XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
MERCADO DO ETANOL BRASILEIRO:
COMPOSIÇÃO DE PREÇOS E
PERSPECTIVAS
Sara Lucia da Silva Ribas (UFOP)
[email protected]
Bruna de Fatima Pedrosa Guedes Flausinio (UFOP)
[email protected]
Este artigo visa realizar uma análise do mercado de etanol hidratado
num âmbito nacional diante dos principais fatores que determinam sua
precificação, uma vez que durante todo o processo produtivo não há
intervenção ou subsídio do governo,, salvo a porcentagem de adição de
etanol anidro na gasolina. Neste sentido, apresenta um breve relato de
tais fatores associando-os a composição dos preços para o etanol que
é utilizado diretamente como combustível. Assim, traça um panorama
atual do mercado considerando as perspectivas para um futuro
próximo.
Palavras-chaves: Etanol, mercado, preços, álcool, cana-de-açúcar
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1. Introdução
Assunto em destaque nos últimos anos, o etanol combustível ou álcool, como é mais
popularmente conhecido, tem sido alvo constante, no Brasil, de muitas críticas e
questionamentos a respeito de sua confiabilidade e índice de preços. Não obstante, em uma
época de constantes debates a respeito das mudanças climáticas e aquecimento global, a
produção, utilização e comercialização do álcool combustível assume um lugar estratégico,
como fonte de energia renovável, que demandará novas linhas de ação política, a fim de que
tal impasse entre consumidores e produtores possa ser solucionado. Além disso, a falta de
etanol, relacionada aos problemas de entressafra e alta nos preços do açúcar, e a
competitividade com a gasolina poderão levar à retração da indústria dos veículos flex e à
descrença no próprio programa de energia limpa.
2. Caracterização
2.1. Definição
Etanol, ou álcool etílico (fórmula molecular C2H6O), é uma substância orgânica pura obtida
da fermentação de açúcares, comumente utilizado na fabricação de bebidas alcoólicas bem
como na perfumaria. Este álcool pode ser produzido a partir de várias matérias-primas como o
milho e a cana-de-açúcar.
No Brasil, o etanol também é utilizado em grande escala como combustível automotivo, puro
(hidratado) ou em misturas (anidro) à gasolina, em motores de combustão interna com ignição
por centelha (ciclo Otto), constituindo assim um mercado em ascensão e o estabelecimento de
uma indústria química de base, sustentada na utilização de biomassa de origem agrícola e
renovável.
2.2. Tipos de etanol
O etanol é classificado em dois tipos básicos:
• Etanol anidro: é o etanol isento de água. Seu principal componente é o álcool etílico, com
teor alcoólico mínimo de 99,3°. É utilizado como aditivo na gasolina no processo de
octanagem numa proporção de 20 a 25%.
• Etanol hidratado: é uma mistura hidro alcoólica composta de 92,6° de álcool etílico e 5% de
água. É utilizado diretamente como combustível para veículos leves com motores à
combustão.
3. Processo Produtivo
A cadeia produtiva do etanol vai desde o plantio da matéria-prima, passando pela colheita,
processamento nas destilarias e finalmente a comercialização do etanol.
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A área destinada à plantação da cana-de-açúcar corresponde a cerca de 2,5% de toda a terra
arável do país, o que equivale a um valor em torno de 8 milhões de hectares, colocando o
Brasil como o maior produtor do mundo, detendo 35% da produção mundial (SILVA, 2010).
As regiões Centro-Sul e Nordeste são as principais produtoras de cana-de-açúcar como pode
ser observado na Figura 3.1; as áreas em vermelho representam as regiões com maior
concentração de plantações de cana-de-açúcar e usinas de processamento para a produção de
etanol e açúcar. Ainda assim, cerca de 90% de toda a produção de cana-de-açúcar concentrase na região Centro-Sul com o estado de São Paulo sendo o maior produtor (UNICA, 2012).
