Desenvolvimento econômico e pensamento desenvolvimentista O caso de Minas Gerais (1933-1968) Daniel Henrique Diniz Barbosa1 Resumo Este texto sugere a investigação de um conjunto de elementos relacionados ao pensamento desenvolvimentista brasileiro, em especial aqueles relativos aos desdobramentos regionais desse tipo específico de política econômica, salientando, para tanto, o caso peculiar de Minas Gerais, no período compreendido entre 1933 e 1968. Palavras-chave: Desenvolvimentismo – Planejamento Econômico – Corpo Técnico – Minas Gerais Este texto se propõe a discutir alguns aspectos de pesquisa de doutoramento em andamento no Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Universidade de São Paulo. Dessa forma, pauta-se largamente em algumas discussões centrais do projeto original de pesquisa, conquanto avance em alguns aspectos e, sobretudo, altere algumas premissas que, inicialmente, eram capitais ao referido projeto. Assim, esta discussão pretenderá abordar elementos do planejamento econômico brasileiro e suas relações com as realidades regionais, com pleno destaque ao caso em estudo, o de Minas Gerais. O recorte cronológico aqui sugerido determina o ano de 1933 como marco inicial e o ano de 1968 como final. O marco inicial assim se determina pela ascensão do interventor varguista em Minas, Benedito Valadares que, conforme se pretenderá demonstrar, promoverá gestão significativa ao longo de doze anos, especialmente no tocante ao papel do setor público no desenvolvimento econômico regional. Já o marco final, 1968, é determinado a partir do lançamento, no mesmo ano, do “Diagnóstico da Economia Mineira”, compêndio em seis volumes elaborado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e que corresponde, sugere-se aqui, ao último grande documento em uma tradição de outros congêneres que, no limite, visavam à 1 Aluno do Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Universidade de São Paulo, nível doutorado, sob orientação do Prof. Dr. Nelson H. Nozoe. Mestre em História e Culturas Políticas pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais. verticalização do papel do estado no que concernisse ao planejamento e desenvolvimento da economia regional. Tentando melhor exposição do argumento, dividir-se-á este texto em seções sendo a primeira, uma rápida discussão sobre a questão do planejamento econômico no Brasil, a segunda uma abordagem sobre o mesmo processo no caso de Minas Gerais, na terceira as principais hipóteses que essa pesquisa investiga serão sintetizadas para, enfim, na quarta seção se apresentar uma rápida discussão acerca da pertinência dos planos econômicos regionais, elaborados pelo Estado ou por órgãos a ele vinculados de alguma maneira, na tradição desenvolvimentista mineira. I A questão do desenvolvimento econômico aliado ao planejamento e à intervenção estatal na economia é, a partir da década de 1930, do colapso econômico de 1929 e das primeiras experiências soviéticas de planejamento, de importância vital para a compreensão do pensamento econômico e político no período em tela. Mesmo nos países capitalistas já plenamente desenvolvidos, cujo contexto entre-guerras e seus desdobramentos econômicos trouxeram necessidades conjunturais novas, a emergência de propostas de planificação e intervenção estatal na arena econômica ganhou repercussão. No caso brasileiro, será também a partir de 1930, e das conseqüências do colapso econômico mundial de 1929, que se perceberá a ênfase no papel do Estado como um proeminente articulador do desenvolvimento econômico, gradativamente mais disposto ao planejamento e ao investimento direto no setor produtivo. Será a partir da Revolução de Outubro que, dada a ruptura do modelo vigente que até a crise econômica de 1929 regia o mundo público brasileiro, emergirá a base para o novo papel que ao Estado brasileiro caberá definir na agenda política e econômica nacional. Embora, de acordo com Ianni (1979:44), desde o princípio do século XX, fosse perceptível o debate acerca das possibilidades de intervenção estatal nos rumos econômicos, somente a partir de 1930 é que o arranjo institucional será reformulado da forma vertical que possibilitasse ao Estado uma atuação mais efetiva. Evidentemente, conforme sugerem Gomes (1980) e Pandolfi (2002), essa reorientação institucional não se efetivará de forma definitiva, coesa ou homogênea. Ao contrário, a partir da ascensão de Vargas, será perceptível o arranjo de forças constantemente ampliado nas esferas de atuação do poder público brasileiro, não tendo havido uma Era Vargas uniforme, cujas propostas e formas de ação fossem, desde 1930, rígidas e inquestionáveis2. Aliás, conforme Abreu (1989), ao pensar o período aqui em evidência, torna-se premente à interpretação a observação do cenário econômico externo e, por conseguinte, a inserção da economia brasileira nesse cenário. Assim, se no âmbito político essa indefinição apresenta-se constante, no âmbito econômico a profunda dificuldade na política cambial, acrescida das dificuldades constantes no pagamento do serviço da dívida pública, especialmente entre 1934 e 1937, são elementos essenciais para a definição de uma política econômica que, no geral, seguiu um caminho relativamente homogêneo. Será, apenas, a partir de 1939 que, com o desenvolvimento de uma agenda entre Brasil e EUA mais propícia ao auxílio para a produtividade brasileira, e menos para o auxílio na solução dos problemas cambiais, que o governo Vargas ampliará sua atuação no rumo de uma política desenvolvimentista3. Segundo Abreu (1989:95), (...)1942 corresponde a um ponto de inflexão do ponto de vista econômico no Brasil: acelerou-se o crescimento industrial; pela primeira vez desde a década de 20 começaram a acumular-se reservas cambiais; observa-se a entrada de capitais privados norte-americanos após longo período de desinteresse. A retomada do nível de atividades não esteve, também, dissociada das políticas fiscal, monetária e creditícia claramente expansionistas adotadas pelo governo a partir de 1942. Além disso, a decisão de se fundar a primeira usina siderúrgica integrada brasileira, a partir de 1941, é ponto crucial na medida em que reorientou, de maneira efetiva, a forma de atuação do Estado brasileiro, o fazendo transitar “(...) da arena normativa da atividade econômica para a provisão de bens e serviços” (Abreu, 1989:91). Não deixa de ser significativa, contudo, a emergência de uma série de órgãos e conselhos técnicos com função de assessoramento do poder público durante todo o 2 Gomes (1981), inclusive, propõe que esta concepção de uma Era Vargas que, desde o princípio, seguisse uma mesma direção inquestionável é muito mais o fruto de uma construção discursiva estado-novista que, necessariamente, o reflexo da realidade. Assim, a autora apostará em fases distintas dentro da arena pública, ora sob o predomínio do pensamento político liberal, ora sob o predomínio do pensamento antiliberal. Essa divisão seria fruto, ao cabo, da força política de grupos distintos que, em cada momento, conseguiram canalizar suas reivindicações com maior ênfase na arena pública. Assim, se o período entre 1930 e 1932 é caracterizado pela autora como uma etapa de profunda contradição sobre os rumos institucionais, o período entre 1933 e 1937 se define pela premência liberal, consagrada, inclusive, na Carta Constitucional de 1934. Já a partir de 1937, do Estado Novo e da nova Carta Constitucional, os rumos institucionais se definiriam, até o final da primeira Era Vargas, pela presença do autoritarismo. 3 É evidente que os desdobramentos da II Guerra Mundial, e as necessidades de política externa norteamericanas, são pontos essenciais para se compreender esta reorientação (Abreu, 1989). período compreendido pelo primeiro Governo Vargas (Draibe, 1985). Também é sugestivo que, muito embora a agenda econômica nacional estivesse lastreada nos rumos da economia mundial, e que no que tange às indefinições políticas pudessem ser perceptíveis marchas e contramarchas que impedissem a concretização de um só e homogêneo projeto, a emergência desses órgãos e conselhos técnicos tenha sobrevivido a todas essas fases e descontinuidades. Conquanto, na maioria dos casos, com pouca contribuição efetiva por parte desses no que concerne à concretização de suas propostas, a existência desses espaços indica a consolidação, no aparelho estatal, de uma estrutura que gradativa, mas efetivamente, indicava para a importância do planejamento, da técnica e do desenvolvimento industrial brasileiro como questões a serem enfrentadas, de forma definitiva, pelo poder público4. O ano de 1942 também será importante dada a fundação da Coordenação da Mobilização Econômica que, conforme Ianni (1979), se caracterizará como um superministério para a coordenação dos assuntos econômicos, financeiros, tecnológicos e organizatórios da economia nacional. Segundo o autor (1979:50-1), (...) pouco a pouco a idéia e a prática da planificação são incorporadas à política econômica governamental. (...) A verdade é que as mesmas crises e transformações que afetavam o sistema econômico-social e político (as quais puseram em evidência as limitações do subsistema capitalista brasileiro) criaram também as condições para a elaboração