Brasil, Investment Grade pela S&P
A agência S&P (a mais reconhecida pelo mercado) foi a primeira a colocar a dívida em moeda
estrangeira no chamado grau de investimento - Grade BBB-; cabe ressaltar que o país já era grau
de investimento em moeda local.
A nós, não surpreende o fato em si. Em termos de solvência externa, o Brasil já apresenta
indicadores iguais ou melhores em relação a países que já possuem tal status, depois do forte
aumento de reservas e redução de dívida. O país, apesar de todos os problemas, voltou a
crescer. A despeito de todo o aumento negativo das despesas correntes internas, o Brasil tem
mantido o superávit primário intacto, com a relação dívida PIB ainda alta, mas decrescente - deve
chegar abaixo de 40% em breve. O déficit nominal (a diferença entre o economizado pelo Governo
e as despesas com juros) deve atingir a 1% do PIB no final de 2008 - bem abaixo, inclusive, do que
o observado em muitos países desenvolvidos. Enfim, a qualidade do lado fiscal (muito imposto e
muita despesa) é péssima, mas do lado da "quantidade" (o número seco em si), a dinâmica vem
melhorando.
Fora isto, temos um BC hoje que, se não é independente de direito (o que seria o ideal), mostra ter
total liberdade de atuação, inclusive para subir juros, apesar de toda a pressão política.
O que significa grau de investimento ?
- Do ponto de vista moral, depois de tantas moratórias e calotes, é um sinal importante para o resto
do mundo (não dá para quantificar isto).
- Do ponto de vista de investimento direto (real), significa pouca coisa. Cabe lembrar que a agência
de rating dá uma chancela de solvência ao país, não de atratividade. Em outras palavras, a S&P
afirmou que as chances do investidor aplicar US$ 1 no país e recebê-lo de volta, são excelentes
agora. Todos os problemas que fizeram o BC elevar juros (relativo ao desequilíbrio entre oferta e
demanda), que têm haver com a falta de reformas, continuam inalterados.
- Do ponto de vista de investimento em portfólio (ações, dívida, etc...) e de rolagem das dívidas - É
relevante; primeiro porque o investment grade veio antes do esperado até pelos mais otimistas
(segundo semestre); segundo, porque muitos fundos mútuos e de pensão só podem investir em
países que têm grau de investimento. Em outras palavras, o Brasil entrou no radar de muita gente
hoje. Isto é bom, porque empresas, tudo mais constante, terão mais facilidade em captar recursos,
seja via dívida ou ações e a um custo provavelmente mais barato. Tudo isto acontece em um
momento propício em que o balanço de transações correntes começa a ficar aceleradamente mais
negativo. O financiamento ficou mais fácil. Ótimo para o mercado de capitais.
ALEXANDRE PAVAN PÓVOA
MODAL ASSET MANAGEMENT LTDA
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