Figura 3.1 – Mapa de produção da cana-de-açúcar
Fonte: UNICA (2012)
Antes de se iniciar o plantio da cana-de-açúcar uma série de estudos é realizada como, por
exemplo, a espécie a ser plantada, bem como a análise do solo e das condições climáticas da
região. Essa última será decisiva na produtividade da safra uma vez que ocorre um melhor
desempenho em climas que apresentam duas estações distintas e bem definidas – uma quente
e úmida, que favorece o processo de germinação e formação de brotos e outra fria e seca,
favorável à maturação e acúmulo de sacarose.
No Brasil, o ciclo da cana-de-açúcar dura, em média, seis anos. Após esse período é
necessário refazer o plantio. Durante o ciclo são realizados cinco cortes, sendo que o primeiro
ocorre de 12 a 18 meses após o plantio e, posteriormente, a cada um ano. Depois do primeiro
corte, a cana-de-açúcar cresce por rebrotamento e a cada rebrota há uma queda na
produtividade.
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A etapa seguinte é a colheita, que é realizada no período de abril a dezembro na região
Centro-Sul e de agosto a abril na região Nordeste, que são períodos de maior seca, o que
favorece a maturação da cana-de-açúcar.
O transporte deve ser feito o mais rápido possível, visto que a cana-de-açúcar é um produto
perecível e não pode ser armazenada por mais do que poucos dias. O próprio método de
colheita – manual ou mecanizada, interfere na qualidade do produto.
Ao ser destinada para as usinas de destilação, é feita uma análise laboratorial dos teores de
sacarose da cana-de-açúcar, o que irá definir todo o processamento na usina.
Uma vez na usina, a cana-de-açúcar, em geral, é lavada (somente a cana-de-açúcar inteira) e
segue para o sistema de preparo e extração. A primeira etapa do processamento propriamente
dito é a moagem da cana-de-açúcar. Dela é obtido o caldo que será processado para a
produção de etanol e açúcar. Este é inicialmente peneirado e tratado quimicamente, para
coagulação, floculação e precipitação das impurezas, que são eliminadas por decantação.
Após ser tratado, o caldo é evaporado para ajustar sua concentração de açúcares e,
eventualmente, é misturado ao melaço (solução residual do processo de cristalização da
sacarose, rica em açúcar e que não retorna ao processo de fabricação do açúcar), dando
origem ao mosto, uma solução açucarada e pronta para ser fermentada.
Para a produção de etanol, feita a partir tanto do caldo tratado como da mistura de caldo e
melaço, também chamado de mosto, a etapa seguinte é de fermentação que será realizada por
leveduras (fundos da espécie Saccharamyces cerevisae) nas chamadas dornas de fermentação.
Após a fermentação, o líquido obtido é chamado de vinho fermentado e possui uma
concentração de álcool que varia de 7 a 10%. O álcool desse vinho é recuperado em colunas
de destilação e nelas se obtém o etanol na forma hidratada com cerca de 96% de álcool e 4%
de água, em volume (BNDES; CGEE, 2008).
Para melhor compreensão dessas etapas, é apresentado um fluxograma do processo de
obtenção do etanol de cana-de-açúcar na Figura 3.2.
Por fim, o etanol hidratado pode ser estocado como produto final ou como matéria-prima para
a produção do etanol anidro, o qual é obtido por mais de uma etapa de desidratação o que irá
lhe conferir 99,7% em volume de álcool.
A maior parte das 432 usinas do Brasil, segundo a Unica (2010), é capaz de produzir tanto
etanol quanto açúcar, variando a proporção de acordo com os interesses de mercado da usina.
cana-de-açúcar
caldo
impurezas
Caldo tratado
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Melaço
levedura
vinho
Etanol
hidratado
Etanol
hidratado
Etanol hidratado
Etanol anidro
Figura 3.2 – Processo produtivo do etanol
Fonte: Elaboração própria
4. Mercado do etanol
A abordagem do tema proposto neste trabalho remete ao mercado do etanol, envolvendo
questões como oferta e demanda, produção concomitante com açúcar bem como as políticas
de governo envolvidas, as quais determinam o mercado, traçando um panorama atual com as
tendências para os próximos anos.
4.1. Políticas de governo
Em razão do forte impacto negativo causado pelos dois choques do petróleo na década de
1970, foi criado um programa de governo de incentivo à produção de etanol com o intuito de
diminuir a dependência de combustíveis fósseis, o chamado Programa Nacional do Álcool –
Proálcool.
