Senhora (José de Alencar)
Senhor a é um r omance passado na pr imeir a met ade do século XI X e que expõe ao leit or , como pano de f undo, valor es
e costumes da aristocracia escravista do Segundo Reinado. O romance conta-nos à vida de uma bela moça desiludida e
rancor osa chamada Aur élia Camar go. Aur élia passou uma inf ância pobr e j unt o à mãe doent e e um ir mão que veio a
f alecer na adolescência. Nar r ado em t er ceir a pessoa; a pr imeir a par t e (o Preço) nar r a os episódios at uais, enquant o
que a Segunda par t e (Quitação), fala-nos do passado de Aur élia, seguem os capít ulos: Posse e Resgat e. Aur élia f oi o
fruto da união entre o filho de um rico fazendeiro e uma órfã pobre.
Seu pai, Pedr o de Sousa Camar go, er a o
f ilho nat ur al de Lour enço de Sousa Camar go, um homem pr epot ent e e sever o que vivia isolado em suas t er r as.
Lour enço, apesar de não r econhecer o f ilho como her deir o, mant inha-o no Rio de J aneir o com uma boa vida enquant o
est udava Medicina. Foi na cor t e que Pedr o conheceu a mãe de Aur élia, Emília Lemos, pobr e e ór f ã e por quem se
apaixonou.
Emília mor ava com um ir mão mais velho, Manuel J osé Cor r eia Lemos que, t ão logo soube do r omance ent r e a ir mã e o
est udant e, opor t unist ament e t r at ou de exigir do moço um document o que legit imasse sua condição de her deir o se
quisesse casar com Emília. Diant e dest a impossibilidade devido à conf lit uosa r elação que mant inha com o pai, Pedr o
decidiu f ugir e casar às escondidas com Emília. O velho Lour enço, sabendo que o f ilho vivia com uma moça de f amília
raptada, ordenou-lhe que largasse a Corte e regressasse à fazenda. Pedro manteve em segredo sua paixão assim como
seu casament o, e t eve de viver separ ado da esposa. Não t eve escolha. O pai o abandonar ia sem her ança caso soubesse
a ver dade. Após t er passado um ano da separ ação, Pedr o consegue ir ao Rio em visit a. Lá r et or na sua f or t e r elação
com Emília e conhece seu pr imeir o f ilho, Emílio, de dois meses. Mant êm em sigilo seus encont r os com a esposa e o f az
int er calando meses passados na f azenda com o pai e semanas no Rio, com sua f amília. Nessas cir cunst âncias nasce
Aur élia. Cer t o dia, Lour enço comunica ao f ilho da sua int enção em que se case com uma moça r ica da r egião. Pedr o
r esolve ent ão par t ir par a unir -se á sua esposa e f ilhos. Ao f ugir acaba mor r endo em um r ancho. O dono do r ancho, de
posse de uma malet a que Pedr o levava consigo, guar da-a com a int enção de ent r egá-la a Lour enço. O que de f at o
ocorre, porém muitos anos mais tarde. Aurélia vai crescendo ao desamparo, quase à míngua. A condição humilde em que
vive, e a mãe doent e pr ecisando de cuidados não lhe t r az alt er nat ivas a não ser expor -se à j anela na t ent at iva de
ar r anj ar um casament o. I mposição da pr ópr ia mãe. Aur élia, que por sua est ont eant e beleza at r aía os mais f inos moços
da Cor t e, sent e-se humilhada ao submet er -se a galant eios vulgar es. Seu pr ópr io t io lhe f az uma pr opost a indecor osa
par a que se t or ne pr ost it ut a of er ecendo-se como seu mediant e. Apesar da descida de sua r eput ação, é est imada por
dois r apazes da sociedade: Eduar do Abr eu e Fer nando Seixas. Aur élia e Fer nando apaixonam-se; ele pedindo-a em
casament o. Mas a f elicidade par a Aur élia dur a pouco. Apesar da int ensa r elação amor osa, Fer nando, possuidor de
per sonalidade int er esseir a, se vê t ent ado a casar -se com out r a moça, Adelaide, em que r eceber ia um dot e de t r int a
cont os. O pai de Adelaide quer ia impedir que a f ilha se casasse com Dr . Tor quat o Ribeir o, por quem nut r ia pr of unda
