X X I X CI L A MCE Nove mb e r 4 t h t o 7 t h , 2 0 0 8 Ma c e i ó - B ra z i l ANÁLISE TEÓRICA E EXPERIMENTAL DE TERÇAS TRELIÇADAS MULTIPLANARES TUBULARES CIRCULARES João A. V. Requena Rodrigo C. Vieira Newton O. P. Junior [email protected] [email protected] [email protected] Departamento de Estruturas - Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP Av. Albert Einstein, 951, Cidade Universitária “Zeferino Vaz”, Caixa Postal 6021, CEP 13083-852, Campinas – SP – Brasil Afonso H. M. Araújo [email protected] Vallourec & Mannesmann Tubes – V&M do Brasil Av. Olinto Meireles, 65, Barreiro, CEP 30640-010, Belo Horizonte – MG – Brasil Resumo. Sistemas estruturais mais harmônicos com relação a sua arquitetura, são realidades nos dias de hoje, fruto do aumento da utilização de perfis tubulares e de estruturas treliçadas, resultando em uma redução no peso total da estrutura. Para atingir este grau de desenvolvimento são necessários estudos para a obtenção de novos modelos inovadores como, neste estudo atual de treliças multiplanares formadas por perfis tubulares circulares, para grandes vãos, que podem ser empregadas como terças com características extremamente econômicas. Foi desenvolvido um estudo teórico em regime elasto-linear baseado em normas internacionais, como o Eurocode e a AISC, utilizando o software de otimização AutoTruss e o software SAP 2000, para a definição da geometria ideal da treliça, análise dos esforços e dimensionamento da terça. Em seguida foi realizado um estudo para o desenvolvimento de ligações formadas por chapas e pinos para a ligação entre banzos e diagonais, visando facilitar a montagem da treliça. Finalmente, foram realizadas experimentações em tamanho real do modelo de terça proposto, com vão de 30,0 metros, e distância entre banzos de 2,0 metros. Os resultados finais demonstraram grande eficiência do sistema de terças desenvolvido para grandes vãos com baixo custo, considerando menor peso da estrutura e facilidade da montagem. Palavras chaves: Terças, Treliças, Análise experimental, Estrutura tubular, Perfis tubulares 1. INTRODUÇÃO A utilização de perfis tubulares em estruturas metálicas vem crescendo gradativamente nos últimos anos, e se consolidando como uma boa solução do ponto de vista estrutural e arquitetônico. Estruturalmente, os perfis tubulares isolados apresentam uma grande resistência aos esforços axiais e à torção, além de possuírem o mesmo raio de giração em todas as direções de sua seção transversal, facilitando assim a concepção do sistema estrutural. Quando esses perfis tubulares são combinados em forma de treliças, consegue-se uma estrutura também com grande resistência à flexão. Além de seu bom aproveitamento estrutural, a utilização de perfis tubulares, isolados ou em forma de treliças, possibilita uma maior harmonia entre a estrutura e o ambiente, concebendo um ar de modernidade e beleza, sem que haja a necessidade de esconder a estrutura dos olhos de seus usuários, permitindo uma interação entre ambos. Visando aproveitar essas vantagens, foi desenvolvido um sistema de cobertura em estrutura tubular, inovador, competitivo, com boa performance em relação aos vãos, pesos e preços, cujas estruturas são capazes de vencer grandes vãos, apresentando ainda facilidade na sua montagem. O estudo desse sistema de cobertura foi desenvolvido com o apoio da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – FEC da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, e da empresa Vallourec & Mannesmann Tubes (V&M do Brasil). Focando-se nas terças treliçadas multiplanares, foram feitas análises teóricas e computacionais para a concepção do sistema de cobertura e das ligações de suas barras tubulares, utilizando-se os softwares AutoTruss e SAP 2000. Foram realizadas também experimentações em tamanho real das terças treliçadas multiplanares compostas por perfis tubulares circulares, com vão de 30,0 metros e distância entre banzos de 2,0 metros, visando observar o desempenho do novo sistema proposto. 