19º CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICODRAMA
“A Humanidade no século 21”
A CONTRIBUIÇÃO DO PSICODRAMA EM UMA SITUAÇÃO DE PERDA E LUTO
A experiência da morte e enfrentamento do luto é vivenciada constantemente
durante o desenvolvimento humano. De acordo com Papalia e Olds (2000), luto é o
processo de ajustamento à perda de alguém muito próximo e tal processo provoca
mudanças em muitos aspectos na vida dos sobreviventes, especialmente pela mudança
de condição e papel do sujeito. Blatner (2010) afirma ainda que em relação à teoria de
papéis, demanda a substituição de um papel internalizado, e que o luto se dá também
pela função desempenhada durante a relação com o outro que foi perdida, como por
exemplo, a função/papel de cuidador.
O presente trabalho surgiu, por conseguinte, da necessidade de discussão sobre a
atuação do psicodrama em uma situação de perda e luto em que há o adoecimento da
espontaneidade e criatividade do indivíduo. A motivação foi um caso clínico de uma jovem
adulta que traz consigo sua dor em relação à perda da mãe.
O psicodrama busca proporcionar ao indivíduo uma oportunidade de relembrar e
elaborar fatos dolorosos do passado. Tal processo de reencenação é terapêutico na
medida em que pode ajudar na reintegração emocional e no reconhecimento de uma
perda avassaladora, proporcionando o aumento de sua espontaneidade (Kellermann,
2010). Refere o mesmo autor que o Psicodrama permite que o indivíduo atue sua dor em
um ambiente preparado para acolhê-lo, em vez de repetir seu trauma na relação consigo
mesmo e com terceiros.
No Psicodrama, através da realidade suplementar, podem-se ultrapassar os
domínios da realidade, promovendo o encontro entre o sujeito e uma pessoa especial já
falecida, propiciando uma internalização positiva (Blatner e Blatner, 1996). Amparada pela
literaturaMoreniana, na décima terceira sessão, através da ação dramática e de técnicas
psicodramáticas, foi possível promover um reencontro entre a participante e sua mãe, já
falecida.
Foi solicitado à participante que resumisse a sessão em uma palavra
C: Cura. Eu sinto que a sessão passada foi como um remédio com o gosto muito
ruim, que amarga na boca por muito tempo, mas que cura a sua doença. Eu me sinto
como se precisasse daquele momento, por mais difícil que tenha sido. Estava guardando
tudo aquilo dentro de mim e me escondendo daqueles sentimentos, mas naquela hora eu
pude colocar tudo para fora. Eu transbordei. Vejo que resgatei algumas características
boas minhas e que de agora para frente eu estou pronta para continuar.
A partir do depoimento da participante, entende-se que situações de perda e luto
trazem sentimentos de ansiedade e rupturas para o indivíduo, sua família e o ambiente
onde ele está inserido. Na busca por tratamentos rápidos e eficazes para pessoas que
viveram tais situações, o Psicodrama tem se destacado como psicoterapia, pois oferece,
por intermédio do método da ação, não só a expressão e a catarse, mas também a
possibilidade de reintegração (Kellermann, 2010).
Pode-se afirmar que através das técnicas psicodramáticas ocorreu uma catarse,
que tem efeito terapêutico e liberta o cliente de seus dramas (Moreno, 1975). A catarse
emocional, segundo Kellerman (2010), ocorre quando há a sensação de alívio através da
liberação da emoção e da expressão afetiva. Segundo o mesmo autor, “o „como se‟ é
utilizado para enfrentar uma realidade externa impossível, reforçando o mundo subjetivo
interno do traumatizado” (p. 31).
Entende-se que o método psicodramático auxiliou na recuperação da criatividade
e espontaneidade da cliente. Vale assinalar que a espontaneidade, segundo Moreno
(1975), habilita o indivíduo a superar-se, enfrentar novas situações, modificar suas
estruturas e assumir novas responsabilidades. Referem Blatner e Blatner (1996, p. 58): “O
tema central de Moreno é a reintegração da espontaneidade e da criatividade, como
dimensões valorizadas de experiência e comportamento” (Blatner e Blatner, 1996, p. 58).
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A Contribuição do Psicodrama em uma Situação de Perda e Luto