antipatia. Fernando desmancha o namoro com Aurélia para casar-se com Adelaide. Manuel Lemos, tio de Aurélia, fora o
agente catalisador desta trama de interesses; queria a sobrinha disponível, pois intentava tirar proveito econômico de
sua beleza. A essa alt ur a, Lour enço Camar go r ecebe do dono do r ancho em que o f ilho f aleceu, a t al malet a que por
tantos anos estava guardada. Abrindo-a, Lourenço encontra uma extensa carta que Pedro lhe escrevera contando toda
a verdade sobre seu amor por Emília e pedindo-lhe perdão. O pai, após ler a carta e com o coração enternecido, decide
reparar seu erro por ter sido tão rígido com o filho. Vai ao Rio de Janeiro procurar Aurélia e os netos e a faz herdeira
de sua f or t una. Algum t empo depois mor r e Emília Lemos. Aur élia, enquant o aguar da os t r âmit es da her ança que a f ar á
milionár ia, r ecebe o apoio de sua par ent a dist ant e, D. Fir mina Mascar enhas e do Dr . Tor quat o. De posse da f or t una
que lhe f or a dest inada e t endo como t ut or seu t io Lemos, Aur élia incube-o da administ r ação dos negócios. Sent e-se
ent ão, a par t ir daí, livr e par a seguir seus capr ichos. A pr imeir a par t e do livr o: O Pr eço, nar r a o per íodo at ual em que
vive Aur élia, cer cada de r iquezas. A vida opulent a que passa a t er leva-a a f r eqüent ar os salões ar ist ocr át icos da
época. Nest a par t e do livr o, há um br ilho de linguagem que se assemelha ao br ilho dest e novo ambient e, mant ido
através de gestos calculados, diálogos estudados e corteses e todo um jogo de interesses, oculto atrás de aparências.
Aur élia, após t er -se est abelecido conf or t avelment e em sunt uosa mansão, or dena ao t io Lemos que dê t r int a cont os ao
Dr . Tor quat o Ribeir o, possibilit ando-o de ef et uar seu casament o com Adelaide Amar al. Par a Fer nando Seixas, pede ao
tio, que ofereça a quantia de cem contos para casar-se com uma moça desconhecida, rica e jovem. Fernando não aceita
a pr opost a, sent indo-se ult r aj ado. Mas no dia seguint e a conver sa com Lemos, a mãe pedira-lhe vint e cont os par a o
enxoval de Nicot a, a f ilha caçula. Fer nando se vê ent ão pr eso a uma dívida domést ica, pois j á havia usado quase t oda a
poupança da f amília com os pr ópr ios gast os. Resolve ent ão aceit ar a pr opost a de Lemos desde que lhe sej am
adiant ados vint e cont os. Lemos concor da e Fer nando ent r ega o dinheir o à mãe. Q uando Lemos apr esent a a noiva a
Fer nando, est e ent r a em êxt ase por se t r at ar de Aur élia. Out r or a a abandonar a, por ém nunca deixou de amá-la.
Sente-se um f elizar do. Mal sabendo ele que t udo não passa de um engodo, um plano de Aur élia par a vingar -se do exnamor ado que no passado a abandonou. O iludido r apaz, sem desconf iar , vai abr indo seu cor ação à noiva at é o dia em
que se casam e então sofre a grande decepção de sua vida. Fernando apesar de não ser rico, era aceito pela sociedade
ar ist ocr át ica por sua beleza e suas maneir as elegant es. Escr evia cr ônicas e er a f uncionár io público. No Segundo
Reinado er am comuns casament os por conveniências. Acont ecia que, muit as vezes, o amor ger minava mesmo em t ais
cir cunst âncias. Fer nando segue conf iant e at é a pr imeir a noit e do seu casament o, quando Aur élia o leva a seus
aposentos finalmente decorados e comunica-lhe com frieza que dormirão em quarto separados, além do que não haverá
nenhuma intimidade entre eles. Aurélia prossegue em seu discurso deixando-lhe bem claro o papel de marido comprado
apenas par a mant er as apar ências na sociedade. E que a r elação ent r e ambos ser á de senhor a e obj et o possuído.