2. CONCEPÇÃO DO SISTEMA DE COBERTURA O sistema de cobertura foi basicamente concebido considerando que as telhas da cobertura apóiam-se nas terças, e estas se apóiam em vigas principais, sendo necessária a existência de um sistema de estabilização global da cobertura, que são os contraventamentos. Como o estudo visa a utilização de perfis tubulares circulares para a composição do sistema de cobertura, a forma mais econômica para o seu emprego é a de treliças, tanto para as terças quanto para as vigas principais, como pode ser verificado na “Fig. 1”. Terça Viga Principal Figura 1 – Sitema de cobertura Para se adequar aos fechamentos laterais, as vigas principais devem ser compostas por treliças planas, enquanto que as terças podem ser compostas tanto por treliças planas quanto por multiplanares. A utilização de terças treliçadas planas requer uma grande quantidade de linhas de corrente para a sua estabilização lateral, tornando o processo de montagem da estrutura mais complexo, demorado e oneroso. Por esse motivo, optou-se pela utilização de terças treliçadas mutliplanares triangulares, como a da “Fig. 2”, que apresentam uma maior estabilidade lateral do conjunto, sendo mais adequadas para a utilização em grandes vãos. Figura 2 – Terça treliçada multiplanar O estudo foi focado na análise dessas terças treliçadas multiplanares, utilizadas para grandes vãos, entre 20 e 40 metros, buscando as melhores geometrias para cada caso e procurando promover a padronização dos perfis tubulares utilizados. Para tanto, foi desenvolvido um estudo teórico baseado em normas internacionais, como o Eurocode (1993) e a AISC (1996), realizando-se análises teóricas em regime elasto-linear de diversos modelos de terças propostos para cada vão. Para a definição da melhor geometria a ser utilizada para as terças, foi empregado o software de otimização AutoTruss, desenvolvido através do programa de P&D existente entre a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp e a V&M do Brasil. Com o AutoTruss, é possível, para um dado carregamento, determinar a melhor geometria para um certo comprimento de vão. O software permite variar as dimensões da treliça, como altura, ângulo das diagonais, comprimento livre das barras dos banzos (comprimento dos módulos) e também a largura de influência da mesma, fornecendo diversas soluções para um determinado vão, cabendo ao usuário escolher a alternativa que melhor se encaixa ao seu propósito. As dimensões da treliça descritas acima são apresentadas na “Fig. 3”. comprimento do módulo largura de influência altura ângulo da diagonal Vista Lateral comprimento do módulo largura de influência Vista Superior Figura 3 – Dimensões da treliça Através dos estudos realizados com o software AutoTruss, decidiu-se fixar os comprimentos dos módulos em 2,0 metros, por ser um comprimento de flambagem intermediário para as barras dos banzos. A utilização de comprimentos maiores resultaria na necessidade de empregar perfis mais robustos, enquanto que a utilização de comprimentos menores resultaria em uma quantidade maior de diagonais e de ligações, encarecendo o sistema e dificultando a sua montagem. A largura de influência também foi fixada em 2,0 metros, já que para grandes vãos, normalmente são utilizadas telhas metálicas para a cobertura, e estas suportam uma boa carga de vento para esse vão. Tendo-se fixado essas dimensões, foram definidas as alturas ideais para cada vão, em função do carregamento aplicado. Essas alturas correspondem às geometrias de menor peso obtidas pelo software AutoTruss. A seguir, partiu-se para a padronização dos perfis das terças, utilizando-se o software SAP 2000, no qual foram feitas as análises dos esforços e dimensionamento das terças. Nesse momento, as terças foram giradas segundo um ângulo correspondente à inclinação do telhado de 5%. Foi adotada essa inclinação por ser comumente utilizada em coberturas com telhas metálicas. O processo de padronização consistiu em agrupar dois ou mais perfis semelhantes em um mesmo perfil, reduzindo-se assim