LAGOAS AERADAS TRATANDO ESGOTOS SANITÁRIOS: REDUÇÃO NO CUSTO DE ENERGIA ELÉTRICA 1 Engº MsC Marcos Augusto Said - CETESB - Av. Profº Frederico Hermann Jr., 345 - São Paulo-SP-Brasil - CEP: 05489-900 - Email: [email protected] 2 Prof. Tit. Pedro Alem Sobrinho - Av. Profº Almeida Prado, 231 - Prédio Engenharia Civil Cidade Universitária - CEP: 05508-900 - Email: [email protected] 3 Prof. Dr. Roque Passos Piveli - Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública-USP - Av. Dr. Arnaldo, 715 - Cerqueira Cesar - São Paulo-SP-Brasil - CEP: 01246-904 - Email: [email protected] RESUMO Foi desenvolvido estudo em escala piloto, com esgoto sanitário com o objetivo de se verificar o efeito da parada do sistema de aeração de lagoas aeradas aeróbias no período de tres horas de pico de consumo de energia elétrica na qualidade do efluente tratado. Tendo-se observado que tal parada de aeração em nada afetou a qualidade do efluente finalde um sistema de lagoa aerada seguida de lagoa de decantação, estudou-se a economia possível na conta de energia elétrica pela utilização de tarifa horo-sazonal e sem a demanda de energia nas tres horas de pico de consumo . Os resultados dos estudos levaram à conclusão de que se pode chegar a uma economia de 26% a 42% na conta de energia elétrica, sendo o que o último valor deverá ocorrer com maior frequência. Palavras Chave: Tratamento de esgotos sanitários; lagoa aerada; economia de energia elétrica; tarifas de energia elétrica. 1 2 3 Engenheiro da CETESB, mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Professor Titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Professor Doutor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo INTRODUÇÃO A poluição hídrica devido ao lançamento de efluentes líquidos em corpos d'água, por comprometer e restringir os seus usos, indubitavelmente tem sido um problema geralmente de difícil solução, principalmente nos países em desenvolvimento. Em cidades de médio e até de pequeno portes nem sempre a implantação de lagoas de estabilização se apresenta como a melhor solução e um sistema de lodos ativados, na maioria dos casos, não é viável. Desta forma, a alternativa de se implantar uma lagoa aerada, deve ser considerada. Em grande parte dos casos, o que tem inviabilizado o emprego de lagoas aeradas é o custo da energia elétrica para manutenção dos seus aeradores. Por outro lado, segundo os especialistas e autoridades responsáveis pela geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no Brasil, o setor elétrico, especialmente no estado de São Paulo, já se encontra muito próximo à saturação, mormente em horários de pico de consumo, quando a demanda vem se aproximando do limite da oferta de eletricidade por parte do sistema. À vista destas considerações, o empreendimento de estudos relativos a operação de sistemas de tratamento de esgotos domésticos compostos por lagoas aeradas seguidas de lagoas de decantação, conduzida de forma a racionalizar o consumo de energia elétrica, gerando redução na conta mensal, é de grande valia e poderá vir a ser de fundamental importância. O presente trabalho pretende alcançar os seguintes objetivos: 1) Implementar o acervo técnico existente a respeito de operação de lagoas aeradas aeróbias seguidas de lagoas de decantação; 2) Apresentar os dados relativos ao desempenho desse sistema operando com interrupções diárias em sua aeração, principalmente no tocante à estabilidade quanto à remoção de matéria orgânica dos esgotos, medida em termos de DBO e DQO e à manutenção de uma concentração adequada de microrganismos no reator biológico, medida em termos de sólidos em suspensão voláteis; 3) Estudar os reflexos sobre o custo mensal de energia elétrica, à luz do sistema tarifário vigente, quando a aeração é interrompida diariamente durante as 3 (três) horas de pico de consumo de energia elétrica. MATERIAIS E MÉTODOS Concepção do Experimento O experimento foi montado na CETESB, em São Paulo, na área conhecida como “planta piloto”, e constou essencialmente de um modelo, em escala piloto, de um sistema composto por lagoa aerada aeróbia, seguida por decantação. A aeração da lagoa foi descontínua, sendo interrompida no período compreendido entre 10:30 h e 13:30 h, totalizando 21 h/dia de aeração ao invés de 24 h/dia, conforme procedimento usual nesta modalidade de processo de tratamento. Os esgotos à entrada e à saída do sistema, bem como o conteúdo da lagoa aerada foram submetidos a uma série de análises físico-químicas, visando a observação do desempenho do processo sob interrupções programadas na aeração. O regime de vazões foi estabelecido de forma a resultar em tempo de detenção de 3 dias na lagoa de aeração. O tempo de detenção inicial da unidade de decantação era muito baixo. Alguns meses depois, o tempo de detenção foi alterado para 1,26 dias (recomendável) substituindo a unidade decantação antiga por uma caixa em fibrocimento de 1000 h. Para se aquilatar o consumo de energia demandado neste tipo de sistema, operando nestas condições experimentais, foram realizados testes de consumo de oxigênio, utilizando-se amostras da lagoa. A Figura 1 a seguir apresenta o desenho esquemático do experimento. 