de novas técnicas de ação. A queda de Vargas, em 1945, e a eleição de Dutra, não obstante possa representar uma reorientação no tocante aos rumos da política econômica estatal até 1947, não parecem representar uma inflexão efetiva no papel do Estado, no Brasil, nos rumos do desenvolvimento econômico. De acordo com Vianna (1989), embora o princípio do Governo Dutra tenha apresentado uma tendência ortodoxa, procurando inserção em um mundo organizado de acordo com os princípios liberais de Bretton Woods, a partir de 1947 e dos reflexos da Doutrina Truman, esse governo também teria dado prosseguimento à agenda de desenvolvimento econômico em que o Estado e o planejamento ganhavam centralidade. Para Vianna (1989:116), “ (...) o Governo Dutra 4 Torna-se premente que se ressalte, contudo, que não se apresenta a importância do corpo técnico na arena pública, a partir de 1930, como exclusiva. Mesmo dentro dos conselhos e departamentos técnicos, a presença de industriais e bacharéis em direito era marcante. O que se pretende ressaltar é a importância destes órgãos e de suas agendas específicas, em que pese não apenas definidas por técnicos. A respeito da participação dos industriais nos rumos do poder público brasileiro a partir de 1930, ver Diniz (1978). revela, de certo modo, sua preocupação de dar seguimento à acumulação industrial e à manutenção dos investimentos iniciados no Estado Novo (...)”5. Do mesmo modo, o retorno de Vargas ao poder, em 1950, não caracterizará, necessariamente, uma guinada de cunho nacionalista e desenvolvimentista6. Antes, será a continuação de um estratagema do poder público voltado para o desenvolvimento econômico nacional ligado aos ditames da economia mundial, mesmo que, em seus primeiros dois anos, tenha adotado uma política ortodoxa de estabilização financeira e monetária (Vianna: 1989)7. Deve-se ponderar também que, a partir do advento da CEPAL e da formulação da tese estruturalista, houve um incentivo musculoso ao planejamento nas economias latino-americanas. Por certo, esse será um elemento sine qua nom na orientação do poder público nacional, especialmente na transição do governo Vargas para o Governo de Juscelino Kubitschek em que, com o Plano de Metas e o Conselho de Desenvolvimento, se possibilitou uma agenda de planejamento econômico que, ao cabo, concretizou boa parte das metas planejadas no espaço de tempo proposto (Lafer, 2002; Faro & Silva, 2002), em que pese, segundo Ianni (1979), tenha sido responsável menos por constituir uma via de desenvolvimento capitalista nacional e mais por ser um 5 Embora essa hipótese não seja consensual, acreditamos que a análise dos dados econômicos do governo Dutra, a partir de 1947, representam uma importante contribuição no que concerne à leitura produzida, por parte da historiografia, acerca deste governo. Segundo dados trabalhados por Vianna (1989), a alta na cotação do café, no mercado mundial, oxigenou a economia brasileira que desde 1947 havia estabelecido um sistema de controle das importações voltado exclusivamente ao intuito de racionar a pouca quantidade de moeda estrangeira. Para o autor, esse sistema teve grande importância na promoção desenvolvimento industrial por substituição de importações, no período. Em sentido oposto encontra-se, por exemplo, a argumentação de Ianni (1979) que, de um modo geral, acredita que o Governo Dutra representou um interregno entre o primeiro e o segundo governo Vargas, chegando mesmo a afirmar que “a industrialização verificada nesses anos [do Governo Dutra] era um processo em curso, a despeito das ações e omissões do poder público”(1979:99). 6 Ianni (1979) defende que o segundo governo Vargas foi o último momento em que se pretendeu consolidar um capitalismo cujo centro decisório fosse interno. Em sua argumentação, propõe que o nacionalismo econômico deste período fundava a percepção de que seria possível se fundar um capitalismo nacional no Brasil. Para Vianna (1989), entretanto, tanto a política monetária e financeira ortodoxa dos dois primeiros anos do segundo governo Vargas como o abandono de alguns projetos ligados à Comissão Mista Brasil- Estados Unidos deve-se não ao predomínio de uma corrente nacionalista expressiva. Antes, as causas decisivas destas mudanças teriam sido “a mudança de governo nos Estados Unidos [com a eleição de Eisenhower]; a tentativa do Banco Mundial de exercer uma função tutorial sobre a política econômica dos países demandantes de crédito, assim como o conflito entre essa instituição e o Eximbank (...) e o colapso cambial do país, que forneceu pretexto para a mudança de atitude do Banco Mundial” (Abreu, 1989:132). 7 Segundo destacar-se-á adiante, a questão do planejamento econômico e as possibilidades de intervenção do Estado na arena econômica são elementos que em nenhum momento, a partir de 1930, seguiram uma linha coesa de argumentação e prática. O pensamento desenvolvimentista, portanto, se se caracteriza por definir esta agenda, também se constrói na divergência de interesses que, em maior ou menor grau, defendem a intervenção e o planejamento estatal, a aplicação ou não do capital estrangeiro, o macro planejamento ou a planificação setorial. A respeito ver Bielschowsky (1995). importante redefinidor da inserção da economia brasileira no desenho do capitalismo mundial, reforçando o seu caráter dependente. O colapso do populismo como alternativa política viável (Ianni, 1979) aliado à crise do modelo desenvolvimentista brasileiro (Martins, 1968) engendra o final de uma etapa de aceleração do desenvolvimento industrial, reorientando os modelos político e econômico que, com o Golpe de 1964, assumem perfis diferenciados dos pregressos. Esse breve sumário acerca dos caminhos da economia brasileira a partir da década de 1930 se nos mostra importante na medida em que realça tanto a relevância que, aos poucos, a perspectiva do planejamento assume nos cenários político e econômico nacionais bem como demonstra a primordialidade que a industrialização passa a assumir na mentalidade brasileira. É nesse sentido que, conforme Bielschowsky (1995), a problemática do desenvolvimentismo se forjará no Brasil. Evidentemente, contudo, não de maneira única ou homogênea; antes, dividindo os “desenvolvimentistas” em ao menos três grupos: desenvolvimentistas do setor privado8; desenvolvimentistas do setor público não-nacionalistas9 e desenvolvimentistas do setor público nacionalistas10. Além disso, também segundo esse autor, a plataforma desenvolvimentista define, por oposição, a corrente de pensamento neoliberal brasileira (à direita do desenvolvimentismo) e a corrente socialista (à esquerda do desenvolvimentismo). De um modo geral, o que definiria as correntes desenvolvimentistas seria a importância do planejamento econômico visando a um processo ampliado de industrialização, embora o grau de atuação e intervenção do Estado e a posição maior ou menor do capital estrangeiro no processo delimitassem as principais divergências entre as correntes. Se houve um fortalecimento, a partir de 1930, do papel do Estado na condução da economia brasileira, e se esse processo pode ser compreendido como o espaço de construção e engrandecimento de uma plataforma desenvolvimentista, torna-se 8 Grupo composto pela burguesia industrial brasileira, favorável ao planejamento estatal e ao investimento estrangeiro controlado, mas reticente em relação à intervenção estatal no setor produtivo. 9 Grupo composto por técnicos do setor público, prioritariamente oriundos do BNDE e da Comissão Mista Brasil-EUA, favorável ao planejamento parcial da economia, favorável ao investimento estrangeiros, tolerante a empresa estatal quando capital privado (nacional e estrangeiro) não mostrasse interesse. 10 Grupo compostos por técnicos do setor público, oriundos do Clube dos Economistas, do BNDE, do ISEB e da CEPAL, fortemente favorável ao planejamento geral e ao planejamento regional, fortemente favorável à empresa estatal, reticente ao investimento estrangeiro que deveria, exclusivamente, ser aplicado fora das áreas de serviço público e mineração e, inclusive, rigidamente controlado. Para esta nota e para as notas 8 e 9, ver Bielschowsky (1995: 242-3). importante investigar como que, em paralelo ao processo nacional, a idéia de planejamento econômico, industrialização e, enfim, de desenvolvimentismo foi trabalhada nas esferas econômicas regionais. Mais especificamente, como foi interpretado e ressignificado esse desenvolvimentismo em situações regionais periféricas em relação ao centro dinâmico do processo nacional. É nesse sentido que se sugere, aqui, a investigação das questões específicas de Minas Gerais e da importância que temas como planejamento econômico estatal e industrialização assumiram no poder público regional. E isso não apenas para considerar como as questões nacionais podem ter influenciado o debate e a condução da coisa pública regionalmente, mas, também, como o contrário pode ter ocorrido. Ou seja, como determinados arranjos institucionais característicos do processo regional podem ter influenciado, e se influenciaram, o plano federal. Essa perspectiva de investigação tende a se justificar dadas as especificidades de Minas Gerais no arranjo econômico nacional e, especialmente, dada