MARÇO 2012 FIDELIS ET CONSTANS ANO 13 - Nº 147 PUBLICADO COM APOIO DO INSTITUTO CIÊNCIA E FÉ E INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR www.cienciaefe.org.br aBORto REMEDIADo “ ” INDEPENDÊNCIA OU MORTE BEBÊ-MEDICAMENTO É UMA SOLUÇÃO? IRMÃOS FEITOS PARA SALVAR IRMÃOS JAIRO MARQUES | Pág. 3 LENISE GARCIA | Pág. 4 SALMO RASKIN | Pág. 5 Imagem: reprodução PSICOLOGIA E VIDA MÍSTICA Independência ou morte? JAIRO MARQUES Estava com o pé do ouvido no rádio, quando o locutor começou a entrevistar um defensor de mudanças nas regras de não punição ao aborto, hoje restritas a salvar a vida da gestante ou para preservar a honra da mulher após um estupro. ção e certo poder sobre a personalidade. Deste modo, todas as imagens usadas pela mística de Santa Tereza são símbolos. Assim sendo, a realidade ontológica da experiência mística, do mesmo modo que “Deus em si”, não recebem nenhuma ênfase no estudo psicológico, enfatizando-se sim, os aspectos psicológicos do fenômeno religioso. Por exemplo, um dos símbolos centrais de Moradas é o castelo e o fosso ao seu redor. Nas primeiras moradas, a alma é como uma pessoa muda e surda que progressivamente poderá despertar e virar-se para luz do sol, imagem esta que traz certa analogia com o mito da Caverna de Platão. Santa Tereza diz não ignorar que a alma e o castelo são uma e a mesma coisa sendo que, para descrever essa realidade inexprimível a melhor fórmula possível é o símbolo cuja riqueza é inesgotável. Sendo simultaneamente imagem e vida, o símbolo traz consigo uma relação íntima entre a experiência mística e a experiência simbólica e é ainda, a expressão imediata do centro da alma. A etimologia da palavra símbolo, em alemão Sinn-Bild, reúne ao mesmo tempo as duas ideias de imagem e sentido, exprimindo assim os dois aspectos do símbolo: a imagem universal e seu sentido particular. Ao se fazer uma análise fenomenológica dos símbolos, percebe-se que eles correspondem àquilo de que a humanidade se serviu para descrever uma realidade absoluta e sagrada. Para Santa Tereza, os símbolos referem-se a uma realidade do mundo interior e tomam, portanto, uma significação psicológica. No entanto, a todo símbolo individual corresponde um símbolo universal. Mais tarde, Santa Tereza corrigirá seu pensamento, dizendo saber perfeitamente que, embora tenha dito que o castelo é a alma, a alma ultrapassa todas as categorias do entendimento e todas as significações que podem envolver os símbolos ainda que, a única possibilidade que se tem para descrever tais realidades do mundo interior seja a linguagem simbólica. Sintetizando, a tradução da experiência mística em esquemas emprestados à psicologia e à linguagem simbólica é comum na chamada mística prática. • Em um dos pontos da fala, encafifei: dar direito a retirar o feto nos casos em que houver comprovação de que ele padece de “graves e incuráveis anomalias que inviabilizem sua vida independente”. O procurador da República que defendia a proposta foi categórico ao dizer que não há subjetividade possível no conceito e que ninguém irá morrer a troco de nada (uia!). Sonia Regina Lyra, Psicóloga, CRP 08/0745, Analista Junguiana (Inst. Junguiano SP, Assoc. Junguiana do Brasil AJB e Intern. Association for Analytical Psychology - IAAP). Mestre em Filosofia (PUCPR) e Doutora em Ciências da Religião (PUCSP). É presidente do ICHTHYS Instituto de Psicologia e Religião. [email protected] EDIÇÃO 147 - ANO 13 -MARÇO 2012 - Editado por Editora Alma Mater Ltda. (41) 3243.2530 - [email protected] / Editor e Diretor de Arte: Jubal S. Dohms - [email protected] / Produção: Dohms Comunicação (41) 3023.2052 / Jornalista responsável: Aroldo Murá G. Haygert - [email protected] / Colaboram nesta edição: Antonio Celso Mendes, Edmilson Fabbri, Evaristo Eduardo de Miranda, Ferreira Gullar, Jairo Marques, Lenise Garcia, Ovídio Rocha Barros Sandoval, Salmo Raskin, Sonia Lyra Fotografias: Francisco Martins, Mauro Campos // Revisão: Agostinho Baldin // Distribuição dirigida: assinantes, comunidade universitária, profissionais liberais, religiosos e sócios do Instituto Ciência e Fé. // Capa: fotomontagem de Jubal S Dohms // Impresso no parque gráfico do jornal I&C. 2 UNIVERSIDADE Assusta o bumbo do discurso pró-aborto para caminhos em que só os perfeitinhos serão aceitos MARÇO 2012 Catei meu bloquinho de repórter e fui atrás de doutores ninjas sobre o tema. Se for pela objetividade, minha turma “mal-acabada” está na roça sem jegue e sem enxada. O conceito de vida independente na medicina é “a realização de atividades -motoras ou cognitivas- sem a necessidade de outras pessoas ou de instrumentos de apoio, desde que de forma segura”. De maneira empírica, digo que a perspectiva do que seja “independência” é fatalmente contaminada e imposta por experiências alheias àquelas de quem aprende a se virar, a criar mecanismos de compensação de não conseguir desenvolver uma tarefa física, sensorial ou intelectual. Digo isso a bordo de uma cadeira de rodas, veículo onde já me despejam fracassos e impossibilidades diversas que, para mim, são risíveis. O MARÇO 2012 Ilustração: Jubal S Dohms Nesta obra magnífica, Psicologia e Vida Mística (1996), Léon Bonaventure (Analista Junguiano, que trouxe as obras de JUNG para o Brasil), ao desenvolver um estudo sobre o Arquétipo do Centro da Alma, toma como base a obra de Santa Tereza D´Ávila (especialmente Moradas). Esse autor apresenta o Si-mesmo (Centro) como a única possibilidade de se estabelecer um trabalho real com o mundo interior. Embora a experiência do Centro seja alcançada ao final de um longo processo de ascetismo e procura interior, percebe-se hoje que, aquilo que C. G. Jung denominou Si-mesmo, é uma realidade imediata e próxima, sendo ao mesmo tempo o lugar de onde tudo nasce e para onde tudo converge. O enfoque é sobre o homem psíquico e, especialmente, em suas angústias (cf. edição anterior deste Jornal). Como o objeto da psicologia é o estudo da psique e seus conteúdos, o aspecto enfatizado empiricamente é a imagem. Entende-se por imagem uma espécie de representação imediata que se manifesta à consciência, dotada de vida, exercendo certa orienta- espetacular do que o poder da natureza, que cria atalhos no sentido lógico de viver. Ligeiramente, a tendência é achar que ficarão a vida toda em caixas de sapato recebendo papinha da mamãe e bilu, bilu do papai. Mas nada mais Mara Gabrilli, primeira deputada federal tetraplégica do Brasil, tem uma frase “maraviwonderful”: “Quanto mais tecnologia se oferece para a pessoa com deficiência, menos deficiências ela tem”. A medicina genética galopa em um puro-sangue na descoberta de genes que vão determinar até quantas vezes na vida a gente vai ter dor de cabeça, se o indivíduo vai gostar de coelhinho da Páscoa. Penso que os avanços são salvaguardas para preparar o porvir, para buscar soluções antecipadas. Não servem para determinar quem deve viver, quem deve morrer. mesmo atrevo a estender às pessoas com síndrome de Down, paralisadas cerebrais, vítimas de doenças raras, prejudicados dos cromossomos e demais “anômalos”. Qual a expectativa de autonomia para gente que nasce só o “cotoco”? Há más-formações de nascença que fazem bebês darem as caras ao mundo sem as pernocas e sem os bracinhos. Há “cotocos” que, com o apoio da tecnologia, da reabilitação, do estímulo familiar, se transformam em mestres, em procuradores, em jornalistas, em plenos cidadãos. Dar o devido poder à mulher sobre seu corpo me parece ir ao encontro de uma sociedade moderna e justa, assim como poupá-la de gerar uma cria com chance nula de sobrevivência. Jairo Marques, 35, jornalista pós-graduação em Jornalismo Social na PUC-SP, é chefe de reportagem da Agência Folha em São Paulo. É cadeirante desde a infância. Mas assusta o bumbo do discurso pró-aborto para caminhos em que só os perfeitinhos serão aceitos. Ter um bebê fora da curva da normalidade é de chorar pelado no asfalto, mas diversidade humana tem de ser defendida além da cor da pele ou do tamanho do pé. • Transcrito da Folha de São Paulo de 27 de março 3 UNIVERSIDADE LENISE GARCIA À primeira vista, parece um grande avanço científico. Se a Medicina hoje nos permite fazer isso, por que não? A resposta não pode ser buscada na técnica, e nem na visão funcional, mas na ética O nascimento de Maria Clara, uma menina gerada e selecionada