2 Extravazor Efluente final Lagoa aerada Unidade de decantação (até final de 1995) Lodo FIGURA 01 - Representação esquemática do sistema de tratamento A Figura 02 ilustra uma foto do experimento e do local onde o mesmo foi montado. FIGURA 02 - Vista geral do experimento e parcial da “planta piloto” O procedimento ideal seria variar a vazão de alimentação ao longo das 24 horas de acordo com o padrão típico de variação de vazões de esgotos sanitários. Por uma questão de conveniência operacional a alimentação da lagoa foi realizada, adotando-se dois ciclos: 1º ciclo: alimentação contínua com vazão constante durante 12 horas, no horário compreendido entre as 06:00 h até às 18:00 h; 2º ciclo: alimentação alternada (1 hora alimentando seguindo-se 1 hora sem alimentação), com vazão constante e igual àquela do 1º ciclo, no período das 18:00 h às 06:00h. Tal procedimento foi empregado para simular, em grau de aproximação bastante aceitável para esse estudo, o regime de vazões típico das cidades ao longo de 24 horas. A adoção desta forma de se alimentar a lagoa foi devida ao funcionamento de um dispositivo eletro-eletrônico denominado "timer", que liga e desliga qualquer equipamento elétrico a ele conectado (nesse caso a bomba de alimentação e o aerador) conforme a programação a ele imposta. O regime de saída do efluente da lagoa aerada para a unidade de decantação pode ser resumido da seguinte maneira: saída fechada: 4h/dia, das 10:30h até às 14:30 h; saída controlada: 2 h/dia, das 14:30h até às 16:30 h; saída livre: 18 h/dia, das 16:30 até às 10:30 h. 3 A figura 3 a seguir ilustra os procedimentos experimentais HORAS 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 ALIMENTAÇÃO ALIM.ENTAÇÃO ALTERNATIVA AERAÇÃO DESCARGA DESCARGA ALTERNATIVA Figura 3 - Esquema operacional - ALIMENTAÇÃO COM VAZÃO NORMAL - ALIMENTAÇÃO COM VAZÃO REDUZIDA - AERAÇÃO NORMAL - DESCARGA LIVRE PARA A LAGOA DE DECANTAÇÃO - DESCARGA COM VAZÃO CONTROLADA PARA A LAGOA DE DECANTAÇÃO 19 20 21 22 23 4 MONITORAMENTO DO SISTEMA Diariamente eram realizadas as medições de temperatura, oxigênio dissolvido, por meio de medidor tipo sonda, vazão de alimentação, com proveta e cronômetro e vazão do ar difuso em leitura do rotâmetro instalado. Os pontos amostrados para análises físico-químicas e biológicas foram: a entrada de esgoto bruto ao sistema, o corpo líquido da lagoa e a saída da unidade de decantação. TABELA 0.1. - Parâmetros laboratoriais analisados PARÂMETRO PONTO DE AMOSTRAGEM DBO [ mg/L] Entrada; Saída DBO solúvel [mg/L] Saída DQO [mg/L] Entrada; Saída DQOsolúvel [mg/L] Saída pH Entrada: Lagoa; Saída SST [mg/L] Lagoa SSV [mg/L] Lagoa Microscopia Lagoa De 08/03/95 a 06/10/95 as amostras eram coletadas entre 08:00h e 09:00h, devidamente preservadas e encaminhadas aos laboratórios. A partir de 10/10/95, exceção feita às amostras coletadas na lagoa, as demais passaram a ser compostas por alíquotas em alguns horários do dia, conforme será apresentado na tabela 4.2. TABELA 02 - Cronologia de amostragem e horário de coleta das alíquotas Período amostrado Horário de coleta das alíquotas [h 10/10/95 e 16/10/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00 17 e 18/10/95 14:30; 15:30; 16:30; 17:30; 08:30 18/10/95 09:30; 11:30; 13:30; 17:30 19/10/95 e 23/10/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00 24/10/95 09:30; 12:00; 13:45; 15:30; 17:30 25/10/95 10:00; 13:00; 16:00; 18:00 26/10/95 09:30; 13:30; 15:30; 17:30 30/10/95 14:30; 16;30; 18:30 31/10/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00 06/11/95 a 27/11/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00 28/11/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00; 21:00 29/11/95 a 06/12/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00; 21:00; 01:00; 05:00 06/12/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00 07 e 08/12/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00; 