a realidade econômica regional desde os anos finais do século XIX, período sobre o qual se fará, na seqüência, rápida digressão. II De um modo geral, a economia de Minas Gerais na passagem do século XIX para o século XX pode ser caracterizada por uma profunda crise. Não obstante a historiografia venha apontando para um cenário, no século XIX, de acomodação evolutiva da economia regional (Libby, 1988), em que as relações comerciais (Chaves, 1999) e a produção agropecuária (Almeida, 1994) tenham conseguido diminuir o impacto da crise da mineração em fins do século XVIII, a crise da cotação do café, em 1897, veio demonstrar a fragilidade do arranjo regional. A realidade política fragmentada de um amplo território, definido pela variedade produtiva e pela baixa produtividade das diversas regiões, pelo problema de uma crescente migração populacional e pela profunda desarticulação de suas elites regionais demonstram, de forma bastante elucidativa, que a situação de atraso econômico verificada pelos discursos oficiais era, principalmente em relação ao cenário paulista, bastante acentuada. Assim, as articulações políticas forjadas quando do advento republicano, e que resultaram na formação do Partido Republicano Mineiro (PRM), refletem não apenas as necessidades políticas específicas de se estruturar uma organização que se inserisse, com sucesso, no arranjo institucional republicano que, em nível federal, se desenhava. Representavam, também, a necessidade de se potencializar as forças produtivas para que, no cenário nacional, contando com a maior bancada de deputados, tivesse força suficiente para influenciar nos rumos nacionais. Ou seja, à perda do poder político somava-se uma perda de poder econômico, enfatizando um quadro de atraso, em relação a São Paulo que, na ordem política, possuía menor bancada legislativa (Mello, 1997). É, portanto, eivada por uma intencionalidade política e por um viés econômico que a questão do atraso relativo de Minas, em relação a São Paulo, e a questão migratória (que diminuía a oferta regional de mão-de-obra, mas que, também, subtraía eleitores do maior colégio eleitoral do país – o mineiro) tornam-se problemas centrais na argumentação das classes conservadoras11 de Minas Gerais. Também por uma articulação de interesses políticos e econômicos que, a partir de então, as elites regionais se unirão no entorno de um projeto minimamente coeso de desenvolvimento regional. Se eram, como assinalou Guimarães Rosa, muitas Minas e várias Gerais, a construção de Belo Horizonte, inaugurada em 1898, veio fazer das Minas e das Gerais, Minas Gerais (Bomeny, 1994). A nova capital se demonstraria vital para o projeto político-econômico das classes conservadoras mineiras, na medida em que se apresentava como uma edificação política (posto que, segundo Mello, 1997, representava o ideal do progresso que se objetivava imprimir como um tipo muito específico de republicanismo em Minas), assim como uma realização econômica que, no centro da região, congregasse as diferentes áreas do “mosaico mineiro”, interligandoas definitivamente por meio da nova e moderna capital (Dulci, 1999). Ao lado da construção de Belo Horizonte, um segundo marco da unificação dos interesses regionais a partir do final do século XIX foi o I Congresso Agrícola, Industrial e Comercial (CAIC), realizado em 1903, e que, segundo Bomeny (1994), será a inauguração efetiva de Belo Horizonte, na medida em que, ao reunir na cidade os diversos setores políticos e econômicos mais proeminentes de Minas Gerais, construiu, simbolicamente, a certeza de uma cidade vocacionada para a unificação dos interesses e voltada para o progresso econômico regional. Nesse sentido, estavam representadas, no referido evento, a maioria das cidades de Minas, todas as suas regiões e, naturalmente, a gama de interesses diversos das classes conservadoras locais buscando, então, a formulação de um conjunto de 11 O termo “classes conservadoras” era constantemente utilizado, em discursos oficiais e documentos, para definir a elite econômica e regional mineira. interesses das classes conservadoras mineiras como um todo. A própria preparação do evento, realizada por uma “Comissão Fundamental”12, desde ao menos um mês antes de sua realização, oferece mostras dessa diversidade de interesses. Na pauta dos debates realizados por essa comissão, ocorridos no plenário do Senado Mineiro, e que encetariam as principais preocupações do próprio Congresso, encontram-se temas como mineração, trabalho, impostos, café, instituições bancárias, indústrias manufatureiras e indústria pastoril.13 Realizado pelo poder público, sob a presidência de Francisco Salles, e presidido pelo ex-presidente do Estado, João Pinheiro da Silva, o I CAIC caracteriza uma inflexão nos rumos da economia mineira. De suas considerações finais sobressaem ao menos três pontos centrais: um projeto de diversificação produtiva (sem, com isso, se abandonar a cultura do café); uma proposta de modernização agrícola e, por fim; a perspectiva de uma política mineral arrojada. Além disso, um ponto também significativo é a emergência do papel do poder público entendido como um agente privilegiado na concepção e na condução dos projetos de desenvolvimento econômico, não obstante essa participação fosse apresentada, pelo Congresso, como essencialmente indireta, incentivando a organização de cooperativas e associações classistas. Segundo Dulci (1999), o I CAIC proporcionou uma agenda para que, por conseguinte, o poder público regional pudesse se nortear intentando satisfazer os interesses do conjunto das forças produtivas mineiras mas que, também, pudesse fazê-lo de forma sistemática e planejada. Uma série de medidas foi tomada pelo Estado, a partir do evento, diretamente relacionadas às suas considerações finais. Do mesmo modo, é a partir de seus desdobramentos que se funda a Revista Mineira de Agricultura (1909), preocupada com a difusão de conhecimento técnico apto a melhorar e modernizar a produção agrícola, bem como se organiza, em 1909, a Sociedade Mineira de Agricultura (SMA), principal entidade classista de Minas até, ao menos, a fundação da Associação Comercial de Minas (ACM) e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), ambas em fins da década de 1920. Também será a partir do Congresso de 12 A Comissão Fundamental responsável pela organização do evento era composta por João Pinheiro da Silva (advogado), Joaquim Monteiro de Andrade, João Ribeiro, Carlos Sá Fortes, Francisco Mascarenhas (coronel), Ignácio Burlamaqui (coronel) e P. Chalmers (industrial). Ainda estamos pesquisando a ocupação daqueles que não a apresentamos. “Minas Gerais”: nº 86, ano XII, 15/04/1903, p.1. 13 Ver “Minas Gerais”: nº 83, ano XII, 09/04/1903, p.1; nº 85, ano XII, 11,12,13,14/04/1903, p.1; nº87, ano XII, 16/04/1903, p.1; nº88, ano XII, 17/04/1903, p.2; nº89, ano XII, 18/04/1903, p.1; nº91, ano XII, 20,21/04/1903, p.1; nº 93, ano XII, 24/04/1903, p.1; nº94, ano XII, 25/04/1903, p.2; nº95, ano XII, 26/04/1903, p.2; nº96, ano XII, 27/04/1903, p.1. Nessas edições os temas foram apresentados e um primeiro estudo sobre cada um deles foi publicado. 1903 que a perspectiva do ensino técnico agrícola tornar-se-á uma preocupação de Estado, conforme salienta Faria (1992). A eleição de João Pinheiro novamente à presidência do Estado, em substituição a Francisco Salles, indicou, por conseguinte, o desejo das elites regionais de, por meio de uma reestruturação do poder público, promover a pauta do I CAIC ao centro das preocupações políticas e econômicas de Minas. A morte prematura de João Pinheiro, ainda no princípio de sua gestão, contudo, impediu a aceleração do processo que sua eleição indicava. Advogado de formação, embora tendo cursado metade do curso de engenharia de minas na Escola de Minas de Ouro Preto (EMOP), e industrial do ramo de cerâmica, João Pinheiro trazia consigo traços republicanistas, segundo Bomeny (1994). Nesse sentido, boa parte do que propunha o Congresso de 1903 refletia, ao cabo, o ideário de Pinheiro, seu presidente.14 A variedade dos temas abordados nos diversos grupos de trabalho organizados no I CAIC, portanto, ao lado das considerações finais desse, que diagnosticavam um quadro sombrio da economia regional e prescreviam ação firme do poder público, não deixa de ser significativo do quanto a mobilização mineira em torno do desenvolvimento econômico da região pressupunha certo grau de planejamento e atuação sistematizada. As conclusões de que se precisava, para a dinamização da economia regional, de uma modernização agrícola, de uma diversificação produtiva e de uma política mineral arrojada (Dulci, 1999)15, somadas à idéia de que caberia ao poder público regional o incentivo e a organização dessas propostas são elementos fundamentais para que Dulci (1999 e 2005) aponte para esse evento como o fundador de um desenvolvimentismo mineiro. 