Anais do XVIII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do III Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
24 e 25 de setembro de 2013
ESTABELECIMENTO E LEVANTAMENTO DE INDICADORES DA
QUALIDADE AMBIENTAL REFERENTES AO MEIO BIÓTICO NA
BACIA DO CÓRREGO DA FAZENDA SANTA CÂNDIDA
José Paulo Rocha Bersan
Sueli do Carmo Bettine
Faculdade de Engenharia Ambiental
Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologias
[email protected]
Sustentabilidade Ambiental das Cidades
Resumo: Com os avanços na urbanização, observados principalmente a partir dos séculos XIX e XX,
vários centros urbanos foram sendo modificados,
sofrendo as influências do desenvolvimento desenfreado e sem o planejamento necessário. Tal fato é
responsável por uma seleção repleta de problemas
ambientais, que variam de pequenas enchentes, até
problemas de poluição atmosférica. Procura-se então estar atualizado a respeito da qualidade ambiental da região realizando estudos que qualificam os
indicadores ambientais que podem ser parâmetros
do meio físico, biótico e antrópico. Primeiramente é
necessário o estabelecimento de tais indicadores
ambientais,assunto que foi tratado e desenvolvido na
Bacia do Córrego da Fazenda Santa Cândida por
este projeto de Iniciação Científica para, posteriormente, aplicar-se o método de avaliação de impactos
ambientais de Battelle-Columbus com respeito ao
meio biótico.
Palavras-chave: Impactos Ambientais, Meio Biótico, Método Battelle-Columbus
Área do Conhecimento: Engenharias – Engenharia
Ambiental– CNPq.
1. INTRODUÇÃO
A principal explicação para um crescimento cada
vez maior dos centros urbanos é o fato de que nas
cidades a demanda de empregos mais bem remunerados é maior quando comparado com o os centros
rurais [1].
O crescimento das cidades não foi acompanhado
por instrumentos reguladores de uso e ocupação dos
solos, isso é comprovado pelo fato de que uma minoria de municípios possui o Plano Diretor Urbano,
um documento direcionador do gerenciamento das
cidades [2].
Observando tais fatores, percebe-se que o acelerado
desenvolvimento das cidades, ligado a falta de planejamento ambiental e arquitetônico, é o principal
Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologias
[email protected]
fator responsável pelos problemas ambientais nas
grandes cidades.
Estes problemas estão relacionados, entre outros
fatores, à impermeabilização do solo proveniente do
desenvolvimento das cidades com substituição das
áreas vegetadas por camadas de concreto e asfalto
causando inundações, erosão dos solos com consequente assoreamento dos rios, além da contaminação dos mesmos [3].
Percebendo a problemática da situação, algumas
cidades procuram controlar esses impactos com projetos específicos para bacias urbanas com o Plano
Diretor de Drenagem e Plano Integrado de Saneamento [3] sem, contudo, considerar um Planejamento Ambiental adequado.
Algumas etapas são necessárias para a realização
de estudos dos problemas ambientais, a etapa inicial
desse processo é a Avaliação de Impacto Ambiental
que consiste no estudo anterior a realização de um
projeto ou de uma ação, mostrando os impactos
causados por essa realização [4].
Os estudos relacionados com a avaliação de impactos ambientais estão diretamente ligados aos indicadores ambientais, são os parâmetros com a capacidade de descrever o estado dos fenômenos que ocorrem em um meio. A principal função dos indicadores ambientais é servir de um instrumento de
comparação para indicar a situação de uma determinada área, além de avaliar a pressão a qual a determinada área está sujeita sob o aspecto ambiental
[5].
Neste trabalho foi utilizado o método de BattelleColumbus para o estabelecimento de indicadores
ambientais da região que, posteriormente, foram
calculados e puderam indicar a situação ambiental
na Bacia do Córrego da Fazenda Santa Cândida.
Anais do XVIII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do III Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
24 e 25 de setembro de 2013
2. A METODOLOGIA DE BATTELLE-COLUMBUS
O método de avaliação de impacto ambiental de
Battelle-Columbus é originalmente utilizado em aproveitamento de recursos hídricos e consiste na
listagem de parâmetros ambientais dos diversos
componentes ambientais a serem analisados (estéticos, físico-químicos e sociais) [6].
