VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental II-053 – CONTROLE E TRATAMENTO DE ODORES COM BIOFILTRAÇÃO Flávia Andréa da Silva Cabral(1) Engenheira Sanitarista pela Universidade Federal do Pará. Mestranda do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina. Mateus Cairello Correa Acadêmico em Engenharia Sanitária e Ambiental na Universidade Federal de Santa Catarina. Bolsista de iniciação científica, CNPq. Rejane Helena Ribeiro da Costa Engenheira Civil, Doutora pela INSA – Toulouse – França. Professora Titular da Universidade Federal de Santa Catarina. Paulo Belli Filho Engenheiro Sanitarista pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutor pela Universidade de Rennes – França. Professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina. Endereço(1): Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – Campus Universitário- Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis - SC - CEP: 88040-9000 - Brasil - Tel: (48) 331-9597 - e-mail: [email protected] ;[email protected] RESUMO O trabalho tem o objetivo de apresentar resultados sobre a avaliação e o tratamento de maus odores através de um biofiltro piloto, com composto orgânico. Os odores são provenientes de tratamento anaeróbio de esgotos sanitários. O biofiltro foi construído com coluna de PVC (diâmetro 0,20 m e altura de 0,70 m, preenchido com 0,50 m do meio filtrante). São apresentadas as metodologias para determinação da intensidade odorante através de análise olfatométrica e a qualificação e quantificação de compostos gasosos. Utilizou-se como meio filtrante o composto orgânico de resíduo sólidos. A amostragem dos gases de entrada e saída do biofiltro é constituída por uma seqüência de frascos lavadores com soluções de absorção com cloreto de mercúrio e ácido clorídrico, para analisar respectivamente gás sulfídrico e amônia. O sistema de amostragem é controlado pela vazão através de bombas amostradoras à vácuo. As eficiências obtidas foram de 54% e 90% na remoção de H2S e de 86%(média) e 99%(máxima) para NH3. Na avaliação da redução dos odores foi observado que o meio filtrante foi eficiente no tratamento dos gases odorantes. PALAVRAS-CHAVE: Odor, Gás sulfídrico, Olfatometria, Reator anaeróbio, Biofiltração INTRODUÇÃO Os maus odores são incômodos constantes no cotidiano das populações. A maioria das reclamações está ligada a percepção desagradável dos odores principalmente pelas localidades próximas às indústrias, locais de produção animal com produção de dejetos, locais de destinos final de resíduos sólidos e de estações de tratamento de efluentes líquidos de modo geral. dos dejetos líquidos. Os odores são freqüentemente indicativos da presença de COV e sua metrologia é bastante difícil. Uma área que tem despertado bastante atenção é o tratamento desses poluentes odorantes presentes no ar (BRAUER,1998; LESON and WINER,1991). Os maus odores são provenientes de uma mistura complexa de moléculas com enxofre (H2S e mercaptanas), nitrogenadas (NH3 e aminas), fenóis, aldeídos, álcoois, ácidos orgânicos etc. Os compostos de enxofre e nitrogênio constituem os principais grupos responsáveis pelo mau odor em estações de tratamento de efluentes líquidos.(BONNIN et al, 1993). O H2S, maior causador da geração de maus odores é facilmente liberado para a atmosfera, sendo detectado pela maioria dos indivíduos em concentrações extremamente baixas. Sua volatilização é a principal responsável por ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental sua geração, que ocorre com maior intensidade em valores de pH inferiores a 7,0 (BOWKER et al., 1989) sua emissão se constitui num incômodo às populações vizinhas às estações de tratamento de esgotos. A percepção dos odores é totalmente subjetiva, variando consideravelmente de um indivíduo para outro, em função da sua condição física, percepção e educação olfativa (HERMIA, 1997). Os odores provenientes do esgoto são produtos da degradação anaeróbica de proteínas e da redução de sulfatos a sulfetos, sendo a primeira ocasionada por bactérias facultativas e bactérias estritamente anaeróbicas, cujos metabolismos produzem escatol (substância química utilizada na indústria de perfumaria), mercaptanas, ácido butírico, amônia e misturas de aldeídos, todos os quais, compostos odoríferos e voláteis, que escapam como gases do esgoto. Existem várias técnicas para tratamento de gases odorantes, tais como métodos físicos e químicos como oxidação térmica, lavadores químicos, ozonização e adsorção por carvão ativado e métodos biológicos como biofiltração, biolavadores e lodos ativados. Embora as técnicas físico e químicas possam remover com eficiência os compostos odorantes da corrente gasosa, dentro de certas condições, a necessidade de adição de produtos