1. INTRODUÇÃO
A agricultura é praticada pela humanidade há milhares de anos, sendo essencial
para a sua sobrevivência. Quando não planejada a produção agrícola pode sofrer intensas
perturbações, resultando em quebras de produtividade e, até mesmo, na perda total da
lavoura. Assim, para o adequado planejamento deve-se considerar as condições de clima e
de solo das diferentes regiões agricultáveis.
O bom estabelecimento de uma cultura em campo depende principalmente da
disponibilidade hídrica, do solo, da quantidade de calor e de energia solar. Quando ocorre
déficit ou excesso de algum destes elementos, é possível que ocorra redução na
produtividade da cultura.
O clima da região centro-oeste brasileira é caracterizado por uma estação seca
bem definida, que se estende de maio à setembro, como ocorre em quase a totalidade da
região dos Cerrados brasileiros (Luchiari Júnior et al., 1986). Nesta região do Brasil, a
atividade agrícola concentra-se no período chuvoso, quando ocorrem de 80 a 90% do total
anual de chuvas, em torno de 1.500 mm. Embora este total seja considerado suficiente para
muitas culturas, à deficiência hídrica é um dos fatores limitantes para a agricultura nessa
região. Isto devido à má distribuição das chuvas, intensa evapotranspiração, além de baixa
capacidade de retenção e alta taxa de infiltração de água nestes tipos de solos (Cruz et al.,
1979).
Nos últimos anos a produção agrícola evoluiu, e essa atividade além de
produzir alimentos é também responsável por grande parte da geração da energia que
utilizamos. Os biocombustíveis constituem importantes alternativas a serem incorporadas
na matriz energética nacional, de modo a diminuir o consumo de combustíveis fósseis,
como o diesel comum, bem como os danos ambientais por eles causados. O país possui
uma biomassa rica e abundante adequada para a produção de biocombustíveis, o que
poderá conduzi-lo a uma posição de liderança no fornecimento de biodiesel ao mercado
externo, além de suprir a demanda interna resultante de sua utilização em motores do ciclo
diesel, tanto automotivos e de máquinas agrícolas, quanto estacionários para a geração de
eletricidade (Souza, 2006).
12
Entre as plantas promissoras para produção do biodiesel, destaca-se o pinhão
manso (Jatropha curcas L.), pelo fato de suas sementes serem ricas em óleo de excelente
qualidade que superam até a qualidade de óleo da Colza, atualmente utilizado para
produção de biodiesel na Europa, além dos subprodutos gerados na fase de produção,
possuírem potencial para serem utilizados na indústria química, farmacêutica, na
siderurgia, alimentação de animais, entre outros. Entretanto, são poucas as informações
técnicas sobre o cultivo dessa cultura, como o zoneamento agroclimático, que indica a
aptidão de cultivo da cultura em certa região. Silva & Assad (1998) relatam que a
otimização de qualquer prática agrícola envolve a delimitação dos períodos e das regiões
em que o impacto climático, principalmente aquele causado pela deficiência hídrica, se
constitui em um fator limitante na produção. O uso das ferramentas do sistema de
informações geográficas (SIG) está se tornando cada vez mais comum para a distribuição,
processamento, análise, modelagem de dados espaciais, sendo aplicadas em diversas áreas
(Câmara et al., 1996). O uso do SIG para a elaboração de zoneamento agroclimático temse revelado ferramenta fundamental, uma vez que pode executar procedimentos diversos a
partir de dados básicos e gerar informações georreferenciadas na definição de áreas
propícias ao cultivo de determinadas culturas (Cecílio et al., 2003).
A partir da hipótese de que o pinhão manso é uma cultura com grande
potencial sócio-econômico a ser explorada no estado de Goiás, estudos que forneçam
subsídios para a definição de áreas aptas e inaptas ao cultivo do pinhão manso baseado em
variáveis climáticas são de extrema importância. Desta forma, o objetivo desse trabalho foi
identificar as áreas climaticamente aptas, inaptas ou marginais para o cultivo do pinhão
manso dentro do estado de Goiás.
13
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Pinhão manso e produção de biodiesel
Evangelista et al. (2009) afirmam que atualmente a soja é o principal grão
usado na produção de biodiesel no Brasil, todavia acredita-se que este novo combustível,
pela sua elevada demanda, não poderá ter sustentabilidade, caso seja produzido a partir do
óleo de culturas utilizadas para garantir a alimentação humana. Logo, plantas oleaginosas
alternativas e com alto potencial produtivo como o pinhão manso, terão um espaço
significativo na agricultura brasileira, tornando-se uma boa alternativa na geração de
empregos e renda no setor agrícola.
No Brasil, o pinhão manso que era plantado isoladamente ou formando cercas
vivas, passou a ser recentemente cultivado comercialmente, mesmo sem a existência de
informações técnicas seguras (Evangelista et al., 2009). Todavia, esta planta ainda não foi
totalmente domesticada, e informações quanto às suas necessidades hídricas e nutricionais,
particularmente, quando cultivada na região Centro-Oeste brasileira, ainda são incipientes.
O pinhão manso pertence à família Euphorbiaceae, é um arbusto que atinge em
média de três a cinco metros de altura (Figura 1a). Entretanto, em condições favoráveis
pode chegar à 12 m. Possui tronco liso e lustroso, de cor verde-claro podendo chegar a
0,20 m de diâmetro. Suas folhas são esparsas, largas, alternadas, palminervadas, contendo
de três a cinco lóbulos, verdes-pálidas, brilhantes e pecíolos compridos e esverdeados
(Cortesão, 1956; Peixoto, 1973).
A inflorescência (Figura 1b) surge junto com as novas folhas, as flores são
monóicas, unissexuais, e produzidas na mesma inflorescência. Contém de 1 a 5 flores
femininas e de 25 a 93 flores masculinas. A relação normal de flor masculina para
feminina é em média de 29:1; cada inflorescência origina um cacho com 10 ou mais frutos
(Lalji Singh & Bargali, 2006). As flores femininas são isoladas, localizando-se na base das
ramificações e apresentam pedúnculo longo não articulado, onde cada flor possui três
estigmas. Por sua vez as flores masculinas possuem dez estames, dos quais cinco unem-se
na coluna, e se situam no final das ramificações (Saturnino et al., 2005). A abertura das
14
flores femininas na mesma inflorescência acontece em dias diferentes. As flores femininas
irão desabrochar-se após seis dias da formação do botão floral, e a flores masculinas
desabrocham em onze dias (Saturnino et al., 2005).
a
Figura 1. (a) Planta e (b) a inflorescência do pinhão manso.
b
A polinização do pinhão manso é realizada por insetos, fato que aumenta a
variabilidade genética dessa espécie. Em condições normais, a sua floração ocorre no
período da seca, o amadurecimento ocorre sessenta dias após a primeira floração, e
consequentemente, a colheita dos frutos ocorre no período chuvoso prolongado (Dias et al,
2007).
A maturação dos frutos não é uniforme, observando-se, em um mesmo cacho,
frutos verdes, amarelos e por fim pretos, quando maduros (Dias et al., 2007). Segundo
Lalji Singh & Bargali (2006), os frutos do pinhão manso são do tipo cápsula triloculare,
com uma semente oval em cada lóculo, na cor branca por dentro e preta por fora (Figura
2). A semente é uma amêndoa bastante oleaginosa, contendo até 40% de óleo não
comestível e amadurece três meses após o florescimento. Ela é oval e quando seca mede
entre 1,5 a 2,0 cm de comprimento e 1,0 a 1,3 cm de largura, e seu peso vai de 0,5 a 0,8 g.
A semente é composta 45% pela casca e 55% pela amêndoa, considerando que esse valor
percentual pode ser alterado devido às condições ambientais, tratos culturais e diferentes
genótipos (Saturnino et al., 2005).
15
b
a
Figura 2. Pinhão manso: (a) frutos verdes e (b) maduros; e as (c) sementes.
c
Segundo Cortesão (1956), os portugueses distinguem duas variedades, catártica
medicinal, a mais dispersa no mundo, com amêndoas muito amargas e purgativas e a
variedade árvore de coral, medicinal-de-espanha, árvores de nozes purgativas, com folhas
eriçadas de pelos glandulares que segregam látex, límpido, amargo, viscoso e muito
cáustico.
O pinhão manso é também conhecido por vários outros nomes, como pinhão
do Paraguai, purgueira, pinhão-de-purga, grão-de-maluco, pinhão-de-cerca, turba, tartago,
medicineira, tapete, siclité, pinhão-do-inferno, pinhão bravo, figo-do-inferno, pião, pinhãodas-barbadas, sassi, dentre outros (Arruda et al., 2004).
Para Purcino & Drummond (1986) essa é uma planta produtora de sementes
ricas em óleo com todas as qualidades necessárias para ser transformado em biodiesel.
Além de perene e de fácil cultivo, apresenta boa conservação da semente colhida. A planta
pode ser cultivada em pequenas propriedades, com uso de mão-de-obra familiar
disponível, como já acontece com a cultura da mamona, na Bahia, por exemplo, sendo
mais uma fonte de renda para os produtores rurais (Arruda et al., 2004). Além disso, como
é uma cultura perene, segundo Peixoto (1973), pode ser utilizado na conservação do solo,
pois o cobre com uma camada de matéria seca, reduzindo dessa forma, a erosão e a perda
de água por evaporação, evitando enxurradas e enriquecendo o solo com matéria orgânica
decomposta.
Na Tabela 1 encontram-se valores médios de rendimento de óleo de algumas
culturas oleaginosas, sendo o pinhão manso uma das três mais produtivas. Observa-se que
o pinhão, em termos de produtividade, está à frente das principais culturas cultivadas na
região, como o milho e a soja, e o girassol e o amendoim. Acredita-se que programas de
melhoramento genético possa elevar esse índice ainda mais, tornando o pinhão manso a
cultura oleaginosa de maior potencial produtivo dentre as listadas.
16
Tabela 1. Rendimento médio de óleo encontrado em algumas culturas oleaginosas
(Adaptado de Costa et al., 2006; Pereira et al., 2010).
Produção de óleo
Cultura
Nome científico
(kg.ha-1.ano-1)
Dendê
Elaeis guineensis
7.026
Macaúba
Acrocomia sp.
3.304
Pinhão manso
Jatropha curcas
1.589
Mamona
Ricinus communis
1.172
Colza
Brassica napus
1.006
Canola
Brassica SP.
968
Amendoim
Arachis hypogaea
935
Girassol
Helianthis annuus
748
Tungue
Aleurites fordii
650
Canola
Brassica SP.
968
Amendoim
Arachis hypogaea
935
Girassol
Helianthis annuus
748
Tungue
Aleurites fordii
650
Cártamo
Carthamus tinctorius
525
Soja
Glycine Max
379
Milho
Zea mays
143
2.2 Centro de origem
A identificação e estudo do centro de origem de uma cultura torna-se
especialmente importante em estudos de zoneamento, principalmente para se estabelecer
os valores dos parâmetros agroclimáticos adotados para a definição dos critérios de
aptidão. Assim, Yamada (2011), ao caracterizar climaticamente o México e Guatemala,
regiões consideradas como centros de origem do pinhão manso, definiu os valores dos
parâmetros agroclimáticos para cada uma das classes de aptidão da cultura, sendo estes
parâmetros utilizados no presente trabalho.