Os parâmetros ambientais devem ser definidos na
área estudada, para em seguida definir-se o grau de
importância relativa com atribuição de pesos. O Índice de Qualidade Ambiental (IQA) varia de zero até
a primeira unidade, onde os números próximos de
zero possuem qualidade ambiental não desejável, já
os números próximo à unidade, indicam uma área
com qualidade desejável [6].
O princípio do método de Battelle-Columbus é estabelecer um valor referencial ótimo, e a partir dele, o
quanto cada parâmetro, com seus determinados índices e pesos, se distancia desse determinado valor
ótimo. Da soma do conjunto de indicadores ambientais escolhidos, considerando seus respectivos pesos
multiplicados pelos valores levantados para a área
analisada, é possível quantificar-se numericamente
o quanto a situação atual (ou futura, após a implantação de determinado empreendimento) se distancia
da situação ideal pretendida.
A área da microbacia abrange aproximadamente 4
quilômetros quadrados dentro do município de Campinas, é atualmente ocupada por cerca de 13.000
habitantes e incorpora diversos bairros, entre eles o
Parque das Universidades, onde se encontra o campus I da Pontifícia Universidade Católica de Campinas [7].
Até por volta do ano de 1960, a principal atividade
econômica da área estava baseada na atividade rural. A partir dessa década, o desenvolvimento da
região levou à transformação para atividades totalmente urbanas, como prédios comerciais e residenciais, pavimentação com alto grau de impermeabilização e indústrias [8].
Apesar de ter sido um desenvolvimento favorável
para a economia da cidade de Campinas, ao ser feita a analise levando em conta as questões ambientais, percebe-se que esse desenvolvimento não ocorreu de forma adequada, ou seja: ocorreu sem
planejamento da ocupação dos espaços e sem a
devida provisão de infra-estrutura de saneamento
básico.
Apresenta-se na figura 1 a situação de impermeabilização da bacia em 2007 levantada por Sebusiani e
Bettine [7] na qual é possível perceber o grau de
urbanização a partir do grau de impermeabilização
apresentado como médio e alto.
3. A ESCOLHA DE BACIA HIDROGRÁFICA COMO
ÁREA DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL
As bacias hidrográficas são sistemas naturais, bem
delimitados no espaço e de fácil caracterização, onde as interações físicas estão integradas, alem disso
podem ser subdivididas em unidades menores, facilitando o planejamento e os estudos [5].
Outro fato que pode ser considerado para a escolha
das bacias como unidade de planejamento, é que as
bacias hidrográficas presentes no meio urbano, assim como é o caso da bacia do Córrego da Fazenda
Santa Cândida, apresentam um recorte espacial
fundamental para o seu planejamento, onde seu
processo de uso e ocupação do solo é desenvolvido
de modo espontâneo, raramente fundamentado nas
questões ambientais [7].
O Córrego da Fazenda Santa Cândida é um afluente
do Ribeirão das Anhumas, cujas águas desembocam
no rio Atibaia e esse ajuda na formação do Rio Piracicaba, ou seja, a microbacia estudada faz parte do
comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba,
Capivari e Jundiaí – PCJ [8]
Figura 1 – Impermeabilização na Bacia do Córrego da
Fazenda Santa Cândida no ano de 2007 [7].
Anais do XVIII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do III Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
24 e 25 de setembro de 2013
4.1 PERCENTUAL DE ÁREA VERDE
As áreas verdes englobam locais como praças, jardins e parques, também são apresentadas como
domínio público, com um importante papel para a
saúde, proporcionando atividades de lazer ao ar livre. A distribuição destas áreas deve ser igualitária,
sem privilegiar nenhuma classe social e ainda estar
de acordo com sua estrutura e formação [9].
Com os avanços da urbanização, os espaços livres
destinados para o lazer vêm sendo ocupados pelo
setor imobiliário caracterizando em um crescimento
intenso e desordenado também nas áreas urbanas
periféricas, seja pela população de baixa renda, bem
como pela população de alta renda [10].