Fer nando, nest a noit e, não dor me. Não t oca em nada do que lhe é of er ecido. Decide cont inuar t r abalhando na
repartição mesmo contra a vontade de Aurélia. Guarda os oitenta contos. Na terceira parte do livro: Posse, a narrativa
t r anscor r e em t or no do conf lit o ent r e Fer nando Seixas e Aur élia Camar go. Desenvolve-se ent r e o casal um ódio
mór bido r ecípr oco, enquant o t ent am mant er uma f alsa f elicidade. Cer t a ocasião Aur élia cont r at a um ar t ist a par a
pint ar o r et r at o do mar ido. Desej ava colocá-lo ao lado do seu na par ede da sala. A obr a não a agr adou, pois as f eições
de Fer nando denot avam abat iment o. Or denou ao ar t ist a que suspendesse o t r abalho. A cont r agost o do ar t ist a, que
alega t er pint ado a alma do modelo, o quadr o é int er r ompido. A par t ir daí Aur élia empenha-se em amenizar a r elação
com Fer nando por que o quer com o semblant e t r anqüilo. Fer nando, mais uma vez iludido com as seduções da mulher ,
per de a dur eza da expr essão. Aur élia pede ao pint or que r et or ne a obr a. Est e, por sua vez, capt a as novas f eições
suavizadas de Fer nando e ainda, sob a or ient ação de Aur élia, pint a-o com as r oupas que usava quando conhecer am-se
em Santa Tereza.
O t r abalho concluído é colocado na par ede do seu quar t o enquant o o out r o r et r at o em que o mar ido apar ece com a
expr essão dur a, é expost o na sala de visit as. Cer t o dia, Aur élia leva Fer nando ao seu quar t o e most r a-lhe o quadr o,
dizendo-lhe que ali est ava o homem que ela ainda amava. O ar t ist a conseguir a capt ar a alma dest e homem. Cont inua a
lhe f alar que quando ele volt asse a t er essa pur eza, t or nar ia a amá-lo. Tem um or gasmo involunt ár io diant e da obr a
deixando Fer nando per plexo. "Seixas est ava at ônit o. Sent indo-se ludíbr io dessa mulher , que o subj ugava a seu pesar ,
escutava-lhe as palavr as, obser vava-lhe os moviment os e não a compr eendia. Chamava a si a r azão, e est a f ugia-lhe,
deixando-o est át ico .Nos t empos de Sant a Ter eza, Eduar do apaixonar a-se per didament e por Aur élia. Rumou par a a
Eur opa na t ent at iva de esquecê-la. Depois de casada, Aur élia, sabendo que o r apaz havia caído em misér ia e est ava
preste a cometer suicídio, intercedeu e passou a ajudá-lo desde então com dinheiro e atenção.
Um dia, ao chegar em casa, Fer nando sur pr eendeu-os conver sando. Enciumou-se. Aur élia, por sua vez, cismava que
ainda existia algo entre o marido e Adelaide, pois encontrara um antigo presente da moça junto às coisas de Fernando.
As br igas em t or no dessas desconf ianças chegam a um alt o gr au de of ensas mút uas quando Fer nando comunica que
quer f or malizar a separ ação. Aur élia t ent a j ust if icar -se, mas Fer nando é inf lexível, quer r est it uir -lhe o dinheir o do
contrato imediatamente. Fernando fizera economias com o salário da repartição e ainda conseguira ganhar mais quinze
cont os de um ant igo negócio que só agor a lhe r ender a lucr o. Devolve à Aur élia o que lhe per t ence, os cem cont os, e
r econquist a sua liber dade de ser . Pr ont o par a deixá-lo, Aur élia det ém-se par a dizer -lhe que após t er em se t or nado,
ambos, est r anhos um ao out r o, t er -lhe submet ido às suas of ensas e humilhando-o dur ant e onze anos, ainda assim seu
amor continua intacto. Ajoelha-se a seus pés e suplica-lhe que aceite seu amor. "-Aquela mulher que se humilhou, aqui a
tens abatida, no mesmo lugar ode ultrajou-te, nas iras de sua paixão. Aqui a tens implorando teu perdão e feliz porque
t e ador a, como o senhor de sua alma .Fer nando er gue-a em seus br aços e beij a-a com paixão. Mas, possuído por um
pensament o desesper ançoso, af ast a seu r ost o do dela, olha-a com pr of undo pesar e diz: "- Não Aur élia! Tua r iqueza
separou-nos par a sempr e".Aur élia, ent ão solt a-se do mar ido, vai at é o t oucador e volt a com um envelope cont endo seu
t est ament o. "Ela despedaçou o lacr e e deu a ler a Seixas o papel. Er a ef et ivament e um t est ament o em que ela
conf essava o imenso amor que t inha ao mar ido e o inst it uía seu univer sal her deir o. - Eu o escr evi logo depois do nosso
casament o; pensei que mor r esse naquela noit e, disse Aur élia com gest o sublime. Seixas cont emplava-a com os olhos
r asos de lágr imas. - Est a r iqueza causa-t e hor r or ? Pois f az-me viver , meu Fer nando. É o meio de a
r epelir es. Se não f or o bast ant e eu a dissipar ei .
