Barbara Ryden, Capítulo 3 Resumo livre 3.1 – Princípio de Equivalência Este princípio estabelece que um campo gravitacional é indistinguível de um referencial sob aceleração, não-inercial. Analogamente, um referencial em queda livre se comporta como um referencial inercial. O exemplo clássico dessa equivalência é imaginar-se numa cabine sem janelas e isolada, de cujo interior não se percebe nada do que ocorre no exterior. Se sentimos que as coisas são aceleradas numa direção, somos levados a crer que estamos em repouso na superfície de um objeto massivo, como a Terra. Mas ao se abrirem as janelas percebemos que estamos viajando pelo espaço intergaláctico, longe de qualquer concentração de matéria. Necessariamente, deduzimos que a força peso sentida no interior da cabine corresponde a uma força não-inercial, resultante de a cabine estar sob aceleração com relação aos pontos do espaço à sua volta. Essa incapacidade de se distinguir entre um referencial em repouso sob a ação da gravidade e um sendo acelerado pelo espaço na ausência de matéria só é possível pelo fato de que a massa inercial é igual à gravitacional. Ou seja, a massa que caracteriza a resistência de um corpo a uma força (massa inercial m_i) tem o mesmo valor do que a que produz o campo gravitacional m_g. Não fosse esse o caso, poderíamos usar diferentes objetos, com diferentes materiais e massas inerciais e dintinguir entre as duas situações, pois objetos teriam m_i / m_g distintos. Dizer que m_i = m_g constitui, portanto, numa formulação alternativa para o Princípio de Equivalência. Note que o Princípio, ao falar da indistinguibilidade entre a presença de gravidade num referencial em repouso e um referencial acelerado, tem profundas implicações. Sabemos que num referencial acelerado, um feixe de luz parecerá percorrer uma trajetória curva. Sendo assim, pelo princípio de equivalência, essa deve ser a trajetória da luz num referencial em repouso na presença de um objeto massivo. Isso significa que o espaço na presença de massa tem curvatura. Na verdade, a relatividade geral, que é também uma teoria de gravitação, lida com um espaço-tempo curvo, enquanto que a gravitação clássica trata espaço e tempo como variáveis separadas, sendo que o espaço é assumido como tendo geometria plana, dita Euclidiana. A luz, numa visão clássica, percorre o espaço vazio em trajetória retilínea. Para conciliar esse resultado com a trajetória curva percorrida na presença de matéria, falamos que a luz percorre uma geodésia, que é a menor trajetória ligando dois pontos num dado espaço. No espaço Euclidiano, a geodésia se resuma a uma reta. 3.2 – Curvatura e métrica Uma forma de quantificar a curvatura do espaço em grande escala é a de se desenhar nele um grande triângulo, digamos com vértices na Via-Láctea, no QSO 3C273 e no aglomerado de galáxias Abell 370. Nos posicionamos em cada vértice do triângulão e determinarmos o ângulo entre as direções dos outros dois vértices no céu (ou seja, o ângulo correspondente àquele vértice). Aí somamos os 3 ângulos. Num espaço Euclidiano, essa soma seria 180 graus. Se o espaço tiver curvatura finita (o espaço plano tem raio de curvatura infinito), essa soma vai ser diferente. Uma curvatura positva (negativa) leva à soma > (<) 180 graus, de acordo com as fórmulas 3.8 e 3.10. Uma outra forma de quantificar curvatura, essa na verdade mais completa, é construindo o intervalo entre dois pontos próximos num dado espaço. Esse intervalo (na verdade elevado ao quadrado) é dado por 3.6 e 3.7 para o caso de um espaço plano. Para um espaço de curvatura positiva, como a superfície de uma esfera (para usar um exemplo de 2D), temos que o intervalo é dado por 3.9, enquanto que para uma curvatura negativa temos 3.11. A extensão para o caso 3D dessas métricas é dada pelas expressões 3.12 (ou 3.13), 3.14 e 3.15, respectivamente para curvatura infinita, positiva e negativa. Uma representação sintética dessas métricas é dada pelas expressões 3.16 a 3.18, onde k é um parâmetro que quantifica a curvatura. 3.3 – Métrica de Robertson-Walker As métricas relevantes para a relatividade não se limitam a intervalos espaciais, mas se estendem a intervalos espaço-temporais. A relatividade restrita, por exemplo, utiliza a métrica de Minkowski (3.20), onde vemos um primeiro exemplo de inclusão da variável tempo em adição às 3 variáveis espaciais. Fica fácil de ver, pelos argumentos em torno das expressões 3.21 a 3.23, que a luz tem um intervalo ds=0 nesta métrica, ou seja, ela descreve uma linha geodésica nula. Já a métrica de Robertson-Walker, dada por 3.24 (ou 3.25) é o caso mais geral de um espaço-tempo homogêneo e isotrópico. Vemos nela a presença da constante de curvatura k, além do fator de escal a(t) e do raio de curvatura R_0. Vemos que esses parâmetros são suficientes para determinar a geometria do espaço. As coordenadas (r,theta,phi) são ditas co-móveis e não se alteram com a expansão do Universo. O tempo é também uma coordenada da métrica e parametriza a expansão. Como o universo é homogêneo e isotrópico, todos os observadores devem ver a mesma sequência de eventos, de forma que podemos falar de um tempo cósmico, compartilhado por todos os observadores. 3.4 – Distância própria Se consideramos a trajetória geodésica de uma partícula entre dois pontos, ela deve preservar theta e phi (ou seja, dtheta=dphi=0), pois a menor distância entre esses dois pontos será ao longo da coordenada radial r que os liga. Assim, temos a definição de distância própria dada por 3.28 (ou 3.29), que nada mais é do que a distância co-móvel r entre os dois pontos multiplicada pelo fator de escala. A Lei de Hubble resulta imediatamente ao derivarmos a distância própria no tempo, conforme demonstrado pelas expressões 3.30 a 3.33 Note que velocidades de recessão (ou seja, a derivada espacial da distância própria) podem superar c, pois elas são velocidades de dilatação do espaço e não velocidades de partículas físicas no espaço. Seja agora a trajetória de um fóton, com ds=0 e dtheta=dphi=0. Contrariamente ao espaço de Minkowski, da RE, temos agora a inclusão do fator de escala na relação entre dt e dr, conforme mostrado na expressão 3.38. Conforme o raciocínio que segue, dois máximos de onda emitidos por uma fonte a uma distância co-móvel r de um observador, terão que preservar o valor da integral sobre o tempo do lado esquerdo. Disso resulta uma relação entre os comprimentos de onda emitido pela fonte, recebido pelo observador e o fator de expansão nos instantes da emissão e recepção. Essa relação é dada pela expressão 3.45 e pode ser re-escrita em função do redshift z de acordo com 3.46.