a variedade de tubos utilizados no sistema de cobertura. Com esse estudo definiram-se as listas de tubos utilizadas para cada vão de terça, em função do carregamento aplicado, resultando em um conjunto de terças treliçadas multiplanares padronizado e competitivo com relação ao peso e preço, utilizando-se sempre perfis tubulares circulares. Tomou-se o cuidado de fixar o máximo comprimento dos tubos dos banzos em 12,0 metros, para que o seu transporte possa ser feito sem maiores dificuldades até o local da obra. Essas análises foram feitas considerando-se as terças isostáticas, para facilitar o processo de padronização da cobertura, já que dessa maneira, as terças da extremidade do galpão são iguais às terças centrais. 3. ANÁLISES TEÓRICAS 3.1 Análise da ligação banzo-diagonal pinada com chapa de topo Além de toda uma nova concepção estrutural proposta para o sistema de cobertura, uma ênfase foi dada ao detalhamento das ligações. Sabe-se que as ligações tubulares exigem certo cuidado na sua especificação, pois este é um fator determinante para o custo final da estrutura. Foi proposto um modelo de ligação inovador, o qual foi convenientemente dimensionado através de adaptações nos critérios convencionais estabelecidos nas principais normas internacionais, como Eurocode (1993) e AISC (1997), além de publicações especializadas, como Rautaruukki (1998) e CIDECT (1992). Essa ligação é composta por uma chapa soldada no topo do perfil tubular do banzo de uma treliça, na qual serão parafusadas as diagonais com as pontas amassadas. As diagonais são consideradas pinadas por estarem conectadas à chapa por apenas um parafuso, e a chapa deve resistir ao esforço horizontal NH resultante dos esforços N1 e N2 das diagonais, conforme apresentado na “Fig. 4”. Figura 4 – Detalhe da ligação banzo-diagonal O amassamento do tubo da diagonal é feito com uma inclinação de 25%, e as diagonais são fixadas de modo que a chapa esteja posicionada entre elas. Para a análise dessa ligação, foram verificados o cisalhamento do parafuso, a pressão de contato do furo e a resistência da solda, além do amassamento da parede do tubo do banzo. Também foram feitas simulações através de modelagem numérica pelo método dos elementos finitos, utilizando-se o software Ansys, conforme apresentado na “Fig. 5”. Figura 5 – Modelagem da ligação banzo-diagonal no Ansys (deslocamentos maximizados) Essa ligação possibilita uma grande facilidade de fabricação das ligações da treliça, se comparada com as ligações espaciais tubo-tubo comumente utilizadas. Ela também possibilita uma maior rapidez de montagem da estrutura, visto que a fixação das diagonais é bem simples. Outra vantagem diz respeito a possibilidade de ajustar o ângulo das diagonais de extremidade simplesmente girando a mesma, permitindo que o encaixe seja perfeito. Além disso, caso haja a necessidade de reforçar uma diagonal, basta retirá-la e substituir por outro perfil. No caso de a terça cobrir um grande vão, a mesma não poderá ser transportada já inteiramente montada. Nesse caso é possível transportá-la em partes previamente montadas, e fazer a sua união facilmente no local da obra, com a ligação apresentada acima. Todas essas vantagens citadas acima garantem uma maior agilidade e rapidez de montagem da estrutura, além de reduzir o custo final do sistema de cobertura, tornando-o competitivo. 3.2 Análise da terça treliçada multiplanar Antes de realizar o ensaio da terça treliçada multiplanar, foi feita uma análise específica da terça a ser ensaiada, utilizando-se o software SAP 2000. A terça escolhida para a realização do ensaio possui 30,0m de vão, 2,0m de altura, e tanto o comprimento do módulo quanto a largura de influência (distância entre os banzos superiores) possuem 2,0m de dimensão. Essas dimensões foram definidas com a utilização do software AutoTruss, para um vão de 30,0m. A terça foi modelada computacionalmente com as mesmas dimensões da estrutura ensaiada, já citadas acima, sendo girada segundo uma inclinação de 5% em relação ao