in vitro para ser compatível geneticamente, e portanto doadora para a sua irmã Maria Vitória, traz-nos uma série de questionamentos. À primeira vista, parece um grande avanço científico. Muitos dizem: se a Medicina hoje nos permite fazer isso, por que não? A resposta não pode ser buscada na técnica, e nem na visão funcional e utilitarista, mas na ética. O ser humano é um fim em si mesmo, e não meio para algo ou para outro. Não ponho em dúvida que a família perceba tudo isso como um ato de amor. A mentalidade eugênica e utilitarista que vai envolvendo a nossa sociedade distorce a adequada compreensão do amor, que não pode servir de justificativa para aquilo que fere a ética. Vejamos também alguns aspectos do 4 UNIVERSIDADE Lenise Garcia, professora do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília, é doutora e presidente do Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto procedimento neste caso específico. Foi relatado que aconteceram duas tentativas de se obter um filho sem doença e compatível para doação. Na primeira tentativa, foram gerados 6 embriões. Alguns veículos de comunicação disseram que todos os embriões formados tinham a doença; outros, que alguns tinham a doença, e os demais não eram compatíveis com Maria Vitória. Essa segunda afirmação parece-me mais provável, pois pela estatística a doença afetaria 25% deles. O fato seguro é que todos foram descartados, e tudo indica que o único “problema” de alguns era não serem compatíveis com a irmã. Na segunda tentativa, foram formados dez embriões. Dois deles tinham as características desejadas: eram livres da doença ou só portadores do gene e eram compatíveis com Maria Vitória para a realização do transplante. Um desses embriões era Maria Clara. O outro também foi implantado, e não consegui saber em lugar algum o que ocorreu depois com ele. Novamente alguns foram descartados simplesmente por não serem compatíveis para doação. Quando dizemos que não é ético descartar seres humanos deste modo, que isso é uma forma de eugenia e uma agressão à dignidade humana, alguns argumentam que ainda não são seres humanos. Entretanto, esse é um dado científico inquestionável. Como dissemos acima, o embrião sobrevivente era Maria Clara, portando já muitas de suas características, inclusive as que permitiram que fosse escolhida para viver; todos os seus irmãozinhos descartados no processo já eram também eles mesmos, e poderiam ter recebido nomes. Sorte de Maria Clara, que, por ser saudável e compatível, sobreviveu. Mas ela saberá, ao longo de sua vida, que não foi escolhida por ela mesma, mas apenas por alguns de seus genes. E Maria Vitória saberá que teve mais sorte ainda, por ter sido concebida naturalmente, pois se ela fosse fruto de uma fertilização in vitro teria ido para o ralo. • Transcrito da Gazeta do Povo de 06/03/2012 MARÇO 2012 SALMO RASKIN Uma das situações mais complexas da Medicina ocorre quando um casal tem um filho diagnosticado com uma doença genética hereditária, pois significa que este vai ser doente até o último dia de vida e há risco elevado de ter outro filho com a mesma doença. Há 20 anos é possível utilizar as células-tronco da medula óssea para tratar a talassemia, porém não é fácil encontrar doador das células-tronco de sua medula que seja geneticamente compatível com o necessitado receptor; as chances dentro da própria família são menores que 30% e fora da família ainda menor. Com a descoberta de que o sangue contido no cordão umbilical é uma rica fonte de células-tronco, com qualidade e atributos melhores do que as encontradas na medula óssea, este sangue, até então descartado após o nascimento junto com o cordão umbilical, passou a ter alto valor para a Medicina. Há 34 anos é possível gerar um bebê por meio da fertilização in vitro e há 20 é possível aplicar um teste genético nos embriões gerados pela fertilização in vitro para selecionar aqueles que não possuem determinado defeito genético, permitindo o nascimento de crianças com o material biológico de seus pais e livres de graves doenças. Há 11 anos é possível selecionar os embriões compatíveis para posterior doação de órgão e células, após o nascimento, aos seus irmãos. O somatório do progresso nestes três tipos de procedimento (fertilização in vitro, seleção dos embriões sem o defeito genético e compatíveis, e uso de célulastronco do cordão umbilical) passou a ser aplicado para tentar resolver uma situação médica que até então parecia insolúvel: possibilitar que casais que têm um filho com doenças como a talassemia possam ter um próximo filho sem a doença, e ao mesmo tempo encontrar neste um doador geneticamente compatível, que salve seu irmão mais velho doente. Essas crianças são denominadas de “irmãos planejados para salvar irmãos”. MARÇO 2012 Imagem: Reprodução fotomontagem: Jubal S Dohms Bebê-medicamento é uma solução? Irmãos feitos para salvar irmãos Ocorreu com êxito, na França, através de inseminação artificial, a fecundação do chamado “bebê medicamento”. Os médicos conseguiram fazer com que o “embrião” antes de ser introduzido no útero materno, pudesse ser modificado para que a criança não nasça com a Talassemia que acometeu seu irmão. Essa criança servirá para curá-lo, através do processo de transplante. Mas, como quase todas as novidades da genética, traz à tona novas questões de ordem ética, legal, moral, filosófica e religiosa. O principal questionamento bioético é a possibilidade de o casal querer trazer ao mundo outro filho com o principal intuito de salvar o primeiro, e não pela simples intenção de ter mais filhos. Há o risco de a criança que veio ao mundo para salvar seu irmão se sinta diferente quando compreender o que motivou o seu nascimento. Traz à tona o temor de que possa estar mais próximo o dia em que também será aceita a seleção de embriões por fatores não ligados a doenças, ou até a manipulação de material genético de embriões. Como se já não fosse muito, como nesses casos a seleção de embriões terá de ser mais rigorosa para atender a dois pré-requisitos (ao mesmo tempo não contenham o defeito genético e sejam “Cada criança nascida sem uma doença grave e cada criança com uma doença grave curada vale o esforço para o avanço médico” Salmo Raskin, geneticista, é professor do curso de Medicina da PUCPR geneticamente compatíveis), há de se produzir mais embriões do que o habitual, aumentando o número de embriões que não serão implantados, e muitos destes não terão sequer o defeito genético da talassemia, mas não seriam implantados pelo critério de não serem geneticamente compatíveis com o necessitado receptor. Segundo os pais do primeiro bebê brasileiro nascido por este tipo de seleção, eles não tiveram a filha só para curar a filha mais velha. Como ter o controle de que esta é a verdade, e de que será sempre assim em futuros casais que queiram optar pelo mesmo procedimento? Uma alternativa para evitar que uma família precise utilizar tal metodologia seria a implantação de enormes bancos públicos de sangue de cordão umbilical para que fosse possível quase sempre encontrar um sangue de cordão compatível com o de qualquer pessoa que precise de um transplante de células-tronco para viver. Se por um lado pela simples questão do custo alto, essas técnicas reprodutivas são proibitivas para a grande maioria dos brasileiros, por outro é no Brasil que todas estas questões se tornam ainda mais importantes visto que, 34 anos após a primeira fertilização in vitro, ainda não temos nenhuma legislação para regulamentar as práticas de reprodução assistida. Cada criança nascida sem uma doença grave e cada criança com uma doença grave curada vale o esforço para o avanço médico. Como diz o ditado do Talmud judaico: “Aquele que salva uma vida salva o mundo inteiro”. Mas deveria ser mandatório que uma equipe multidisciplinar estivesse bem treinada e disponível para atender esses casos. Enquanto não temos sequer o atendimento básico de genética no sistema público de saúde brasileiro, e sem legislação sobre reprodução humana, a sociedade e até as famílias que poderiam se beneficiar desses avanços correm enormes riscos. • Transcrito da Gazeta do Povo de 06/03/2012 5 UNIVERSIDADE Crucifixos no TJRS OVÍDIO ROCHA BARROS SANDOVAL O Migalhas do último dia 7 de março noticia que o Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu, por