RECICLAGEM DE ÁGUA INDUSTRIAL, UMA QUESTÃO
ECONÔMICA
Ana Paula Fonseca Gomes
Resumo: O presente artigo aborda a situação da água no planeta e sua possível reciclagem para uso
industrial, verificando as questões econômicas envolvidas para esta finalidade.
Abstract:
Palavras-chaves
Água, reuso, reciclagem, reaproveitamento, indústria.
1) Introdução
Como todas as pessoas que acompanham o
noticiário nacional e internacional sabem, o
respeito e a preservação do meio ambiente
deixou de ser apenas uma bandeira de um
pequeno grupo de ambientalistas e passou a ser
uma política governamental em todo o planeta,
atingindo desde o chamado 1° mundo ao 3°
mundo. Esta preocupação mundial deve-se ao
fato de que o desenvolvimento industrial da
nossa sociedade esta hoje colocando em risco a
própria sobrevivência do ser humano na
superfície da Terra.
Embora as águas ocupem cerca de 71% da
superfície do planeta, muitas pessoas
desconhecem a realidade preocupante de uma
possível crise de água potável, onde este
recurso natural pode se tornar tão caro quanto o
petróleo e objeto de disputa no terceiro milênio,
já que, 97% deste recurso está nos oceanos,
2,07% constituem as geleiras e calotas polares,
restando somente a parcela de 0,63% de água
doce em estado líquido que não é totalmente
aproveitado por questão de inviabilidade
técnica, econômica e financeira.
Distribuição de água no
planeta
Água doce
Água congelada
Água salgada
0,63%
2,07%
97,30%
2) Metodologia
Revisão bibliográfica do período 1996-1999,
cuja estratégia foi verificar literatura nacional,
que tratem nas questões ambientais, legislativas
e econômicas sobre a água.
Foram selecionados e compilados os artigos de
interesse para a investigação.
3) Discussão
Embora o Brasil seja um país privilegiado em
recursos hídricos, com um volume armazenado
de água subterrânea da ordem de 58.000 km3 e
cerca de 257.790 m3/s escoando pêlos rios
(aproximadamente 18% do potencial de
superfície do planeta), como resultado da
precipitação de 1.954 mm/ano, da qual 1.195
mm anuais correspondem à evapotranspiração e
o restante à parcela do deflúvio anual (759
mm/ano), o coeficiente de escoamento
superficial brasileiro é de aproximadamente
38,8%, com rendimento unitário de 24,0
l/s/km2.
Cerca de 89% da potencialidade das águas
superficiais do Brasil, estão concentradas nas
regiões Norte e Centro-Oeste, onde estão
abrigados 14,5% dos brasileiros que precisam
de 9,2% da demanda hídrica do país. Os 11%
restantes do potencial hídrico de superfície estão
nas outras três regiões (Nordeste, Sul e
Sudeste), onde estão localizados 85,5% da
população e 90,8% da demanda de água do
país, onde se observa claramente que a
distribuição de água no país não esta coerente
com a necessidade da região.
Uma alternativa, principalmente para a região
sudeste, que possui grandes pólos industriais, é
evitar o lançamento de efluentes, utilizando a
água dentro da própria indústria, como água de
processo; não abordaremos aqui a reutilização
de esgoto sanitário, por ser ainda um tema
polêmico e de grande dificuldade de
implementação, culturalmente falando.
No Brasil, atualmente, grande parte das
indústrias não possuem tratamento de efluentes,
por considerarem o tratamento de efluentes
apenas um custo adicional ao seu processo e as
empresas que o possuem consideram como um
ônus, porém com o aumento da conscientização
ambiental, as certificações da ISO 14000, o
aumento do custo da água tratada e os critérios
cada vez rígidos de descartes de efluentes e
principalmente a crise da água, tem feito com
que muitas empresas comecem a atuar tanto no
tratamento de efluentes como no reuso,
reciclagem e reaproveitamento da água.
Existem diferentes critérios de classificação para
a água de acordo com a finalidade requerida:
Reuso: A água é utilizada mais de uma vez
dentro da planta.
Reciclagem: A água é recuperada e
reutilizada no mesmo processo.
Reaproveitamento: A água é recuperada e
reutilizada em processo diferente da origem,
normalmente em quantidades menores e
qualidade inferior.
As indústrias que não necessitam de água de
processo com qualidade potável são as que tem
maior potencial para o reaproveitamento.
A reciclagem de água para um mesmo ponto de
utilização na planta industrial deve ser
desenvolvido caso a caso.