seu eixo, para levar em consideração a inclinação do telhado. Buscando aproximar mais o modelo computacional do ensaio realizado, foi levada em consideração a excentricidade das ligações das diagonais com os banzos, provocada pela utilização das chapas de topo. Essa simulação foi feita através do software SAP 2000, utilizando-se uma barra rígida de comprimento igual à altura da chapa de ligação, com uma inércia elevada e desprezando-se o seu peso, permitindo assim a transmissão dos esforços das diagonais para os banzos. Dessa forma, o ângulo de inclinação das diagonais, no plano das mesmas, é de 63,8º. As dimensões da terça analisada são apresentados na “Fig. 6”. .8° 63 2.0 2.0 Figura 6 – Dimensões da terça No plano superior da terça, foram utilizados perfis com costura, denominados de montante superior e diagonal superior. Esses perfis têm como objetivo conferir uma maior estabilidade à terça multiplanar. Foram analisadas duas situações de carregamento da terça, denominadas carregamento de pressão e carregamento de sucção. No primeiro caso foi considerada a atuação do carregamento permanente e peso próprio juntamente com a sobrecarga, enquanto que no segundo caso considerou-se a atuação do carregamento permanente juntamente com o vento de sucção. O vento de pressão não foi considerado, pois os estudos iniciais do sistema de cobertura demonstraram que para galpões de grandes vãos o seu valor é muito pequeno e pode ser desprezado. Os valores desses carregamentos aplicados na terça, além do peso próprio da estrutura fornecido automaticamente pelo software, foram os seguintes: - Carregamento Permanente para o carregamento de pressão: 100,0 N/m² - Carregamento Permanente para o carregamento de sucção: 80,0 N/m² - Carregamento de Sobrecarga: 250,0 N/m² - Carregamento de Vento de Sucção: 1030,0 N/m² Nota-se que o valor do carregamento permanente para o carregamento de pressão é maior que para o carregamento de sucção. Essa diferenciação foi feita para levar em consideração a situação mais crítica para os dois carregamentos analisados: no carregamento de sucção foi levado em consideração apenas o peso da telha e dos contraventamentos, que corresponde ao carregamento permanente atuante na situação mais crítica, ou seja, atuação do vento no momento de montagem da estrutura, quando a mesma ainda não foi completamente finalizada. Já para o carregamento de pressão, foi considerado todo o carregamento permanente atuante na estrutura já finalizada, como isolamentos e iluminação, que corresponde a situação mais crítica sem a atuação do vento de sucção. Esses carregamentos foram considerados distribuídos linearmente ao longo dos dois banzos superiores da terça, sendo que a largura de influência de cada banzo é de 2,0 metros. Pelas análises feitas com o software SAP 2000, foi possível determinar os esforços axiais máximos atuantes na terça, os quais encontram-se na “Tabela 1”. Tabela 1. Esforços axiais máximos (- = compressão, + = tração) Esforços Axiais Máximos nas Barras (KN) Carregamento Carregamento Grupo de Barra de Pressão de Sucção Banzo Superior Banzo Inferior Diagonal Montante Superior Diagonal Superior -74.63 142.22 40.04 1.52 2.38 148.41 -283.15 -43.11 -3.44 -5.29 Sabendo-se os esforços atuantes em cada grupo de barra da terça, foram definidos os perfis tubulares circulares utilizados, sendo que para o montante e a diagonal superior os perfis são com costura, enquanto que os demais são laminados. A lista de material da terça pode ser verificada na “Tabela 2”, e os posicionamentos dos tubos são apresentados na “Fig. 7”. Tabela 2. Lista de material da terça analisada Seção T38.0X3.0 T50.8X3.0 T60.3X3.2 T76.1X3.6 T88.9X4.8 T88.9X5.5 TS30.0X1.5 TS41.2X1.5 Descrição Posição Comprimento m Diagonal Central 54.37 Diagonal Intermediária 54.37 Diagonal Extremidade 27.19 Banzo Superior Central 60.00 Banzo Inferior Extremidade 19.00 Banzo Inferior Central 9.00 Montante Superior Central 28.80 Diagonal Superior Central 40.36 Peso Total (kg) Área de Influência (m²) Peso/m² (kg/m²) Figura 7 – Vista lateral de metade da terça Peso kg 140.77 192.25 122.48 386.14 189.12 101.79 30.36 59.26 1222.17 120.00 10.18 A taxa de peso final da terça foi de 10.18 kg/m², sendo que a tensão de escoamento dos tubos utilizados era de 300 MPa, com módulo de elasticidade de 205000 MPa. Foram então verificadas as dimensões das chapas e dos parafusos que seriam utilizados para as ligações, através das análises descritas anteriormente. Pelos esforços determinados pelo software SAP 2000, foi adotada a utilização de parafusos de 16 mm de diâmetro, e chapas de 4.75 mm de espessura, cujas dimensões estão apresentadas na “Fig. 8”. Primeira diagonal superior 96 35 35 35 45 50 45 50 95 45 35 110 35 35 67 80 13 75 Segunda diagonal superior 95 14 Primeira diagonal inferior 70 70 Figura 8 – Dimensões das chapas de ligação Tendo-se definido a geometria e todo o material utilizado na terça e nas suas ligações, partiu-se para a análise experimental. 4. ANÁLISE EXPERIMENTAL DA ESTRUTURA EM TAMANHO REAL 4.1 Definições iniciais Para avaliar o ganho de tempo no processo de fabricação e montagem da estrutura, e analisar o comportamento global da terça e das ligações propostas, foi realizada a experimentação de uma terça treliçada multiplanar formada por barras tubulares circulares. As dimensões da terça e das chapas de ligação, assim como os perfis utilizados são os mesmos descritos na análise teórica apresentada acima. Como as análises realizadas com o software SAP 2000 demonstraram que o caso mais crítico corresponde a situação de atuação do vento de sucção, optou-se por realizar o ensaio apenas para esta situação. Para realizar o carregamento da estrutura, foi necessário inverter a terça, posicionando os banzos superiores para baixo e o banzo inferior para cima, conforme a “Fig. 9”. Dessa forma foi possível aplicar cargas gravitacionais simulando a atuação do vento de sucção. A terça foi girada em 5% em relação ao seu eixo, para considerar a inclinação do telhado. Figura 9 – Terça invertida As cargas foram aplicadas concentradas nos nós dos banzos superiores da terça, e para a determinação dessa carga foi necessário subtrair o carregamento permanente e duas vezes o peso próprio da terça, do carregamento de vento de sucção, já que a estrutura foi montada invertida, e o seu peso próprio já está atuando na mesma direção que o carregamento de sucção. Para determinar o peso próprio da terça, foi levado em consideração o peso das ligações, que correspondem a aproximadamente 5% do peso de tubos da terça. Foram definidos dois carregamentos a serem aplicados no ensaio, cujos valores encontram-se na “Tabela 3”: • Carregamento inicial: correspondente ao carregamento atuante conforme descrito acima; • Carregamento final: correspondente ao carregamento inicial adicionado de carga até que fosse verificada uma deformação de 2‰ na chapa de ligação monitorada. Tabela 3. Carregamentos Tipo de Carregamento Distribuído (kg/m²) Nodal (kg) Vento de Sucção 103.0 412.0 Carregamento Permanente 8.0 32.0 Pesos Próprio com Ligações 11.0 44.0 Carregamento Inicial 73.0 292.0 Carregamento Final 105.8 423.0 Todos os nós da terça foram numerados, conforme a “Fig. 10”, para facilitar o monitoramento do ensaio, sendo que os nós de 1 à 16 encontram-se em uma posição mais elevada que os nós de 17 à 32, devido ao giro de 5% aplicado na terça. Figura 10 – Numeração dos nós 4.2 Realização do ensaio O carregamento da terça foi feito em três fases, sendo: Fase 1: Fixação dos suportes para aplicação das cargas. Todos os suportes foram pesados para obter o mesmo carregamento em todos os nós; Fase 2: Aplicação de carga adicional até obter o valor de 292,0 kg (carregamento inicial) em cada nó; Fase 3: Aplicação de carga adicional até obter o valor de 423,0 kg (carregamento final) em cada nó; Foram definidos como pontos de instrumentação a ligação do nó 2 e a diagonal entre os nós 2 e 33, sendo essas a ligação e a diagonal de maior solicitação. O posicionamento dos extensômetros pode ser verificado na “Fig. 