14 Especialmente questões como o cooperativismo e o associativismo. É importante ressaltar quanto ao ponto relativo à política mineral que, em certo sentido, este é um traço bastante original do caso mineiro. Em primeiro lugar por que antecede uma discussão que, até aquele momento, não se colocava nem em âmbito federal. Deve-se considerar, por exemplo, que a primeira Carta Constitucional republicana não trata da questão da propriedade ou exploração do subsolo brasileiro e que a primeira comissão federal efetivamente voltada para o tema data de 1909 (Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro). Dado que a maioria absoluta dos quadros do SGMB era composta por ex-alunos da Escola de Minas de Ouro Preto (Carvalho, 2002), que boa parte destes engenheiros atuaram no I CAIC como assessores técnicos dos grupos de trabalho e que será um ex-aluno da Escola, João Pandiá Calógeras, o autor da primeira legislação acerca do direito à exploração do subsolo brasileiro (Carta de Minas, 1915), pode-se mensurar a importância que esta instituição terá, seja nas questões de mineração e siderurgia, em escopo federal e regional, e, principalmente, no que concerne ao caráter da atuação estatal em relação às questões mineralógicas e siderúrgicas. Acerca dessa questão tratar-se-á adiante de forma mais detalhada. 15 Cabe ressaltar que se a construção de Belo Horizonte e o I CAIC são marcos desse suposto desenvolvimentismo regional, e se decorrem das necessidades específicas surgidas em quadro de crise da economia mineira, concomitantemente também podem ser percebidos como frutos de um elemento importante que, a partir do princípio do século XX, caracterizará a atuação das elites regionais: a emergência, segundo Barbosa (1993), de uma elite técnica, portadora de uma visão divergente da até então consolidada e que, no limite, significou a introdução de um novo agente na cena pública definindo, inclusive, o princípio de um processo de mobilidade social no seio da elite regional16. A isso se pode somar, também, uma mentalidade de tipo burguesa que, conforme salienta Dutra (1989), embora não se fizesse hegemônica, passava a orbitar o poder público mineiro desde então. Para Barbosa (1993), o vetor responsável pela emergência desse pensamento de corte industrializante e moderno, no período aqui apresentado, foi a Escola de Minas de Ouro Preto (EMOP). Fundada em 1876 por D. Pedro II, e organizada e dirigida até 1892 pelo professor francês Claude Henri Gorceix, essa instituição se firmará, ao longo do tempo, como um dos principais centros de definição do desenvolvimento econômico regional, sendo contribuinte importante também da formação dos quadros técnicos em nível federal. Nesse sentido, não deixa de ser sugestivo que, quando da fundação da Escola, o professor Gorceix tenha afirmado que Em todas as éphocas e em todos os povos a exploração das riquezas mineraes enterradas no sólo tem sido objecto da mais viva solicitude do governo; e com effeito, bem merece tamanha attenção... é obvio que todo governo tem o mais subido interesse em ver o subsólo estudado com o maior cuidado, e certificar-se de que as minas são exploradas de modo mais vantajoso para o thesouro publico, como para os interesses dos particulares. Para attingir a esse duplo fim, é indispensavel que o Estado possa dispôr de engenheiros de minas capazes de dirigir as explorações metallurgicas e de se entregarem às pequizas e aos estudos necessarios ao desenvolvimento dessa industria. (GORCEIX, 1875 APUD Revista da Escola de Minas). Desde sua fundação, a Escola de Minas colaborou, ao menos no âmbito discursivo, em princípio, com uma reorientação das elites regionais. É bastante significativo que Gorceix chame a atenção para a importância do Estado e das pesquisas mineralógicas, sobretudo se consideradas duas questões. A primeira, a de que a Escola se funda em um momento em que a mineração não representava um problema efetivo 16 Para a autora “os engenheiros tornam-se o paradigma de uma nova linhagem de intelectuais da elite. Isso acontece justamente por que, no novo arranjo das forças produtivas que começa a se instalar, sua posição é estratégica: esses profissionais são os agentes portadores dos conhecimentos mais adequados, mais próximos do núcleo fundador da legitimidade do arbítrio cultural que vai se tornando dominante (a ciência e a técnica)” (Barbosa, 1993:45-6). para as elites regionais, havendo inclusive certa má-vontade para com a questão por parte dos grupos políticos e econômicos proeminentes ao fim do período imperial. Para Carvalho (2002), a EMOP teria surgido mais por vontade política de Pedro II que, necessariamente, por uma necessidade econômica da região. A segunda questão é a de que tanto a Escola como seu diretor, Gorceix, sofrerão uma forte oposição no cenário político regional, provavelmente decorrente daquilo que se considerou como primeira questão17. Não obstante as dificuldades iniciais, já no princípio do século XX a Escola, então já com mais de 25 anos de pesquisas e com vários engenheiros nela graduados, passa a ter uma influência ampliada no pensamento regional. É importante ressaltar, entretanto, que a assimilação pelo poder público dos quadros técnicos oriundos da Escola de Minas somente acontecerá de forma lenta e assistemática, ao menos, até 1933 (Barbosa, 2005). Na mesma medida, boa parte do programa de planejamento e ação concebido a partir do I CAIC apenas gradual e lentamente será efetivada ao longo das três décadas subseqüentes à sua proposição (Dulci, 1999). O predomínio da perspectiva liberal no âmbito nacional, além das próprias descontinuidades no poder público regional podem ser elementos que expliquem essa dificuldade de concretização. Mesmo assim, é relevante a observação da importância da indústria siderúrgica no desenvolvimento industrial mineiro, especialmente na década de 1920 (Diniz, 1981)18, assim como também são significativos os esforços do governo estadual de implantação 17 Não deixa de ser curioso, portanto, que o I CACI coloque, entre suas preocupações centrais a questão mineralógica. 18 Deve-se, inclusive, considerar que o desenvolvimento dessa indústria siderúrgica mineira na década de 1920 se relaciona a dois elementos: o apoio do poder público regional em alguns casos (como o da instalação da Indústria Siderúrgica Belgo Mineira) e a participação de ex-alunos da Escola de Minas que fundaram pequenas e médias usinas siderúrgicas no estado (caso, por exemplo, da Usina Gorceix, fundada por Euvaldo Lodi). É preciso ressaltar, também, quanto ao apoio estatal às usinas siderúrgicas nesse período, que este é um esforço que se insere em um problema maior. Dada a exploração do subsolo mineiro pela companhia estrangeira Itabira Iron Co. que, desde meados da década de 1910 propunha-se à exploração do minério de ferro regional, exportando-o e não o beneficiando em Minas Gerais, motivou o poder público a deflagrar uma intensa campanha contrária à empresa. Principalmente no Governo Artur Bernardes, tanto no plano federal como no estadual, a empresa sofreu revezes importantes em seus planos. Agente importante nessa questão será Clodomiro de Oliveira. Ex-aluno da Escola de Minas, seu professor e diretor, Oliveira será secretário da Agricultura na gestão estadual de Bernardes, valendo-se do cargo tanto para impulsionar usinas siderúrgicas, e não apenas empresas extrativas, no estado de Minas, como para arregimentar apoios a sua causa. A campanha contrária à Itabira Iron será iniciada por Oliveira, embora tenha contado com a participação de amplos setores técnicos regionais, especialmente aqueles ligados à EMOP. O caso Itabira Iron é importante, também, por que divide o corpo técnico regional já na década de 1920 e, essencialmente, por que será a partir da definitiva invalidação do contrato assinado entre a empresa e o governo federal que, em 1937, as jazidas sobre sua responsabilidade voltariam para o patrimônio da União. É na órbita dessa discussão que, inclusive, ganham tonicidade as discussões sobre a Companhia Siderúrgica Nacional, embora este não seja fator exclusivo. do ensino superior agrícola, definido no I CACI como propulsor privilegiado da proposta de modernização agrícola regional (Faria, 1992)19. Se Dulci (1999) considera que 1903 denota o surgimento de um desenvolvimentismo mineiro, se se pode compreender esse período como o de uma tendência a uma hipertrofia estatal precoce, em Minas, em relação ao Brasil, se se deve considerar que muitas dessas questões foram mais discursivas que essencialmente práticas, o ano de 1933 marcará, nesse sentido, uma reorientação fundamental do poder público regional em que esses temas assumiram novos contornos. O ano de 1933 marca a ascensão de Benedito Valadares como interventor, nomeado por Getúlio Vargas, na arena estatal mineira. Assumindo um governo financeiramente quebrado pela crise de 1929, cujo antecessor havia, em três anos, nomeado seis secretários de finanças diferentes sem, com isso, minimizar a crise regional, coube a Valadares a árdua tarefa de recompor a situação econômica do Estado. Para tanto, nomeou um secretário especificamente para a questão financeira e outro para o setor produtivo. Será Israel Pinheiro, ex-aluno da Escola de Minas de Ouro Preto, aquele que, responsável pela Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio, Trabalho, Viação e Obras Públicas20, congregará os esforços regionais visando à recuperação produtiva de Minas Gerais. Para isso, em sua pasta abrigará boa parte dos quadros técnicos mineiros, em sua maioria formados pela Escola de Minas, e em menor mas importante parte formados pela Escola de Engenharia de Belo Horizonte. A SAICT será um espaço de importância capital não apenas para a recuperação econômica estadual. Antes, será fundamental como centro de reunião e de definição do projeto de desenvolvimento regional. Será, nesse período, aliás, o embrião da tecnocracia mineira (Diniz, 1981), demarcando 1933 como uma inflexão importante no quadro político e econômico de Minas Gerais. Entre 1933 e início de 1939, essa Secretaria organizará um planejamento de desenvolvimento regional baseado na diversificação da produção agrícola e em sua modernização, priorizando produtos que pudessem gerar, por decorrência, alguma estratégia de industrialização. Nesse sentido, serão criados conselhos técnicos para a 19 É o caso, por exemplo, da fundação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária (ESAV) que, a partir de 1926, cumprirá um papel determinante no que concerne à tarefa de propiciar, ao homem do campo, elementos efetivos para a modernização do seu trabalho. A respeito do caráter extensionista da ESAV, ver Barbosa, 2004. 