21:00; 01:00; 05:00 11/12/95 a 13/12/95 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00 16/01/96 a 24/04/96 09:00; 11:00; 13:00; 15:00; 17:00 TESTES DE CONSUMO DE OXIGÊNIO Face a importância do teste de consumo de oxigênio, visto que o mesmo foi fundamental para se obter a potência de aeração e consequentemente os custos de energia, foram realizados 23 (vinte e três) testes neste trabalho, cujo procedimento será descrito a seguir: 1) Após o período em que a aeração da lagoa era interrompida reiniciava-se a mesma de forma intensiva (máxima capacidade do sistema de ar difuso) até que o meio líquido estivesse praticamente saturado de oxigênio. 2) Coletava-se uma amostra da lagoa, submetendo-a a agitação moderada num recipiente, de forma a manter os sólidos em suspensão distribuídos em todo o meio líquido e sem propiciar a aeração do mesmo. 3) O líquido inicialmente com alta concentração de oxigênio dissolvido era alimentado por esgoto bruto durante todo o transcurso do teste, mantendo-se a mesma relação alimento/microrganismos da operação da lagoa aerada. 4) Registrava-se em intervalos regulares de tempo (5 minutos), a concentração de oxigênio medida no meio líquido. 5 5) Determinou-se também os valores de DBO e sólidos em suspensão em amostra do esgoto bruto utilizado. Os recursos materiais utilizados foram os seguintes: Um balde de volume conhecido, agitador tipo “jar test” com as pás dos agitadores modificadas, aparelho de medição de oxigênio dissolvido, cronômetro, bomba peristáltica e suportes adaptados. Observa-se na Figura 04 a seguir a instalação dos materiais e equipamentos para o teste. FIGURA 04 - Teste de consumo de oxigênio TARIFAS DE ENERGIA ELÉTRICA Considerando que o conhecimento a respeito do sistema tarifário é de fundamental importância para a concepção do presente trabalho, o mesmo será exposto de forma resumida a seguir. Os preços de energia elétrica dependem da tensão de fornecimento que se classifica em dois grupos: A - alta tensão e B - baixa tensão. O grupo A se subdivide em subgrupo, da seguinte forma: A1 - tensão maior ou igual a 230 Kv; A2 - tensão de 88 a 138 Kv; A3 - tensão de 69 Kv; A3a - tensão de 30 a 44 Kv A4 - Tensão de 2,3 a 25 Kv AS - baixa tensão de distribuição subterrânea. O grupo B - baixa tensão, para o caso de saneamento utiliza-se apenas o subgrupo B3. Par o caso de baixa tensão a tarifa resulta simplesmente do produto do consumo mensal de energia, expresso em Kwh pelo preço unitário do mesmo. O sistema tarifário em alta tensão envolve duas parcelas: demanda e consumo. Demanda é máximo valor de potência utilizada, registrado por aparelho integrador durante qualquer intervalo de 15 minutos, ao longo de um mês. É medida em KW. Consumo é a energia ativa gasta durante um mês ou seja é o produto de potência pelo tempo de utilização. Em alta tensão a tarifa pode ser: • Convencional, em que o valor da conta mensal ou faturamento é igual a C x Tc +D x Td, onde C = consumo [KWh], Tc = preço do consumo [$/KWh], D = demanda [KW] e Td = preço da demanda [$/KW]; 6 • Tarifa horo-sazonal verde, que considera o período de ponta, em que o sistema elétrico é mais solicitado (3 horas/dia, geralmente, das 17:30 até 20:30 horas), desconsiderando os sábados, domingos e feriados. Nesse caso o faturamento é igual a Cf.Tcf + Cp.Tcp + D.Td, onde Cf e Tcf são respectivamente consumo e preço do consumo em períodos fora da ponta e Cp e Tp são o consumo e preço do consumo medido no horário de ponta. Além disso, os preços unitários do consumo, tanto na ponta como fora dela são um pouco mais elevados nos meses que compõem o período de estiagem (maio a novembro), denominado período seco. O período restante (dezembro e abril do ano seguinte) é chamado de período úmido. • Tarifa horo-sazonal azul, que é calculada anolagamente à verde, porém a parcela de demanda também é desdobrada em ponta e fora de ponta. Assim o faturamento é: Cf.Tcf + Cp.Tcp + Dp.Tdp, onde Df e Tdf são respectivamente a demanda e preço fora de ponta e Dp e Tdp são a demanda de ponta e preço da demanda de ponta. RESULTADOS OBTIDOS Resultados obtidos no experimento A tabela 03 apresenta os valores de medição da concentração de oxigênio dissolvido, temperaturas e vazão do ar difuso, ao longo da operação do experimento, em termos de média, desvio padrão e faixa de variação. TABELA 03. - Resultados de temperatura, oxigênio dissolvido e vazão de ar obtidos ao longo do experimento PARÂMETRO MÉDIA DESVIO FAIXA DE PADRÃO VARIAÇÃO Temperatura do ar [°C] 