EM WWW.NTU.ORG.BR R E AL IZAÇÃ O O RG A N I Z A Ç Ã O A P O I O EDI TORI AL PATROC Í N I O AP OI O I N STI TUC I ON AL Revista NTU Urbano 7 e n t r e v i s ta Susan Zielinski Uma ótica inovadora sobre a mobilidade sustentável Planejadora urbana profissional, Susan Zielinski defende que o conceito de mobilidade sustentável também passa por “não se mover”, ou seja, ter acessibilidade a tudo em qualquer tempo e espaço. Ela acredita que um dos principais desafios do Brasil é a mudança cultural em relação ao transporte 8 Revista NTU Urbano e n t r e v i s ta Q Susan estará no Brasil e será uma das palestrantes durante o Seminário Nacional da NTU 2015, que acontecerá em São Paulo entre os dias 1º e 3 de setembro. Antecipando um pouco alguns temas sobre os quais falará no evento, Susan recebeu a Revista NTU Urbano para uma conversa, confira: Qual o conceito de mobilidade sustentável? Você pode citar exemplos de cidades que aplicaram este conceito em seus sistemas de mobilidade? Superficialmente, mobilidade sustentável diz respeito a mover pessoas e bens de maneiras mais limpas, verdes, seguras, saudáveis, inclusivas e equitativas. De uma forma mais ampla, significa entender como o transporte faz sua parte para ajudar a atender as necessidades básicas das pessoas e do planeta, independente se essas necessidades são sociais, ambientais ou econômicas. Claramente, necessidades podem mudar à medida que enfrentamos desafios novos e mais complexos, então, essa definição sempre precisará mudar e se adaptar ao longo do tempo. Essencialmente, não diz respeito diretamente à mobilidade. Ou ao menos o foco não é a mobilidade e sim o acesso às coisas das quais precisamos. Mobilidade é apenas uma forma de acessar, de atender a essas necessidades, é um meio para um fim. César Brustolin SMCS uem ouve Susan Zielinski falar sobre seu trabalho e projetos de mobilidade integrada sustentável pode imaginar que não passam de ideias, mas ela já levou sua iniciativa SMART – sigla para Sustainable Mobility and Accessibility Research and Transformation (Mobilidade Sustentável, Pesquisa de Acessibilidade e Transformação, em tradução livre) - para diversos países do mundo com aplicações e resultados práticos em cidades de todos os portes. Susan já trabalhou em órgãos como o Departamento de Planejamento da Cidade de Toronto e prestou consultoria para uma série de iniciativas locais, nacionais e internacionais, incluindo o Fórum Econômico Mundial, entre outros. Ônibus circulam livremente nas vias exclusivas do sistema BRT de Curitiba. Revista NTU Urbano 9 e n t r e v i s ta É por isso que a mobilidade é sustentável, pois inclui “não se mover” ou “se mover menos”. Por exemplo, se pudermos usar as telecomunicações para trabalhar, comprar ou estudar, ou até mesmo para operações médicas, pois, graças às tecnologias de informação já não precisamos ir fisicamente a lugar algum para algumas situações, então, eliminamos a viagem. Essa talvez seja a forma mais sustentável de mobilidade, ainda que tecnicamente não seja exatamente mobilidade. Um dos pontos mais interessantes em pensar mais amplamente sobre o transporte e sua atual função neste mundo em constante mudança, evolução da tecnologia da informação e economia compartilhada é que se abrem cada vez mais oportunidades para inovação e até oportunidades econômicas e sociais que incluem e "Superficialmente, mobilidade sustentável diz respeito a mover pessoas e bens de maneiras mais limpas, verdes, seguras, saudáveis, inclusivas e equitativas. De uma forma mais ampla, significa entender como o transporte faz sua parte para ajudar a atender as necessidades básicas das pessoas e do planeta, independente se essas necessidades são sociais, ambientais ou econômicas." 10 Revista NTU Urbano vão além do pensamento tradicional sobre a infraestrutura de transporte. E cada vez mais cidades estão adotando abordagens efetivas e inovadoras sobre a mobilidade sustentável. Alguns exemplos são Amsterdam, Bogotá, Londres, Paris, Seul, Cingapura, Nova York, Portland e cidades na Escócia, Finlândia e Suécia, que estão abordando a “Mobilidade como Serviço”. Quais são os papéis do governo e dos empresários dos transportes na promoção do desenvolvimento de cidades mais sustentáveis? Os papéis do governo e da indústria estão mudando rapidamente conforme novas tecnologias, serviços e modelos de negócio enriquecem, melhoram e até mesmo desafiam o pensamento e a prática de “capital e infraestrutura” dominantes no século 20. Como parte dessa evolução, uma oportunidade foi aberta para redefinir não apenas os papéis, mas as dinâmicas do crescente ecossistema de atores e influenciadores públicos, privados e sem fins lucrativos do transporte. Podemos chamar isso não de Parcerias Público-Privadas, mas de Inovação Público-Privadas. Estamos em um mundo no qual o desenvolvimento tecnológico está ultrapassando a capacidade de fazer políticas que se apliquem à mudança. Em outras palavras: não sabemos o que não sabemos. Outro Uber (aplicativo de motoristas particulares que concorrem com os táxis) pode surgir no cenário a qualquer momento e desafiar as estruturas vigentes. Isso enfatiza a necessidade de diálogo, alianças e parcerias pú- blico-privadas-sociedade civil que sejam resilientes e prontas para responder à mudança. Na sua experiência, o que a sociedade civil pode fazer para promover a mudança? Acredito que a sociedade civil é um herói não aclamado na promoção e atualização de mudanças relativas ao transporte. Local e globalmente ela teve papel-chave como primeiro ator a levantar e mover essas questões para a consciência pública e política, e cada vez mais frequentemente impulsiona mudanças práticas sem precedentes. Assim como para todos os atores no cenário dos transportes, será importante que a sociedade civil construa cada vez mais relações e alianças com todos os setores relevantes – não apenas com o governo, mas também com o setor corporativo, empreendedores e empresas, outros atores da sociedade e com a academia. Particularmente, à medida que aumenta o engajamento do setor privado, a sociedade civil ganhará ainda mais responsabilidade ao representar os usuários dos transportes. Qual o propósito do projeto SMART e como ele funciona? S.M.A.R.T. é a sigla para Sustainable Mobility and Accessibility Research and Transformation (Mobilidade Sustentável, Pesquisa de Acessibilidade e Transformação, em tradução livre). É uma iniciativa global da Universidade de Michigan (EUA), criada para avançar na implementação de sistemas de transporte sustentáveis e na indústria e negócios que vão abastecê-los. Seus objetivos são ligeiramente diferentes de alguns esforços acadê- e n t r e v i s ta Então, ao investir bastante tempo trabalhando, ouvindo e observando diretamente na Índia, África do Sul, Filipinas, China, Brasil e também na Europa e nos Estados Unidos, nós desenvolvemos uma abordagem prática e customizável para implementar sistemas integrados de transporte sustentável em qualquer cidade ou região baseado em padrões que observamos. É um exercício de quatro etapas que pode durar metade de um dia ou até três dias. Em qualquer cidade ou região, ele reúne e engaja ativamente líderes relacionados ao transporte e influenciadores do governo, indústria, sociedade civil e academia e oferece ferramentas para identificar e aplicar sistemas e soluções sustentáveis de porta a porta, multimodais, compatíveis com tecnologia da informação (TI), tanto em curto como em longo prazos. Nós já customizamos e aplicamos essa abordagem em mais de 20 cidades pelo mundo. shutterstock "Um dos pontos mais interessantes em pensar mais amplamente sobre o transporte e sua atual função neste mundo em constante mudança, evolução da tecnologia da informação e economia compartilhada é que se abrem cada vez mais oportunidades para inovação e até oportunidades econômicas e sociais que incluem e vão além do pensamento tradicional sobre a infraestrutura de transporte." micos porque não estamos focados puramente na pesquisa e nos estudos, mas sim em catalisar a mudança e desenvolver novas abordagens em situações reais. Nós fazemos isso ao escutar e colaborar com líderes e usuários de transporte em cidades ao redor do mundo, desenvolvendo juntos novas formas de pensar sobre mobilidade sustentável e criando, aplicando e comercializando novas soluções, ferramentas e plataformas para acelerar a transformação. Revista NTU Urbano 11 e n t r e v i s ta Além de lidar com o “como” implementar sistemas integrados de mobilidade, nós também desenvolvemos uma plataforma global para ajudar a acelerar a inovação empresarial e industrial que serão as fornecedoras da futura mobilidade sustentável. A plataforma Mobi busca, reconhece, estabelece contatos e apoia startups, empresas e indústrias que estão se repensando para serem fornecedoras da nova mobilidade (como a Ford Motor Company, por exemplo). Isso também inclui agências governamentais que estão investindo na aceleração da cultura de inovação e no ecossistema da Nova Mobilidade. César Brustolin SMCS A plataforma funciona conectando empreendedores entre si, com inves- Linha Verde, Curitiba, Paraná. 