UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Lótos Dias Medeiros Análise da Eficiência Térmica em Conjunto Habitacional: O estudo de caso Zezinho Magalhães Prado - CECAP São Paulo 2014 Análise da Eficiência Térmica em Conjunto Magalhães Prado - CECAP de formas o emprego construtivo paraOhabitações crítica de sistema de caso Zezinho Habitacional: estudo com Medeiros Lótos DiasAnálise metálicas tipo túnel a partir de processo de aprovação técnica. 2014 Lótos Dias Medeiros Análise da Eficiência Térmica em Conjunto Habitacional: O estudo de caso Zezinho Magalhães Prado - CECAP Dissertação apresentada a Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Área de concentração: Projeto de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Drª. Célia Regina Moretti Meirelles São Paulo 2014 Lótos Dias Medeiros Análise da Eficiência Térmica em Conjunto Habitacional: O estudo de caso Zezinho Magalhães Prado - CECAP Aprovado em Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________ Profª. Drª. Célia Regina Moretti Meirelles – Orientadora Universidade Presbiteriana Mackenzie ____________________________________________________ Prof. Dr. Dominique Fretin Universidade Presbiteriana Mackenzie ____________________________________________________ Prof. Dr. Leonardo Marques Monteiro Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo À minha esposa e amigos, pelo constante incentivo e apoio; à minha orientadora, pela confiança na realização deste trabalho. Agradecimentos A Deus, fonte de toda sabedoria, pela força e pela coragem que nos concedeu, permanecendo ao nosso lado em todo o percurso desta caminhada. À Drª. Célia Regina Moretti Meirelles, minha eterna gratidão, por ter sido orientadora persistente e amiga, que, com diretrizes seguras, muita paciência, constante acompanhamento e incentivo, me aceitou com todas as minhas restrições e que, com sua competência, me fez concluir esta empreitada. Ao Dr. Dominique Fretin, pelo muito que me ensinou durante minha carreira docente e pelas sugestões apresentadas no momento do exame de qualificação. Ao Dr. Leonardo Marques Monteiro, pelos comentários e sugestões apontadas no decorrer do exame de qualificação. Aos amigos e colegas de trabalho do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, que sempre colaboraram e me incentivaram em vários momentos de minha vida tão atribulada, fazendo-me repensar e prosseguir. Aos professores e funcionários da Pós-Graduação Mackenzie, pelo incentivo à realização deste trabalho. À Profª. Angélica Ap. Tanus Benatti Alvim, à Profª. Eunice Helena Sguizzardi Abascal e à Profª. Maria Augusta Justi Pisani por compartilhar conosco seus conhecimentos. M488a Medeiros, Lótos Dias Análise da eficiência térmica em conjunto habitacional: O estudo de caso Zezinho Magalhães Prado - CECAP. / Lótos Dias Medeiros – 2014. 138 f. : il. ; 30cm. Mestrado (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014. Bibliografia: f. 130-135. 1. Habitação Social. 2. Eficiência Térmica. 3. Desempenho. 4. Avaliação de desempenho. 5. Normas. 6. Certificação. I. Título. CDD 728 Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível. (Charles Chaplin) Resumo A presente pesquisa aborda a produção da habitação social, com viés no processo da qualidade de desempenho térmico. Um projeto arquitetônico que desde o princípio integra, técnicas Bioclimáticas com eficiência energética e desempenho do edifício, determina um menor custo ao longo da vida útil do edifício e a qualidade do ambiente interno. O conjunto habitacional está localizado no município de Guarulhos do estado de São Paulo, que possui um clima subtropical úmido, com temperatura média anual de 17ºC a 21ºC1. O intuito dessa análise é demostrar os conceitos que foram aplicados pelos arquitetos autores do projeto, sobretudo da preocupação e o desempenho na qualidade ambiental no empreendimento. Tomou-se como critérios para a avaliação do desempenho térmico, as determinações das seguintes normas e certificações ABNT, NBR 15575:2013 “Edificações Habitacionais – Desempenho”, NBR 15220:2005 “Desempenho térmico de edificações” e a Certificação brasileira Selo Casa Azul CAIXA “Boas práticas para habitação mais sustentável”. Os resultados obtidos demostram a importância do controle sobre a técnica e a qualidade da arquitetura aplicada e avaliação nos processos de certificação dos empreendimentos de interesse social, sendo de suma importância para a colaboração e desenvolvimento do desempenho ambiental aplicado à edificação. A pesquisa demostrará a importância das normas e certificações na qualidade e no desempenho do edifício. Palavras-chave: Habitação Social; Eficiência térmica; Desempenho; Avaliação de desempenho; Normas; Certificação. 1 Dados cedidos pelo Ministério da Aeronáutica – Divisão de Meteorologia. Abstract This research deals with social housing production, with an approach concerning its thermal performance. An architectural design that integrates from the beginning, Bioclimatic techniques with energy efficiency and building performance, determines a lower cost over the useful life of the building and the quality of the internal environment. Housing Project, located in Guarulhos, São Paulo, Brazil, where the climat is subtropical and humid with annual temperatures ranging from 17ºC a 21ºC2 . The aim of this analysis is to demonstrate the concepts applied by the architects who designed the buildings, moreover their concern with the performance of the enterprise environmental performance. The evaluation criteria is based mainly in the following standards and certifications ABNT NBR 15575: 2013 "Building Housing - Performance," NBR 15220: 2005 "Thermal performance of buildings" and the Brazilian Certification Selo Casa Azul CAIXA" Good practices for more sustainable housing." The obtained results demonstrate the control over the technique and the applied architectural quality as well as the evaluation of the social housing project’s venture, being of great importance for the collaboration and the development of the environmental performance, applied to buildings. The research will demonstrate the importance of standards and certifications on quality and building performance. Key-Words: Social Housing, Thermal efficiency: Performance evaluation; 2 Data provided by the Ministry of Aeronautics - Meteorology Division Lista de abreviaturas, siglas e símbolos (µ) Coeficiente de amortecimento (AQS) Sistemas de água quente (c) Calor específico (d) Densidade absoluta (e) Espessura (HVAC) Sistemas de ventilação, ar-condicionado (ITS) Índice de “Stress” Térmico (λ) Condutividade térmica (φ) Atraso ou retardo térmico (𝛚𝐬) Amplitude da temperatura superficial interna (𝜽𝒔 ) Amplitude da temperatura do ambiente externo 𝑱⁄𝒌𝒈 𝑲 Joule por quilograma e por kelvin 𝑾𝒉⁄𝒌𝒈𝑲. Calor específico em joules por quilograma Kelvins (𝝆) Densidade °C Grau Celsius ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas APO Avaliação Pós-Ocupação CO2 Dióxido de Carbono CONSTRUMAT Feira da construção CT Capacidade térmica FAUUSP Faculdade Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Paulo FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço H Horizontal IPT Instituto de Precisões e Tecnologia Km² Quilômetro quadrado LABEEE Laboratório de Eficiências Energéticas em Edificações M Metro M/S Metro por segundo NBR Norma Brasileira NW Noroeste SINDUSCON Sindicato da Indústria da Construção Civil SW Sudoeste TRNSYS Transient System Simulation Tool UFSC Universidade Federal de Santa Catarina W Oeste ZEIS Zona Especial de Interesse Social 𝑱 ∕ 𝒎𝟑 𝑲 Joule por metro cúbico e por Kelvin 𝒌𝑾𝒉 ∕ 𝒎𝟑 𝑲 Quilowatts por metro cúbico e por Kelvins Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 22 1.1 – JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA ............................... 24 1.2 – Objeto............................................................................................25 1.3 – Objetivo Geral ............................................................................. 25 1.4 – Objetivos Específicos................................................................. 25 1.5 – Método ......................................................................................... 26 2. O ESTADO DA ARTE .................................................................................. 27 2.1 - A ESSÊNCIA DO CONFORTO ..................................................... 27 2.2 - O Ambiente Humano ................................................................... 28 2.3 - O Ambiente Psíquico .................................................................. 29 2.4 - O Ambiente Externo .................................................................... 30 2.5 - O Conforto Ambiental ................................................................. 30 2.5.1 - Conforto térmico na edificação................................................36 3. ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS .............................................................. 37 3.1 - PROCEDIMENTOS PARA UMA ARQUITETURA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA .................................................................................................. 40 3.2 – A orientação solar para as unidades habitacionais................. 41 3.3 – O processo da ventilação na edificação ................................... 42 3.4.1 – Inércia térmica ........................................................................... 46 3.4.2 – Atraso térmico ............................................................................ 47 3.4.3 – Capacidade de amortecimento .................................................. 48 3.4.4 – Calor específico e a capacidade calorífica volumétrica ............. 48 3.4.5 – O uso da inércia térmica em edificações ................................... 50 4. CONJUNTO HABITACIONAL SUSTENTÁVEL: CASO “TOSSA DEL MAR” ......................................................................................................................... 51 4.1 – CICLO DE VIDA TOSSA DEL MAR.............................................. 54 4.2 – Análise das composições das vedações em Tossa Del Mar .. 55 4.3 – Energia e eficiência térmica Tossa Del Mar ............................. 59 5. AS CONSIDERAÇÕES DAS NORMAS – 15575:2013 E A 15220:2005 SOBRE CONFORTO AMBIENTAL......................................................................................................61 6. A CERTIFICAÇÃO BRASILEIRA “SELO CASA AZUL CAIXA” ................68 7. PROGRAMAS PARA ANÁLISE E SIMULAÇÃO ........................................ 73 8. OS ESTUDO DE CASO ............................................................................... 75 8.1 – CONJUNTO HABITACIONAL ZEZINHO MAGALHÃES PRADO – CECAP (CONDOMÍNIO ESPÍRITO SANTO) ................................................... 75 8.2 – A área do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado .. 78 8.3 – Dados do projeto ....................................................................... 80 8.4 – O clima da região metropolitana de São Paulo ....................... 82 8.5 – O clima do município de Guarulhos.......................................... 83 8.6 – Localização e descrição da área em estudo ............................ 84 8.7 – Análise de conforto térmico nas unidades habitacionais ....... 86 8.8 – Análise de insolação e sombreamento da unidade habitacional ............................................................................................................... 88 8.9 – Resfriamento passivo, pelo princípio da ventilação cruzada na unidade habitacional ........................................................................... 96 8.10 – Parâmetros para medições de desempenho térmico por atribuições da norma de desempenho NBR 15575:2013 e da certificação Selo Casa Azul CAIXA, na unidade habitacional (intermediária) do bloco Espírito Santo – Zezinho Magalhães Prado ............................................................................................................. 100 8.10.1 – Medições in loco .................................................................... 100 8.10.2 – Cálculo de desempenho térmico da unidade habitacional – (Temp. Efetiva Corrigida) ..................................................................... 104 8.10.3 – Transmitância térmica, atraso térmico na unidade habitacional ............................................................................................................. 114 8.10.4 – Simulação da eficiência térmica utilizando o software Designer Builder ................................................................................................. 122 9. CONSIDERAÇÕES .................................................................................... 127 12. REFÊNCIAS ............................................................................................ 130 ANEXOS..........................................................................................................136 LISTAS DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Carta bioclimática proposta por Givoni. Fonte: disponível em: <www.reitoria.uri.br/~vivencias/Numero_005/artigos/artigos_vivencias_05/artigo _006.htm> - Acesso em: 3 de fev., 2013...........................................................66 Gráfico 2 - Carta bioclimática proposta por Givoni. Fonte: disponível em: <www.reitoria.uri.br/~vivencias/Numero_005/artigos/artigos_vivencias_05/artigo _006.htm> - Acesso em: 3 de fev., 2013...........................................................67 Gráfico 3 - Gráfico de temperaturas do mês de janeiro de 2013. Fonte: <www.accuweather.com/pt/br/guarulhos/36369/month/36369?monyr=1/01/2013 > – Acesso em: 20 maio 2014. - Nota: modificado pelo Autor........................102 Gráfico 4 - Gráfico de temperaturas do mês de junho de 2013 - Fonte: <www.accuweather.com/pt/br/guarulhos/36369/month/36369?monyr=1/01/2013 > - Acesso em: 20 maio 2014 - Nota: modificado pelo Autor..........................103 Gráfico 5 - Gráfico de Temperatura Variável no dia de Verão da Tabela de simulação do apartamento (intermediário) do 2º andar da unidade do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, bloco Espírito Santo. Fonte: Modelagem no software Designer Builder. Nota: do Autor...............................124 Gráfico 6 - Gráfico de Temperatura Variável no dia de inverno da Tabela de simulação do apartamento (intermediário) do 2º andar da unidade do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, bloco Espírito Santo. Fonte: Modelagem no software Designer Builder. Nota: do Autor...............................126 0 LISTAS DE TABELAS Tabela 1 - Dados de Clima – São Paulo. Fonte: FROTA; SCHIFFER,2003 - Manual de Conforto Térmico, p. 215 – Nota: Modificado pelo Autor...............................40 Tabela 2 - Dados de Radiação Solar Incidente (Ig) sobre Planos Verticais e Horizontais (°C). Na latitude: 23°36’ sul da Cidade de Guarulhos no Estado de São Paulo. Fonte: FROTA; SCHIFFER,2003 - Manual de Conforto Térmico, p. 232 – Nota: Modificado pelo Autor......................................................................40 Tabela 4 - Transmitância térmica de cobertura - Fonte: NBR – 15220:2005 – Nota: modificado pelo autor. ........................................................................................ 63 Tabela 5 - Transmitância térmica de cobertura - Fonte: NBR – 15220:2005 – Nota: modificado pelo autor. ........................................................................................ 63 Tabela 6 - Classificação segundo a NBR 15575:2013 das faixas de conforto térmico para um dia típico de verão - Fonte: NBR – 15575:2013 – Nota: modificado pelo autor. .................................................................................................................. 64 Tabela 7 - Classificação segundo a NBR 15575:2013 das faixas de conforto térmico para um dia típico de inverno. Fonte: NBR – 15575:2013 – Nota: modificado pelo autor. .................................................................................................................. 64 Tabela 8 – Tabela dos símbolos térmicos - Fonte: NBR – 15220:2005: Desempenho térmico, 2005. .................................................................................................... 65 Tabela 9 - Critérios de análise para certificação Selo Casa Azul CAIXA - Fonte: OFICINA SINDUSCON/SP - Nota: modificado pelo autor.................................. 71 Tabela 10 – Quadro de critérios de avaliação pela categoria 2 - PROJETO E CONFORTO – Estratégias para a arquitetura bioclimática, demarcadas na cor azul – Fonte: Selo Casa Azul versão web – Nota: modificado pelo autor. ......... 72 Tabela 11 – Quadro da equipe que constituiu o Escritório técnico da CECAP. Fonte: REVISTA DESENHO, 1972. .............................................................................. 80 Tabela 12 - Tabela do horário de insolação da fachada 1 (interna). Fonte: Autor. ... 90 Tabela 13 - Tabela do horário de insolação da fachada 2 (externa). Fonte: Autor. .. 91 Tabela 14 - Trecho extraído da tabela 6 de estratégias do caderno de certificação Selo Casa Azul CAIXA – Fonte: CAIXA (2010). Nota: modificado pelo Autor. ........... 99 Tabela 15 - Tabela de ganhos de calor solar (Ig), adquirido por hora em determinada posição de fachada - Fonte: Autor..........................................105 Tabela 16 - Tabela de ganhos de calor solar (Ig) no mês de Junho, adquirido por hora em determinada posição de fachada - Fonte: Autor. ....................................... 110 1 Tabela 17 - Memorial de cálculo da parede de concreto armado. Fonte: FRETIN (2013). Nota: modificado pelo Autor. ................................................................ 115 Tabela 18 - Tabela de Transmitância térmica e atraso térmico de paredes e coberturas. Fonte: NBR 15220 – parte 3 (2005c). Nota: modificado pelo Autor. ......................................................................................................................... 116 Tabela 19 - Tabela extraída da NBR 15220:2005 – parte 3: Aberturas, Vedações e condicionamento térmico passivo – Fonte: NBR 15220:2005 – parte 3. Nota: modificado pelo Autor........................................................................................116 Tabela 20 - Tabela de aberturas para ventilação. Fonte: NBR 15220:2013 – parte 3. Nota: modificado pelo Autor..............................................................................119 Tabela 21 - Tabela de simulação térmica computacional do período de solstício de verão no apartamento (intermediário) do 2º andar da unidade do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, bloco Espírito Santo. Temp. máx. interna e externa - Fonte: Modelagem no software Designer Builder - Nota: do Autor..................................................................................................................123 Tabela 22 – Classificação segundo a NBR 15575:2013 das faixas de conforto térmico para dia típico de verão. Fonte: NBR – 15575:2013 e NBR 15220:2005. Nota: modificado pelo Autor..............................................................................124 Tabela 23 - Tabela de valores de temperaturas do dia 20/01/13, adquirido pelo software Designer Builder. Fonte: Programa computacional Designer Builder Nota: modificado pelo Autor..............................................................................125 Tabela 24 - Tabela de simulação térmica computacional do período de Solstício de Inverno no apartamento (intermediário) do 2º andar da unidade do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, bloco Espírito Santo. Temp. mín. interna e externa. Fonte: Modelagem no software Designer Builder. Nota: do Autor..................................................................................................................125 Tabela 25 - Classificação segundo a NBR 15575:2013 das faixas de conforto térmico para dia típico de inverno. Fonte: NBR – 15575:2013 e NBR 15220:2005. Nota: modificado pelo Autor.........................................................126 Tabela 26 - Tabela de valores de temperaturas do dia 21/01/13, adquirido pelo programa computacional Designer Builder. Fonte: Programa computacional Designer Builder. Nota: modificado pelo Autor.................................................126 2 LISTAS DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Ilustração dos componentes que afetam o conforto ambiental em uma edificação - Fonte: disponível em: <www.arcoweb.com.br/especiais/fotos/48/z6corte-esquema.jpg>. Acesso em: 9 dez., 2013. ................................................. 35 Figura 2 - A declinação solar e as estações: o eixo da Terra está inclinado em 23,5° em relação ao plano da órbita do planeta ao redor do Sol. Essa inclinação causa as mudanças climáticas sazonais na superfície terrestre. Fonte: Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis – KEELER; BURKE (2010). ..................... 39 Figura 3 - Exemplo de ventilação higiênica cruzada. Fonte:– GURGEL (2012) - Design passivo baixo custo energético, p. 32. ............................................................... 43 Figura 4 - Estratégias de ventilação: Ventilação Cruzada - Fonte: Movimento terras, Em busca da sustentabilidade, São Paulo, ano 12, Movimento Terra, set. 2014. Disponível em: < movimentoterras.blogspot.com.br/2012/09/a-ventilacao-naturale-o-fenomeno-da.html>. Acesso em: 12 ago. 2013. .......................................... 44 Figura 5 – Estratégias de ventilação: Efeito Chaminé - Fonte: Movimento terras, Em busca da sustentabilidade, São Paulo, ano 12, Movimento Terra, set. 2014, disponível em: < movimentoterras.blogspot.com.br/2012/09/a-ventilacao-naturale-o-fenomeno-da.html>. Acesso em: 12 ago. 2013. .......................................... 44 Figura 6 - Estratégias de ventilação: Fachadas Ventiladas Fonte: Movimento terras, Em busca da sustentabilidade, São Paulo, ano 12, Movimento Terra, set. 2014, disponível em: <movimentoterras.blogspot.com.br/2012/09/a-ventilacao-naturale-o-fenomeno-da.html>. Acesso em: 12 ago. 2013. .......................................... 