Ainda segundo Yamada (2011) existem controvérsias sobre a origem do pinhão
manso, pelo fato dessa cultura ser encontrada em várias regiões tropicais com elevações
que vão desde o nível do mar até com mais de 1.200 m de altitude, com precipitações
médias anuais variando entre 300 mm e 2.000 mm e temperaturas médias anuais de 18 a
28 °C, apesar de haver plantios também em regiões onde ocorrem temperaturas acima de
34 °C.
Heller (1996) relata que o pinhão manso é originário do México e de alguns
países da América Central, pelo fato de ser uma região com grande diversidade da espécie.
Já segundo Peixoto (1973), o pinhão manso é oriundo da América do Sul, Brasil e das
Antilhas. Foi introduzido em 1783 nas Ilhas do Arquipélago de Cabo Verde, alcançando a
17
África e a Índia, disseminando-se por todas as regiões tropicais, temperadas e, em menor
escala, nas frias. Constitui-se fator econômico industrial no Arquipélago de Cabo Verde,
em Angola, Guiné, Moçambique, nas Antilhas Britânicas, Filipinas, México, Porto Rico,
Venezuela e El Salvador, sempre ao lado de outras culturas, sendo uma das maiores
riquezas do Arquipélago de Cabo Verde, que era um dos principais produtores e
exportadores mundiais de tais sementes (Cortesão, 1956; Peixoto, 1973).
Cordero & Boshier (2004) consideram o pinhão manso uma cultura nativa da
América Tropical, cultivada desde os tempos pré-colombianos. Nessa região, a cultura
atualmente se distribui desde o México até a Argentina, incluindo as Antilhas. Cordero &
Boshier (2004) consideram ainda a América Central como uma área com grande potencial
de cultivo de pinhão manso.
Peixoto (1973) afirma que no Brasil a espécie é adaptável a distintas condições
climáticas, ocorrendo desde o nordeste do país até os estados de São Paulo e Paraná. De
acordo com Drummond et al. (1984), o pinhão manso é uma planta comum do noroeste do
estado de São Paulo até o Paraguai, o que teria originado o nome da espécie nessa região
como pinhão do Paraguai. Ainda no estado de São Paulo, na região do Vale do Ribeira, há
relatos dos quilombolas de que a planta era utilizada pelos ancestrais para fabricação de
sabão e purgante (Drummond et al., 1984).
No documento do Ministério da Indústria e Comércio de 1985 já se relatava a
produção de combustível líquido a partir de óleo de jatropha. Este documento também
relata que a espécie era conhecida no Brasil desde as épocas pré-colombianas, assim como
por ter sido usada nas lamparinas para iluminar as ruas do Rio de Janeiro no século 19
(Corrêa, 1952; Drummond et al., 1984; BRASIL, 1985).
2.3 Produção e produtividade
Segundo BRASIL (1985), nos países importadores, basicamente Portugal e
França, as sementes de pinhão manso são tratadas da mesma maneira que as bagas de
mamona, isto é, cozimento prévio e esmagamento subsequente em prensas, para a extração
do óleo, que em seguida, é filtrado, centrifugado e clarificado, resultando um produto livre
de impurezas. A torta, que contém ainda aproximadamente 8% de óleo, é re-extraída com
solventes orgânicos, geralmente hexano, sendo o farelo residual ensacado para
aproveitamento como fertilizante natural, em virtude dos teores elevados de nitrogênio,
18
fósforo e potássio (Arruda et al., 2004).
Para Arruda et al. (2004), a produtividade do pinhão manso varia muito, em
função da região de plantio, método de cultivo e tratos culturais, idade da cultura, bem
como da quantidade de chuva e da fertilidade do solo. Segundo BRASIL (1985), em
espaçamento de 3 m x 3 m, o rendimento anual de óleo pode atingir de 3.000 a 4.000 kg
ha-1. Para Carnielli (2003), o pinhão manso produz, no mínimo, 2.000 kg ha-1 ano-1 de óleo.
Adam (1953) relata um rendimento de 4 a 5 kg de frutos por planta e Peixoto (1973)
afirma que o rendimento dessa cultura varia de 500 a 1.200 kg de sementes limpas por
hectare. Já Purcino & Drummond (1986) observaram, em Minas Gerais, numa área de
baixada irrigada com boa fertilidade, onde havia antes um bananal, que o pinhão começou
a produzir logo no segundo ano, atingindo 2.000 kg ha-1 de sementes. Para esses autores, o
potencial de produção do pinhão em semente ficou evidenciado, todavia, pelas produções
das melhores plantas, 6.468 kg ha-1 e 6.373 kg ha-1 no primeiro ciclo de colheitas. Por
outro lado, Drumond et al. (2007) obtiveram de 330 kg ha-1, em condições de sequeiro, a
1.200 kg ha-1 em área irrigada, já no primeiro ano de cultivo em Petrolina, PE.
Quando plantado em condições agroclimáticas favoráveis, como no começo da
estação chuvosa, há relatos de que o pinhão manso pode iniciar sua produção já no
primeiro ano de cultivo, muito embora, como citado por Laviola & Dias (2008), o clímax
produtivo da cultura é geralmente atingido a partir do quarto ano de produção. Ainda
segundo os autores, dados mais atuais informam que, dependendo do espaçamento, a
produtividade do pinhão manso pode alcançar 6.000 kg ha-1 de sementes, e com essa
produtividade é possível produzir mais de 2.000 kg ha-1 de óleo, corroborando com os
dados citados acima.
Acredita-se que com o melhoramento genético e o uso de tecnologia no
processo produtivo, o pinhão manso possa atingir um potencial produtivo acima de
4.000 kg ha-1 de óleo. Em estudo desenvolvido por Spinelli et al. (2010) no município de
Ariquemes em Rondônia, RO, onde foram avaliadas as características vegetativas sobre
esse potencial produtivo da cultura, os autores concluíram que plantas de maior
produtividade de grãos e de maior volume de copa foram importantes para o
desenvolvimento de materiais de alto rendimento de óleo.
Em experimento realizado por Drumond et al. (2010) no município de Santa
Maria da Boa Vista-PE, onde foram avaliados 10 diferentes genótipos de plantas de pinhão
manso, cultivados sob manejo irrigado, em espaçamento 3 x 2 m, adubados com 150g de
19
NPK (6-24-12) por planta, no plantio, e 150 g de NPK (10-10-10) por planta, em
cobertura, os autores conseguiram em média 3.294 kg ha-1 de sementes e 1.126 frutos por
plantas, em plantas com 12 meses de idade.
De acordo com Dange et al. (2006) e Sharma (2006), são várias as vantagens
do óleo do pinhão manso como fonte para produção de biodiesel, como por exemplo, a
simplicidade na tecnologia de produção do combustível (processo de extração e de
transesterificação); elevado teor de óleo nas sementes comparativamente a outras espécies
com potencial para biodiesel; pode se desenvolver em regiões semi-áridas e áridas; é
apropriado para a maioria solos, incluindo degradados e estéreis; tem um curto período
para o início da produção; pode ser plantado como cerca viva em torno das plantações,
com o benefício duplo de proteção e de otimização de renda; auxilia o solo a reter umidade
e melhora as condições ambientais em ambiente estéril; possui múltiplos usos: os resíduos
da produção do biodiesel podem ser usados como fertilizantes orgânicos e os restos dos
frutos depois da remoção das sementes podem substituir a lenha como combustível para
cozinhar, preservando, desse modo, as árvores. Além disso, o óleo residual da torta,
quando diluído em água pode se constituir um biopesticida para pomares e jardins; o
aumento das plantações de pinhão manso, a sua manutenção, a colheita de sementes, o seu
transporte, o armazenamento e a extração de óleo geram postos de trabalho para
agricultores familiares, entre outros.
2.4 Exigências climáticas do pinhão manso
Segundo Sato et al. (2009), considerando que o pinhão manso é uma cultura
que vegeta e produz em altitudes desde o nível do mar até mais de 1.000 m, em regiões
áridas e tropicais, e com índices pluviométricos de 480 mm a 2.380 mm anuais, é uma
planta tolerante à seca, sobrevivendo com apenas 200 mm anuais de chuva e por até três
anos consecutivos de secas, e temperaturas médias anuais entre 18 °C e 28,5 °C, que são as
mais adequadas para o bom desenvolvimento da cultura.
Entretanto, Yamada (2011) ressalta que o plantio do pinhão manso tem sido
realizado baseado na rusticidade e desenvolvimento em condições adversas, como em
regiões semi-áridas e áridas, e essa característica continua sendo muito difundida por
alguns autores que consideram o pinhão manso uma planta que suporta situações de longas
estiagens em regiões de terra de baixa fertilidade e precárias propriedade físicas com
20
produção satisfatória de óleo (Peixoto, 1973). Por outro lado, segundo BRASIL (1985) e
Saturnino et al. (2005), o pinhão manso não suporta geadas fortes, porém pode sobreviver
a geadas mais fracas, que pode induzir a perda de folhas e, consequentemente, redução na
produção de sementes.
Heller (1996) afirma que a espécie se adapta melhor a regiões mais áridas com
precipitação média anual entre 300 mm e 1.000 mm. Porém, também se desenvolve em
regiões com altas precipitações. Além dessa flexibilidade quanto à precipitação, a espécie é
tolerante a longos períodos de estiagem com precipitações anuais abaixo de 600 mm,
podendo sobreviver com apenas 200 mm anuais de chuva por até três anos. Heller (1996)
ainda relata que a planta entra em dormência devido às flutuações climáticas referentes à
disponibilidade de água no sistema e a amplitude dos graus térmicos, perdendo as folhas e
utilizando água armazenada no caule nos períodos de seca e, consequentemente, esse
estímulo favorece o aumento do teor de óleo nas sementes. Contudo, muitas áreas de
plantio do pinhão manso em regiões semi-áridas do nordeste brasileiro, com precipitação
anual inferior a 600 mm e condição de sequeiro, não prosperaram pelo fato das sementes
não germinarem em campo e as mudas terem seu crescimento paralisado (Arruda et al.,
2004).
2.5 Balanço hídrico
Segundo Assad & Castro (1991) o conhecimento dos elementos do Balanço
Hídrico Climatológico (BHC) poderá nortear a gestão e o planejamento hidroagrícola do
pinhão manso, onde as grandes flutuações observadas na precipitação mensal sugerem que
valores médios não constituem um bom índice para análise da oferta pluviométrica,
principalmente porque estas médias estão associadas a coeficientes de variação que
chegam a ultrapassar, em certas regiões, 100% em alguns meses menos chuvosos. Além
disso, o Cerrado é afetado por períodos de interrupção da precipitação que ocorrem durante
a estação chuvosa. Este fenômeno foi denominado de “veranico” (Luchiari Júnior et al.,
1986; Cochrane et al., 1988; Nieuwolt, 1989). Para Minuzzi et al. (2005) a definição de
veranico para as regiões tropicais é muito divergente, a começar pelo que se considera
como um dia seco. Chatfield (1966) recomenda o valor de 1 mm de chuva diária, abaixo do
qual se considera como dia seco. Castro Neto & Vilella (1986) consideram veranico os
períodos de precipitação pluvial inferior a 3 mm, outros, sendo inferior a 1 mm (Assad &
21
Sano, 2003), ou havendo precipitação inferior a 5 mm, num período de sete dias (Silva et
al., 1981).
O balanço hídrico climatológico, descrito por Thornthwaite & Mather (1955) é
utilizado para monitorar a variação do armazenamento de água no sistema (solo-plantaatmosfera). Através da contabilização do suprimento natural de água ao solo, pela chuva
(P), e da demanda atmosférica, pela evapotranspiração potencial (ETP), e com um nível
máximo de armazenamento ou capacidade de água disponível (CAD) apropriada ao estudo
em questão, o balanço hídrico fornece estimativas da evapotranspiração real (ETR), da
deficiência hídrica (DEF), do excedente hídrico (EXC) e do armazenamento de água no
solo (ARM), podendo ser elaborado desde a escala diária, em períodos diferenciados de
dias, e mensal (Camargo, 1971; Pereira et al., 1997).