unanimidade, acatar requerimento da Liga Brasileira das Lésbicas e entidades afins para a retirada de crucifixos das dependências do Tribunal e dos Fóruns daquele Estado, sob o fundamento de que “o julgamento em sala com expressivo símbolo de uma igreja e sua doutrina não parece a melhor forma de se mostrar o Estado-Juiz equidistante dos valores em conflito”. Cumpre recordar, inicialmente, que há 185 anos, no dia 11 de agosto de 1827, foram criados os Cursos Jurídicos no Brasil em Olinda-Recife e em São Paulo. Com a instalação das duas Escolas de Direito tinha início a formação jurídica dos brasileiros no território nacional. A Escola do Recife foi instalada no Convento de Santo Antônio, enquanto a de São Paulo no Convento de São Francisco. Se instaladas foram em dois Conventos da Igreja Católica, receberam, à evidência, a proteção de Nosso Senhor Jesus Cristo e sob a égide da Cruz passaram a ser conhecidas e respeitadas. Jesus Cristo tornou-se o Patrono Eterno das Escolas de Direito, então criadas, que vieram a ter, a partir do ano de 1827, influência fantástica na formação cultural, social e jurídica do Estado brasileiro. A formação nacional do Brasil, desde o Descobrimento, foi forjada sob o signo da fé cristã e católica. A colonização foi obra da catequese, da incorporação do Novo Mundo ao Cristianismo. A luta pela unidade e a conquista do imenso território brasileiro só se explica pela fé cristã. J. F. Almeida Prado, reconhecidamente não católico, por exemplo, “atribui à fé a resistência aos holandeses e sua expulsão do Brasil”.1 Todo povoado que surgia era habitado em torno de uma igreja ou capela. Daí porque são inúmeras as cidades que têm nomes de santos católicos, um Estado ostenta o nome de Espírito Santo, o Estado do Pará tem por capital Belém e o Rio Grande do Norte celebra o Natal de Jesus Cristo em sua capital. Foi nesse quadro que o Brasil nasceu, cresceu, conseguiu sua Independência e forjou sua nacionalidade, cultura, formação e sob a égide de Cristo foi sedimentada a Nação brasileira. Trata-se de uma realidade histórica, social e cultural inconteste. Negá-la seria abraçar o 6 UNIVERSIDADE absurdo da ignorância e opor-se à verdade. De outra parte, o sistema político do Estado brasileiro, em nenhum momento, chegou perto de uma teocracia abominável existentes em outros países. A Constituição de 1891, por influência do Positivismo de Augusto Comte, tão em voga entre os militares daquela época, impôs a separação do Estado e Igreja e instituiu o chamado Estado laico, mas em momento algum negou a influência decisiva do Cristianismo na formação nacional do povo brasileiro, pois estaria se contrapondo ao óbvio. Bem por isso, o chamado Estado laico não pode significar a rejeição, pura e simples, dos valores cristãos presentes na Nação brasileira. Todas as Constituições brasileiras, excetuadas a Constituição de 1891 e a Carta Política de 1937, invocam em seus preâmbulos, de forma expressa, que são promulgadas “sob a proteção de Deus”. A Constituição Imperial de 1824, que deu início à História Constitucional do Brasil foi jurada em nome da Santíssima Trindade. A invocação feita da “proteção de Deus”, como está no preâmbulo da vigente Constituição, “significa que o Estado que se organiza e estrutura mediante sua lei maior reconhece um fundamento metafísico anterior e superior ao direito positivo”.2 Se o preâmbulo da Constituição invoca a “proteção de Deus”, somente pode referirse à proteção do Deus dos cristãos – Jesus Cristo – pois sob sua proteção e dentro dos ensinamentos evangélicos foi construída a Nação brasileira. Logo, conforme observa o eminente e brilhante Procurador de Justiça e Conselheiro do Conselho Superior do Ministério Público paulista dr. Walter Paulo Sabella, “pretender que da exposição do crucifixo” em prédios públicos “se possa inferir relação de dependência ou aliança com organizações religiosas”, semelhante raciocínio levaria, “simetricamente, à mesma conclusão em face do fato de aceitar-se a estátua do Cristo Redentor em terras públicas, no Rio de Janeiro”3. Depois de recordar que “as religiões são fatos sociais”, por isso mesmo, “a ostentação do crucifixo num prédio público não tornará, o Estado menos laico, nem a sua retirada lhe dará maior laicidade”. Do fato mesmo “de ser a religião um fato Imagem: reprodução Absurda decisão do Conselho Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul Ovídio Rocha Barros Sandoval é advogado social, emerge, ‘ipso facto’, a ingente dificuldade de distinguir, em fronteiras nítidas, se as coisas tidas como da religião, como seus símbolos, pertencem apenas aos domínios do campo religioso ou se amalgamam e difundem pelos domínios da cultura, da tradição, do costume”. E tanto “as coisas são assim que Arnold Toynbee, o grande historiador inglês, chegou a sustentar que as próprias civilizações se desenvolvem nas linhas conceptuais de uma religião fundamental e entram em agonia quando se esvai o poder vital dessas religiões”.4 Há três anos, aturdido e estupefato, tomei conhecimento de que o então Presidente Desembargador Luiz Zwitter do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, mandou retirar das salas e dependências do prédio daquela Corte os crucifixos que ali se encontravam. Sua Excelência confessa-se judeu, maçom e espírita. Com todo o respeito, uma estranha mistura de posições diante da vida... Em razão disso escrevi um artigo publicado pelo nosso Migalhas sob o título “O 11 de agosto e a Cruz de Cristo”. Tratava-se de uma infeliz deliberação unilateral e solitária do seu Presidente e tão contrária à formação nacional, social, cultural e religiosa do povo brasileiro sedimentada em cinco séculos. Não poderia acreditar que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro não tivesse em seus quadros homens que professassem a fé cristã e conhecessem a História brasileira. Recordo-me que, alguns anos atrás, o pai daquele Desembargador, ministro Waldemar Zweitter, no Superior Tribunal de Justiça, propôs a retirada da Cruz de Cristo das salas e dependências daquele Tribunal. Houve a reação, como não poderia deixar de ser, de várias vozes e entre elas se encontrava a do meu querido e saudoso Amigo Ministro Domingos Franciulli Netto com o testemunho de sua coragem de verdadeiro cristão e defensor da fé que animou a formação nacional do povo brasileiro. Parecia ser de família (pai e filho), a revolta contra a Cruz – um dos símbolos mais antigos da civilização humana. A deliberação solitária e absurda do antigo Presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro repete-se agora em uma decisão colegiada do Conselho Superior da Magistratura do Rio Grande do Sul. Pergunta-se, pelo MARÇO 2012 1 “Apud” JOÃO SCATIMBURGO, “Tratado Geral do Brasil”, Companhia Editora Nacional, S. Paulo, 1ª. Ed., 1973, pg. 31. “Se a fazenda del-rei fornecia recursos à Igreja, não era menos certo que o sentido missionário obedecia à densa fidelidade de Portugal à religião católica” (idem). 2 IVES GANDRA DA SILVA MARTINS FILHO, Jornal “O Globo” de 14.4.2009. 3 Parecer no Pt. n. 48723/07, de 27.8.2007. 4 Idem. 5 Revista “Isto É”, edição de 12.8.2009, pg. 33. 6 VITTORIO MESSORI, ob. cit., pgs 100 e 101. 7 Idem, pg, 185. 8 Artigo citado. 9 IVES GANDRA DA SILVA MARTINS FILHO, artigo citado. 10 Homilia de Abertura do Sínodo dos Bispos em 21.10.2005. 11 “Apud” CHARLES MOELLER, “Literatura do Século XX e Cristianismo”, Ed. Flamboyant, São Paulo, 1958, vol. I, pg. 420. 