BROTÉRIA —SERIE MENSAL, FE - SCIENCIAS - LETRAS
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d o proprietário, que inspecciona a s suas herdades, e o do paisagista,
que Ihes admira a b e l e z a ?
N a o é preciso insistir m a i s ;
o c a r á c t e r desinteressado do prazer
estético é ponto indiscutível na psicología dos sentimentos.
O r a a im.
pressáo imoral produz um efeito diametralmente oposfo. Impele a nossa
alma a o uso ou posse dalgum objecto intrínsecamente mau ou pelo
menos pro'ibido;
e nesse impulso perturba necessáriamente a serení-
dade e o desinterésse da e m o c á o estética. C o m efeito, se o espirito é
recto e a alma honesta, surgirá a luía entre o gozo e o d e v e r ;
se a
corrucáo é tal, que nem sequer esta luía se senté já, pode aínda alguém,
experimentar prazer em actos e impressóes ¡moráis;
contudo, ¿quem
se atreverá a confundir o sentimento agradável do uso ou posse dum
objecto com a confemplacáo desinteressada do m e s m o ? A satisfacáo
de s a b o r e a r um fruto delicioso nada tem de comum com o gozo que
sentimos a o contemplar a perfeicao das suas formas ou a suavidade
das suas c o r e s .
R e t o m a n d o , pois, a pregunta
que a o principio fizemos — ¿ ha-
verá conflito entre a arte e a m o r a l ? — d e novo respondemos que n a o ;
e, depois do
que fica dito, já é fácil ver o motivo.
O fim imediato
duma o b r a de arte é excitar ñas almas o sentimento do b e l o ;
e se
isto se verifica em qualquer arte, dum modo particular se patenteia na
literatura.
A o b r a literaria tem necessáriamente de exercer urna a c c á o
no espirito de quem a lé.
M a s se essa impressáo é imoral, destruirá
fatalmente a e m o c á o estética. P o r t a n t o urna o b r a imoral, na medida
em que o fór, deixará de ser artística.
Nem
s e diga que urna alma de artista atende só á beleza que
pode existir em o b r a s de tendencias sensuaís. Semelhante o b s e r v a c á o
nao altera a s o l u c á o do problema.
C o n f e s s a m o s que, s o b o ponto de
vista moral, a mesma o b r a pode ser inofensiva ou perniciosa, conforme
a s diversas condicóes, idades, c a r a c t e r e s e temperamentos;
mas com
relacáo aqueles, para quem fór moralmente nociva, essa o b r a falhará
na sua finalidade artística.
E quantas vezes se nao oculta urna cons-
ciéncia cauterizada e sem escrúpulos s o b o especioso pretexto de pura
impressionabilidade estética!
S e j a , porém, c o m o fór, o certo é que a pintura viva de s c e n a s
ou figuras sensuais constituí ordinariamente um verdadeiro perigo moral, e ningüém tem direito de expór a ele as almas dos outros.
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