45 Figura 7 - Conjunto habitacional Presidente Mendes de Moraes (Pedregulho) vista dos fundos - Edifício sob pilotis e aberturas na fachada para ventilação. Fonte: Arquitetura no Brasil, São Paulo, ano 10, Moderna, maio 2010, disponível em: <www.simonemarinho.com/imagem/index.php?id=28>m. Acesso em: 23 maio 2014. .................................................................................................................. 46 Figura 8 - Esquema explicativo do fenômeno da inércia térmica de uma parede real (q2) e de uma parede fictícia de peso nulo (q1) – Fonte: FROTA; SCHIFFER (2001) - Manual de Conforto Térmico, p. 51. ..................................................... 47 Figura 9 - Mapa de localização da cidade de Tossa Del Mar, província de Girona Espanha - Fonte: Google maps - BCN IGN Espanã, ano 04, maio 2014, disponível em: <www.googlemaps.com.br> - Nota: Modificado pelo autor. Acesso em: 23 maio 2014. ......................................................................................................... 51 Figura 10a e 10b - Renderização das Unidades Habitacionais - Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013. ............................................................. 52 3 Figura 11a e 11b - Renderização das Unidades Habitacionais - Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013. ............................................................. 52 Figura 12 - planta de Arquitetura das Unidades Habitacionais – Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 8, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013. ............................................................. 53 Figura 13 – A implantação dos blocos habitacionais -Tossa Del Mar - Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013. ............................................................. 54 Figura 14 - Processos de fontes de energia renovável no edifício - Fonte: Sabaté associats —Arquitectura i Sostenibilitat, Barcelona, Spain, year 08, october 2008, disponível em: <www.saas.cat>. Acesso em: 4 abr. 2013. ............................... 55 Figura 15a e 15b - Exemplo de fachada baseada em material - Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013 - Nota: modificado pelo autor. .............. 57 Figura 16a - Composição de painéis de vedação. Figura 16b - laje baseada em material orgânico – Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-1047.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013 - Nota: modificado pelo autor. .. 58 Figura 17a e 17b - A composição de painéis de vedação - laje baseada em material orgânico – Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-1047.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013 - Nota: modificado pelo autor. .. 58 Figura 18 - Determinação Solar e Simulação de sombra – Fonte: Sabaté associats — Arquitectura i Sostenibilitat, Barcelona, Spain, year 08, october 2008, disponível em: <www.saas.cat>. Acesso em: 4 abr, 2013. ............................................... 59 Figura 19a - Zoneamento Bioclimático brasileiro - Figura 19b - Localização da Zona Bioclimática 3 – Fonte: NBR – 15220:2005 – Nota: modificado pelo autor. ....... 62 Figura 20 – Hierarquias dos selos para certificação - Selo Casa Azul CAIXA - Fonte: OFICINA SINDUSCON/SP - Nota: modificado pelo autor.................................. 70 4 Figura 21 - Referencial técnico para o proponente: Guia CAIXA de Sustentabilidade Ambiental – Selo Casa Azul – Boas Práticas para Habitações mais Sustentáveis – Fonte: OFICINA SINDUSCON/SP. ................................................................. 70 Figura 22a - Planta livre - Espaços grandes entre blocos constituídos por praças internas – Fonte: ISAAC (2007). Figura 22b Fachada do conjunto habitacional Zezinho Magalhães Prado – Fonte: MELLO (1960/1970). ................................. 76 Figura 23a – Canteiro central que possibilita a liberdade de uso dos espaços aos usuários. Figura 23b – Pátio interno, possibilidade de insolação e ventilação entre blocos - Fonte: ISAAC (2007). ........................................................................... 76 Figura 24 - Localização do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado/Parque CECAP. Fonte: ISAAC (2007)............................................................................ 77 Figura 25 - Matrícula de 1.780,00 m2 – Terreno Inicial CEESP; Fonte: ISAAC (2007). ........................................................................................................................... 78 Figura 26 - Estudo de implantação. Fonte: MDC, Revista de arquitetura e urbanismo ano 14, disponível em: < mdc.arq.br/2011/09/06/architettura-contemporaneabrasile-arquitetura-brasileira-entre-1957-e-2007/6-conjunto-zezinho-magalhaesprado-vilanova-artigas-paulo-mendes-da-rocha-fabio-penteado-guarulhos-sp1967/> ................................................................................................................ 79 Figura 27a e 27b - Demonstra a importância das quadras abertas por os blocos da edificação serem sob pilotis - Fonte: PEREIRA (2012). ..................................... 79 Figura 28 - Implantação do projeto de 1967 na malha urbana atual de Guarulhos. Fonte: ISAAC (2007). ......................................................................................... 81 Figura 29 - Implantação do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado/Parque CECAP com destaque no que foi construído – Fonte: ISAAC (2007). ............... 81 Figura 30 – Implantação do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado em foto aérea em 2007 – Fonte: ISAAC (2007). ............................................................. 81 Figura 31 - Edifícios da primeira fase de construção – Fonte: Laboratório de Artes Gráficas da FAAUSP.......................................................................................... 82 Figura 32 – A Implantação do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado – Identificação do bloco a qual encontra-se a unidade habitacional a ser analisada – Fonte: Google Maps. Acesso em: 20 maio 2014 – Nota: modificado pelo Autor. ........................................................................................................................... 84 Figura 33 - Planta das unidades habitacionais e a posição dos blocos em relação ao norte verdadeiro - Fonte: Revista Desenho 4 – Nota: modificado pelo Autor..... 85 Figura 34 – Simulação da trajetória aparente do sol - Fonte: Google Maps. Acesso em: 20 maio 2014 - Nota: modificado pelo Autor. ............................................. 85 5 Figura 35 - Carta solar. Fonte: Lamberts; Dutra & Pereira (1997). ........................... 86 Figura 36 - Carta Solar – Fonte: Lamberts, Dutra & Pereira (1997) – Ilustração: Luciano Dutra ® ................................................................................................. 87 Figura 37 - Carta Solar de São Paulo do Programa Sol-Ar. Fonte: LABEEE/UFSC (2009). ................................................................................................................ 87 Figura 38 - Carta solar de São Paulo com temperaturas plotadas até 21 de junho Programa Sol-Ar. Fonte: LABEEE, UFSC (2009). ............................................. 87 Figura 39 - Trajetória solar de São Paulo. Programa Sunpath 1.05. Desenvolvedor: Maurício Roriz. Fonte: RORIZ (2000). ............................................................... 87 Figura 40 – Planta do pavimento tipo, com a identificação da unidade para a análise de insolação. Fonte: Arquivo FAU-USP (Fundação Artigas) – Nota: modificado pelo Autor. .......................................................................................................... 88 Figura 41 - Corte transversal – representação dos ângulos Alfa (ângulo de altura do sol) na unidade habitacional analisada – andar intermediário. Fonte: Arquivo FAUUSP (Fundação Artigas). - Nota: modificado pelo Autor. ................................... 89 Figura 42 - Traçado de máscara da Fachada 1 (interna) da unidade habitacional em análise. Fonte: Programa Analysis SOL-AR do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações – LABEEE – Nota: modificado pelo Autor. .............. 89 Figura 43 - Traçado de máscara da Fachada 2 (externa) da unidade habitacional em análise. Fonte: Programa Analysis SOL-AR do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações – LABEEE - Nota: modificado pelo Autor. ............... 90 Figura 44 - Planta da unidade habitacional analisada – Posicionamento das fachadas - Fonte: Arquivo FAU-USP (Fundação Artigas). - Nota: modificado pelo autor. . 92 Figura 45 - Foto aérea da implantação e orientação dos blocos do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado - CECAP. Fonte: Google Maps. Acesso em: 20 maio 2014. – Nota: modificado pelo autor. ................................ 93 Figura 46 - Planta dos blocos com pátios internos. Fonte: Arquivo CDHU. ............. 93 Figura 47 - Acima caixilho recuado da fachada da unidade habitacional. – Fonte: ISSAC (2007). .................................................................................................... 94 Figura 48 - Foto do conjunto dos blocos sobre o sombreamento de massa arbórea. Fonte: <images04.olx-st.com/ui/6/87/80/1393434089_608158780_1-Fotos-deOportunidade-Apartamento-64m-Cond-Rio-grande-do-Sul-Parque-CecapGruarulhos.jpg, 2014>. Acesso em: 20 maio 2014. ........................................... 95 6 Figura 49a e 49b - Pátio interno e praça central (freguesias) – vegetação para o sombreamento – grandes recuos para a permeabilidade da insolação. Fonte: ISSAC (2007). .................................................................................................... 96 Figura 50a e 50b - Pátio interno, vegetação para o sombreamento – grandes recuos para a permeabilidade da insolação. Fonte: ISSAC (2007). .............................. 96 Figura 51a e 51b - Fachada e área de circulação – Grandes recuos, blocos sobre pilotis, propícios a ventilação passiva, (convecção) setas azuis ar frio – setas vermelhas ar quente. Fonte: ISSAC (2007) – Nota: modificado pelo Autor. ...... 97 Figura 52 - Rosa dos Ventos, análise de ventos predominantes e suas orientações. Fonte: Analisy Sol-Ar/LABEEE........................................................................... 98 Figura 53 - Aparelho Relógio Termo Higrômetro, portátil possui medida de temperatura interna e externa, 3 leituras simultâneas, relógio com indicação de horas no formato 12h ou 24h, registro de máximo e mínimo e precisão básica de 1 °C e 10% RH. Realiza medidas de temperatura interna (ambiente em que se encontra o instrumento) de 0 °C a 50 °C (32 °F a 122 °F), temperatura externa (sensor com cabo de extensão) de -50 °C a 70 °C (-58 °F a 158 °F) e umidade relativa interna de 20% a 90%. - Fonte: Minipa................................................ 100 Figura 54 - Planta da unidade habitacional Zezinho Magalhães - CECAP - Fonte: Revista Desenho 4 – Nota: modificado pelo Autor. .......................................... 101 Figura 55 - Carta Psicrométrica para a cidade de São Paulo, identificação da temp. de bulbo seco (T.B.S) e Temp. de bulbo úmido (T.B.U). Fonte: FROTA, (2003) Nota: modificado pelo Autor. ............................................................................ 107 Figura 56 - Nomograma de Temperatura Efetiva para pessoas normalmente vestidas, em atividade leve - Fonte: FROTA, (2003) - Nota: modificado pelo Autor. ...... 108 Figura 57 - Carta Psicrométrica para a cidade de São Paulo, identificação da temp. de bulbo seco (T.B.S) e Temp. de bulbo úmido (T.B.U). Fonte: FROTA, (2003) – Nota: modificado pelo Autor. ............................................................................ 112 Figura 58 - Nomograma de Temperatura Efetiva para pessoas normalmente vestidas, em atividade leve - Fonte: FROTA, (2003) – Nota: modificado pelo Autor....... 113 Figura 59 - Blocos de concreto – fachada e caixilhos originais máx-ar. - Fonte: Issac (2007) – Nota: modificado pelo Autor. .............................................................. 117 Figura 60a - Simulação de insolação às 13:00 no dia 20/02/2013 e a Figura 60b Simulação de insolação às 15:00 no dia 20/02/2013. Fonte: Autor. ................ 118 Figura 61 - Pátio interno entre blocos, favorecendo o sombreamento nas janelas das unidades habitacionais. Fonte: Issac (2007). ................................................... 118 Figura 62a e 62b - Pátio interno entre blocos, favorecendo o sombreamento nas janelas das unidades habitacionais. Fonte: Issac (2007). ................................ 119 7 Figura 63 - Planta da unidade habitacional com demarcação da área de piso, considerando o cálculo das aberturas para ventilação média com 15% < A < 25% da área de piso. Fonte: Laboratório de Artes Gráficas da FAAUSP. Nota: modificado pelo Autor....................................................................................... 120 Figura 64 - Detalhe reduzido da fachada frontal do bloco com a demarcação da área envidraçada, considerando o cálculo das aberturas para ventilação média com 15% < A < 25% da área de piso. Fonte: Arquivo FAUUSP - Nota: modificado pelo Autor................................................................................................................. 120 Figura 65 – Planta esquemática do bloco e das unidades habitacionais Zezinho Magalhães Prado, onde mostram como a dimensão da captação da brisa e da abertura para sua saída do ambiente influenciam na velocidade e distribuição interna da ventilação no ambiente em questão. Fonte: Arquivo FAUUSP. Nota: modificado pelo Autor....................................................................................... 121 Figura 66 – Corte longitudinal do bloco e das unidades habitacionais Zezinho Magalhães Prado. Exemplo esquemático de ventilação cruzada por aberturas e corredores externos do bloco. Fonte: Arquivo FAUUSP - Nota: modificado pelo Autor................................................................................................................. 121 8 0 1 INTRODUÇÃO O assunto Habitação de Interesse Social é um tema extremamente discutido no Brasil, sobretudo em São Paulo, que em decorrência dos fatores indicativos sociais, demonstra-se em situação alarmante. A solução não estaria apenas na produção de novas unidades habitacionais para reduzir o possível déficit habitacional. As produções das unidades frequentemente são entregues em um curto espaço de tempo, sem a preocupação com a qualidade ambiental e por isso agravam ainda mais o problema. A qualidade na produção da habitação deverá ser garantida por metas de constituição para a política habitacional, e isso representa um grande desafio, sobretudo quando a tradição do país não possui políticas públicas para suprir uma estrutura de planejamento e continuidade. [...] o intenso processo de metropolização brasileiro, acompanhado das características acima descritas, tem hoje, como resultado, um déficit avaliado em 7,2 milhões de moradias, onde 88,2% deste déficit correspondem a famílias com até 5 salários mínimos. Cerca de 70% da produção de habitação têm ocorrido fora do mercado formal, 4,6 milhões de domicílios estão vagos, essencialmente em áreas centrais de aglomerados urbanos, e 79% dos recursos do FGTS têm sido destinados à população com renda acima de 5 salários mínimos1 (RUBANO, 2008, p. 1). Após os anos de 1980, os problemas ambientais intensificaram-se cada vez mais, fazendo com que a população assumisse riscos ao construir suas próprias moradias. Entre 1991 e 2000, o aumento do número de domicílios em favelas foi de 717 mil ou 22,5%2. Segundo Rubano (2008), algumas conquistas políticas e sociais, tais como a aprovação do Estatuto das Cidades (2001) e seus instrumentos urbanísticos voltados à função social da propriedade, a obrigatoriedade dos Planos Diretores para as cidades com mais de 20 mil habitantes e a criação das ZEIS3, a implementação do 1 MINISTÉRIO DAS CIDADES. Cadernos MCidades. Política Nacional de Habitação n. 4, 2004. Os dados são do ano 2000. 2 MINISTÉRIO DAS CIDADES. Cadernos MCidades. Política Nacional de Habitação n. 4, 2004, p. 22. 3 ZEIS. Zonas Especiais de Interesse Social. 22 orçamento participativo em algumas prefeituras e as tentativas de estruturação de novas linhas de financiamento adequadas à habitação social têm-se apresentado como alternativas muito importantes à revisão da condução de processos urbanos. Em razão das conquistas políticas e sociais, a preocupação na produção e na qualidade dos edifícios tem aumentado cada vez mais, especialmente no que diz respeito ao conceito de desempenho, que irá proporcionar qualidade de vida aos usuários. Sob o conceito da arquitetura bioclimática está parametrizada a utilização de elementos arquitetônicos e as técnicas construtivas, com a finalidade de redução de energia qualificando o conforto aos usuários. A partir de 2004, após a criação de grupos de estudos, nota-se uma preocupação mais relevante em relação à qualidade do edifício, abrindo espaço para os critérios de desempenho, análises e estudos entrarem em discussão. A partir das considerações, surge então, em 2008, o projeto da Norma de Desempenho ABNT NBR 15575, para edificações residenciais até cinco pavimentos. A norma foi publicada ainda em 2008 e deveria entrar em vigor em 2010. No entanto, sem que houvesse consenso entre os agentes da construção civil, foi adiada para março de 2012 e, mais uma vez, prorrogada para 13 de março de 2013. Em 19 de junho de 2013, entra em vigor, como aplicação a todo edifício habitacional, independentemente do número de pavimentos. O assessor técnico do Sinduscon-PR (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná), o engenheiro Ivanor Fantin Júnior, foi contratado para prestar orientações de ordem técnica, bem como o acompanhamento de revisões de normas que interfiram direta ou indiretamente nas atividades do setor. Uma das principais atribuições do engenheiro foi a participação das reuniões da comissão de estudo da NBR 15575 da ABNT, a chamada Norma de Desempenho, que está dividida em seis partes que estabelecem requisitos mínimos de desempenho, de vida útil e de garantia para os sistemas que compõem os edifícios (SANTOS, 2012). Entre eles, estrutura, pisos internos, fachadas e paredes internas, coberturas e sistemas hidrossanitários. Os critérios abordados são, basicamente, os desempenhos acústico, térmico e lumínico das edificações. E aborda requisitos gerais (NBR 15575-1); sistemas estruturais (NBR 15575-2); sistemas de pisos (NBR 155753); sistemas de vedações verticais internas e externas (NBR 15575-4); sistemas de 23 coberturas (NBR 15575-5) e sistemas hidrossanitários (NBR 15575-6). É salutar que todas as definições sejam aplicadas e se tornem exigências de projeto. Vários países já utilizam o conceito do desempenho incorporado em seus projetos habitacionais há algum tempo, porém no Brasil o desempenho era aplicado como definição aos elementos arquitetônicos e de tecnologias, mas somente em alguns casos eram considerados requisitos para atendimento e exigências ao desempenho do edifício. É importante ressaltar que o desempenho térmico dos espaços está vinculado às estratégias do projeto arquitetônico, tipologia, posicionamento da edificação, sobretudo dos materiais aplicados nas envoltórias, vedações e coberturas, como na densidade do material, espessura, aumentando ou diminuindo o processo de atraso térmico. Para este trabalho, será discutido o estudo de caso internacional de análise de desempenho, o Conjunto Habitacional “Tossa de Mar”. Buscou-se como referência, pela preocupação da qualidade de projeto, pela disposição dos blocos e sua implantação junto ao terreno, layout dos apartamentos, respeitando a insolação necessária, disposição das sacadas e também no processo de produção das unidades habitacionais, pelos materiais aplicados na construção. Na análise desse trabalho, as simulações e observações de estratégia demostraram a importância do conforto e o desempenho na eficiência térmica das habitações, sobretudo da qualidade ambiental possivelmente atribuída ao projeto. O recorte do objeto de análise deste trabalho se dá no 2o andar do apartamento (intermediário) do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, localizado no município de Guarulhos na região metropolitana de São Paulo. 1.1 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA A importância da presente pesquisa se dá em função do uso dos materiais utilizado na edificação, da influência na forma e layout e do inter-relacionamento da qualidade final da construção sob a luz de normas de desempenho e certificação. A contribuição dessa análise, torna-se essencial para determinar avaliações do desempenho térmico, embasados em reflexões sob a qualidade ambiental para 24 as unidades habitacionais, e que caracterizam a habitação em regiões de clima tropical úmido do Brasil. O projeto arquitetônico possibilita o planejamento e o desenvolvimento dos espaços, proporcionando a qualidade de vida ao usuário. As decisões e estratégias adotadas, nos levam a garantir controle sobre o envolvimento no processo de criação. 1.2 Objeto O desempenho térmico das Habitações Sociais. 1.3 Objetivo geral Contribuir com a qualidade final da habitação social no Brasil com foco no desempenho térmico. 1.4 Objetivos específicos 1) Discutir a importância das técnicas Bioclimáticas no desempenho térmico do edifício. 