Com o Contra choque do petróleo em 1989, houve forte queda dos preços internacionais do
petróleo e o etanol começou a perder competitividade frente à gasolina, não obstante o
governo retirou os subsídios concedidos para a produção de álcool. Assim, não houve como
remunerar o alto nível de oferta necessária para o atendimento da frota, culminando na crise
de abastecimento de etanol em 1990.
Deste então, a intervenção governamental das atividades do setor sucroalcooleiro vem
sofrendo redução, com a eliminação gradual de práticas de políticas públicas para
regulamentação do mercado de etanol (UNICA, 2010).
Atualmente, os preços do etanol e do açúcar no mercado doméstico brasileiro não têm
nenhuma regulamentação governamental sendo determinados apenas por regras de livre
comércio e concorrência plena.
Também não existem linhas especificas de financiamento para os produtores de cana-deaçúcar no sentido de ampliar a capacidade de produção nem na renovação dos canaviais que
são limitados a seis safras por plantio. A ausência de uma política pública que especifique
claramente qual deve ser a participação do etanol no mix de combustíveis pode afetar o
crescimento sustentado da indústria do etanol no Brasil (ANÁLISE ENERGIA, 2012).
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O Programa de Financiamento à Estocagem de Álcool é, atualmente, o único programa de
apoio decidido em favor do setor sucroalcooleiro nacional. Em dezembro de 2011, foi
publicada no Diário Oficial da União pela presidente Dilma Rousseff uma medida provisória
com a intenção de, ao oferecer jutos menores para o financiamento à estocagem de etanol,
suprir a demanda interna e garantir um preço razoável no período de entressafra.
Diante de um cenário de recuo na produção e alta nos preços do etanol, a principal ação
tomada pelo governo em 2011, foi a medida provisória que autoriza a ANP a fiscalizar e a
regulamentar o setor, podendo, inclusive, decidir sobre políticas de importação e exportação.
Também foi definido que o etanol deixa de ser derivado da produção agrícola para ser
considerado um combustível estratégico. Além disso, o governo reduziu a porcentagem
obrigatória de álcool anidro adicionado na gasolina, de acordo com a Portaria MAPA nº 678,
passando de 25% para 20% em outubro de 2011.
4.2. Safra
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento - Conab (2011), a lavoura de cana-deaçúcar continua em expansão no Brasil. As áreas em produção tiveram aumento considerável,
sendo mais significativo nos Estados de: Minas Gerais (83.100 ha), Mato Grosso do Sul
(84.700 ha), Goiás (79.110 ha) e Mato Grosso (13.040 ha).
Quanto ao aspecto agronômico, a lavoura de cana-de-açúcar apresentou na safra 2010/11 um
desenvolvimento aquém do ideal e inferior ao da safra passada, levando a uma produtividade
menor que a estimada inicialmente pelos produtores. As causas foram diversas, mas, o clima
foi o principal causador da queda da produção, em consequência das adversidades ocorridas a
partir do mês de abril até outubro de 2010, com chuvas escassas em toda a região CentroOeste e Sudeste (CONAB, 2011).
De acordo com a União da Indústria da Cana-de-açúcar (UNICA), a previsão era de 12% de
alta na safra 2010/2011, porém o setor alcançou apenas 7%. Até 15 de outubro de 2011, a
produção de etanol na safra 2011/2012 foi de 18,2 bilhões de litros, recuo de quase 16% em
relação ao mesmo período da safra anterior.
A previsão do Conab (2011) para a produção de etanol é de 287,6 milhões de toneladas de
cana-de-açúcar para produção de 22.857,6 bilhões de litros de etanol, 17,2% menor que a
produção da safra 2010/11. Deste total, 9.069,3 bilhões de litros serão de etanol anidro e
13.788,3 bilhões de litros serão de etanol hidratado. Por estes números, o etanol anidro deverá
ter um aumento de 13,1% na produção e o etanol hidratado deve ter uma redução de 29,6%,
quando comparados com a produção de etanol da safra anterior.