12 Revista NTU Urbano "Mudar a mobilidade não é tarefa fácil para nenhum país neste momento atual da história. Tanto o cenário urbano quanto o da mobilidade estão mudando rapidamente no mundo, em direções tanto positivas quanto desafiadoras, e a complexidade só aumenta. Entre os desafios que todos os países e regiões enfrentam (incluindo segurança e prevenção), talvez o maior desafio para o Brasil seja mudar o pensamento, a cultura." tidores, grandes empresários e clientes em busca de produtos, serviços e tecnologias inovadores. Um dos destaques desse ambiente é o Prêmio Mobi, um prêmio global para empreendedores e agências públicas que encoraja a inovação em mobilidade sustentável. A primeira edição do prêmio foi apresentada no Brasil em 2012. A próxima acontecerá em Nova Delhi (Índia) em outubro de 2015. O SMART funciona em diferentes níveis, mas os três temas principais são: 1. Juntando os pontos: adotar uma abordagem sistêmica do transporte sustentável – interconectado, multi- e n t r e v i s ta 2. Movendo a economia: capitalizar sobre os benefícios econômicos de sistemas sustentáveis de transporte, incluindo: corte de custos; acessibilidade e equidade relacionadas à otimização; criação de empregos, especialmente relacionados às novas tecnologias e a serviços de transporte; competitividade econômica regional relacionada ao aumento da qualidade de vida e da produtividade (e redução de congestionamentos, poluição, crime); aceleração da inovação local e de polos empresariais e industriais tanto para aplicação local quanto para exportação. 3 . M ove n d o m e n te s : e n te n d e r comportamentos, atitudes e preferências relacionados à mobilidade sustentável para orientar o desenvolvimento de novos produtos, serviços e abordagens e para informar como a mobilidade sustentável deve ser “vendida” para estimular sua adoção. Na sua opinião, quais são os principais desafios do Brasil para mudar sua mobilidade? Mudar a mobilidade não é tarefa fácil para nenhum país neste momento atual da história. Tanto o cenário urbano quanto o da mobilidade estão mudando rapidamente no mundo, em direções tanto positivas quanto desafiadoras, e a complexidade só aumenta. Entre os desafios que todos os países e regiões enfrentam (incluindo segurança e prevenção), talvez o maior desafio para o Brasil seja mudar o pensamento, a cultura. Em uma economia em desenvolvimento e com uma crescente classe média, a posse do automóvel é, geralmente, uma das primeiras aspirações, que vai além do mero uso prático para também servir a um status individual e necessidade de reconhecimento. Ter um carro significa que você “chegou lá”. Felizmente, algumas tendências mundiais emergentes indicam que as novas gerações estão começando a valorizar suas conexões sociais, experiências e acesso a necessidades reais imediatamente em vez da posse do carro e, de certa forma, da posse em geral. Existe uma crescente “economia do compartilhamento”, viabilizada pela avançada tecnologia da informação e bancos de dados. Então, ter de “financiar”, “pagar”, “cuidar” farão com que um carro pessoal se torne uma relíquia do último milênio nesse novo mercado de trabalho interconectado, com carros elétricos, facilidades para os pedestres, táxis, bicicletas, e muito mais. É provável que, no futuro, o Brasil se interesse em entender e engajar essas preferências e mercados emergentes e as tendências de inovação público-privadas. Se esse processo for bem pensado, ele pode estabelecer as bases para um sistema de transportes competitivo, de nível internacional, com bom custo-benefício que sirva às aspirações e necessidades dos cidadãos brasileiros. E indo um passo mais adiante, capitalizar sobre um saudável legado de inovação: qualquer inovação brasileira feita em casa pode ter o potencial para se mover além da aplicação local e ser exportada para o mundo. Arquivo pessoal modal, compatível com TI, de porta a porta, incluindo a base da sociedade e as populações mais pobres dos centros urbanos. Perfil Susan Zielinski Diretora do SMART (Sustainable Mobility & Accessibility Research & Transformation; Mobilidade Sustentável, Pesquisa de Acessibilidade e Transformação, em tradução livre) na Universidade de Michigan. Antes de juntar-se ao SMART, trabalhou por um ano como membro do Harvard Loeb, concentrada em Nova Mobilidade e Inovação. Antes de 2004, em Toronto, no Canadá, trabalhou por mais de 15 anos no Departamento de Planejamento da Cidade, onde impulsionou o primeiro estudo sobre a emergente indústria da Nova Mobilidade e foi co fundadora e diretora do Movendo a Economia (MTE), um “tanque de conexões” focado em inovação para o transporte sustentável e desenvolvimento de polos industriais para a Nova Mobilidade. Revista NTU Urbano 13 c a pa PARADA O B RI G AT Ó RIA Governo de SP é condenado a indenizar ônibus queimado Fórum de Gestão e Eficiência de frotas O Tribunal de Justiça de São Paulo condenou o Governo do Estado de São Paulo a pagar R$ 120 mil para a Viação Osasco como indenização por um ônibus que foi incendiado durante manifestação em outubro de 2013. Para o desembargador Torres de Carvalho, houve falha do serviço do Estado em garantir a segurança de bens físicos e patrimoniais. A OTM Editora realizará em 5 e 6 de outubro a 9ª edição do Fórum de Gestão e Eficiência de Frotas no auditório da Amcham, em São Paulo. O evento objetiva apresentar as melhores práticas, inovações e tendências do mercado de gestão de frotas. Na programação, estão previstos temas como telemetria, processos, meios de pagamentos, sustentabilidade e outros. É destinado a todos os profissionais que participam da cadeia de valor de frotas e logística. O veículo foi abordado por cerca de 50 pessoas que faziam uma manifestação contra falta d’água no Jardim Arpoador. O motorista conseguiu conter as chamas com o extintor de incêndio. Arquivo Viação Osasco Na ação judicial, a Viação Osasco alegou que a Polícia Militar foi alertada sobre a possibilidade do ataque e nada fez. A PM tentou se justificar dizendo que não havia efetivo suficiente para garantir a “integridade do ônibus”. A defesa da PM não convenceu o desembargador, que classificou o caso como omissão. Dilma veta isenção de tributação sobre o óleo diesel Foi publicada no Diário Oficial da União (DOU), em julho, a Lei 13.149/2015 com o veto da presidente Dilma Rousseff ao artigo 5º, que altera a legislação do imposto de renda com uma emenda que isenta o óleo diesel da tributação do PIS e Cofins. As razões pela qual o artigo foi vetado foram a renúncia de arrecadação e também a falta de apresentação de estimativas de impacto e as devidas compensações financeiras, em violação ao que determina o art. 14 da Lei de Responsabilidade Fiscal, assim como o art. 108 da Lei nº 13.080/2015 (Lei de Diretrizes Orçamentárias). 14 Revista NTU Urbano Para mais informações, acesse www.otmeditora.com.br. D i á lo g o T é c n i c o André Dantas, PhD, diretor técnico da NTU O desafio de transportar passageiros no Brasil A “ roda do ônibus roda-roda, roda-roda, e o passageiro sobe e desce...”. Nem tudo é tão simples como na música que as minhas filhas cantam sem parar. O esforço diário para transportar mais de 40 milhões de passageiros vai muito além de utilizar o conjunto ônibus-motorista para rodar pela cidade. Na verdade, envolve uma complexa rede logística em mais de 3.313 municípios brasileiros, onde cerca de duas mil empresas empregam 537 mil profissionais para que mais de 107 mil ônibus percorram quase oito bilhões de quilômetros por ano. Tudo isso ocorre sob a gestão do poder público concedente (Municípios, Estados e União), que tem a prerrogativa de determinar os serviços prestados e as respectivas tarifas públicas. A evolução desse esforço diário tem sido registrada ao longo dos últimos 20 anos de existência do Anuário da NTU. Ano após ano, são coletados dados dos principais indicadores do desempenho operacional do setor de transporte público por ônibus em 9 cidades brasileiras (Belo Horizonte-MG, Curitiba-PR, Fortaleza-CE, Goiânia-GO, Porto Alegre-RS, Recife -PE, Rio de Janeiro-RJ, Salvador-BA e São Paulo-SP). Esses dados compreendem a demanda (passageiros transportados), a quilometragem produzida, o número de veículos em operação e a idade média da frota. Também são registrados outros indicadores tais como preço do óleo diesel, salários de motoristas, tarifas e os custos por quilômetro, que indicam variações significativas nos insumos e nos resultados alcançados. A mais recente edição do Anuário da NTU (2014-2015) revela a consolidação de um padrão de queda de produtividade e o aumento significativo nos custos dos principais insumos. Verifica-se a redução de 2% dos passageiros transportados e também a diminuição de 2,4 milhões de quilômetros produzidos no período 2013-2014. Houve também, nesse mesmo período, o aumento de 2,8% no preço do óleo diesel e de 2% do valor dos salários de motoristas. Esse padrão é similar àquele observado ao longo da série histórica iniciada em 1994. Esses resultados não surpreendem, apenas ajudam a quantificar uma parte de todo o processo de perpetuação do ciclo vicioso da mobilidade urbana. A opção por políticas públicas que permitem a ampla utilização do transporte individual tem consequência direta no desempenho do setor de transportes públicos. Sem priorização e consequente racionalização dos sistemas, é praticamente impossível melhorar a qualidade dos serviços prestados à comunidade. Para