BROTÉRIA —SERIE MENSAL, FE - SCIENCIAS - LETRAS 42 d o proprietário, que inspecciona a s suas herdades, e o do paisagista, que Ihes admira a b e l e z a ? N a o é preciso insistir m a i s ; o c a r á c t e r desinteressado do prazer estético é ponto indiscutível na psicología dos sentimentos. O r a a im. pressáo imoral produz um efeito diametralmente oposfo. Impele a nossa alma a o uso ou posse dalgum objecto intrínsecamente mau ou pelo menos pro'ibido; e nesse impulso perturba necessáriamente a serení- dade e o desinterésse da e m o c á o estética. C o m efeito, se o espirito é recto e a alma honesta, surgirá a luía entre o gozo e o d e v e r ; se a corrucáo é tal, que nem sequer esta luía se senté já, pode aínda alguém, experimentar prazer em actos e impressóes ¡moráis; contudo, ¿quem se atreverá a confundir o sentimento agradável do uso ou posse dum objecto com a confemplacáo desinteressada do m e s m o ? A satisfacáo de s a b o r e a r um fruto delicioso nada tem de comum com o gozo que sentimos a o contemplar a perfeicao das suas formas ou a suavidade das suas c o r e s . R e t o m a n d o , pois, a pregunta que a o principio fizemos — ¿ ha- verá conflito entre a arte e a m o r a l ? — d e novo respondemos que n a o ; e, depois do que fica dito, já é fácil ver o motivo. O fim imediato duma o b r a de arte é excitar ñas almas o sentimento do b e l o ; e se isto se verifica em qualquer arte, dum modo particular se patenteia na literatura. A o b r a literaria tem necessáriamente de exercer urna a c c á o no espirito de quem a lé. M a s se essa impressáo é imoral, destruirá fatalmente a e m o c á o estética. P o r t a n t o urna o b r a imoral, na medida em que o fór, deixará de ser artística. Nem s e diga que urna alma de artista atende só á beleza que pode existir em o b r a s de tendencias sensuaís. Semelhante o b s e r v a c á o nao altera a s o l u c á o do problema. C o n f e s s a m o s que, s o b o ponto de vista moral, a mesma o b r a pode ser inofensiva ou perniciosa, conforme a s diversas condicóes, idades, c a r a c t e r e s e temperamentos; mas com relacáo aqueles, para quem fór moralmente nociva, essa o b r a falhará na sua finalidade artística. E quantas vezes se nao oculta urna cons- ciéncia cauterizada e sem escrúpulos s o b o especioso pretexto de pura impressionabilidade estética! S e j a , porém, c o m o fór, o certo é que a pintura viva de s c e n a s ou figuras sensuais constituí ordinariamente um verdadeiro perigo moral, e ningüém tem direito de expór a ele as almas dos outros.