24,9 23,6* 4,0 4,8* 14,5 a 34,5 15,0 a 34,0* Temperatura do esgoto bruto [°C] 22,6 22,7* 1,5 1,4* 18,0 a 26,0 19,0 a 26,0* Temperatura da lagoa [°C] 22,7 21,4* 2,4 2,0* 15,5 a 27,5 17,5 a 25,0* Oxigênio dissolvido da lagoa [mg/L] 3,0 1,8** 1,9 1,3** 0,0 a 8,5 0,0 a 25,0** Vazão do sistema de ar difuso [L/min] 9,0 6,1** 4,3 1,1** 0,0 a 40 0,0 a 8,8** * valores considerados apenas nos casos de registros simultâneos de temperaturas do ar, esgoto bruto e lagoa (até 14/09/95); **valores considerados a partir de 23/01/96 e somente nos casos de registros pareados de medições de concentrações de oxigênio dissolvido e vazão de ar. A tabela 04 contém as médias, desvios padrão bem como os valores extremos dos parâmetros físico-químicos e biológicos do sistema na entrada e saída do mesmo, para cada condição experimental que integrou a fase experimental e considerada capaz de influir na magnitude dos resultados. Na tabela 04 os resultados independeram da fase experimental, pois foram amostras instantâneas uma vez que o reator operou em regime de mistura completa. Os resultados das análises físico-químicas e biológicas do sistema abrangeram amostras de 77 dias no período de março/95 a abril/96. 7 TABELA 04 - Resultados das análises laboratoriais dos esgotos à entrada e a saída do sistema piloto ENTRADA SAÍDA Parâmetro Condição Média Desvio Faixa de Média Desvio Faixa de Experimental Padrão Variação Padrão Variação DBO Amostragens 107 80 27 a 391 35 25 4 a 102 DBO solúvel instantâneas 10 8 <1 a 32 DQO (até 06/10/95) 172 95 44 a 473 60 35 7 a 152 DQO solúvel 31 18 <6 a 84 SST 69 53 21 a 256 27 15 4 a 69 SSV 45 29 13 a 142 20 13 3 a 53 pH 6,4 a 7,0 6,8 a 7,7 DBO Amostragens 147 54 76 a 309 29 23 2 a 81 DBO solúvel compostas 5 3 <2 a 11 DQO (de 10/10/95a 255 85 141 a 489 57 29 21 a 114 DQO solúvel 13/12/95) 27 15 9 a 87 SST 87 46 54 a 177 33 22 6 a 78 SSV 65 34 6 a 157 22 16 6 a 65 pH 6,8 a 7,3 6,7 a 7,6 DBO Amostragens 120 33 66 a 190 12 3 5 a 18 DBO solúvel compostas. 5 3 <2 a 11 DQO Aumento do 208 48 127 a 298 31 10 <17 a 54 DQO solúvel tempo de 22 9 8 a 41 SST detenção na 57 29 20 a 130 14 10 3 a 35 SSV unidade de 44 20 18 a 100 8 5 2 a 20 pH decantação 6,5 a 7,1 6,3 a 7,7 OBS: exceção feita ao pH, unidades expressas em mg/L. TABELA 05 - Resultados das análises laboratoriais do lodo da lagoa aerada PARÂMETRO MÉDIA DESVIO PADRÃO FAIXA DE VARIAÇÃO SST [mg/L] 98 48 10 a 197 SSV [mg/L] 69 39 6 a 193 pH 6,2 a 7,8 Os resultados dos testes de consumo de oxigênio são apresentados na tabela 06 8 TABELA 06 - Teste de consumo de oxigênio Volume da Amostra da Lagoa Carga Orgânica Aplicada [mg/h] Taxa de Consumo de Oxigênio no Teste DATA DBO SST SSV [L] [L/h] DBO [mgO2/L.min] [mgO2/L.h] [mgO2/h] 05/11/96 204 30 0,42 85,7 0,0228 1,37 41,1 06/11/96 239 30 0,42 100 0,0331 1,99 59,7 07/11/96 276 30 0,42 116 0,0406 2,44 73,3 18/12/96 133 22 22 30 0,42 55,9 0,0175 1,05 31,5 02/01/97 88 25 10 30 0,42 37,0 0,0118 0,71 21,2 06/01/97 234 135 135 30 0,42 98,3 0,0128 0,77 23,1 07/01/97 22 330 326 27 0,37 8,14 0,0251 1,51 40,8 08/01/97 185 190 180 27 0,37 68,4 0,0224 1,34 36,2 09/01/97 176 215 205 27 0,37 65,1 0,0325 1,95 52,6 14/01/97 96 93 65 27 0,37 35,5 0,0226 1,35 36,4 15/01/97 66 98 60 27 0,37 24,4 0,0171 1,03 27,8 16/01/97 96 92 70 27 0,37 35,5 0,0185 1,11 30,0 20/01/97 60 45 23 27 0,37 22,2 0,0112 0,60 18,1 21/01/97 33 52 29 27 0,37 12,2 0,0099 0,60 16,2 22/01/97 49 68 40 27 0,37 18,1 0,0109 0,65 17,5 28/01/97 34 42 <1 10 0,37* 12,6 0,0136 0,82 8,2 29/01/97 48 6 6 10 0,37* 17,8 0,0185 1,11 11,1 04/02/97 65 22 14 10 0,37* 24,0 0,0268 1,61 16,1 05/02/97 99 38 60 10 0,37* 36,6 0,0463 2,78 27,8 06/02/97 126 47 68 10 0,14 17,6 0,0139 0,84 8,4 04/03/97 130 108 6 10 0,14 18,2 0,0266 1,59 15,9 05/03/97 148 81 68 10 0,14 20,7 0,0273 1,64 16,4 06/03/97 111 80 64 10 0,14 15,5 0,0203 1,22 12,2 * A vazão de alimentação correta seria de 0,14 L/h e foi mantida alta (0,37 L/h) para se testar o quanto a alimentação estava influindo no ensaio. isto para três testes; em 05/02/97 houve equívoco. Concentração(mg/L) Vazão de Alimentação Taxa Específica de Consumo de Oxigênio Consumo de Oxigênio/Carga de DBO [kgO2/kgDBO] 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6 0,2 5,0 0,5 0,8 1,0 1,1 0,8 0,8 1,3 1,0 0,6 0,6 0,7 0,8 0,5 0,9 0,8 0,8 Planejou-se 9 O tratamento criterioso dos valores obtidos, levando-se em consideração as condições dos testes, resultados aceitáveis à luz da literatura técnica (1,0 a 1,3 KgO2/KgDBO) e majoração para segurança, conduziu para a adoção do valor igual a 0,9 KgO2/KgDBO