4.3. Veículos Flex
A última fase definida do Proálcool tem como fatores de discussão o efeito estufa e a
produção dos chamados carros flexíveis ou simplesmente flex, que foram introduzidos no
Brasil no ano de 2003.
Esse tipo de carro surgiu nos Estados Unidos e com o mesmo propósito no Brasil de poder
utilizar o álcool como combustível alternativo à gasolina.
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A tecnologia funciona quando um sensor identifica a quantidade de álcool combustível com
base no teor de oxigênio do gás do escapamento e o motor é ajustado automaticamente. Feito
de ligas especiais, o motor do carro flex roda bem com etanol, com gasolina ou com a mistura
de ambos em qualquer proporção. Dessa forma, a demanda por combustíveis dos veículos
com esse tipo de motor será determinada, no essencial, pela relação de preços entre o etanol e
a gasolina. Pode-se dizer que essa tecnologia transformou o motor convencional à gasolina
em um motor inteligente (SILVA, 2010).
O primeiro carro flexível no Brasil foi o Volkswagen Gol Total Flex e desde então a produção
desse tipo de automóvel cresceu no país vertiginosamente chegando, hoje, a marca de quase
90% dos carros produzidos a saírem de fábrica com essa tecnologia. O Gráfico 4.1 analisa os
níveis de produção de automóveis por tipo de combustível no período compreendido entre os
anos 2000 e 2010, mostrando a ascensão dos veículos bicombustíveis a partir de 2003 e a
extinção dos carros movidos somente a álcool, em 2006.
Gráfico 4.1 – Produção brasileira de carros por tipos de combustível
Fonte: Anuário da Indústria Automobilística Brasileira (2011)
5. Produção de etanol no Brasil
Como no Brasil, a precificação do etanol é determinada pelo próprio mercado e pela
concorrência, pode-se dizer que sua determinação está diretamente ligada à produção da canade-açúcar, uma vez que esta irá definir o comportamento do mercado.
A cana-de-açúcar, principal matéria-prima para a produção tanto de etanol quanto de açúcar
no Brasil, vem apresentando um aumento progressivo de produção nos últimos os com
destaque para um considerável incremento nas últimas safras como é apresentado no Gráfico
5.1.
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Gráfico 5.1 – Processamento de cana-de-açúcar no Brasil e nas regiões Centro-Sul e Norte-Nordeste
Fonte: UNICA (2010)
Nota-se que, em valores absolutos, a produção mais que duplicou na última safra da série em
relação à primeira da década.
A proporção do total da cana-de-açúcar produzida destinada à produção de açúcar e etanol é
chamada mix de produção, o qual também está diretamente ligado à produção dos mesmos. A
Tabela 5.1 mostra o mix das últimas safras. Verifica-se que a maior parte da cana-de-açúcar
processada é destinada à produção do etanol além de existirem oscilações no mix de uma safra
para outra, apesar da série histórica ser composta por apenas três safras.
Safra
Açúcar (%)
Etanol (%)
2007/08
44,19
55,81
2008/09
39,66
60,34
2009/10
43,17
56,83
Fonte: Silva (2010)
Tabela 5.1 – Tabela mix de produção nas últimas três safras
Quanto aos rendimentos industriais de cada produto por tonelada de cana-de-açúcar
processada, BNDES & CGEE (2008) coloca que, para a produção exclusiva de etanol, o
rendimento de uma tonelada de cana-de-açúcar é de 86 litros de etanol hidratado, ao passo
que para a produção de açúcar, o rendimento é de 100 Kg desse produto além de mais 23
litros de etanol hidratado oriundo do melaço.
Analisando a produção do etanol, observa-se através do Gráfico 5.2, que no período que vai
desde o ano 2000 até 2005, a produção de etanol anidro superou a do hidratado, o que havia
ocorrido apenas no período compreendido entre 1976 e 1980, e em 1983 isoladamente em
virtude do Proálcool que regulamentou a adição de 22% de etanol anidro à gasolina. Atribui-
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se esse fato a um aumento no consumo de gasolina naquele quinquênio, visto que naquela
época a proporção de anidro na gasolina era de 25%. A partir de 2006, a produção de etanol
hidratado volta a ultrapassar a do anidro e segue no ritmo de crescimento considerável,
adquirido entre 2003 e 2004 em consequência do surgimento dos veículos flex, salvo a uma
queda no ano de 2009 refletindo os efeitos da crise econômica mundial de 2008.