O balanço hídrico climatológico é mais frequentemente apresentado na escala
mensal e para um ano médio, ou seja, o balanço hídrico cíclico, elaborado a partir das
normais climatológicas de temperatura média e chuva do local. De acordo com Camargo &
Camargo (1993), o balanço hídrico climatológico é um instrumento útil e prático para a
caracterização climática de uma dada região (Vianello & Alves, 1991; Pedro Júnior et al.,
1994) como, também, na definição da aptidão agrícola da região estudada (Ortolani et al.,
1970; Camargo et al., 1974).
Além dessas utilidades, o balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955),
quando empregado de maneira sequencial, ainda possibilita quantificar as necessidades de
irrigação em uma cultura (Camargo & Pereira, 1990) e a relacionar o rendimento das
culturas com o déficit hídrico (Jensen, 1968; Doorenbos & Kassam, 1994).
Segundo Mota (1983) a evapotranspiração potencial (ETP) depende do poder
evaporante do ar que é determinado pela radiação solar, velocidade do vento, umidade e
temperatura do ar, e a evapotranspiração real (ETR) que além desses fatores, depende
também de características inerentes à cultura e com os fatores relacionados aos atributos
físicas do solo; ou seja, a evapotranspiração real é definida como sendo a quantidade de
água transferida para a atmosfera por evaporação e transpiração, nas condições reais de
campo condicionadas pelos fatores atmosféricos e de umidade do solo. Neste caso, quando
a umidade do solo é correspondente a capacidade de campo, a ETR é máxima e pode ser
igual a ETP, e a medida que o solo seca, a evapotranspiração real se torna inferior à
evapotranspiração potencial.
22
2.6 Zoneamento agroclimático
Para o desenvolvimento de uma agricultura produtiva e rentável é primordial o
conhecimento do clima e do solo da localidade, visando definir as condições mais
adequadas para a implantação da cultura selecionada. O conhecimento do ambiente
permite escolher as culturas mais aptas, as melhores épocas de plantio e os sistemas de
cultivo mais adequados de acordo com as características encontradas (Camargo et al.,
1974; Feitoza et al., 1979; Ometto, 1981; Pereira et al., 2002; Cecílio et al., 2003).
Segundo Oliveira et al. (2012), nos últimos anos, com a necessidade de
aumentar a produtividade e qualidade das culturas, surge uma ferramenta de trabalho
extremamente
útil,
o
zoneamento
edafo/agroclimático,
que
permite
mapear,
concomitantemente, características de solo, do relevo, da fertilidade, do clima e
pluviosidade. Assim, o zoneamento agroclimático constitui-se em uma ferramenta de
organização no planejamento da agricultura, tendo por base o levantamento dos fatores que
definem as aptidões agrícolas baseadas sobretudo nos atributos climáticos encontrados em
diferentes áreas das regiões estudadas. Quando se têm delimitadas as condições
agroclimáticas de uma região, pode-se definir regiões climaticamente homogêneas e assim
estabelecer o cultivo a ser implantado na área pesquisada.
Ainda segundo Oliveira et al. (2012), a realização do zoneamento
agroclimático é facilitada quando se utiliza como ferramenta o Sistema de Informações
Geográficas (SIG), que permite cruzamentos de dados que auxiliam a definir e delimitar
áreas propícias ao cultivo, com a utilização de procedimentos simples, tais como o balanço
hídrico, declives, tipos de solos e outros.
2.6.1 Dados necessários para a elaboração do zoneamento agroclimático
De uma forma geral, segundo Assad & Sano (2003), os dados básicos
necessários à realização de um zoneamento agroclimático são aqueles referentes à
temperatura do ar e à disponibilidade hídrica exigida pela cultura, calculada em função
dessa temperatura e da precipitação. Assim, o balanço hídrico da cultura para uma dada
região é conhecido como, também, o potencial agrícola de uma região em função do clima
predominante. Dessa maneira, a disponibilidade hídrica será resultado do balanço hídrico
climatológico, que permitirá calcular a evapotranspiração potencial, real, o excedente
23
hídrico e a deficiência hídrica (Braga Júnior et al., 1991; Alfonsi et al., 1995; Pereira et al.,
1997), sendo a deficiência hídrica considerada como o principal fator responsável por
perdas na lavoura e o excedente hídrico por perdas durante a colheita.
O conhecimento da variação do déficit hídrico e do excedente hídrico auxilia
no planejamento das atividades agrícolas de uma dada região. Conforme Yamada (2011), a
deficiência hídrica (DEF) e o excedente hídrico (EXC) são duas variáveis oriundas do
balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955). São valores que são diretamente
relacionados com a precipitação total e a evapotranspiração potencial. Ainda segundo o
autor, a deficiência hídrica é determinada pela diferença entre a evapotranspiração
potencial (ETP) e a evapotranspiração real (ETR), e o excedente hídrico advém do balanço
entre a precipitação e a ETP, ocorrendo quando o solo estiver em condições de capacidade
de campo, e considerando uma capacidade de água disponível no solo (CAD) de 100 mm.
A temperatura, juntamente com a precipitação, é considerada como o mais
importante fator que condiciona o clima, constituindo a base de todas as classificações
climáticas (FERREIRA et al., 1971). Segundo Pedro Junior et al. (1991) a caracterização
das condições térmicas e hídricas é fator imprescindível nos estudos de aptidão climática
regional das culturas e do planejamento agropecuário, sendo o conhecimento das
temperaturas extremas fundamental na orientação de ações programadas pelos agricultores.
De uma maneira geral, cada cultivar tem exigências próprias quanto às
variações de temperatura, requerendo uma faixa ótima, dentro da qual o crescimento e o
desenvolvimento ocorrem normalmente. Esta faixa situa-se dentro de outra mais ampla
chamada faixa de tolerância. Quando a temperatura do ar à superfície atinge um valor
máximo acima da zona superior ou uma mínima abaixo da inferior, dentro da faixa da
tolerância das culturas, as atividades fisiológicas ficam comprometidas, a taxa de
crescimento diminui ou cessa completamente refletindo-se na baixa produção de biomassa.
Os efeitos poderão ser irreversíveis levando o organismo à morte (Varejão-Silva, 2001).
2.6.2 SIG e modelagem espacial de variáveis climáticas
Trabalhos de zoneamento agrícola para culturas são elaborados desde décadas
passadas, porém o enfoque cartográfico não tinha a mesma precisão atual, já que na época
não existia cartografia digital ou geoprocessamento, que hoje são amplamente aplicados na
agricultura (Assad & Sano, 2003). Conforme Assad et al. (2001), com o avanço da
24
tecnologia de geoprocessamento, tornou-se necessário reavaliar estes estudos, atualizando
e regionalizando os critérios de cruzamento de informações e melhorando a representação
espacial dos resultados.
Como citado em Assad & Sano (2003), uma das principais aplicações de um
SIG em agrometeorologia é a de transformar dados numéricos, obtidos em pontos
referenciados geograficamente na superfície, em mapas interpolados a partir das
informações originais das variáveis climáticas. Assim, são estimados os valores para todas
as localidades da região representada, não se restringindo apenas aos dados observados
inicialmente. Com isso, gera-se uma série de informações confiáveis a respeito do
comportamento espacial da variável, sem a necessidade de observação direta.
A disseminação das informações através de mapas na maioria das vezes é mais
eficiente para se atingir os usuários finais, que necessitam aplica-las, por exemplo, em suas
atividades agrícolas. Com a crescente popularização dos microcomputadores, a internet se
torna um canal muito ágil de divulgação dessas informações, inclusive aos agricultores
que, de uma maneira lenta, mas gradativa, começam a se tornar usuários dessas novas
tecnologias. Pode-se afirmar que, quando um agricultor está suficientemente esclarecido
para fazer uso de informações meteorológicas em suas atividades, certamente, o
microcomputador já é uma das suas ferramentas naturais de uso diário (Assad & Sano,
2003).
Segundo Pellegrino et al. (1998) a premissa básica para que um dado
meteorológico possa ser manipulado por um SIG, é de que este tenha uma referência
geográfica atribuída à sua localização espacial, o que permite caracterizar o chamado
sistema georreferenciado. Uma forma bastante fácil de georreferenciamento é através das
latitudes e das longitudes geográficas. Além disso, esse conjunto de dados ainda precisa ser
transformada para um formato específico que o SIG consiga decifrar e gerar um mapa, que
geralmente é o shapefile.
Ainda segundo Pellegrino et al. (1998), a primeira operação a ser feita ao se
mapear uma área é a digitalização do seu contorno e dos pontos básicos de geração de
informações, quando não existentes em meio digital. Digitalizar implica em converter uma
informação analógica, disponibilizada em um mapa impresso, por exemplo, em digital.
Quando essas informações são as coordenadas geográficas de cada ponto, caracteriza-se o
georreferenciamento. Geralmente, os arquivos digitalizados possuem uma estrutura de
dados do tipo vetorial, compreendendo três diferentes geometrias; podem assumir a forma
25
de um ponto, de uma linha ou de um polígono. Assim, de posse do arquivo vetor de
pontos, que no presente trabalho representa as estações meteorológicas, e também de
vários arquivos de atributos e valores que são sempre associados à esses arquivos vetoriais,
pode-se passar para a seguinte etapa, que trata da modelagem digital destes dados através
de interpoladores espaciais.
A criação de modelos conceituais é parte fundamental na construção de
sistemas de informação que sejam representativos à realidade modelada. Quando são
analisados os atributos e características ambientais, que por natureza possuem uma ampla
variabilidade no tempo e no espaço e que fazem parte de um sistema onde fatores físicos,
bióticos e socioeconômicos são relevantes e dinâmicos, há um considerável aumento na
complexidade da modelo em questão. Assim sendo, um determinado modelo nunca poderá
contemplar ao mesmo tempo todos os aspectos da natureza. Os diversos ambientes devem
ser entendidos seguindo uma visão sistêmica, e sendo considerados sistemas, as inúmeras
variáveis presentes podem ser armazenadas em um sistema de informação (MEIRELLES
et al., 2007).
Dentre os sistemas de informações usados para gerenciar banco de dados,
destaca-se o Sistema de Informações Geográficas (SIG), sendo uma ramificação da ciência
do Geoprocessamento. O conceito de Sistema de Informações Geográficas é amplo e
diversificado, o qual cada autor-pesquisador o define de acordo com sua vivência e
experiência na sua área de estudo (XAVIER-DA-SILVA, 2001).
Um método de modelagem geoespacial muito utilizado atualmente em
ambiente SIG é a chamada Modelagem Digital de Terreno (MDT), ou Modelagem
Numérica de Terreno (MNT), que segundo Felgueiras (1983) é definida como uma
representação matemática computacional da distribuição de um fenômeno espacial que
ocorre dentro de uma região da superfície terrestre.
Felgueiras (1983) cita que para a representação real do fenômeno no
computador é indispensável a elaboração e criação de um modelo digital, que pode ser
representado por equações analíticas ou uma rede (grade) de pontos, de modo a transmitir
ao usuário as características espaciais da superfície modelada. A modelagem envolve a
criação de estruturas de dados e a definição de superfícies de ajuste com o objetivo de se
obter uma representação contínua do fenômeno a partir das amostras. Os modelos mais
utilizados são os modelos grade regular retangular e os modelos de grade irregular
triangular.
