Óleo Lubrificante Duke Williams Este artigo foi originalmente publicado na revista "The Corvette Restorer", Vol. 35 No.1, Summer 2008, publicada por "The National Corvette Restorers' Society". Embora originalmente dirigida a proprietários de Corvettes antigas, o texto se aplica a todos os motores antigos cujos mecanismos de válvulas funcionem com deslizamento superficial. Existe provavelmente mais discussão sobre óleo lubrificante para motor do que sobre qualquer outro assunto automotivo. Existem até sites inteiros na Internet dedicados a esse assunto. Infelizmente mais de 90% do que se lê e se ouve é baseado em mito, desinformação ou jogada de marketing. Há mais de 50 anos as indústrias automobilística e de petróleo, através do American Petroleum Institute (API), estabeleceram padrões de óleo lubrificante. Como resultado disso o óleo lubrificante se tornou um produto genérico. No entanto é sempre necessário avaliar os diversos óleos disponíveis antes de usá-los, para se assegurar que eles são apropriados para a utilização em vista. O API emprega um sistema que remonta a 1969 para identificar as características de serviço. Há duas categorias básicas: - Categorias que começam com "S" - atuais, antigas ou obsoletas - que são destinadas a motores com ignição por centelha (nota do tradutor: Spark - daí o S), os motores a gasolina; e - Categorias que começam com "C", que são destinadas a motores com ignição por compressão (nota do tradutor: Compression, daí o C), os motores diesel. As categorias de serviço evoluiram até as atuais SM (nota do tradutor: já existe a categoria SN) e CJ-4 (a segunda letra indica a revisão e "4" se refere a motores de quatro tempos) com base nos requisitos dos motores produzidos em cada época. Eu enfatizo os motores produzidos em cada época pois a atual categoria SM não é o melhor óleo lubrificante para motores antigos, por razões que vou explicar. Como regra geral os requisitos de desempenho tanto das categorias S como das C aumentaram significativamente ao longo dos anos. No entanto, mudanças recentes reduziram a concentração de aditivos anti-desgaste em razão dos sub-produtos de sua queima reduzirem a vida dos catalisadores. Essa redução se deve aos padrões mais apertados impostos pela EPA (Environment Protection Agency) para emissão de poluentes e para garantia dos sistemas de controle de emissão. Ao mesmo tempo os projetos modernos de motores também reduziram a necessidade de aditivos anti-desgaste. Aditivos, que são críticos para o desempenho e durabilidade dos motores, incluem detergentes, dispersantes, inibidores de corrosão, inibidores de formação de espuma e inibidores de desgaste. O aditivo anti-desgaste mais efetivo, que data de mais de 50 anos atrás, é o DialquilDitioFosfato de Zinco, conhecido como ZDDP (de Zinc DialkylDithioPhosphate). Esse aditivo é crítico para prevenir desgaste de superfícies deslizantes sujeitas a atrito, e os motores antigos em particular tem muitas superfícies deslizantes no mecanismo de válvulas. A maioria dos motores modernos tem tuchos e comandos roletados, daí não necessitarem tanto de ZDDP como os motores antigos. Dos anos 50 até 2004, quando a especificação SL foi adotada, muitas categorias de óleos tinham dupla qualificação, atendento tanto os tipos S (centelha/gasolina) como os tipos C (compressão/diesel). (Nota: A categoria principal era a primeira letra mas isso frequentemente era apenas uma decisão comercial) O nível típico de concentração de ZDDP nesses óleos, baseado na fração da massa de Fósforo (símbolo "P" na Tabela Periódica), evolui até aproximadamente 0.12%, que também pode ser expresso como 1.200 ppm (ppm = partes por mihão - 0.10% são 1.000 ppm). Ao longo dos anos esse nível se mostrou ideal para a proteção de superfícies deslizantes. Redução significativa de ZDDP pode permitir desgaste mais rápido das superfícies deslizantes, porém mais do que 0.14% a longo prazo pode ter efeitos