20 Esta pasta será transformada, em 1935, em duas: Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho (SAICT) e Secretaria de Viação e Obras Públicas (SVOP). A SAICT, entretanto, continuará comandada por Pinheiro, ao menos até 1942. cultura do fumo e do algodão, por exemplo, com projetos de industrialização desses produtos dentro do próprio estado (Dulci, 1999). A partir de fins de 1938 será iniciada a campanha pela grande siderurgia nacional implementada em Minas Gerais, lançada pela Revista Mineira de Engenharia por meio da publicação do documento “Siderurgia Nacional e exportação de minério de ferro” (RME, vol.7, 1938). A essa campanha se ligou boa parte do corpo técnico regional, embora o papel da Secretaria tenha sido mais discreto. Em linhas gerais, o projeto mineiro previa a construção da grande siderurgia brasileira no Vale do Rio Doce, região com altíssima concentração de minério de ferro, utilizando carvão vegetal e energia elétrica complementar para a alimentação dos altos fornos. Além disso, pressupunha que ao Estado deveria caber os investimentos e, principalmente, a propriedade da empresa21. A defesa do projeto, que foi amplamente apoiado pela incipiente burguesia mineira (Vieira, 1984), possuía um viés nacionalista e advogava, por conseguinte, que seria a melhor forma de se resolver o problema siderúrgico brasileiro (em um momento de expansão da necessidade de ferro no plano mundial, dadas as necessidades emergentes com a Segunda Grande Guerra) na medida em que também se caracterizaria como a maneira ideal de se resolver o problema da industrialização de Minas Gerais, atacando assim a questão do atraso econômico regional (Barbosa, 2005). A definição do modelo de grande siderurgia no Brasil, que consagrou o Rio de Janeiro e o coque mineral como escolhas do poder público para o tema, trouxe reflexos importantes para Minas Gerais. Em primeiro lugar, desarticulou amplamente o corpo técnico22 e a burguesia mineira que, por meio de suas instituições de classe e de categoria (Sociedade Mineira de Engenheiros; Federação Industrial de Minas Gerais; Associação Comercial de Minas etc), haviam defendido o projeto. Em segundo lugar, condicionou o poder público mineiro a reorientar suas preocupações no sentido de atender à demanda regional por desenvolvimento econômico. Mas, por seu turno, 21 Sobre o debate acerca da grande siderurgia brasileira e o modelo desenvolvido em Minas Gerais, e defendido pelos técnicos mineiros, ver Conselho Técnico da Sociedade Mineira de Engenheiros. Siderurgia Nacional e exportação de minério de ferro. Parecer. Revista Mineira de Engenharia. Ano 1. Nº7. 1938. 22 A desarticulação do corpo técnico mineiro, no período, correspondeu a uma disputa profunda intra-elite técnica a partir de então. Os desdobramentos desse processo serão sentidos nos projetos do poder público e, essencialmente, no ostracismo a que foram relegados determinados atores, no que concerne à dianteira decisória do processo de desenvolvimento regional. Deve-se ressaltar, inclusive, que a disputa técnica aqui em tela teve como resultado o enfraquecimento da Escola de Minas de Ouro Preto como formuladora de parte destes projetos, em detrimento de uma participação, a partir daí, gradativamente ampliada da Escola de Engenharia de Belo Horizonte. A respeito, ver Barbosa (2005). imprimiu a partir de então uma centralidade da industrialização como perspectiva de desenvolvimento regional, colocando a questão agrícola em segundo plano23. Em 1942, a SAICT passou a ser comandada pelo engenheiro Lucas Lopes, exaluno da Escola de Engenharia de Belo Horizonte. Uma das principais características da gestão Lopes à frente da pasta será dar prosseguimento, ampliando e verticalizando, o projeto de construção de uma grande cidade industrial no entorno de Belo Horizonte, servida por farta infra-estrutura propiciada pelo investimento público, que atraísse investimentos de capital privado24. A partir desse momento, serão intensificados os estudos acerca das possibilidades de oferta de energia elétrica, preocupados com a questão de sua produção e de sua distribuição. Essa será a base para a fundação, uma década mais tarde e sob o governo estadual de Kubitschek, da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), primeira empresa de capital misto brasileira e modelo para a Eletrobras (Diniz, 1981; Dias, 1968). Deve-se ponderar que, em linhas gerais, a gestão de Lucas Lopes à frente da SAICT corresponde, em âmbito regional, ao cenário nacional que, conforme já foi aqui salientado, se inflexiona a partir de 1942. Nesse sentido, a opção pela industrialização privada e pelo papel do poder público de garantir infra-estrutura para o desenvolvimento do capital privado em escopo regional pode ser compreendida em relação, também, à expansão industrial brasileira e ao significativo aumento do investimento norteamericano na economia brasileira a partir de 1941 (Abreu, 1989). Embora com um pequeno sucesso a princípio, os efeitos econômicos da cidade industrial fundada em 1943 somente fizeram-se sentir na década seguinte. A partir de 1947, com a queda de Valadares e a chegada de Milton Campos, udenista e crítico da gestão valadarista, ao governo estadual, assumirá a Secretaria de Agricultura o também ex-aluno da Escola de Minas, Américo Giannetti. Sua gestão será marcada pela formulação do Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção. Segundo Dulci (1999:78), o Plano “Foi, seguramente, a primeira experiência de macroplanejamento em escala regional no Brasil”. 23 Quadro que se alterará, como será discutido adiante, a partir de 1947. Ressalte-se que, desde sua gestão a frente da SAICT, Lucas Lopes já defendia a idéia de planejamento por parte do Estado, intentando o desenvolvimento econômico. Contudo, defendia que este planejamento tivesse caráter parcial. Ou seja, defendia que pontos específicos da economia, tidos como insuficientes, fossem priorizados pelo poder público, tornando-se, no futuro, aquilo que, a partir do Plano de Metas de JK passou a ser conhecido por pontos de germinação. Esta perspectiva, conforme abordado na seqüência deste texto, difere-se do caminho tomado regionalmente a partir de 1947. 24 Contando com as experiências anteriores, no âmbito da Secretaria, o Plano Giannetti (como ficou conhecido) traçou um diagnóstico da economia regional, buscando evidenciar o tipo de apoio que deveria caber ao poder público, em caráter de investimento infra-estrutural inclusive, se definindo como uma estratégia que identificasse o conjunto dos problemas e planejasse um conjunto de soluções, e se caracteriza por ter trazido para o centro das discussões acerca do desenvolvimento regional, a possibilidade de se constituir um modelo integrado em que indústria e agricultura deveriam ser incentivadas e trabalhadas paralelamente. A superação do atraso mineiro, portanto, voltava a ser pensada, também, pelo escopo agrário25. A construção de um modelo integrativo de desenvolvimento regional, portanto, era uma tentativa mineira de se concretizar uma estratégia alternativa ao modelo nacional. O Plano Giannetti, por decorrência, cumpriu um papel importante na medida em que arregimentou esforços visando à recuperação econômica regional, lastreada em uma perspectiva de crescimento produtivo, na indústria e no setor agrário, que desacelerasse a migração dos mineiros para outras regiões e que, principalmente, propiciasse a superação do atraso de Minas em um arranjo endógeno de suas possibilidades. Além disso, é digno de destaque o tom “devastador” que preenche as páginas do documento para o qual a economia mineira enfrentava um processo de esgotamento, exposta que estava a perturbações, desprovida de meios de defesa. A população estava, de acordo com o Plano, reduzida aos termos de profunda miséria, caminhando para o pauperismo extremo. Metaforicamente, sugeria-se um dique ao processo de exaustão, de esgotamento do nosso organismo econômico-financeiro. O poder público, por sua vez, encontrava-se em processo de desaparelhamento. População, Estado, setor produtivo, enfim, Minas Gerais e sua economia estavam, nas palavras do Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção, em