26
A interpolação dos dados medidos (ou observados), segundo Pellegrino et al.
(1998), permite estimar outros dados para qualquer ponto no mapa com base nos valores
das estações mais próximas a este ponto. Assim, localidades que não fazem parte da tabela
inicial de dados meteorológicos podem ser determinadas para serem usados no
zoneamento. Os métodos de interpolação existentes são inúmeros, com aplicações
adequadas a diferentes casos. De acordo com o Weibel & Heller (1991), a qualidade de um
MDT estará condicionada a escolha do método de interpolação e ao processo de
amostragem (isto é, a densidade, distribuição e acurácia dos pontos de dados amostrados).
Ainda segundo os autores, um método de interpolação nunca será melhor do que todos os
outros métodos, e nem poderá ser apropriado para todas as aplicações, assim como nenhum
método de interpolação poderá recuperar informações escassas, perdidas ou até mesmo
coletadas de forma errônea durante o processo de amostragem dos dados.
Os métodos de interpolação podem ser divididos em dois grandes grupos,
segundo autores, tais como Yamamoto (1986) e Weibel & Heller (1991). Esses dois grupos
referem-se às funções interpolantes globais ou locais. Segundo Yamamoto (1986), essas
funções interpolantes podem ainda serem divididas em funções exatas e funções
aproximadas. Diz-se que uma função é exata quando o resíduo (diferença entre o valor
calculado pela função de interpolação e o valor observado) é nulo, e diz-se que é
aproximada quando há resíduo.
Considerando-se as funções globais, segundo Yamamoto (1986), nesse método
são envolvidas equações de ajuste à superfície que levam em consideração todos os pontos
medidos localizados aleatoriamente no terreno, pertencentes ao espaço amostral. A função
global é então dependente de todos os pontos de dados (pontos amostrados) e a adição ou
retirada de um ponto de dado ou a mudança de uma das coordenadas de um ponto de dado
irá se propagar por todo o domínio da definição da função. Por outro lado, de acordo com
Franke (1992), as funções locais são definidas para pequenas porções do terreno, em que
apenas os dados dos pontos próximos são considerados, e assim, sucessivamente, até cobrir
toda a área do terreno. Ainda de acordo com Franke (1992), a alteração de um ponto de
dado irá afetar somente os pontos próximos do mesmo, dentro de alguma distância
definida.
27
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Área de estudo
Foram realizados estudos de variáveis climáticas no estado de Goiás,
localizado na região Centro-Oeste do Brasil, entre os paralelos 12° 30’ e 19° 30’ Sul e os
meridianos 46° 00’ e 53° 00’ Oeste, com extensão territorial aproximada de 345.965 km².
O Estado de Goiás faz divisas com cinco estados e o Distrito Federal, possuindo 5.619.568
habitantes distribuídos em 246 municípios (IBGE, 2010). A Figura 3 mostra a localização
do estado de Goiás, em relação ao território do Brasil.
Figura 3. Localização do estado de Goiás.
28
O clima da região é tropical semi-úmido, caracterizado por basicamente duas
estações, uma chuvosa (outubro a abril) e outra seca (maio a setembro), com temperaturas
médias que variam entre 18 a 32 °C. Não apresenta grandes altitudes, os pontos mais
elevados estão estabelecidos na Chapada dos Veadeiros, no nordeste do Estado, chegando
a 1.784 m, sendo a altitude média de 995 m.
3.2 Atividades desenvolvidas
3.2.1 Coleta de dados
Para o processamento e espacialização dos dados relevantes a serem utilizados
na definição do zoneamento agroclimático da cultura do pinhão manso foi gerado um
banco de dados referentes aos fatores térmicos e hídricos, que foram compilados e
organizados em formato tabular, onde os dados de precipitação pluviométrica e
temperatura do ar foram obtidos por meio de medições feitas em postos meteorológicos
distribuídos no território goiano. Dessas duas variáveis climáticas, temperatura e
precipitação, foram formados os mapas de médias mensais e anuais e os mapas de
deficiência e excesso hídrico, correspondentes aos elementos que condicionam a aptidão
climática. A base para os dados relativos ao relevo, como a altitude, foram retirados do
radar SRTM.
3.2.2 Preparação dos dados para análise espacial
Os dados de precipitação inicialmente adquiridos em formato tabular
constituíam-se em planilha eletrônica organizadas em quinze colunas, sendo a primeira
coluna contendo o código da estação, a segunda e a terceira coluna o valor da coordenada
geográfica da estação, e as colunas quatro à quinze os valores mensais de precipitação.
Posteriormente foi feita a geo-espacialização dessas estações meteorológicas. A imagem
SRTM que continha os valores altimétrico em seus pixels foi convertida em malha
triangular para processamento, tratamento e extração desses valores. Tanto para os valores
de temperatura e precipitação, foram executadas interpolações espaciais pelo método da
krigagem (Mello et al., 2003) para se estimar os valores climáticos para as diversas regiões
do estado que não continham postos meteorológicos com registros climáticos.
29
3.2.3 Operação do banco de dados, espacialização da informação e definição do
zoneamento
Foram aplicadas regras de classificação para determinar áreas de diferentes
aptidões agroclimáticas para a cultura do pinhão manso, com funções de SIG como
fatiamento, sobreposição e operações tanto matemáticas como lógicas. Essas operações
foram usadas nos planos de informação conforme as regras que definem as classes de
aptidão sob cada um dos diferentes temas.
3.3 Séries históricas
As séries históricas de precipitação utilizadas foram compiladas pela
Superintendência de Geologia e Mineração (SGM-GO) e disponibilizadas pelo SIEG
(Sistema Estadual de Estatística e de Informações Geográficas de Goiás). Para a
precipitação foram usados dados de 114 estações localizadas em diferentes regiões do
estado, das quais 98 estações apresentam série histórica maior que vinte anos e 16 estações
apresentam série histórica com menos de vinte anos.
Os dados de temperatura do ar foram obtidos da rede de estações do
SIMEHGO (Sistema de Meteorologia e Hidrologia do Estado de Goiás) e do INMET
(Instituto Nacional de Meteorologia), e nas regiões com dados faltantes, os mesmos foram
estimados por meio de equações de regressão linear múltipla. Para isso, utilizou-se dados
de temperatura média do ar observados de 34 estações, dentre as quais 26 estações
apresentam registro de dados com 20 anos ou mais, 5 estações com registro entre 15 e 20
anos, e 3 estações sem informação de tempo de registro. No Anexo 1 é possível observar as
médias mensais das temperaturas máximas e mínimas do ar no estado de Goiás.
As Figuras 4a e 4b apresentam a distribuição espacial das estações
meteorológicas do estado de Goiás, e nos Anexos 2 e 3 são apresentadas as descrições
geográficas (latitude e longitude) e o período de registro de temperatura e de chuva dessas
estações meteorológicas.
30
a
b
Figura 4. Distribuição espacial das estações meteorológicas com registro de temperatura
do ar (a) e chuva (b).
31
Tendo em vista que as médias anuais dos elementos climáticos, propostas
como ideais para culturas perenes consideram uma distribuição homogênea dos elementos
exigidos por tal cultura durante o ano, foi realizada também uma análise mensal dos
elementos climáticos para determinar períodos pontuais desfavoráveis ao desenvolvimento
da cultura, como período com baixos índices pluviométricos ou temperaturas além ou
aquém da faixa considerada ideal.
3.4 Estimativa da temperatura do ar
Devido à baixa distribuição espacial de estações meteorológicas que registram
a temperatura do ar, dentro do estado de Goiás, em comparação aos registros de
precipitação, foi adotada uma metodologia para estimar a temperatura do ar naqueles
postos de observação em que só haviam registros de chuva. Os valores de temperaturas
foram estimados usando modelos de regressão linear múltipla baseando-se nas variáveis,
latitude, longitude e altitude de cada estação. Assim, para o ajuste de equações de
regressão linear múltipla, utilizaram-se dados referentes a 34 estações com registros de
temperatura, distribuídas em 34 municípios, e a variável dependente temperatura, foi
utilizada como função da posição geográfica de cada estação:
(
)
(
)
(
)
(1)
onde, y é o valor estimado da temperatura; a é o coeficiente linear, bn é o coeficiente
angular; Alt, Lat e Long são os valores de altitude, latitude e longitude do local em graus
decimais, e Ɛ é o erro residual da estimativa.
As variáveis latitude e longitude usadas para gerar o modelo foram extraídas
das posições geográficas das estações citadas acima, e as altitudes foram geradas pelo
SRTM (Shuttle Radar Topography Mission). As imagens SRTM foram obtidas
diretamente no site do projeto GLCF (Global Land Cover Facility) no formato GEOTIFF
com resolução espacial de 90 metros, resolução radiométrica de 16 bits e datum horizontal
WGS-84. Ferreira et al. (2006) e Valladares et al. (2004) citam que o uso das imagens
SRTM pode ser usado com boa precisão e confiabilidade para determinar as altitudes que
serão usadas para compor o modelo.
32
Para avaliação do modelo ajustou-se uma equação de regressão linear simples
aos dados de temperatura estimados e observados, onde foi aplicado o teste de correlação r
de Pearson para verificar a existência de correlação entre as temperaturas estimadas e
observadas, e calculado o coeficiente de determinação r², que indica quanto das variáveis
independentes em questão foi determinante na estimativa da temperatura. A qualidade
preditiva do modelo foi determinada segundo a precisão, dada pelo coeficiente de
correlação r de Pearson e segundo a exatidão, dado pelo índice de concordância d de
Willmott (equação 2).
(2)
em que Oi são os valores observados e Ei os valores estimados pelo modelo. As barras
referem-se às médias das variáveis.
3.5 Zoneamento agroclimático
3.5.1 Cálculo e espacialização do Balanço Hídrico Climatológico
O balanço hídrico (BH) foi realizado em uma planilha eletrônica, com base na
metodologia proposta por Rolim et al. (1998), que utiliza o método de Thornthwaite e
Mather (1955). O mesmo foi realizado de forma pontual para as estações com
disponibilidade de dados climáticos. Posteriormente à isso, com o emprego de técnicas de
interpolação espacial pelo método da krigagem, foi realizada a espacialização dos
elementos de saída do BH, tendo a representação da sua distribuição para todo o estado de
Goiás (Cecílio et al., 2012).
As variáveis de entrada para cada estação do estado foram a precipitação média
mensal, temperatura média mensal do ar, a latitude da estação e a capacidade de água
disponível no solo (CAD), sendo adotado o valor de 100 mm para esta última variável, de
acordo com valor sugerido por Possas (2011) para culturas perenes.
Como dados de saída, a planilha
forneceu
informações sobre a,
evapotranspiração potencial e real (ETP e ETR), o cálculo da diferença entre precipitação e
evapotranspiração potencial (P – ETP), negativo acumulado (NEG. ACUM), o valor de
33
armazenamento e alteração (ARM e ALT), a deficiência e o excedente hídrico (DEF e
EXC).
A planilha também forneceu os resultados em termos médios mensais e totais
anuais de evapotranspiração potencial (ETP), evapotranspiração real (ETR), deficiência
hídrica (DEF), excedente hídrico (EXC) e os gráficos do balanço hídrico, balanço hídrico
normal e relações da CAD com o armazenamento (ARM) e com DEF, EXC, retirada
(ALT<0) e reposição (ALT>0). Os resultados foram apresentados em mapas temáticos. A
metodologia usada na planilha é descrita por Yamada (2011).
