A educação ambiental no currículo escolar: Uma articulação ética social do conceito de meio ambiente Cristiano José de Oliveira A vida humana não pode ser analisada fora do contexto do meio ambiente. O sujeito não vive sem sua inserção na esfera geopolítica. Uma reflexão sobre o meio ambiente passou a fazer parte do currículo escolar, com a preocupação de formar as crianças e os adolescentes para cuidar do nosso planeta. Refletir sobre a importância de termos um ar puro, água limpa, área verde e animais faz parte do currículo escolar. O tempo urge e o homem está matando o planeta Terra. Pensar o ser humano sem a questão do meio ambiente é ignorar a própria razão, atitude, infelizmente, aplicada pelo anseio do materialismo. A ganância humana, não perdoou nem mesmo a sua própria origem – a natureza. A morte de inúmeras espécies de seres vivos se deu por meio de um ser que é dotado de razão – o homem, que por valorizar essa faculdade não mensurou os seus atos perante o meio em que está inserido. O comportamento humano é reflexo daquilo que constitui a sua própria essência. A formação do conceito de Meio Ambiente A reflexão sobre o meio ambiente assumiu deste o último século um espaço importante na política mundial, nas organizações não governamentais (ongs) e, sobretudo, no ambiente educacional como tema transversal, no currículo escolar. Entende-se por meio ambiente um conceito complexo, pois tudo que está inserido no contexto social, tem ligação direta com o meio. Muito mais do que a concepção de vida e natureza, encontra-se nesta fusão, a relação da humanidade e desenvolvimento sustentável. De acordo com os Parâmetros curriculares Nacionais - PCNs (1997, p. 26) sobre meio ambiente e saúde, o conceito está estabelecido como uma representação social. “É uma visão que evolui no tempo e depende do grupo social em que é utilizada.” Portanto, conceituar a representatividade ambiental é uma análise sóciocultural que perpassa o crivo racional. Para muitas culturas, a natureza é vista como representação do sagrado, por outras, se tem como usufruto apenas para a produção da sustentabilidade, quando muito menos é extrativismo. A educação ambiental representa uma análise das condições do uso dos bens da Terra, que são na verdade um patrimônio de toda a humanidade. Proteger a natureza e seus frutos é assegurar a própria proteção da vida e o prolongamento da existência no Planeta. Diante dos impactos ambientais, sofridos pela tecnologia e pela ação humana, a escola representa um divisor de águas para favorecer aos educandos um contato direto com o seu meio ambiente. Para os PCNs (1997) a instituição escolar deve favorecer o questionamento aos alunos, levando-os a: desenvolver um espírito de crítica às induções ao consumismo e o senso de responsabilidade e solidariedade no uso dos bens comuns e recursos naturais, de modo a respeitar o ambiente e as pessoas de sua comunidade. A responsabilidade e a solidariedade devem se expressar desde a relação entre as pessoas com seu meio, até as relações entre povos e nações, passando pelas relações sociais, econômicas e culturais (p. 36 -37). A informação é uma questão pedagógica, inserida nos conteúdos do currículo, mas a formação de conceitos ao respeito e à preservação do meio ambiente supera o dado institucional; ela se insere na responsabilidade da ética. Educação Ambiental é responsabilidade da sociedade, não só da escola. Portanto, o currículo escolar, ao trabalhar os temas transversais, assume o papel de formar a consciência de preservação, conservação e conscientização global, mostrando às crianças o espaço ambiental como lugar de inserção do indivíduo. Sem este dado, não há educação ambiental. Ao assumir os temas transversais no currículo escolar, a escola está buscando trabalhar uma visão crítica da sociedade, levando os alunos a fazer uma leitura social da realidade e se posicionar frente a esta leitura e em seguida propor questões concretas para melhorar a qualidade de vida da sociedade. Os temas transversais devem ganhar ainda mais espaço para uma reflexão mais consistente. Para Czapski (1998, p. 148) através dos temas transversais, “pretendese que os alunos cheguem a correlacionar diferentes situações da vida real e a adotar posturas mais críticas. Como os temas transversais lidam com valores e atitudes, a avaliação deve merecer um cuidado especial, não podendo ser como nas disciplinas tradicionais.” O valor da vida na reflexão do meio ambiente deve ser focado como responsabilidade