12 Idem, n. 55, pg. 58. MARÇO 2012 Regimento Interno daquele Tribunal, tão despropositada e absurda decisão não terá que passar pelo crivo do seu Órgão Especial? Os desembargadores que integram o Conselho Superior da Magistratura são brasileiros e homens que se dedicam ao estudo. Logo, não podem desconhecer a realidade da formação cristã da Nação em que nasceram. Suas Excelências não podem desconhecer a fundamental importância de Jesus Cristo na História da Humanidade que se divide em dois períodos: antes e depois de seu Nascimento, muito embora haja nascido em uma pequena vila da Judéia e não tenha se afastado mais do que trezentos quilômetros do lugar onde nasceu. O insuspeito Benedetto Croce teve a oportunidade de constatar: “O Cristianismo foi a maior revolução que a humanidade jamais realizou”, enquanto Hegel, ao tratar da realidade histórica de Jesus Cristo afirma: “Até aqui chega a história e daqui recomeça”.6 Com efeito, “todos encalham no momento de lançar a passarela entre o obscuro Jesus da História e o deslumbrante Cristo da fé”.7 Queiram ou não os senhores Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a Cruz será o eterno símbolo da Morte e Ressurreição em Jesus Cristo. Sob esse símbolo eterno nasceu, evoluiu e se formou a Nação brasileira. Com rara felicidade, o eminente Ministro Ives Gandra da Silva Martins Filho observa: “No caso da Magistratura, os valores cristãos se tornam ainda mais fortemente ‘fonte de inspiração’ para as decisões, uma vez que ‘fazer justiça’ é, de certo modo, exercer um atributo divino. A justiça humana será tão menos falha quanto mais se inspirar na justiça divina”.8 Após o início de minha conversão – antes fui ateu e depois agnóstico – aprendi que “quando a fé em Deus começa a desaparecer, também o espírito de união fraterna perde sua base, abrindo-se o caminho para a luta de todos contra todos, luta que só conhece o direito do mais forte”. Com efeito, “quando se perde a dimensão vertical da filiação divina, torna-se mais difícil vivenciar a dimensão horizontal da fraternidade humana” e “só podemos nos chamar realmente irmãos, porque temos um Pai Comum” e, por outro lado, “Cristo mostrou a dignidade imensa do mais humilde dos homens, fazendo-se trabalhador manual e, sendo mestre, lavando os pés dos seus discípulos”.9 Estado laico não é sinônimo de Estado ateu ou agnóstico, mas sim de um Estado que adota a liberdade de todas as crenças religiosas e garante sua prática, como também respeita, como não poderia deixar de respeitar, os valores cristãos que deram base à formação da Nação brasileira. O nome de Deus, para o cardeal Sebastião Leme, arcebispo do Rio de Janeiro, em homilia de 31/5/1931, “está cristalizado na alma do povo brasileiro. Ou o Estado, deixando de ser ateu e agnóstico reconhece o Deus do povo, ou o povo não reconhecerá o Estado”. Não se há de olvidar, para possível espanto de alguns, que a religião cristã foi a base moral na qual as instituições do Estado brasileiro se estabeleceram. Para o Papa Bento XVI, “a tendência que, por assim dizer, admite Deus como opinião privada, mas lhe recusa o domínio público, a realidade do mundo e a nossa vida, não é tolerância, mas hipocrisia”.10 O consagrado escritor Graham Greene, em bela página de uma de suas obras, termina por dizer: “Se eu tivesse de partir esta noite e me perguntassem o que mais me comove neste mundo, responderia talvez que é a passagem de Deus pelo coração dos homens. Tudo se perde no amor, e embora seja verdade que seremos julgados segundo o amor, é igualmente fora de dúvida que seremos julgados pelo amor, que outro não é senão Deus”.11 Com razão afirma o Papa PAULO VI, “uma concepção do mundo, segundo a qual esse mundo se explicaria por si mesmo, sem ser necessário recorrer a Deus; de tal sorte que Deus se torna supérfluo e embaraçante” está a representar um secularismo que “para reconhecer o poder do homem, acaba por privar-se de Deus e mesmo por O renegar”. 12 A Justiça é obra do homem como colaborador de Deus e RUI BARBOSA dizia “sem Deus não pode haver justiça”. Portanto a presença da Cruz de Cristo nas salas dos Juízes e Tribunais é confirmação da realidade da formação cristã da Nação brasileira e serve para relembrar, com Rui Barbosa, que “sem Deus não pode haver justiça”. Dizer-se que “o julgamento em sala com expressivo símbolo de uma igreja e sua doutrina não parece a melhor forma de se mostrar o Estado-Juiz equidistante dos valores em conflito” nada mais representa do que uma afirmação vazia, como se o símbolo da Cruz tivesse a possibilidade de influir o Estado-Juiz em dirimir os “valores em conflito”. Aceitar-se tão estapafúrdia afirmativa, como o símbolo da Cruz sempre esteve presente em todas as salas dos Juízes e dos Tribunais, especialmente, a partir da Constituição Imperial de 1824, o “Estado-Juiz”, há mais de 187 anos, nunca esteve equidistante dos valores em conflito... O Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ao mandar retirar das salas e dependências do prédio daquele Tribunal a Cruz de Cristo, nada mais fez do que negar nossas origens e a formação nacional do povo brasileiro, além de lançar às urtigas a realidade de que a nossa Constituição foi promulgada “sob a proteção de Deus” e diante de nossa história queira ou não aquele Conselho, “sob a proteção do Filho de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo”. Transcrito do site www.migalhas.com.br 7 UNIVERSIDADE A votação do Código Florestal e o princípio da precaução Legalidade e legitimidade no uso das terras No final do século passado, por iniciativa do Executivo (por meio de medidas provisórias e decretos), surgiram os conceitos de Reserva Legal (RL) e de Áreas de Preservação Permanente (APPs), verdadeiras exclusividades de nossa legislação, que muitos consideram a mais avançada do mundo em matéria ambiental. A legislação define, como Reserva Legal, uma porcentagem da área da propriedade 8 UNIVERSIDADE José Maria da Costa rural, entre 20 e 80%, que deve permanecer recoberta por vegetação natural, por ser considerada necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. Além disso, as Áreas de Preservação Permanente, cobertas ou não por vegetação nativa, têm a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, de proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Ou seja, o agricultor brasileiro foi designado como responsável por garantir todas essas funções ecológicas, geológicas, genéticas, ambientais e sociais, por meio de sua propriedade rural e em sua propriedade rural, assumindo todos os ônus daí decorrentes. Não é pouco. Assim, a partir de meados da segunda metade do século passado, foram consideradas APPs: (i) as faixas marginais dos rios, riachos, córregos, lagos, lagoas e reservatórios de água artificiais; (ii) as encostas de morros e áreas declivosas; (iii) os manguezais, as restingas, as nascentes e olhos d’água; (iv) os locais de reprodução de espécies da fauna selvagem; (v) diversas outras situações. Em contraposição ao que assim se fixou, é de se dizer que a ocupação agrossilvipastoril de muitos desses locais já ocorrera bem antes da invenção das APPs, ao longo da história do Brasil. Ao se entender que as definições de APPs aplicavam-se não apenas às áreas futuras a serem ocupadas pela agricultura, mas também às ocupações tradicionais, milhões de agricultores e um número enorme de cadeias produtivas foram colocados na ilegalidade. Ficaram na ilegalidade, por estarem em áreas consideradas de preservação permanente, em que pese à legitimidade histórica da atividade produtiva, (i) a rizicultura de várzea no RS, SP e MA, (ii) a criação de búfalos nas várzeas do AP, AM e PA, (iii) o plantio de café em áreas de relevo da BA, MG, SP e PR, (iv) os reflorestamentos em áreas de declive em SP, RJ, MG, ES e TO, (v) o plantio de macieiras em SC, (vi) a vitivinicultura em SP, SC e RS, (vii) toda a pecuária tradicional no Pantanal, considerado integralmente como uma APP, (viii) a pecuária leiteira e a pecuária de corte nas serras e regiões montanhosas em SP, MG, ES e NE, (ix) a cana de açúcar em várias situações topográficas em SP, RJ e, sobretudo, no NE, (x) parte da citricultura na BA, SE e SP, (xi) os pequenos ruminantes de criação extensiva no semiárido nordestino, (xii) as instalações para criação de suínos e aves em SC, MG, PR e SP, (xiii) os projetos de irrigação no NE, SU e SE, (xiv) a produção de flores no CE, MG e SP, (xv) o plantio de tabaco em SC e BA, (xvi) o cultivo de milho e de feijão em quase todo Brasil, além de diversas outras atividades agrícolas. Evaristo Eduardo de Miranda, agrônomo com mestrado e doutorado em Ecologia, pesquisador da Embrapa, Ministro de exéquias, autor do livro “300 Razões para Batizar” (Ed. Vozes) e diretor do Instituto Ciência e Fé José Maria da Costa, advogado e magistrado aposentado é doutorando e mestre em direito pela PUC-SP A consolidação não consolidada das APPs no Código Florestal Na versão do Código Florestal aprovada na Câmara, as atividades agropecuárias desenvolvidas até 2008 em APPs seriam consolidadas, com a proibição de novos desmatamentos. O Senado manteve essa consolidação no “caput” do artigo 62: “Nas Áreas de Preservação Permanente