659 PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE UM AEROMODELO COMO AUXÍLIO NOS ESTUDOS DE ENGENHARIAS Vinicius Souza Morais 1, Altamir Olivo Júnior 2, Jorge Sakamoto Filho 3, Roni Aparecido Amaral 4 1 UCDB – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande / MS, Brasil, [email protected] 2 UCDB – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande / MS, Brasil, [email protected] 3 UCDB – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande / MS, Brasil, [email protected] 4 UCDB – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande / MS, Brasil, [email protected] Resumo: O Projeto ora apresentado visa a construção de uma aeronave cargueira rádio controlada que apresente um compartimento de carga de dimensões específicas. Além disso, a aeronave ainda deve ser capaz de alçar vôo portando a maior carga útil possível utilizando motor e combustíveis padronizados. Para tanto a metodologia utilizada para o projeto deverá possuir uma base sólida, bem como suas considerações, testes, cálculos e resultados obtidos. Assim, o projeto provavelmente será dividido em quatro grandes áreas, entrelaçadas entre si: aerodinâmica; controle e estabilidade; desempenho; e estrutura, que serão posteriormente analisadas individualmente em pormenores. Um projeto como esse propõe, entre outros, o desenvolvimento de novas propostas visando sempre à melhoria e otimização de uma aeronave. A partir do projeto e construção do aeromodelo rádio controlado com base na competição SAE AeroDesign, deseja-se viabilizar o projeto e construção da aeronave. Em se tratando do projeto do avião, uma análise criteriosa deverá ser obedecida no intuito de buscar a melhor configuração possível para executar sua construção. Com relação à construção propriamente dita, será dada prioridade à seleção adequada dos materiais com melhor custo benefício. Deseja-se estudar sob o ponto de vista da Engenharia mecânica, a resistência dos materiais utilizados, bem como uma análise do conjunto montado. Uma análise relacionada à mecânica dos fluidos deverá ser executada no intuito de observar o escoamento ao redor do aeromodelo criado para competições. Palavras-Chave: Aeromodelo, Aplicações de Engenharia. 2. LITERATURA 1. INTRODUÇÃO E PROPÓSITO Com o desenvolvimento deste projeto a equipe buscará aprimorar a qualidade das análises desenvolvidas a partir de objetivos e necessidades previamente estabelecidas, buscando o contínuo primor de ferramentas computacionais e técnicas construtivas desenvolvidas pela mesma. Deseja-se também a otimização na correta seleção dos materiais para a construção, trazendo com isso a capacitação dos integrantes de acordo com um conjunto de regras, que em muito se assemelham ao que será encontrado pelos mesmos durante sua vida profissional no exercício da engenharia. O objetivo principal é projetar, documentar e construir um aeromodelo rádio controlado, apresentando dimensões que a torne capaz de ser inserida em certo volume utilizando-se de motor e combustível padronizados capaz de executar vôos padrão, o qual consiste em decolar em uma distância estabelecida, voar durante um tempo determinado suportando uma carga estabelecida e pousar dentro dos limites laterais de uma pista. Como objetivo secundário, deseja-se com esse projeto criar uma equipe multidisciplinar de competições AeroDesign promovido pela SAE Brasil. Os fluidos respeitam a conservação de massa, quantidade de movimento ou momentum linear e momentum angular, de energia, e de entropia. A conservação de quantidade de movimento é expressa pelas equações de Navier Stokes. Estas equações são deduzidas a partir de um balanço de forças/quantidade de movimento a um volume infinitesimal de fluido, também denominado de elemento representativo de volume. Atualmente, o estudo, análise e compreensão da fenomenologia da maior parte dos problemas em dinâmica de fluidos e em transferência de calor, como macro-áreas que compõem a dinâmica de fluidos, são desenvolvidas através da Modelagem Computacional. Hoje em dia os modernos aviões usam um artifício para driblar a formação de vórtices nas pontas das asas, como o winglet, um pequeno leme na extremidade da asa, permitindo que pelo menos um metro e meio de asa seja aproveitada na sustentação da aeronave, que é perdida para os vórtices que se formam na sua ausência. O vórtice ocorre quando o ar mais denso que flui abaixo da asa escapa para a parte superior menos densa, prejudicando sua sustentação naquela ponta de asa. Vórtices no sentido horário surgem na ponta da asa esquerda, antihorário na asa direita. 