O Guarani (José de Alencar)
Na pr imeir a met ade do século XVI I , Por t ugal ainda dependia polit icament e da Espanha, f at o que, se por um lado
exasper ava os sent iment os pat r iót icos de um f r ei Ant ão, como most r ou Gonçalves Dias, por out r o lado a ele se
acomodavam os conservadoristas e os portugueses de pouco brio.
D. Ant ônio de Mar iz, f idalgo dos mais insignes da nobr eza de Por t ugal, leva adiant e no Br asil uma colonização dent r o
do mais rigoroso espírito de obediência à sua pátria. Representa, com sua casa-forte, elevada na Serra dos Órgãos, um
baluarte na Colônia, a desafiar o poderio espanhol.
Sua casa-f or t e, às mar gens do Pequequer , af luent e do Par aíba, é abr igo de ilust r es por t ugueses, af inados no mesmo
espír it o pat r iót ico e colonizador , mas acolhe inicialment e, com ingênua cor dialidade, bandos de mer cenár ios, homens
sedent os de our o e pr at a, como o avent ur eir o Lor edano, ex-padr e que assassinar a um homem desar mado, a t r oco do
mapa das famosas minas de prata.
Dent r o da r espeit ável casa de D. Ant ônio de Mar iz, Lor edano vai pacient ement e ur dindo seu plano de dest r uição de
t oda a f amília e dos agr egados. Em seus planos, cont udo, est á o r apt o da bela Cecília, f ilha de D. Ant ônio, mas que é
const ant ement e vigiada por um índio f or t e e cor aj oso, Per i, que em r ecompensa por t ê-la salvo cer t a vez de uma
avalancha de pedr as, r ecebeu a mais alt a gr at idão de D. Ant ônio e mesmo o af et o espont âneo da moça, que o t r at a
como a um irmão.
A nar r at iva inicia seus moment os épicos logo após o incident e em que Diogo, f ilho de D. Ant ônio, inadver t idament e,
mat a uma indiazinha aimor é, dur ant e uma caçada. I ndignados, os aimor és pr ocur am vingança: sur pr eendidos por Per i,
enquant o espr eit avam o banho de Ceci, par a logo após assassiná-la, dois aimor és caem t r anspassados por cer t eir as
flechas; o fato é relatado à tribo aimoré por uma índia que conseguira ver o ocorrido.
A lut a que se ir á t r avar não diminui a ambição de Lor edano, que cont inua a t r amar a dest r uição de t odos os que não o
acompanhem. Pela br avur a demonst r ada do homem por t uguês, t êm impor t ância ainda dois per sonagens: Álvar o, j ovem
enamor ado de Ceci e não r et r ibuído nesse amor , senão numa f r at er na simpat ia; Air es Gomes, espécie de comandant e
de armas, leal defensor da casa de D. Antônio.
Dur ant e t odos os moment os da lut a, Per i, vigilant e, não descur a dos passos de Lor edano, f r ust r ando t odas suas
tentativas de traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão ganhando a luta passo a passo.
Num moment o, dos mais her óicos por sinal, Per i, conhecendo que est avam quase per didos, t ent a uma solução
t ipicament e indígena: t omando veneno, pois sabe que os aimor és são ant r opóf agos, desce a mont anha e vai lut ar "in
loco" cont r a os aimor és: sabe que, mor r endo, ser ia sua car ne devor ada pelos ant r opóf agos e aí est ar ia a salvação da
casa de D. Antônio: eles morreriam, pois seu organismo já estaria de todo envenenado.
Depois de encar niçada lut a, onde mor r er am muit os inimigos, Per i é subj ugado e, j á sem f or ças, esper a, ar mado, o
sacr if ício que lhe ir ão impingir . Álvar o (a est a alt ur a enamor ado de I sabel, ir mã adot iva de Cecília) consegue
her oicament e salvar Per i. Per i volt a e diz a Ceci que havia t omado veneno. Ant e o desesper o da moça com essa
revelação, Peri volta à floresta em busca de um antídoto, espécie de erva que neutraliza o poder letal do veneno.