reverter esse quadro de deterioração, já existem resultados brasileiros que mostram o caminho a ser seguido. Não é demasiado reforçar o avanço alcançado na cidade de São Paulo-SP, onde a implantação de faixas exclusivas permitiu aumentos da ordem de 21% na velocidade dos ônibus. Em outro exemplo destacado, os BRTs da cidade do Rio de Janeiro-RJ foram muito bem avaliados pelos usuários, principalmente por reduzir o tempo de viagem e aumentar a confiabilidade dos serviços. Ainda segundo levantamento publicado no Anuário da NTU (2014-2015), existem 419 projetos que visam a priorização do transporte coletivo por ônibus no Brasil. Uma parte desses projetos (287), que ainda está em estágios anteriores à fase de testes e de operação, depende de alocação de recursos federais para se tornar realidade. I n d e p e n d e n te d a m a g n i t u d e e da complexidade do desafio que enfrentamos, o mais importante é destacar que uma parte da solução dos problemas está na implantação dos projetos de priorização. Temos que continuar trabalhando para que o sobe-desce do passageiro seja cada vez mais eficiente, confortável e confiável. Revista NTU Urbano 15 NT U E M A Ç ÃO Redução de passageiros e aumento dos investimentos em BRT marcam desempenho operacional do transporte público em 2014 Anuário NTU 2014/2015 traz indicadores de desempenho do setor e balanço dos investimentos em mobilidade urbana A crise na mobilidade urbana continua em latente crescimento no Brasil. Dados do desempenho operacional do transporte público de 2014 revelam uma redução de 2% no número de passageiros transportados por mês e de 1,2 no índice de passageiros por quilômetro rodado. Os números, publicados no Anuário NTU 2014/2015, refletem a atual situação do setor que há décadas vem sofrendo com a ausência de políticas públicas de mobilidade urbana mesmo após a aprovação da Lei nº 12.587/2012, que instituiu diretrizes sobre a Política Nacional de Mobilidade Urbana. 16 Revista NTU Urbano A publicação traz uma análise dos principais indicadores operacionais do setor com base em dados de nove capitais brasileiras. O estudo faz uma comparação dos dados ao longo da última década, corrigidos em concordância com o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGPDI) da Fundação Getúlio Vargas. Em 2014, houve uma redução de 4,5% no número de passageiros e um tímido aumento de 0,5% em outubro, fechando o ano com uma redução de 2% em comparação ao ano de 2013. Acompanhando a queda, o índice de passageiros por quilôme- NT U E M A Ç ÃO Evolução da tarifa média ponderada pelo volume de passageiros equivalentes do sistema de ônibus urbano (Belo Horizonte-MG, Curitiba-PR, Fortaleza-CE, Goiânia-GO, Porto Alegre-RS, Recife-PE, Rio de Janeiro-RJ, Salvador-BA e São Paulo-SP) (Julho/1994 a Dezembro/2014) (Em R$ const. Dezembro/2014 pelo IGP-DI) 3,20 Tarifa ponderada (R$ const. Dez/2014) 3,00 2,80 2,60 2,40 2,20 2,00 1,80 1,60 1,40 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Ano Linha de tendência tro teve redução de 1,2% em cada um dos meses avaliados. Por fim, a queda de 4,4 de passageiros transportados por veículo por dia em abril e 0,5 em outubro complementa o cenário crítico de redução na demanda do transporte público, um processo que vem se repetindo ano após ano. Otávio Vieira, presidente executivo da NTU, acredita que o medo de investir e traçar estratégias para o futuro, além de trazer instabilidade para o país, acaba por colocar freios nos planos de crescimento. Segundo o presidente, a crise econômica que afeta o Brasil não deveria impedir que os cidadãos tenham melhores condições de deslocamento e ganhem em qualidade devida. “Em uma visão de médio e longo prazo, para garantir crescimento e prosperar na economia, é urgente retomar os investimentos, mesmo que gradualmente”, afirma. Custos mais altos Outro ponto que afeta o setor de transporte público é o aumento dos custos do serviço. O óleo diesel foi um dos principais responsáveis pela alta. Os dados mostram que houve um aumento médio de 1,4% em abril e 4,3% para o mês de outubro em comparativo ao ano de 2013. Um levantamento recente realizado pela NTU, com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), revela que entre junho de 2012 e novembro de 2014 o reajuste acumulado do óleo diesel foi 15,1% superior ao da gasolina. Tarifa O aumento teve impacto no valor médio da tarifa, que registrou alta de 2,1% em comparação ao ano anterior. A tarifa média nas capitais foi de R$ 2,87 em 2014. Já a média dos últimos 12 anos é de R$ 2,95. Outro dado preocupante refere-se à variação do salário médio mensal dos motoristas que, no último ano, indica uma retomada do aumento dos custos de mão de obra. Esse componente representa cerca de 40% do custo total dos serviços de transporte público urbano por ônibus. Mundo em 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro, que serão realizadas em 2016. Em 2015, os sistemas BRT aumentaram a representatividade no universo de projetos. Estão previstos 40 sistemas BRT. Atualmente os corredores de Ônibus são o tipo de empreendimento com a maior quantidade de projetos prevista em 2015. São 91 corredores inscritos no programa. Diferentemente dos dois últimos balanços realizados, neste ano, foram inseridos projetos que contemplam a implantação de 19 Faixas Exclusivas. Ao todo são 150 empreendimentos, entre Sistemas BRT, Corredores de Ônibus e Faixas Exclusivas. Entre todos os projetos de priorização do transporte público, 89,1% do total compreende Sistemas BRT, Corredores de Ônibus e Faixas Exclusivas. Em relação ao total de projetos de mobilidade urbana, 55,6% da quantidade total prioriza o ônibus como modo de transporte. Investimentos Apesar da queda de produtividade, o setor ganhou incentivos do governo graças aos eventos da Copa do Confira os outros indicadores de desempenho do Anuário 2014/2015 disponível no site da NTU www.ntu.org.br Revista NTU Urbano 17 Blog Meu Transporte l eg i s l a ç ã o Carros invadem via exclusiva do Expresso DF, em Brasília. Invasão de vias exclusivas para ônibus passa a ser infração gravíssima Com nova lei, invadir faixas exclusivas vai pesar mais no bolso do motorista infrator, mas histórico desse tipo de infração mostra que consequências são muito maiores N os últimos anos, as vias exclusivas para ônibus foram amplamente implantadas no País com grande apoio da população e resultados concretos de melhoria na mobilidade urbana, como maior fluidez no trânsito, redução do tempo de viagem e mais segurança para os passageiros. Algumas iniciativas geram repercussão nacional e inspiram outras cidades, como os sistemas BRS (Bus Rapid 18 Revista NTU Urbano Service) no Rio de Janeiro e a operação massiva de 300 quilômetros de faixas exclusivas em São Paulo. Todavia, existe um histórico de transtornos nessas vias e, em sua grande maioria, causados por condutores de veículos particulares. Carros, caminhões e motos invadem vias exclusivas para ônibus e colocam em risco a segurança de todos: usuários do transporte público, motoristas dos l eg i s l a ç ã o ônibus, pedestres, ciclistas e até os outros carros. Uma prática comum que geralmente provoca acidentes. Com o objetivo de coibir essas invasões, garantir mais segurança no trânsito e ter respeitada a prioridade aos coletivos nas vias urbanas, a presidente Dilma Rousseff sancionou em julho o Projeto de Lei de Conversão (PLC 08/2015), que altera várias determinações do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A alteração que beneficia o transporte coletivo está no artigo 184 do CTB, que torna gravíssima a infração referente à invasão de condutores de veículos particulares em vias exclusivas. Com a sanção da Lei nº 13.154/2015, os motoristas e motociclistas que invadirem os espaços destinados para ônibus terão que pagar multa de R$ 191,54 e perderão sete pontos na carteira. O veículo também pode ser apreendido. Já a Companhia de Engenharia e Tráfego do Rio de Janeiro (CET-Rio) revela que, em 2014, foram registradas 14.914 invasões nos corredores para ônibus — faixas BRS — na cidade. No sistema BRT Rio, o problema ocorre com a chamada “conversão”, quando o motorista utiliza o corredor do BRT no intuito de chegar à pista ao lado. De acordo com o Consórcio BRT, esse tipo de imprudência levou a 42 colisões entre veículos particulares e ônibus BRTs no corredor Transcarioca somente no primeiro semestre deste ano e 31 colisões no segundo semestre de 2014. Mudança de cultura Desrespeito em números Segundo a diretora de Relações Institucionais do Consórcio BRT, Suzy Balloussier, a Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciou, em 2011, a Década de Ação Pelo Trânsito, com o objetivo de reduzir em 60% a fatalidade dos acidentes de trânsito até 2020. Os dados referentes a essas invasões são alarmantes. Em Brasília, somente no mês de setembro de 2014, foram aplicadas mais de 1.500 multas decorrentes desse tipo de infração. Em Fortaleza, o problema atingiu um nível de extrema preocupação. A Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) registrou, de janeiro a maio deste ano, 60.616 invasões nas faixas da capital cearense. Suzy considera que, se as faixas exclusivas fossem respeitadas, o número de acidentes no país diminuiria consideravelmente. “Quem mais sofre com essa situação