3.5.2 Extrato dos balanços hídricos
De forma a verificar a variabilidade climática no estado de Goiás, optou-se em
realizar uma análise em cinco regiões distintas dentro do estado, sendo: a) noroeste,
localizada no Vale do Rio Araguaia de latitude -14,920° e longitude -51,083, com baixas
altitudes, da ordem de 200 m acima do nível médio dos mares e caracterizada por altas
temperaturas médias anuais de 26,7°C, b) nordeste, com latitude -13,397° e longitude 46,317°, c) centro-goiano, de latitude -16,357° e longitude -49,495°, considerando que essa
região apresenta altitudes medianas, da ordem de 700 à 900 m de elevação, temperaturas
anuais também mais amenas, com 24°C, e precipitações anuais de 1.475 mm, d) sudoeste,
de latitude -17,325° e longitude -53,205°, apresentando altitudes da ordem de 731 m,
índices pluviométricos anuais de 1.552 mm, e temperatura média anual de 24,5°C, e)
sudeste, de latitude -18,762° e longitude -50,941°, sendo essa região com altitude média de
526 m, índices pluviométricos anuais de 1.352 mm, temperatura média anual de 24,4°C.
3.5.3 Exigências térmicas e hídricas da cultura do pinhão manso
As classes de aptidão climáticas para a cultura do pinhão manso foram
definidas com base em metodologia proposta por Yamada (2011), como grau de aptidão
apto, marginal e inapto, baseando-se nos parâmetros agroclimáticos de temperatura, déficit
hídrico e excedente hídrico. Os intervalos dessas variáveis foram definidos através do
balanço hídrico climatológico normal para 123 localidades do México e Guatemala, tidas
como centros de origem do pinhão manso.
34
Na Tabela 2 são apresentados os valores de temperatura, déficit e excedente
hídrico, recomendados para o pinhão manso.
Tabela 2. Classes de aptidão climática para a cultura do pinhão manso em função da
temperatura média anual, déficit hídrico anual e excedente hídrico anual.
Classificação
Temperatura Média Anual
Apta
23 ≤ a ≤ 27°C
Marginal por deficiência térmica
15 ≤ a ≤ 22,9°C
Marginal por temperaturas elevadas
27,1 ≤ a ≤ 28°C
Inapta por risco de geadas
< 15°C
Inapta por temperaturas excessivas
> 28°C
DEF anual
Apta
Marginal
Inapta
≤ 360 mm
361 ≤ a ≤ 720 mm
> 720 mm
EXC anual
Apta
Marginal
Inapta
Fonte: Yamada (2011).
≤ 1.200 mm
1.201 ≤ a ≤ 2.400 mm
> 2.400 mm
35
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Caracterização e análise das condições hídricas do estado de Goiás
Pode-se visualizar na Figura 5 a variação espacial da precipitação
pluviométrica total anual e na Figura 6 a variação das precipitações médias mensais no
estado.
Figura 5. Variação espacial da precipitação total anual no estado de Goiás.
Foi observado no estado de Goiás que em média os índices pluviométricos
anuais dos municípios ultrapassam 1.400 mm. Entretanto, ocorre uma baixa distribuição
temporal das chuvas, ou seja, em determinados períodos, são registradas chuvas de até 3
mm mensais, como no caso do mês de julho, na região norte do estado, enquanto na
estação chuvosa do mês de dezembro são registrados valores de 270 mm.
36
Figura 6. Precipitação média mensal no estado de Goiás.
37
Ressalta-se que apesar do estado apresentar altos índices pluviométricos totais,
a região do cerrado, a qual Goiás faz parte, é caracterizada por apresentar irregularidade e
baixa homogeneidade de chuvas durante o ano, ocorrendo apenas duas estações bem
definidas: estação da seca, que vai de maio à setembro, com média mensal inferior à
30 mm, e estação chuvosa, que se estende de outubro à abril, com média mensal de
aproximadamente 200 mm. A Figura 7 apresenta os valores médios mensais de
precipitação no estado de Goiás, onde é possível visualizar os períodos de estiagem que
ocorrem nos meses centrais do ano.
Figura 7. Variação de valores médios mensal da precipitação no estado de Goiás, durante
o ano.
Essa irregularidade de chuvas é o que condiciona os maiores impactos sobre as
atividades agrícolas do estado, pois a região passa por um longo período de estiagem a qual
torna-se praticamente impossível de se cultivar determinadas espécies vegetais sem que
haja o uso da irrigação. Segundo Drumond et al. (2010), nos nove primeiros meses de
implantação da cultura do pinhão manso na região de Petrolina, PE, a produtividade média
de sementes e frutos das plantas irrigadas foi de 871 kg ha-1, 3,5 vezes maior que aquela
obtida apenas com o regime normal de chuva, de 246 kg ha-1. Horschutz et al. (2012)
também identificaram uma relação positiva entre o uso da irrigação e a altura de plantas de
pinhão manso com 240 dias de idade.
38
4.1.1 Balanço Hídrico Climatológico Normal
Nas Figuras 8a e 8b são apresentados os mapas de déficit hídrico (DEF) e
excedente hídrico (EXC) acumulado para o estado de Goiás, resultante do balanço hídrico
realizado:
a
b
Figura 8. a) Déficit e b) excedente hídrico anual para o estado de Goiás.
No noroeste goiano são observados os maiores valores de déficit hídrico, da
ordem de 400 mm à 597 mm, enquanto na região centro-sudeste são observados os
menores valores e, consequentemente, os maiores valores de excedente hídrico. Segundo
Yamada (2011), a deficiência hídrica aumenta com a redução da latitude, em decorrência
das maiores temperaturas que normalmente são registradas e das chuvas mais escassas
durante a estação seca de inverno. Na região sul do estado registraram-se déficits hídricos
inferiores a 200 mm anuais, bem como excedentes hídricos inferiores a 400 mm anuais. E
finalmente na região centro-sudeste goiano, com registro de maiores índices
pluviométricos anuais, com excedentes hídricos maiores que 500 mm.
Conforme observado em estudos realizados por Possa (2011), a variabilidade
do déficit e excedente hídrico dentro do estado está relacionado com a distribuição das
chuvas e com a evapotranspiração real. Nota-se que áreas com maiores valores de
precipitação pluviométrica total e evapotranspiração real coincidem com as áreas que
obtiveram maiores valores de excedentes hídricos e menores valores de déficit hídrico.
39
O mapa que mostra a variação espacial da evapotranspiração potencial e real
(ETP e ETR) para o estado de Goiás pode ser visto nas Figuras 9a e 9b.
a
b
Figura 9. Variação de valores de a) evapotranspiração potencial e b) evapotranspiração
real anual para o estado de Goiás.
Os valores de evapotranspiração potencial situaram-se no intervalo entre 1.723
mm e 1.073 mm, onde na região noroeste foram encontrados os maiores valores, assim
como as maiores temperaturas, e na região centro leste, onde ocorrem áreas com maiores
altitudes, foram observadas as menores demandas hídricas e valores de evapotranspiração
potencial. Valores semelhantes são encontrados em Yamada (2011). Os mapas de
evapotranspiração real gerados a partir de interpolação espacial dos dados calculados
levam em consideração a precipitação e a evapotranspiração potencial e, portanto, a
variação da evapotranspiração real segue os mesmos padrões destas duas últimas variáveis.
Segundo Doorenbos & Kassam (1994), existe uma relação direta entre
evapotranspiração e crescimento, ou seja, a evapotranspiração assume o valor máximo, e
da mesma forma o crescimento, quando a necessidade hídrica da planta é plenamente
satisfeita. De modo contrário, cita Barboza Júnior (2011), quando existe um estresse
hídrico, seja por falta ou excesso, ocorre redução do crescimento.
Nas Figuras 10a e 10b podem ser visualizados o extrato do balanço hídrico
climatológico (BHC) e o balanço hídrico normal mensal, respectivamente, para a região
extremo noroeste de Goiás. A estação seca, quando são observados os maiores valores de
déficit hídrico, estende-se de abril à novembro, registrando um déficit hídrico anual de 572
40
mm e excesso de 441 mm. Tal região apresenta-se, portanto, como em condição marginal
por déficit hídrico para o cultivo de pinhão manso.
a
b
Figura 10. a) Extrato do balanço hídrico climatológico apresentando os meses com DEF e
EXC hídrico, e b) balanço hídrico normal mensal apresentando os valores de
precipitação, ETP e ETR mensais, na região extremo noroeste goiano.
Nas Figuras 11a e 11b visualiza-se o extrato do balanço hídrico climatológico e
o balanço hídrico normal mensal para a região extremo nordeste de Goiás. Semelhante à
região noroeste, nessa localidade ocorre um déficit hídrico de 402 mm e um excesso
hídrico de 496 mm, observando-se um predomínio de excesso em relação ao déficit. O
período de seca nessa região inicia-se também no mês de abril e se estende até o mês de
novembro, e a evapotranspiração potencial iguala-se à evapotranspiração real nos quatro
primeiros meses e dois últimos meses do ano, caracterizados pela estação chuvosa. Nesse
local o cultivo do pinhão manso é tido também como marginal por deficiência hídrica.
a
b
Figura 11. a) Extrato do balanço hídrico climatológico apresentando os meses com DEF e
EXC hídrico, e b) balanço hídrico normal mensal apresentando os valores de
precipitação, ETP e ETR mensais, na região extremo nordeste goiano.
41
As Figuras 12a e 12b trata do extrato do balanço hídrico climatológico e o
balanço hídrico normal mensal para a região central do estado. Nessa região as chuvas são
interrompidas a partir do mês de abril, e o período chuvoso retorna a partir de outubro.
Nesse intervalo é registrado um déficit hídrico de 227 mm, e um excedente de 463 mm. Os
valores de evapotranspiração potencial e evapotranspiração real são equiparados de
outubro à aproximadamente maio. Diferente das outras duas regiões apresentadas
anteriormente, nesse local não há restrições quanto à deficiência hídrica para cultivo de
pinhão manso.
a
b
Figura 12. a) Extrato do balanço hídrico climatológico apresentando os meses com DEF e
EXC hídrico, e b) Balanço hídrico normal mensal apresentando os valores de
precipitação, ETP e ETR mensais, para a região central do estado.
As Figuras 13a e 13b apresentam o extrato do balanço hídrico climatológico e
o balanço hídrico normal mensal para a região sudoeste do estado. O déficit hídrico anual
estimado nessa região para uma capacidade de água disponível de 100 mm foi de 228 mm,
e o excedente em torno de 466 mm, indicando que os períodos chuvosos apresentam
chuvas com valores precipitados relativamente altos. Os valores de evapotranspiração
potencial e evapotranspiração real foram semelhantes entre os meses de outubro à abril, e a
chuva cessa em meados de março e se reinicia em torno de outubro. Não são observadas
restrições hídricas para cultivo do pinhão manso nessa localidade.
42
a
b
Figura 13. a) Extrato do balanço hídrico climatológico apresentando os meses com DEF e
EXC hídrico, e b) balanço hídrico normal mensal apresentando os valores de
precipitação, ETP e ETR mensais, para a região sudoeste do estado.
Nas Figuras 14a e 14b, visualiza-se o extrato do balanço hídrico climatológico
e o balanço hídrico normal mensal para a região sudeste do estado. O déficit hídrico nessa
região é de 205,5 mm, e excedente hídrico, que quase se equipara ao déficit, da ordem de
231,5 mm. Isso porque a região apresenta longos período de estiagem, estendendo de abril
à novembro, onde a evapotranspiração potencial e a evapotranspiração real tornam-se altas.