De volt a, t r az o cadáver de Álvar o mor t o em combat e com os aimor és. Dá-se ent ão o moment o t r ágico da nar r at iva:
I sabel, inconf or mada com a desgr aça ocor r ida ao amado, suicida-se sobr e seu cor po. Lor edano cont inua agindo.
Crendo-se complet ament e segur o, t r ama agor a a mor t e de D. Ant ônio e par t e par a a ação. Quando menos supõe, é
preso e condenado a morrer na fogueira, como traidor.
O cerco dos selvagens é cada vez maior. Peri, a pedido do pai de Cecília, se faz cristão, única maneira possível para que
D. Ant ônio concor dasse, na f uga dos dois, os únicos que se poder iam salvar . Descendo por uma cor da at r avés do
abismo, car r egando Cecília ent or pecida pelo vinho que o pai lhe der a par a que dor misse, Per i, consegue af inal chegar
ao r io Paquequer . Numa f r ágil canoa, vai descendo r io abaixo, at é que ouve o gr ande est ampido pr ovocado por D.
Ant ônio, que, vendo ent r ar em os aimor és em sua f or t aleza, at eia f ogo aos bar r is de pólvor a, dest r uindo índios e
portugueses.
Test emunhas únicas do ocor r ido, Per i e Ceci caminham agor a por uma nat ur eza r evolt a em águas, enf r ent ando a f úr ia
dos element os da t empest ade. Cecília acor da e Per i lhe r elat a o sucedido. Tr anst or nada, a moça se vê sozinha no
mundo. Pr ef er e não mais volt ar ao Rio de J aneir o, par a onde ir ia. Pr ef er e f icar com Per i, mor ando nas selvas. A
t empest ade f az as águas subir em ainda mais. Por segur ança, Per i sobe ao alt o de uma palmeir a, pr ot egendo f ielment e
a moça.
Como as águas f ossem subindo per igosament e, Per i, com f or ça descomunal, ar r anca a palmeir a do solo, impr ovisando
uma canoa. O r omance t er mina com a palmeir a per dendo-se no hor izont e, não sem ant es Alencar t er suger ido, nas
últimas linhas do romance, uma bela união amorosa, semente de onde brotaria mais tarde a raça brasileira...
A moreninha (Joaquim Manuel de Macedo)
O est udant e Filipe convida seu amigo e t ambém est udant e, Augusto, par a um f im de semana em sua casa, na
ilha de Paquet á. Augusto é f amoso pela inconst ância em r elação à namor adas. Filipe apost a que dest a vez ele se
apaixonar á por uma de suas pr imas. Na ilha, August o descobr e a adolescent e Carolina (a Mor eninha), ir mã de Filipe,
que lhe desperta sentimentos contraditórios.
Em seguida, def endendo-se da acusação de leviano com as donzelas, explica a dona Ana, avó da j ovem, o
mot ivo de sua volubilidade. Quando t inha t r eze anos est ava br incando na pr aia com uma linda e desconhecida menina.
Na ocasião, apar ecer a um r apazinho, dizendo que o pai est ava pr est es a mor r er . As cr ianças visit am o mor ibundo e,
const at ando a pobr eza da f amília, dão-lhe o dinheir o que possuíam. O doent e pede um obj et o pessoal de cada um:
Augusto ent r ega-lhe o camaf eu da gr avat a, a gar ot a um anel. Os obj et os são embr ulhados em pedaços de pano e
cosidos por sua esposa. Depois, o mor ibundo ent r ega a cada um a j óia do out r o, dizendo que eles se amar iam e no
futuro se tornariam marido e mulher. Portanto, o rapaz ficara preso a esta promessa juvenil.
O j ogo ent r e o j ur ament o do passado e o amor do pr esent e - pois, obviament e, Augusto acaba gost ando de
Carolina - se alt er na com br incadeir as mar ot as, er ot ismo negaceado, vinganças adolescent es, bilhet es secr et os,
pr oblemas nos est udos, pr oibições pat er nas, et c. Tudo é bast ant e puer il e inocent e, embor a se possa per ceber nessa
ciranda de namoricos um retrato aproximado dos folguedos sentimentais permitidos na época.
Estrutura da Obra:
1.