2) Avaliar as condicionantes das normas e da certificação brasileira, em especial a de desempenho térmico, no Software Designer Builder, por ser uma interface amigável para simulações de desempenho de edifícios, através da ferramenta EnergyPlus e comparar com as medidas realizadas in loco. 25 1.5 Método A metodologia deste trabalho considera como critério de avaliação para a eficiência térmica a norma NBR 15575:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho, e a norma NBR 15220:2005 – Desempenho térmico de edificações, e a certificação brasileira Selo Casa Azul CAIXA. A NBR 15575:2013, considera o desempenho da edificação e permite sua simulação por meio de dois procedimentos: o experimental e o computacional ou numérico. Os critérios de desempenho térmico definidos pela NBR 15575:2013 foram desenvolvidos com base em pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) a seguir: Akutso, Vittorino, Pedroso e Caballeira (1995). Serão atribuídos, para análise, a modelagem da edificação em programa computacional, com base no banco de dados do programa EnergyPlus, aprovado pela NBR 15575:2013, e simulações in loco, como parâmetros de avaliação numérica da Norma de Desempenho e da certificação, em um dia do período de solstício de verão e o outro no solstício de inverno. As pesquisas avaliam as técnicas sustentáveis definadas, não só pelas normas de desempenho térmico citadas acima, mas também pela certificação nacional Selo Casa Azul CAIXA de 2010, do ponto de vista projetual e construtivo, com abordagem qualitativa. A dissertação apresentará linhas de pesquisa focadas em edificações multifamiliares de quatro a sete pavimentos. 1ª Etapa de revisão bibliográfica: Livros, teses, revistas, internet e outros, buscando identificar o estado da arte em projetos nacionais e internacionais voltados para habitação social e o desempenho térmico. 2ª Etapa de seleção do projeto: O Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, dos arquitetos João Batista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha. 3ª Etapa do estudo de campo: Visita na unidade habitacional do estudo de caso. A análise deste projeto sob o ponto de vista da qualidade ambiental: conforto térmico do espaço das habitações e a definição da qualidade de seus espaços coletivos. 26 4ª Etapa de análise dos dados colhidos: O projeto e confirmações das técnicas Bioclimática que foram aplicadas na produção do conjunto habitacional. O estudo de caso aplica-se ao Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, respectivamente no apartamento do 2º andar (intermediário) do bloco Espírito Santo. A obra tem grande relevância na arquitetura nacional e político-cultural, com arquitetos expoentes da arquitetura paulista modernista, sendo eles: João Batista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha. 2 O ESTADO DA ARTE 2.1 A ESSÊNCIA DO CONFORTO Tratamos a partir do dado capítulo a essência do conforto ambiental, sob um viés conceitual, onde desprendemos da linguagem matemática e passamos a interpretar os conceitos qualitativos de calor, iluminação, acústica e qualidade do ar no projeto de arquitetura. Schmid (2005) explica que a relação entre os termos físicos e fisiológicos do conforto ambiental surgem de maneira isolada, apresentando-se implícita na grande maioria das literaturas especializadas. Para os cientistas da cultura do morar esse conceito é questionável. Quando retratamos apenas o conforto sob aspectos visuais, não identificamos as questões variáveis dos ambientes, como o ar, a luz, o calor, o som, as cores e possíveis texturas. Seriam esses fatores que podem emocionar ou representar? É possível refletir sobre a questão anterior partindo de uma linha de reflexão em que “Um ambiente improvisado e genérico, isento de referências pessoais, é capaz de 27 emocionar? Nas mãos de um artista, um ambiente representa alguma intencionalidade?” (SCHMID, 2005, p. 23). 2.2 O ambiente humano Na visão de Rheingantz (1990), o ambiente humano é determinado pela filosofia dos sentidos, portanto é composto dos ambientes térmico, visual, auditivo, olfativo, táctil, higiênico e psíquico. Com as variações dos espaços, os órgãos dos sentidos adaptam-se e transformam-se em verdadeiros conversores de estímulos variáveis, em impulsos nervosos. Para que esses estímulos aconteçam, existem órgãos responsáveis pela recepção e transmissão de informações. O olho capta estímulos eletromagnéticos; o paladar e o olfato, estímulos químicos; o ouvido, vibrações mecânicas que se propagam no interior da matéria sob a forma de ondas longitudinais ligadas à compressão e a descompressão (RHEINGANTZ, 1990, p. 36-58). Os demais mecanismos sensoriais de controle da postura, de movimentação e equilíbrio do corpo, tendem a ter o mesmo princípio de atividade a partir do registro de deformações de tipo mecânico, sendo capazes de afetar diretamente superfícies corpóreas e tecidos profundos. O equilíbrio do corpo no espaço está ligado diretamente às sensações, captadas pelos órgãos, músculos e ligamentos, que são registradas pelos receptores. O cérebro está sendo constantemente informado dos movimentos dos membros. Rheingantz (1990) afirma que existe a possibilidade de alterar a percepção dos órgãos sensoriais e que isso se dá pelas “influências centrais”, ou seja, os estímulos são provocados por experiências sensoriais. O impedimento de um estímulo exterior, leva-nos à percepção de constância. 28 Esta condição levou MERLEAU-PONTY4 a afirmar que a percepção não é uma sensação pura, pois versa sobre relações e não sobre termos absolutos. Assim, ao acreditar que sabe o que é “ver”, “ouvir”, “sentir” a realidade percebida, o homem atrai sobre si o erro de experiência (RHEINGANTZ, 1990, p. 36-58). Os fatores de natureza cultural também são fatores primordiais ao determinar as influências de mudanças no meio ambiente, e sua percepção como as crenças religiosas, normas e condutas higiênicas, as atitudes individuais, os hábitos familiares ou de grupos, incluindo os alimentares, o habitat e economia e níveis educacionais de cada povo. 2.3 O ambiente psíquico Segundo Rheingantz (1990), miséria, atos de violência, promiscuidade, ausência de privacidade e o desconforto da construção contribuem diretamente para o desenvolvimento de outra peculiaridade do sentido humano, a percepção seletiva, isolando o indivíduo em um tipo de abrigo: o ambiente psíquico. O reconhecimento sob a influência de determinados fatores culturais e da existência de um ambiente psíquico poderá tornar a relação “homem-ambiente” complexa, quando associada a efeitos causados por novos meios das tecnologias da comunicação, como telefone, televisão e, especialmente, o computador que, pela facilidade da realização de um grande número de atividades à distância, transforma as relações “homem-homem” e “homem-ambiente”. 4 MERLEAU-PONTY foi um filósofo fenomenólogo francês. Estudou na École normale supérieure de Paris, graduando-se em filosofia em 1931. Lecionou em vários liceus antes da Segunda Guerra, na qual serviu como oficial do exército francês. Em 1945 foi nomeado professor de filosofia da Universidade de Lyon. Em 1949, foi chamado para lecionar na Universidade de Paris I (Panthéon-Sorbonne). 29 2.4 O ambiente externo O ambiente externo é constituído por características geográficas físicas e climáticas e suas diferentes abordagens. Tomando como exemplo o fato de nenhum ser vivo viver isoladamente, observamos que os indivíduos relacionam-se continuamente com os demais seres de seu espécime e com os demais seres vivos e, acima de tudo, como o meio natural. No ambiente externo, estudam-se as condições físicas do lugar geográfico, ou seja, o clima, a meteorologia e o estado médio da atmosfera. É fundamental entendermos que o conhecimento geográfico nos leva à previsão e ao controle dos efeitos de intervenções do homem no meio ambiente. O clima caracteriza as condições das atividades e de comportamento desempenhados pelo homem, quanto ao tipo de vestimenta, edificação e habitat. Tudo para suprir suas necessidades materiais, espirituais, estéticas e econômicas. A função do clima pode direcionar as soluções arquitetônicas para soluções passivas ou dependentes diretamente de tecnologias ativas. As tecnologias ativas permitem que o homem se torne cada vez mais dependente da máquina. Definimos, então, que, por essa evolução tecnológica, as condições de conforto passam a ser garantidas pelos meios tecnológicos. A função climática do abrigo se dilui com os ajustes das formas arquitetônicas às novas máquinas. A célula torna-se cada vez mais dependente dos aparelhos, ao mesmo tempo em que a cidade se torna cada vez mais impessoal, desumana e fria (RHEINGANTZ, 1990, p. 36-58). 2.5 O conforto ambiental Segundo Schmid (2005), durante todo o século XVIII, as técnicas associadas ao conforto quase não eram aplicadas nas edificações. Somente a partir do século XIX essas práticas passam a ser aplicadas com mais frequência, principalmente em 30 regiões como a Europa, onde as baixas temperaturas são predominantes na maior parte do ano. Segawa (1999) explica que Teses contaminadas de determinismo geográfico ou climático declinaram para interpretações racistas, como que a estabelecer uma etnoclimatologia firmando uma tênue fronteira entre clima e civilização. Esta civilização que, no contexto do colonialismo do século 19, deparou-se com o enfrentamento dos trópicos como fator integrante do processo civilizatório e de dominação promovidos pelas potências européias. Tal ideário se manifestava na introdução de uma obra que se pode considerar um dos primeiros manuais de conforto ambiental, sintomaticamente editada não na metrópole, mas na colônia. Em 1882 publicava-se na Argélia, então partição francesa, o livro L 'habitation dans les pays chauds – contribution a l'art de l'acclimatation, de autoria de H. Dessoliers, de 1882 (7), "ingénieur dês arts et manufactures". Os limites dos conhecimentos físicos e médicos do último quartel do oitocentos, tratava-se de um formidável compêndio, no qual questões de clima (temperatura, umidade, vento) e luminosidade eram confrontadas com a fisiologia humana; processos de transformação das condições ambientais (ventilação, refrigeração, evaporação, dissecação) eram especificados conforme recomendações considerando sistemas construtivos e dispositivos mecânicos (SEGAWA, 1999, p. 35-39). Schimid (2005), afirma que, no Brasil, a partir da primeira década do século XX, por meio de manifestos de vanguarda, como a Semana de Arte Moderna realizada em 1922 em São Paulo, grupos de arquitetos e artistas demonstraram verdadeira hostilidade em relação ao conforto. Acreditavam que este desestruturava a estética em voga, sobretudo a representação e o progresso dos materiais. Um dos principais destaques visíveis nas edificações era a composição das fachadas. Em 1909, o autor deste lema, o arquiteto e crítico austríaco Adolf Loos, escrevia que a obra de arte quer retirar as pessoas do seu aconchego, enquanto que a casa deve servir ao propósito contrário. Num discurso radical, propunha uma contradição entre a domesticidade - o interesse e o apego às coisas domésticas – e a arte. As casas eram desafiadas a assumir a frieza do modernismo, com paredes brancas e móveis tubulares em aço, mas se assemelhando aos hospitais. Hoje, encontramos sem dificuldade peças originais destes móveis, em diferentes estados de conservação, nas repartições públicas mais 31 descuidadas ao longo das décadas, tão duráveis que se mostraram (SCHMID, 2005, p. 58). Charles-Edouard Jeanneret-Gris5, principal integrante do movimento modernista, já dizia que a ideia de casa está diretamente relacionada à “máquina de morar”, isto é, a objetividade em relação à moradia estaria em primeiro plano, e o sentimentalismo seria algo a ser discutido. Os edifícios modernos passaram a incorporar maquinários essenciais, como os dispositivos de iluminação artificial e de climatização. Schimid (2005) identifica a existência de sistemas superpostos à arquitetura e não da arquitetura como máquina, muitas vezes causando estranheza à pureza da arquitetura e sua plasticidade. No âmbito da iluminação, a planta livre permitia a ornamentação das aberturas contínuas e janelas não alinhadas aos pilares, grandes aberturas contínuas determinando paredes inteiras de vidro. Porém, o uso dessa tipologia de planta livre definia ambientes profundos e, portanto, escuros, necessitando do uso de iluminação artificial. Como seria possível atribuir técnicas que pudessem solucionar essas questões? Segundo Schmid (2005), as soluções de projeto estão vinculadas diretamente às características de clima do local. Da necessidade de melhor compreender tal tema tão pertinente à arquitetura, surgiu a partir da II Guerra Mundial o movimento pelo conforto ambiental. Scarazzato e outros (1998) comentam que o Conforto Ambiental sempre foi incorporado de maneira intuitiva na habitação brasileira e que as preocupações com o conforto ambiental no Brasil começaram por volta de 1947, data em que foram apresentados os primeiros estudos brasileiros de desempenho térmico na arquitetura. Esses estudos foram originários das primeiras disciplinas de Higiene das Construções, aplicadas nas faculdades de arquitetura até o final da década de 1960. Mesmo com os recursos atuais, o conforto ambiental ainda passa por um momento decisivamente mecanicista, assumindo um papel nas universidades de uma disciplina indiferente à estética, principalmente ao que concerne os aspectos socioculturais da arquitetura. 5 Arquiteto e pintor franco-suíço, mais conhecido como Le Corbusier. 32 Ao invés de reencontrar a integração ao projeto arquitetônico, compartilhando sua profusão de implicações e incertezas (principalmente porque a arquitetura existe relacionada com as pessoas, que não são de todo previsíveis), o conforto ambiental com frequência se fecha em si próprio. Quer ser muito mais uma especialidade do que uma espacialidade – um aspecto do intrincado estudo do espaço... O conforto ambiental só pode ser compreendido dentro do conceito mais abrangente de arquitetura (SCHMID, 2005, p. 63). Segundo Corbella; Yannas (2009) após a II Guerra Mundial, os baixos custos dos recursos energéticos favoreciam cada vez mais o uso de tecnologias ativas. Uma série de atribuições dos arquitetos com o passar do tempo foi transferida para engenheiros. O conforto térmico passivo foi desconsiderado durante esse período, tendo a responsabilidade sido assumida por engenheiros térmicos, que possuíam domínio das tecnologias de ar-condicionado. Em relação ao uso da iluminação natural, grande parte dos projetos era voltada ao uso da iluminação artificial, calculada pelos engenheiros eletricistas. Não havia preocupação com conforto acústico pela ação do entorno sobre os prédios. A interação entre o edifício e o entorno também foi desprezada, gerando um grande consumo de energia elétrica para suprir as necessidades humanas. Pequenos grupos de arquitetos preocupavam-se com os fatores de conforto mencionados e insistiam no fato de projetarem edifícios que fossem adaptados ao clima local, pesquisando e desenvolvendo o conforto ambiental. Schmid (2005) afirma que no período modernista foi evidente a ausência das especificidades geográficas, sobretudo as considerações dos diferentes climas, paisagens e cultura do local, a partir das quais as diferenças de propostas e conceitos da edificação são definidas. A primeira reação contra os gastos energéticos gerados na edificação ocorreu em 1973, devido ao aumento do preço do petróleo e, por sua vez, a crise de energia. As preocupações levaram à busca da chamada arquitetura solar, que se utilizaria da técnica de incorporação da energia solar, contribuindo para a calefação, assim poupando o significativo consumo de energia convencional. Portanto, nesse momento uma arquitetura que se preocupa com a integração do clima local renasce, passando 33 a habitação a ficar centrada no conforto ambiental do ser humano e possibilitar princípios de parametrização à arquitetura bioclimática no final da década de 1970. Segundo AGENDA 21 para a construção sustentável (2000), o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável foi definido no Relatório Brundtland6 de 1987, com enfoque direcionado ao desenvolvimento que vai de encontro às necessidades do presente, não comprometendo a habilidade de futuras gerações de encontrar suas próprias necessidades. A concepção de um projeto bioclimático difere da concepção de projeto sustentável, pois não avalia o impacto da construção sobre o meio ambiente, mas avalia a geração de conforto em associação com o ambiente (ARCHINOLOGY, 2010, p. 2). Uma visão mais ampla do conceito bioclimático é apresentada por Lamberts (2006), que considera a análise e a associação das condicionantes climáticas globais e locais aos elementos climáticos da região. Os elementos globais estão definidos pela “radiação solar, latitude, longitude, quantidade de massa de ar e terra no entorno”, e os climáticos do local definem a “temperatura, umidade, precipitações e direção dos ventos”. Também considera as condicionantes do local de implantação do projeto tais como, a topografia do terreno, a característica da vegetação, as edificações do entorno, entre outras condições de vizinhança que podem influenciar na orientação do edifício no terreno. Lamberts, Ghisi e Papst (2000) afirmam que a bioclimatologia estuda a relação entre o clima e o ser humano, por envolver o ambiente e seus fatores e elementos climáticos, relacionados à capacidade de percepção das sensações térmicas dos seres humanos. Por sua vez, os teóricos Izard e Guyot (1983) descrevem que a boa arquitetura bioclimática se beneficia dos recursos naturais ou projetados, como lagos, vegetações 6 O Relatório, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, faz parte de uma série de iniciativas, anteriores à Agenda 21, as quais reafirmam uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas. O relatório aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e os padrões de produção e consumo vigentes. 34 e varandas, diminuindo o máximo possível o uso do acondicionamento térmico artificial, como varandas e vegetações, entre outros. Na figura 1 a seguir, observamos as atribuições para estratégias de projeto, que mostram o conceito de conforto ambiental em uma edificação. Parte desses princípios, como ventilação cruzada, efeito chaminé, sombreamento e a utilização da luz natural, são diferenciais quando levada em conta a qualidade de vida. Figura 1 - Ilustração dos componentes que afetam o conforto ambiental em uma edificação - Fonte: disponível em: <www.arcoweb.com.br/especiais/fotos/48/z6-corte-esquema.jpg>. Acesso em: 9 dez., 2013. Segundo Keeler e Burke (2010), as origens do movimento das edificações sustentáveis não partem de um único evento, e, sim, de efeitos acumulativos e de marcos convergentes, sendo que suas raízes remontam aos primórdios da humanidade. Afirmam também que ao se observar o panorama atual do Brasil, podese identificar a pouca quantidade de edificações contemporâneas, como é caso no Rio de Janeiro na latitude de 22,9 o S e longitude de 44 oO, que são capazes de promover conforto térmico para seus usuários, sem o uso de equipamentos. O processo de calefação, refrigeração e iluminação das edificações envolve a adição ou a subtração de calor. Logo os conhecimentos básicos dos princípios físicos da transferência e armazenamento de energia são indispensáveis para se projetar edificações com consumo líquido de energia (KEELER; BURKE, 2010). 35 2.5.1 Conforto térmico na edificação Segundo Corbella e Yannas (2009), as questões relacionadas à escassez de energia ocasionam diferentes problemas de cunho ambiental, social e econômico. A partir de 1980, a população brasileira passou por uma significante experiência de crise energética. Os empreendimentos imobiliários dependem do fornecimento de energia para seu funcionamento e, além disso, gastam muita energia para sua produção. Para minimizar os gastos energéticos excedentes em um imóvel é importante planejar estratégias que possibilitem maior eficiência energética à edificação. O desempenho energético adequado na arquitetura respeita as condições climáticas do local e as demais necessidades dos seus usuários. A forma e a função não seriam os únicos objetivos de uma edificação, mas a eficiência energética e os requisitos ambientais também fazem parte das considerações dos empreendimentos. Para cada condição climática de determinada região, existem diferentes subsídios para a determinação quanto à forma arquitetônica, os materiais utilizados e a distribuição funcional dos espaços e a relação com uma orientação solar mais favorável para cada ambiente, os conceitos da eficiência energética na arquitetura, não despreza a iluminação e condicionamento artificial, porém estratégias são utilizadas, minimizando o uso de recursos artificiais, e diminuindo os gastos excessivos com energia elétrica, tanto nas edificações residenciais, como nas comerciais e industriais. O fator pertinente do conceito de eficiência energética [...] pode ser entendido como a obtenção de um serviço com baixo dispêndio de energia. Portanto, um edifício é considerado mais eficiente do que outro se, a edificação oferece as mesmas condições ambientais com menor consumo de energia (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2004, p. 192). Consideramos, então, que a zona de conforto térmico de uma edificação está relacionada diretamente ao reflexo da satisfação com o ambiente que envolverá a 36 pessoa sobretudo das condições climáticas locais, a quantidade de roupa utilizada e a atividade momentânea da pessoa. Partindo desses princípios primordiais obteremos referenciais para diretrizes ao projeto e, por sua vez, poderemos determinar as necessidades de conforto térmico dos usuários das edificações. Para a redução da energia é importante promover o uso racional de equipamentos economizadores e assim evitar desperdícios. O projeto eficiente é composto por aspectos relacionados ao clima local e ao tipo de uso e ocupação do solo urbano. A possível mudança de clima varia conforme a região em que a cidade se localiza. [...] cada cidade é composta por um mosaico de microclimas diferentes; os mesmos fenômenos que caracterizam o mesoclima urbano existem em miniaturas por toda a cidade, como pequenas ilhas de calor, bolsões de poluição atmosférica e diferenças locais no comportamento dos ventos (DUARTE; SERRA, 2003, p. 17-30). Partindo da reflexão acima, podemos analisar as propostas para um determinado empreendimento e a importância de entender o contexto urbano em que este se insere. 