é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.” A questão estaria resolvida, se o mesmo Senado não impusesse, nos parágrafos desse artigo, outras condições: os agricultores devem arrancar cultivos e pomares, retirar o gado e recuperar a vegetação nativa em faixas de 15 a 500 metros de cada lado dos rios e riachos. O que se dá com uma das mãos, retira-se com a outra. Ao longo de toda a rede hidrográfica dos rios de Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, da Amazônia e do Nordeste, isso pode representar a perda de mais da metade das áreas produtivas. Para quem têm diversos riachos na propriedade, isso pode inviabilizar toda a sua produção e o futuro da propriedade. Metade dos 40.000 hectares de plantios de banana no vale do Ribeira, em São Paulo, estarão na ilegalidade e deverão ser arrancados. É também o caso dos projetos de irrigação instalados ao lado dos rios, frutos de enormes investimentos públicos e privados, os quais deverão ser desativados. O parto difícil do novo Código Florestal O drama de milhões de pequenos agricultores Estudos da Embrapa indicam, com base no Censo Agropecuário do IBGE, que, quanto menor a propriedade rural, pior sua situação. Os pequenos utilizam a totalidade das terras para produzir e sobreviver. Para a Lei 8.629/93, pequenas propriedades são imóveis entre um e quatro Módulos Fiscais (MFs), e a dimensão destes é definida pelo INCRA para cada município. É certo que, em parte do Brasil, o projeto do Senado propõe que essa perda de terras produtivas se limite ao máximo de 20% da propriedade com menos de 4MFs. Ora, ao longo dos rios estão os terrenos mais férteis. Na maioria dos casos, esses 20% de terras férteis garantem de 50 a 80% da renda do produtor, como ocorre ao longo do Rio São Francisco e no entorno de milhares de açudes e barragens do Nordeste brasileiro. Uma pesquisa da Embrapa Gestão Ter- ritorial verificou, com base no INCRA e no Censo Agropecuário do IBGE de 2006, que os imóveis com até quatro MFs constituem 89% dos estabelecimentos agropecuários do país, ocupam 11% do território e contribuem com 50% da produção agropecuária. E o Ministério do Meio Ambiente defende a retirada da agricultura das APPs, mas não quer dimensionar o alcance social e econômico dessa medida em seu potencial de “desantropização”. O princípio da precaução A regularização das atividades agrossilvipastoris até 2008 em APPs dará segurança jurídica aos agricultores. A proposta do Código Florestal elaborada pelo relator Deputado Paulo Piau, para ir à votação na Câmara dos Deputados, apresenta um surpreendente nível de consenso de 95% com o texto do Senado. Sua versão conteria cerca de 540 itens entre artigos, incisos e parágrafos, contra 571 da versão aprovada no Senado Federal. Desse total, cerca de 510 itens (95%) foram aprovados pelas duas Casas. Nesse contexto de aparente consenso, qual a razão de tanto conflito? Por que a Ministra Isabela Teixeira e outros ambientalistas não aceitam o que chamam de “desfiguração do Código aprovado no Senado”? A questão principal está nas atividades agrícolas consolidadas em APPs. Até a figura da Reserva Legal reconhece diferenças entre biomas. As APPs não. Para seus dispositivos, o Brasil inteiro é uma coisa só. Exigir, porém, a mesma faixa de vegetação para um riacho intermitente na caatinga, ou que desce encachoeirado a Serra do Mar, ou que escoa quase imperceptível como um arroio pela pampa gaúcha, ou que forma um pequeno igarapé na Amazônia, é ignorar a diversidade do meio ambiente no Brasil. Cada bioma pede critérios específicos para o regime de uso e proteção de suas APPs. E os Estados devem participar da avaliação e do esforço para recompor as APPs de forma adequada, considerando a ocupação das terras, as tecnologias empregadas e o contexto morfopedológico. Recompor sim, mas recompor bem. O próprio princípio da precaução, tão invocado em outras situações, sugere que o Governo avalie a situação das APPs ocupadas de longa data, para só depois propor sua recuperação, com critérios técnicos, onde for necessária, por meio de programas bem organizados de assistência técnica aos pequenos agricultores. Se não for assim, na enxurrada futura de ações judiciais, talvez só reste aos advogados invocar a legislação de proteção da fauna selvagem em prol da defesa dos agricultores, estes, sim, desantropizados e ameaçados de extinção. • os Currizsados e elo a u to c i d o s p he n o c re LIBERDADE PARA VOCÊ ESCOLHER COMO ESTUDAR. GRADUAÇÃO AGENDE SUA PROVA AULAS NO POLO PRESENCIAL, VIA INTERNET OU POR DVD PEDAGOGIA E CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA 30 LIVROS GRATUITOS Em média - entregues no decorrer do curso 0800 702 0500 MARÇO 2012 • PÓS-GRADUAÇÃO AULAS NO POLO PRESENCIAL OU VIA INTERNET MAIS DE 35 CURSOS EM 7 ÁREAS INSCRIÇÕES ABERTAS foto ilustrativa MEC FACINTER – Credenciamento pelo MEC – a distância, Port. 4210 de 20/12/2004 FATEC INTERNACIONAL - Credenciamento pelo MEC – a distância, 1993, D.O.U. 22/07/2003 / MAR/2012 O Ministro Marco Aurélio de Mello, do STF, em palestra proferida em São Paulo, no início de março deste ano, previu uma enxurrada de ações judiciais com a aprovação do novo Código Florestal. A razão principal é simples: dezenas de milhões de hectares de terras agrícolas, ocupadas em sua imensa maioria de acordo com as exigências para o desmatamento da legislação de seu tempo, ficarão na ilegalidade. Milhões de hectares de cultivos, pomares, florestas plantadas e pastagens deverão ser arrancados para cumprir a nova legislação. A proposta do novo Código Florestal, tanto a votada originalmente na Câmara dos Deputados, como a aprovada pelo Senado, equaciona em parte a questão da exigência de Reserva Legal nas propriedades rurais. Mas o projeto agrava, e muito, a situação das atividades agrossilvipastoris praticadas nas chamadas Áreas de Preservação Permanente, colocando na ilegalidade cerca de cinco milhões de produtores rurais. Daí a previsão meteorológica do Ministro Marco Aurélio de uma “enxurrada de ações judiciais”, fundadas no direito adquirido, na irretroatividade da lei, no direito de propriedade, etc. Os problemas atuais de ordenamento territorial e de uso legal das terras no Brasil são o resultado de um processo, por cujo intermédio, nos últimos anos, um número significativo de áreas foi destinado à proteção ambiental e ao uso exclusivo de algumas populações, enquanto uma série de medidas legais restringiu severamente a possibilidade de remoção da vegetação natural, exigindo sua recomposição e o fim das atividades agrícolas intensivas nessas áreas, mesmo se exploradas há séculos. e Imagem: reprodução Evaristo Eduardo de Miranda Um dirigente do Ministério do Meio Ambiente estimou que a agricultura perderá 33 milhões de hectares. Para outros técnicos, seriam 60 milhões de hectares. As consequências sociais e econômicas precisam ser avaliadas, mesmo que alguns ambientalistas defendam o que chamam de desantropização das áreas agrícolas, principalmente na Amazônia. grupouninter.com.br 9 UNIVERSIDADE D O H M S Da fala ao grunhido Ferreira Gullar 10 UNIVERSIDADE Um espaço de silêncio e encontro para você. A 20 minutos de Curitiba por asfalto, doze mil metros de área verde e mata nativa é o melhor exemplo de quanto pode oferecer um local para retiros, estudos universitários, reuniões empresariais ou treinamento profissional. Imagens: reprodução Desconfio que, depois de desfrutar durante quase toda a vida da fama de rebelde, estou sendo tido, por certa gente, como conservador e reacionário. Não ligo para isso e até me divirto, lembrando a célebre frase de Millôr Fernandes, segundo o qual “todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”. Divirto-me porque sei que a coisa é mais complicada do que parece e, fiel ao que sempre fui, não aceito nada sem antes pesar e examinar. Hoje é comum ser a favor de tudo o que, ontem, era contestado. Por exemplo, quando ser de esquerda dava cadeia, só alguns poucos assumiam essa posição; já agora, quando dá até emprego, todo mundo se diz de esquerda. De minha parte, pouco se me dá se o que afirmo merece essa ou aquela qualificação, pois o que me importa é se é correto e verdadeiro. Posso estar errado ou certo, claro, mas não por conveniência. Está, portanto, implícito que não me considero dono da verdade, que nem sempre tenho razão porque há