Gráfico 5.2 – Produção brasileira de Etanol anidro e hidratado
Fonte: EPE (2011)
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, perdendo apenas para os Estados
Unidos. Entretanto, é o maior exportador no mercado internacional. De acordo com dados da
Unica (2010), no ano civil de 2009, o volume de exportação foi de 3,31 milhões de litros.
No mercado nacional, a região formada por estados do sudeste, centro-oeste e sul,
denominada Centro-Sul, detém a maior parcela da produção nacional frente à Norte-nordeste,
composta pelos estados produtores das regiões Norte e Nordeste. Segundo ANP (2011), o
Centro-Sul produziu 93,32% da produção total de etanol em 2010, com destaque para o
estado de São Paulo, que respondeu por 56,38% da produção nacional no mesmo período.
6. Precificação de etanol no Brasil
Neste capítulo será feita uma análise da precificação do etanol no Brasil, a partir do que foi
discutido até aqui no sentido de aspectos que influenciam na composição dos preços. Também
serão utilizadas séries históricas da evolução dos preços. Porém, serão desconsideradas as
oscilações de valor monetárias utilizando-se apenas dos valores correntes.
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Assim como em qualquer outro mercado, a produção e o nível de preços para o etanol e
açúcar também sofrem oscilações embora o mercado alvo seja diferente para os dois produtos;
a maior parte do açúcar produzido é escoada para o mercado internacional enquanto que a
maioria da produção do etanol tem o destino dentro do território nacional, seja por uma
questão de suprir a demanda interna, seja por barreiras tarifárias impostas por outros países.
Como derivados de uma mesma matéria-prima, os níveis de produção e precificação do etanol
e do açúcar estão intrinsecamente ligados. Assim, um aumento no preço do etanol é atribuído
a um escoamento do total de cana-de-açúcar processada para a produção de açúcar uma vez
que seu preço no mercado internacional deve estar mais alto.
Esta afirmação se mostra um pouco incoerente com que o foi exposto até aqui, ou seja, de
acordo com a tabela com o mix de produção apresentada para as últimas três safras, a maior
parte da cana-de-açúcar processa é destinada para a produção de etanol. Além disso, a
produção de cana-de-açúcar tem mantido certa estabilidade na oferta de etanol e açúcar,
ambos com tendências de aumento para tal oferta.
De acordo com Silva (2010), o aumento do preço, bem como a quantidade produzida de
etanol pode estar, também, relacionado à dificuldade e custo de armazenagem e distribuição
do etanol e dos impostos que incidem sobre o produto.
Segundo Zanão (2010), no período de entressafra é comum uma concentração do mercado do
etanol por parte das usinas mais capitalizadas uma vez que estas possuem capacidade para
manter estoques de álcool e assim ganham poder de negociação frente aos pequenos
produtores que continuam comercializando o álcool combustível.
Silva (2010) também cita os aspectos técnicos naturais do processo produtivo como
reguladores da produção e precificação. Segundo Macedo & Sousa (2010), durante o período
chuvoso o volume de sacarose menor e se torna mais viável maximizar a produção de etanol e
reduzir a produção do açúcar. O contrário ocorre para o período de seca.
Filho et al (2008) cita que a projeção do comportamento dos preços do etanol apresenta
grandes dificuldades. Os autores também colocam que apesar das fontes de incerteza atreladas
a esse tipo de projeção – tais como o comportamento da inflação e a taxa de câmbio – os
preços do etanol tenderão, a médio e longo prazo, a se associar mais aos dos derivados de
petróleo do que aos do açúcar.
O Gráfico 6.1 traz a série histórica dos preços ao consumidor do etanol anidro e hidratado
verificados no Estado de São Paulo no período de 2002 a março de 2012. Os preços
praticados nesse estado são considerados representativos uma vez que sua produção responde
por quase 60% da produção total nacional assim como a semelhança de suas condições
produtivas com as do restante do Centro-Sul, a qual responde por mais de 90% da produção
brasileira de etanol.
