AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE EXTRATOS DE GUACO (Mikania glomerata Sprengel) José Jardes da Gama Bitencourt1; Alexandra Christine H. Frankland Sawaya2, Maria Cristina Marcucci Ribeiro3 Área do Conhecimento: Ciências da Saúde. Palavras-chave: Mikania glomerata Sprengel; Guaco; Atividade antimicrobiana. INTRODUÇÃO A Mikania glomerata Sprengel, conhecida popularmente como guaco, é um dos fitoterápicos mais vendidos do Brasil. Esta planta é nativa da Mata Atlântica, pertence à família Asteraceae, sendo originária da América do Sul. (CELEGHINI et al, 2006). O gênero Mikania é composto de aproximadamente 450 espécies. Destas, cerca de 150 são encontradas no Brasil. A espécie Mikania glomerata é considerada o guaco oficial da Farmacopéia Brasileira. Suas folhas são popularmente utilizadas na forma de chás ou xarope como broncodilatador, antiasmático, expectorante, antitussígeno e no tratamento de infecções respiratórias. (RUPPERT et al, 1991). Estudos farmacológicos têm comprovado as propriedades antiespasmódica, broncodilatadora, antiinflamatória, antialérgica, antimicrobiana e antiofídica. (GRAÇA et al, 2007). As atividades farmacológicas podem ser atribuídas a diversas substâncias isoladas desta planta, entre elas a cumarina (marcador), lupeol e ácido caurenóico. (FIERRO et al, 1999). Embora as indústrias químicas e farmacêuticas tenham produzido uma imensa variedade de diferentes antibióticos nos últimos tempos, cada vez mais tem sido observado um aumento da resistência das bactérias a essas drogas usadas para fins terapêuticos. Em geral, bactérias têm a habilidade genética de adquirir e transmitir resistência às drogas utilizadas como agentes terapêuticos. O problema dos micróbios resistentes está crescendo e a perspectiva para o uso de antibióticos é indefinida. (COUTINHO et al, 2004). Sendo assim, pesquisas voltadas para o estudo e avaliação de produtos naturais como terapêuticos e principalmente com atividade antibiótica devem ser estimulados no intuito de criar novas drogas ou adaptar as já existentes para que voltem a ter atividade Na pesquisa desenvolvida neste trabalho, extratos com solventes de polaridades diferentes foram obtidos a quente (Soxhlet) e à temperatura ambiente (banho de ultrassom). A atividade antimicrobiana destes extratos foi avaliada frente a uma cepa de bactérias Gram-positivas (Staphylococcus aureus), uma Gram-negativa (Escherichia coli) e uma levedura (Candida albicans) por diluição em tubos. OBJETIVO Esta pesquisa pretende responder cientificamente às seguintes questões: A Mikania glomerata Sprengel realmente possui atividade antimicrobiana contra bactérias Gram-positivas (Staphylococcus aureus), Gram-negativas (Escherichia coli) e leveduras (Candida albicans)? METODOLOGIA As folhas de guaco (Mikania glomerata Sprengel) foram obtidas na horta orgânica do Instituto Cândido Ferreira, em Souzas, próximo à cidade de Campinas, São Paulo em 20 de fevereiro de 2008. A secagem das folhas foi feita no Laboratório de Pesquisa em Farmácia da Universidade Bandeirante de São Paulo à temperatura ambiente por um período de 10 dias aproximadamente. Após a secagem das folhas, as mesmas foram pulverizadas para a preparação de extratos com solventes de diferentes polaridades (éter, etanol, hexano e água). O guaco pulverizado foi colocado dentro de um recipiente fechado com 3 partes do líquido extrator para 1 parte de guaco. O processo, idêntico ao processo tradicional de maceração, diferencia-se apenas pelo uso do aparelho de ultrassom. O banho de ultrassom foi utilizado para a extração de extratos de guaco a frio. Foram utilizados água, álcool e éter como solvente. Após a extração, o extrato foi filtrado e em seguida evaporado. Os extratos à base de álcool e éter foram evaporados na Estudante do Curso de Farmácia e Bioquímica; e-mail: [email protected] Colaboradora da Universidade Bandeirante; e-mail: [email protected] Professora da Universidade Bandeirante; e-mail: [email protected] -- capela enquanto o extrato à base de água foi liofilizado. Em ambos os casos, os solventes foram evaporados sem uso de aquecimento O aparelho de Soxhlet foi utilizado para a obtenção de extratos de guaco a quente. O guaco pulverizado foi colocado dentro de um cartucho