Também não são registradas limitações de ordem hídrica para o plantio e cultivo do pinhão
manso nessa região.
a
b
Figura 14. a) Extrato do balanço hídrico climatológico apresentando os meses com DEF e
EXC hídrico, e b) balanço hídrico normal mensal apresentando os valores de
precipitação, ETP e ETR mensais, para a região sudeste do estado.
Em todas as localidades do estado há ocorrência de déficit hídrico, porém com
diferentes intensidades, demonstrando a variabilidade climática que ocorre no estado de
Goiás. Na região noroeste e nordeste o déficit hídrico é mais acentuado do que nas demais
regiões, pois a estação seca tende a ser mais longa e duradoura, com registro de
temperaturas mais elevadas e menores índices pluviométricos, o que condiciona maiores
43
valores de déficit hídrico. Como visto anteriormente, nessas duas localidades (nordeste e
noroeste), o cultivo do pinhão manso apresenta alguma restrição, sobretudo devido à
deficiência hídrica.
4.1.2 Aptidão climática do pinhão manso em Goiás quanto ao critério deficiência e
excedente hídrico
Nas Figuras 15a e 15b pode-se visualizar os mapas de aptidão agroclimática do
pinhão para as variáveis déficit e excedente hídrico. O estado de Goiás apresenta em quase
sua totalidade condições aptas ao cultivo do pinhão, exceto na região noroeste que
apresenta uma condição de marginalidade quando se tratando da variável déficit hídrico.
a
b
Figura 15. Aptidão climática baseado nos valores de a) Déficit hídrico e b) excedente
hídrico anual.
Ressalta-se que o plantio da cultura de pinhão manso deve ocorrer no início das
estações de chuva, que para todo o estado, seguramente inicia-se a partir do mês de
novembro, isso sem considerar condições climáticas adversas, como a ocorrência de
veranicos, por exemplo. Tal fato asseguraria um bom desenvolvimento da cultura jovem no
campo, dispensando o uso de irrigação nesse estágio inicial. No contrário, a implantação de
uma lavoura de pinhão manso nos meses de maio à outubro, como visto nas Figuras 6 e 7,
estaria condicionada ao uso de irrigação para garantir a sobrevivência das mudas no
campo, considerando a necessidade hídrica que sementes e plantas jovens de pinhão manso
44
demandam, pois segundo Purdue University (1998), o pinhão manso como a maioria das
culturas não tolera déficit hídrico nesse estágio fenológico, necessitando suprir a planta
com água para garantir a sobrevivência da mesma. Silva et al. (2009) observaram que
mudas de pinhão manso quando submetidas a estresse hídrico apresentaram uma
expressiva redução de 70% tanto no crescimento caulinar quanto na expansão foliar, aos
312 dias após o transplante das mudas para o campo. Também segundo Achten et al.
(2010), quando o pinhão manso é submetido a estresse hídrico severo, com total ausência
de água, o crescimento de toda a planta é paralisado e as suas folhas entram em
senescência muito rapidamente, apresentando uma queda na produção de biomassa da
ordem de 43% quando comparada à plantas que receberam água em quantidades ideais,
onde o solo foi mantido perto à capacidade de campo durante todo o tempo. Resultado
semelhante foi encontrado por Barboza Júnior (2011), que observou abortamento de folhas
e baixa produção de matéria fresca radicular, devido ao alto grau de estresse hídrico
promovido às mudas, em seu experimento.
Entretanto, Teixeira (2005) destaca que plantas adultas de pinhão manso (aos
18 meses de idade) quando estabelecidas no campo são tolerantes à seca e a períodos de
déficit hídrico por até três anos, e normalmente entram em dormência na época do ano
onde o período de deficiência hídrica coincide com o de ocorrência de baixas temperaturas,
com consequente queda de folhas e paralisação de seu crescimento, reduzindo sua
produção a níveis próximos ou equivalentes a zero, pois passa a sobreviver da água
armazenada em seu caule. Porém, dependendo do manejo de irrigação adotado, há relatos
de que é possível induzir o florescimento do pinhão manso duas ou três vezes ao ano.
Ariza-Montobbio & Lele (2010) apud Evangelista et al. (2011), induziram o déficit hídrico
na cultura do pinhão manso durante um período suficiente para provocar a queda de
metade das folhas da planta, e em seguida reestabeleceram a irrigação, causando o
surgimento de uma florada. Portanto, essa possibilidade demonstra a importância do uso e
do manejo adequado da irrigação com vistas à se obter um maior número de floradas de
pinhão manso por ano, o que possivelmente aumentaria a produção de óleo anualmente.
Também alguns estudos apontam que esse longo período de inverno que ocorre
nas regiões centrais do Brasil, caracterizado por baixos índices pluviométricos, seguido
pela estação de verão onde ocorre abundância de chuva, pode vir a ser uma vantagem
agronômica para o cultivo do pinhão manso, pois é sabido que a seca pode provocar
diversos efeitos nos vegetais, e conforme observado por Saturnino et al. (2005), sementes
45
produzidas por plantas que passaram por um período de clima mais seco apresentam um
aumento no teor de óleo, possivelmente devido ao mecanismo de estresse hídrico pelo qual
a planta passa, concentrando ainda mais seus teores de óleo na semente.
É exatamente essa a situação climática existente no centro-oeste brasileiro, fato
que pode colocar o estado de Goiás em uma posição estratégica, pois o cultivo do pinhão
manso nessa região poderá se tornar mais rentável com o uso de irrigação, e a possibilidade
de submeter a planta à um estresse hídrico, como ocorre na cana-de-açúcar, poderá causar
um incremento na produção de óleo pela semente, podendo assim a cultura expressar seu
máximo potencial produtivo.
4.2 Caracterização e análise das condições térmicas do estado de Goiás
4.2.1 Estimativa da temperatura do ar
Nas Figuras 16 e 17 pode-se visualizar as equações de ajuste aos dados
observados e estimados de temperaturas máxima e mínima do ar, assim como a linha de
tendência e os coeficientes estatísticos determinados.
Temperatura máx. estimada (°C)
38
36
T°est = 7,9018 + 0,7375.T°obs
r² = 0,7375; r = 0,8588; d = 0,9194
c = 0,79
34
32
30
28
26
24
24
26
28
30
32
34
36
38
Temperatura máx. observada (°C)
Figura 16. Diagrama de dispersão dos valores de temperaturas máximas estimadas pelo
modelo versus os valores de temperaturas máximas observadas nas estações,
bem como os respectivos coeficientes e índices estatísticos.
46
Temperatura mín. estimada (°C)
24
22
T°est = 1,8669 + 0,8967.T°obs
r² = 0,8967; r = 0,9470; d = 0,9721
c = 0,92
20
18
16
14
12
10
10
12
14
16
18
20
22
24
Temperatura mín. observada (°C)
Figura 17. Diagrama de dispersão dos valores de temperaturas mínimas estimadas pelo
modelo versus os valores de temperaturas mínimas observadas nas estações,
bem como os respectivos coeficientes e índices estatísticos.
Verifica-se pelos índices determinados (d = 0,97; r = 0,94, Figura 17) que o
desempenho do modelo ao estimar as temperaturas mínimas foi superior quando estimouse as temperaturas máximas (d = 0,91; r = 0,85, Figura 16). Esse fato também foi
verificado por Pimentel (2007) e Ferreira et al. (2006), e pode ter ocorrido provavelmente
devido as temperaturas máximas, segundo Ayoade (1996), serem mais influenciadas por
outros fatores climáticos, como deslocamento de massas de ar, ventos ou nebulosidade, por
exemplo, ou físicos, como gradientes de pressão, além daqueles que foram utilizados no
modelo (altitude, latitude e longitude). Isso é comprovado pelo coeficiente de
determinação r² o qual mostra que 89,67% (Figura 18) da temperatura mínima do ar pôde
ser determinada usando apenas os dados geográficos em questão, com 94,7% de correlação
positiva verdadeira entre os dados estimados e observados; já para as
temperaturas
máximas, apenas 73,75% na variação da temperatura foi devido à esses dados geográficos,
com correlação positiva de 85,88% entre os dados estimados e observados.
Por meio desses resultados verifica-se que o modelo de regressão linear
multípla pode ser utilizado com precisão para estimativa de dados de temperaturas do ar
necessárias para a realização do zoneamento agroclimático, conforme verificado também
em estudos agroclimáticos realizados por Yamada (2011), que obteve excelentes resultados
47
com o modelo, na estimativa de temperaturas do ar médias mensais para os estados de
Goiás e Tocantins. Silva et al. (2013), ao utilizarem a mesma metodologia para estimar
dados de temperatura do ar para a realização do zoneamento agroclimático para a cultura
da seringueira no Espírito Santo, constataram um incremento na precisão e no nível de
detalhamento do zoneamento, quando comparados à outros zoneamentos realizados, como
por exemplo, ao do trabalho de Camargo et al. (2003), em que foram utilizados apenas
dados observados de temperatura do ar. De fato, essa técnica vem sendo muito utilizada de
forma eficiente na caracterização climática e em estudos de zoneamento agroclimático
realizado por vários pesquisadores, como por exemplo, por Possas (2011) para o estado de
Pernambuco, Andrade et al. (2007) no Paraná e Toledo et al. (2009) no Espírito Santo.
Nos Anexos 4 e 5 são apresentados os valores ajustados dos coeficientes
obtidos do modelo de regressão linear múltipla, respectivamente para as temperaturas
máximas e mínimas médias mensais do ar.
4.2.2 Aptidão climática do pinhão manso em Goiás quanto ao critério temperatura
Na Figura 18 pode ser visualizada a variação espacial das temperaturas
máximas, mínimas e médias anuais no estado de Goiás. Pode-se notar que no estado de
Goiás as maiores temperaturas ocorrem na região noroeste, e as menores temperaturas
ocorrem na região centro-sudeste. A região noroeste apresenta temperatura média anual de
26,1°C, enquanto que na região centro-sudeste são registradas temperaturas médias em
torno de 22°C.
48
a
b
c
Figura 18. Variação espacial no estado de Goiás a) da temperatura máxima do ar, b) da
temperatura mínima do ar e c) da temperatura média annual.
A Figura 19 representa graficamente a variação média mensal das temperaturas
máximas, médias e mínimas para todo o estado de Goiás. Detalhe para os meses entre
agosto à outubro, onde são registradas as maiores temperaturas mensais, e para os meses de
maio à julho, coincidente com a estação de inverno, onde são registradas as menores
temperaturas do ano.
49
Figura 19. Variação média mensal da temperatura máxima, mínima e média no estado de
Goiás.
Com base na análise da temperatura do ar média mensal, percebe-se que a
maior parte do território do estado de Goiás é apto ao cultivo do pinhão manso (Figura 20)
encontrando-se na faixa favorável para o desenvolvimento da cultura, exceto nos meses de
junho e julho, onde a temperatura média é considerada marginal por deficiência térmica
para o pleno desenvolvimento do pinhão.
Figura 20. Variação mensal da temperatura média do ar no estado de Goiás e os limites de
aptidão térmica.