aplicada. Custos de energia elétrica A necessidade de oxigênio para os sistemas de tratamento pode ser calculada, a partir da adoção de 0,9 kgO2/kgDBO, conhecendo-se a carga orgânica, em termos de DBO, aplicada. Adotando-se uma carga orgânica unitária igual a 54 gDBO/dia x hab., tem-se: -3 -3 Necessidade de O2 = 0,9 kgO2 x 54 x 10 kgDBO = 48,6 x 10 kgO2/hab.dia kgDBO dia x hab. Deve-se corrigir os dados de capacidade de transferência de oxigênio dos aeradores superficiais de alta rotação apresentados nos catálogos, para as condições de campo onde foram realizados os ensaios através de: ( β ⋅ CSW − CL ) ⋅ 1,02T − 20 ⋅ α N = N 0 9 ,17 sendo: N = taxa de transferência de O2 [kgO2/kWh] N0 = taxa de transferência de O2 em água limpa, a 20ºC [kgO2/kWh]. Adotar-se-á 1,2. β= fator de correção devido à salinidade e tensão superficial. Adotar-se-á 0,95. c sw = concentração de saturação de O2 dissolvido, no esgoto. Adotar-se-á 8 mg/L (22,5ºC para água, nas condições locai s) cL = concentração de O2 dissolvido na operação da lagoa. Adotar-se-á 1,8 mg/L (valor médio obtido). T= temperatura do esgoto. Utilizar-se-á 22,5ºC. α= fator de correção da transferência de O2 para o esgoto, em relação à água limpa. Adotar-se-á 0,8. Assim: ( 0,95 ⋅ 8 − 1,8) ⋅ 1,0222 ,5 − 20 ⋅ 0,8 N = 1,2 9,17 N = 0,638 kgO2/kWh A energia ativa/habitante, requerida pelo sistema de aeração mecânica no sistema de tratamento seria: Eh = Necessidade de O2 [kg/hab. x dia] N [kgO2/kWh onde: Eh = energia requerida por habitante [kWh/hab. x dia] Então: -3 Eh = 48,6 x 10 0,638 -3 Eh = 76,2 x 10 kWh/hab. x dia A potência requerida / hab. seria: Ph = Eh .[kWh/hab.] 21 horas/dia sendo: Ph = potência requerida / habitante [kW] Assim: -3 Ph = 76,2 x 10 21 -3 Ph = 3,63 x 10 kW/hab 10 Há que se ressaltar que os parâmetros ora expostos são válidos para a condição operacional imposta ao experimento, ou seja, 21 horas de aeração / dia. Para uma operação normalmente imposta a um sistema de tratamento o valor de Ph, seria aproximadamente igual a: -3 Ph = 76,2 x 10 24 -3 Ph = 3,17 x 10 kW/hab A condição experimental imposta ou seja, a interrupção da aeração durante 3 horas/dia objetivou simular que durante o horário de ponta não houve consumo de energia elétrica, embora esse horário se verifique entre 17: 30 e 20: 30 horas e no experimento, por conveniência operacional , tenha ocorrido entre 10:30 e 13:30 horas. A tabela 07 a seguir contém os preços de energia elétrica CESP-Cia Energética de São Paulo, para o subgrupo de tensão A 4, que é dos mais utilizados pelas Cias de Saneamento. TABELA 07 - Tarifas ModaliSubdade grupo Tarifária A2 A3 A3a ConvenA4 cional AS B3 A1 A2 A3 A3a A4 AS Horosazonal azul de energia elétrica da CESP, conforme Portaria Nº90 07/04/97 CONSUMO [R$/kWh]x103 Demanda PERÍODO [R$/kW] Seco Úmido 13,08 32,92 14,10 35,49 4,89 71,63 5,07 74,26 7,49 77,71 134,77 Dp Df Cp 7,67 1,60 43,66 38,20 8,24 1,89 46,28 43,17 11,06 3,02 52,44 46,49 12,93 4,32 84,77 78,48 13,41 4,47 87,92 81,36 14,02 6,85 92,01 85,14 A3a Horo4,32 A4 sazonal 4,47 AS verde 6,85 OBS: foram incorporados desconto de 15% e ICMS. FONTE: Diário Oficial da União de 08/04/97. 383,73 397,82 416,32 377,44 391,29 409,50 Seco Úmido Cf 30,89 33,16 36,11 40,32 41,79 43,75 26,27 30,42 31,18 35,65 36,94 38,66 40,32 41,79 43,75 35,65 36,94 38,66 Pode-se observar que os preços referentes aos horários fora de ponta são idênticos entre as tarifas horo-sazonais azul e verde e como não há utilização de energia elétrica em períodos de ponta, conclui-se que não há diferença de faturamento entre as modalidades verde e azul. A figura 05 apresenta os custos mensais de energia elétrica em função da população beneficiada, segundo as modalidades tarifárias e para o regime de utilização normal (aeração 24h/dia) e experimental (21h/dia). Ressalta-se que essa figura foi realizada utilizando-se o valor de 0,9 Kg/O2/KgDBO e temperatura de 22,5 º C. 11 35000 Aeração convencion Horo-sazonal al Horo-sazonal seca Aeração convencion 24h/dia Horo-sazonal al Horo-sazonal seca Horo-sazonal úmida Horo-sazonal seca úmida 30000 25000 verde verde azul azul C on 20000 ta m en sa l [R 15000 10000 5000 0 0 20 40 60 80 100 120 140 População [hab.x10 Figura 05 - Custo mensal de energia elétrica para aeração no sistema de tratamento 21h/d e 24h/dia 160-3 ] 12 Utilizando-se a figura 06 obtém-se diretamente o custo anual/habitante de acordo com a temperatura e o valor de Kg/O2/Kg/DBO aplicado ao sistema de tratamento. 