660 PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE UM AEROMODELO COMO AUXÍLIO NOS ESTUDOS DE ENGENHARIAS Vinicius Souza Morais, Altamir Olivo Júnior, Jorge Sakamoto Filho, Roni Aparecido Amaral Experiências recentes dão conta de que uma superfície irregular da fuselagem, tipo "bola de golfe", com aqueles sulcos em concha, tem mais fluidodinâmica do que a mesma superfície quando plana e polida. Este efeito se verifica com as asas das aves, onde a superfície apresenta um arrasto mínimo, mesmo com a aparente irregularidade das penas. A mecânica dos fluidos é a parte da física que estuda o efeito de forças em fluidos. Os fluidos em equilíbrio estático são estudados pela hidrostática e os fluidos sujeitos a forças externas diferentes de zero são estudados pela hidrodinâmica. 2.1. As Forças da aerodinâmica da aviação Existem quatro forças aerodinâmicas principais que agem em um avião quando o mesmo está em vôo, essas forças estão ilustradas na Figura 1 e descritas a seguir. O escoamento incidente e o sentido/direção do vôo não são necessariamente os mesmos, sobretudo em manobras. Tal como acontece com o peso, cada parte do avião contribui para uma única força de sustentação, mas a maior parte da sustentação do avião é gerada pelas asas. A sustentação do avião funciona como se atuasse num único ponto, chamado centro de pressão. O centro de pressão é definido tal como o centro de gravidade, mas usando a distribuição da pressão em torno de toda a aeronave, em lugar da distribuição do peso.No centro de pressão atuam somente forças. Além do centro de pressão, outro ponto no aerofólio é de grande importância no projeto de uma aeronave: o centro aerodinâmico. Neste, além das forças, surge um momento chamado Momento de Arfagem. O coeficiente de momento de arfagem não varia quando variamos o ângulo de ataque. O coeficiente de momento é um coeficiente adimensional que qualifica e quantifica se, para certo aerofólio, há um momento picante ou cabrante sobre o engaste da asa. Este momento é fundamental, por exemplo, na determinação das cargas aerodinâmicas para definição da estrutura e para o projeto de sistemas de controle, como o profundor. 2.1.3. Arrasto Fig. 1. Forças que agem em uma aeronave 2.1.1. Peso O peso é uma força que é sempre dirigida para o centro da terra: trata-se da força da gravidade. A magnitude desta força depende de todas as partes do avião, mais a quantidade de combustível, mais toda a carga (pessoas, bagagens, etc.). O peso é gerado por todo o avião. Mas nós podemos simplesmente imaginá-la como se atuasse num único ponto, chamado centro de gravidade. Em vôo, o avião gira sobre o centro de gravidade, e o sentido da força do peso dirige-se sempre para o centro da terra. Durante um vôo, o peso do avião muda constantemente à medida que o avião consome combustível. A distribuição do peso e do centro de gravidade pode também mudar, e por isso o piloto deve constantemente ajustar os controles, ou transferir o combustível entre os depósitos, para manter o avião equilibrado. 2.1.2. Sustentação Para fazer um avião voar, deve ser gerado uma força para compensar o peso. Esta força é chamada sustentação e é gerada pelo movimento do avião através do ar. A sustentação é uma força aerodinâmica ("aero" significa ar, e " dinâmica" significa movimento). A sustentação é perpendicular (em ângulo reto) à direção do escoamento incidente (vento). À medida que o avião se move através do ar, há uma outra força aerodinâmica presente. O ar resiste ao movimento do avião, e esta força de resistência é denominada arrasto (ou atrito). Tal como a sustentação, há muitos fatores que afetam a magnitude da força de arrasto, como a forma do avião, a viscosidade do ar e a velocidade. E tal como acontece com a sustentação, consideram-se usualmente todos os componentes individuais como se estivessem agregados num único valor de arrasto de todo o avião. O sentido da força de arrasto é sempre oposto ao sentido do vôo, e o arrasto atua através do centro de pressão. Quando um avião aumenta o ângulo de ataque, aumenta também a sustentação; mas há uma geração de gradientes de pressão adversos. À partir de um certo ângulo de ataque, estes gradientes de pressão adversos resultam no descolamento da camada limite, cuja geração de vórtices de von Kárman caracteriza o fenômeno conhecido como estol. No estol, perde-se sustentação, e o arrasto aumenta significantemente. É por este fato que, na fase de decolagem de um aeromodelo, não se deve fazê-lo subir em ângulo muito acentuado. 