feito de papel filtro, em seguida foi colocado dentro do aparelho de Soxhlet junto com o solvente. Foram utilizados três solventes de polaridades diferentes, sendo eles a água, o álcool e o hexâno. Após a extração, o extrato foi removido para um Becker e o restante da amostra foi descartado. O extrato alcoólico foi evaporado na capela para a obtenção do extrato seco, enquanto o extrato à base de água foi liofilizado. O extrato de guaco extraído a partir do hexâno foi evaporado na capela, no entanto, as amostras com hexâno foram descartadas, pois não foi possível solubilizálas após a obtenção do extrato seco. Os extratos aquosos secos foram novamente dissolvidos em água antes de serem usados nos testes microbiológicos. Os extratos etanólicos e etéreos secos foram dissolvidos em solução de etanol 50% antes de serem utilizados nos testes microbiológicos. Para a realização dos testes microbiológicos foram utilizados os seguintes microrganismos: Staphylococcus aureus ATCC 6534, Escherichia coli ATCC 25922, Candida albicans ATCC 90028. Para iniciar a realização dos testes antimicrobianos é necessário reativar os microrganismos. Com a alça de platina esterilizada na chama do bico de Bunsen, foi retirada uma porção da cultura da placa de Petri. Os microrganismos retirados foram transferidos para um tubo com 1 mL de meio de cultura (Caldo MuellerHinton para as bactérias e caldo Sabouraud para levedura) previamente esterilizado em autoclave. Após incubar por 24 horas a 37ºC, uma alíquota destes microrganismos foi diluída no respectivo caldo até ter turvação igual ao tubo Mac Farland número 1 por comparação visual. Esta suspensão de microrganismos foi usada para inocular os tubos. Foram feitas diluições seriadas dos extratos etanólicos, aquosos e etéreos em caldo Mueller-Hinton para as bactérias e caldo Sabouraud para levedura, com o objetivo de obter concentrações de 20,0 mg/ml, 10,0 mg/ml, 5,0mg/ml e 2,5 mg/ml de extrato seco no caldo. Este procedimento foi realizado para todas as amostras de guaco. Em paralelo, foi feita uma série de tubos somente com o solvente utilizado para verificar a possível atividade antimicrobiana do solvente e usada como controle. Todos os tubos foram inoculados com 20 µl da suspensão do microrganismo em questão. Os tubos foram agitados e, a seguir, incubados em estufa a 37ºC por 24 horas. Como muitas vezes o extrato de guaco turva o meio de cultura dificultando a leitura e como meio de garantir o resultado após o período de incubação de 24 horas, foi retirado 50 µl de cada tubo e inoculado em um novo tubo contendo 1 ml de meio de cultura. Esta segunda série de tubos foi incubada por mais 24 horas a 37ºC, para observar se há turvação. RESULTADOS E DISCUSSÃO Resultado da atividade antimicrobiana das amostras 1 e 2 após 24 horas. Não foi demonstrada atividade antimicrobiana contra Candida albicans em nenhuma das concentrações testadas, uma vez que todos os tubos ficaram turvos após vinte e quatro horas, indicando crescimento do microrganismo no meio. Atividade inibitória de crescimento de Escherichia coli foi observada nos tubos com concentrações de 20mg/ml, 10mg/ml e 5mg/ml que não apresentaram turvação após 24 horas. Após repicagem, os tubos com concentração de 5mg/ml ficaram turvos e os tubos com concentrações superiores ficaram límpidos. Portanto, a concentração inibitória mínima foi de 5,0 mg/ ml e a concentração bactericida mínima foi de 10 mg/ml. Atividade inibitória de crescimento de Staphylococcus aures foi observada nos tubos com concentrações de 20mg/ml e 10mg/ml, os quais não apresentaram turvação após 24 horas. Após repicagem, os tubos com concentração de 10mg/ml ficaram turvos e os tubos com concentrações superiores ficaram límpidos. Portanto, a concentração inibitória mínima foi de 10mg/ml e a concentração bactericida mínima foi de 20mg/ml. Resultado da atividade antimicrobiana das amostras 3 e 4 após 24 horas. Não foi demonstrada atividade antimicrobiana contra Candida albicans em nenhuma das concentrações testadas, uma vez que todos os tubos ficaram turvos após vinte e quatro horas, indicando crescimento do microrganismo no meio. Atividade inibitória de crescimento de Escherichia Número da Amostra Solvente utilizado Preparação 1 Etanol