social. A construção desta temática é puramente ética, uma vez que responsabilidade social é dever de todos. Segundo Diaz (2002, p. 97) “Ao falar de valores ambientais, devemos começar referindo-nos àqueles que, de alguma forma, servem de base à própria educação ambiental, e por extensão, a outros temas transversais, em um sentido integrador. Trata-se de valores como a solidariedade, a cooperação, o respeito à diversidade, a autonomia, a participação, a responsabilidade, a tolerância e tantos outros que configuram o tronco de uma educação integral, moral e cívica.” Quando se trabalhar a educação ambiental nas escolas, deve-se focalizar o aspecto de participação na construção da vida. O meio ambiente existe por si só. Ele faz parte da constituição do planeta e é dever dos homens respeitá-lo, uma vez que quando surgiu a vida humana, o meio ambiente já estava constituído, mesmo que em transformação. A vida é uma evolução, aonde tudo se transforma e se constitui em espécies e diversificação. Para Grun (2005) ao analisar o currículo escolar identificou o grande silêncio que as disciplinas fazem frente ao meio ambiente. Para ele, o currículo deveria se posicionar não só no cumprimento dos conceitos tradicionais, mas também propor uma reflexão de interdisciplinaridade. Quanto à questão temática do meio ambiente houve, também segundo esse autor, um distanciamento dos temas relacionados à natureza humana, cuja essência não está na materialização física, mas nas gerações vindouras. Desta forma, faz-se necessário o respeito às pessoas que ainda não nasceram; a consciência ética deve rever o passado, para pensar no futuro das pessoas. Esta análise da sociedade, vista a partir do passado e do futuro é o que concerne uma posição histórica. Não há como trabalhar educação sem analisar a condição histórica do sujeito. A constituição de uma sociedade, a partir de suas origens é que permite reintegrar o pensamento de meio ambiente, no meio escolar. Esta condição de assujeitamento à sociedade é trabalhada por Currie (1998) nos eixos norteadores da temática do meio ambiente como interdisciplinaridade na prática. Ao tratar da temática meio ambiente e comunidade, ela ressalta a pluralidade ética. Segundo esta educadora a escola tem que saber as origens de sua comunidade, acolher a pluralidade étnica, para em seguida trabalhar a relação de pessoas, que acontece entre ela e a sociedade. Este relacionamento é que permite construir o pensamento ético, que vai formar a responsabilidade social e “contribuir para uma educação de melhor qualidade” (CURRIE, 1998, p. 73). Conclusão Trabalhar o meio ambiente na escola é uma questão universal, que deve abordar toda relação mútua de pessoas e sociedade. O papel da escola deve pautar a formação de valores e questões que compreendem a (inter)ligação do indivíduo com a sociedade. Por parte do currículo, percebe-se que, em se tratando de temas transversais, o meio ambiente deve assumir também, em outras áreas do currículo, um espaço de reflexão e conscientização da importância de se preservar o meio em que se vive. A responsabilidade social deve levar todos, sobretudo a instituição escolar, a preservar, construir e contribuir com a elaboração de mecanismos práticos e sustentáveis para a melhoria de vida na sociedade. BIBLIOGRAFIA: CURRIE, Karen Lois e colaboradoras. Meio Ambiente: interdisciplinaridade na prática. Campinas: Papirus, 1998. DÍAZ, Alberto Pardo. Educação Ambiental como projeto. Trad. Fátima Murad. 2ª edição. Porto Alegre: Editora Armed, 2002. GRUN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. Campinas: Papirus, 2005. MEC – Ministério da Educação e do Desporto. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Meio Ambiente e saúde. Temas Transversais. Volume 9. Brasília: MEC, 1997. _____ A implantação da Educação Ambiental no Brasil. Texto de Sílvia Czapski. Brasília: MEC, 1998. Cristiano José de Oliveira é graduando em Letras pela Univás. Tem Curso livre em Filosofia pelo Instituto São José – Três Corações. Professor da Rede Municipal de Ensino de Pouso Alegre. Ex-Presidente do Sindicato dos Profissionais da Educação da Rede Municipal de Ensino de Pouso Alegre e Região. Trabalha com palestras e reflexões ligadas à valorização do educador. Trabalhou com ONGs e movimentos sociais nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina. É poeta e Contista. Co-autor do Livro: Ramos de Oliveira I, Editora Alba. Trabalho publicado em Modernos Contos Brasileiros IV – Editora Alba.