11”. E-02 E-01 E-05 E-04 E-06 E-03 Figura 11 – Posicionamento dos extensômetros A terça foi montada invertida, inicialmente no solo, conforme a “Fig. 12”, sendo posteriormente levantada a uma pequena altura do solo e instrumentada nos pontos previamente determinados, aplicando-se o giro de 5% em relação ao seu eixo. Um detalhe da instrumentação do nó 2 pode ser observado na “Fig. 13”. Figura 12 – Terça montada no solo Figura 13 – Instrumentação da terça Posteriormente foi realizado o carregamento das três fases descritas acima, conforme a “Fig. 14”, sendo que nas fases 1 e 2, o carregamento foi aplicado em todos os nós dos banzos superiores, enquanto que na fase 3 o carregamento foi aplicado apenas nos nós 6, 7, 10, 11, 22, 23, 26 e 27, pois ao carregar esses nós, foi observada uma deformação maior que 2‰ na chapa de ligação monitorada, sendo interrompido o ensaio. Figura 14 – Carregamento da terça A quantidade de carregamento aplicado em cada nó da terça está especificada na “Tabela 4”, chegando a um carregamento total de 9224.0 kg. Tabela 4. Fases de carregamento Nós 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Total (kg) Fase 1 Peso Suporte kg kg 38.0 38.0 37.5 37.5 39.0 39.0 37.5 37.5 40.5 40.5 38.3 38.3 37.8 37.8 40.5 40.5 40.0 40.0 38.9 38.9 40.0 40.0 39.3 39.3 40.4 40.4 40.8 40.8 548.3 548.3 1096.6 Fase 2 Peso Adicional Total kg kg kg kg 254.0 254.0 292.0 292.0 254.5 254.5 292.0 292.0 253.0 253.0 292.0 292.0 254.5 254.5 292.0 292.0 251.5 251.5 292.0 292.0 253.8 253.8 292.0 292.0 254.3 254.3 292.0 292.0 251.5 251.5 292.0 292.0 252.0 252.0 292.0 292.0 253.1 253.1 292.0 292.0 252.0 252.0 292.0 292.0 252.8 252.8 292.0 292.0 251.7 251.7 292.0 292.0 251.2 251.2 292.0 292.0 4088.0 4088.0 8176.0 Fase 3 Peso Adicional Total kg kg kg kg 0.0 0.0 292.0 292.0 0.0 0.0 292.0 292.0 0.0 0.0 292.0 292.0 0.0 0.0 292.0 292.0 131.0 131.0 423.0 423.0 131.0 131.0 423.0 423.0 0.0 0.0 292.0 292.0 0.0 0.0 292.0 292.0 131.0 131.0 423.0 423.0 131.0 131.0 423.0 423.0 0.0 0.0 292.0 292.0 0.0 0.0 292.0 292.0 0.0 0.0 292.0 292.0 0.0 0.0 292.0 292.0 4612.0 4612.0 9224.0 4.3 Resultados do ensaio Pelos resultados das medições feitas com os extensômetros, é possível obter as deformações, e consequentemente, as tensões atuantes nas posições instrumentadas ao final de cada fase de carregamento, conforme apresentado na “Tabela 5” e na “Tabela 6”. Tabela 5. Diagonal entre os nós 2 e 33 Carregamento (kg) Fase 1 Fase 2 Fase 3 1097.0 8176.0 9224.0 Deformação E-01 E-02 (‰) (‰) 0.02194 0.02441 0.18949 0.19032 0.17902 0.24215 Tensão E-01 E-02 (MPa) (MPa) 4.59 5.10 39.61 39.79 37.42 50.62 Tabela 6. Chapa de ligação do nó 2 Carregamento (kg) Fase 1 Fase 2 Fase 3 1097.0 8176.0 9224.0 Deformação Tensão E-03 E-04 E-05 E-06 E-03 E-04 E-05 E-06 (‰) (‰) (‰) (‰) (MPa) (MPa) (MPa) (MPa) 0.0040 0.0956 0.0099 0.0926 0.83 19.99 2.07 19.36 0.0493 1.4030 -1.5462 0.1251 10.31 293.29 -323.22 26.16 0.1260 2.4966 -2.0589 0.0531 26.34 521.89 -430.40 11.09 4.4 Comparação entre as análises teórica e experimental Os resultados obtidos com o ensaio podem ser comparados com as tensões atuantes no software SAP 2000. Para isso, foram simuladas computacionalmente as três fases de carregamento, com as cargas concentradas nos nós do banzo superior da terça, da mesma maneira como foi realizado o ensaio. Como no ensaio da terça a instrumentação foi realizada após o seu içamento, não foram medidas as deformações provenientes do peso próprio da estrutura. Portanto, para a comparação dos resultados, o peso próprio da terça foi desprezado no modelo computacional. Foram verificados dois modelos distintos, sendo um que permite os giros nas extremidades das diagonais (diagonais articulas), no plano das mesmas, e outro que não permite esses giros (diagonais rígidas). Para a diagonal entre os nós 2 e 33, foram obtidos os resultados apresentados na “Tabela 7” para os dois modelos computacionais. O diâmetro do tubo utilizado nessa diagonal foi de 60,3 mm, com uma espessura de 3,2 mm. Tabela 7. Resultados computacionais Fase 