químicos diariamente e da substituição do adsorvente resulta em custo de operação relativamente alto quando comparado com técnicas de tratamento biológico (POMEROY, 1982; WILLIAMS and MILLER,1992). Atualmente, dentre os processos de tratamento biológicos disponíveis para controlar odor destaca-se a biofiltração. O biofiltro consiste em um recipiente fechado utilizando como meio filtrante material orgânico (turfa, composto orgânico, polyestirenos, lodo desidratado de estações de tratamento de efluentes), povoado de microorganismos, através dos quais os gases odoríferos são passados, geralmente através de um fluxo descendente (MARTIN e LAFFORT, 1991). Os compostos odorantes podem ser determinados através de análises químicas e olfatométrica. As análises químicas identificam e quantificam os compostos responsáveis pelos odores, enquanto que a olfatometria qualifica e apresenta as intensidades odorantes com seus níveis de incômodos. A avaliação dos odores através da olfatometria (medida dos odores) esta fundamentada no sistema olfativo do ser humano, encarregando-o de discriminar e identificar os corpos odorantes. Esta avaliação de intensidade odorante na atmosfera pode ser feita, comparando a amostra a ser analisada com referências de odores constituídos por diluições conhecidas de um composto padrão. Neste método utiliza-se uma escala referencial com concentrações diferentes e conhecidas, os compostos de referência mais empregados são a piridina e o 1butanol. Estas determinações se efetuam por tratamento estatístico das várias respostas de um júri de pessoas treinadas e selecionadas para avaliar uma atmosfera com odores. A precisão dos resultados depende de vários fatores, entre estes a seleção do júri. Um dos inconvenientes dos processos anaeróbios é sem dúvida a formação de gases odorantes. Neste trabalho analisa-se o desempenho de um biofiltro piloto para biodesodorização, com fluxo ascendente utilizando como meio filtrante composto orgânico sob várias condições experimentais. Em paralelo avalia- se as emissões gasosas provenientes de um reator anaeróbio tipo tanque séptico. MATERIAIS E MÉTODOS Os gases eram coletados diretamente em um tanque séptico com volume de 10m3, que trata os despejos do restaurante universitário da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A unidade piloto- biofiltro foi construído com uma coluna de PVC de diâmetro interno de 0,20 m e altura de 0,70 m, com 0,10 m de fundo falso, 0,50 m de preenchimento do meio filtrante e 0,10 m de altura livre. Foi alimentado por meio de um ventilador centrífugo industrial, que coleta os gases do reator anaeróbio tipo tanque séptico, direcionando-os para a sua parte inferior. O controle de vazões de alimentação dos gases é realizado através da medida da velocidade por meio de um tubo de Pitot e pela pressão determinada por um manômetro inclinado. A variação de vazão no ventilador centrífugo é comandada por um inversor de freqüência. O sistema de amostragem dos gases de entrada e saída do biofiltro é constituído por uma seqüência de frascos lavadores, onde é feita a absorção química dos gases, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental utilizando rotâmetros para controle de vazão na entrada e saída. As amostras eram absorvidas em solução aquosa através do auxilio de uma bomba a vácuo. A fim de assegurar um adequado teor de umidade no meio filtrante foi prevista uma coluna d’água no fundo do biofiltro. Foram realizados ensaios para determinação da pressão e perda de carga no sistema (tubulações, conexões e leito filtrante), em função da vazão de alimentação de gases. O material utilizado como meio filtrante, composto orgânico, é rico em biomassa viva e em macro e micro nutrientes, necessários a atividade biológica aeróbia, que promove o tratamento dos gases odorantes Monitoramento do Biofiltro Para avaliação das concentrações médias semanais e a eficiência no biofiltro utilizou-se a técnica de absorção de gases em soluções aquosas. O H2S (gás sulfídrico) foi analisado através da absorção em solução de HgCl2, acidificada e quantificado pelo precipitado formado de HgS. A amônia (NH3) foi analisada através da absorção em solução de HCl e quantificada com titulação sob a forma de NH4+. A avaliação da eficiência da redução da intensidade dos odores (estudo olfatométrico) no biofiltro foi realizada, seguindo–se as recomendações da norma francesa AFNOR. Para tal, utilizou-se o 1 – butanol como elemento de referência na determinação dos diferentes níveis da intensidade dos odores. Esta avaliação olfatométrica das amostras é desenvolvida por um júri de pessoas selecionadas conforme as recomendações na norma citada. Condições Operacionais A tabela 1 mostra as condições de operação aplicadas nos ensaios, sendo que a taxa de aplicação representa a vazão de gás afluente a ser tratada em relação a superfície do biofiltro. Tabela 1- Condições operacionais Meio filtrante Taxa aplicada (m3/m2h) Composto 100 Orgânico 40 Tempo de contato (seg) 18 46 Figura 1: Biofiltro piloto ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental RESULTADOS E DISCUSSÕES As figuras 2, 3 e 4 apresentam os resultados obtidos da operação do biofiltro piloto com composto orgânico de resíduos sólidos. 