Considerando que o ideal de área verde é de 12 m 2
por habitante, seria necessário na bacia em estudo
0,15 Km2 de área verde, o que representa 3,75% da
sua área total, isso se a população se mantivesse
estável em 13.000 habitantes. Com base nesse valor
foi elaborado o gráfico apresentado na Figura 2, na
qual indica-se o IQA igual a 1 para um percentual de
área verde de 3,75% e valores intermediários para
percentuais menores. Ao realizar os cálculos no âmbito da bacia Santa Cândida, observamos que apenas 1,8 % de sua área é efetivamente área verde, o
que representa um IQA de aproximadamente 0,20.
1
IQA
As áreas urbanas em expansão ou em processo de
adensamento, como é o caso da bacia Santa Cândida, apresenta crescimento da população residente,
assim, o mais adequado seria considerar um gráfico
como o apresentado na Figura 3, que poderia ser
utilizado em situações futuras com um número diferente de habitantes presentes na área, mesmo que a
relação IQA versus Ideal de Área Verde por Habitante seja apresentada como linear.
1
0,8
0,6
IQA
4. ESTABELECIMENTO DOS INDICADORES DA
QUALIDADE AMBIENTAL PARA A ÁREA
0,4
0,2
0
0
Ideal de área verde / habitante 12m2/hab
Figura 3 - Relação IQA x Ideal de área verde / habitante
0,9
Elaborado pelo autor
0,8
0,7
4.2 PERCENTUAL DE MATA CILIAR NATIVA
0,6
As matas ciliares são importantes para a manutenção da integridade do leito do rio, alem disso são
importantes para a biodiversidade de espécies animais e vegetais [11].
0,5
0,4
Para ser calculada a quantidade ideal de mata ciliar
em um rio toma-se em conta o comprimento e a largura do curso d’água, além de considerar o mínimo
de mata nativa que deve existir ao longo do rio de
acordo com o estabelecido no código florestal.
0,3
0,2
0,1
0
0%
1%
2%
3,00%
3,75%
Figura 2 - Relação IQA x Percentual de área verde
Elaborado pelo autor
No caso da Bacia Hidrográfica do Córrego da Fazenda Santa Cândida a porcentagem de mata ciliar
nativa encontrada é 3% da sua área total, ou seja: a
totalidade de vegetação nativa da microbacia é baixa, uma vez que através de cálculos realizados foi
estimado que seria necessário um mínimo de 5,5%
de mata ciliar ao longo dos cursos d’água, o que representaria o valor 1,0 na escala de IQA. Com os
Anais do XVIII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do III Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
24 e 25 de setembro de 2013
valores atuais apresentados pela bacia e levantados
neste trabalho, o IQA com respeito ao percentual de
mata ciliar é 0,15.
1
0,9
0,8
0,7
1
IQA
0,6
IQA
0,9
0,5
0,8
0,4
0,7
0,3
0,6
0,2
0,5
0,1
0,4
0
0%
4%
8%
12%
Percentual de Mata Nativa
0,3
0,2
20%
Figura 7 – Relação IQA x Percentual de Mata Nativa.
Elaborado pelo autor
0,1
0
16%
0%
1%
2%
3,50%
4,50%
Percentual de mata nativa
5,00%
5,50%
5. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Figura 4 – Relação IQA x Percentual de Mata Ciliar
Nativa
Elaborado pelo autor
4.3 PERCENTUAL DE MATA NATIVA
A principal função de uma mata nativa é preservar a
fauna e a flora, e assim proporcionar uma melhor
qualidade ambiental daquela região. A presença ou
não desses fragmentos de mata também são responsáveis por indicar o grau de interferência antrópica na área estudada.
Possuir uma reserva de mata nativa em áreas urbanas durante o desenvolvimento da urbanização significa que uma parcela da vegetação original daquela região estará preservada, seja por se tratar de
uma propriedade particular ou por se tratar de uma
Área de Proteção Ambiental.
Com número de indicadores escolhidos para o meio
biótico, optou-se por atribuir graus de importância
aos mesmos que variassem de 1 a 5. E, ainda, sendo restrito a três indicadores significativos entendeuse que os mesmos devessem ter graus de importância similiares, conforme apontado na tabela 1, com
maior peso para área verde por se tratar de área
urbana.