3 ESTRATÉGIAS BIOCLIMÁTICAS Segundo Keeler; Burke (2010), o conceito de incidência solar difere todos os períodos do ano e todas as aberturas nas diferentes fachadas. Explica que “a cada 24 horas, a terra gira em torno de seu eixo polar” e, por isso, faz com que “uma das metades do planeta esteja sempre exposta ao Sol, enquanto o outro extremo fica em plena escuridão”. Isso é possível pelo fato de a terra mover-se em rotação axial. As limitantes que definem a luz da escuridão desse modo estarão sempre em mudança, o que faz com que tenhamos a percepção de que o sol está sempre em movimentação 37 no céu. “A localização do horizonte, isto é, o ponto em que o sol nasce e se põe”. Esse percurso do sol se dá de acordo com o número de horas em que ele fica acima do horizonte, e varia de “acordo com a distância do observador em relação à linha do Equador, à latitude e à época ou estação do ano”. A distância entre a Terra e o Sol possui certa variação, dependendo da possível localização do planeta em sua órbita anual. Essa variação não interfere nas condições climáticas sazonais. Isso se dá pelo fato do eixo polar da Terra não estar perpendicular ao plano de sua órbita ao redor do Sol, esse fator garante a quantidade de variação da radiação solar em determinado ponto da superfície terrestre ao longo do ano. O eixo polar está inclinado 23,5° em relação a uma linha vertical no plano de órbita terrestre. Essa inclinação do eixo permanece constante durante todo o ano, tempo que nosso planeta leva para orbitar em torno do Sol, provocando mudanças sazonais na declinação solar. Esse fator identifica então a relação angular entre o Sol e a Terra quando observada sob a linha do Equador (KEELER; BURKE, 2010, p. 120-121). A partir dessas considerações é possível então observar que o “Sol encontrase totalmente na vertical, sendo denominado “sol a pino” em 21 de março e em 21 de setembro”. Ambas as datas definem o período de equinócios de primavera e outono, marcando assim o “início das duas estações”. Keeler; Burke (2010) afirmam que quando há mudança de posicionamento da Terra em sua órbita, o mesmo ocorre com a declinação solar, acontecendo “suas variações máximas em 21 de junho, sob a Linha do Equador, o Sol está inclinado para o norte e 23,5° abaixo da linha vertical”, determinando 66,5° acima do horizonte. É correto dizer então que o “sol inclinado para o norte é positivo, ao passo que o sol inclinado para o sul é negativo” (figura 2 a seguir). (KEELER; BURKE, 2010, p. 119-120) 38 Figura 2 - A declinação solar e as estações: o eixo da Terra está inclinado em 23,5° em relação ao plano da órbita do planeta ao redor do Sol. Essa inclinação causa as mudanças climáticas sazonais na superfície terrestre. Fonte: Fundamentos de Projeto de Edificações Sustentáveis – KEELER; BURKE (2010). Segundo Corbella; Yannas (2009), a questão do controle solar está voltada à distribuição espacial e temporal da radiação solar incidente. A tabela 1 a seguir, segundo Frota (2003), demonstra magnitudes relativas para as fachadas orientadas em direção aos quatro pontos cardeais. Os dados se expressam em W/m 2 na média mensal recebidos de radiação solar durante o verão. Já a tabela 2 demonstra os dados de radiação solar Incidente (Ig), sobre planos verticais e horizontais (°C). Na cidade de Guarulhos, latitude 23°36’ Sul, os maiores valores de radiação incidente no verão correspondem às fases noroeste (NW), oeste (W), sudoeste (SW) e plano horizontal (H). Seguindo o raciocínio, a primeira coluna que corresponde à média aritmética mensal da temperatura em °C equivale a 21 °C. A somatória dessa carga excessiva de radiação no decorrer do dia, combinado à temperatura externa durante o dia, que poderá superar até os 30 °C, demonstra claramente a situação de extremo desconforto térmico na tabela 2 a seguir. Por conseguinte, no verão é a fachada oeste (W) que requer maior proteção solar, invertendo a hierarquia conhecida para o inverno (CORBELLA; YANNAS, 2009, p. 22-23). 39 Tabela 1 - Dados de Clima – São Paulo. Fonte: FROTA; SCHIFFER,2003 - Manual de Conforto Térmico, p. 215 – Nota: Modificado pelo Autor. Tabela 2 - Dados de Radiação Solar Incidente (Ig) sobre Planos Verticais e Horizontais (°C). Na latitude: 23°36’ sul da Cidade de Guarulhos no Estado de São Paulo. Fonte: FROTA; SCHIFFER,2003 - Manual de Conforto Térmico, p. 232 – Nota: Modificado pelo Autor. 3.1 PROCEDIMENTOS PARA UMA ARQUITETURA DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Compreender fatores climáticos locais tais quais como orientação solar, umidade do ar e ventos predominantes de cada local é de grande importância na observação do custo e dos benefícios proporcionados pela utilização de estratégias de projeto, a fim de melhorar o conforto térmico da edificação. O custo deve ser analisado sempre do ponto de vista do usuário final, assim proporcionando benefícios que se estenderão por toda a vida útil da unidade habitacional. Os fatores dinâmicos do clima afetam o desempenho térmico do edifício. Os ganhos e perdas de calor da edificação também dependem de algumas variáveis arquitetônicas. Alguns exemplos de influência térmica dos elementos da arquitetura (MASCARÓ et al., 1991, p. 33). 40 Segundo Gurgel (2012), as características dos materiais das envoltórias externas estão expostas às condições climáticas. A seguir, destacam-se os fatores importantes: A cor utilizada nas fachadas externas; A orientação solar; A composição arquitetônica da edificação em relação à sua altura e forma; A orientação e dimensões de vão luz; As características do entorno imediato; A orientação em relação à ventilação predominante; O desempenho das aberturas quanto à iluminação natural e suas proteções contra insolação direta; Para cada região do Brasil devem ser adotadas soluções de projeto arquitetônico diferenciadas, pois as cidades brasileiras apresentam características de climas variados entre elas. 3.2 A orientação solar para as unidades habitacionais A composição arquitetônica da edificação deverá atender sempre a orientação mais favorável ao local. Antes de iniciar um projeto, devemos estudar a melhor possibilidade de uso do terreno sob a orientação solar, partindo do princípio de análise qualitativa e quantitativas dos lotes existentes. Segundo Lamberts (1998), o uso da carta solar para análise da insolação é importante para determinar as diretrizes do projeto arquitetônico, como definir a disposição e sombreamento das aberturas, garantindo o equilíbrio dos ganhos térmicos solares e a admissão de luz natural nos ambientes. As cartas solares são as principais ferramentas para projetos e análises de projeções solares, bem como para o dimensionamento de elementos de proteção solar. Por essas diretrizes, desenvolvese o partido arquitetônico, considerando a orientação solar para cada uma das faces 41 limitantes do terreno. O próximo procedimento se dará na distribuição dos possíveis ambientes ao terreno, analisando sempre a orientação solar mais favorável a cada um dos ambientes que serão projetados. As condições de habitabilidade da unidade dependem diretamente da iluminação e ventilação natural adequada e disponível ao ambiente. Ferreira (2012) aconselha que deve-se prever, entre edifícios, insolação mínima de três horas para garantir salubridade e habitabilidade na edificação. 3.3 O processo da ventilação na edificação Segundo Givoni (1994), em regiões tropicais, sob a zona bioclimática 3, a faixa de conforto por ventilação demanda certas restrições como a velocidade do ar de 1,5 a 2m/s em regiões onde a temperatura máxima externa não exceda de 28 °C a 32 °C, sabendo da variação da climatização da população, e onde a amplitude diária não se excede 10 °C. Isso vale para regiões mais quentes e úmidas. As pequenas variações de temperatura diárias nessas regiões e uma edificação com alta inércia térmica, fechada e isolada, não produziria uma redução suficiente da temperatura interna. Por essa razão, recomenda-se que a edificação seja composta de materiais de menor densidade e que permitam a ventilação. Por sua vez, a ventilação irá diminuir o efeito perceptível da umidade e a perda de temperatura convectiva pelo corpo, o que é importante para o equilíbrio do organismo. Existe uma necessidade muito importante de ventilar o habitat que convivemos. E dentro desse parâmetro necessário, existem dois tipos: A ventilação higiênica a qual define uma constância diária e a ventilação térmica, que se define pela necessidade quando o ar interno do ambiente está mais quente que o ar externo (ROSA; SEDREZ; SATLLER, 2001, p. 90-106). Satller e outros, (2003) sugere que, para promover a ventilação cruzada, o ar que entra deverá ter alguma saída oposta e as aberturas de entrada de ar devem estar 42 localizadas sempre nas zonas de vento predominante favoráveis. A ventilação mais adequada é aquela em que o fluxo de ar entra pelos dormitórios e sai pela parte de serviço. O ar quente tende a subir e, por isso, a necessidade de se ter uma abertura de entrada de ar mais baixa do que a de saída. Para o inverno, é interessante manter uma ventilação higiênica a ponto de estar localizada acima do nível da cabeça, proporcionando a impercepção do cruzamento da ventilação pelo usuário, como mostra a figura 3 a seguir. Figura 3 - Exemplo de ventilação higiênica cruzada. Fonte:– GURGEL (2012) - Design passivo baixo custo energético, p. 32. Bittencourt; Cândido (2005) afirmam que, na ventilação cruzada, o ar permeia a edificação por uma extremidade, passando pelo espaço interno e saindo pelo outro lado. A formação e orientação do fluxo do ar atravessando a edificação estão determinadas pelo tamanho e localização das aberturas de entrada do ar, e quanto mais perpendicular for a abertura sobre a direção do vento predominante, maior será sua eficiência. Essa característica de efeito natural de ventilação está ligada diretamente ao tipo e características das aberturas usadas sobre a localização de outros componentes arquitetônicos próximos às aberturas (divisórias internas, protetores solares, marquises e outros), como demonstra a figura 4 a seguir. 43 Figura 4 - Estratégias de ventilação: Ventilação Cruzada - Fonte: Movimento terras, Em busca da sustentabilidade, São Paulo, ano 12, Movimento Terra, set. 2014. Disponível em: < movimentoterras.blogspot.com.br/2012/09/aventilacao-natural-e-o-fenomeno-da.html>. Acesso em: 12 ago. 2013. Figura 5 – Estratégias de ventilação: Efeito Chaminé - Fonte: Movimento terras, Em busca da sustentabilidade, São Paulo, ano 12, Movimento Terra, set. 2014, disponível em: < movimentoterras.blogspot.com.br/2012/09/aventilacao-natural-e-o-fenomeno-da.html>. Acesso em: 12 ago. 2013. A ventilação por meio do efeito chaminé determina a possível taxa de ventilação, a diferença de temperatura do ar interno e externo aumenta, ou seja, o ar interno, por estar mais quente, tende a sair através de aberturas mais altas da edificação, dando espaço ao ar mais frio, que entra através das aberturas mais baixas, como demostrado na figura 5 acima. A fachada dupla ventilada atua como zona de transição entre o exterior e o interior, à medida que reduz a perda de calor no inverno e o ganho de calor no verão, contrapondo ao fato de que não terá radiação direta no ambiente. Quando se associa a ventilação do espaço entre as duas fachadas “fachada ventilada”, à uma melhoria quanto ao desempenho, a fachada ventilada pode consistir também numa fachada verde por meio de pergolado vertical com vegetação ou com materiais construtivos 44 associados ao ar confinado, possibilita o atraso térmico necessário ao clima e região, como demostra a figura 6 a seguir. Figura 6 - Estratégias de ventilação: Fachadas Ventiladas Fonte: Movimento terras, Em busca da sustentabilidade, São Paulo, ano 12, Movimento Terra, set. 2014, disponível em: <movimentoterras.blogspot.com.br/2012/09/aventilacao-natural-e-o-fenomeno-da.html>. Acesso em: 12 ago. 2013. A ventilação por baixo da edificação pode ser uma ótima estratégia usada pelas construções em pilotis. A ventilação através de espaços intermediários (os pátios) é uma estratégia usada geralmente para climas quentes, podendo ser estendida para outras regiões climáticas, que permite-se maior circulação do ar por meio de espaços intermediários que poderão estar associados a corredores e demais ambientes internos da edificação que permitam a ventilação nos ambientes. Um maior conforto térmico pode estar associado à abertura de portas e venezianas e seu controle, por meio de aberturas, como demostrado na figura 7 a seguir. 45 Figura 7 - Conjunto habitacional Presidente Mendes de Moraes (Pedregulho) vista dos fundos - Edifício sob pilotis e aberturas na fachada para ventilação. Fonte: Arquitetura no Brasil, São Paulo, ano 10, Moderna, maio 2010, disponível em: <www.simonemarinho.com/imagem/index.php?id=28>m. Acesso em: 23 maio 2014. 3.4.1 Inércia térmica A análise dos fatores resultantes da inércia térmica na edificação, poderá alterar significativamente os resultados da temperatura interna e podem ser aplicadas para atrasar ou diminuir os picos de calor provenientes da temperatura externa. Segundo Yannas; Maldonado (1995), pela consequência do acúmulo térmico sobre a volumetria no ambiente interno da edificação, surge o efeito de dissipação de calor. Assim evita-se a oscilação e os picos de calor durante o dia, ocorrendo armazenamento de calor com dissipação somente mais tarde. Sobre essa consideração entende-se, então, que a inércia se dá na capacidade da edificação, em armazenar e liberar calor. Considerando uma edificação com pouca inércia térmica, a consequência seria a de variação mínima no ambiente em relação à temperatura externa. Por esse motivo com inércia infinita, manteria-se a temperatura interna constante. Quanto maior for a variação da temperatura externa, maior será a necessidade de grande inércia térmica. Esta é a razão para o fato de que o calor absorvido e o calor armazenado aos materiais da edificação estarem vinculados à 46 capacidade térmica dos mesmos que compõem a envoltória. O que determina a inércia térmica é o atraso térmico e a capacidade de amortecimento. Segundo Frota; Schiffer (2001), quando, por exemplo, a temperatura exterior, no início supostamente igual à temperatura interior, eleva-se, um certo fluxo de calor penetra na parede. Esse fluxo não atravessa a parede imediatamente, antes aquecendo-a internamente. Tal fluxo, se comparado com uma parede fictícia de peso nulo, atravessa a parede com um certo atraso e é amortecido, como demonstra a figura 8 a seguir. Figura 8 - Esquema explicativo do fenômeno da inércia térmica de uma parede real (q2) e de uma parede fictícia de peso nulo (q1) – Fonte: FROTA; SCHIFFER (2001) - Manual de Conforto Térmico, p. 51. 3.4.2 Atraso térmico Segundo Rivero (1986), o atraso ou retardo térmico (φ) determina o tempo que a temperatura leva para adquirir diferença térmica em relação a um dos meios, manifestada na superfície oposta ao fechamento. No atraso térmico, a dependência está ligada à parametrização do processo de transmissão por condução de calor sobre condições variáveis, ou seja, a condutividade térmica (λ), o calor específico (c), a densidade absoluta (d) e a espessura (e). 47 Atraso térmico é o tempo que transcorre entre os momentos de ocorrência da temperatura máxima do ar no exterior e no interior da edificação, quando se verifica um fluxo de calor através de um componente construtivo, submetido a uma variação periódica da temperatura do ar no exterior(...). O atraso térmico depende da capacidade térmica do componente construtivo e da ordem em que as camadas estão dispostas. (GHISI; LAMBERTS, 1998b, p. 28) Segundo Ghisi; Lamberts (1998b), o atraso térmico em uma placa homogênea, onde “e” espessura está submetida ao regime térmico a um período de 24 horas, é calculado por meio de duas expressões (ver anexos 1 e 2). 3.4.3 Capacidade de amortecimento A capacidade de amortecimento define a propriedade da envoltória, a fim de diminuir a amplitude das variações térmicas. Rivero (1986) afirma que o que define o coeficiente de amortecimento (𝜇) é a relação entre a amplitude da temperatura superficial interna do fechamento (𝜔𝑠 ) e a amplitude da temperatura do ambiente externo (𝜃𝑠 ) 𝜇 = 𝜔𝑠 𝜃𝑠 . Sobre as condições do coeficiente de amortecimento (𝜇) a regimes cíclicos e temperaturas internas constantes, o valor considerado sempre será menor que 1, portanto, quanto menor o seu valor, menor será a capacidade de amortecimento do fechamento. 3.4.4 Calor específico e a capacidade calorífica volumétrica Papst (1999) afirma que a transmitância térmica de um componente da edificação não seria um bom parâmetro para ser analisado no desempenho térmico da edificação sobre condições climáticas transientes, em que há possíveis variações de temperatura externa e da radiação. Isto porque parte do ganho de calor externo durante o dia armazena-se na massa térmica dos componentes da envoltória da 48 edificação, assim apenas parte do calor é transmitido para dentro da edificação. O atraso térmico e o amortecimento do calor transmitido são processos das características térmicas dos materiais e de suas espessuras. Segundo Yannas; Maldonado (1995) a diferença da capacidade de armazenamento de calor dos materiais é determinada a partir da análise da capacidade calorífica volumétrica. O calor específico (𝑐) determina a quantidade de calor que se faz necessário para elevar o grau de temperatura do componente por unidade de massa, sendo sua unidade 𝐽⁄𝑘𝑔 𝐾 ou 𝑊ℎ⁄𝑘𝑔𝐾 . Para Incropera; De Witt (1992) a capacidade calorífica volumétrica é produto resultante entre a densidade (𝜌) e o calor específico (𝑐)·, e sua unidade é 𝐽 ∕ 𝑚3 𝐾. Yannas; Maldonado (1995) citam a importante informação do concreto denso, cuja capacidade calorífica volumétrica está acima de 0.480 𝑘𝑊ℎ ∕ 𝑚3 𝐾. Comparando-se com materiais de isolamento que estão na faixa de 0.003-0.012 𝑘𝑊ℎ ∕ 𝑚3 𝐾, nesse caso, uma laje de concreto de 10 cm de espessura armazena 0.480 𝑘𝑊ℎ ∕ 𝑚𝐾 por 𝑚2 de superfície, enquanto um isolamento de mesma espessura possibilita menos de 0.001 𝑘𝑊ℎ ∕ 𝑚𝐾. É afirmado, também, que a água é um importante meio de armazenamento de calor, sendo que sua capacidade calorífica volumétrica é duas vezes maior que a do concreto sob uma temperatura de 20℃, e sua capacidade térmica é de 1.16 𝑘𝑊ℎ ∕ 𝑚3 𝐾. Em uma simulação efetuada por Rivero (1986), foram demonstradas as diferenças entre o concreto e o poliestireno expandido, ambos com espessuras iguais e suficientes para que suas resistências térmicas sejam as mesmas, revelando-se que o concreto absorve 3.900 vezes mais calor que o poliestireno. E por esse fato que esta propriedade é o que diferencia tão acentuadamente, e é aplicado nas envoltórias, provocando comportamentos desiguais em regime variável. 49 3.4.5 O uso da inércia térmica em edificações O isolamento térmico na envoltória da edificação é essencial, sobretudo para evitar a possível entrada de calor do meio externo, principalmente em períodos de maior incidência de radiação. Os ocupantes recebem influência direta da temperatura conduzida ao ambiente interno, como também de suas ações, ultrapassando o limite de conforto. As aberturas possibilitam a entrada de radiação e ventilação à edificação, quando a temperatura externa é mais alta que a interna. É importante ressaltar que se tenha uma preocupação no gerenciamento da edificação em relação ao controle de entrada ou não do ar externo. Segundo Szokolay (1980) apud De Wall (1993), a temperatura interna deve apresentar diferença de até 3 ºC, em relação à temperatura externa no período de inverno, fazendo as pessoas sentirem a necessidade de isolar seu ambiente interno do externo, fechando janelas e ventilando o ambiente apenas pelo tempo necessário. Não devem ter uma inércia muito grande, pois isto dificulta a retirada do calor interno armazenado durante o dia, prejudicando o resfriamento da construção quando a temperatura externa noturna está mais agradável que internamente (FROTA; SCHIFFER, 1988, p.71). As aplicações de elementos isolantes nos fechamentos impedem a passagem do calor externo recebido pela radiação solar e o aumento da temperatura interna em demasia. Já para a cobertura, a utilização de camadas de ar ventiladas, assim retirando o calor conduzido sob as telhas. Para determinar a inércia térmica e a capacidade térmica de painéis, a norma brasileira aponta as formulações necessárias para o embasamento dos cálculos (ver anexo 2). 50 4 CONJUNTO HABITACIONAL SUSTENTÁVEL “TOSSA DE MAR” A relevância da pesquisa deve-se ao fato de integrar a eficiência térmica do edifício ao ciclo de vida, sobretudo por se tratar de uma arquitetura contemporânea que considera essencial para a qualidade ambiental ao projeto as análises de desempenho térmico, pelas diferentes composições e fechamentos possíveis de serem aplicados ao edifício, reduzindo a transmitância térmica, a influência na forma e layout proporcionando um fator importante de sobreamento aos blocos habitacionais e o uso de softwares para as simulações da eficiência térmica. O Departamento de Meio Ambiente e Habitação Social do Governo catalão iniciou um estudo detalhado sobre a redução das emissões dos gases de efeito estufa (CO2), para servir de base para os futuros projetos de habitação social sustentável. O estudo e projeto foram realizados em 2005 pelo grupo de arquitetos “Sabaté Associats” contrados pelo órgão governamental de Habitação Social. O projeto está localizado em “Tossa Del Mar, na província de Girona, Espanha localizado na Latitude: 41° 43′ 13″ Norte, Longitude: 2° 55′ 56″ em uma superfície de 3.843 hectares 38,43 Km² (14,84 sq mi) a uma altitude de 12m, sob um clima subtropical úmido. Esta comunidade autónoma da Catalunha, com densidade populacional de “130,27 hab/km²” (SABATÈ et al., 2008), como demonstrado no mapa da figura 9 a seguir. Figura 9 - Mapa de localização da cidade de Tossa Del Mar, província de Girona - Espanha - Fonte: Google maps - BCN IGN Espanã, ano 04, maio 2014, disponível em: <www.googlemaps.com.br> - Nota: Modificado pelo autor. Acesso em: 23 maio 2014. 