2.1.4. Empuxo Para superar o arrasto, a maioria de aviões tem algum tipo de propulsão para gerar uma força chamada empuxo. A intensidade da força de empuxo depende de muitos fatores associados com o sistema de propulsão: O tipo de motor; O número de motores; O ajuste da aceleração; A hélice. O sentido da força de empuxo depende de como os motores estão colocados no avião. Em alguns aviões (tal como o Harrier) o sentido do impulso pode ser orientado para ajudar o avião a descolar numa distância muito curta. Os motores mais conhecidos são os motores de explosão (Ciclo Otto) e os motores a jato (Ciclo Brayton). Mas 661 também se utilizam motores elétricos e motores de foguete. Os motores elétricos e de explosão atuam usualmente por intermédio de hélices. Os motores a jacto e de foguete atuam pela força da reação. Um planador é um tipo especial de avião que não tem nenhum motor. Alguma fonte externa da potência tem que ser aplicada para iniciar o movimento. Os aviões de papel são um exemplo óbvio, mas há muitos outros tipos de planadores. Alguns planadores são pilotados e rebocados para o alto por outro avião, e a seguir são deixados livres para deslizar em distâncias longas antes de aterrar. Uma vez no alto, a energia cinética é responsável pelo impulso, mas ela para se manter gasta energia potencial. No entanto os planadores recorrem também a outra fonte de energia disponibilizada pela natureza: as correntes de ar ascendente que fazem o planador ou avião ganhar energia potencial sem perda de energia cinética e assim se manterem mais tempo no ar sem uso de motores. A Figura 2 mostra um perfil de forças que agem na asa de um avião. 3.1. Estabilidade Deve-se analisar a estabilidade da empenagem, de modo que esta apresente eficiência. Isto porque a empenagem é projetada para que o aeromodelo retorne a sua condição de equilíbrio. Este equilíbrio, no qual se encontra o aeromodelo durante o vôo, pode ser perturbado por rajadas e ventos, fazendo com que a empenagem atue, estabilizando o aeromodelo e facilitando sua pilotagem quando sujeito a esses fenômenos. Para que o avião seja estável, é preciso que ele apresente uma margem estática positiva entre 5% e 10%, com o seu ponto neutro localizado pouco atrás do centro de massa do avião, segundo Raymer (1999). Assim, para o cálculo da margem estática deste avião deve-se primeiramente determinar o seu ponto neutro, desprezando-se os efeitos do motor de modo a garantir a estabilidade da aeronave em caso de uma falha do mesmo. 3.2. Controle A aeronave deve apresentar um bom controle de decolagem e controle em manobra, além de não ser excessivamente estável, o que prejudicaria suas qualidades em manobra. Quanto ao controle de decolagem deve-se calcular a localização do trem de pouso com relação ao centro de gravidade da aeronave de forma a possibilitar que o profundor tenha força suficiente para rotacionar a aeronave durante sua decolagem. Já para o controle em manobra usando um fator de carga constante, observa se pela experiência que o profundor tem força suficiente para manter o ângulo de incidência da aeronave constante, gerando um controle de manobra aceitável. Fig. 2. Forças que agem na asa de uma aeronave 3. METODOLOGIA Definir a configuração da aeronave faz com que a mesma seja capaz de cumprir os requisitos especificados. Para criação do grupo de pesquisa e inserção do mesmo em competições, há a necessidade de muito investimento inicial, assim; buscar-se-á na fase inicial deste projeto a redução da aeronave à sua essência, da qual serão identificados os fatores primários que influenciam as características desejadas para a obtenção de uma aeronave competitiva: escolha do aerofólio, concepção da asa, concepção da empenagem vertical e horizontal e concepção da fuselagem além da aerodinâmica, estrutura, etc., a saber: 3.3. Desempenho O desempenho da aeronave consiste na decolagem dentro de uma certa distância com a carga necessária e conseguir fazer o vôo e pousar. Assim, o desempenho é o reflexo da concepção da aeronave, do conjunto motopropulsor, como também da parte aerodinâmica. O desempenho de uma aeronave é obtido a partir das características aerodinâmicas com o objetivo de estimar parâmetros para analisar com maior precisão a operação do projeto. Assim uma vez determinadas as características aerodinâmicas da aeronave, é possível a obtenção de alguns parâmetros de desempenho da mesma, que são de grande importância para a especificação da operação adequada da aeronave. Os dados provavelmente serão analisados de forma a se obter a maior carga útil levada pela aeronave sem comprometer outras características importantes das fases de vôo do avião. Provavelmente os requisitos serão ponderados com base na regulamentação FAR 23. 662 PROJETO DE CONSTRUÇÃO DE UM AEROMODELO COMO AUXÍLIO NOS ESTUDOS DE ENGENHARIAS Vinicius Souza Morais, Altamir Olivo Júnior, Jorge Sakamoto Filho, Roni Aparecido Amaral 3.4. Configuração da Aeronave A partir da nova equipe a ser criada, para configuração básica da aeronave, será criado um monoplano, com a asa logo acima da fuselagem e com tubo de cauda com empenagem vertical convencional. 