Ressalta-se que em se tratando das temperaturas do ar máximas e mínimas
mensais, o pinhão manso apresentaria certas restrições ao seu pleno desenvolvimento
durante o ano, isso porque em alguns meses do ano a temperatura máxima atinge valores
acima do tolerado, que é de 28°C, onde há registros em algumas partes do estado de
temperaturas que atingem até 32°C nos meses mais quentes, de agosto à outubro. Nesse
caso o cultivo do pinhão manso poderia ser considerado restrito por excesso térmico. Na
Figura 21 é possível observar a variação média mensal da temperatura máxima do ar e o
limite de aptidão do pinhão manso. Não há na literatura, entretanto registros de plantas de
50
pinhão manso que entraram em senescência devido à exposição à temperaturas do ar acima
de 28°C, considerando também que essas temperaturas são registradas em apenas alguns
poucos dias do ano e durante algumas poucas horas do dia. Acredita-se que a planta seja
capaz de passar por esses períodos e suportar tais condições sem nenhum prejuízo à sua
fenologia tampouco à produção final de óleo.
Figura 21. Variação mensal da temperatura máxima absoluta do ar no estado de Goiás e os
limites de aptidão térmica.
O mesmo ocorre para as temperaturas mínimas do ar. É observado na Figura 22
que nos meses de junho e julho as temperaturas mínimas são inferiores à aquelas
consideradas marginais para o desenvolvimento do pinhão manso, (15°C ≤ a ≤ 22,9°C);
abaixo desse valor, o cultivo do pinhão é considerado inapto por deficiência térmica (risco
de geadas). Novamente, acredita-se que tal fato também não inviabilizaria seu cultivo,
considerando também o curto período de exposição das plantas à essa temperatura baixa, e
que também geadas são eventos que ocorrem com baixíssima frequência no estado.
Figura 22. Variação mensal da temperatura mínima absoluta do ar no estado de Goiás e os
limites de aptidão térmica.
Em experimento conduzido sob condições controladas, testando sete diferentes
temperaturas críticas, Andrade et al. (2008) concluíram que a temperatura mínima crítica
para o cultivo de plantas jovens de pinhão manso (até 6 meses de idade) está entre -3°C e -
51
4°C; abaixo disso a planta morre. Ele ainda observou a enorme capacidade de regeneração
que essas plantas demonstraram após passarem por um período de estresse térmico. Esse
comportamento demonstra a enorme capacidade que a planta tem de suportar e se
recuperar de condições adversas aquelas recomendadas para seu cultivo. O fato de o
pinhão manso ser uma planta que tolera e se adapta a ambientes com baixa umidade
relativa do ar, faz com que ela apresente uma maior tolerância ao frio, e mesmo o frio
ocasionando danos à planta, ela possuiu uma grande capacidade de posteriormente se
recuperar. Para o estado de Goiás, espera-se então que a planta suporte as condições
térmicas extremas, que em se tratando de temperaturas mínimas, chega somente à pouco
menos de 15 °C no mês de julho.
Já quanto à germinação de sementes de pinhão manso, fazendo uma analogia
com a cultura do mamão, uma espécie que pertence à mesma família do pinhão manso
(Euphorbiaceae), que também possui sementes com elevado teor de óleo e cujo centro de
origem é também em regiões de clima tropical, tem-se que a temperatura recomendada
para a germinação de suas sementes é entre 20°C e 30°C (Brasil, 1992), também a mesma
faixa de temperatura recomendada para a germinação da maioria das espécies florestais
tropicais e subtropicais cultivadas no Brasil. Resultado semelhante foi encontrado por
Martins et al. (2008), que analisando a influência da temperatura e do substrato na
germinação de sementes de pinhão manso, definiu entre 20°C a 30°C como a faixa de
temperatura ideal para a germinação do pinhão. Assim sendo, mais uma vez espera-se não
haver problemas relacionados à temperatura do ar e também do solo quando da germinação
de sementes de pinhão manso em áreas de cultivo nesses meses mais quentes.
Na Figura 23 é possível visualizar as regiões quanto à aptidão agroclimática
para a cultura do pinhão manso nas diferentes localidades do estado, baseando-se na
temperatura média anual do ar. Verifica-se que altas temperaturas médias do ar não é um
fator limitante para o cultivo do pinhão manso no estado, haja vista que a maior parte da
região é apta ao cultivo dessa cultura, limitando-se a apenas à região sudeste do estado, que
apresenta aptidão marginal por deficiência térmica.
52
Figura 23. Aptidão climática baseado nos valores extremos de temperatura média anual.
Com base nos resultados obtidos, observa-se que a temperatura média
registrada no estado de Goiás é suficientemente adequada para o cultivo do pinhão manso,
pois mesmo as regiões consideradas marginais por deficiência térmica, não apresentam
temperaturas baixas o suficiente, como visto anteriormente, para causar a morte das
plantas.
4.3 Zoneamento agroclimático do pinhão manso para o estado de Goiás
O zoneamento agroclimático mostrou que o pinhão manso pode ser cultivado
em maior parte do estado de Goiás, atentando-se para as regiões de marginalidade, como o
noroeste goiano que se apresentou marginal devido à deficiência hídrica anual e ao sudeste,
que também se mostrou marginal, devido à deficiência térmica. A distribuição espacial das
classes de aptidão é visto na Figura 24 abaixo.
53
Figura 24. Zoneamento agroclimático do pinhão manso para o estado de Goiás.
Na Tabela 3 pode ser visualizado os valores das classes de aptidão
agroclimática para o pinhão manso no estado de Goiás.
Tabela 3. Valores das classes de aptidão agroclimática do pinhão manso no estado de
Goiás.
Classificação
Área (km²)
Área (%)
Apta
223.510,74
64,60
Marginal
122.461,03
35,40
Total
345.971,76
100
Marginal por deficiência hídrica
99.634,82
28,80
Marginal por deficiência térmica
22.826,21
6,60
As áreas classificadas como aptas se estenderam na faixa que vai desde o
nordeste goiano até o sudoeste goiano, e corresponderam à aproximadamente 64,60%
(223.510,74 km²) do território goiano. Nessas regiões a oferta pluviométrica e a
temperatura média do ar são suficientemente boas e ideais para o bom desenvolvimento da
cultura.
As demais regiões, como o noroeste e o sudeste goiano, apresentaram-se como
regiões de aptidão marginal para o cultivo do pinhão manso, pois não satisfizeram todas as
condições necessárias para o pleno desenvolvimento da cultura, seja por excesso ou
54
deficiência hídrica ou térmica. De fato, a deficiência térmica foi o que limitou o cultivo do
pinhão na região sudoeste, ficando a temperatura média do ar entre 15°C e 22,9°C,
considerada imprópria para o pinhão, e correspondendo a 6,60% do território. Na região
noroeste a deficiência hídrica foi a responsável pela condição de marginalidade dessa
localidade, ocorrendo em 28,80% do estado. Todas as regiões consideradas como
marginais para o cultivo do pinhão manso corresponderam à aproximadamente 35,40%
(122.461,03 km²) do território goiano. Não foram observadas regiões inaptas ao cultivo do
pinhão manso no estado.
Muito embora no Brasil o pinhão manso possa se desenvolver em regiões
tropicais muito secas, sem que haja uma grande oferta hídrica (Purdue University, 1998),
ressalta-se que seu cultivo, quando submetido a um sistema de irrigação, tende a apresentar
um aumento na produção, como constatado por Drummond et al. (1984), que conduzindo
uma lavoura de pinhão sob irrigação por sulco no norte de Minas Gerais, observou que as
plantas produziram em média 2.500 kg de sementes.ha-1, com 18 meses de idade, enquanto
que plantas da mesma idade sendo conduzidas em condição de sequeiro na região de
Felixlândia (centro de Minas Gerais), produziram apenas 500 kg de sementes ha-1.
Ressalta-se que o manejo adotado na condução da lavoura influi diretamente
no desenvolvimento da cultura. Isso implica que mesmo uma área sendo considerada
climaticamente apta para o cultivo do pinhão manso, fatores como condições edáficas e de
fertilidade ainda podem restringir o desenvolvimento da planta, assim também como
regiões consideradas de alto risco climático por deficiência hídrica, podem sob certas
circunstâncias, apresentarem-se como 100% aptas ao cultivo da cultura, desde que se use
irrigação, por exemplo. Segundo Chaves et al. (2009) o pinhão manso é uma espécie que
exige boa fertilidade do solo para se ter alta produção de sementes, diferentemente do que
se acreditava; apesar da planta sobreviver em terrenos de baixa fertilidade, recebendo as
águas proveniente das precipitações do verão, e sendo a fertilidade do solo adequado, a
planta produzirá mais do que em precárias condições edafoclimáticas. Logo, a correção da
acidez e da fertilidade do solo são fatores decisivos para se obter sucesso e lucratividade
com esta cultura (Schiavo et al., 2010).
Jones & Miller (1992) ainda citam que em determinadas regiões onde há
disponibilidade hídrica, seja pela elevada umidade relativa do ar ou pela presença de
irrigação o pinhão manso pode florescer e produzir frutos durante o ano inteiro.
55
Uma boa estratégia para garantir bons rendimentos anuais, com uma constante
florada e produção de semente é a construção de barragens ou bacias de contenção para
retenção da água da chuva que poderia ser utilizada para irrigar o pinhão manso nos
períodos seco da estação de inverno, ou ainda, a irrigação da cultura em períodos de
veranico dentro.
Tratos culturais, como por exemplo a poda, também podem resultar em efeitos
benéficos e ajudar no estabelecimento e desenvolvimento da planta, sendo portanto um
manejo fundamental inclusive em áreas que possuam aptidão climática ao pinhão manso,
pois ajudará a cultura a expressar o máximo de seu potencial produtivo. Segundo Peixoto
(1973), esse trato cultural pode ser realizado anualmente, buscando aumentar os números
de ramos produtivos, elevando a produtividade da cultura. De fato, por ser uma espécie
perene, de acordo com Saturnino et al. (2005) o pinhão manso necessita a cada década de
uma poda de rejuvenescimento induzindo novo crescimento de galhos e estabilidade na
produção de sementes.
Assim, apesar do presente zoneamento agroclimático para o pinhão manso
apresentar 28,80% do território goiano como de aptidão marginal por deficiência hídrica ao
desenvolvimento da cultura, acredita-se que com o uso da irrigação na cultura e a adoção
de boas práticas agrícolas, com tratos culturais adequados, sejam suficientes para garantir
elevadas produtividades, com o desenvolvimento de plantas com altas produções de
sementes, que renderiam altos teores de óleo. De maneira análoga, as regiões tidas como
marginais por deficiência térmica podem também apresentar altas produções, considerando
a ocorrência de solos de ótima aptidão agrícola, bastando apenas alguma correção de
fertilidade para torna-los altamente férteis. É possível observar na Figura 25 que nessas
áreas tidas como marginais ao plantio do pinhão há grande predominância de latossolos,
com alguma ocorrência também de cambissolos e argissolos, em menor expressão.
56
Figura 25. Classes de solos que ocorrem em regiões de aptidão marginal. (Escala do
mapeamento de solo - 1:500.000).
Um problema que poderia causar uma baixa aceitação e até restringir o cultivo
do pinhão manso por parte de alguns produtores seria em relação aos seus tratos culturais e
à sua colheita. Como é uma planta que pode atingir vários metros de altura, sobretudo
naquelas regiões onde a disponibilidade hídrica é abundante, resultando em um
crescimento vegetativo avantajado das plantas, a colheita dos frutos torna-se mais
trabalhosa considerando que ainda não há maquinários desenvolvidos para essa finalidade,
pelo menos não a nível comercial. Ademais, sua fenologia predispõe uma floração e
maturação desuniforme dos frutos, inviabilizando ainda mais a colheita mecanizada. Essa
operação ficaria muito restrita à utilização de mão-de-obra terceirizada para a realização de
colheita manual, o que poderia onerar os custos de produção, considerando as altas cargas
de impostos trabalhistas que deverá ser desprendida para os recursos humanos.