são os passageiros. Por isso, penso que a partir do momento em que faixas seletivas para ônibus são implantadas, é necessário impor uma lei mais rígida para criar uma cultura de respeito a essas faixas. Se os acidentes no trân- sito continuarem nesse ritmo, o Brasil não vai conseguir alcançar essa meta da OMS”, enfatiza a diretora. Para o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, o problema da invasão de faixas é cultural. “Infelizmente, muitos motoristas brasileiros adquiriram esse péssimo hábito e, de certo modo, isso se tornou cultural. O motorista olha para o lado, vê a faixa vazia e fica tentado a usar aquele espaço”, ressalta. Cunha compara o ato de invadir essas faixas ao avanço do sinal vermelho. Ele argumenta que, em ambos os casos, o motorista ou motociclista estão invadindo um espaço que não é deles e isso justifica o porquê de a invasão passar a ser considerada infração gravíssima — e de fato, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, avançar o sinal vermelho também é infração gravíssima. Ainda sobre a questão cultural, Otávio Cunha destaca que em alguns países europeus não existe catraca no transporte coletivo, de modo que o passageiro, ao entrar no ônibus, valida a passagem e, caso tente burlar a tarifa, pode ser multado em até 300 dólares. “Essa comparação se aplica no caso das invasões nas faixas exclusivas no Brasil ao passo que, na Europa, as leis referentes ao transporte público são mais rígidas e os europeus criaram uma cultura de respeito a essas leis. Deveria ser o caso do Brasil”, ressalta. Saiba mais Antes da Lei nº 13.154/2015, o Código de Trânsito Brasileiro determinava que “transitar na faixa ou pista da direita, regulamentada como de circulação exclusiva para determinado tipo de veículo é uma infração leve”. A multa era cobrada no valor de R$ 53,20 com perda de três pontos na carteira. Já a conversão em pista do sistema BRT, a lei continua considerando infração grave com multa no valor de R$ 127,69 e perda de cinco pontos na carteira. Revista NTU Urbano 19 Arquivo NTU A c ess i b i l i d a d e Acessibilidade no transporte público precisa ser ampliada a toda a infraestrutura do País A Cidades ainda estão despreparadas passados mais de dez anos desde a criação da legislação que determina acessibilidade em toda a infraestrutura de transporte público acessibilidade no transporte público é um tema que ganhou bastante visibilidade nos últimos 10 anos. Isso não significa, no entanto, que as pessoas com deficiência não enfrentem dificuldades para utilizar os ônibus e outros meios de transporte coletivo. A legislação proporcionou avanços na luta para melhorar a acessibilidade no transporte público, mas ainda há muito que ser feito. Todas as cidades brasileiras deveriam facilitar a viagem do passageiro com mobilidade reduzida, mas na prática não é isso que acontece. O Decreto nº 5.296/2004, publicado no Diário Oficial da União em 3 de dezembro de 2004, estabeleceu o prazo de até 120 meses para os municípios adequarem toda a estrutura do transporte público — estações, 20 Revista NTU Urbano terminais, pontos de parada e outros itens — para pessoas com deficiência. Esse prazo se encerrou em 2 de dezembro de 2014, ou seja, mais de 10 anos se passaram e muitos municípios ainda não cumpriram a legislação. Recentemente, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015), no capítulo X, artigo 48, assegurou que toda a estrutura do transporte coletivo deve funcionar de modo acessível para pessoas com deficiência. Ainda que a infraestrutura das cidades pareça estar longe de ser acessível, ao menos os ônibus coletivos têm avançado no atendimento a essa demanda. Boa Vista, capital de Roraima, é a mais recente cidade a ter todos os ônibus coletivos acessíveis, meta conquistada em julho deste ano. “Agora que a cidade está com toda a frota 100% acessível, o próximo passo é tornar a infraestrutura também acessível e, para isso, projetos para calçadas, abrigos de ônibus e terminais com acessibilidade já estão sendo analisados pela prefeitura”, explica a prefeita do município, Teresa Surita. Muito além das plataformas elevatórias Segundo a superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Teresa d’Amaral, desde 2008 não pode haver fabricação de ônibus sem acessibilidade. Ela enfatiza que essa medida não é o suficiente e que o País está muito fixado no conceito de que garantir acessibilidade significa apenas instalar plataformas elevatórias nos ônibus. a c ess i b i l i d a d e “A acessibilidade deve abranger uma série de medidas do poder público local dos municípios. Por exemplo, quando um cadeirante sai de sua casa para pegar um ônibus, ele tem dificuldades de se locomover com a cadeira de rodas porque as calçadas não são rebaixadas, então, atravessar a rua se torna algo complicado. Quando há rampas nessas calçadas para que o cadeirante possa atravessar a rua, muitas vezes essas rampas são muito mal feitas”, ressalta. Vale destacar que os veículos adquiridos antes de 2008 também passaram por adaptações de acessibilidade, de acordo com a Portaria Nº 260/2008 do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) – que estabelece que a instalação de plataforma elevatória em ônibus em circulação deve ser precedida de autorização dos fabricantes. Na época, a Associação Nacional dos Fabricantes de Ônibus (Fabus) não recomendou a realização de adaptações dos veículos em operação para a instalação de plataformas elevatórias por questões de segurança, já que os veículos não foram projetados para essa intervenção. Dessa forma, existem, atualmente, veículos em circulação sem elevadores que são considerados acessíveis, pois atenderam aos requisitos da Portaria n.° 260/2008 do Inmetro. O coordenador do Núcleo Jurídico e Parlamentar da NTU, Ivo Palmeira, aponta que a legislação federal de acessibilidade é genérica, permitindo que cada município cumpra as normas de acordo com suas características geográficas, orçamentárias, tamanho da frota, entre outros aspectos. Ou seja, o gestor público define o tipo de acessibilidade dos ônibus de cada cidade de acordo com a infraestrutura do sistema de transporte disponível e as características físicas das vias. Contudo, independentemente das características de cada município, o ideal é que toda a frota municipal seja acessível. “Cada município tem uma lista própria de infrações e punições para as empresas de ônibus que não respeitam as normas de acessibilidade e, obviamente, essas empresas estão sujeitas a multas. Sobre a questão que vai além da frota, é notório que uma infraestrutura com acessibilidade ainda é algo muito raro nas cidades”, finaliza. Como especifica o Decreto nº 5.296/ 2004, a troca de uma frota não acessível por uma acessível é realizada de forma gradual, respeitando o prazo previsto no contrato entre a empresa de ônibus e o município. Desse modo, se o contrato exige que a frota tenha uma idade média de cinco anos e máxima de dez anos, os veículos sem acessibilidade que estão dentro desse limite podem ser substituídos gradativamente por outros ônibus acessíveis. Isso explica o motivo de muitos municípios ainda não terem uma frota totalmente acessível. Itens de acessibilidade Confira alguns itens de acessibilidade, de acordo com a NBR 14022 e NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ponto de parada: deve ter uma área de no mínimo 90 centímetros de largura para acomodação de cadeira de rodas. Terminal: deve ter um mínimo de 20% de assentos reservados para pessoas com mobilidade reduzida. Veículos: o piso dos veículos pode ser alto ou baixo, de acordo com a infraestrutura viária de cada município, ficando a critério do poder público local. Os veículos ainda devem ter 10% dos assentos reservados às pessoas com mobilidade reduzida, preferencialmente localizados próximos à porta de acesso, além de área reservada para cadeira de rodas e cão-guia. Exemplos de cidades com a frota 100% acessível Boa Vista (RR) Belo Horizonte (MG) João Monlevade (MG) Brasília (DF) Osasco (SP) Ribeirão Preto (SP) São José dos Campos (SP) Serra (ES) Passo Fundo (RS) Porto Alegre (RS) Santa Maria (RS) Revista NTU Urbano 21 c a pa 24 Revista NTU Urbano c a pa Os caminhos para a mobilidade sustentável pela priorização ao coletivo Prioridade aos meios de transporte coletivo e desestímulo ao individual é a única solução para o trânsito nas cidades. NTU promove evento para discutir os desafios para a melhoria do transporte público e da qualidade de vida das pessoas Q Luísa Zottis / EMBARQ Brasil uem nunca dedicou um bom tempo de conversa para discutir a situação do trânsito no Brasil, que atire a primeira pedra. Com um papel central na vida de toda a população, a mobilidade urbana é assunto em debates informais com os colegas de trabalho, salas de aula, eventos com especialistas e encontros nacionais ou internacionais em busca de soluções. Revista NTU Urbano 25 Mario Roberto Duran Ortiz c a pa Em Belo Horizonte, o Sistema Move trouxe priorização ao transporte coletivo e mais áreas verdes para a cidade. Diante desse tema que tira, literalmente, o sono de muitos brasileiros, é impossível ignorar problemas como os congestionamentos, a falta de estacionamentos e a poluição do ar. Tudo isso causado pela concentração de pessoas nas grandes metrópoles, o aumento do poder aquisitivo das famílias, a falta de planejamento urbano, a ausência de políticas de prioridade ao transporte público e os incentivos ao transporte individual. Para o presidente da NTU, Otávio Cunha, um dos desafios, e muito pouco abordado nessa discussão, é a mudança de cultura da sociedade. “É preciso pensar coletivamente. As cidades foram feitas para as pessoas, e hoje os automóveis tomam conta da maior parte do espaço. Não dão direito nem ao cidadão de atravessar 26 Revista NTU Urbano a rua onde quiser. É uma cultura em que o automóvel tem o poder e domina a cidade, e é isso o que precisamos mudar. A prioridade tem que ser ao coletivo, às pessoas”, reflete. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizado em 2011, a frota nacional de veículos cresceu 119% em 10 anos. Tendência que se confirma nos dias de hoje. “A situação piorou. Mesmo com o crédito dificultado, a inflação mais alta e a retração natural do período, cada vez mais automóveis ganham as ruas”, afirma o coordenador de Estudos Setoriais Urbanos do Ipea, Ernesto Galindo. Arquiteto urbanista com especialização em transportes, Galindo não condena o carro, mas ressalta a urgência de regular o seu uso. “Todos têm direito ao bem, a questão é como se utiliza. É preciso desestimular o uso, valorizando o transporte público. Melhorar o serviço, criar vias exclusivas para ônibus e cobrar pelos estacionamentos públicos são possibilidades”, aposta. Inversão de valores No Brasil, apesar de transportarem apenas 20% dos passageiros nos deslocamentos motorizados, os carros particulares ocupam 60% das vias públicas. Já os ônibus, responsáveis por 70% dos passageiros, preenchem apenas 25% do espaço. A conta não fecha. E mudar esse cenário passa, impreterivelmente, pela realização de grandes c a pa investimentos em transporte público sustentável. Entre as melhorias necessárias, estão: aumento no número de serviços de ônibus e de linhas de metrô e de trem, qualidade dos veículos (conforto, segurança e eficiência), tarifas menores e rapidez nos trajetos. Para isso, as vias e corredores exclusivos e os sistemas BRT (Bus Rapid Transit) são fundamentais. “Transportes coletivos e individuais disputam o mesmo espaço. A partir do momento em que são reservadas vias exclusivas para o ônibus, cumprimos a Lei da Mobilidade Urbana e incentivamos o uso desse serviço, já que a viagem será mais rápida e sem engarrafamentos. O transporte público tem que ser sempre o melhor possível, para que as pessoas deixem o carro em casa e use-o apenas para passeio”, destaca Galindo. “A via exclusiva é positiva, pois permite ao sistema público de transporte ser mais competitivo em relação ao carro particular. No entanto, se uma pessoa tem garantido um espaço para seu automóvel em sua casa e no trabalho, sem pagar por isso, ainda que se construa uma linha de metrô em frente à casa dela, ela preferirá o carro na maioria das vezes”, pondera Sañudo. Ainda na linha do desestímulo ao uso do transporte individual e incentivo à mobilidade sustentável, especialistas condenam a construção de estacionamentos subterrâneos. “Esses estacionamentos não são uma solução para a mobilidade urbana. Quanto mais estacionamentos, mais tráfego. Além disso, os custos da obra são altos. Seria melhor investir em transporte limpo”, garante a gerente de Transportes Ativos e Gerenciamento de Demanda do ITDP Brasil, Danielle Hoppe. Integrar é preciso "No Brasil, apesar de transportarem apenas 20% dos passageiros nos deslocamentos motorizados, os carros particulares ocupam 60% das vias públicas. Já os ônibus, responsáveis por 70% dos passageiros, preenchem apenas 25% do espaço." A conta não fecha. Não só de ônibus sobrevive um sistema de mobilidade urbana sustentável. Apesar de o transporte público representar o principal caminho na busca por mais qualidade no deslocamento de pessoas nos centros urbanos, há outras alternativas que também devem ser consideradas, como as bicicletas. Dentro desse contexto, a construção de ciclovias e ciclofaixas e a instalação de bicicletários são iniciativas Mario Roberto Duran Ortiz Outro ponto importante diz respeito à organização de um sistema de cobrança pelos estacionamentos. Para o coordenador de Políticas de Estacionamento do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), Andrés Sañudo, não adianta investir no transporte e manter o acesso gratuito a vagas em áreas públicas. Em São Paulo, os ônibus coletivos já contam com mais de 400 km de faixas exclusivas. Revista NTU Urbano 27 c a pa importantes para incentivar o uso das bikes, que, além de desafogarem o tráfego e constituírem um meio de transporte limpo, contribuem para a prática de atividade física. Por mais que não sejam a melhor opção em trajetos muito longos, se combinadas com outros modais como ônibus e metrô, as chamadas “magrelas” têm se revelado um meio de transporte eficiente. “Apesar de não ser feita para vencer grandes distâncias, a bicicleta pode ser ótima para economizar tempo nos horários de rush, em percursos menores”, avalia Ernesto Galindo, do Ipea. shutterstock Da mesma forma, os deslocamentos a pé também merecem atenção. Nesse sentido, os investimentos em infraestruturas mais simples, como calçadas – um dos problemas de mobilidade urbana é a ausência ou má conservação do caminho utilizado por transeuntes, que causa, inclusive, acidentes – e faixas de 28 Revista NTU Urbano pedestre, são essenciais. E podem fazer a diferença. “Para reduzir o uso do automóvel, é necessário enfrentar o problema por mais de uma perspectiva. Primeiro, e mais óbvio, tornar o transporte público atrativo. Segundo, investir em um espaço público que incentive as pessoas a realizar viagens caminhando ou de bicicleta, com uma infraestrutura adequada e integrada ao transporte coletivo”, aponta Danielle Hoppe, do ITDP Brasil. tanto, ela também está diretamente relacionada a outras questões importantes. Na saúde, por exemplo, os efeitos são avassaladores. Segundo dados do Instituto Saúde e Sustentabilidade – que estuda e propõe soluções para os efeitos da urbanização na saúde humana –, somente no estado de São Paulo, morrem 17 mil pessoas por ano em decorrência da poluição do ar. Males da mobilidade não sustentável Naturalmente, os veículos têm grande responsabilidade no lançamento de componentes tóxicos na atmosfera, por meio da queima de combustíveis fósseis. Por um lado, temos o material particulado (poluentes suspensos no ar), que pode levar a doenças como enfarto e acidente vascular cerebral (AVC). De outro, o dióxido de carbono, gás causador do efeito estufa, fenômeno de aquecimento reforçado pela impermeabilização do solo pelo asfalto. Ao falar em mobilidade urbana, logo pensamos em deslocamento. No en- Ou seja, a população é duplamente atingida: primeiro, em sua integri- A implantação de estacionamentos de automóveis junto aos terminais de transporte público também é um caminho para reduzir a circulação de automóveis nas áreas centrais das cidades. C a pa dade física; segundo, com o desequilíbrio ambiental, que provoca tanto problemas de saúde quanto tragédias. “Hoje, a poluição do ar é a principal causa ambiental de mortes por doenças não transmissíveis no mundo. O solo pavimentado, por sua vez, muitas vezes causa enchentes e o efeito estufa, que traz mudanças climáticas bruscas”, explica a diretora-presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade, Evangelina Vormittag. E não para por aí. O excesso de veículos nas ruas provoca outros problemas, como a poluição sonora e doenças mentais, desencadeadas por fatores como tempo de deslocamento. “O barulho afeta a saúde auditiva, prejudica o sono e pode causar até depressão. Além disso, com os longos congestionamentos, as pessoas chegam a passar horas no carro ou no ônibus. Assim, não têm tempo para estudos, lazer, exercícios físicos ou ficar com a família, o que gera estresse e outras doenças”, ressalta Vormittag. Para reverter esse quadro preocupante, Evangelina considera fundamental a integração de ações entre as áreas de transporte, saúde e meio ambiente, envolvendo a participação de todas as esferas da sociedade: “Tem que construir novas áreas verdes, reduzir o número de carros nas vias, incentivar o transporte público. E os veículos precisam ser mais limpos, com o uso de combustíveis renováveis. Sem isso não há mobilidade urbana sustentável”. Bons exemplos O Brasil ainda enfrenta muitos problemas no setor de mobilidade urbana, mas muito já vem sendo fei- Sidnei Barros clusivos para ônibus e ampliando a rede cicloviária. As ciclovias têm ganhado cada dia mais espaços nas cidades brasileiras. to. Em Belo Horizonte, está sendo elaborado um plano de mobilidade que inclui investimentos robustos no sistema BRT e em ciclovias. Da mesma forma, o Rio de Janeiro segue construindo corredores ex- Em São Paulo, as pistas para bikes também estão sendo expandidas, assim como as faixas exclusivas para ônibus do transporte público. Na capital federal, Brasília, pistas para ônibus, mais ciclovias e autorização de embarque de bicicletas no metrô são algumas das iniciativas. Trata-se de bons exemplos, que demonstram a viabilidade de uma mobilidade urbana mais sustentável. Com um sistema de transporte público de qualidade e integrado com os mais diversos modais, além da redução