1 Fase 2 Fase 3 Diagonais Articuladas Tensão Tensão Normal Momento E-01 E-02 (KN) (KN.m) (MPa) (MPa) 2.92 0 5.08 5.08 21.92 0 38.19 38.19 24.72 0 43.06 43.06 Normal (KN) 3.02 22.71 25.60 Diagonais Rígidas Tensão Momento E-01 (N.m) (MPa) 0.0061 4.48 0.0455 33.71 0.0510 38.06 Tensão E-02 (MPa) 6.04 45.41 51.15 Comparando-se com os resultados experimentais, nota-se que o modelo com as diagonais rígidas apresentou tensões muito próximas, indicando que possivelmente o aperto dos parafusos das ligações entre banzo e diagonal não permitiu que os mesmos girassem livremente. Para a comparação dos resultados experimentais da chapa de ligação, foi realizada a sua modelagem no software ANSYS, com as mesmas dimensões e espessura da chapa do ensaio. Nesse modelo, foi aplicada uma força horizontal de 21.0 KN no furo da chapa, que corresponde a componente horizontal dos esforços das diagonais que chegam no nó 2, com o carregamento final da fase 3 que foi utilizado no ensaio. Esta carga horizontal foi obtida pelas análises realizadas no SAP 2000. Os resultados computacionais obtidos com o software ANSYS, apresentados na “Fig. 15”, demonstram que na região onde foram posicionados os extensômetros E-04 e E-50, ocorreu um deslocamento de 0,25mm, correspondendo a uma deformação de 2,63‰ (altura da chapa de 95 mm), muito próxima a obtida no ensaio: 2,4966‰ e -2,0589‰. Figura 15 – Deslocamento em Y (deslocamentos maximizados) 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A realização do ensaio de uma terça treliçada multiplanar revelou que as inovações propostas resultam em uma terça de grande eficiência para grandes vãos, com baixo peso e custo, além da facilidade e rapidez de montagem devido à nova ligação banzo-diagonal pinada desenvolvida. As comparações dos resultados obtidos experimentalmente com os modelos computacionais desenvolvidos revelaram que a terça apresentou um bom comportamento global, e os esforços atuantes na diagonal mais solicitada indicam que no experimento os parafusos não permitiram totalmente o giro nas extremidades das diagonais. A maior diferença nessa análise ocorreu entre as tensões do ensaio e do modelo computacional na fase 2, que pode ser explicada devido a uma possível pequena rotação das diagonais durante o período de acomodação da estrutura, uma vez que os parafusos não impedem totalmente a rotação. As deformações das chapas de ligação foram correspondentes as obtidas pelo modelo computacional, apresentando uma deformação acima de 2‰ durante o carregamento adicional da fase 3. Estes resultados demonstram que no seguimento do desenvolvimento, deve-se analisar uma nova forma de fixação das diagonais nas chapas de ligação, para que estas possam atuar como articuladas, além de realizar um estudo mais aprofundado da chapa de ligação, para que as suas deformações sejam menores. Agradecimentos Gostaríamos de agradecer a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – FEC da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, pelo auxilio na realização dos ensaios e das análises computacionais, e a empresa Vallourec & Mannesmann Tubes (V&M do Brasil), pelo apoio financeiro e incentivo no desenvolvimento de trabalhos inovadores, como o apresentado nesse trabalho, que faz parte da dissertação de mestrado de Vieira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Institute of Steel Construction, AISC, 1996. Manual of Steel Construction, Load and Resistance Factor Design, vols. 1 & 2, 2nd edition, Chicago, Illinois. American Institute of Steel Construction, AISC, 1997. Hollow Structural Sections, Connections Manual, Chicago, Illinois. European Committee for Standardization, 1993. Eurocode 3: Design of Steel Structures. Rautaruukki Oyj, Hannu Vainio, 1998. Design Handbook for Rautaruukki Structural Hollow Sections, Otava Book Printing Ltd., Hämeenlinna, Finlândia. The International Committee for Research and Technical Support for Hollow Section Structures, 1992. CIDECT Series – Construction with Hollow Steel Sections, vols. 1-9, Germany.