Fl. Castro
Não existem
dois santos iguais.
Cada um
é obra única de Deus.
Cada um de seu jeito.
Muitos podem
ser chamados
"santos do povo".
Um deles,
e de modo muito especial,
pode ser chamado
de
"o santo dos simples“:
pela sua vida,
pelas suas preferências,
pelas suas preocupações,
pelo seu jeito de ser
"redenção abundante
para os abandonados".
Seu nome é Geraldo
e sua vida,
na boca e na saudade do povo,
fez-se poema.
Muro Lucano, ainda agora cidade pequena do
sul da Itália, aninhada entre penhascos esbranquiçados. Cada palmo de terra cultivada fala
de duro trabalho e de longas jornadas.
Dia 6 de abril de
1726, nasce o filho
de Domingos e
Benedita Majella.
No mesmo dia foi
batizado como
Geraldo Maria.
Família pobre.
Domingos
era alfaiate.
Dos primeiros anos
o povo contava e
ainda conta:
... que Geraldo, muitas vezes,
descia a trilha áspera que
levava até o fundo da ravina,
para depois subir até
Capodigiano, onde havia um
pequeno santuário da Virgem
com o menino ao colo.
E ali depois de rezar e brincar
com um menino, Geraldo
ganhava um pãozinho branco,
da melhor farinha. Repartia sempre com seus
pequenos amigos. Muito tempo depois, ele dizia para
sua irmã Brígida: "Agora eu sei que era Jesus aquele
menino que me dava o pãozinho".
Geraldo estava com 8 anos, e queria receber a
Comunhão. Ficou na ponta dos pés, tentou parecer
maior, aproximou-se esperançoso do sacerdote.
-- Você é muito criança para comungar!
À noite, como era difícil dormir
depois da desilusão.
Que horas eram? Seria sonho?
Geraldo vê o Arcanjo Miguel,
todo feito de luz, que vem
trazer-lhe a comunhão que não
pudera receber na igreja.
Aos catorze anos, Geraldo perde
o pai.
Pensando em seguir a profissão
do pai, foi ser aprendiz de alfaiate.
Depois foi ser criado do Bispo de
Lacedônia, conhecido por sua
braveza. Ficou três anos com ele,
até sua morte.
Um dia, ao tirar água do poço, Geraldo deixa cair no
fundo a chave do palácio do senhor bispo. Foi foi
buscar uma imagem do Menino Jesus, prendeu-a na
corda e pediu: -- Por favor, traga as chaves lá de
baixo!
Em 1745, com 19 anos, Geraldo voltou para Muro e
montou uma alfaiataria. O que ganhava era para
sustentar a família e ajudar os pobres. Tentou ser
frade capuchinho. Disseram que não suportaria a
vida de convento. Tentou viver sozinho, como
eremita.
Em 1749 quinze Missionários
Redentoristas vêm pregar
uma Missão em Muro.
Resolve que quer ser um
desses missionários. Dizem
que é muito frágil para esse
tipo de vida. Insiste tanto,
que no dia da partida os
missionários aconselham que
a família o tranque em casa.
Trancaram.
Ele fez uma corda com os
lençóis e desceu pela janela.
Dezenove quilômetros depois alcançou-os.
Insiste tanto, que os missionários o mandam
para a comunidade redentorista de Deliceto.
Leva uma carta do superior do grupo:
-- Mando um outro Irmão, que será inútil para o
trabalho...
Fez o noviciado, a preparação
para a vida na comunidade
religiosa, e fez seus votos
religiosos na Congregação dos
Missionários Redentoristas,
fundada por Sto. Afonso.
Geraldo, que chegou
apresentado como inútil,
mostrou logo quanto podia
fazer por Deus e pelos irmãos:
jardineiro, sacristão, alfaiate, porteiro, cozinheiro,
carpinteiro, escultor, encarregado das obras do novo
convento em Materdomini.
Irmão Geraldo não vive só no convento. Sente-se
"enviado" missionário no meio do povo. Fala,
aconselha, partilha da miséria dos pobres.
Vive suas preocupações com a comida pouca
para muita fome, com as doenças sem remédio,
com a seca, com os ratos que assaltam os paióis,
com o pouco vinho que avinagra. Sabe também
como é fácil, mesmo na pobreza, ceder à avareza
e à cobiça.
Geraldo tenta fazer acontecer o evangelho.
E o povo, com a palavra de muitas testemunhas,
conta essa vida missionária como se fosse uma
vida feita só de milagres...
Contam que numa dessas
viagens, numa noite de
tempestade, Geraldo estava
perdido no meio do bosque.
Sabia que as águas do Ofanto
estavam grossas, porque
ouvia o ronco que faziam.
Como se fosse pouco o
perigo, percebeu também a
presença do Demônio. Não se
amedrontou. Mandou apenas
que, em nome da Santíssima
Trindade, o levasse até
Lacedônia.
Na primavera de 1753, Geraldo
está indo de Deliceto para
Corato.
De longe um camponês grita
por ele. Quando chega perto,
pede-lhe que ore ao Senhor,
para que o livre dos ratos. Os
terríveis ratos que devoram
tudo que ele planta.
Geraldo fez um amplo sinal da
cruz e logo a roça está cheia de
ratos mortos.
Quando está voltando para
Deliceto, encontra-se com um
rapaz que está procurando um
tesouro no bosque de
Montemilone.
Geraldo garante que vai ajudá-lo
a encontrar o tesouro.
Quando já entraram bastante no
bosque, o Irmão tira o crucifixo
que trazia ao peito, e diz:
- Este é o tesouro dos tesouros, o tesouro que você
perdeu há tanto tempo, tesouro que abandonou por
um nada!
Andava a pedir esmolas pelos
povoados do Vale do Sele.