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Gráfico 6.1 – Preço etanol anidro e hidratado no Estado de São Paulo 2002-2012
Fonte: CEPEA/ESALQ (2012)
De acordo com o Gráfico 6.1, pode-se perceber que os preços do etanol anidro sempre
estiveram acima dos do hidratado. Esse comportamento pode ser explicado pelo fato de ser
fixada uma porcentagem desse etanol para adição na gasolina. Ora, se não há regulamentação
governamental sobre a precificação do etanol e se existe uma quantidade mínima a ser
produzida de etanol anidro a fim de suprir tal proporção, obviamente os produtores darão
preferência a produção de etanol anidro, uma vez que este seja mais lucrativo. Assim, diante
da crise de abastecimento no primeiro semestre de 2011 em função de uma queda da
produção, já exposta neste artigo, a maior parte do que foi produzido foi destinada a produção
do etanol anidro causando um pico no seu preço como pode ser observado no gráfico próximo
a maior daquele ano.
7. Perspectivas para o etanol brasileiro
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) formulou um estudo em 2008 onde apresenta as
perspectivas para o etanol no Brasil no período que vai desde aquele ano até 2017,
apresentando projeções para o produto baseadas na demanda e oferta de etanol produzido no
Brasil para tal período.
Pelos resultados obtidos na projeção de demanda, o crescimento da participação dos flex-fuel
na frota de veículos leves é o fator decisivo para o aumento do mercado nacional de etanol
carburante. Em 2017, somente essa categoria de veículos demandará 51,0 dos 53,2 bilhões de
litros de etanol consumidos no país.
Em relação ao mercado de veículos de motores à combustão, o etanol representará, em 2017,
aproximadamente 80% do total do volume de combustível líquido consumido. Ainda de
acordo com estudo, essa perspectiva confirma a liderança do Brasil na substituição de
combustível fóssil no setor de transporte, o que é atualmente perseguido por vários países.
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EPE (2008) coloca que, quanto ao mercado internacional de etanol, o Brasil deverá manter-se
na liderança sem que o mercado interno seja afetado. O que pode ser explicado pela
disponibilidade de terras aráveis que ainda existem para ser exploradas.
Filho et al (2008) fazem uma projeção de oferta, baseada em cenários futuros de utilização de
etanol hidratado, de excesso de oferta até 2015, com uma tendência de equilíbrio entre oferta
e demanda a partir de 2012.
A União da Indústria da Cana-de-açúcar prevê uma média de 34,6 x 106 m³ de demanda do
mercado interno em 2015 contra 12,3 x 106 m³ para exportação. Para o mesmo ano, a
projeção do Ministério de Minas e Energia (MME) não é muito diferente, 35 x 106 m³ pra
demanda interna e 12 x 106 m³ para exportação.
Além disso, ressalta-se a expectativa de um avanço tecnológico com a obtenção do etanol
celulósico, ou seja, o etanol obtido a partir da quebra das cadeias da celulose de materiais
como o bagaço e a palha da cana-de-açúcar, o que permitirá um acréscimo na produção sem a
necessidade de aumento da área plantada.
8. Conclusão
Apesar de preços do açúcar exercerem influências diretas e indiretas no preço do álcool
combustível, a questão da composição dos preços deste também está relacionada a fatores
como a eficiência do processo produtivo das usinas, a proporção do mix, as condições
climáticas favoráveis e a inexistência de uma política pública específica para esse mercado.
No entanto, do ponto de vista de disponibilidade de terras aráveis para o cultivo da cana-deaçúcar, há boas expectativas, pelo menos a médio prazo, o que pode levar a um ganho
considerável na produtividade do álcool combustível, aumentando assim a oferta e
diminuindo os preços. Outra expectativa de melhoria é com relação às inovações tecnológicas
que vem surgindo no aproveitamento da cana-de-açúcar.
Referências
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Análise Editorial, 2011.
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FILHO. P. S. C. F. et al. Perspectivas pra o etanol brasileiro. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 27, p.21-38,
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mercado do etanol brasileiro: composição de preços e