51 O detalhamento e a análise do ciclo de vida do edifício foram elaborados por uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de reduzir as emissões dos gases do efeito estufa em 90% em relação aos edifícios padrão construídos na época. Os apartamentos foram distribuídos em três edifícios: dois edifícios são direcionados à venda e um, para aluguel social. Os edifícios foram projetados com quatro tipologias diferentes, visando o melhor aproveitamento solar. A metodologia de projeto arquitetônico passou por várias fases de pesquisa e experimentação acerca das questões que envolvem o desempenho térmico global, as ventilações cruzadas e o aproveitamento solar. Para atingir o objetivo foram utilizadas ferramentas de simulação existentes e acessíveis. As figuras 10a, 10b, 11a, 11b e 12 a seguir, mostram a renderização dos edifícios e sua implantação no terreno (SABATÈ et al., 2008). Figura 10a e 10b - Renderização das Unidades Habitacionais - Fonte: Towards zero emissions, co2reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013. Figura 11a e 11b - Renderização das Unidades Habitacionais - Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013. 52 Figura 12 - planta de Arquitetura das Unidades Habitacionais – Fonte: Towards zero emissions, co2reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 8, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013. Os desenhos das implantações dos edifícios são horizontais e paralelas às curvas de níveis. A implantação no terreno minimiza o sombreamento dos edifícios no inverno, enquanto a escolha de balcões lineares busca minimizar o conforto da fachada mais quente no verão. Outras estratégias aplicadas foram áreas verdes no canteiro central, pisos permeáveis entre os edifícios e cobertura com teto verde para minimizar o calor gerado pela pavimentação. A implantação do projeto busca obter menor quantidade de cortes e aterro no terreno. No caso da eficiência térmica global, outros parâmetros, como comportamento térmico (transmitância, ventilação, energia solar e proteção solar) foram levados em consideração, a fim de minimizar a demanda de energia ao longo da vida útil do edifício. Em paralelo, foi realizada uma comparação com os materiais que seriam utilizados para a construção de um edifício convencional. A figura 13, a seguir, mostra a implantação dos blocos habitacionais. 53 Figura 11 – A implantação dos blocos habitacionais -Tossa Del Mar - Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013. 4.1 CICLO DE VIDA EM “TOSSA DE MAR” A análise do ciclo de vida é um processo global e foi modelado por meio de programas computacionais, em três fases. “O consumo de energia e as emissões de CO2 relacionadas com a extração de matérias-primas” (SABATÈ et al., 2008). A energia gasta durante a construção e demolição. As emissões além do consumo de energia da habitação em uso, durante durante os cinquenta anos de vida útil do edifício. Os mesmos parâmetros foram modelados para um edifício convencional de área construída semelhante e que satisfaz os requisitos mínimos de sustentabilidade para o espanhol e catalão. (SABATÈ et al., 2008), (CATALUNYA SECRETARIA D'HABITATGE, 2010). SABATÈ e outros (2008) aplicaram o código regulamentador "Código Técnico de EDIFICACIÓN e Decret d'ecoeficiencia en Edificis" válido a partir de 2006. (CATALUNYA SECRETARIA D'HABITATGE, 2006). 54 Na avaliação do consumo de energia e de CO2 associadas às emissões do edifício sem uso, foram analisados os “sistemas de ventilação, ar-condicionado (HVAC) e Água Quente (AQS) e, para a energia utilizada na cozinha, aparelhos elétricos e de iluminação artificial”. Os sistemas de “climatização e AQS” representam “60% do consumo total” no seu impacto e foram avaliados diretamente por decisões projetuais. Segundo SABATÈ e outros (2008), os sistemas de iluminação artificial e equipamentos elétricos da cozinha, “dependem principalmente do comportamento do usuário e, portanto, não foram levados em conta na comparação”. A figura 14, a seguir, mostra os sistemas implantados. Figura 14 - Processos de fontes de energia renovável no edifício - Fonte: Sabaté associats —Arquitectura i Sostenibilitat, Barcelona, Spain, year 08, october 2008, disponível em: <www.saas.cat>. Acesso em: 4 abr. 2013. 4.2 Análise das composições das vedações em “Tossa De Mar” Um dos principais resultados do estudo de ciclo de vida é a importância da energia incorporada dos materiais e a redução das emissões de CO 2, com a busca por materiais com menor impacto ambiental. Outro aspecto é o impacto do consumo de energia, devido ao funcionamento dos edifícios, e a pesquisa de estratégias para uma maior redução das emissões de CO2 (KEELER; BURKE, 2010). Portanto, a sustentabilidade está diretamente ligada aos impactos por materias. Este projeto foi aplicado em materiais renováveis de baixa emissão no processo de 55 fabricação, como a madeira e bambu e painéis compostos como painéis LVL 7. As árvores captam o CO2 absorvido durante seu crescimento e armazenam em suas moléculas, quando transformadas em painéis e derivados de construção, armazenam o CO2, durante o tempo de vida do edifício (GAUZIN-MÜLLER, 2011). A pesquisa mostra a importância da eficiência térmica de novas composições de painéis e das emissões das envoltórias, realizada pelo grupo e coordenada por SABATÈ e outros (2008), que ficaram em exposição no CONSTRUMAT, em Barcelona. ‘Building Design Sustentable’ em 2007, no stande do Departamento do Governo catalão do Meio Ambiente e Habitação Social, na feira de construção CONSTRUMAT, em Barcelona e mostraram a possibilidade de diminuição dos gases de efeito estufa em 80%, na mudança de materiais não renováveis para aplicação de produtos organicos e renováveis como a madeira associado e não contrução de garagens em concreto no sub solo (SABATÈ et al., 2008, p. 14). As análises térmicas foram realizadas para diferentes composições e fechamentos possíveis de serem aplicadas ao edifício. Na primeira análise dos impactos dos edifícios, o grupo de SABATÈ considerou a construção do subsolo, com estrutura em concreto armado, e nas vedações foram avaliados os painéis cerâmicos ou de concreto, mas para atingir o parâmetro, do código catalão de Habitação e eficiência energética “energia eficiente”, foi preciso associar composições para atingir a transmitância térmica menor que U = 0,5 W/m2K (SABATÈ et al., 2008). As figuras 15a e 15b a seguir, mostram a composição com duas camadas de tijolo cerâmico, ar e um material isolante, o isopor. Na figura 16a e 16b a seguir, o concreto mais denso foi associado a um isolante térmico. Visando a diminuição das emissões de CO2 em 45%, ao longo da vida útil do edifício, foram integradas placas solares para aquecer a água. 7 Painéis de madeira LVL - Laminated Venner Lumber. 56 Figura 12a e 15b - Exemplo de fachada baseada em material - Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf? sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013 - Nota: modificado pelo autor. A outra análise realizada do impacto dos edifícios de habitação social de quatro pavimentos foi realizada sem subsolo, com placas solares para aquecimento de água, aplicação de geotermia, associado ao teto verde, entre outros. Para atingir o paramêtro do referido código de habitação “energia muito eficiente e materiais de baixo impacto”, foi preciso conseguir a redução a transmitância térmica das fachadas e cobertura U = 0,3 W / m2 K, com composições de materiais, além de utilizar materiais considerados de baixo impacto ambiental, renováveis ou orgânicos, de baixa energia incorporada, como a madeira, que foram aplicados nos painéis de vedação. As figuras 16a e 16b, a seguir, mostram a aplicação de madeira e isolante orgânico, mais pequenas câmaras de ar, associando um jardim verde sobre a cobertura, com a mesma composição de painéis das figuras 17a e 17b associada às camadas do teto verde. Neste caso, as emissões reduzem em 74% (SABATÈ et al., 2008). 57 Figura: 13a - Composição de painéis de vedação. Figura: 16b - laje baseada em material orgânico – Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013 - Nota: modificado pelo autor. Figura 14a e 17b - A composição de painéis de vedação - laje baseada em material orgânico – Fonte: Towards zero emissions, co2-reduction in mediterranean social housing, Barcelona, Spain, ano 08, october 2008, disponível em: <repository.tamu.edu/bitstream/handle/1969.1/90815/ESL-IC-08-10-47.pdf?sequence=1>. Acesso em: 4 abr. 2013 - Nota: modificado pelo autor. Associando ao edifício da análise anterior o aumento de energias renováveis, como placas fotovoltaicas, aplicação de biomassa (biogás), energia solar para aquecimento de água, sistemas de energia altamente eficientes a redução das 58 emissões pode chegar a 90% (SABATÈ et al., 2008). São estratégias adotadas para qualidade ambiental e eficiência térmica do edifício. 4.3 Energia e eficiência térmica em “Tossa De Mar” A busca por melhorias na eficiência da energética dos projetos dos edifícios consiste da otimização da forma e configuração do apartamento e dos blocos no local. Para simular o controle solar e o sombreamento foi aplicado programa computacional ECOTECT, na figura 18, foi determinada a melhor implantação dos volumes no local. A relação de aberturas para a fachada foi fixada em 35%, a fim de permitir contribuições solares no inverno e evitar o superaquecimento no verão, foram projetadas proteções solares fixas sob a forma de varandas na fachada sul-Oeste (SABATÈ et al., 2008 23 p.). Figura 18 - Determinação Solar e Simulação de sombra – Fonte: Sabaté associats —Arquitectura i Sostenibilitat, Barcelona, Spain, year 08, october 2008, disponível em: <www.saas.cat>. Acesso em: 4 abr, 2013 - Nota: modificado pelo autor. 59 A análise dos gastos energéticos foi avaliada no programa computacional EnergyPlus, a fim de determinar o consumo do sistema concebido, com a climatização central e com o sistema de água quente, com bombas de calor geotérmico e caldeiras de suporte central. A demanda de energia das unidades foi avaliada considerando novas composições de vedação e com aumento do nível de isolamento dos materiais aplicados à envoltória do edifício em construção, “com uma transmitância térmica abaixo 40% dos requisitos legais” modeladas para o edifício com novas vedações e o edifício convencional (SABATÈ et al., 2008). Com uma análise integrada, a redução da demanda da energia elétrica em relação ao edifício padrão foi de 34% (redução no aquecimento), devido ao aumento do isolamento foi em torno “de um terço da demanda do edifício padrão”. As ferramentas de simulação aplicadas na análise recomendada pelo código espanhol foi o programa LIDER, mas uma análise mais detalhada foi aplicada com o TRNSYS (SABATÈ et al., 2008). 60 5 AS CONSIDERAÇÕES DAS NORMAS ABNT NBR 15575 E NBR 15220 SOBRE CONFORTO AMBIENTAL Klein e Lima (2004) afirmam que o conforto térmico de um edifício em projeto não pode ser avaliado através da resposta de um componente do edifício, como parede ou piso, mas deve ser avaliado pelo desempenho térmico do edifício como um todo. A análise de conforto esperada deve ser realizada com a aplicação de softwares de simulação do comportamento térmico ou por medições in loco em protótipos da edificação. Os autores afirmam que, com base em discussões do IPT, o processo de validação do desempenho térmico das construções deve passar pelas seguintes fases: Caracterização das exigências humanas de conforto térmico; Caracterização das condições típicas de exposição ao clima; Caracterização da edificação e sua ocupação, Avaliação do desempenho térmico da edificação. Nas considerações de Givoni (1968), o clima interno em edifícios não condicionados reage mais largamente à variação do clima externo e à experiência de uso dos habitantes, por exemplo, temperatura interna variando de 20 °C de manhã até 26 °C de tarde, no verão, é comum em edifícios não condicionados, ou seja, a velocidade do ar interno em edifícios com ventilação cruzada é sempre próximo a 2 m/s. As pessoas que moram em edifícios sem condicionamento e naturalmente ventilados usualmente aceitam um grande variação de temperatura e velocidade do ar como uma situação normal. Para Ghisi; Lamberts (1998) os índices de satisfação de conforto dos usuários são considerados por região onde a obra será implantada, sendo as características bioclimáticas definidas na NBR 15220:2005 – Desempenho térmico de edificações – Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social, apresentadas na figura 19a abaixo. 61 A cidade de São Paulo está situada na zona bioclimática 3. Na figura 19b, a seguir, e para cada uma das oito Zonas Climáticas Brasileiras descritas são feitas recomendações de diretrizes construtivas e detalhamento de estratégias de condicionamento térmico passivo, que otimizam o desempenho térmico das edificações. Figura 19a - Zoneamento Bioclimático brasileiro - Figura 19b - Localização da Zona Bioclimática 3 – Fonte: NBR – 15220:2005 – Nota: modificado pelo autor. Segundo a NBR 15575:2013, a análise e desempenho térmico podem ser realizados por meio de três métodos: o simplificado − que avalia o desempenho parcial dos elementos e permite sua simulação por meio de dois procedimentos que avaliam o desempenho global da edificação −, o experimental e as simulações computacionais ou numéricas. O método simplificado analisa o desempenho dos elementos parciais da edificação, como paredes, pisos e coberturas, e deve ser avaliado segundo as condicionantes NBR 15220:2005 − Desempenho térmico de edificações – Parte 2: Métodos de cálculo da transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar de elementos e componentes de edificações. 62 Tabela 3 - Transmitância térmica de cobertura - Fonte: NBR – 15220:2005 – Nota: modificado pelo autor. Tabela 4 - Transmitância térmica de cobertura - Fonte: NBR – 15220:2005 – Nota: modificado pelo autor. Tabela 5 - Transmitância térmica de cobertura - Fonte: NBR – 15220:2005 – Nota: modificado pelo autor. Os critérios de conforto térmico, definidos pela norma de desempenho NBR 15575:2013, foram desenvolvidos com base no estudo dos pesquisadores do IPT. Eles consideram o conceito de pessoas aclimatadas ao clima, diferentemente de outros pesquisadores que consideram as zonas entre 18 ºC e 29 ºC, como Givoni (1968) para regiões de clima subtropical (AKUTSU et al., 2005, p. 88). Os critérios chamados de desempenho, detalhados na NBR 15575:2013, estabelecem que as simulações devem ser realizadas para os dias típicos de verão e inverno e definem três faixas de conforto para aceitação de projeto. No de desempenho detalhado, a norma considera a resposta térmica global da edificação com exposição dinâmica a um clima específico, por meio de medições, ou simulações, por meio de softwares. 63 As faixas consideradas são: mínima, intermediária e superior. Para um dia típico de verão, a faixa mínima considera que a temperatura máxima no interior do protótipo deve ser menor do que a temperatura máxima exterior, à sombra. A faixa intermediária considera a temperatura máxima no interior do protótipo deve ser menor que a máxima temperatura exterior em menos 2 ºC. A faixa superior considera que a temperatura máxima no interior do protótipo deve ser menor do que a máxima temperatura exterior em menos 4 ºC. Tabela 6 - Classificação segundo a NBR 15575:2013 das faixas de conforto térmico para um dia típico de verão Fonte: NBR – 15575:2013 – Nota: modificado pelo autor. Para um dia típico de inverno, a faixa mínima considera que a temperatura no interior do protótipo deve ser maior do que a temperatura mínima externa em mais 3 ºC. A faixa intermediária considera que a temperatura mínima no interior do protótipo deve ser maior que a temperatura mínima externa em mais 5 ºC. A faixa superior considera que a temperatura mínima no interior do protótipo deve ser maior que a temperatura mínima externa em mais 7 ºC. MÍNIMA TEMP INTERNA > TEMP EXTERNA mais 3ºC INTERMEDIÁRIA TEMP INTERNA > TEMP EXTERNA mais 5ºC SUPERIOR TEMP INTERNA > TEMP EXTERNA mais 7ºC Tabela 7 - Classificação segundo a NBR 15575:2013 das faixas de conforto térmico para um dia típico de inverno. Fonte: NBR – 15575:2013 – Nota: modificado pelo autor. Obtendo como referência a NBR 15220:2005 (“Desempenho térmico das edificações – Parte 2: Métodos de cálculo de transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar dos elementos e componentes de edificações”), estabelece-se, como principal análise de dados térmicos, a capacidade e inércia térmica, transmitância e condutibilidade térmica dos materiais. Segue abaixo 64 a tabela da NBR 15220:2005, com as respectivas equivalências térmicas: A Área m2 R Resistência Térmica de um componente (m2.K)/W U Transmitância Térmica de um componente W/ (m2.K) CT Capacidade Térmica de um componente kJ/ (m2.K) Atraso Térmico de um componente horas FS Fator de calor solar - C Calor Específico kJ/ (kg.K).m E Espessura de uma camada M Condutividade Térmica do material W/ (m.K) Densidade de massa aparente do material kg/ m3 Emissividade Hemisférica Total - Tabela 8 – Tabela dos símbolos térmicos - Fonte: NBR – 15220:2005: Desempenho térmico, 2005. Os índices para avaliação de conforto térmico são obtidos por trocas térmicas dependentes de vários processos físicos de transferência de calor, como as temperaturas variáveis da resistência térmica das vestes, a velocidade e umidade do ar, as temperaturas das superfícies que circundam o indivíduo e o nível de atividade que este está desempenhando. As pesquisas sempre buscaram estabelecer padrões definidos de conforto e por tal atividade estabelecem-se diversos limites para delinear zonas de conforto, assim possibilitando o atendimento ao maior número de pessoas possível. Estudos de Olgyay (1963); Givoni (1968) são um dos principais precursores de dados climáticos, conforto térmico e estratégias de projeto, baseados por cartas bioclimáticas. 65 Gráfico 1 Carta bioclimática proposta por Givoni. Fonte: disponível em: <www.reitoria.uri.br/~vivencias/Numero_005/artigos/artigos_vivencias_05/artigo_006.htm> - Acesso em: 3 de fev., 2013. Tendo em vista mais amplo o conceito “Arquitetura-Bioclimática”, apresentado por Lamberts; Dutra; Pereira (2004), os precursores da pesquisa dos procedimentos sistemáticos a uma arquitetura com desempenho térmico adequado. Alguns dos primeiros pesquisadores a discutir o projeto bioclimático foram os irmãos Olgyay (1963). O método baseia-se em uma carta Bioclimática que apresentava a zona de conforto humano em relação à umidade do ar ambiente, temperatura radiante média, velocidade do vento, radiação solar e o resfriamento evaporativo. Mais tarde, uma nova metodologia, proposta por Givoni (1968), utilizou como modelo biofísico das descrições dos mecanismos de troca de calor entre o corpo e o meio ambiente e o índice de “Stress” Térmico (ITS), índice pelo qual utiliza-se a temperatura do ar, a umidade (pressão de vapor), o movimento de ar, a radiação solar, a taxa metabólica e as vestes como possíveis variáveis que são incluídas no cálculo. A partir desse momento então, surge a carta bioclimática original de Givoni (1968), em que utilizouse também umidade absoluta com referência. A zona de conforto foi adaptada para os países de climas tropical e temperado. No gráfico 2 a seguir, apresenta a carta Bioclimática proposta por Givoni, ele associa as zonas térmicas, umidade às técnicas passivas, demonstra também, dentro de cada zona, os limites das zonas de conforto. 66 Zonas: 1- Conforto; 2- Ventilação; 3- Resfriamento Evaporativo; 4- Massa Térmica para Resfriamento; 5- Ar Condicionado; 6- Umidificação; 7- Massa Térmica e Aquecimento Solar Passivo; 8- Aquecimento Solar Passivo; 9- Aquecimento Artificial. Gráfico 2 Carta bioclimática proposta por Givoni. Fonte: disponível em: <www.reitoria.uri.br/~vivencias/Numero_005/artigos/artigos_vivencias_05/artigo_006.htm> - Acesso em: 3 de fev., 2013 Segundo Givoni (1992) apud Leão (2004), o surgimento dos limites para a zona de conforto térmico de países com clima quente e em desenvolvimento, no verão em uma situação de umidade baixa, e a variação de temperatura de 25 oC a 29 oC e quando em umidade alta de 25 a 26 oC, tendo como temperatura máxima 32 oC com ventilação de 2,0 m/s; no inverno, os limites podem alcançar de 18 oC a 25 oC. Em relação à umidade, os limites são de 4,0 a 17g/kg e de 80% da umidade relativa. 67 6 A CERTIFICAÇÃO BRASILEIRA “SELO CASA AZUL CAIXA” Segundo Pereira (2012), desde 1994 a FINEP/MCT8, financiadora e coordenadora de estudos e projetos, junto ao Programa de Tecnologia de Habitação (HABITARE), vem pesquisando as condições de instalação e o funcionamento de empreendimentos habitacionais. O livro da coletânea Habitare “Habitação e Meio Ambiente” possui uma abordagem direta em empreendimentos de interesse social, e outro dessa mesma coleção é “Inserção Urbana e Avaliação Pós-Ocupação (APO) da Habitação de Interesse Social”, que farão parte do importante instrumento de análise das condicionantes nacionais para a elaboração de critérios para avaliação do desempenho ambiental das habitações de interesse social (FREITAS et al., 2001, p. 227). Segundo Pereira (2012), em 2009, após estudo para desenvolvimento de certificação e que pudesse atender o segmento de habitação social de baixa renda, com uma metodologia que atendesse as necessidades brasileiras, a Caixa Econômica Federal, principal fonte financiadora da Habitação Social no Brasil, forneceu parâmetros para a avaliação dos empreendimentos habitacionais, com o propósito de reconhecer soluções de qualidade para serem utilizadas na Habitação Social. Tais critérios, desenvolvidos por técnicos da CAIXA, junto a professores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foram financiados pelo Finep/Habitare e pela CAIXA. “O Selo Casa Azul CAIXA é considerado o primeiro sistema de classificação da sustentabilidade de projetos de habitação social ofertado no Brasil, desenvolvido para a realidade da construção 8 A Finep - Inovação e Pesquisa - é uma empresa pública vinculada ao MCTI. Foi criada em 24 de julho de 1967 para institucionalizar o Fundo de Financiamento de Estudos de Projetos e Programas, criado em 1965. Posteriormente, a Finep substituiu e ampliou o papel até então exercido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e seu Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico (FUNTEC), constituído em 1964 com a finalidade de financiar a implantação de programas de pós-graduação nas universidades brasileiras. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) coordena a execução dos programas e ações, que consolidam a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, e lidera um conjunto de instituições de fomento e execução de pesquisa. O MCT desenvolve pesquisas e estudos que se traduzem em geração de conhecimento, novas tecnologias e na criação de produtos, processos, gestão e patentes nacionais. 68 habitacional brasileira” (JOHN, 2010). O guia organiza-se por duas partes, sendo que a primeira está estruturada por três textos: I. (Texto 1) do professor Wanderley M. John: Impactos socioambientais: teoriza a produção da construção e o conceito de sustentabilidade (social e nas empresas). II. (Texto 2) da equipe técnica da CAIXA: Procedimentos para certificação: instruções de como adquirir o “Selo Casa Azul”, orientação dos procedimentos e solicitações para a análise do projeto; Classifica o nível de qualificação em ouro, prata ou bronze, como demonstrado na figura 20 a seguir. São seis categorias de análise organizadas da seguinte forma: Qualidade Urbana; Projeto e Conforto; Eficiência Energética; Gestão da Água; Conservação de Recursos Naturais; Práticas Sociais Para cada categoria existem critérios opcionais e obrigatórios, à escolha do empreendedor, de acordo com as características regionais do empreendimento. A figura 20, a seguir, demonstra a classificação do projeto por critérios adotados. 69 Figura 20 – Hierarquias dos selos para certificação - Selo Casa Azul CAIXA - Fonte: OFICINA SINDUSCON/SP Nota: modificado pelo autor. Motta9 (2010) aponta que o “Selo Casa Azul” é um instrumento simples e eficaz para atestar a qualidade e diferenciais de sustentabilidade do empreendimento para o cliente e que a certificação é gratuita com a marca CAIXA, agregando valor para comercialização do produto. Explica que a certificação firma o compromisso da CAIXA com o meio ambiente e com o financiamento de habitações mais sustentáveis, e atende ao reconhecimento e à valorização dos empreendimentos que adotam soluções e práticas sustentáveis de projeto e construção. Figura 21 - Referencial técnico para o proponente: Guia CAIXA de Sustentabilidade Ambiental – Selo Casa Azul – Boas Práticas para Habitações mais Sustentáveis – Fonte: OFICINA SINDUSCON/SP. 9 Coordenadora do grupo de trabalho que elaborou a metodologia do Selo Casa Azul CAIXA. 70 A segunda parte da organização atende ao desenvolvimento conceitual das categorias estabelecidas: Tabela 9 - Critérios de análise para certificação Selo Casa Azul CAIXA - Fonte: OFICINA SINDUSCON/SP - Nota: modificado pelo autor. Para avaliação do desempenho térmico, utiliza-se a parte 2, onde trata-se da qualidade de projeto e do conforto na habitação, como demonstrado na tabela 10 acima. Para uma análise do desempenho térmico, utiliza-se a Categoria 2 – Projeto e Conforto, desenvolvida por Lamberts e Triana10 no ano de 2010. CAIXA (2010) afirma que esta categoria está direcionada aos aspectos que relacionam o planejamento e a concepção do projeto, considerando, principalmente, a adaptabilidade da edificação sob condições climáticas, características físicas e geográficas do local, bem como o planejamento dos espaços na edificação para fins de uso comum ou específico, onde está determinado como parâmetros a NBR 15220 – parte 3 (2005c), tal como a NBR 15575:2013 – Edificações Habitacionais – Desempenho. Na tabela de listagens 10 a seguir, demonstra os itens 2.7 e 2.8 como obrigatórios e os itens 2.9 e 2.10 do Selo Casa Azul CAIXA, como sugestão. 10 Dr. Roberto Lamberts, engenheiro, PhD LabEEE-UFSC e Maria Andrea Triana, arquiteta. 71 Tabela 10 – Quadro de critérios de avaliação pela categoria 2 - PROJETO E CONFORTO – Estratégias para a arquitetura bioclimática, demarcadas na cor azul – Fonte: Selo Casa Azul versão web – Nota: modificado pelo autor. 72 7 PROGRAMAS PARA ANÁLISE E SIMULAÇÃO Os softwares de apoio ao projeto possibilitam os estudos para análise do comportamento térmico das edificações − diversos softwares vêm sendo elaborados, tanto no Brasil como nos países desenvolvidos. A norma de desempenho indica a modelagem do projeto pelo software Energyplus, como ferramenta para a modelagem de energia para a avaliação do desempenho do edifício, desenvolvida pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, que permite simular os sistemas de aquecimento, iluminação e ventilação, de forma a quantificar seu consumo de energia. Segundo Sorgato (2009), estudos de ventilação natural urbana e nas edificações, são muito complexos e vêm sendo igualmente viabilizados pela utilização de programas de lógica matemática e por ter semelhanças com a mecânica dos fluidos e por ensaios em túneis de vento. Alguns softwares auxiliam esse processo de análise. Segundo Otec11 (2013), o Designer Builder foi construído a partir do EnergyPlus, portanto tornando-se interface amigável para simulações de projetos na produção de edifícios, permitindo a inserção da maior parte de seus recursos de envoltória e envidraçamento. Foi desenvolvido para ser utilizado em qualquer fase do processo de concepção, desde as fases de conceito, em que apenas “alguns” parâmetros são necessários para capturar o projeto de construção de modelos de construção, até fases muito mais detalhadas para projetos estabelecidos, sendo que alguns usos comuns são: Avaliação das fachadas da edificação para o efeito de aquecimento, o uso de energia e aparência visual e a verificação de utilização optimizada da luz natural; Modelagem de sistemas de controle de iluminação e cálculo de eficiência na iluminação elétrica; 11 OTEC – Fundada em uma época anterior ao grande desenvolvimento da construção sustentável no país, movimento impulsionado pelo trabalho do Green Building Council Brasil, a OTEC nasceu de parceria com a consultoria norte-americana Architectural Energy Corporation (AEC). 73 Cálculo da temperatura , velocidade e distribuição de pressão e em torno de edifícios usando CFD12; Visualização de layouts de dispositivos de proteção solar; Simulação térmica de edifícios naturalmente ventilados; Projeto HVAC13, incluindo o aquecimento, o arrefecimento e o dimensionamento de equipamentos; Traçar a trajetória solar em qualquer período do ano; Permitir a modelagem por zonas dentro do espaço; Importar arquivo de extensão D.W.G (Auto-Cad); Trabalhar com ferramentas de contrução de desenho. O Designer Builder é aprovado pela NBR 15575:2013, por utilizar como interface amigável o EnergyPlus. O software gráfico Analisys Sol-Ar – Segundo LABEEE14 (1996), permite a obtenção da carta solar em função da latitude, auxiliando no projeto das proteções solares através da visualização gráfica dos ângulos de projeção desejados sobre transferidor de ângulos, que pode ser plotado para qualquer ângulo de orientação. O programa também permite a visualização de intervalos de temperatura anuais correspondentes às trajetórias solares ao longo do ano e do dia. Para estas cidades, o programa oferece a possibilidade de obtenção da rosa dos ventos para frequência de ocorrência dos ventos e velocidade média para cada estação do ano em oito orientações (N, NE, L, SE, S, SO, O, NO). O programa possui uma base de dados para diversas cidades, com latitude, longitude e dados de temperatura e vento disponíveis em arquivos CSV (Valores Separados por Vírgula): Belém, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Maceió, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Luis, São Paulo, Vitória. 12 CFD - Computational Fluid Dynamics a sigla que corresponde ao cálculo computacional de dinâmica dos fluidos. Tanto "AVAC" como "HVAC" são siglas que significam "aquecimento, ventilação e ar condicionado" (em inglês "heating, ventilating and air conditioning"). 14 LABEEE - Laboratório de Eficiência Energética em Edificações foi criado no ano de 1996. 13 74 O uso do Analisys Sol-Ar para a identificação dos resultados desse trabalho é essencial para a quantificação dos períodos de insolação e sombreamento das fachadas do apartamento analisado. 8 ESTUDO DE CASO 8.1 CONJUNTO HABITACIONAL ZEZINHO MAGALHÃES PRADO – CECAP (CONDOMÍNIO ESPÍRITO SANTO) Na análise do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado serão apontados possíveis parâmetros de conforto ambiental, que possam indicar a relação das soluções de projeto e tecnológicas empregadas na construção. Serão consideradas as referências que respeitam as variações bioclimáticas e as soluções que garantem o conforto ambiental, sobretudo bom desempenho, durabilidade, baixo custo de construção e manutenção na edificação. O Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado retrata a arquitetura modernista e princípios corbusianos, pelas suas organizações de espaços orienta-se pelo conceito de freguesia, com identidade da superquadra aplicada pelo arquiteto Lúcio Costa de 1902 a 1998 em Brasília. Para cada freguesia, define-se um conjunto de edifícios e equipamentos urbanos. É importante ressaltar que por essa tipologia de projeto dos edifícios, é possível identificarmos a autonomia das unidades com conjuntos mais amplos. Outro ponto importante é a opção de planta livre para habitação popular, paredes internas independentes das estruturas, que adequam-se às necessidades dos moradores. Segundo Issac (2007), ainda em fase de construção “de 1960 com a conclusão em 1981”, Vilanova Artigas, Fabio Penteado e Paulo Mendes da Rocha, coordenadores e autores do projeto do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, juntamente com a colaboração do arquiteto Ruy Gama, são convidados a apresentar o projeto do Conjunto Habitacional na FAUUSP para os alunos, junto ao 75 arquiteto e professor Candido Malta Filho, com o propósito de destacar no debate15, importantes aspectos do projeto original que demostrava a preocupação que tiveram com a questão da autonomia, flexibilidade e mutabilidade do sistema arquitetônico. Nesse debate, Candido Malta ressalta que a que concepção urbanística aberta do Conjunto Habitacional favoreceria transformações sociais, indo contra os princípios do urbanismo modernista. A arquitetura moderna foi marcada pela racionalidade, pelos materiais industrializados e brutos, como o concreto e vidro, e pela valorização da função e da estrutura. Nas figuras 22a, 22b, 23a e 23b a seguir demonstram-se os aspectos apontados do modernismo como a superquadra (espaços entre os blocos), o concreto aparente e o caixilho demarcado por toda a extensão da fachada. Figura 22a- Planta livre - Espaços grandes entre blocos constituídos por praças internas – Fonte: ISAAC (2007). Figura 22b Fachada do conjunto habitacional Zezinho Magalhães Prado – Fonte: MELLO (1960/1970). Figura 23a – Canteiro central que possibilita a liberdade de uso dos espaços aos usuários. Figura 23b – Pátio interno, possibilidade de insolação e ventilação entre blocos - Fonte: ISAAC (2007). 15 Este debate foi publicado pela primeira vez em 1972 na revista Desenho, número 4 editada pelos alunos da FAUUSP. 76 O Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, ou parque CECAP, pela sua grandiosidade, acabou dando o nome ao bairro (Parque CECAP). Localizada em Guarulhos, no nordeste da Região Metropolitana de São Paulo, sendo um dos 39 municípios que a integra. Situa-se no eixo Rio/São Paulo, a 19 km da capital (ISSAC, 2007, 64 p.). Na figura 24, a seguir, a área do terreno está destacada pela cor ferrugem. Os limites do terreno fazem divisa com o Rio Baquirivú, com o Aeroporto Internacional de Cumbica e a Base Aérea, além de ter a Rodovia Presidente Dutra (cor vermelha), Avenida Perimetral (cor amarela) margeando-a e um pouco mais afastada a Rodovia Ayrton Senna da Silva (cor rosa). Na dada época, o Aeroporto, enquanto equipamento de uso civil, era uma possibilidade e a Avenida Perimetral e a Rodovia Ayrton Senna da Silva ainda não haviam sido implantadas. Figura 24 - Localização do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado/Parque CECAP. Fonte: ISAAC (2007). Posicionado entre o eixo Rio/SP, o município de Guarulhos foi escolhido para a implantação de equipamentos de impacto regional tais como: o Aeroporto Internacional de São Paulo – Guarulhos (inaugurado em 1985 e com a terceira pista em fase de projeto), Rodoanel, Dryport, o Parque Ecológico do Tietê e o Parque Estadual da Cantareira (ISSAC, 2007, p. 65). 77 8.2 A área do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado O terreno de propriedade da Caixa Econômica do Estado de São Paulo (CEESP) (figura 25) com cerca de 1.780.000 m2. Em 23 de agosto de 1967 houve um processo de desapropriação amigável movido pela CECAP contra a CEESP, originando a transcrição de nº 19.403 (ISSAC, 2007, p. 56). A área foi utilizada em sua totalidade para o projeto inicial do conjunto habitacional, porém, como será visto adiante, este não foi construído na sua totalidade. Na parte do terreno à direita da Rodovia Presidente Dutra não houve qualquer tipo de construção, e na área à esquerda da rodovia foram construídas parte dos blocos habitacionais e parte dos espaços coletivos. Em 1972, a estagiária da CECAP Sylvia Ficher, relatou um fato interessante sobre o terreno, como demonstram as figuras 25 e 26 a seguir. Figura 25 - Matrícula de 1.780,00 m2 – Terreno Inicial CEESP; Fonte: ISAAC (2007). 78 Figura 26 - Estudo de implantação. Fonte: MDC, Revista de arquitetura e urbanismo ano 14, disponível em: < mdc.arq.br/2011/09/06/architettura-contemporanea-brasile-arquitetura-brasileira-entre-1957-e-2007/6-conjuntozezinho-magalhaes-prado-vilanova-artigas-paulo-mendes-da-rocha-fabio-penteado-guarulhos-sp-1967/> A área do terreno é de 180 ha e sua conformação topográfica apresenta relevo pouco acentuado, predominando na várzea do rio Baquirivu, afluente do principal curso d’água da Região Metropolitana que é o Tietê. A natureza do terreno particularmente das camadas superficiais turfosas, aliada à condição do relevo, foram dados muito importantes para elaboração do plano urbanístico e dados técnicos da análise do solo influenciaram significativamente as técnicas construtivas dos edifícios previstos. Todos os edifícios habitacionais se apoiam em superficiais em pilotis (figuras 27a e 27b), no que resulta melhor condição técnica em função do tipo do solo e maiores vantagens econômica, liberando a camada superficial para a circulação dos pedestres e recreação infantil (FICHER, 1972, p. 76). Figura 27a e 27b - Demonstra a importância das quadras abertas por os blocos da edificação serem sob pilotis Fonte: PEREIRA (2012). 79 8.3 Dados do projeto Em 1968, houve um debate a respeito do Conjunto na FAUUSP, tendo sido publicado em 1972 pela Revista Desenho 4, descrevendo de forma sintética o projeto, e que se aplica a primeira fase. Essa obra foi muito longa e passou por diversas transformações em suas fases. Essas transformações aconteceram em virtude do falecimento de Zezinho Magalhães Prado. Por esse motivo, houve a troca de superintendência e em seu lugar ficou Juvenal Juvêncio. Muitas outras pessoas estariam envolvidas na concepção do projeto e na construção, como identificado na tabela 11 a seguir. COORDENAÇÃO DO PROJETO João Vilanova Artigas Fabio Penteado Paulo Mendes da Rocha ARQUITETOS QUE TRABALHARAM NO PROJETO Renato Nunes Ruy Gama Giselda Cardoso Visconti Geraldo Vespasiano Puntoni ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS CEMACO PESQUISA DO SISTEMA EDUCACIONAL Eugenia Paesani Maiumy Souza Lima Alice Gonzaga SISTEMA DE ABASTECIMENTO PROAGRI CÁLCULO ESTRUTURAL Jose Carlos Figueiredo Ferraz Jose Antonio Del Nero Jose Almeida Castanho ENGENHARIA HIDRÁULICA E SANITÁRIA PLANIDRO INSTALAÇÕES ELÉTRICAS E HIDRÁULICAS Henrich Zwilling e Cia. Ltda ORÇAMENTO E PROGRAMAÇÃO DA OBRA E L. Falcão Bauer Ltda GEOLOGIA Stelavio Ranzini Tabela 11 – Quadro da equipe que constituiu o Escritório técnico da CECAP. Fonte: REVISTA DESENHO, 1972. Nas figuras 28, 29 e 30 a seguir, é demonstrado como seria a implantação do projeto na malha urbana atual de Guarulhos, caso o conjunto fosse realmente implantado na sua totalidade. 80 Figura 158 - Implantação do projeto de 1967 na malha urbana atual de Guarulhos. - Fonte: ISAAC (2007). Figura 29 - Implantação do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado/Parque CECAP com destaque no que foi construído – Fonte: ISAAC (2007). Figura 30 – Implantação do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado em foto aérea em 2007 – Fonte: ISAAC (2007). A figura 30 acima e a figura 31 a seguir demonstram a implantação dos blocos. Verifica-se por essa característica de implantação o conceito de freguesia, 81 demarcando significativamente a existência de grandes recuos entre os blocos criando a superquadra. Figura 31 - Edifícios da primeira fase de construção – Fonte: Laboratório de Artes Gráficas da FAAUSP. Tomando como referência de análise a questão da superquadra, a revista Acrópole (1970) explica que os índices alcançados no projeto definem o caráter da proposta − densidade do projeto, 308 hab./ha; área pavimentada, 38%; área das praças, 12%, área verde, 50%; área da freguesia, 15 ha; densidade bruta da freguesia, 650 hab./ha; oferta escolar, 192 salas, 13 mil estudantes. Os índices de porcentagem em relação à área bruta do projeto demonstram a qualidade ambiental existente, sob o viés da humanização dos espaços de recreação e convívio. Esses fatores comprovam a existência de autonomia, flexibilidade e mutabilidade do sistema arquitetônico, como citado anteriormente no debate com os autores do projeto Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães. Segundo Koolhaas (2007), devem-se existir sempre propostas de um espaço que permita a inclusão dos indivíduos em diálogos comuns. 8.4 O clima da região metropolitana de São Paulo Segundo Fretin e outros (2007), a cidade de São Paulo está situada sobre um planalto a 750 m de altura em relação ao nível do mar, sendo por esse motivo as manhãs e as noites mais frescas. São Paulo passa pelas quatro estações do ano, 82 porém não essas são bem definidas e em alguns dias é possível vivenciar primavera, verão, outono e inverno nas 24 horas. A latitude da região metropolitana de São Paulo, cortada pelo Trópico de Capricórnio (23º 30´Sul), a altitude, a topografia acidentada e a influência dos sistemas de circulação perturbada são fatores que conduzem à uma climatologia bastante diversificada em relação à temperatura. A temperatura média anual situa-se entre 20 °C e 24 °C, podendo, nas áreas mais elevadas, ser inferior a 18 °C, devido ao efeito conjugado da latitude com a frequência das correntes polares. No verão, principalmente no mês de janeiro, são comuns médias das máximas de 30 °C a 32 °C. No inverno, a média das temperaturas mínimas varia de 6 °C a 20 °C, com mínimas absolutas variando de 4°C a 8°C, sendo que as temperaturas mais baixas são registradas nas áreas mais elevadas. Com relação à pluviometria, as chuvas são ora trazidas pelas correntes de sul, ora pelo sistema de Oeste. A altura anual da precipitação nestas áreas é superior a 1.500 mm. O período seco ocorre no inverno (junho, julho, e agosto) enquanto o período chuvoso vai de dezembro a março. Os ventos predominantes sopram do sul e sudeste, porém não são constantes nem fortes. Rajadas de maior força e intensidade provêm do noroeste. Há outras variações de direção, no nível macro climático, mas as maiores variações ocorrem por conta da topografia irregular da região (vales e colinas) e pela urbanização / verticalização (FRETIN et al., 2007, p. 04). Segundo Köppen (1948), o clima da região metropolitana de São Paulo é do tipo Aw, tropical úmido, típico das savanas tropicais, definido por períodos distintos: um seco, de abril a outubro, e o outro úmido, de novembro a março, no qual concentra-se 80% das chuvas. 8.5 O clima do município de Guarulhos Segundo Equipe GO (2009), o município de Guarulhos apresenta um clima subtropical úmido, com temperatura média anual entre 17 ºC e 21 ºC, umidade relativa do ar média anual de 81,1, precipitação pluviométrica anual média de 1470 mm e 83 ventos dominantes SE - NO - E - O16. Segundo dados do Instituto de Meteorologia (INMET), referentes ao período de julho de 1983 a dezembro de 2013, a menor temperatura registrada em Guarulhos foi de -0,03 ºC em 6 de julho de 1997, e a maior atingiu 37,3 ºC em 30 de outubro de 2012. 8.6 Localização e descrição da área em estudo A escolha para o parâmetro de análise na avaliação de conforto térmico das unidades habitacionais, localizadas no bairro CECAP, pertencente ao Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado no município de Guarulhos, região nordeste do município de São Paulo. A implantação dos edifícios é composta por dois blocos, separados pela caixa de escada e corredores de acesso aos apartamentos, como demonstrado nas figuras 32 e 33 a seguir. Figura 32 – A Implantação do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado – Identificação do bloco a qual encontra-se a unidade habitacional a ser analisada – Fonte: Google Maps. Acesso em: 20 maio 2014 – Nota: modificado pelo Autor. 16 Os dados foram cedidos pelo Ministério da Aeronáutica - Divisão de Meteorologia em 2013. 84 N Figura 33 - Planta das unidades habitacionais e a posição dos blocos em relação ao norte verdadeiro Fonte: Revista Desenho 4 – Nota: modificado pelo Autor. Na figura 34 a seguir, é demonstrado a trajetória solar sobre a implantação. As faces a receber a insolação, portanto, serão nordeste e sudoeste. Figura 34 – Simulação da trajetória aparente do sol - Fonte: Google Maps. Acesso em: 20 maio 2014 - Nota: modificado pelo Autor. 85 Sobre os armários embutidos nos quartos, temos novamente as janelas em fita que, independentes da geometria dos quartos e associadas às divisórias leves, são responsáveis pela flexibilidade de arranjo destes cômodos. O morador poderá organizar de forma autônoma o espaço interno de sua moradia, adaptando a suas necessidades ou a dos futuros moradores (PEREIRA, 2012, p. 115). 