Fez uma parada em
Santomenna, e foi procurar o
ferreiro, o Salandra, para que
desse um jeito nas ferraduras de
seu cavalo.
Feito o serviço, o preço cobrado
era alto demais. Não há
problema. Sem nenhuma
palavra contra a ganância do
Salandra, apenas mandou que o
cavalo devolvesse as ferraduras
novas.
Geraldo era um místico.
Recebeu do Senhor muitos
dons e carismas. Muitas vezes
ficava perdido em Deus, podia
ler o segredo dos corações...
Mais de uma vez também
libertou pessoas que se
sentiam dominadas
pelo poder do demônio.
Foi o caso de Catarina
Mucciaccio que ele libertou ao
colocar-lhe, em torno da
cintura, o cinto que ele usava
para prender a batina surrada.
Martino Carusi, numa briga, tinha matado o filho
de Marco Carusi.
Um ódio muito grande passa a dividir as duas
famílias. Durante horas Geraldo exorta ao
perdão. De nada adiante.
Ajoelha-se, então, pega o
crucifixo que sempre traz ao
peito, coloca-o no chão e diz:
- Vamos, pisem em Jesus
Crucificado. Vocês não têm
escolha. Ou perdoam ou
pisam sobre ele, pois que foi
ele que nos mandou
perdoar!
Pela oração de Geraldo, o
Senhor curou muitas
crianças.
Uma dessas foi o pequeno
Antônio Pace, curado de
poliomielite.
Por isso Geraldo é muito
invocado como "protetor das
crianças e das mães".
Era uma vez
um camponês ridico, que
negava água para os que
passavam pela estrada.
Geraldo repreende-o:
- Tudo bem, nem para
você o poço dará água
de agora em diante!
Seca o poço.
Arrependido o camponês
pede perdão.
Imediatamente o poço
de novo está cheio
de água fresca.
Em Melfi, Geraldo estava
hospedado com os
Murante. A família estava
muito aflita, porque o barril
de vinho que guardavam
tinha virado vinagre.
- Isso não é nada, disse
Geraldo. Coloquem sobre o
barril esta estampa de
Nossa Senhora, e o vinho
ficará de novo bom.
Fizeram.
E que bom
era aquele vinho!
No cais de Beverollo, no porto
de Nápoles, há muita gente a
olhar ansiosamente para um
barco em perigo nas ondas da
tempestade.
Geraldo vai passando, pára e
também fica a olhar. Ergue o
olhos para o céu, faz uma
oração, traça o Sinal da Cruz,
invoca a Santíssima Trindade.
Desce para o mar e vai andando sobre as ondas até
onde está o barco.
Agarra-o e o traz para o cais, como se fosse um
barco de brinquedo.
Em Senerchia, estava
em construção a igreja
paroquial. Mas havia
uma grande dificuldade:
ninguém conseguia
arrastar para a cidade
as traves de abeto
cortadas para se fazer o
telhado.
Geraldo vai até onde
estão os trabalhadores,
amarra um corda à tora
mais grossa.
E a construção pôde continuar.
Uma vez Geraldo estava no terraço da casa da família
Ilária. Olhava o céu, as montanhas, a cidade lá em
em baixo, e louvava o
Senhor por tanta beleza.
De repente ficou imóvel,
esquecido de tudo,
perdido em Deus.
Outra vez aconteceu o
mesmo quando ouvia uma
estrofe de Metastásio:
"Se você quer ver a Deus,
veja-o em todas as coisas,
procure-o em seu coração,
ali está sempre com você!"
O fato é testemunhado pelo
Pe. Raffaele Abbondati.
Ele conta que, em Auleta,
levaram Geraldo para visitar
uma jovem aleijada desde o
nascimento, que nada podia
fazer por si mesma.
Geraldo tinha sempre muito
dó dos que sofrem.
Ao ver a moça disse, como se fosse a coisa mais
natural: - Venha até aqui!
E ela levantou-se, curada para sempre.
Durante o inverno de 17541755, houve uma grande
carestia na região. Frio e fome
ameaçavam os pobres.
Geraldo recebia-os na portaria
do convento redentorista. Eles
chegam, adultos e crianças,
cobertos de farrapos, os pés
que afundam na neve alta.
Para Geraldo não havia
dúvida: "Pelo pobre temos de sacrificar tudo:
ele é Jesus Cristo".
Com milagre ou não, o certo é que para os pobres
nunca faltaram farinha e azeite.
Francisco Mugnone era um pecador de coração
endurecido. Não havia jeito de convertê-lo.
Mas Geraldo tinha
recebido de Deus dons
especiais: podia mesmo
ler no coração das
pessoas.
Pediu a Deus a
conversão de Francisco
e, para isso, conseguiu
que ele pudesse ver o
demônio que ameaçava
sua salvação.
Geraldo estava a conversar
com umas pessoas, entre
elas Vito Mennona.
Olha pela janela e vê um
cavalo desembestado, quase
a cair com seu cavaleiro no
desbarrancado fundo que
margeava a estrada. Todos
gritam, temendo o pior.
Geraldo estende a mão:
"Nossa Senhora, ajudai-o!".
O cavalo para no mesmo instante
à beira do precipício.
Foi no dia 16 de outubro de 1755,
Geraldo estava para morrer.
Disse alegremente ao irmão enfermeiro:
"Veja, aí está Nossa Senhora, vamos venerá-la"!
Reclinou a cabeça sobre o travesseiro e morreu.
O irmão sacristão foi tocar os sinos, para
anunciar a morte. Nem sabe como os dobres
se transformaram em toque de aleluia de
ressurreição.
Toque alegre de sinos, pelo vale, não de
tristeza, quando muito de saudade.
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"santos do povo".