pleno processo de exaurimento de suas energias. Assim, afirma-se, “É fato inegável que a economia mineira está 25 Este é um elemento curioso e intrigante da gestão Giannetti. Américo Giannetti era, dos três secretários aqui destacados, certamente o mais ligado ao setor industrial. Havia sido presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros e presidente da Federação Industrial de Minas Gerais. Diferentemente de Lopes, que não era industrial ou de Pinheiro, que era industrial mas que não houvera tido uma participação exponencial como representante de classe, Giannetti era um dos mais bem sucedidos industriais de Minas Gerais. Foi dele a iniciativa da fundação da primeira companhia produtora de alumínio da América Latina, a Companhia Saramenha de Alumínio, em Ouro Preto. A questão do apoio ao desenvolvimento agrícola pode estar relacionada ao perfil udenista de Milton Campos e aos apoios recebidos quando de sua eleição ao governo estadual. desprotegida e abandonada à sua própria sorte” (PREFP, 1947: 7,8,9).26 Além dessa tônica ser fundamental ao discurso produzido pelo Plano, será também importantíssima para a argumentação de ao menos dois outros documentos fundamentais do planejamento da economia regional no período em tela (e sobre os quais discorreremos adiante): o “Plano de Eletrificação de Minas Gerais” (1950) e o “Diagnóstico da Economia Mineira” (1968). Voltando ao Plano, entretanto, a tentativa integrativa será frustrada quando da eleição de Kubitschek ao governo do Estado, em 1950, denotando uma segunda inflexão no cenário mineiro. A partir de então, o centro da dianteira decisória do processo de desenvolvimento regional e o espaço de congregação do corpo técnico mineiro deixam de ser a Secretaria de Agricultura que será, segundo Dulci (1999), fortemente esvaziada. Assumem relevo, nesse sentido, as agências técnicas específicas para a condução dos pontos a serem desenvolvidos. Concomitantemente, o abandono da perspectiva de macroplanejamento regional impõe uma agenda setorizada, de planejamento e atuação do poder público mineiro. A partir da definição dos pontos de estrangulamento regionais, potenciais pontos de germinação futuros, a gestão JK em Minas será caracterizada por dois fatores. O primeiro, pela escolha do poder público regional pela especialização industrial, dirimindo gradativamente a importância do setor agrário como ponto de investimento do Estado. Assim, a escolha de dois pontos-chave para a atuação do governo revela a tendência à industrialização regional: o Binômio Energia e Transportes. O papel secundário assumido então pela Secretaria de Agricultura, a ênfase na construção e na pavimentação rodoviária, pensada como crucial para o escoamento, especialmente, da produção industrial, e a fundação da CEMIG, geradora e distribuidora de energia elétrica abundante para a indústria se instalar em Minas Gerais, são pontos sugestivos dessa etapa de especialização industrial regional. Concomitantemente, a estratégia política para a concretização do Binômio também se demonstra importante, sendo o segundo fator a caracterizar a gestão JK no plano estadual. Ao esvaziar a Secretaria de Agricultura, o governo Kubitschek priorizou grupos administrativos paralelos ao poder público, conciliando, assim, os interesses tradicionais institucionalmente representados e os interesses técnicos e administrativos nas estruturas paralelas. Essa característica, por sinal, será amplamente adotada em âmbito federal, quando da organização do Plano 26 As palavras em itálico, nesse parágrafo, correspondem a expressões utilizadas na “Exposição Preliminar” do Plano, entre as páginas 7 e 9, para designar a situação econômica mineira no período. de Metas, sendo, aliás, evidenciada como estratégia fundamental para o seu sucesso (Benevides, 2002). A partir da década de 1950, por decorrência, a perspectiva do planejamento da economia regional e do desenvolvimento industrial mineiro ganham tonicidade. A importância da CEMIG, nesse sentido, será fundamental na medida em que passou a ser o vetor do corpo técnico regional, tendo sido, ainda, a responsável pela fundação do Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI), órgão vital, a partir da década de 1960, para a promoção da industrialização mineira. Com o advento do governo Magalhães Pinto, na primeira metade da década de 1960, a perspectiva do desenvolvimento industrial e do planejamento e financiamento estatal se amplia, principalmente, com a fundação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), em 1962. Segundo Dulci (1999), o BDMG denota uma inflexão importante nos rumos do desenvolvimentismo mineiro, na medida em que promove a transição da dianteira decisória do processo, no que tange ao corpo técnico, da influência da categoria profissional do engenheiro para a da categoria profissional do economista. Segundo Diniz (2002), o BDMG será vital para os novos rumos do desenvolvimentismo regionalmente, na medida em que se debruçou sobre o problema do atraso relativo de Minas Gerais de forma sistemática. Em dois momentos essa preocupação mostrar-se-á latente. O primeiro, em 1965, quando o Banco organiza o I Congresso Brasileiro de Desenvolvimento Regional, em que elabora o documento “Ensaios de Desenvolvimento Regional”. O segundo, e mais importante momento, quando elabora e publica, em seis volumes, o “Diagnóstico da Economia Mineira” que, segundo Diniz (2002:118-9) “sistematizou as interpretações acerca do atraso econômico de Minas Gerais”, propiciando a arregimentação de ampla equipe técnica que, para o autor, tornou-se primordial em detrimento da classe política. A visão panorâmica que aqui se resenhou, seja a respeito das questões mineiras seja no tocante ao quadro nacional, revela, em princípio, algumas considerações importantes. Primeiramente, expõe a conexão entre momentos específicos da economia nacional e estratégias regionais de desenvolvimento econômico. Em segundo lugar, salienta uma suposta e precoce vocação mineira para a intervenção estatal, vislumbrando o desenvolvimento econômico regional e a superação de seu atraso relativo. Sugere ainda uma participação efetiva, e também precoce, das categorias profissionais técnicas (especialmente da categoria profissional do engenheiro) tanto na atuação na arena pública estatal como no debate acerca dos rumos do desenvolvimento regional. Aliás, uma participação decisiva e, em relação ao quadro nacional, ampliada. Além disso, apresenta certa homogeneidade entre as elites regionais que, desde o final do século XIX, teriam sabido utilizar a conciliação como uma estratégia crucial de manutenção da ordem vigente. Ou seja, parece ter havido um fio condutor, na maioria das vezes homogêneo, entre os interesses regionais (econômicos e políticos) que, a partir do princípio do século XX, teriam norteado a ação do poder público regional intentando o desenvolvimento econômico de Minas Gerais. Muito embora alguns pontos específicos da agenda pública tenham se alternado, conforme se tentou aqui observar, parece ter existido uma coesão entre as elites regionais o que, ao cabo, teria condicionado o processo mineiro. Vieira (1984) aponta, por exemplo, para um dado importante: a unificação de interesses variados se dava, aliás, pelo perfil desses grupos regionais. Assim, por exemplo, boa parte das diretorias da Sociedade Mineira de Agricultura contava com a participação de engenheiros e industriais. Além disso, a influência das instituições de ensino de Engenharia, em Minas, parece ter tido uma contribuição ímpar no que tange ao modo de agir do corpo técnico regional, bem como demonstra ter contribuído nas características dos projetos levados a efeito em Minas. Ao mesmo tempo, a participação de alguns quadros regionais no plano federal, como o caso de Lucas Lopes ou o de Euvaldo Lodi, revela a possibilidade de que alguns arranjos institucionais específicos do processo mineiro tenham tido importância quando da efetivação de alguns elementos ligados ao desenvolvimentismo brasileiro. É sugestivo pensar, por exemplo, que a organização de grupos gestores paralelos ao poder institucional, quando da organização do Plano de Metas, tenha sido testada no governo mineiro alguns anos antes tendo, aliás, o mesmo Lopes à frente. Se o quadro mineiro, por sua vez, pode ser compreendido como de uma suposta homogeneidade, como se pode interpretar a disputa havida no bojo da elite técnica regional, após a derrota do projeto siderúrgico mineiro? Ao se pensar nessa elite técnica, como percebê-la como setor estritamente técnico se, em muitos e proeminentes casos, representavam também interesses classistas, sendo industriais ou produtores agrários27? 