8.7 Análise de conforto térmico nas unidades habitacionais As características de análise por parâmetros, a seguir, indicam algumas possibilidades para identificação da qualidade ambiental, mas com um viés na eficiência térmica da edificação. Segundo Pereira (2012), a certificação ambiental é muito importante para o instrumento de mensuração do desempenho das edificações e tende a ser uma exigência para o financiamento dos empreendimentos habitacionais. Quando consideramos a mudança como intrínseca à existência, sobrevivência e desempenho das habitações, o conceito de mudança emerge como critério para análise dos projetos que buscam a certificação ambiental (PEREIRA, 2012, p. 20). Analisando horários de insolação sobre superfícies verticais e horizontais, segundo a orientação determinada, toma-se como referência a carta solar do município de Guarulhos – São Paulo, latitude de 23o36’, longitude de 48o28’ e altitude de 749m. Figura 35 - Carta solar. Fonte: Lamberts; Dutra & Pereira (1997). 86 O empreendimento deve proporcionar adequada ventilação e insolação entre as edificações. Em relação à insolação, é importante considerar o estudo da carta solar do local (figuras 35, 36, 37, 38 e 39), para entender a disponibilidade de sol e propor a implantação, conforme as necessidades, de medidas para sombreamento ou aquecimento das edificações (CAIXA, 2010, p. 68-69). Figura 36 - Carta Solar – Fonte: Lamberts, Dutra & Pereira (1997) – Ilustração: Luciano Dutra ® Figura 38 - Carta solar de São Paulo com temperaturas plotadas até 21 de junho Programa Sol-Ar. Fonte: LABEEE, UFSC (2009). Figura 37 - Carta Solar de São Paulo do Programa Sol-Ar. Fonte: LABEEE/UFSC (2009). Figura 39 - Trajetória solar de São Paulo. Programa Sunpath 1.05. Desenvolvedor: Maurício Roriz. Fonte: RORIZ (2000). 87 8.8 Análise de insolação e sombreamento da unidade habitacional Na figura 40 a seguir, observa-se, pela planta do pavimento tipo, a unidade intermediária e a sentido do corte no bloco B a ser analisado e identificado por uma circunferência. A arquitetura deve ser tratada como uma envoltória reguladora, permeável e controlada entre os ambientes externo e interno, considerando-se o desempenho térmico da edificação por meio de soluções adotadas em projeto e com vistas a propiciar maior conforto térmico, tanto aos moradores do empreendimento como aos do entorno imediato, a partir de uma melhor interação local entre eles. (CAIXA, 2010, p. 57). Bloco A N.V. Fachada 1 interna Bloco B Fachada 2 externa Figura 40 – Planta do pavimento tipo, com a identificação da unidade para a análise de insolação. Fonte: Arquivo FAU-USP (Fundação Artigas) – Nota: modificado pelo Autor. Com o auxílio do corte transversal, na figura 41 a seguir, são demonstrados os ângulos que identificam a projeção mínima e máxima da insolação sobre a unidade habitacional em faces opostas. 88 Figura 41 - Corte transversal – representação dos ângulos Alfa (ângulo de altura do sol) na unidade habitacional analisada – andar intermediário. Fonte: Arquivo FAU-USP (Fundação Artigas). - Nota: modificado pelo Autor. Após a identificação dos ângulos de altura do sol (α) – “Alfa”, da figura 41 acima, utilizou-se o programa computacional gráfico “Analysis SOL-AR” para a obtenção da carta solar da latitude especificada do município de Guarulhos, São Paulo, das figuras 42 e 43 a seguir. Figura 42 - Traçado de máscara da Fachada 1 (interna) da unidade habitacional em análise. Fonte: Programa Analysis SOL-AR do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações – LABEEE – Nota: modificado pelo Autor. 89 Figura 43 - Traçado de máscara da Fachada 2 (externa) da unidade habitacional em análise. Fonte: Programa Analysis SOL-AR do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações – LABEEE - Nota: modificado pelo Autor. Pelas figuras 42 e 43, acima, foi definido o traçado de máscaras da fachada 1 (interna) e fachada 2 (externa). Com os resultados obtidos pelo traçado de máscara, organizam-se nas tabelas abaixo os períodos do ano e as horas em que ocorre a insolação da unidade habitacional analisada. Nas tabelas 12 e 13 a seguir, observamos a existência de no mínimo três horas de insolação, considerando as necessidades mínimas para a salubridade na edificação. Horas de insolação - Fachada 1 (interna) Solstício de Verão Horário - 07:20 às 10:30 Equinócios Horário - 08:10 às 11:30 Solstício de Inverno Horário - 09:10 às 12:30 Tabela 12 - Tabela do horário de insolação da fachada 1 (interna). Fonte: Autor. 90 Horas de insolação - Fachada 2 (externa) Solstício de Verão Horário - 13:10 às 18:48 Equinócios Horário - 13:50 às 18:00 Solstício de Inverno Horário - 14:10 às 17:12 Tabela 13 - Tabela do horário de insolação da fachada 2 (externa). Fonte: Autor. A NBR 15575:2013, subcapítulo 11.5.1, determina que, em condições críticas do ponto de vista térmico da edificação, a recomendação é de que para o verão, item a): a janela do dormitório ou da sala esteja voltada para oeste e a outra parede exposta voltada para norte. Porém, caso não seja possível, o ambiente deverá ter pelo menos uma janela voltada para oeste. Para o inverno, item b): a janela do dormitório ou da sala de estar voltada para sul e a outra parede exposta voltada para leste, e, caso não seja possível, o ambiente deve ter ao menos uma janela voltada para sul. Neste caso, a janela do quarto da unidade habitacional em análise, está voltada para a face sudoeste e a sala, cozinha e a área de serviço voltada para a face nordeste, como demonstrado na figura 44 abaixo: 91 Figura 44 - Planta da unidade habitacional analisada – Posicionamento das fachadas - Fonte: Arquivo FAU-USP (Fundação Artigas). - Nota: modificado pelo autor. Segundo a NBR 15575-1 (2013), subcapítulo 11.5.1, item c): sugere da necessidade de desobstrução no entorno, considerando que as paredes expostas e as janelas deverão estar desobstruídas, ou seja, sem a presença de edificações ou vegetações nas proximidades que possam modificar a incidência de sol e/ou vento. Edificações como um condomínio, podem ser consideradas desde que previstas para habitação no mesmo período. A figura 45 a seguir demonstra a implantação dos blocos sobre o loteamento e, na sequência, na figura 46 observa-se a existência de recuos acima de 8,00 m, que se tornam generosos, não havendo interferências diretamente na insolação e ventilação das unidades habitacionais como analisado no estudo de insolação. 92 Figura 45 - Foto aérea da implantação e orientação dos blocos do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado - CECAP. Fonte: Google Maps. Acesso em: 20 maio 2014. – Nota: modificado pelo autor. Figura 46 - Planta dos blocos com pátios internos. Fonte: Arquivo CDHU. Segundo CAIXA (2010), as condições de insolação e as variações acontecem conforme a característica de zona bioclimática, a latitude e altitude sobre orientação mais ao norte ou mais ao sul do país. Essas determinações enfatizam as diferentes necessidades de sombreamento. 93 No Brasil, especificamente em São Paulo, o clima é de características quentes e úmidas, portanto o sombreamento na edificação torna-se essencial, principalmente no período de verão. Já para o período de inverno esse processo inverte-se, passando a permitir a incidência de radiação solar, portanto o sombreamento deve ser seletivo. “[...] Pode-se efetuar a implantação da edificação de modo a considerar a maior dimensão no lote e na edificação, na medida do possível, no eixo norte-sul” (CAIXA, 2010, p. 59). Retomando a questão da tipologia e implantação do projeto, na figura 45 anterior foi confirmada a implantação dos edifícios em sua maior extensão sob o eixo noroeste-sudeste. Outro exemplo de destaque pode ser o das técnicas de composição de fachada, elementos de proteção. Figura 47 - Acima caixilho recuado da fachada da unidade habitacional. – Fonte: ISSAC (2007). Na figura 47 acima, identificamos a estratégia de recuo do caixilho da fachada, proporcionando o sombreamento necessário para as horas de maior incidência de radiação solar. 94 [...] pode ser aproveitada a geometria solar, considerando-se que, no verão, o sol tem um ângulo mais alto e, no inverno, mais baixo; o paisagismo também aparece como uma forma eficiente de sombreamento, que pode ser usada de forma contínua ao longo do ano ou também seletiva nos períodos em que seja necessário, por meio da especificação de plantas com folhagem intermitente (CAIXA 2010, p. 59). O sombreamento é tão importante como a inserção de luz solar na edificação, principalmente no período de inverno, garantindo sombreamento no período de verão, segundo sugere a NBR 15220:2005 em zonas bioclimáticas 3 na qual encontra-se a cidade de São Paulo. No caso das fachadas da unidade analisada do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, faces nordeste e noroeste, há sol de alto a médio, com a possibilidade de sombreamento fixo regulável. Já para as faces sudeste e sudoeste, sombreamento fixo por massa arbórea, observado nas figuras 48, 49a, 49b, 50a e 50b a seguir. Figura 48 - Foto do conjunto dos blocos sobre o sombreamento de massa arbórea. Fonte: <images04.olxst.com/ui/6/87/80/1393434089_608158780_1-Fotos-de-Oportunidade-Apartamento-64m-Cond-Rio-grande-doSul-Parque-Cecap-Gruarulhos.jpg, 2014>. Acesso em: 20 maio 2014. 95 Figura 49a e 49b - Pátio interno e praça central (freguesias) – vegetação para o sombreamento – grandes recuos para a permeabilidade da insolação. Fonte: ISSAC (2007). Figura 50a e 50b - Pátio interno, vegetação para o sombreamento – grandes recuos para a permeabilidade da insolação. Fonte: ISSAC (2007). 8.9 Resfriamento passivo pelo princípio da ventilação cruzada na unidade habitacional CAIXA (2010) afirma que a ventilação natural é uma das principais técnicas passivas na arquitetura bioclimática brasileira. Essa técnica se aplica ao projeto, em que se considera simultaneamente a implantação e as aberturas da edificação no favorecimento da penetração dos ventos predominantes aos ambientes, como 96 demonstrado nas figuras 51a e 51b a seguir. O ideal é que isso se dê em ambientes quentes e úmidos. Nos casos opostos, o bloqueio acontece em geral em zonas frias, temperadas e quente secas. Analisa-se o projeto do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, recapitulando o desenho da superquadra, constituindo organizações de espaços que se orientas pelo conceito de freguesia, como já citado na discussão do arquiteto Lúcio Costa em Brasília, mostrando a importância dos grandes recuos entre os blocos, os pátios internos e as praças, onde cria-se recurso para sombreamento, insolação e a ventilação natural. Figura 51a e 51b - Fachada e área de circulação – Grandes recuos, blocos sobre pilotis, propícios a ventilação passiva, (convecção) setas azuis ar frio – setas vermelhas ar quente. Fonte: ISSAC (2007) – Nota: modificado pelo Autor. Quando se analisa ventilação natural, considera-se a velocidade e a frequência predominantes dos ventos, como demonstrado na figura 52 a seguir, por estação e mês do ano na implantação das edificações. 97 Figura 52 - Rosa dos Ventos, análise de ventos predominantes e suas orientações. Fonte: Analisy Sol-Ar/LABEEE. Para edificações residenciais multifamiliares, localizadas na zona bioclimática 3, extraída da NBR 15220-3:2005 e premissas determinantes de estratégias para habitações mais sustentáveis do Selo Casa Azul CAIXA, segue abaixo a tabela 14. As informações contidas enfatizam as possíveis práticas projetuais na arquitetura para cidades brasileiras, em que define-se um bioclima típico (quente-úmido), como já demonstrado anteriormente nas características de identidade das Zonas Bioclimáticas. 98 Tabela 6: Estratégias Zona Bioclimática 3: Tabela 14 - Trecho extraído da tabela 6 de estratégias do caderno de certificação Selo Casa Azul CAIXA – Fonte: CAIXA (2010). Nota: modificado pelo Autor. Segundo Motta17 (2010), as características térmicas dos fechamentos também são parâmetros para o desempenho térmico da edificação. O que está sob influência neste caso é a cor, o tipo de material e o uso ou não de matérias isolantes na paredes e coberturas. Outro fatores são tamanho e tipo de aberturas e a existência de sombreamento, como já citado e reconhecido anteriormente. As características térmicas exigidas neste manual referem-se às propriedades de transmitância, capacidade térmica e absortância dos componentes das paredes e coberturas, considerando-se todas as suas camadas na composição (tais como o tijolo, os revestimentos internos e externos e a pintura) (CAIXA, 2010, p. 60). 17 Maria Luísa Alvim Motta, coordenadora do grupo de trabalho que elaborou a metodologia do Selo Casa Azul CAIXA. 99 8.10 Parâmetros para medições de desempenho térmico por atribuições da norma de desempenho NBR 15575:2013 e da certificação Selo Casa Azul CAIXA, na unidade habitacional (nível intermediário) do Bloco Espírito Santo – Zezinho Magalhães Prado 8.10.1 Medições in loco A seguinte análise, na unidade habitacional Conjunto Residencial Zezinho Magalhães do Prado - CECAP (Bloco Espírito Santo), foi efetuada in loco, com a utilização do equipamento chamado “Relógio Termo Higrômetro”, como demonstrado nas figuras 53 e 54 a seguir. Figura 53 - Aparelho Relógio Termo Higrômetro, portátil possui medida de temperatura interna e externa, 3 leituras simultâneas, relógio com indicação de horas no formato 12h ou 24h, registro de máximo e mínimo e precisão básica de 1 °C e 10% RH. Realiza medidas de temperatura interna (ambiente em que se encontra o instrumento) de 0 °C a 50 °C (32 °F a 122 °F), temperatura externa (sensor com cabo de extensão) de -50 °C a 70 °C (-58 °F a 158 °F) e umidade relativa interna de 20% a 90%. - Fonte: Minipa. 100 Figura 54 - Planta da unidade habitacional Zezinho Magalhães - CECAP - Fonte: Revista Desenho 4 – Nota: modificado pelo Autor. Quanto ao processo de preparação, instalou-se o equipamento para leitura de temperatura interna, no 2º andar do pavimento intermediário do apartamento da unidade habitacional, no período de solstício de verão. A leitura perdurou 24 horas, do dia 20/01/2013 ao dia 21/01/2013. As temperaturas obtidas foram as seguintes: Temperatura máxima: 26,1 ºC Temperatura mínima: 24,5 ºC Temperaturas Internas Segundo AccuWeather (2013), site de medições meteorológicas que informa a temperatura para todo o ano, demonstrou-se as temperaturas para o verão, estabelecendo como critério um período de três dias antes da data de leitura in loco, identificando temperaturas máxima de 27 ºC e mínima de 18 ºC, como demonstrado no gráfico 3 a seguir. 101 Gráfico 3 Gráfico de temperaturas do mês de janeiro de 2013. Fonte: <www.accuweather.com/pt/br/guarulhos/36369/month/36369?monyr=1/01/2013> – Acesso em: 20 maio 2014. Nota: modificado pelo Autor. Segundo a NBR 15575:2013, para o período de solstício de verão, a faixa mínima considera que a temperatura máxima no interior do protótipo deve ser menor do que a máxima temperatura exterior. A temperatura máxima superior adquirida pelo aparelho relógio Termo Higrômetro dentro do recinto resultou em 26,1 ºC, para a temperatura externa máxima dos três dias de 27 ºC, ou seja, atendendo a faixa mínima das faixas de conforto térmico para um dia de verão. Givoni (1992), explica que o clima interno em edifícios não condicionados reage mais largamente à variação do clima externo e à experiência de uso dos habitantes. Por exemplo, temperatura interna de 20 ºC de manhã até 26 ºC de tarde no verão é comum em edifício não acondicionado, e a máxima colhida no apartamento da unidade habitacional, foi de 26,1 ºC. Dando sequência ao dados colhidos pelo equipamento in loco, novamente foi instalado o equipamento para leitura de temperatura interna, no 2º andar do pavimento intermediário do apartamento da unidade habitacional durante o período de solstício de inverno, e a leitura perdurou 24 horas, do dia 23/06/2013 ao dia 24/06/2013. As temperaturas foram as seguintes: Temperatura máxima: 18,2 ºC Temperatura mínima: 15,5 ºC Temperaturas Internas 102 Segundo AccuWeather (2013), site de medições meteorológicas que informa a temperatura para todo o ano, demonstrou-se as temperaturas para o inverno, estabelecendo como critério um período de três dias antes da data de leitura in loco, identificando temperaturas máxima de 24 ºC e mínima de 12,5 ºC, como demonstrado no gráfico 4 a seguir. Gráfico 4 Gráfico de temperaturas do mês de junho de 2013 Fonte: <www.accuweather.com/pt/br/guarulhos/36369/month/36369?monyr=1/01/2013> - Acesso em: 20 maio 2014 Nota: modificado pelo Autor. Segundo a NBR 15575:2013 para o período de solstício de inverno, a faixa mínima resultante das temperaturas considera que a temperatura no interior do protótipo deve ser maior do que a temperatura mínima externa em mais 3 ºC. A temperatura mínima adquirida pelo aparelho relógio Termo Higrômetro dentro do recinto resultou em 15,5 ºC para a temperatura externa mínima dos três dias de 12,5 ºC, atendendo a faixa mínima das faixas de conforto térmico para um dia de inverno. As considerações analisadas in loco, juntamente com a utilização da norma de desempenho, oferecem possibilidades na hora da escolha do material adequado para execução do projeto e das técnicas construtivas. 103 8.10.2 Cálculo de desempenho térmico do apartamento da unidade habitacional (Temperatura Efetiva Corrigida) Cálculo de desempenho térmico do apartamento da unidade habitacional do 2º andar (intermediário) no período de Solstício de Verão – Zezinho Magalhães do Prado – CECAP Bloco Espírito Santo. Dados: São Paulo/Guarulhos Latitude: 23036’ Sul Dados de Clima: (Janeiro) Temp. do ar Ts= 31,70C Td= 25,90C ts= 11,30C td= 16,20C Empena - Face Nordeste Área opaca da parede= 13,25m2, cor amarela (α=0,3). Área da janela= 4,44m2 Empena - Face Sudoeste Área opaca da parede= 16,77m2, cor amarela (α=0,3) Área da janela = 5,55m2 vidro comum 3 mm. Str=0,86 Formula: Coeficiente global de transmissão térmica (W/m²°C): 1 1 e1 e2 en 1 = + + + ⋯ + + + Rar U he λ1 λ2 λn hi 0,13 𝑈 = 0,17 + ( ) + 0,15 = 0,39m2 ℃/W 1,75 U= 1 0,39 U = 𝟐, 𝟓𝟔𝐰/𝐦𝟐 ℃ (Face Nordeste e Face Noroeste – áreas opacas das paredes externas) 0,003 𝑈 = 0,17 + ( ) = 0,20m2 ℃/W 0,8 U= 1 0,20 U = 𝟓, 𝟕𝟓𝐰/𝐦𝟐 ℃ (Face Nordeste e Face Noroeste – áreas envidraçadas das paredes externas) 104 Cálculos de ganhos de calor solar (Ig): Fachada 1 (Nordeste) Parede – Q′sol1 = 𝑄 ′ 𝑠𝑜𝑙1 = Ig. 0,5. Q’1= 0,129 Ig(W) Ig.α.U.A he 0,39 . 13,25 = 0,129 Ig 20 Envidraçado – Q′fs1 = Q′fs = Fs. Ig. A Q’2= 3,81 Ig(W) 𝐼𝑔 = 0,86.4,44 Ig = 3,81 Ig Fachada 2 (Sudoeste) Parede - Q′sol1 = 𝑄 ′ 𝑠𝑜𝑙1 = Ig. 0,5. Q’3= 0,163 Ig(W) Ig.α.U.A he 0,39 . 16,77 = 0,163 Ig 20 Envidraçado – Q′fs1 = Q′fs = Fs. Ig. A Q’4= 4,77 Ig(W) 𝐼𝑔 = 0,86.5,55 Ig = 4,77 Ig Maior ganho horário de calor solar: Tabela 15 - Tabela de ganhos de calor solar (Ig), adquirido por hora em determinada posição de fachada - Fonte: Autor. Maior ganho de calor solar= Qsol= 3231 w às 16h00min. 105 Ganhos de calor gerados internamente: 1 pessoa= 26w x 3= 78 W Equipamentos convencionais: Chuveiro elétrico: 2100 W Computador: 180 W Geladeira: 150 W Televisão: 54 W Total: 2.562 W Cálculo das perdas de calor (∆T): Qsol=Qst=U.∆T.A 𝑄 ′ 1 = 2,56. (13,25 + 4,44). ∆𝑇 = 45,28∆𝑇(𝑊) 𝑄 ′ 2 = 2,56. (16,77 + 5,55). ∆𝑇 = 185,01∆𝑇(𝑊) 𝑄 ′ 𝑣𝑒𝑛𝑡 = 0,35. 𝑁. 𝑉. ∆𝑇 𝑄 ′ 𝑣𝑒𝑛𝑡 = 0,35.1.160. ∆𝑇 𝑄 ′ 𝑣𝑒𝑛𝑡 = 56∆𝑇(𝑊) Total de perdas de calor: Q′ t = 𝟐𝟖𝟔, 𝟐𝟗∆𝐓(𝐖) Balanço Térmico (∑ 𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜𝑠 = ∑ 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠) ∆𝑇: 𝑄𝑠𝑜𝑙 + 𝑄𝑖𝑛𝑡 3231 + 2562 = 5793 5793 = 286,29 ∆T 5715 = 𝟐𝟎, 𝟐𝟑℃ 286,29 Dados Climáticos (temperaturas 0 C e umidade relativa %): Td (col 2) 25, 9 Ts (col 4) 31, 7 td (col 3) 16, 2 ts(col 5) 11,3 UR 80% Temax= Temin= Td+Ts 2 td+ts 2 = = 25,9+31,7 2 16,2+11,3 2 = 13,7℃ 𝑡𝑒= Te max + Te mín = E= = 28,8℃ (28,8+13,7) 2 = 21,2℃ Te max − Te mín = 𝟕, 𝟓℃ 2 Determinação do fator de inércia: Inércia térmica média m= 0,8 timax= te + (1 − m) · ∆T + (1 − m) · E 106 21,2 + (1 − 0,8). 20,23 + (1 − 0,8). 7,5 = 𝟐𝟔, 𝟕℃ (TBS-Temp. bulbo seco). Determinação da temperatura de bulbo úmido (Carta Psicrométrica para a cidade de São Paulo): TBS= 23,0 0C TBS= 26,7 0C Figura 55 - Carta Psicrométrica para a cidade de São Paulo, identificação da temp. de bulbo seco (T.B.S) e Temp. de bulbo úmido (T.B.U). Fonte: FROTA, (2003) - Nota: modificado pelo Autor. 107 Determinação de temperatura efetiva: TBS= 26,7 0C TBU= 23,0 0C Figura 56 - Nomograma de Temperatura Efetiva para pessoas normalmente vestidas, em atividade leve - Fonte: FROTA, (2003) - Nota: modificado pelo Autor. T.E= 24,00C (velocidade do ar= 1,0m/s) Temperatura efetiva interna ou corrigida: Dentro da Zona de conforto T.E= 25,00C (velocidade do ar= 0,5m/s) Dentro da Zona de conforto Para as considerações, identificou-se, que no período de verão, o apartamento analisado, enquadra-se na zona de conforto onde encontra-se entre 230C à 270C. Segundo Frota (2003), as “zonas de conforto” deveram ser aplicadas como indicação e analisadas acerca de sua aplicabilidade às condições específicas de projeto e de 108 realidade ambiental. Lembrando que o cálculo de temperatura efetiva corrigida não é determinação estabelecida pela NBR 15575:2013. Cálculo de desempenho térmico da unidade habitacional do 2º andar (intermediário) no período de Solstício de inverno – Zezinho Magalhães do Prado – CECAP Bloco Espírito Santo. Dados: São Paulo/Guarulhos Latitude: 23036’ Sul Dados de Clima: (Junho) Temp. do ar Ts= 26,70C Td= 22,00C ts= 2,50C td= 8,40C Empena - Face Nordeste Área opaca da parede= 13,25m2, cor amarela (α=0,3). Área da janela= 4,44m2 Empena - Face Sudoeste Área opaca da parede= 16,77m2, cor amarela (α=0,3) Área da janela = 5,55m2 vidro comum 3 mm. Str=0,86 Formula: Coeficiente global de transmissão térmica (W/m²°C): 1 1 e1 e2 en 1 = + + + ⋯ + + + Rar U he λ1 λ2 λn hi 0,13 𝑈 = 0,17 + ( ) + 0,15 = 0,39m2 ℃/W 1,75 U= 1 0,39 U = 𝟐, 𝟓𝟔𝐰/𝐦𝟐 ℃ (Face Nordeste e Face Noroeste – áreas opacas das paredes externas) 0,003 𝑈 = 0,17 + ( ) = 0,20m2 ℃/W 0,8 U= 1 0,20 U = 𝟓, 𝟕𝟓𝐰/𝐦𝟐 ℃ (Face Nordeste e Face Noroeste – áreas envidraçadas das paredes externas) Cálculos de ganhos de calor solar (Ig): Fachada 1 (Nordeste) Q’1= 0,129 Ig(W) 109 Parede – Q′sol1 = 𝑄 ′ 𝑠𝑜𝑙1 = Ig. 0,5. Ig.