questões complexas demais para meu entendimento. Por isso, às vezes, se não concordo, fico em dúvida, a me perguntar se estou certo ou não. Cito um exemplo. Outro dia, ouvi um professor de português afirmar que, em matéria de idioma, não existe certo nem errado, ou seja, tudo está certo. Tanto faz dizer “nós vamos” como “nós vai”. Ouço isso e penso: que sujeito bacana, tão modesto que é capaz de sugerir que seu saber de nada vale. Mas logo me indago: será que ele pensa isso mesmo ou está posando de bacana, de avançadinho? E se faço essa pergunta é porque me parece incongruente alguém cuja profissão é ensinar o idioma afirmar que não há erros. Se está certo dizer “dois mais dois é cinco”, então a regra gramatical, que determina a concordância do verbo com o sujeito, não vale. E, se não vale essa nem nenhuma outra - uma vez que tudo está certo -, não há por que ensinar a língua. A conclusão inevitável é que o professor deveria mudar de profissão porque, se acredita que as regras não valem, não há o que ensinar. Mas esse vale-tudo é só no campo do idioma, não se adota nos demais campos do conhecimento. Não vejo um professor de medicina afirmando que a tuberculose não é doença, mas um modo diferente de saúde, e que o melhor para o pulmão é fumar charutos. É verdade que ninguém morre por falar errado, mas, certamente, dizendo “nós vai” e desconhecendo as normas da língua, nunca entrará para a universidade, como entrou o nosso professor. Devo concluir que gente pobre tem mesmo que falar errado, não estudar, não conhecer ciência e literatura? Ou isso é uma espécie de democratismo que confunde opinião crítica com preconceito? As minorias, que eram injustamente discriminadas no passado, agora estão acima do bem e do mal. Discordar disso é preconceituoso e reacionário. E, assim como para essa gente avançada não existe certo nem errado, não posso estranhar que a locutora da televisão diga “as milhares de pessoas” ou “estudou sobre as questões” ou “debateu sobre as alternativas” em vez de “os milhares de pessoas”, “ estudou as questões” e “debateu as alternativas”. A palavra “sobre” virou uma mania dos Ferreira Gullar, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista, ensaísta e um dos fundadores do neoconcretismo locutores de televisão, que a usam como regência de todos os verbos e em todas as ocasiões imagináveis. Sei muito bem que a língua muda com o passar do tempo e que, por isso mesmo, o português de hoje não é igual ao de Camões e nem mesmo ao de Machado de Assis, bem mais próximo de nós. Uma coisa, porém, é usar certas palavras com significados diferentes, construir frases de outro modo ou mudar a regência de certos verbos. Coisa muito distinta é falar contra a lógica natural do idioma ou simplesmente cometer erros gramaticais primários. Mas a impressão que tenho é de que estou malhando em ferro frio. De que adianta escrever essas coisas que escrevo aqui se a televisão continuará a difundir a fala errada cem vezes por hora para milhões de telespectadores? Pode o leitor alegar que a época é outra, mais dinâmica, e que a globalização tende a misturar as línguas como nunca ocorreu antes. Isso de falar correto é coisa velha, e o que importa é que as pessoas se entendam, ainda que apenas grunhindo. • À sua disposição na CASA PE. REUS: bosque e paisagem de serra, lobby para eventos, moderno auditório para 100 pessoas, área aberta e cobertura, campo poliesportivo; refeitório e cozinha. Transcrito da Folha de S. Paulo de 25/03/2012 MARÇO 2012 Morro Anhangava, área de preservação permanente, paisagem inspiradora. Informações e reservas: (41) 8809-4144 e (41) 3243-2530 [email protected] www.cienciaefe.org.br grandes homens AAGOSTINHO BALDIN “O dinheiro faz homens ricos, o conhecimento homens sábios, a humildade faz grandes homens”. Recebi a mensagem acima numa dessas que rolam pelo mundo da Internet. Esse meio de comunicar-se não poucas vezes veicula mensagens fúteis, vulgares e vazias de conteúdo. Mas há algumas delas ricas de ensinamentos, como a que encima a presente crônica. “O dinheiro faz homens ricos”. O dinheiro é um componente do patrimônio material da humanidade. Todos conhecemos alguns e muitos exemplos dessa categoria. O dinheiro, uma das formas desse patrimônio, existe há milênios. Ele surgiu como necessidade de facilitar a circulação dos bens produzidos. Há os que produzem, e há os que consomem. O dinheiro é a moeda de troca entre o que é produzido e o que é consumido. Essa atividade faz parte integrante da convivência e da atividade humana. As grandes fortunas, assim como as pequenas, são fruto do trabalho honesto, dedicação e espírito de poupança. A escala de gradação entre as pequenas e as grandes fortunas, tal como a ausência de ambas, é imensurável. Há fortunas que são fruto de habilidade, de esperteza e de devotamento de seus donos. A inexistência de riqueza, por sua vez, muitas vezes é fruto da ineficiência, da desídia e da falta iniciativa de muita gente, que se acomoda, esperando que “megassenas” da vida lhes façam cair do céu a fortuna ambicionada. A distância entre uns e outros se traduz pela operosidade de uns e pela inoperância de outros. São pouquíssimas as grandes fortunas que tenham caído do céu e nem sempre estas se mantêm ao longo do tempo, porque o dinheiro é volátil, que se esvai com rapidez fulmínea. Por outro lado, nem sempre as pequenas e as grandes carências de recursos são manifestações de preguiça e indolência. Há fatalidades contra as quais as forças humanas são impotentes. “Pobres sempre tereis convosco” (Jo, 12, 8), disse o Mestre, apostrofando a usura hipócrita de Judas Iscariotes. Até Jesus admitia a convivência entre os ricos e os pobres; por que faríamos nós discriminações injustas? Costuma-se dizer que “dinheiro faz dinheiro”. É verdade. Transformar o dinheiro em mais dinheiro é tarefa que poucos são capazes de desempenhar. Existem os que são bafejados por circunstâncias favoráveis e privilegiadas, mas elas são quase sempre exceções. O espírito humano tem capacidades que nem sempre são devidamente valorizadas. Os que sabem dar o devido valor aos bens, produzindo outros bens, em quantidade maior, é que constroem fortunas. A seu lado, os que se acomodam no coxim da indolência, não é de estranhar que avolumem as Agostinho Baldin, doutor em Letras, autor de “Zoon do Verbo” e de “Anseios do Coração, exeducador do Colégio Marista Paranaense. [email protected] Instituições de Ensino: PUC-PR, em todos os campi; UFPR, Departamento de Genética; Universidade Positivo; UNIFAE; Studium Theologicum; Faculdades Espírita; Faculdades do grupo UNINTER (FACINTER, FATEC, IBPEX, INFOCO); Faculdade Evangélica do Paraná, curso de Teologia; Universidade Tuiuti; Colégio Nossa Senhora Medianeira; Colégio Bagozzi, Curso de Filosofia dos Padres Xaverianos; FAVI e Ichthys Instituto de Psicologia e Religião, cursos de Pós-graduação Psicologia e Religião e Psicologia Analítica e Religião Oriental e Ocidental; Faculdades ESEI (prof.Elizeu). Livrarias: Ave Maria, Letternet, Paulinas, Paulus e Vozes, em Curitiba; Chain, em cifras dos integrantes da “desfortuna”. Não se exige de ninguém que acumule mais ou menos fortuna. Exige-se de todos a devotamento e a vontade de vencer, valorizando os recursos que cada um tem. Bem razão tinha Santo Agostinho quando afirmou : “Em muitos ricos encontra-se dinheiro e não avareza; em muitos pobres encontra-se avareza e não dinheiro”. Graças aos ricos sem avareza é que muitas obras do mundo funcionam com o combustível da generosidade dos ricos. Deus não discrimina ninguém, nem ricos, nem pobres. É mais sensato lastimar o pobre preguiçoso do que incriminar o rico generoso. É muito encontradiço escutar acusações injustas contra os ricos por sua riqueza, não poucas vezes construída com trabalho honesto e espírito de poupança. Não se pode universalizar o pobre como digno de comiseração e o rico ser taxado de prepotente. Sem dúvida, assim não procede o verdadeiro espírito cristão. Nem todo rico é merecedor de execração, assim como nem todo pobre é merecedor de consolo por ser pobre. Como seria bom se houvesse convivência harmônica entre os que têm muito, solidários com os que têm pouco, e os pobres, que tendo pouco, recebem com gratidão a ajuda de quem lhes estende a mão e lhes abre o coração. “O conhecimento faz homens sábios”. Dada a limitação