As indústrias possuem pontos em potencial para
reuso e/ou reciclagem, sendo eles: Torres de
resfriamento, Caldeiras, Irrigação de áreas
verdes, lavagens de piso, lavagens de peças,
lavagens de gases de chaminés e água antiincêndio.
O reaproveitamento é o tipo de recuperação de
água mais complexo, pois envolve todo o
processo produtivo e todas as estações de
tratamento de efluentes industriais.
I) Fluxograma para reaproveitamento de
água
não
sim
Biodegradável
Tratamento físico-químico
Biodegradável
não
Oxidação química
Biodegradável
Tratamento biológico
sim
não
Parâmetros
analíticos atendem
a industria
sim
Reaproveitamento
industrial
Processo
produtivo
Fazendo-se uso de um quadro sinóptico, quais
seriam as vantagens e desvantagens da
reciclagem, reuso e reaproveitamento da água.
Assim, teríamos:
Vantagens
Reutilização da
água tratada
Redução do custo
da água
Desvantagens
Custo da
implantação do
sistema
Custo de
manutenção do
sistema
Redução da
geração de esgoto
“Marketing de
venda
Redução dos
problemas com
órgãos
ambientais
No que se refere ao custo de implantação de um
Sistema para tratamento de efluentes é muito
menor do que muitos imaginam, por exemplo,
um aerador de 7,5 CV que custava, há cerca de
cinco anos, algo em torno de R$ 6.900,00, hoje
pode ser comprado por cerca de R$ 2.900,00. O
custo de implantação depende: da área
disponível, tecnologia a ser adotada, nível de
tratamento necessário e da empresa que irá
executar esta obra.
RELAÇÃO CUSTO BENEFÍCIO
O custo da água a ser aproveitada é variável,
depende do volume de água a ser tratada, da
tecnologia utilizada e forma de operação da
mesma. A grosso modo este custo pode variar
de R$ 1,00 a R$ 2,00 o m3 de água tratada,
enquanto em São Paulo, o custo da água tratada
fornecida pela SABESP é de R$ 9,00 o m3 e em
Minas Gerais a água fornecida pela COPASA é
de R$ 4,00.
Podemos observar, que tanto em São Paulo,
como
Minas
Gerais,
levando-se
em
consideração apenas o custo da água tratada, é
mais econômico reciclar do que comprar água.
4) Resultados
A FIAT AUTOMÓVEIS S.A., atualmente
possui um índice de reuso, reciclagem e
reaproveitamento na ordem de 92%, caso este
índice fosse 0%, a COPASA estaria fornecendo
2.400 m3/h, ao invés de 200 m3/h em 1.997.
Isto implica em uma economia de água na
ordem de 52.800 m3/d.
Para que fosse possível o reaproveitamento de
água, em 1.997 foram construídas mais duas
estações biológicas, que operam em série, sendo
a primeira um processo de leito fluidizado
(ETB2 R) e a segunda um biofiltro de carvão
ativado (EP 1).
A Lavanderia Staroup em São Paulo reaproveita
80% da água, que equivale a uma economia de
R$ 77.000,00 por mês, já que seu consumo de
água é de 45 m3/d, funcionando 6 dias por
semana, durante 20 hs por dia.
III) Fluxograma de distribuição de água e
tratamento de efluentes industriais da FIAT
AUTOMÒVEIS S/A.
COPASA
Tanque de Água
de uso
Industrial
Desmineralização
AGUA DE RECÍRCULO
EP1
Tanque de Água
Potável
Uso em
higiene e
alimentação
Central
fluidica
Pintura
Montagem
Prensas
Funilaria
Mecânica
EFLUENTE CONCENTRADO
UTP 1
ETEP 1
ETB2R
ETEP 2
ETB1
EFLUENTE INDUSTRIAL
UTP2
ETB2S
ETM1
Clarificador
DESCARTE FINAL
Conclusão
Todas as formas de reuso, reciclagem e
reaproveitamento de água, são propostas que
deveriam ser levadas sempre em consideração
pelas empresas públicas e/ou privadas, já que a
água está se tornando um bem cada vez mais
caro e mais escasso e não menos necessário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A ÁGUA EM REVISTA. Rio de Janeiro:
CPRM, ano V, n. 7, mai. 1996.
A ÁGUA EM REVISTA. Rio de Janeiro:
CPRM, ano V, n. 8, mar. 1997.
A ÁGUA EM REVISTA. Rio de Janeiro:
CPRM, ano V, n. 9, nov. 1997.
REVISTA MEIO AMBIENTE INDUSTRIAL.:
Tocalino, ano III, n. 13, jul.agos. 1998.
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