NARRADOR: A nar r ação é f eit a em t er ceir a pessoa, nar r ador oniscient e.O nar r ador sabe conduzir o
leit or pelos meandr os da hist ór ia sem per da de t empo, sabe t ambém quando e necessár io ceder sua voz
aos personagens, a fim de retardar o fluxo narrativo.
É o que acontece , por exemplo, no Capítulo II Fabrício fica em apuros, quando é reproduzida na íntegra
a longa car t a de Fabr icio a August o. Essa car t a, além de cont er inf or mações essenciais na hist ór ia, vale
por uma autêntica aula sobre o amor romântico.
O mesmo nar r ador cede quat r o capít ulos (do VI I ao X) par a r epr oduzir não apenas a esclar ecedor a conver sa
entre Augusto e D. Ana na gruta, como também o texto da lírica balada cantada por Carolina.
Nesses casos per cebe-se clar ament e a vocação do r omance par a incor por ar , mesmo que de modo quase
abrupto e artificial, outros gêneros literários , como a poesia épica.
2.
PERSONAGENS : Como r omance r omânt ico sur gido sob a f or ma de f olhet im, A Mor eninha apr esent a
per sonagens pr incipais planos, simples, const r uídos super f icialment e, embor a essa car act er ização
f uncione de modo a dest acá-los do gr upo a que per t encem. Eles são sempr e compost os de modo a se
tornar viável o que mais interessa nesse tipo de romance: a ação.
AUGUSTO: a f igur a de August o r esume um cer t o t ipo de est udant e alegr e, j ovial, int eligent e e
namor ador . Dot ado de sólidos pr incípios mor ais, f ez no início da adolescência um j ur ament o amor oso que
r et ar dar á a concr et ização de seu amor por Car olina. Esse impediment o de or dem mor al per mit ir á o
desenvolviment o de vár ias ações at é que, ao f inal da hist ór ia, Car olina r evelar á ser ela mesma a menina a
quem o jovem Augusto jurara amor eterno.
A car act er ização de August o é f eit a por et apas, em um per cur so que vai do social ao individual. No
início do livro, seus colegas o vêem como um romântico e inconstante, e ele próprio se reconhece como tal,
alegando louvar o ideal da beleza f eminina. Mais t ar de, ent r et ant o, August o conf essa a D. Ana que sua
inconstância é, na verdade, um modo de disfarçar sua fidelidade a um amor não realizado.
CAROLINA: A car act er ização f ísica da per sonagem é signif icat iva par a a cr iação de um mit o r omânt ico
genuinament e br asileir o: Car olina é muit o j ovem e mor eninha. E t ambém t r avessa int eligent e, ast ut a e
per sist ent e na obt enção de seus at ent os. O r et r at o da pr ot agonist a at ualiza e r ecicla um out r o
mit or omânt ico que ser á r ecor r ent e de J osé de Alencar e na poesia de Gonçalves Dias: o índio br asileir o.
Carolina encarna a jovem Ahy , que espera incasavelmente pelo seu amado Aoitin uma antiga história da
ilha que D. Ana conta a Augusto.
PERSONAGENS SECUNDÁRI OS: Os est udant es de Medicina, Leopoldo, Fabr ício e Filipe, são boêmios e
alegr es, e mal se individualizam uns em r elação aos out r os. As mocinhas companheir as de Car olina são f út eis e vivem
pensando em casar . Há t ambém as boas e r espeit áveis senhor as, como D. Ana, e as boas, por ém t ediosas senhor as,
daquelas que nas sociedades agar r am num pobr e homem, sent am-no ao pé de si e, maçando-o duas e t r ês hor as com
enfadonhas e intermináveis dissertações, finalmente o largam, supondo que lhe têm feito grande honra e dado o maior
prazer.
3.
ESPAÇO: O t ipo de ambient e pr edominant e é f ísico. For am encont r adas algumas descr ições
inter essant es, a que mais nos agr adou f oi : A I lha de... é t ão pit or esca como pequena. A casa da avó de
Filipe ocupa exat ament e o cent r o dela. A avenida por onde iam os est udant es a divide em duas met ades,
das quais a que f ica a esquer da de quem desembar ca, est a simet r icament e cober t a de belos ar vor edos,
est imáveis, ou pelo aspect o cur ioso que of er ecem. A que f ica a mão dir eit a e mais not ável ainda; f echada
de lado do mar por uma longa fila de rochedos.
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Resumo - Prosa Romântica