Após as análises dos dados obtidos, e da leitura da
tabela 1 a seguir, conclui-se que a bacia apresenta
situação de qualidade ambiental significativamente
baixa quanto ao meio biótico.
Tabela 1 - Dados da pesquisa e análise da
qualidade ambiental na micro-bacia do Córrego da
Fazenda Santa Cândida
Conforme o que rege a Constituição Brasileira e
descrito na lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012 do
Código Florestal, em áreas urbanas, antes sob uma
influência rural, como é o caso da Bacia Hidrográfica
do Córrego da Fazenda Santa Cândida, deve ser
preservada 20% da sua área de vegetação nativa.
Assim, elaborou-se o gráfico apresentando na Figura
7 no qual para um Indicador de Qualidade Ambiental
ser máximo em uma determinada área indica-se a
necessidade da existência de mata nativa em 20%
desta área.
O número referente à porcentagem de mata nativa
na bacia Santa Cândida é de 4%, indicando um baixo IQA, valor 0,05 em um total máximo que representa o valor numérico 1,0.
Índice de
Grau de
Unidade
Qualidade
Importância
de Impac-
da
Ambiental
(GI)
to Ambi-
Qualidade
ental (UIA
Ambiental
(IQA)
Análise
= GI x IQA)
Área
0,20
5
1,0
Baixa
0,15
4
0,6
Baixa
0,05
4
0,2
Baixa
verde
Mata
Ciliar
nativa
Mata
Nativa
Ideal 13
Real 1,8
Anais do XVIII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do III Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
24 e 25 de setembro de 2013
REFERÊNCIAS
[1] MARQUES, D. M. L. M e TUCCI, C. E. M. Avaliação e controle da drenagem urbana. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2000.
[2] CRUZ, M. A. e TUCCI, C. E. M. Avaliação de
Cenários de Planejamento na Drenagem Urbanar. Revista Brasileira de Recursos Hídricos.
Vol. 13 n.3 Jul/set 2008, 59-71.
[3] SÁNCHEZ, L. H. Avaliação de Impacto Ambiental: conceitos e métodos. São Paulo: Oficina de
Textos, 2006.
[4] SANTOS, R. F. Planejamento Ambiental: teoria
e prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2004
[5] DEE, N. et al. An environmental evaluation system for water resource planning. Water resource
research, v.9, n.3, p.523-535, 1973.
[6] KLING, A. S. M. Aplicação do Método de Battelle
na avaliação do impacto ambiental na Bacia hidrográfica do rio Piabanha. Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Publica Sérgio
Arouca. Fiocruz. Rio de Janeiro, 2005.
[7] SEBUSIANI, H. R. V e BETTINE, S. C, Metodologia de análise do uso e ocupação do solo em
micro bacia urbana. Revista Brasileira de Gestão
e Desenvolvimento Regional - G&DR - v. 7, n.
1, p. 256-285, jan-abr/2011, Taubaté, SP, Brasil.
[8] PEREIRA, José Carlos. Geoquímica de solos e
sedimentos e impacto antrópico por elementostraço, na microbacia do Córrego da Fazenda
Santa Cândida, área periurbana de Campinas
(SP). Campinas, 2005. 86p. Dissertação de Mestrado em Geociência. Universidade Estadual de
Campinas.
[9] MORERO, A. M.; SANTOS, R. F. dos;
FIDALGO, E. C. C. Planejamento ambiental de
áreas verdes: estudo de caso em Campinas–SP.
Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 19, n. 1, p. 19-30,
jun. 2007.
[10] BETTINE, S. C. e DEMANBORO, A. C. Gestão
dos Serviços de Saneamento em Condomínios
Fechados, cap. 32 pg 859 – 877 – In Gestão do
Saneamento Básico: Abastecimento de Água e
Esgotamento Sanitário, Philippi Jr, A. e Galvão
Jr, A. C. (orgs). Coleção Ambiental. Barueri, SP:
Manole, 2012.
[11] CALHEIROS, R. de Oliveira et al. Preservação e
Recuperação das Nascentes. Piracicaba: Comitê
das Bacias Hidrográficas dos Rios PCJ – CTRN,
2004.
Download

Estabelecimento e levantamento de indicadores - PUC