27 Ver o caso de Giannetti, já aqui explicitado; ver Israel Pinheiro, engenheiro, Industrial e Secretário de Estado; ver Pedro Rache, Industrial e membro do Conselho Federal de Comércio Exterior; ver Benjamin Jacob, engenheiro e Prefeito de Belo Horizonte; Demerval José Pimenta, engenheiro, economista, Secretário de Viação e Obras Públicas, presidente da Rede Mineira de Viação, Industrial; Euvaldo Lodi, engenheiro, industrial, membro do Conselho Federal de Comércio Exterior, deputado federal, por Minas Como se pode compreender, por exemplo, que tenha sido um grupo de juristas mineiros, opositores a Valadares e ao seu governo, aqueles que redigiram o Manifesto dos Mineiros, em 1943, e que é tido, por parcela considerável da historiografia, como o estopim da crise política que derrubou Vargas, em 194528? Pensando nas correntes desenvolvimentistas apresentadas para o quadro nacional, por Bielschowsky (1995), como se pode entender um possível desenvolvimentismo mineiro? Seria ele desligado completamente do quadro nacional? Teria sido influenciado pelas correntes do desenvolvimentismo brasileiro ou, caso tenha existido um modelo mineiro, esse teria influenciado, de alguma maneira, as correntes desenvolvimentistas nacionais? Ao mesmo tempo, como explicar que, na homogeneidade desse fio condutor do desenvolvimentismo mineiro, duas das principais medidas de planejamento e desenvolvimento regional (o Plano Giannetti e a fundação do BDMG) tenham emergido, justamente, durante a gestão de udenistas, em tese mais propensos ao pensamento político neoliberal? Para encaminharmos essa discussão, apresentar-se-á, na seqüência, o conjunto de hipóteses que está sendo investigado na tentativa de lançar luz sobre os pontos ainda obscuros do processo aqui resenhado para, por conseguinte, se discutir o relevo que os planos de desenvolvimento econômico regional assumiu ao longo das primeiras décadas em Minas. III As hipóteses que norteiam a pesquisa da qual aqui se trata podem ser apresentadas na seqüência abaixo. a) Pode ter havido, em Minas Gerais, a construção de um modelo específico de desenvolvimento econômico, característico de uma região periférica, em que o papel do poder público regional foi demarcado pela capacidade de planejamento e intervenção nos ditames econômicos, desde o princípio do século XX; Gerais por diversas gestões, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) na década de 1940. Estes são alguns exemplos selecionados dentre vários outros. Ver: A Escola de Minas. 1876-1966. Ouro Preto, 1966. Este catálogo contém uma pequena biografia de todos os engenheiros formados pela instituição. 28 Cabe ressaltar, nesse ponto, o recrudescimento apontado por Gomes (1994) na diferenciação entre uma elite técnica e outra, ligada ao Direito. Para a autora, a década de 1930 verá emergir a “invenção da tradição” do técnico como mais apto a prover o poder público de ação e racionalidade que o bacharel em direito, cuja categoria profissional predominava na área da burocracia pública brasileira até então. Dada a importância assumida pelo corpo técnico no poder público mineiro, cabe ponderar qual o papel assumido pela burocracia tradicional, ligada ao direito, em Minas. b) Se esse caráter específico do processo de desenvolvimento econômico de Minas Gerais existiu, ele dificilmente pode ser pensado em processo de isolamento ao que se propunha em escopo nacional, embora possa guardar especificidades; c) Se esse modelo mineiro pode ser compreendido como desenvolvimentismo, ele pode ter sido diretamente influenciado pelo debate acerca do desenvolvimentismo brasileiro, e pode, também, ter fornecido contribuições importantes no que concerne aos arranjos institucionais regionais formulados; d) A existência de conexão entre interesses de técnicos, industriais e elite agrária, em Minas, que muitas vezes se efetivava, também, no cruzamento das posições dos representantes (sendo um engenheiro também um industrial e um representante nas associações agrícolas), dificulta a definição precisa dos grupos na órbita do Estado. Assim, tendo havido um desenvolvimentismo mineiro, houve uma divisão de grupos desenvolvimentistas específicos no cenário regional que podem ou não ser equiparados aos setores desenvolvimentistas nacionais; e) A formulação do Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção, em 1947 e a fundação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, em 1962, ambos sob governos ligados à União Democrática Nacional (UDN), sensivelmente mais propensa ao pensamento neoliberal, podem representar a existência de uma força amplificada dos quadros técnicos sobre os quadros políticos regionais, baseada em uma matriz de pensamento em que o Estado e sua participação na economia são fundamentais. E essa matriz pode ser encontrada na formação ofertada pelas duas principais escolas de engenharia de Minas no período proposto: a Escola de Minas de Ouro Preto e a Escola de Engenharia de Belo Horizonte. IV Um dos elementos mais significativos da questão aqui abordada, em Minas, provavelmente é a sucessão de planos regionais de desenvolvimento que, especialmente a partir da década de 1930, vão se tornando mais presentes e, sobretudo, mais aprofundados no que tange i) à capacidade de verticalização dos estudos e da análise dos dados da economia regional, ii) à formulação de caminhos que ressaltem a premência do poder público como centro definidor para o desenvolvimento econômico mineiro, por meio de planejamento efetivo e iii) a constante definição de Minas Gerais como região periférica, especialmente contida em seu desenvolvimento ou por seu atraso interno ou pelos interesses externos que, em ambos os casos, minam qualquer tentativa interna de progresso econômico e esvaziam qualquer política pública. Assim, ao se observar a seqüência de planos em questão, mesmo que inserindo os Anais do I Congresso Agrícola, Industrial e Comercial de 1903, que nem foi um plano propriamente – conquanto tenha sido fundamental na fundação de uma tradição, como se salientou anteriormente, em que se sublinha o papel do poder público e do planejamento da economia – pode-se perceber uma articulação e um diálogo entre todos eles, mesmo que formulados e elaborados em gestões políticas distintas e opositoras. Pode-se observar, a princípio, o projeto siderúrgico elaborado pela Sociedade Mineira de Engenheiros que, conforme buscou aqui se salientar, estava diretamente ligada ao poder público por meio da Secretaria de Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho, no governo de Valadares. Conquanto um projeto voltado para a implantação da grande siderurgia nacional em Minas, não deixa de representar um estudo – mesmo que parcial – da história da siderurgia brasileira, apresentando a relevância que a mesma alcançou, sempre, para Minas. Ao mesmo tempo, representa um trabalho sobre a importância coeva de tal produção siderúrgica na vida econômica mineira além de, por conseguinte, ser efetivo no que toca ao apontamento do estado como principal definidor da agenda de desenvolvimento siderúrgico a ser implantada a partir da possível aceitação da proposta em questão, não sem antes se apontar ou o desinteresse do capital privado – insuficiente quando nacional, e com outros interesses quando estrangeiro (como a exportação do minério de ferro e não seu beneficiamento interno) – ou mesmo a falta de empenho do empresariado nacional e, em especial, mineiro para tarefa de tamanho vulto. Já na gestão Milton Campos, conforme já aqui salientado, em posição política muito distinta da de Benedito Valadares, tanto o Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção, elaborado pelos técnicos da Secretaria de Agricultura comandada por Giannetti, como o Plano de Eletrificação de Minas Gerais, encomendado pela mesma secretaria, mas produzido por companhia privada e comandado pelo exsecretário da Agricultura Lucas Lopes, são importantes registros do quadro econômico, social e geográfico de Minas (especialmente o Plano de Eletrificação – documento em seis volumes e muito dedicado à geografia econômica do Estado), bem como ressaltam a importância do poder público e a leniência do empresariado local para a solução dos problemas básicos exigidos pelo desenvolvimento econômico regional. A situação, descrita sempre como caótica, requer sempre a ação pública como planejadora consciente, uma vez que, de acordo com o Plano de Recuperação de 1947, na realidade mineira da época As fontes de produção e as atividades econômicas dispersamse pelo Estado, distanciadas umas das outras, sem comunicações nem transportes fáceis; por isso, o nosso arcabouço econômico e financeiro não se concentra, em proporções consideráveis, em nenhuma região especial do Estado. Não há centralização de riquezas em determinadas zonas capaz de influir decisivamente, pelo vulto e poder, nos destinos econômicos da comunhão. (PREFP, 1947:7). Mas, atente-se, não se propõe um estado que adentre, definitivamente, a esfera da produção; antes, um poder público que permita a potencialização de uma economia que, conforme se apreende do excerto acima, está desmotivada e, sobretudo, desarticulada. Sugere-se, assim, que IEntende o Estado que as atividades industriais deverão processar-se sob o primado da iniciativa particular; IIque a ele incumbe estimular a iniciativa, promovendo medidas que lhe facilitem a ação; IIIque lhe cumpre agir supletivamente, a fim de encorajar e auxiliar a iniciativa privada; IVque só deve intervir na atividade industrial onde a iniciativa particular for omissa ou incapaz, limitada essa interferência às indústrias fundamentais e de caráter básico. (...) (PREFP,1947:27). É nessa perspectiva que se elabora o Plano de Eletrificação, em 1950. Eivado pela mesma lógica de que o empresariado regional é