de congestionamentos e do tempo de locomoção, a população perceberá, cada vez mais, melhorias na qualidade de vida, com cidades menos poluídas e menos estresse relacionado a transtornos no deslocamento. E com isso toda sociedade ganha. Debate Atenta à importância do debate em torno do transporte público, a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) promove entre os dias 1º e 3 de setembro de 2015 a 29ª edição do Seminário Nacional NTU & Transpúblico. O evento será realizado em São Paulo. Entre os temas que serão discutidos estão “Prioridade ao coletivo por uma mobilidade sustentável”, “O futuro da mobilidade sustentável: tendências mundiais” e “Cenário econômico nacional e perspectivas”, além da Oficina de Tecnologia Veicular e a tradicional Feira Transpúblico. Promovida paralelamente ao seminário, a feira oferece uma exposição de empresas do setor de transportes. Durante três dias, fabricantes e montadoras de ônibus e fornecedores de equipamentos exibirão sistemas e serviços para o transporte de passageiros por ônibus urbano. Mais informações e inscrições no site do evento, em www. eventosdantu.com.br/seminario2015. Revista NTU Urbano 29 CMT E AUTOPASS: MAIS UMA VEZ RECONHECIDOS INTERNACIONALMENTE. Pela segunda vez consecutiva (2013 e 2015), o CMT (Consórcio Metropolitano de Transportes) e a AUTOPASS receberam um dos mais importantes prêmios do setor de transportes no mundo, o prêmio UITP - União Internacional de Transporte Público, que é entregue durante o Congresso Mundial de Transportes que acontece a cada dois anos. Neste ano, durante o 61º Congresso Mundial da UITP, que ocorreu em Milão, na Itália, no dia 8 de junho de 2015, o CMT e a AUTOPASS receberam o prêmio Recognition Latin America (Reconhecimento América Latina) com o case “Deployment BOM+ Card with two features: Transport and Prepaid” (Implantação do Cartão BOM+ com duas funcionalidades: transporte e pré-pago) vencedor na categoria Design Award, destaque entre os mais de 300 projetos enviados de 40 países diferentes. O prêmio foi materializado através de uma pintura feita pelo renomado artista belga François Schuiten, famoso pela série “Les Cités Obscures”. Este prêmio é o reconhecimento de um trabalho inovador provando que, assim como a Região Metropolitana de São Paulo, o Cartão BOM não para de crescer e está cada vez melhor. G es tã o em p r es a r i a l Os desafios do transporte coletivo de passageiros em São Paulo Empresários falam dos desafios de prestar o serviço na maior cidade do Brasil e o que esperam com a nova licitação de concessão G erir uma empresa de transporte coletivo urbano não é fácil. O grau de dificuldade aumenta nas grandes metrópoles, como São Paulo. Pensando assim, as empresas de ônibus que oferecem o serviço precisam enfrentar diariamente os percalços que acontecem com usuários, colaboradores, equipamentos e governo. Além disso, enfrentam o compromisso de se reinventarem em meio a novo edital de concessão do serviço de transporte público sobre pneus, divulgado em julho de 2015. É possível imaginar o quão desafiador é transportar pessoas, em São Paulo, quando os números são citados. Só a Região Metropolitana é composta por 39 municípios com cerca de 20 milhões de habitantes. Já a capital 32 Revista NTU Urbano paulista, a sétima cidade mais populosa do planeta, aglomera mais de 11 milhões de pessoas. Os números altos demonstram também a quantidade de passageiros e de ônibus que são necessários para a realização das viagens do transporte público. Nos municípios, circulam diariamente cinco mil ônibus intermunicipais, atendendo mais de 560 milhões de passageiros por ano nas 600 linhas autorizados. As 45 empresas formadas, reunidas no Consórcio Metropolitano de Transportes (CMT), empregam diretamente 25 mil pessoas, das quais 19 mil atuam diariamente nas ruas. Já São Paulo capital possui 14 empresas agrupadas em oito consórcios, que atuam em oito áreas de ges tã o em p r es a r i a l Para Francisco Christovam, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo (SPUrbanuss), é preciso que as empresas se reinventem com mais rapidez. “O prazo que as empresas tinham para nascer, crescer, se desenvolver e depois ter que passar pelas mudanças, hoje está bastante reduzido”, pontua. Ele ainda alerta sobre as novidades que a licitação traz e que podem mudar consideravelmente a forma de prestar o serviço. “O poder público não quer contratar consórcio, quer contratar SPE (Sociedade de Propósito Específico) e isso muda radicalmente a forma como as empresas vão se organizar para poder prestar o serviço. É uma novidade no setor. Até agora as empresas não trabalharam sobre esse regime. Então, vamos enfrentar uma discussão diferente, onde as empresas não somam mais suas competências, mas passam a compor uma sociedade. Isso certamente trará mudanças radicais na forma como elas vão se organizar”, defende Christovam. O Brasil é um dos países que tem uma das maiores malhas viárias, e por uma questão cultural o governo deixou de fazer melhorias para o transporte. Essa realidade é citada pelo jovem empresário Márcio Arduim Saraiva, do Grupo NSO, que reúne as empresas paulistas Viação Urubupungá, Santa Brígida e Caieiras. Para Márcio, é importante que o debate sobre mobilidade urbana seja mais amplo e com toda a sociedade. “O que eu percebo é uma discussão, em alguns momentos, míope ou que enxerga apenas um ponto. Olhar a questão como um todo, enxergar a mobilidade como um todo é a melhor saída para qualquer tipo de debate, desde a criação de ciclofaixas como a ampliação de metrô, trem e, até mesmo, a licitação do transporte sobre pneus”, enfatiza. No entanto, uma visão mais otimista, por vezes, esbarra na realidade de como tem sido difícil trabalhar com o transporte de passageiros. O não cumprimento de contratos, principalmente com a falta do reajuste tarifário e a redução da tarifa – que é o principal meio de recomposição de custos e capital que esse tipo de negócio oferece –, tem deixado muitas empresas no vermelho ou até fechando as portas. Em São Paulo, as empresas da Região Metropolitana passaram o ano de 2014 sem o aumento de tarifa e, atualmente, estão todas descapitalizadas, informa Luiz Augusto Saraiva, presidente do Consórcio Metropolitano de Transportes (CMT). “Ainda no ano passado aumentaram a gratuidade, já que a idade mínima de 65 anos foi reduzida para 60 anos, e sem nenhum repasse do governo”, alerta. Com o novo contrato, Saraiva e as empresas esperam ter um pouco mais de compreensão do poder público. “Que a EMTU, assim como o município, crie subsídio para que tenhamos uma tarifa mais acessível para a população”, sugere. Segundo Gerson Oger Fonseca, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de São Paulo (Fetpesp), a crise econômica do País já causa queda significativa de demanda dos transportes coletivos desde março. “O desemprego e a desconfiança no futuro diminuíram a demanda pelo transporte por ônibus em 5%”, informou. “Os três interessados, governo, iniciativa privada e usuário, precisam ter uma conversa mais profunda para encontrar soluções efetivas”, finaliza Gerson. Barbieri e Buono operação na cidade. Nessas áreas, circulam cerca de nove mil ônibus, responsáveis pela realização de 10 mil viagens por dia nas quais são transportados cerca de seis milhões de passageiros. Empresário de São Paulo participam de 20º Congresso Brasileiro de Trânsito e Transporte da ANTP. Revista NTU Urbano 33 Chegaram os Terminais de Autoatendimento da Empresa 1. A solução ideal para ampliar sua rede de vendas e recarga de cartões. Rede de vendas 100% automatizada Software de monitoramento em tempo real do funcionamento do equipamento e seus dispositivos, com alertas automáticos de utilização e capacidade. Feitos sob medida Os equipamentos podem ser montados de acordo com a necessidade de cada operação. Dispositivos opcionais DISPENSADOR DE CARTÕES LEITOR DE CÓDIGO DE BARRAS +55 31 3516 5200 LEITOR DE QR CODE PIN PAD ACEITADOR DE MOEDAS ACEITADOR DE CÉDULAS IMPRESSORA DISPLAY DE PUBLICIDADE empresa1.com.br E mb a r q ue n ess a i d e i a Luis Antonio Lindau, PhD, presidente da EMBARQ Brasil O transporte coletivo no contexto metropolitano A Lei 12.587/2012 que estabelece a Política Nacional de Mobilidade Urbana determina que as cidades de regiões metropolitanas tenham planos de mobilidade. O grande desafio é compatibilizar, nos âmbitos municipal, estadual e federal, as soluções aos problemas decorrentes do contexto regional. Planejamento e gestão integrados do transporte coletivo nos municípios metropolitanos oportunizam alternativas mais eficientes e menos onerosas de deslocamento. Redes multimodais de transporte coletivo – trilhos, hidroviário, pneus –, associadas a um modelo tarifário integrado, beneficiam usuários e prestadores de serviço ao promover a racionalização operacional e a redução de custos, diminuindo o impacto ao meio ambiente. Intervenções conjuntas na infraestrutura e circulação viária também geram ganhos, uma vez que os principais eixos têm continuidade entre as cidades e, muitas vezes, formam um tecido urbano único. O Estatuto da Metrópole 3, sancionado no início deste ano, determina que municípios e estados assumam e compartilhem planejamento, gestão e execução de funções públicas de interesse comum. O Rio