P.A. Temp. ambiente. Banho de ultrassom 2 Etanol P.A. Soxhlet 3 Água Milli-Q Temp. ambiente. Banho de ultrassom 4 Água Milli-Q Soxhlet 5 Éter etílico P. A. Temp. ambiente. Banho de ultrassom Tabela 1 Extratos secos obtidos a partir de folhas de guaco por diversos solventes. Fonte: Acervo pessoal. -- coli foi observada nos tubos com concentrações de 20mg/ml e 10mg/ml não apresentaram turvação após 24 horas. Após repicagem, os tubos com concentração de 10mg/ml ficaram turvos e os tubos com concentrações superiores ficaram límpidos. Portanto, a concentração inibitória mínima foi de 10mg/ml e a concentração bactericida mínima foi de 20mg/ml. Atividade inibitória de crescimento de Staphylococcus aureus foi observada nos tubos com concentrações de 20mg/ml e 10mg/ml, não apresentando turvação após 24 horas. Após repicagem, os tubos com concentração de 10mg/ml ficaram turvos e os tubos com concentrações superiores ficaram límpidos. Portanto, a concentração inibitória mínima foi de 10mg/ml e a concentração bactericida mínima foi de 20mg/ml. Resultado da atividade antimicrobiana da amostra 5 após 24 horas. Os extratos de guaco etéreos, assim como os demais extratos de guaco, não conseguiram inibir o crescimento da Candida albicans nas concentrações testadas, pois todos os tubos ficaram turvos após o período de 24 horas. Atividade inibitória de crescimento de Escherichia coli foi observada nos tubos com concentrações de 20mg/ml e 10mg/ml, que não apresentaram turvação após 24 horas. Após repicagem, os tubos com concentração de 10mg/ml ficaram turvos e os tubos com concentrações superiores ficaram límpidos. Portanto, a concentração inibitória mínima foi de 10mg/ml e a concentração bactericida mínima foi de 20mg/ml. Atividade inibitória de crescimento de Staphylococcus aures foi observada nos tubos com concentrações de 20mg/ml que não apresentaram turvação após 24 horas, no entanto, após repicagem, todos os tubos ficaram turvos, portanto a concentração inibitória mínima foi de 20mg/ml e a concentração bactericida mínima não foi estabelecida. na literatura provando que realmente os extratos de guaco possuem atividade antimicrobiana, entretanto, não foi encontrada a concentração inibitória mínima para a Candida albicans. Foram encontradas as concentrações bactericidas e inibitórias frente às duas bactérias testadas. Bibliografia CELEGHINI, M. S.; VILEGAS, J. H. Y.; LANÇAS, F. M. Extraction and quantative HPLC analysis of coumarin in hydroalcoholic extracts of Mikania glomerata Sprengel “guaco” leaves. J. Braz. Chem. Soc. V. 12, p. 706-709, 2001. COUTINHO et al. Atividade antimicrobiana de produtos naturais. Rev. Conceitos, v. 6, p. 77-85, 2004. FIERRO, I. M.; SILVA, A. C. B.; LOPES, C. S.; MOURA, R. S.; FIDALGO, C. B. Studies on the anti-allergic activity of Mikania glomerata. J. Ethnopharmacol., Shannon, v.66, n.1, p.19-24, 1999. GRAÇA, C.; FREITAS, C. S.; BAGGIO, C. H.; DALSENTER, P. R.; MARQUES, M. C. A. Mikania syrup does not induce side effects on reproductive system of male winstar rats. Journal of Ethnopharmacology, n.111, p.29-32, 2006. RUPPERT, B. M.; PEREIRA, E. F. R.; GONÇALVES, L. G.; PEREIRA, A. N. Pharmacological screening of plants recommended by folk medicine as anti-snake venom. I. Analgesic and inflammatory activities. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v.86, n.2, p.203-205, 1991. CONCLUSÃO O método de extração não alterou os resultados, ou seja, não interferiu na atividade antimicrobiana dos extratos de guaco. Ao contrário dos solventes que interferiram na ação antimicrobiana dos extratos. Os extratos alcoólicos apresentaram a melhor atividade antimicrobiana, com resultados muito parecidos àqueles obtidos com as amostras aquosas. No entanto, os extratos etéreos tiveram resultados que comprovam que o solvente interfere na atividade antimicrobiana talvez porque, utilizando o éter como solvente, algum composto que exerça importância na atividade antimicrobiana deixe de ser extraído ou ainda seja extraído em menor proporção. Como todos os extratos tiveram solventes removidos antes da avaliação da sua atividade antimicrobiana, está excluída a possibilidade do solvente dos extratos afetarem os resultados desta análise. O presente trabalho confirma informações encontradas --