3.5. Distribuição de sustentação A forma como a força de sustentação é distribuída sobre uma asa finita é uma das questões mais importantes para o cálculo de esforços sobre este componente. Esta distribuição definirá a silhueta das distribuições de esforços, bem como o momento fletor e o momento torçor. O problema de resolver a forma desta distribuição foi solucionado por Ludwig Prandtl no início do século XX. Utilizar-se-á aqui o Método de Stender, o qual se baseia na hipótese de que a distribuição de cargas ao longo da envergadura é proporcional às áreas de uma asa imaginária. Esta asa tem cordas que são média geométrica das cordas reais de uma asa elíptica de mesma área e envergadura. 3.6. Projeto Aerodinâmico Com o desfecho da etapa conceitual do projeto, o setor de Aerodinâmica deverá ter em mãos as dimensões da asa e da empenagem horizontal (as geometrias deverão já estar definidas anteriormente). O ponto crucial da análise aerodinâmica é acertar o coeficiente de sustentação máximo da aeronave. No entanto, através de análises prévias e observações anteriores, sabe-se que o uso do auxílio de um dispositivo hipersustentador pode ajudar a chegar ao valor ideal. Se for o caso, o uso split-flap deverá ser usado pela sua simplicidade na construção e respectivo benefício. 3.7. Concepção da Asa A asa de uma aeronave tem como função primária a geração de uma força que equilibra o peso da aeronave. Seguindo-se este raciocínio, a equipe deverá procurar uma configuração que minimize o arrasto total para uma dada sustentação e que atenda os requisitos estipulados inicialmente. 3.8. Cargas na Fuselagem O carregamento atuante na fuselagem provém das cargas produzidas pelas empenagens, motor, cargas de solo e as cargas de inércia do avião. O peso da carga útil será de grande importância para este tipo de fuselagem, pois este contribuirá para suportar os esforços impostos pela asa. A tração máxima do motor deverá ser analisada, assim como o torque limite. As cargas resultantes na fuselagem oriundas das empenagens, do trem de pouso e da asa serão calculadas. 3.9. Aeronave completa Para a aeronave completa agregou-se a contribuição de todas as partes, iniciando-se pela obtenção dos coeficientes de sustentação e depois dos coeficientes de arrasto em função dos ângulos de ataque, construindo-se assim as polares da aeronave. Para o cálculo do coeficiente de sustentação da aeronave, o método descrito por Roskan deverá ser usado, somando-se as sustentações da asa com e sem dispositivo hipersustentador, do profundor e da fuselagem, e adotando-se como referência a área alar. No caso do coeficiente de arrasto, os coeficientes da asa e das empenagens, junto com o arrasto da fuselagem, trem de pouso e motor deverão se determinados, pois são fatores de extrema importância nesse tipo de aeromodelos. Para o trem de pouso e motor, utilizar-se-á a metodologia de Nicolai (2002). Já para o arrasto da fuselagem, este deverá ser obtido a partir de Roskan, levando-se em conta o arrasto parasita e o induzido. Por fim, somam-se todos os arrastos e determina-se o coeficiente de arrasto da aeronave adotando-se como referência a área alar. 4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO As áreas envolvidas no projeto não concentram apenas na Engenharia Mecânica, também passa pelas Engenharias Mecatrônica, Computação e Engenharia Civil, além de Marketing e Publicidade / Propaganda, e é de interesse comum para toda comunidade científica. Mais especificamente na construção, o enfoque principal é na área de projetos, materiais e instrumentação (Engenharia Mecânica e Civil). Para a área de programação e controle da aeronave, dedicam-se a Engenharia Mecatrônica e Computação. Quando se trata na busca de patrocínio e o visual da aeronave, os cursos de Marketing e Publicidade / Propaganda são requeridos. O projeto deste protótipo foi visando uma praticidade e viabilidade, como já citado, de aplicabilidade na união teoria-prática do ensino de engenharia em escolas de nível superior no intuito de aplicar os conhecimentos obtidos em sala de aula os quais correspondem a aplicações de diversos mecanismos combinados de tal forma que definam ou resolvam determinados problemas aerodinâmicos. AGRADECIMENTOS À Comunidade UCDB em geral por disponibilizar o espaço e viabilizar a construção do aeromodelo rádio-controlado REFERÊNCIAS [1]LI ROSKAM, J.(2000). rence, DARcorporation. Airplane design. Law- [2]PUB MINISTÉRIO DA AERONÁUTICA, Departamento de Aviação Civil - Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica, RBHA 23. [3]PUB NICOLAI, L. M. Estimating R/C Model Aerodynamics and Performance. Lockheed Martin Aeronautical Company, 2002. [4] RAYMER, Daniel P. Aircraft Design: A Conceptual Approach. 3. ed. Sylmar, Califórnia: AIAA Education Series, 1999.