negativos como a corrosão de alguns mecanismos. Mais não é necessariamente melhor. Não há nenhuma necessidade de utilizar aditivos suplementares de ZDDP com CJ-4, excetuando-se apenas o EOS da GM para amaciamento inicial. Para prolongar a vida dos catalisadores, os óleos SM em graduações de inverno de 10W ou menos estão limitados a 0.08% de Fósforo. (O limite SL era de 0.10%.) Isso é o suficiente para motores modernos a gasolina com "tudo roletado" mas pode não ser suficiente para prevenir o desgaste acelerado em motores antigos. Óleos SM com graduações de inverno acima de 10W não tem limitação de Fósforo mas isso não significa que óleos SM 20W-50 tenham mais que 0.08% de Fósforo pois precisam de apenas 0.06% para satisfazer os requisitos SM. Como resultado, a maioria dos atuais óleos SM não satisfaz alguns dos requisitos da categoria C. Em verdade a API até proíbe os óleos SM de exibir categorias secundárias. A atual especificação CJ-4 também limita a adição de Fósforo uma vez que a partir de 2007 os motores diesel pesados para aplicação rodoviária passaram a ser dotados de catalisadores. A limitação de Fósforo é no entanto de 0.12%, que é aproximadamente o mesmo nível das categorias S and C anteriores, antes da introdução de limites de Fósforo. Óleos CJ-4 típicos tem 0.11-0.12% de Fósforo e essa concentração de ZDDP é necessária para passar o novo e mais difícil teste anti-desgaste da especificação CJ-4. Como regra geral a bateria de testes da CJ-4 é mais exigente que a bateria de testes SM. O óleo CJ-4 é o melhor lubrificante atualmente disponível para motores antigos por essencialmente garantir uma concentração quase ideal de ZDDP para a máxima proteção das superfícies deslisantes. Se a categoria disponível for CI-4 (anterior à CJ-4), ela também é perfeitamente aceitável. CI-4 não tem limitação de Fósforo. A quantidade típica é aproximadamente a mesma que os 0.12% do limite CJ-4 - uma diferença irrelevante - de modo que não há necessidade de procurar CJ-4 quando houver CI-4 disponvel. Existem diversas empresas "boutique" que oferecem óleos lubrificantes para as comunidades de carros antigos e de competição, alegando que seus óleos são melhores que os óleos padrão, e que frequentemente custam várias vezes o preço destes. Alguns desses óleos não são nem certificados pelo API (um processo muito caro devido aos testes de laboratório e de campo), de modo que o usuário precisaria ter um grande conhecimento técnico de fórmulas de lubrificante e uma grande segurança quanto ao seu conteúdo efetivo para racionalmente determinar se esses óleos estão sequer no mesmo patamar dos óleos certificados. Se não for assim, um discurso comercial bem feito pode amedrontar e fazer crer que seu precioso motor antigo vai se desintegrar a menos que se compre um desses caríssimos óleos. A próxima pergunta invariavelmente é: Que marca de óleo devo usar? Ocorre que a marca não faz qualquer diferença. Não existe marca "melhor". Se o rótulo tem o símbolo do API (a "rosca") com CJ-4 (ou CI-4) como primeira categoria listada, o produto, com razoável tolerância, é essencialmente o mesmo que qualquer outro API CJ-4 ou CI-4. Existe uma infinidade de óleos categoria C no mercado mas tipicamente serão encontradas (nota do tradutor: o artigo é americano) marcas comercializadas por companhias grandes como Chevron, Texaco, Exxon-Mobil e Shell, bem como marcas de fábricas de automóveis ou de cadeias de lojas ("house" brands). O público em geral costuma ignorar completamente o sistema de categorias do API e mesmo muitos entusiastas de automobilismo parecem conhecer pouco ou nada do assunto, de modo que comece sua educação lendo os rótulos. A primeira guia no rótulo frontal pode ser uma palavra como diesel, Delo, Delvac, Rotella, universal e 15W-40. Não se deve ter medo de comprar óleo com a marca de um varejista de boa reputação como o WalMart; o conteúdo é óleo certificado de categoria C, embalado