4,0 1,4 3,8 15°C 20°C 3,6 25°C 1,3 30°C 3,4 1,2 Despesa anual com energia elétrica [R$/hab. ano] 3,2 3,0 1,1 2,8 1,0 2,6 0,9 2,4 2,2 0,8 2,0 0,7 Aeração 24h/dia horo-sazonal azul 1,0 Aeração 21h/dia horo-sazonal 1,2 FIGURA 06 - Custos anuais “per capita” de energia elétrica (ábaco) Aeração 21h/dia convencional 1,4 Aeração 24h/dia horo-sazonal verde 1,6 Aeração 24h/dia convencional 1,8 kgO2 kgDBO 13 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Alimentação do sistema A partir da observação dos resultados das análises físicas e biológicas podese tecer os seguintes comentários: em termos de DBO, pode-se classificar o esgoto bruto como de fraca concentração e muito fraca para sólidos em suspensão; a relação média DQO/DBO foi de 1,73 e na maioria da amostragens inferior a 2, revelando bom grau de biodegradabilidade, característica de esgotos domésticos; a relação SSV/SST, em termos médios foi de 0,75 e nas amostragens compostas 0,77, também típicas de esgostos domésticos; os valores de pH se mantiveram na maioria das amostragens entre 6,8 a 7,2, também caracterizando um esgoto doméstico. Assim, pode-se caracterizar o esgoto bruto que alimentou o sistema como sendo de origem predominantemente doméstica e de baixa concentração. Importa salientar que baixas concentrações afluentes implicam em maiores dificuldades para se alcançar maiores eficiências. SISTEMA LAGOA AERADA SEGUIDA DE UNIDADE DE DECANTAÇÃO As figuras 7 e 8 a seguir apresentam respectivamente os resultados de DBO e DQO a partir da data em que foi aumentado o tempo de detenção para 1,26 dias na unidade de decantação. Examinando-se essas figuras pode-se constatar boas remoções em termos de DBO e DQO, enquanto que para sólidos em suspensão as eficiências de remoção foram menores mas não são baixas (média de 75 a 80%). Contudo, deve-se considerar que foram obtidos, na maioria das amostras de esgoto de bruto, valores de concentração muito baixas (médias de 53 mg/L, 46 mg/L e 29 mg/L, conforme a tabela 04), sendo que a literatura técnica cita 100 mg/L como valor típico de esgoto fraco. 200 180 160 140 DBO [mg/L] 120 100 80 60 DBO afluente DBO efluente DBO solúvel efluente 40 20 0 16 JAN 17 18 23 30 31 FEV 01 06 07 08 13 14 15 11 15 ABR 16 17 18 23 24 DATA FIG FIGURA 07. - Valores de DBO afluente e efluente em função do tempo 14 300 250 DQO [mg/L] 200 150 DQO afluente DQO efluente DQO solúvel efluente 100 50 0 16 JAN 17 18 23 30 31 01 06 07 08 13 14 15 22 11 15 16 17 ABR FEV 18 23 24 DATA FIGURA 08 - Valores de DQO afluente e efluente em função do tempo As concentrações de sólidos na lagoa perfizeram uma média de 98 mg/L e não ultrapassam 200 mg/L. A literatura teórica menciona valores entre 100 e 350 mg/L. As baixas concentrações devem ter decorrido da alimentação pouco concentrada. As figura 9 a seguir apresenta concentrações de sólidos em suspensão voláteis em função das concentrações de sólidos em suspensão totais, do meio líquido da lagoa. 200 180 SSV = 0,75 SST - 4,36 R2 = 0,8642 160 140 SSV [mg/L] 120 100 80 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 SST [mg/L] FIGURA 09. - SSV em função dos SST na lagoa O coeficiente linear da reta ajustada indica uma relação SSV/SST igual a 0,75, confirmando que a concentração de biomassa esteve compatível com a concentração de sólidos em suspensão, reforçando a hipótese de que a última esteve baixa devido à característica do afluente conforme aventado anteriormente. 15 Não foram registrados valores de temperaturas capazes de influenciar o processo, embora não tenham sido realizadas medições no período noturno, quando há declínios mais acentuados. Também não foram determinados valores de pH que possam ter exercido comprovada influência no processo de tratamento. CUSTO DA ENERGIA ELÉTRICA A Tabela 07, a seguir apresenta os custos segundo os subgrupos de tensão, numa instalação que operando normalmente 24 h/dia requer demanda mínima para ser enquadrada no sistema horo-sazonal ou seja 50 KW. Nessa tabela é apresentada a comparação entre as despesas anuais com energia resultantes da aplicação das condições normal (24 horas/dia) e experimental (21 horas/dia). TABELA 07 - Despesas anuais com energia nas condições normal e experimental, segundo os subgrupos de tensão, numa instalação de 50kW CONDIÇÃO CONDIÇÃO EXPERIMENTAL NORMAL DIFERENÇA SUBGRUPO [R$] [R$] [R$] A1 13.797,00 18.746,40 4.949,40 A2 15.330,00 22.250,40 6.920,40 A3 16.994,00 24.002,40 7.008,00 A3a 19.793,80 34.295,40 14.541,60 A4 20.498,00 35.565,60 15.067,20 AS 22.951,20 38.544,00 15.592,80 B3 59.042,40 59.042,40 0,00 Obs:1) Na condição normal aplicou-se o sistema tarifário convencional, excetuando o subgrupo A1, em que é aplicável somente a tarifa horo-sazonal azul. 2) Na condição experimental majorou-se a tarifa em 24/21 para compensação das 3 horas diárias de parada da aeração. 