α.U.A he 0,39 . 13,25 = 0,129 Ig 20 Envidraçado – Q′fs1 = Q′fs = Fs. Ig. A Q’2= 3,81 Ig(W) 𝐼𝑔 = 0,86.4,44 Ig = 3,81 Ig Fachada 2 (Sudoeste) Parede - Q′sol1 = 𝑄 ′ 𝑠𝑜𝑙1 = Ig. 0,5. Q’3= 0,163 Ig(W) Ig.α.U.A he 0,39 . 16,77 = 0,163 Ig 20 Envidraçado – Q′fs1 = Q′fs = Fs. Ig. A Q’4= 4,77 Ig(W) 𝐼𝑔 = 0,86.5,55 Ig = 4,77 Ig Maior ganho horário de calor solar: Tabela 16 - Tabela de ganhos de calor solar (Ig) no mês de Junho, adquirido por hora em determinada posição de fachada - Fonte: Autor. Maior ganho de calor solar= Qsol= 3035 w às 10h00min. 110 Ganhos de calor gerados internamente: 1 pessoa= 26w x 3= 78 W Equipamentos convencionais: Chuveiro elétrico: 2100 W Computador: 180 W Geladeira: 150 W Televisão: 54 W Total: 2.562 W Cálculo das perdas de calor (∆T): Qsol=Qst=U.∆T.A 𝑄 ′ 1 = 2,56. (13,25 + 4,44). ∆𝑇 = 45,28∆𝑇(𝑊) 𝑄 ′ 2 = 2,56. (16,77 + 5,55). ∆𝑇 = 185,01∆𝑇(𝑊) 𝑄 ′ 𝑣𝑒𝑛𝑡 = 0,35. 𝑁. 𝑉. ∆𝑇 𝑄 ′ 𝑣𝑒𝑛𝑡 = 0,35.1.160. ∆𝑇 𝑄 ′ 𝑣𝑒𝑛𝑡 = 56∆𝑇(𝑊) Total de perdas de calor: Q′ t = 𝟐𝟖𝟔, 𝟐𝟗∆𝐓(𝐖) Balanço Térmico (∑ 𝑔𝑎𝑛ℎ𝑜𝑠 = ∑ 𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠) ∆𝑇: 𝑄𝑠𝑜𝑙 + 𝑄𝑖𝑛𝑡 3035 + 2562 = 5597 5597 = 286,29 ∆T 5597 = 𝟏𝟗, 𝟓℃ 286,29 Dados Climáticos (temperaturas 0 C e umidade relativa %): Td (col 2) 22,0 Ts (col 4) 26,7 td (col 3) 8,4 ts(col 5) 2,5 UR 80% Temax= Temin= Td+Ts 2 td+ts 2 = = 22,0+26,7 2 8,4+2,5 2 = 5,45℃ 𝑡𝑒= TeMax + Te mín = 𝐸= = 24,35℃ (24,35+5,45) 2 = 14,9℃ Te Max − Te mín = 𝟗, 𝟒𝟓℃ 2 111 Determinação do fator de inércia: Inércia térmica média m= 0,8 timax= te + (1 − m) · ∆T + (1 − m) · E 14,9 + (1 − 0,8). 19,5 + (1 − 0,8). 9,45 = 𝟐𝟎, 𝟔℃ (TBS-Temp. bulbo seco). Determinação da temperatura de bulbo úmido (Carta Psicrométrica para a cidade de São Paulo): TBS= 18,5 0C TBS= 20,6 0C Figura 57 - Carta Psicrométrica para a cidade de São Paulo, identificação da temp. de bulbo seco (T.B.S) e Temp. de bulbo úmido (T.B.U). Fonte: FROTA, (2003) – Nota: modificado pelo Autor. 112 Determinação de temperatura efetiva: TBS= 18,5 0C TBS= 20,6 0C Figura 58 - Nomograma de Temperatura Efetiva para pessoas normalmente vestidas, em atividade leve - Fonte: FROTA, (2003) – Nota: modificado pelo Autor. T.E= 17,50C (velocidade do ar= 1,0m/s) T.E= 18,50C (velocidade do ar= 0,5m/s) Temperatura efetiva interna ou corrigida: Fora da Zona de conforto Fora da Zona de conforto Para as considerações, identificou-se que no período de inverno, o apartamento analisado, não se enquadra na zona de conforto onde encontra-se entre 113 230C à 270C. Recapitulando, Frota (2003), afirma que as “zonas de conforto” deveram ser aplicadas como indicação e analisadas acerca de sua aplicabilidade às condições específicas de projeto e de realidade ambiental. Lembrando que o cálculo de temperatura efetiva corrigida não é determinação estabelecida pela NBR 15575:2013. 8.10.3 Transmitância térmica, atraso térmico na unidade habitacional Na tabela 17 a seguir, demonstra-se o cálculo para a identificação das horas de atraso térmico do concreto. 114 Tabela 17 - Memorial de cálculo da parede de concreto armado. Fonte: FRETIN (2013). Nota: modificado pelo Autor. Segundo a NBR 15220 – parte 3 (2005c), segue abaixo, na tabela 20, as recomendações de transmitância térmica e atraso térmico para cada tipo de vedação externa para a zona bioclimática 3. 115 Tabela C.2 - Transmitância térmica, atraso térmico para cada tipo de vedação externa Tabela 18 - Tabela de Transmitância térmica e atraso térmico de paredes e coberturas. Fonte: NBR 15220 – parte 3 (2005c). Nota: modificado pelo Autor. Com o resultado obtido pelo memorial de cálculo do concreto da tabela 17, observamos que a análise das paredes externas da unidade habitacional enquadrase na classificação de parede leve e refletora, com transmitância térmica U = 3,62 W/m2.K e atraso térmico de φ= 3,1, atendendo as exigências da norma como especificado na tabela 18 acima. A NBR 15220:2005 – parte 3, tabela 7, determina que as aberturas devem atender uma porcentagem mínima para a eficiência de ventilação, considerada média como segue na tabela 19 a seguir. Tabela 19 - Tabela extraída da NBR 15220:2005 – parte 3: Aberturas, Vedações e condicionamento térmico passivo – Fonte: NBR 15220:2005 – parte 3. Nota: modificado pelo Autor. 116 A figura 59, a seguir, demonstra o recuo do caixilho na fachada, possibilitando o sombreamento para o acondicionamento térmico passivo. Esta estratégia de projeto atende os requisitos da NBR 15220:2005 – tabela 7, como demonstrado na tabela 19 acima. Na tabela 17, pelo resultado obtido a partir do memorial de cálculo do concreto, enquadra-se pela referência paredes leves e refletoras, onde estrategicamente utilizou-se na fachada da edificação acondicionamento passivo. Foram usados, no processo construtivo, painéis de concreto de 5 cm em um extremo e painéis de 8cm no outro extremo, formando um espaço de 15cm de ar para convecção natural. Sombreamento Caixilho recuado Convecção natural Painéis de Concreto Figura 59 - Blocos de concreto – fachada e caixilhos originais máx-ar. - Fonte: Issac (2007) – Nota: modificado pelo Autor. Os grandes recuos entre os blocos definem uma estratégia para o sombreamento. Na simulação computacional de insolação, observa-se então o espaço interno sendo favorecido pelo sombreamento. Como mencionado anteriormente, são soluções de eficiência térmica no caso de zonas bioclimáticas 3, como demonstra as figuras 60a, 60b, 61, 62a e 62b a seguir. 117 Figura 60a - Simulação de insolação às 13:00 no dia 20/02/2013 e a Figura 60b - Simulação de insolação às 15:00 no dia 20/02/2013. Fonte: Autor. Figura 61 - Pátio interno entre blocos, favorecendo o sombreamento nas janelas das unidades habitacionais. Fonte: Issac (2007). 118 Figura 62a e 62b - Pátio interno entre blocos, favorecendo o sombreamento nas janelas das unidades habitacionais. Fonte: Issac (2007). Segundo NBR 15220:2005 – parte 3, tabela C.1 – Aberturas para ventilação, demonstrada na tabela 22 a seguir, a unidade habitacional analisada enquadra-se na classificação: ventilação média com 15% < A < 25% da área de piso. Tabela 20 - Tabela de aberturas para ventilação. Fonte: NBR 15220:2013 – parte 3. Nota: modificado pelo Autor. A determinação das aberturas para ventilação está em função da área total do piso com a área total envidraçada, como demonstrado nas figuras 63 e 64 a seguir. 119 Área do piso Figura 63 - Planta da unidade habitacional com demarcação da área de piso, considerando o cálculo das aberturas para ventilação média com 15% < A < 25% da área de piso. Fonte: Laboratório de Artes Gráficas da FAAUSP. Nota: modificado pelo Autor. Área Envidraçada Figura 64 - Detalhe reduzido da fachada frontal do bloco com a demarcação da área envidraçada, considerando o cálculo das aberturas para ventilação média com 15% < A < 25% da área de piso. Fonte: Arquivo FAUUSP Nota: modificado pelo Autor. 120 Para Gurgel (2012), a utilização dos ventos é essencial para o resfriamento passivo. Para tal, deve-se conhecer muito bem as características, identificando a direção e a intensidade dos ventos locais. É possível então posicionar a edificação no terreno, de tal modo que os ventos frios cruzem o interior da unidade e favoreçam a saída do ar quente, dessa forma alcançando um resfriamento passivo eficiente como demonstrado nas figuras 65 e 66 a seguir. Ventos predominantes a sul e sudeste Figura 65 – Planta esquemática do bloco e das unidades habitacionais Zezinho Magalhães Prado, onde mostram como a dimensão da captação da brisa e da abertura para sua saída do ambiente influenciam na velocidade e distribuição interna da ventilação no ambiente em questão. Fonte: Arquivo FAUUSP. Nota: modificado pelo Autor. Figura 66 – Corte longitudinal do bloco e das unidades habitacionais Zezinho Magalhães Prado. Exemplo esquemático de ventilação cruzada por aberturas e corredores externos do bloco. Fonte: Arquivo FAUUSP - Nota: modificado pelo Autor. 121 8.10.4 Simulação da eficiência térmica utilizando o software Designer Builder Retoma-se as questões de desempenho térmico determinadas pela NBR 15575:2013, em que está estabelecido que as simulações devem ser realizadas para os dias típicos de verão e inverno e são definidas três faixas de conforto para aceitação do projeto. Em um desempenho detalhado, a norma considera que a resposta térmica global da edificação está vinculada à exposição dinâmica e clima específico por meio de medições ou simulações por meio de programas. As faixas consideradas são: mínima, intermediária e superior. Os parâmetros se referem à transmitância térmica e à capacidade térmica das paredes, e à transmitância térmica das coberturas18. Tanto as paredes quanto as coberturas estão relacionadas às cores usadas, estando implícita a propriedade de absortância do material. (CAIXA, 2010, p. 60) Segundo CBIC19 (2013), os parâmetros de análise de eficiências térmicas podem ser fornecidos por sistemas computacionais: Para a realização das simulações computacionais, recomenda-se o emprego do software EnergyPlus. Outros softwares de simulação podem ser utilizados, desde que sejam validados pela ASHRAE Standard 140 e permitam a determinação do comportamento térmico de edificações sobre condições dinâmicas de exposição a clima, sendo capazes de reproduzir os efeitos de inércia térmica.” (NBR 15575:2013, p. 20). Nas tabelas e gráficos a seguir, será demonstrado a análise de eficiência térmica no apartamento da unidade habitacional do 2º Andar (intermediário), do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado (Bloco Espírito Santo). A análise computacional foi confeccionada pelo software Designer Builder, o qual possui uma 18 19 A parte 2 da NBR – 15220:2005, indica como calcular estes parâmetros. Câmera Brasileira da Indústria da Construção, 2013. 122 interface flexível para simulações de desempenho térmico de edifícios, por meio da ferramenta EnergyPlus20. Na tabela 21 e no gráfico 9, abaixo, organizam-se os valores variáveis de temperaturas. É analisada a temperatura em relação aos fatores ambientais no dia de solstício de verão (20/01/2013), definindo-se para cada coluna: Coluna azul, as temperaturas internas da unidade; Coluna vermelha, as temperaturas externas da unidade; 20/01/2013 - Hora Temperatura Int. (0C) Temperatura Ext. (0C) 0:00 24,3 24,0 1:00 24,4 23,3 2:00 24,2 23,0 3:00 24,1 23,0 4:00 24,1 22,3 5:00 23,9 22,0 6:00 23,8 23,5 7:00 24,3 25,5 8:00 25,0 27,5 9:00 25,6 29,5 10:00 26,2 30,0 11:00 26,4 31,5 12:00 26,9 32,8 13:00 27,3 33,0 14:00 27,6 33,0 15:00 27,9 33,0 16:00 28,1 TEMP. MÁX. EXT.= 33,8 17:00 28,5 33,3 18:00 TEMP. MÁX. INT.= 28,6 30,8 19:00 28,2 29,3 20:00 27,9 27,5 21:00 27,5 24,8 22:00 26,8 23,3 23:00 26,5 22,3 Tabela 21 - Tabela de simulação térmica computacional do período de solstício de verão no apartamento (intermediário) do 2º andar da unidade do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, bloco Espírito Santo. Temp. máx. interna e externa - Fonte: Modelagem no software Designer Builder - Nota: do Autor. 20 O EnergyPlus é um software, criado a partir dos programas BLAST e DOE-2 e distribuído pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos, desenvolvido para simulação de carga térmica e análise energética de edificações e seus sistemas. 123 Solstício de verão - 20/01/2013 Temperaturas 35,0 30,0 25,0 20,0 0:00 1:00 2:00 3:00 4:00 5:00 6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 15,0 Horários Temperatura Int. Temperatura Ext. Gráfico 5 - Gráfico de Temperatura Variável no dia de Verão da Tabela de simulação do apartamento (intermediário) do 2º andar da unidade do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, bloco Espírito Santo. Fonte: Modelagem no software Designer Builder. Nota: do Autor. Segundo a NBR 15575:2013, segue na tabela 19 a seguir as faixas de exigência para atendimento de conforto térmico, no dia típico de verão. MÍNIMA TEMP. INTERNA < TEMP. EXTERNA INTERMEDIÁRIA TEMP. INTERNA < TEMP. EXTERNA - 2C° SUPERIOR TEMP. INTERNA < TEMP. EXTERNA - 4C° Tabela 22 – Classificação segundo a NBR 15575:2013 das faixas de conforto térmico para dia típico de verão. Fonte: NBR – 15575:2013 e NBR 15220:2005. Nota: modificado pelo Autor. Na simulação, adquirida pelo software Designer Builder no dia 20/01/2013, em um dia de verão, resultou em 28,6 ºC a temperatura interna máxima, para a temperatura externa máxima de 33,8 ºC, ou seja, atendendo a faixa superior das faixas de conforto térmico para um dia de verão. 124 DESIGNER BUILDER - TEMPERATURAS 21/01/2013 TEMP. INTERNA MÁX. 28,6C° TEMP. EXTERNA MÁX. 33,8C° ATENDIMENTO A FAIXA SUPERIOR Tabela 23 - Tabela de valores de temperaturas do dia 20/01/13, adquirido pelo software Designer Builder. Fonte: Programa computacional Designer Builder - Nota: modificado pelo Autor. Na tabela 24 e no gráfico 10, abaixo, organizam-se os valores variáveis de temperaturas. É analisada a temperatura em relação aos fatores ambientais no dia de solstício de inverno (23/06/2013), definindo-se para cada coluna: Coluna azul, as temperaturas internas da unidade; Coluna vermelha, as temperaturas externas da unidade; 23/06/2013 - Hora Temperatura Int. (0C) Temperatura Ext. (0C) 0:00 15,6 12,2 1:00 15,2 10,5 2:00 14,9 9,3 3:00 14,7 8,7 4:00 14,5 8,2 5:00 14,3 8,0 6:00 14,2 7,9 7:00 8:00 TEMP. MÍN. INT. = 9:00 10:00 11:00 12:00 3:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 14,0 TEMP. MÍN. EXT. = 7,2 13,8 7,8 14,2 9,5 14,7 11,5 16,1 13,8 17,6 16,2 18,4 17,7 18,8 18,8 19,2 19,8 19,4 20,0 18,5 18,5 17,6 17,4 16,8 15,6 16,5 14,3 16,2 13,3 16,1 13,0 15,9 12,3 Tabela 24 - Tabela de simulação térmica computacional do período de Solstício de Inverno no apartamento (intermediário) do 2º andar da unidade do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, bloco Espírito Santo. Temp. mín. interna e externa. Fonte: Modelagem no software Designer Builder. Nota: do Autor. 125 Solstício de inverno - 23/06/2013 Temperaturas 19,0 17,0 15,0 13,0 11,0 9,0 0:00 1:00 2:00 3:00 4:00 5:00 6:00 7:00 8:00 9:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 7,0 Horários Temperatura Int. Temperatura Ext. Gráfico 6 - Gráfico de Temperatura Variável no dia de inverno da Tabela de simulação do apartamento (intermediário) do 2º andar da unidade do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães do Prado, bloco Espírito Santo. Fonte: Modelagem no software Designer Builder. Nota: do Autor. Segundo a NBR 15575:2013, seguem na tabela 18 as faixas de exigência para atendimento de conforto térmico, no dia típico de inverno. MÍNIMA TEMP. INTERNA > TEMP. EXTERNA + 3C° INTERMEDIÁRIA TEMP. INTERNA > TEMP. EXTERNA + 5C° SUPERIOR TEMP. INTERNA > TEMP. EXTERNA + 7C° Tabela 25 - Classificação segundo a NBR 15575:2013 das faixas de conforto térmico para dia típico de inverno. Fonte: NBR – 15575:2013 e NBR 15220:2005. Nota: modificado pelo Autor. Na simulação, adquirida pelo programa computacional no dia 23/06/2013, em um dia de inverno, resultou em 13,8 ºC a temperatura interna mínima, para a temperatura externa mínima de 7,2 ºC, ou seja, atendendo a faixa intermediária das faixas de conforto térmico para um dia de inverno. DESIGNER BUILDER - TEMPERATURAS 21/01/2013 TEMP. EXTERNA MÍN. 13,8 °C 7,2 °C ATENDIMENTO A FAIXA INTERMEDIÁRIA TEMP. INTERNA MÍN. Tabela 26 - Tabela de valores de temperaturas do dia 21/01/13, adquirido pelo programa computacional Designer Builder. Fonte: Programa computacional Designer Builder. Nota: modificado pelo Autor. 126 Após as análises das temperaturas nos dias de verão e inverno, constata-se que no Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado predomina no processo construtivo o concreto armado. Apesar desse material possuir inércia térmica média, os resultados foram positivos, estando diretamente ligados às estratégias de projeto, bem como ao uso de ventilação cruzada, painéis de concreto armado fixados à fachada, proporcionando o efeito de convecção natural, como já mencionado anteriormente. Essas técnicas são essenciais frente às características do clima quente e úmido da cidade. Giglio (2005); Barbosa (2001) apontam em suas pesquisas que o método das horas de desconforto, estabelecida como um indicador para a avaliação térmica dos sistemas construtivos, devem ser menor do que 1000 horas de desconforto ao longo de um ano. No caso da modelagem para a análise do apartamento, considerou-se 24 horas para os parâmetros. 9 CONSIDERAÇÕES Aqui lembra-se que a realização do projeto do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado se deu ao final da década de 1960, e após quatro décadas analisase a unidade habitacional por normativos e certificações de 2005 a 2013, o que torna evidente, dado os resultados obtidos por meio das análises, o reconhecimento das estratégias e da qualidade do projeto arquitetônico dos arquitetos autores, João Batista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha. Conforme as exigências das normas de desempenho, NBR – 15575:2013 – parte: Zoneamento bioclimático brasileiro, NBR 15220:2005 parte 2: Métodos de cálculos de transmitância térmica, da capacidade térmica, do atraso térmico e do fator solar dos elementos e componentes de edificações e a certificação Selo Casa Azul CAIXA, que baseia-se nas exigências de conforto térmico extraídas das normas de desempenho, conclui-se que, a partir dos parâmetros de medidas adotados, bem como as simulações in loco, computacional e do cálculo de temperaturas corrigidas, os resultados de eficiência térmica do apartamento do 20 andar intermediário da unidade habitacional enquadra-se sob as determinações da norma de desempenho e 127 do Selo Casa Azul CAIXA. Os resultados obtidos poderão assemelhar-se aos possíveis resultados dos apartamentos do 20 (intermediários), que localizam-se sob mesma orientação das fachadas, 65o nordeste e 245o sudoeste, não prevalecendo como resultado dos blocos opostos. Para esse trabalho, não houve o isolamento das diversas variáveis que influenciam diretamente na temperatura interna, portanto adota-se o desempenho térmico do apartamento (intermediário) do 2° andar da unidade habitacional em função da temperatura interna, e o resultado obtido poderá prevalecer para os apartamentos que estariam em mesma orientação e andar em relação ao estudado nessa análise apresentada. Pelos parâmetros dessa análise, percebem-se as vantagens de se utilizar materiais sob as envoltórias, que tendem a ter inércia térmica média, tanto no período de verão quanto no período de inverno. Os resultados da análise de parâmetros demonstra que a unidade habitacional tem boa orientação solar e aberturas para a ventilação cruzada, proporcionando o equilíbrio térmico necessário para o período de verão. Nas edificações com pouca inércia térmica, faz-se necessário o ganho de calor interno para evitar que as mínimas temperaturas externas ocasionem desconforto no período de inverno. Retomando o capítulo 4 que demostra o caso internacional do conjunto habitacional “Tossa de Mar”, nos deparamos como uma arquitetura contemporânea com o detalhamento e análise do ciclo de vida do edifício, com determinadas semelhanças ao Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado, por sua forma e layout de fachadas recuadas como estratégia de sombreamento e ventilação, pela superquadra e pátios internos com generosas áreas permeáveis e, sobretudo, pela preocupação da qualidade ambiental aplicada ao projeto e produção dos edifícios. O exercício da análise do desempenho térmico e o uso de ferramentas para simulações do desempenho demostraram os fatores principais da qualidade, pelo qual parte desse contexto analítico levou também à ordenação dos critérios da análise desse trabalho. Lembramos que o fator de implantação dos edifícios não é necessariamente o único a interferir diretamente nas condições da qualidade de conforto, porém apresenta-se como um dos principais, pois definirá a quantidade de radiação que 128 incide diretamente nas fachadas e que a qualidade ambiental depende do conjunto de fatores positivos para o bem estar da qualidade de vida. 129 Referências bibliográficas: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR Desempenho global de edifícios habitacionais. Rio de Janeiro, 2006. 15575:2013. ______. NBR 15220:2005. Desempenho térmico de edificações. Rio de Janeiro, 2006. AGENDA 21 PARA A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL. São Paulo, 2000. ACCUWEATHER. Local Weather from Accuweather. Brazil Weather, 2014. Disponível em: www.accuweather.com/pt/br/sao-paulo/45881/weather-forecast/45881. Acesso em: 10 mar. 2013. AKUTSU, M.; VITTORINO, F.; CABALLEIRA, L.F.A. A influência do comportamento climático na resposta térmica de edificações. 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𝐶𝑇 Onde: φ = é o atraso térmico (horas); e = é espessura da placa (m); λ = é a condutividade térmica do material (W/(m.K)); ρ = é a densidade de massa aparente do material (Kg/m3); c = é o calor específico do material (kJ/(kg.K)); Rt = é a resistência térmica de superfície a superfície do componente ((m2.K)/W); CT = é a capacidade térmica do componente (kJ/(m2.K)). Quando os componentes dos elementos, parede e cobertura, são compostos por diferentes camadas de paralelas e perpendiculares ao fluxo de calor, o atraso térmico é calculado pela seguinte expressão. 𝜑 = 1,382. 𝑅𝑡 . √𝐵1 + 𝐵2 Onde: Rt = é a resistência térmica de superfície a superfície do componente ((m2.K)/W); B1; é dado pela equação 4.4; B2 é dado pela 4.5. 𝐵 𝐵1 = 0,226. 𝑅0 𝑡 Onde: 𝐵0 é dado pela equação 4.6. (𝜆.𝜌.𝐶)𝑒𝑥𝑡 𝐵2 = 0,205. ( 𝑅𝑡 ) . (𝑅𝑒𝑥𝑡 − 𝑅𝑡 −𝑅𝑒𝑥𝑡 10 ) Se 𝐵2 < 0 então usar 𝐵2 = 0. 𝐵0 = 𝐶𝑡 − 𝐶𝑡𝑒𝑥𝑡 Onde: 𝐶𝑡 : é a capacidade térmica total do componente (𝑘𝐽 ∕ (𝑚2 . 𝐾)); 𝐶𝑡𝑒𝑥𝑡 : é a capacidade térmica da camada externa do componente (𝑘𝐽 ∕ (𝑚2 . 𝐾)). 137 Anexo 2 Considera que: Resistência térmica do painel 𝑅𝑡 = 𝑒𝐶 𝜆𝐶 + 𝑅𝑎𝑟 + 𝑒𝐶 𝜆𝐶 Resistência térmica total 𝑅𝑇 = 𝑅𝑠𝑖 + 𝑅𝑡 + 𝑅𝑠𝑒 Transmitância térmica Capacidade térmica da parede 𝐶𝑇 = Σ 𝑒𝑖 . 𝑐𝑖 . 𝜌𝑖 = (𝑒. 𝑐. 𝜌)𝐶 + (𝑒. 𝑐. 𝜌)𝑎𝑟 + (𝑒. 𝑐. 𝜌)𝐶 Atraso térmico Fator solar 138