de oportunidades, que se manifesta em todas as classes sociais, a nem todos é dado o privilégio de ingressar no mundo da cultura, através da escola. Há carência de recursos entre os indivíduos, assim como entre nações inteiras. O analfabetismo, infelizmente, ainda grassa no mundo de hoje, malgrado tantos recursos, oportunidades oferecidas e de tantas campanhas na promoção e difusão da cultura. A ciência e a tecnologia de toda espécie nem sempre estão ao alcance de todos. O saber acumulado ao longo de anos e anos de estudos, nos bancos escolares de todos os níveis, produz diversidade cultural em altíssimo grau. Há quem tenha chegado aos píncaros da graduação acadêmica e há os que estão pervagando na sombra e à margem da cultura e da ciência. O que é certo é que “o conhecimento faz homens sábios”. Sábios não são somente os detentores de alto grau de conhecimentos adquiridos. Sábio é aquele que, mesmo com minguado quinhão de dotes naturais, sabe conquistar um conhecimento razoável, na “universidade da vida”. Quantas vezes ela diplomou pessoas de conhecimentos limitados, mas de exemplos de vida admiráveis. Nem sempre os mais sabidos são os mais Maringá, Guarapuava e União da Vitória e Curitiba. Instituições de Saúde: Hospital de Clínicas da UFPR; Nossa Sra. das Graças. Paróquias e Igrejas: São Francisco de Paula; São João Batista Precursor; Santo Antonio Maria Claret; N. S. de Salette; do Espírito Santo; Igreja da Ordem; Sagrado Coração Pinheirinho (Igreja Preta), Santíssimo Sacramento (pe. João Carlos Veloso), Paróquia São Marcos - Barreirinha, Pilarzinho (seminarista Leandro); Paróquia de Santo Agostinho, Ahu (com Suzy, pastoral da Liturgia), em Curitiba; São Pedro e N. S. Perpétuo Socorro, em São José dos Pinhais; Capela São Miguel Arcanjo, em Pinhais. sábios. Sábios são os que sabem valorizar os bens que têm e os traduzem em exemplos de vida com espírito de altruísmo e de solidariedade. Sábios também são os que acumularam conhecimentos em alto grau e sabem partilhá-los com os quem têm menos. Graças a esses sábios, quase sempre anônimos, mas eficientes, é que o progresso humano está em escala ascendente. Quantos exemplos de sábios encontramos ao longo da história, que souberam empregar seus conhecimentos não só para si próprios, mas principalmente em bem da humanidade. Esses são os verdadeiros sábios. A sociedade humana sempre terá templos do saber, convivendo como tugúrios da inciência. Mais uma vez, assim se constitui o tecido da comunidade humana. “A humildade faz grandes homens”. Fala-se aqui genericamente, é claro, compreendendo homens e mulheres. Novamente encontramos belíssimos exemplos de pessoas que, ricas ou sábias, souberam ser humildes aos olhos do mundo, fugindo das ribaltas esfuziantes das gloríolas humanas. Quantos exemplos edificantes tivemos ao longo dos tempos, em todos os quadrantes do globo. Raramente, para não dizer nunca, as grandes obras de benemerência e de beneficência, que tanto encontramos no mundo, foram fruto do vedetismo e da auto-ostentação. É próprio dos grandes – verdadeiros grandes – serem modestos e despretensiosos. Os jactanciosos, os cultuadores das vaidades humanas e os que procuram altos “ibopes” pouca coisa de bom deixam para a humanidade. Somos levados a lembrar a modesta eficiência dos educadores, no fundo das salas de aula, dos mais recônditos rincões às cátedras universitárias, provendo a sociedade daqueles que brilharão nas galerias da fama e eles, incansáveis e idealistas, ficando na retaguarda, cumprindo, com humildade, sua missão. Lembramos igualmente o fio elétrico, modesto e pouco gracioso, mas que possibilita à lâmpada expandir sua luminosidade, e ele, humilde e despretensioso, permanece no anonimato, mas eficiente. Os que se tornaram credores da admiração dos povos, por suas obras e por sua humildade, são exemplos luminosos, hic et nunc – aqui e agora. O vazio dos autoidolatrados esvai-se como a fumaça que se perde no espaço; a humanidade não lhes deve nada. Quanta sabedoria nos dizeres da epígrafe desta crônica. Como a humanidade carece de ricos generosos, de sábios partilhantes e de homens benemerentes. Não que apenas os ricos, os de pouca cultura e os sedentos dos aplausos do mundo sejam os que constituem a riqueza da humanidade. Esta se manifesta pela variedade e pela diversidade de modos de ser e de ter. Bom e desejável seria, se todos pudessem ser ricos, sábios e humildes. Esse éden é uma miragem de nossos dias, assim como foi sempre ao longo da história. O que importa é que cada um seja rico de riqueza que o tempo não corrói, de sabedoria que a “traça não rói” e de humildade que muito constrói. • A VIRTUDE, SEGUNDO ARISTÓTELES ANTONIO CELSO MENDES No clássico Ética a Nicômaco, Livro II, o Estagirita resume o que ele entende por virtude: 1) A virtude se diz intelectual e moral. A primeira se desenvolve através do ensino, exigindo longo percurso; já a virtude moral depende do hábito (ethos), conforme a etimologia da própria palavra. Ressalta-se que as virtudes intelectuais ou morais não são produto da Natureza, cujas leis são determinísticas. Ora, nós somos produtos da Natureza, o que implica considerarmos que somos adaptados pela Natureza a desenvolvê-las. As virtudes não são como os sentidos, que possuímos antes de usá-los, pois só as adquirimos pelo uso reiterado das práticas virtuosas, que nos tornam melhores. 2) Trata-se aqui de estabelecer a prática das virtudes dentro do princípio de uma regra justa, pois, quando se trata de condutas, a obtenção do bem a partir de suas práticas, não possui nenhuma fixidez. Tudo se torna apenas aproximado, demandando prudência e moderação para que não venhamos a praticar excessos. Pois, tanto a deficiência como o excesso de zelo, destroem a força da sua eficácia. Assim, nossa saúde depende apenas de uma quantidade e variedade adequada de alimentos, o mesmo ocorrendo com a temperança, a coragem e outras virtudes que, se não bem controladas, não fortalecem a desenvoltura progressiva de nossas condutas. 3) Importa ter em mente que nossa excelência moral está em relação direta com os prazeres e dores que sentimos (Heráclito). Pois se o prazer nos causa alegria, nossa tendência será procurálo, evitando o mal que ele possa causar-nos. Como disse Platão, aqui é o lugar de uma boa educação, que ensine os limites virtuosos de nossas sensações. 4) A virtude depende essencialmente da prática costumeira. Não basta conhecer as virtudes pela filosofia, pois não de trata de saber, mas sim de agir. 5) Em nossa alma há três espécies de coisas: faculdades, paixões e disposições de caráter. A virtude deve pertencer a uma destas. A virtude não está entre as faculdades, pois estas são apenas disposições para sentir as paixões; também não está nas paixões, que são apenas reações segundo o nosso caráter; as virtudes estão, portanto, em nossas disposições de caráter, como qualidades de nosso eu para concretizá-las. 6) As disposições de caráter dependem não só de nossas aptidões biológicas, como também da forma com que as utilizamos. Essas disposições de caráter não se situam nos excessos, mas sim no meio termo que os contrabalança. É uma sabedoria prática, que foge do vício e dos extremos. Porém, o meio termo deverá estar sempre voltado para o bem, não para o mal. 7) Ressalte-se que a virtude é sempre uma prática individual, não genérica. Por isso, ela é bem concreta, quando se refere à conduta de cada um. Assim: Entre o medo e a confiança, a coragem é o meio termo. Entre a audácia e a covardia, a cautela. Entre o prazer e a dor, a temperança. Entre a prodigalidade e a avareza, a liberalidade. Entre a honra e a vergonha, o justo orgulho. Entre a cólera e a apatia, a calma. Entre o verdadeiro e o falso, a verossimilhança. Entre o aprazível e o detestável, a espirituosidade. Entre a inveja e o despeito, a justa indignação. 8) As disposições de nossas virtudes muitas vezes praticam um jogo duplo em relação aos seus excessos, ora mais próximos, ora mais distantes de suas afinidades. Com efeito, o bravo parece atrevido aos olhos do covarde e aquele, por sua vez, olha o covarde como carente de valentia; assim também, o liberal parece pródigo em relação ao avaro e o avaro em relação ao pródigo. Por isso, as pessoas que estão nos extremos, tendem a exagerar o meio termo. 