frágil e pouco afeito à mudanças e de que, quando insuficiente, o setor privado deveria ser substituído pelo setor público, especialmente no tocante às obras infra-estruturais, o Plano reconstrói toda a história da produção e da distribuição energética em Minas ao longo do tempo, buscando mostrar a fragilidade de um sistema baseado nas pequenas usinas ligadas às unidades produtivas específicas. Pautado pela noção de que é a eletricidade abundante que precede a industrialização e não o contrário, o Plano de Eletrificação tonifica boa parte do discurso elaborado por Lucas Lopes ainda quando secretário de Agricultura mas, também, e substancialmente, formula documento de vulto capaz de ser o alicerce para que, um ano depois, já na gestão JK – opositor a Milton Campos, ressalte-se – fosse implementada a CEMIG. A gestão JK no estado e, em especial, no governo federal, e as relações dessas gestões com as experiências trabalhadas em Minas, sobretudo no tocante aos arranjos institucionais regionais voltados ao planejamento econômico por parte do poder público, tem sido nosso interesse mais direto, embora ainda em fase de pesquisa. Poderíamos, nesse sentido, levar nossa discussão somente até o final do governo Juscelino, no plano federal. Contudo, alguns elementos parecem sugerir a pertinência de se observar um pouco além, especialmente a década de 1960. Nela estão situados, historicamente, a fundação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, em 1962 e o lançamento do Diagnóstico da Economia Mineira, documento produzido pelo Banco em 1968. Ambos os elementos, conforme já se evidenciou neste texto, são fundamentais para a década e ocorrem mesmo que nas descontinuidades. A primeira delas, a substituição do governador udenista Magalhães Pinto, em 1965, pelo pessedista Israel Pinheiro e, a segunda, mas não menos significativa, a culminância do golpe civil militar de 1964. O Banco, enquanto agência de fomento ao desenvolvimento regional se consolida já na primeira década de funcionamento e o Diagnóstico, que aqui nos interessa mais objetivamente, pode ser caracterizado por dois elementos complementares. Em primeiro lugar, é provavelmente o mais completo e aprofundado estudo realizado em Minas Gerais acerca de sua história econômica, de seus problemas de crescimento e de suas potencialidades naturais. Nesse sentido, se os Anais do I CAIC são relevantes como fundadores de uma tradição regional ligada à formulação de documentos arregimentadores da elite técnica e econômica mineira em prol do desenvolvimento econômico, o Diagnóstico talvez tenha sido o momento definitivo, conquanto final, dessa tradição. Assim, pode-se considerá-lo mais completo que todos os demais (talvez a ele se compare, em aprofundamento e relevância, apenas o Plano de Eletrificação), mais ambicioso que os anteriores e, nitidamente, o mais politicamente orientado em sua análise sobre a estagnação da economia regional. Que aos planos anteriores faltasse filiação teórica29, ou mesmo interesse em, taxativamente, inserir suas análises no bojo do pensamento da economia brasileira essa afirmação do Plano de Recuperação Econômica e Fomento da Produção, concernente à sua exeqüibilidade, parece evidenciar: Não há gigantismo no conjunto das medidas preconizadas [pelo Plano]: tudo se enquadra num programa mínimo e exeqüível. São modestas as características gerais das diretrizes traçadas, apesar de se orientarem estas no sentido do estabelecimento de bases para a recuperação de toda a economia do Estado, particular ou pública. Poderia ter sido organizado um programa de linhas mais amplas (...) 29 Excetuando-se, talvez e mais uma vez, o Plano de Eletrificação de Minas Gerais que, em linhas gerais, parece propor uma análise da economia regional amplamente pautada pela observação geográfica. Esse dado é importante tendo em vista que, em concomitância a sua elaboração, seu organizador, Lucas Lopes, assumira como catedrático da Faculdade de Administração e Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, justamente na cadeira de Geografia Econômica. Entre ser modestos ou exagerados, preferimos a primeira norma de proceder. (PREFP, 1947: 9). “São modestas as características gerais das diretrizes traçadas”, na medida e proporção em que pouco, ou nada, se trata do quadro econômico nacional. Conquanto não faltem, desde o projeto siderúrgico de 1938, apontamentos sobre a situação de atraso relativo da economia mineira, arrastada pela economia paulista, e que o Plano de Eletrificação bem como o de Recuperação Econômica salientem de forma expressiva essa relação de atraso e sujeição de Minas ao centro econômico em que se transformara São Paulo (e nesse sentido, desenvolvimento econômico era, na leitura empreendida então, superar justamente esse atraso relativo – e compreendê-lo em suas origens nunca deixou, desde o I CAIC, um desejo real das elites mineiras), esses elementos sempre foram apresentados conjunturalmente. Não é assim no Diagnóstico. Para o documento lançado pelo BDMG em 1968, Minas Gerais possui uma economia em situação de atraso relativo pois é, necessariamente subdesenvolvida (nos moldes específicos em que o conceito de subdesenvolvimento é trabalhado pelas análises cepalinas). Minas guardava, então, para o Diagnóstico, todos os traços do subdesenvolvimento econômico, arregimentando esforços internamente para, no limite, potencializar a economia vizinha mais forte e dinâmica. Se o I CAIC, com suas atas, pode ser pensado como a fundação dessa tradição, o Diagnóstico pode ser avaliado como a sua culminância, especialmente por que, ao caracterizar a economia mineira como subdesenvolvida, acaba por estruturar uma leitura que qualifica as análises apresentadas anteriormente pelos planos econômicos regionais e, substancialmente, lhes dá sentido histórico. Embora esses planos tenham uma efetiva preocupação técnica, apresentando e analisando dados e tabelas, gráficos e mapas, retrospectivas e projeções, eles possuem, acima de tudo, um vertical discurso político que ora parece querer convencer internamente ora parece destinado ao convencimento dos estados vizinhos, ou mesmo do governo federal, seja em busca de acordos econômicos mais vantajosos ou assuntos congêneres. Finalmente, a questão que parece emergir diz respeito à precocidade do planejamento regional e, sobretudo, o quanto disso pode ser tributado a um tipo específico e precoce de desenvolvimentismo que, conforme já aqui se apontou, Dulci (1999) considerou por desenvolvimentismo mineiro. Pautado pela lógica do planejamento, pelo poder público e sua capacidade de atuação como formulador e gerente desse planejamento e de seus grupos de interesse, esse desenvolvimentismo não seria o mesmo desenvolvimentismo que Dutra da Fonseca (1988) vê emergir, também precocemente, para o Rio Grande do Sul, plenamente pautado pela razão positivista. Seria, no caso mineiro, pragmático, desprendido de racionalidade intelectual e, principalmente, tributário da forma como as elites locais se estruturaram em torno do estado ao longo do período republicano, ao menos, até o final da década de 1960. Não deixa de ser sugestivo pensar, contudo, que tendo havido esse desenvolvimentismo mineiro (se é que podemos considerar as políticas públicas e os planos regionais mineiros por esse conceito) ele pôde se expressar com certa força na década de 1950, especialmente por meio do governo federal de JK. Isso explicaria os arranjos regionais que Kubitscheck leva de sua experiência como governador de estado, em Minas, para o plano federal (além mesmo de nomes capitais que o acompanham, como Lucas Lopes). Mas que, ao mesmo tempo, se foi testado em âmbito federal – e essa ainda é uma hipótese que precisamos investigar com maior cuidado – não trouxe grandes contribuições para a realidade econômica regional, tendo em vista que o Diagnóstico de 1968, embora muito melhor produzido, muito mais ambicioso e amparado teoricamente que o Plano de Recuperação de 1947, continuasse, em seu discurso, apontando para o atraso de Minas, a dificuldade de industrialização do estado, os gargalos ao desenvolvimento regional, a importância de uma agenda pública de planejamento da economia regional, dentre outras. Assim, um mesmo discurso de atraso relativo da economia regional liga o primeiro ao último desses planos avaliados, tendo o governo federal de JK como importante divisor entre duas etapas distintas da economia regional mas, também, do capitalismo brasileiro. Referências Bibliográficas A Escola de Minas de Ouro Preto. 1876-1966. Ouro Preto, Imprensa da Escola de Minas de Ouro Preto, 1966. ABREU, Marcelo de Paiva. Crise, crescimento e modernização autoritária: 1930-1945. In: ABREU, Marcelo de Paiva (org.). A ordem do progresso: cem anos de política econômica republicana 1889-1989. Rio de Janeiro, Campus: 1989. ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de. Alteração nas unidades produtivas mineiras. Mariana – 1750-1850. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal Fluminense, 1994. Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais/Governo do Estado de Minas Gerais. Diagnóstico da Economia Mineira. Vol. 1 a 6. 1968. BARBOSA, Daniel Henrique Diniz. 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