por uma empresa licenciada pelo API sob contrato com o titular da marca. A faixa de viscosidade 15W-40 usualmente encontrada é adequada para partidas a frio em temperaturas de até -10°C e deve atender as necessidades de mais de 99% dos proprietários de carros antigos. Se partidas a frio abaixo de -10°C forem costumeiras, deve ser usado o SW-40 em versão sintética, que é mais misturado com bases hidro processadas de índice de viscosidade dos Grupos II e III. A viscosidade 10W-30 também é produzida em algumas marcas, mas pode não estar disponível nos revendedores, principalmente em climas mais quentes. Os sites dos fabricantes tem fichas de informação de todos os seus óleos lubrificantes contendo as viscosidades disponíveis. Uma vez obtida a certificação CJ-4, outras categorias secundárias podem ser informadas, embora essa informação não seja obrigatória. Note que, se a categoria primária é C, a limitação de Fósforo da categoria S não se aplica, daí ser muito comum a designação CJ-4/SM. Note também que a indicação de mais de uma categoria S é proibida, qualquer que seja a categoria primária. CI-4 Plus indica uma fórmula com capacidade aumentada de trato de fuligem em motores diesel. Como cinza não é um problema para motores de ignição a centelha, você pode ficar indiferente a CI-4 Plus. (Veja exemplos de símbolos de categoria primária CJ-4 aceitáveis para motores antigos.) Símbolos típicos de categoria de serviço primária CJ-4 API com várias categorias secundárias aceitáveis. (Símbolos por cortesia de The American Petroleum Institute) Esses detalhes sutis e um tanto complicados podem ser extraídos do documento API 1509 (veja referências abaixo). Se as categorias secundárias o confundem, esqueça-as e se preocupe apenas com a primeira categoria de serviço indicada, que é a categoria primária de serviço, e assegure-se que seja CJ-4 ou CI-4. É relativamente fácil tornar-se um expert em óleos lubrificantes e tomar suas próprias decisões criteriosas, em vez de tentar se encontrar entre todos os mitos e desinformações, ou de dar ouvidos a vendedores ou a "experts" sem qualquer retaguarda técnica ou profissional nas indústrias automotiva ou petrolífera. Para aprender mais eu recomendo inicialmente fazer os cursos "Fundamentals of Lubrication" e "CJ-4" no site www.lubricantsuniversity.com (nota do tradutor: site está desativado), cada um dos quais lhe tomará perto de uma hora. Você pode também baixar e imprimir o "API Engine Oil Guide" no site http://www.api.org/ (nota do tradutor: a versão atual desse documento está em http://www.api.org/certifications/engineoil/categories/upload/motor_oil_guide_20 10_120210.pdf ) Outra boa fonte de informação sobre óleo de motor e outros lubrificantes automotivos é o site http://lubricants.s5.com . Para mais informação, incluindo uma explicação dos cinco grupos de óleo base e da falta de sentido da expressão "sintético" quando aplicada a óleo de motor, baixe e leia o documento "API 1509 Engine Oil Licensing and Certification System" (129 páginas) bem como seus Apêndices E e F disponível no site http://www.api.org/certifications/engineoil/categories/upload/EngineOilGuide200 6.pdf (nota do tradutor: versão atual em http://www.api.org/certificationprograms/engine-oil-diesel-exhaust-fluid/publications.aspx) Por uma hora ou duas de esforço você vai saber mais sobre óleos lubrificantes do que 99% dos auto-proclamados "experts," e você vai estar em condições de tomar decisões inteligentes e econômicas para todos os seus veículos. Sobre o Autor Duke Williams é um engenheiro automotivo e aeroespacial aposentado, com grau de Mestre em Engenharia Mecânica pelo Centro de Pesquisa de Motores da Universidade de Wisconsin Engine Research Center. Ele é o dono original de um Corvette Coupe 1963 com 340 HP e se envolve com restauração e corridas desde a adolescência. Ele mora em Redondo Beach, California e é membro da National Corvette Restorers' Society.