0.35 H2S (m3/m2h) 0.3 Entrada 0.25 Saída 0.2 0.15 0.1 0.05 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Sem anas 100 44 3 2 Taxa de aplicação (m /m .h) Figura 2 : Evolução do gás sulfídrico no biofiltro. 0,09 0,08 NH3 (mg/m3) 0,07 0,06 E n trad a 0,05 S a íd a 0,04 0,03 0,02 0,01 0 1 2 3 4 S em an as 5 6 7 100 Taxa de aplicação (m3/m2.h) Intensidade Odorante Figura 3: Evolução da amônia no biofiltro 5 Entrada Saída 4 3 2 1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 MF-Muito Forte F-Forte M-Médio f-Fraco mf-Muito Fraco Semanas 100 44 3 Taxa de aplicação (m /m2.h) Figura 4: Evolução da Intensidade odorante no biofiltro Observa-se que a eficiência de eliminação de gás sulfídrico variou entre 48% e 97% . As concentrações afluentes variaram de 0,02 mg/m3 à 0,315 mg/m3 e a efluente foi de 0,011 mg/m3 à 0,19 mg/m3. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4 VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Para a amônia, o biofiltro apresentou eficiência média de 86%. Na figura 3 observa-se as variações dos valores das concentrações médias semanais. A concentração afluente variou de 0,083 mg/m3 à 0,01 mg/m3. O efluente apresentou uma homogeneidade nas concentrações, tendo valores abaixo dos limites de percepção olfativo deste composto. Verificou-se que o biofiltro com leito de composto orgânico foi eficiente na remoção deste gás. Na análise olfatométrica, observa-se uma redução na intensidade dos odores para a entrada com níveis de muito forte à médio e na saída de médio à fraco (figura 4). A boa relação obtida entre a olfatometria e a análise química dos gases, confirma que este estudo com avaliação olfatométrica pode ser uma ferramenta aplicada continuadamente na observação da eficiência de um processo de tratamento dos gases odorantes. Possui, ainda, a vantagem de apresentar baixos custos de análise em relação às análises químicas. As taxas aplicadas ao(100 e 40 m3/m2 .h) longo do experimento para avaliar o composto orgânico na biodesodorização não influenciaram na qualidade do efluente gasoso, mantendo – se o mesmo comportamento de eficiência média para cada gás analisado. Observa – se que as eficiências de tratamento de odores obtidas neste estudo, através de biofiltro com leito a base de composto orgânico apresentou eficiências equivalentes aos obtidos por CARVALHO (2001). CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos no experimento, pode-se observar que o comportamento do biofiltro utilizando como meio filtrante o composto orgânico, mostrou-se eficiente na redução dos compostos de H2S e NH3 e consequentemente os seus odores. O biofiltro obteve eficiências médias na redução dos compostos de H2S e NH3 de 54% e 86%, respectivamente. Estas eficiências foram para taxas de aplicações de 100 m3/m2h e 40 m3/m2h, que forneceram tempos de contatos de 18 e 46 segundos. A determinação da intensidade odorante, através da olfatometria, tendo como referência escalas de diferentes concentrações de 1-butanol, em solução, mostrou ser representativa na avaliação da eficiência da redução de incômodos odorantes. A intensidade dos odores no afluente do biofiltro variou de muito forte a médio, enquanto que o efluente variou de médio a fraco. Isto evidencia que a biofiltração é uma opção tecnológica viável para reduzir odores de emissões gasosas. A olfatometria apresentou–se como uma ferramenta importante para avaliar os odores. Possui vantagens por apresentar baixos custos analíticos, uma vez que utiliza apenas uma solução química e um corpo de júri selecionado, o qual caracteriza com segurança a intensidade do odor, constituindo-se em uma técnica de fácil e rápida aplicação. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5 VI Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. AFNOR X 43 – 103.Mesure Olfatométrique – Mesure de l’odeur d’un échantillon gazeux ou d’une atmosphère – Intensité supraliminaire. BONNIN, C. MARTIN, G; GRAGNIC, G. Biepuration de gaz odorants de station d’epuration d’eaux urbaines. II SIMPOSIUM INTERNATIONAL SUR LA CARACTÉRISATION ET LA RÉDUCTION DES ÉMISSIONS DÓDEURS ET DE COV DANS LÍNDUSTRIE DE PROCÉDÉS. LOUVAIN – LA NEUVE, Bélgica,1993. BOWKER, R. P. G.,SMITH, J. M. and WEBSTER, N. A . 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