Nesse sentido, o pinhão manso pode ser considerado como uma possível
oleaginosa para ser explorada na agricultura familiar no estado de Goiás, como uma cultura
adicional à mamona. O Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), uma
importante proposta governamental concretizada em 2003 e que prevê a incorporação do
uso de biomassa na matriz energética brasileira, visando a redução no lançamento de gases
do efeito estufa na atmosfera, prevê incentivos fiscais, financeiros e comerciais a todos os
57
produtores industriais de fontes de biodiesel, amparando política e economicamente a
produção de oleaginosas por pequenos e médios produtores rurais.
58
5. CONCLUSÕES
a) Os valores de temperatura estimados via modelo de regressão linear apresentaram-se
suficientemente precisos para sua utilização na realização do zoneamento agroclimático;
b) A oferta pluviométrica total anual é suficiente para suprir a demanda hídrica total de
um ciclo de produção do pinhão manso no estado de Goiás;
c) Verifica-se que o estado de Goiás não apresenta regiões inaptas ao cultivo de pinhão
manso;
d) É recomendável o cultivo do pinhão manso para todo o estado de Goiás, exceto nas
regiões caracterizadas pela ocorrência de déficit hídrico anual elevado, desde que se
utilizem técnicas de irrigação para suprir a demanda hídrica da planta.
59
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67
ANEXOS
Anexo 1.
Média mensal das temperaturas máximas e mínimas do ar para o
Estado de Goiás ................................................................................
68
Anexo 2.
Descrição geográfica e período de registro de temperatura das
estações meteorológicas do estado de Goiás ....................................
68
Anexo 3.
Descrição geográfica e período de registro de precipitação das
estações meteorológicas do estado de Goiás ....................................
68
Anexo 4.
Valores dos coeficientes determinados para as equações de
regressão linear múltipla referentes às temperaturas máxima média
mensal ...............................................................................................
Anexo 5.
Valores dos coeficientes determinados para as equações de
regressão linear múltipla referentes às temperaturas mínima média
mensal ...............................................................................................
70
70
68
Anexo 1. Média mensal das temperaturas máximas e mínimas do ar para o Estado de
Goiás.
Temp.
Jan
Fev
Mar
Abri
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Máxima (°C)
29,49
29,63
30,17
30,11
28,91
28,68
29,01
30,97
31,55
32,23
30,17
30,31
Minima (°C)
20,17
19,87
19,56
18,62
16,23
14,51
14,19
15,90
18,10
19,66
19,89
20,24
Anexo 2. Descrição geográfica e período de registro de temperatura das estações
meteorológicas do estado de Goiás.
Estaçã
o
Latitude Longitude Período Estação Latitude Longitude Período
1
-14,98583 -47,78389
71/94
18
-16,35778 -49,49583
76/02
2
-16,32694 -48,95278
71/99
19
-17,71667 -48,16667
61/90
3
-16,82194 -49,24500
78/96
20
-18,42000 -49,21778
83/98
4
-15,90000 -52,23333
82/02
21
-17,88083 -51,71389
78/03
5
-14,92000 -51,08278
71/99
22
-13,27500 -50,16278
00/03
6
-16,97278 -48,95278
77/01
23
-16,26667 -47,95000
77/01
7
-18,49194 -49,47500
24
-17,73194 -49,10083
73/01
8
-17,74389 -48,62583
75/01
25
-15,85194 -48,95889
69/01
9
-17,63889 -47,78194
78/95
26
-14,10000 -46,36667
61/90
10
-18,17000 -47,94194
61/03
27
-18,44778 -50,45194
76/01
11
-18,40778 -52,54889
96/03
28
-17,77389 -48,77278
12
-16,76889 -47,61389
78/01
29
-17,79778 -50,92778
61/90
13
-15,53333 -47,33333
61/90
30
-16,48389 -49,31083
83/03
14
-16,51083 -49,02389
75/02
31
-18,99083 -50,54389
15
-16,66667 -49,25000
61/90
32
-18,35389 -47,78278
77/01
16
-15,91667 -50,13333
69/02
33
-16,64889 -49,48889
77/02
17
-18,01278 -49,35694
77/01
34
-14,52500 -49,14083
75/96
Anexo 3. Descrição geográfica e período de registro de precipitação das
meteorológicas do estado de Goiás.
Estação
Latitude Longitude Período Estação
Latitude Longitude
1
-16,08194 -48,50694
73/93
58
-15,75694 -49,33389
2
-14,13278 -47,51000
76/01
59
-17,88083 -51,71389
3
-14,48333 -46,49167
74/89
60
-17,80500 -49,61389
4
-16,46083 -49,96194
75/02
61
-15,76722 -51,02111
5
-18,29889 -51,14500
78/96
62
-16,25278 -47,95000
6
-18,96500 -51,92583
74/01
63
-15,44389 -50,74583
7
-15,89778 -52,25083
82/02
64
-17,97083 -50,33889
8
-16,91194 -49,45083
78/01
65
-15,05583 -48,16083
9
-16,38583 -51,56000
81/96
66
-13,53278 -48,22000
10
-14,92000 -51,08278
77/97
67
-17,56889 -52,55083
11
-16,19583 -52,54500
75/89
68
-13,25583 -46,90083
12
-16,97278 -48,95278
77/01
69
-16,00778 -51,39694
13
-16,21000 -52,17194
79/01
70
-17,44389 -51,17500
estações
Período
77/01
86/02
77/01
69/01
77/01
76/01
78/02
76/01
76/01
72/86
72/01
72/86
76/01
Continua…
69
Anexo 3. Continuação.
Estação
Latitude
14
-18,10472
15
-15,78000
16
-15,24083
17
-15,80083
18
-18,76278
19
-16,66778
20
-16,95694
21
-13,79000
22
-13,03694
23
-18,17000
24
-13,79778
25
-15,30778
26
-14,15083
27
-14,15056
28
-16,29389
29
-18,14194
30
-16,76889
31
-17,19889
32
-14,53250
33
-17,28778
34
-18,15278
35
-16,72167
36
-17,33889
37
-13,86778
38
-14,44889
39
-15,53694
40
-15,98333
41
-16,51083
42
-17,97194
43
-15,31694
44
-16,67889
45
-15,93389
46
-18,01278
47
-14,08333
48
-16,35778
49
-17,72194
50
-16,44194
51
-16,31778
52
-16,02000
53
-19,06694
54
-15,82278
55
-15,56194
Longitude
-50,03139
-47,93000
-51,16083
-46,92694
-50,94194
-50,64694
-51,81000
-48,56694
-46,77194
-47,94194
-47,45778
-49,59778
-48,07778
-48,07833
-50,54778
-48,56194
-47,61389
-48,70389
-49,96278
-49,38083
-47,56194
-52,31972
-49,93083
-49,07278
-47,05000
-47,33389
-48,11667
-49,02389
-48,17528
-49,11694
-49,25389
-50,14000
-49,35694
-50,35000
-49,49583
-48,16000
-51,11778
-50,90778
-49,81000
-51,54389
-50,61278
-49,94889
Período
71/99
73/97
78/01
75/02
73/01
78/97
78/01
70/01
76/01
70/02
76/01
75/96
76/01
76/01
78/01
74/01
78/01
77/01
83/94
79/01
78/97
82/97
77/02
76/02
75/01
70/02
71/97
75/02
69/82
75/01
70/02
69/02
77/01
78/01
76/02
82/02
76/96
79/01
77/01
78/01
78/01
78/01
Estação
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
81
82
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
100
101
102
103
104
105
106
107
108
109
110
111
112
Latitude
-17,73194
-14,74500
-13,77583
-14,47389
-15,02194
-14,09889
-13,74194
-13,24389
-17,03333
-16,22000
-15,55306
-16,80500
-16,94778
-14,76389
-17,30278
-16,42694
-15,85194
-17,30083
-15,45278
-17,51667
-13,44083
-17,43333
-18,44778
-17,79778
-17,32583
-14,43778
-16,48389
-15,94000
-13,39778
-14,70583
-13,27500
-16,70778
-18,30500
-15,66667
-18,35389
-16,64889
-13,50889
-16,61389
-14,52500
-15,49778
-17,04500
-17,96667
Longitude
-49,10083
-50,57083
-50,28083
-48,46000
-49,89583
-50,32694
-46,88000
-49,50389
-48,38333
-49,19278
-48,57722
-49,92583
-50,44889
-49,57778
-49,01778
-51,82194
-48,95889
-48,28000
-47,61389
-49,44111
-49,14889
-52,85000
-50,45194
-50,92778
-53,20500
-49,70583
-49,31083
-48,25500
-46,31778
-47,52500
-50,16278
-49,09278
-51,96583
-47,81667
-47,78278
-49,48889
-48,74000
-50,13389
-49,14083
-49,68778
-49,63083
-48,18333
Período
73/01
78/01
75/01
77/01
77/01
78/01
75/01
77/01
73/99
77/02
86/01
77/02
79/02
78/01
74/01
78/01
76/01
77/01
76/01
77/01
75/02
69/01
76/01
72/02
70/91
78/02
83/03
79/94
75/01
74/01
75/01
77/97
83/99
75/97
77/01
77/02
78/01
74/02
75/96
78/01
77/95
77/01
Continua…
70
Anexo 3. Continuação.
Estação
Latitude Longitude
56
-18,76889 -51,34778
57
-17,04889 -50,14583
Período
76/01
76/02
Estação
113
114
Latitude
-16,74194
-15,45694
Longitude
-48,51583
-48,88889
Período
73/01
74/96
Anexo 4. Valores dos coeficientes determinados para as equações de regressão linear
múltipla referentes às temperaturas máxima média mensal.
Mês
a
b1
b2
b3
Janeiro
21,47363
-0,00446
0,020266
0,224135
Fevereiro
24,24171
-0,00363
-0,10364
0,200344
Março
20,37218
-0,00356
-0,17716
0,314037
Abril
20,71091
-0,00372
-0,36892
0,374000
Maio
27,61676
-0,00385
-0,76021
0,344966
Junho
16,06559
-0,00397
-0,65937
0,542283
Julho
17,22510
-0,00395
-0,76246
0,560413
Agosto
19,18287
-0,00397
-0,71990
0,546142
Setembro
24,31807
-0,00414
-0,71939
0,456029
Outubro
35,53789
-0,0050
0,002101
0,008603
Novembro
25,84802
-0,00354
0,006078
0,139948
Dezembro
28,14875
-0,00422
0,174574
0,048797
Anexo 5. Valores dos coeficientes determinados para as equações de regressão linear
múltipla referentes às temperaturas mínima média mensal.
Mês
a
b1
b2
b3
Janeiro
23,61208
-0,00368
-0,00693
-0,011150
Fevereiro
22,80070
-0,00299
-0,09143
0,017553
Março
23,20949
-0,00291
-0,13514
0,016785
Abril
26,95197
-0,00314
-0,39609
0,014283
Maio
37,61218
-0,00270
-0,74266
-0,138950
Junho
32,70827
-0,00279
-0,61912
-0,115050
Julho
30,73436
-0,00289
-0,60247
-0,085780
Agosto
39,46244
-0,00322
-0,48851
-0,262020
Setembro
34,57485
-0,00264
-0,55468
-0,104370
Outubro
31,81826
-0,00319
-0,14463
-0,148510
Novembro
26,21448
-0,00310
-0,23119
-0,001870
Dezembro
26,13802
-0,00337
-0,05532
-0,049200
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1. INTRODUÇÃO