9) Em conclusão, a virtude moral é um meio termo, obtido pela negação de excesso. Assim, difícil se torna sermos bons, pelo fato de ser difícil encontrarmos o meio termo. Na dúvida, sempre é ser bons indicadores desse meio termo virtuoso. • Antonio Celso Mendes é professor da PUCPR, pertence à Academia Paranaense de Letras (filosofiaparatodos.com.br) [email protected] Outras Instituições: Biblioteca Pública do Paraná; CNBB Regional Sul II, Conferência dos Religiosos do Brasil CRB-PR. Outros Recebedores Permanentes (via correios ou malote): Lideranças do magistério em Campinas-SP (distribuição pelo Dr. Evaristo de Miranda); juízes, desembargadores, promotores de Justiça e procuradores de Justiça de Curitiba (cortesia de Garante Condomínios Garantidos do Brasil); sócios e colaboradores do Instituto Ciência e Fé e assinantes. Para assinar o Jornal e recebê-lo por correio, favor enviar o pedido pela e-mail [email protected]. O custo anual é de R$ 30,00 12 UNIVERSIDADE MARÇO 2012 MARÇO 2012 13 UNIVERSIDADE PARADOXOS DA MEDICINA 50 AUTORES-CHAVE DE FILOSOFIA ... e seus textos incontornáveis Antonio Aranha DEUS, QUEM ÉS TU? Anselm Grün e Wunibald Müller Esta obra traz um diálogo entre os autores, que conversam sobre Deus. Além disso, os autores procuraram, também, acolher a voz daqueles que não creem em Deus, ou que têm dificuldades em vivenciar e experimentar a presença e a atuação divina no mundo atual. Por isso, esta obra traz à luz as questões essenciais ligadas à fé e será uma leitura proveitosa para os que crêem e os que duvidam da existência de Deus. Este é um guia essencial para a produção filosófica, destinado a todos que desejam adquirir um conhecimento fundamental, relembrar o que aprenderam, consultar de maneira prática e eficaz as informações mais relevantes ou, ainda, adquirir uma base mínima da cultura filosófica. Por sua praticidade, presta-se, especialmente, como preparação para provas, concursos e exames semelhantes. Podemos dizer que aqui está contido aquilo que é, expressamente, proibido ignorar em matéria de filosofia. CRIANÇAS IMPEDIDAS DE PENSAR Serge Boimare Um livro pontuado por perguntas, concentra o interesse sobre os mecanismos pedagógicos colocados em prática na escola que, para algumas crianças, são ineficazes. Por que crianças inteligentes e aptas, ao concluirem o ensino fundamental, não são capazes de interpretarem um texto ou de se expressarem oralmente com clareza e coerência? Com base em sua experiência profissional, Boimare demonstra no seu livro que o problema dos alunos em vias do fracasso escolar “não é tão complicado quanto parece e que há um modo de fazê-los avançar na classe comum...”. Onde encontrar? Livraria do Chain Livrarias Curitiba Site: www.roseanigra.com.br Telefone: (41)3243.2530 E-mail: [email protected] 14 UNIVERSIDADE Este livro aborda aspectos importantes das funções orofaciais: respiração, mastigação, deglutição e fala. Quando estão em desequilíbrio, tais funções causam flacidez e rugas de expressão. Os músculos faciais, com a ação do tempo, sem estímulos ou com exercícios repetitivos e incorretos, fazem a pele ficar flácida, resultando em “papadas”, “bigode chinês” e “pés de galinha”. Rua Gal. Carneiro 441 Curitiba PR (41) 3264.3484 www.livrariadochain.com.br A Coleção Teologia na Universidade fundamenta-se numa postura interdisciplinar e apresenta contribuições resultantes do diálogo entre a Teologia e outras áreas do conhecimento. Este volume estabelece o diálogo entre Teologia e Saúde. Suas reflexões propõem-se como instrumento à maturação das ideias entre alunos universitários e todos aqueles que pretendem fazer da saúde um espaço de desenvolvimento do ser humano em situação de vulnerabilidade. A obra procura apresentar a reflexão crítica e profética da teologia no mundo da saúde. Rua Voluntários da Pátria 225 Curitiba PR (41) 3224.8550 www.paulinas.com.br Rua Emiliano Perneta 332 (41) 3233.1392 - Curitiba PR www.vozes.com.br UMA ARMA CONTRA AS RUGAS Maria Luiza Michelini Wippel e Régis A. Ribeiro de Lima TEOLOGIA E SAÚDE Compaixão e fé em meio à vulnerabilidade humanas Alexandre Martins e Antonio Martins TRÍDUO PASCAL Lectio litúrgica Johannes Paul Abrahamowicz O Tríduo Pascal chama-se assim para indicar uma celebração que se estende por três dias, mas tudo se celebra como se fosse um único dia. As várias celebrações destes dias são partes de uma única grande festa, que exalta o grande amor de Deus por nós. Esta obra oferece uma leitura litúrgica dos ritos do Tríduo Pascal, levando a uma maior compreensão do seu significado teológico. VIVER A QUARESMA COM SANTO AGOSTINHO Deus fala no silêncio do coração Paquale Cormio (org.) Esta obra é um subsídio para o cristão se preparar da melhor maneira possível para a celebração do mistério da Páscoa. Através de uma antologia de textos extraídos das obras de Santo Agostinho, esta obra oferece um enriquecimento para a meditação pessoal sobre as leituras bíblicas desse tempo litúrgico. A medicina, nos últimos 15 anos, deu um salto no seu desenvolvimento tecnológico, possibilitando avanços inimagináveis em diagnósticos por imagem, ou no campo da robótica em cirurgias minimamente invasivas. Fazem-se verdadeiros milagres por conta desse desenvolvimento. As máquinas a serviço do homem. Tecnologia quebrando barreira na medicina. Transplantam-se Coração, Rins, Fígado, trocam-se Válvulas, coloca-se Stents. Existem próteses para tudo. A medicina estética transforma as pessoas, clareiamse dentes, escurecem-se peles. Enfim, não parece haver limites no desenvolvimento do mundo tecnológico. Em contrapartida, engatinhamos no entendimento das funções cerebrais; não se consegue decifrar essa caixa preta chamada cérebro. Quanto mais mapeamos através das tomografias e ressonâncias magnéticas, menos o entendemos. Descobriu-se a importância da seratonina, melatonina e orelina na regulação, respectivamente, Humor, Sono e Apetite, mas não conseguimos controlálas. Temos exames para tudo, cirurgias para tudo, embelezamos, não envelhecemos, porém as pessoas estão cada vez mais tristes, depressivas, ansiosas, frustradas, à mercê desse mundo tecnológico que não as compreende, procurando razão para suas existências. Investe-se pouco na capacitação do futuro médico na compreensão do ser humano. Sai dos bancos universitários sabendo manejar máquinas caríssimas e não lhe ensinam a buscar compreender o próximo. Já sai um superespecialista em alguma área e não aprende a entender o todo. Está ocorrendo um esquartejamento do ser humano a tal Imagem: reprodução EDMILSON FABBRI Dr. Edmilson Fabbri é clínico e cirurgião geral, dirige a Stressclin - Clínica de Prevenção e Tratamento do Stress (www.stressclin.med.br); é um dos diretores do Instituto Ciência e Fé. [email protected] nível que temos especialistas em ombros, joelhos, mãos. Não tão longe está o dia dos especialistas em mão direita, joelho esquerdo.“Caminhamos para um estranho paradoxo, conforme dizia do Dr. Enéas Carneiro, cardiologista paulista, que ficou famoso na política com o jargão “meu nome é Enéas”,” o superespecialista um dia saberá tudo sobre nada, tão pequena será sua área de abrangência.”. Relações cada vez mais frias, baseadas em exames e máquinas, uma relação progressivamente virtual. Por sorte vozes têm-se levantado no sentido de chamar a atenção para a necessidade de melhor entendimento do ser humano, valorizando sua capacidade de reação desde que haja um equilíbrio do emocional para um reflexo positivo na economia de seu organismo. • Praça Osório 389 Curitiba PR (41) 3223.8916 www.avemaria.com.br FEVEREIRO MARÇO 2012 2012 NOVEMBRO MARÇO 20122011 15 15UNIVERSIDADE UNIVERSIDADE Itaipu. Um dos melhores atrativos turísticos do Brasil. Mais do que milhões de quilowatts de energia, todos os anos, Itaipu gera emoções incríveis em milhares de turistas que vêm conhecer a maior geradora de energia limpa e renovável do planeta. Seus atrativos foram os primeiros no Brasil a receber o selo de qualidade ISO 9001. E o Circuito Especial, um passeio pelo interior da usina, foi eleito pelo Ministério do Turismo e pela Fundação Getulio Vargas uma das melhores práticas de turismo do País. Venha conhecer. A energia de Itaipu espera por você. Informações e reservas: 0800 645 46 45 [email protected] www.turismoitaipu.com.br O Vertedouro poderá estar fechado, devido a condições técnicas ou climáticas.