de Janeiro instalou a Câmara Metropolitana de Integração Governamental e o Grupo Executivo de Gestão Metropolitana, responsável pela contratação e gestão do plano de desenvolvimento da RM, no qual um dos destaques será a mobilidade. O Estado de Minas Gerais detalha o Plano Metropolitano de Belo Horizonte e trabalha no Plano de Mobilidade. Estamos vivendo, finalmente, uma possibilidade concreta de tratar o transporte coletivo na dimensão metropolitana. Associações como o FNEM - Fórum Nacional de Entidades Metropolitanas exercem papel estratégico, uma vez que fomentam o planejamento e a efetiva participação de organismos de transporte metropo- litanos na formulação e implementação das políticas de desenvolvimento. O desafio do transporte coletivo no contexto metropolitano é o foco de um dos painéis do Congresso Internacional Cidades & Transportes4, dias 10 e 11 de setembro, no Rio de Janeiro. shutterstock J á somos 100 milhões de brasileiros vivendo em regiões metropolitanas (RM). O crescimento da população nessas conurbações vem acompanhado do aumento da área ocupada, muitas vezes de forma dispersa, trazendo como consequência problemas relacionados à mobilidade. A falta de planejamento urbano repercute no incremento da frota de veículos privados, que inclusive supera o crescimento populacional na maioria dessas cidades e gera prejuízos à economia e ao bem estar. Apenas em 2013, os congestionamentos nas RM de São Paulo e Rio de Janeiro geraram um custo econômico de R$ 98 bilhões relativos ao gasto extra de combustível e à produção não realizada, o que equivale a 2% do PIB nacional1. Os custos de congestionamentos, consumo de energia, emissões de carbono, poluição do ar, acidentes de trânsito e segregação de comunidades decorrentes do estímulo ao uso do automóvel podem atingir até 10% do PIB das cidades2. Notas [1] FIRJAN - Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. Os Custos da (i)mobilidade nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e São Paulo. Rio de Janeiro/RJ, Brasil, 2014. [2] DALKMANN, H.; SAKAMOTO, K.. Low Carbon Green Growth Roadmap for Asia and the Pacific – Urban Transport: policy recommendations for the development of eco-efficient infrastructure. Disponível em: http://www.unescap.org/sites/ default/files/7.%20Urban-Transport.pdf. [3] Disponível em: http://bit.ly/1MmQRLv [4] cidadesetransportes.org Revista NTU Urbano 35 políticas públicas Estatuto da Metrópole: uma luz no fim do túnel Norma que prevê mais integração entre os municípios para o desenvolvimento urbano prevê gestão mais eficaz em áreas fundamentais, como infraestrutura, saneamento básico e, especialmente, mobilidade urbana 36 Revista NTU Urbano políticas públicas O objetivo do estatuto, que estabelece diretrizes gerais para o planejamento, a gestão e a execução de políticas públicas pelos municípios, é promover o desenvolvimento urbano integrado de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas (compostas por dois ou mais municípios limítrofes). Em linhas gerais, a norma amplia o potencial de inte- gração de ações entre os municípios de uma região metropolitana e prevê que os entes da federação compartilhem responsabilidades no cumprimento dessas ações. Hoje, temos 66 regiões metropolitanas, cinco aglomerações urbanas e três Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico (RIDEs) com mais de 100 milhões de habitantes. O problema é que, até então, os estados eram livres para estabelecer regras para os municípios em seus territórios, resultando em desigualdades pelo país. A meta é unificar as ações em áreas fundamentais. Tudo com o apoio dos estados e da União. Proposto pela Câmara dos Deputados pelo parlamentar Walter Feldman (PSB-SP), o projeto foi aprova- Arquivo NTU O Brasil é um país de grandes disparidades. Basta fazer uma breve análise dos 5.570 municípios para notar as diferenças entre eles quando o assunto são áreas básicas, como infraestrutura, mobilidade urbana e saneamento. Para reverter esse quadro, foi sancionada, no início deste ano, a Lei nº 13.089, que institui o Estatuto da Metrópole. Revista NTU Urbano 37 Arquivo NTU políticas públicas do pelo Senado após passar por três comissões permanentes. Relatora pela Comissão de Serviços de Infraestrutura, a senadora Lídice da Mata (PSB-BA) não pensou duas vezes ao defender a aprovação do estatuto. “O principal benefício da nova lei é justamente a unificação das normas para a criação e a gestão das regiões metropolitanas, já que são áreas formadas por municípios que compartilham dinâmicas geográficas, ambientais, políticas e socioeconômicas. Como há problemas comuns e, muitas vezes, de difícil solução de forma isolada, a unificação das normas vai facilitar a cooperação entre municípios para a busca de soluções conjuntas”, explica. Melhorias na mobilidade Para que a lei seja colocada em prática, cada região metropolitana ou aglomeração urbana deve elaborar e aprovar, no prazo de três anos a contar da aprovação do estatuto, um plano de desenvolvimento urbano in- 38 Revista NTU Urbano tegrado. A norma também estabelece que a sociedade civil e o Ministério Público participem de todo o processo, desde a elaboração do plano até a fiscalização de seu cumprimento. transporte público”, destaca Nelson, que também é coordenador geral do Instituto Pólis, uma ONG que trabalha na construção de cidades mais sustentáveis e democráticas. Conselheiro nacional do Conselho das Cidades e membro da Coordenação do Fórum Nacional de Reforma Urbana, o professor de Direito Urbanístico Nelson Saule acredita que o estatuto trará melhorias em áreas importantes. Entre elas, a mobilidade urbana. “O tema será incorporado em uma perspectiva de atuação mais integrada dos municípios por meio de ferramentas de planejamento”, afirma Saule. Dessa forma, para que a mobilidade seja beneficiada e, consequentemente, o transporte público ganhe mais qualidade, é necessária vontade política dos governantes para enfrentar os problemas dessas áreas de forma integrada. A senadora Lídice da Mata considera a mobilidade urbana um dos setores que mais devem receber atenção, ao lado de saneamento básico. Para ele, a nova norma pode ser uma importante aliada na mudança de uma visão construída ao longo do tempo, que prejudicou o estabelecimento de uma mobilidade urbana sustentável. “É preciso inverter a prioridade dos investimentos e a lógica do processo de urbanização que resultou na prevalência do transporte individual sobre o “A melhoria das condições de mobilidade urbana vai ao encontro da qualidade de vida dos cidadãos, já que diversas pesquisas apontam que nos grandes centros urbanos leva-se mais de duas horas no deslocamento para trabalhar ou estudar. Investir na melhoria da mobilidade é investir na qualidade de vida da população”, defende a parlamentar. políticas públicas Além do plano de desenvolvimento urbano integrado, o estatuto prevê outros instrumentos que contribuirão para o crescimento dos municípios, como consórcios públicos, convênios de cooperação e parcerias público -privadas interfederativas. O texto inicial também estabelecia a criação de um Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano Integrado para captar recursos e financiar ações nas regiões metropolitanas. No entanto, o Planalto vetou essa parte, o que, na opinião de Saule, “fragilizou a capacidade de investimentos de forma integrada entre União, estados e municípios”. Apesar dos pontos fracos do texto da lei e de obstáculos – como o fato de as regiões metropolitanas não terem responsabilidade sobre as arrecadações por serem apenas unidades administrativas –, especialistas apostam no estatuto como a luz no fim do túnel para muitos dos problemas da população brasileira, entre eles a já citada mobilidade urbana, que é precária em muitas metrópoles. Mas, para que isso aconteça, o coordenador do Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte de Qualidade para Todos (MDT) e presidente do Instituto da Mobilidade Sustentável - Ruaviva, o urbanista Nazareno Stanislau, diz que é preciso mudar toda a dinâmica em torno da mobilidade. O primeiro passo, segundo ele, é olhar para ações que já estão previstas na Política Nacional de Mobilidade Urbana, instituída pela Lei nº 12.587, em 2012. mentais para democratizar o uso das vias das cidades. “Hoje, as ruas são utilizadas em quase 90% pelo automóvel. O maior desafio é priorizar o pedestre, o ciclista e o transporte público. Para isso, os estados precisam ajudar os municípios a elaborar projetos e fazer a gestão da mobilidade com qualidade e serviços de ponta. Tudo isso com a participação da sociedade”, ressalta o urbanista. “Uma política de financiamento onde o usuário deixe de ser o principal financiador, investimentos em capacitação nos sistemas de ônibus, manutenção de vias onde circulam os ônibus e mudanças no Código de Trânsito Brasileiro para proibir que carros particulares estacionem em todas as vias nas quais circulem transporte público são algumas sugestões”, aponta Nazareno. Além disso, a implantação de mais faixas exclusivas de ônibus e o investimento em calçadas e ciclovias são iniciativas consideradas funda- Pedro Franca Novos caminhos Senadora Lídice da Mata (PSB-BA) defendeu a aprovação do Estatuto. Revista NTU Urbano 39 P E LO M U NDO SUÉCIA Divulgação