3) Preços da CESP. % 26,4 31,1 29,2 42,4 42,4 40,4 0,0 É importante ressaltar que os valores monetários contidos na coluna referente a "diferença" representam a economia mínima a ser obtida num sistema, para a cobertura das despesas anuais com energia elétrica, caso seja implantada a condição experimental. Isso significa que para maiores potências instaladas (maior demanda) a economia se traduzirá em maiores valores. Por exemplo, se a demanda for de 300 KW, economizar-se-á cerca de R$ 29.000,00 a R$ 93.000,00 anualmente ou R$ 2.500,00 a R$ 7.000,00 mensalmente, a depender do subgrupo de tensão de fornecimento. Entretanto há que se considerar o investimento para a aquisição e instalação de aeradores adicionais para compensar a interrupção no fornecimento de oxigênio ao meio líquido durante 3 h/dia. Supondo-se, por exemplo, uma população beneficiada de 150.000 habitantes e admitindo-se: 1,3 kg O2/kg DBO aplicada, 54g DBO/hab.dia e aeradores de 25 CV capazes de transferir 0,5 kg O2/CV.h, com custo de aquisição e instalação em torno de R$ 20.000,00/aerador, sob a condição normal, ou seja, aeração 24 h/dia, tem-se: 150.000 hab. x 0,054 kg DBO/hab.d x 1,3 kg O2/kg DBO = 877,5 CV 24 h/d x 0,5 kg O2/CV.h Ou seja: 35 aeradores Para a condição experimental, ou seja, aeração durante 21 h/dia, tem-se: 877,5 x 24/21 = 1003 CV Ou seja: 40 aeradores Os 5 aeradores adicionais implicam num investimento adicional de R$ 125.000,00, sendo que, em termos de custo de energia elétrica a condição experimental gera, nesse caso, uma economia mensal de R$ 5.324,00 (subgrupo A1) a R$ 16.773,00 (subgrupo AS). No caso do sistema elétrico estar enquadrado no subgrupo A4, que é o mais comumente utilizado, inclusive 16 pela SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), a economia mensal perfaz cerca de R$ 16.207,00 e tal montante significa um período de amortização do investimento adicional em aeradores (R$ 125.000,00) da ordem de 8 meses. Considerando um período de projeto de 10 anos, em que os aeradores serão colocados em operação de acordo com a necessidade de oxigênio gerada pelo aumento da carga orgânica ao longo desse período e descontando-se 8 meses, ter-se-á uma economia de aproximadamente R$ 1.815.184,00, que representa uma recuperação de cerca de 24% sobre o custo de implantação, admitindo-se R$ 40,00 a R$ 60,00 por habitante. Caso seja desconsiderado o investimento inicial tal recuperação a ser alcançada ao longo do período de projeto totalizará cerca de 26%. Por outro lado, não se pode desconsiderar a hipótese de que existem sistemas de tratamento de esgotos operando com algum excedente em potência de aeração, de forma que a paralisação dos aeradores durante 3 horas/dia não acarretaria reflexos significativos sobre os mesmos. Nesses casos, não há necessidade de se considerar o acréscimo de investimento no sistema de aeração. Em relação dos ensaios para a determinação do consumo de oxigênio e que serviram de base para se aquilatar a potência de aeração necessária, responsável pelos resultados em termos de custo de energia elétrica, pode-se comentar que os 23 (vinte e tres) resultados não foram convergentes. O resultado adotado (0,9 kgO2/kgDBO), em princípio, parece ser o mais acertado, mesmo porque, as condições do teste foram sendo melhoradas e os últimos resultados convergem para esse valor. 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O sistema de tratamento de esgoto constituído por uma lagoa aerada aeróbia seguida de unidade de decantação, em escala piloto, alimentado por esgoto sanitário predominantemente doméstico e funcionando com a aeração interrompida durante 3 (três) horas diárias, foi operado de 17/02/95 a 06/03/97 e pôde-se, com base nos resultados obtidos, bem como em constatações de ordem prática, extrair as seguintes conclusões, em relação ao experimento: • O sistema foi alimentado por esgotos de baixa concentração em termos de DBO e DQO e muita baixa concentração de sólidos; apesar disso foram obtidas boas eficiências de remoção, principalmente em relação a DBO, que atingiu média de 90%, com concentrações nos esgotos tratados variando entre 5 e 18 mg/L. • Tendo em vista que as amostragens abrangeram a maior parte do período em que as concentrações de oxigênio dissolvido declinavam, face as condição