Livre de carros por um dia Em setembro, Estolcomo, capital da Suécia, vai banir todos os carros do centro da cidade por um dia. O objetivo é conscientizar a população de como seria a vida sem carros e incentivar maior uso do transporte público. Essa ação faz parte do movimento European Mobility Week (Semana Europeia de Mobilidade), que visa promover o transporte sustentável. Não é de hoje que a cidade se preocupa com as ações de sustentabilidade. Em 2010, a capital ganhou o prêmio European Green Capital (Capital FRANÇA água potável e pela logística de resíduos. Sem vagas gratuitas para estacionamento Mais de 200 cidades europeias vão participar esse ano com exemplos A partir de agosto de 2015, Paris não possui mais estacionamen- sustentáveis. Budapeste, na Hungria, e Lisboa, em Portugal, também vão tos públicos gratuitos. A ação faz parte da série de medidas que adotar o dia sem carros nas ruas. vêm sendo tomadas para a redução da emissão de gases poluen- Verde da Europa) pelas baixas emissões poluentes no transporte, pela tes na cidade. Embora 55,5% das residências parisienses não possuam automóvel particular, a cidade está fazendo esforços massivos para conter o transporte motorizado individual. O responsável pelo departamento de trânsito, Christophe Najdovski, afirma que os estacionamentos gratuitos na cidade incentivam o Divulgação uso do automóvel particular. A implantação da mudança foi gradativa, com cobranças aos sábados e zonas de cobrança com horário estendido durante os dias úteis, além dos valores que foram aumentando gradualmente. No ano passado, a capital francesa apresentou o pior índice de poluição dos últimos sete anos e, desde então, vem adotando medidas para contornar a situação. A cidade já ofereceu transporte gratuito, alugueis de carros elétricos e compartilhamento de bicicletas. INGLATERRA Londres vai receber a versão ecológica de um dos transportes que é símbolo cultural da cidade. Os ônibus de dois andares movidos à eletricidade vão começar a ser testados a partir de outubro. A capital transporta 6,5 milhões de pessoas por dia e possui uma frota de 8.700 ônibus. A estimativa é que em 2020 todos os veículos de transporte público sejam de emissão zero de gases poluentes. 40 Revista NTU Urbano Divulgação Ônibus elétrico em Londres P o n t o d e ô n i bus Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes Licitação de São Paulo: sistemas mais enxutos e eficientes Novo modelo dos transportes de São Paulo traz aspectos positivos. Mas o que vai ocorrer com a infraestrutura? O decreto do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, publicado em julho, que dá bases para o sistema de transportes da capital paulista traz pontos positivos e dúvidas que servem para levantar discussões importantes a respeito de como outras cidades do País podem melhorar a mobilidade. 2016 está gravemente ameaçada. Interferem também no ritmo das obras de corredores desavenças políticas entre o Tribunal de Contas do Município e a Prefeitura, além de erros em projetos. Isso sem contar que mesmo que a meta fosse cumprida, a malha de corredores de ônibus em São Paulo ainda seria insuficiente. Inicialmente, pelo que é visto, a intenção do poder público é enxugar o sistema, deixando-o mais eficiente. Essa é uma questão fundamental na evolução dos transportes: oferecer um bom sistema de mobilidade não significa gastar muitos recursos e criar serviços complexos. Não adianta seccionar linhas se não houver corredores de ônibus. As baldeações que poderiam ser eficientes e que tendem a ser mais numerosas, com o novo modelo, se tornariam pouco práticas, cansativas e poderiam resultar no que não queremos: desestímulo ao uso do transporte coletivo. Não adianta o passageiro ter um ônibus biarticulado ou superarticulado com wi-fi, ar-condicionado e monitor de entretenimento se esse veículo ficar preso no trânsito. O ideal é que as mudanças de linhas não ocorram de acordo com uma simples data colocada num papel, mas sigam o avanço da infraestrutura para o transporte coletivo. E isso a sociedade deve cobrar. Hoje, vários exemplos em todo o mundo mostram que quanto mais simples, do ponto de vista operacional é um sistema, ele se torna mais eficiente. Assim, reduzir as sobreposições, possibilitar que só veículos de alta capacidade circulem pelos grandes eixos da cidade e criar redes de linhas que se interligam são ações positivas esperadas com a nova licitação de São Paulo. É ótimo pensar que os ônibus terão mais capacidade e velocidade nos corredores. Mas cadê os corredores? Com problemas financeiros específicos e relacionados à atual situação econômica do Brasil, a meta de mais 150 quilômetros de corredores até A Taxa Interna de Retorno (TIR) para as empresas de ônibus, que deve cair para 9,9%, tem de realmente garantir o que se propõe: retorno aos investimentos dos empresários. Não se trata de defender as viações, mas a viabilidade do sistema. Se a empresa de ônibus não tiver o retorno necessário, os investimentos e a qualidade caem. A redução da margem de 15% a 18% de TIR para 9,9% foi pensada na expectativa da redução dos custos operacionais. Apesar das lacunas e das dúvidas, inclusive em relação aos empregos dos trabalhadores do setor, não se pode desqualificar um processo de licitação como o de São Paulo. Mesmo que ainda não atenda a tudo o que é necessário em relação à mobilidade. É um avanço. Lembro-me que quando houve a apresentação dos resultados da verificação externa das contas dos transportes pela Ernest & Young no final do ano passado, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, disse que haveria revisões ao longo do tempo de contrato. E é isso que se espera. São 20 anos de concessão. O modelo não pode ficar engessado, já que transportes são serviços dinâmicos e acompanham as necessidades e novas realidades sociais e econômicas. Pelo ritmo atual, em 20 anos muita coisa pode mudar. Revista NTU Urbano 41 # n t u r e c o me n d a Apps Site Livro Meu ônibus Rede Social BRT Rio Transporte, uso de energia e impactos ambientais Já está disponível para download o aplicativo Na página do facebook do BRT RIO oficial, “Meu Ônibus”, que tem como objetivo oferecer você pode encontrar notícias, campanhas e O livro “Transporte, uso de energia e impactos aos usuários do transporte público de Fortale- esclarecer dúvidas sobre o sistema BRT do Rio ambientais: uma abordagem introdutória” za (CE) informações sobre os horários de che- de Janeiro. A rede social possui 168.119 curtidas é uma publicação que tem como ênfase a gada dos veículos nos pontos de parada. O app e seus seguidores ainda podem saber como operação dos transportes associada ao maior permite ao usuário visualizar a localização do está o funcionamento do sistema no dia com consumo de energia e aos impactos ao meio veículo e prevê o horário de chegada do ônibus informações de intervalos e saídas dos ônibus ambiente. É indicado para as graduações em no ponto de parada em tempo real. e possíveis imprevistos. Além de dicas para engenharia ambiental, civil com ênfase em preservação das estações de integração e dos transportes, engenharia de produção, enge- Também oferece a programação do tempo de ônibus. Quer conhecer a página? É só acessar nharia urbana, engenharia da mobilidade e deslocamento, a redução do tempo de espe- www.facebook.com/BRTRioOficial geografia, e também para alunos de cursos de ra, a localização dos pontos de parada mais formação de técnicos e de tecnólogos nos dife- próximos, assim como as linhas de ônibus que rentes segmentos de atuação das engenharias. p a ss a m n o p o n to e o itinerário das linhas de A obra aborda diferentes fontes de energia ônibus desejadas. Ele é para os transportes e, em função das peculiari- gratuito no Google Play dades do caso brasileiro, destaca os derivados para celulares com sis- de petróleo, gás natural, etanol e biodiesel com tema Android. Em breve, descrição de suas cadeias produtivas. A publi- os aparelhos com siste- cação faz ainda um breve relato dos combustí- ma iOS também poderão baixá-lo. Nossa cidade O projeto Nossa cidade traz artigos especiais e analisa questões importantes para o desenvolvimento de cidades sustentáveis. A série de artigos BUUS que traz em questão temas como planejamento urbano, sustentabilidade e resiliência conta com Quer saber onde está o seu ônibus? O aplica- a colaboração de especialista da Embarq Brasil. tivo BUUS monitora o transporte público do A cada mês é abordado um tema diferente com Rio de Janeiro e São Paulo e avisa quando o novas publicações às quartas-feiras. ônibus irá passar no ponto. A ferramenta utiliza todos os trajetos via GSP e está integrado Para ler os artigos e saber mais sobre o projeto a base de dados das prefeituras das cidades. Nossa Cidade, acesse http://thecityfixbrasil. Além disso o aplicativo contém informações sobre informações sobre itinerários e as linhas que passam mais perto usuário. O BUUS está disponível para plataformas Android. 42 Revista NTU Urbano com/nossa-cidade/ veis do futuro. A publicação é de autoria do professor Márcio de Almeida D’Agosto, do Programa de Engenharia de Transportes do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e editado pela Editora Elsevier. O livro encontra-se à venda na Livraria Saraiva (www.saraiva.com.br).