experimental imposta, não se pode atribuir os bons resultados obtidos ao suprimento de oxigênio e dessa forma pode-se considerar viável a sua interrupção durante 3 horas/dia. • Os testes de consumo de oxigênio geraram resultados, em sua maioria, abaixo de 1,0 kgO2/kgDBO e isso poderia ser esperado, visto que nos valores usualmente adotados, em torno de 1,2 kgO2/kgDBO, está contida uma majoração de segurança. Sob o ponto de vista de energia elétrica, pode-se concluir que: • A adoção do sistema tarifário horo-sazonal sempre gerará redução nas contas de energia elétrica em instalações cujo consumo de eletricidade é praticamente invariável ao longo do dia, como é o caso de lagoas aeradas, especialmente a tarifa azul, sendo que, implantada a condição experimental (interrupção da energia elétrica diariamente das 17:30 h as 20:30 h), a redução será ainda maior. • A interrupção de energia elétrica diariamente em horário de ponta (17:30 h as 20:30 h), em sistemas enquadrados na modalidade tarifária horo-sazonal, gerará uma economia de 26% a 42%, a depender da tensão de fornecimento (subgrupos A1, A2, A3, A3a, A4 e AS). Particularmente, no subgrupo A4 (2,3 a 2,5 KV), que é a faixa de alta tensão mais empregada, sendo, por exemplo, o caso da SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a economia tarifária será de cerca de 42%. Em termos de "per capita" haverá uma economia anual de R$0,31/habitante a R$1,56/habitante conforme os parâmetros a serem considerados para dimensionamento dos aeradores. A tabela que se segue apresenta as reduções no custo mensal de energia elétrica, conforme a população beneficiada, para os sistemas de tratamento de esgotos enquadrados no subgrupo de tensão A4. 17 População Atendida (hab) Com Interrupção Sem interrupção Redução Potência Custo Potência Custo de Custo [kW] (1) Mensal [kW] (1) Mensal Mensal [R$] [R$] [R$] 20.000 98,35 2940,00 86,05 5101,00 2161,00 50.000 215,13 7350,00 245,87 12752,00 5402,00 100.000 430,27 14700,00 491,73 25505,00 10805,00 200.000 860,53 29399,00 983,47 51009,00 21610,00 (1) Necessidade de oxigênio = 1,3 kgO2/kgDBO aplicada; aeradores de alta rotação com capacidade de transferência em campo = 0,5 kgO 2/CV..h; 54 g DBO/hab.d (2) Preços da CESP (3) Foram aplicadas tarifas horo-sazonal e convencional respectivamente para os sistemas operados com interrupção de energia elétrica no horário de pico e naqueles operados 24h/dia. • Na redução dos custos com o pagamento das contas mensais de energia elétrica deverá ser levado em consideração um acréscimo de investimento para se aumentar a potência de aeração, da ordem de 14%. Tal acréscimo será amortizado (em valor presente) em cerca de 8 meses, caso a tensão de fornecimento da instalação esteja enquadrada no subgrupo A4 (2,3 a 25 kV), os aeradores sejam de 25 CV cujo preço unitário de aquisição e instalação seja estimado em R$ 20.000,00. Entretanto, convém observar que existem sistemas de aeração em funcionamento que, caso desligados 3 h/dia, não acarretarão prejuízos significativos ao sistema de tratamento dos esgotos e, nesses casos, se prescindirá de investimentos adicionais. • Sob as condições anteriores, considerando um período de projeto de 10 anos e custo de implantação de sistema de tratamento de esgotos por habitante estimado de R$ 40,00 a R$ 60,00, a redução mensal cumulativa dos custos com energia elétrica perfará cerca de 20% a 30% de recuperação do investimento ao final do período, em valor presente. Se não houver a necessidade de aumento de potência de aeração, a redução nos custos totalizará aproximadamente 22% a 32%. • Face à sobrecarga sobre o setor elétrico em horário de ponta, a interrupção de energia elétrica nesse horário certamente implicará em reflexos benéficos e de inquestionável relevância sobre este setor nos dias de hoje. • Considerando os bons resultados obtidos no experimento, recomenda-se que se implante a condição experimental em escala real e se proceda à monitoramento do sistema. É recomendável que se realizem pesquisas em efluentes industriais e nesse caso há que investigar os fatores de carga da unidade de consumo e as características do efluente líquido, sendo que a redução de custos em energia elétrica poderá vir a ser ainda maior. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA PARA APLICAÇÃO DE ENERGIA,CESP/CPFL/ELETROPAULO. Cálculo do custo médio do KWh e estimativa da redução de despesa com energia elétrica no sistema de tarifação horo-sazonal. São Paulo, 1984. 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