Influência da temperatura do ar no acúmulo de matéria seca e taxa de crescimento absoluto da cultura da alface em diferentes épocas do ano. Braulio Otomar Caron1; Edivânia de Oliveira Santana2; Denise Schmidt1; Lucas Borchartt2; 1UNIR, Professores Dr. do Curso de Agronomia, Rolim de Moura - RO; 2UNIR, Acadêmicos do Curso de Agronomia, Rolim de Moura - RO. e-mail: [email protected] RESUMO Este trabalho teve como objetivo avaliar a influência da temperatura do ar sobre crescimento de plantas da alface cv. Vitória de Santo Antão, em sistema de produção tradicional, cultivadas no período de verão, outono e inverno de 2005, no município de Rolim de Moura – RO. O experimento foi conduzido em delineamento experimental blocos ao acaso, com três repetições. Realizaram-se coletas semanais de plantas até o final do período vegetativo das mesmas para obtenção do peso de massa seca da parte aérea. A partir dos dados de peso de massa seca da parte aérea, foi determinada a taxa de crescimento absoluto (TCA). Verifica-se que o acúmulo de massa seca é influenciado pela temperatura do ar, com reflexos na TCA. O maior acúmulo de massa seca ocorreu na estação de inverno, com médias de 11,635g.planta-1 aos 28 dias após o transplante. A maior TCA também ocorreu no inverno, com médias de 0,98g.dia-1 sob temperaturas de 37,4ºC e 20,2ºC. Os valores de temperaturas médias mínimas foram inferiores durante o cultivo de inverno em relação aos outros cultivos o que em média favoreceu a cultura. As temperaturas máximas, de acordo com o período de duração, não interferem no crescimento e desenvolvimento da alface Vitória de Santo Antão. Palavras-chave: Lactuca sativa, temperatura do ar, crescimento, desenvolvimento. ABSTRACT – Influence of the temperature of air in the accumulation of mass dry and tax of absolute growth of the lettuce in different times of the year. The objective of this work was to evaluate the growth of plants of the lettuce, cv. Vitoria de Santo Antão, planted in different times of the year of the 2005, in the city of Rolim de Moura - RO. The experimental design was a randomized complete block with three replications. Carried through collections of plants for the attainment of the weight of dry mass of the aerial part. From the data of weight of dry mass of the aerial part, the following parameters tax of absolute growth. The influence of the period of plantation was accumulation of dry mass and tax of absolute growth. The period that occurred bigger production of dry mass and tax of absolute growth was in the Winter station, with mean of the 11,635g.plant-1 to the 28 days after transplant and 0,98g.day-1 at temperature de 37,4ºC e 20,2ºC. For the period the Winter the minimum temperature were lower compared to those times of the year. The growth of the lettuce, cv. Vitoria de Santo Antão, were not influenced by maximum temperature. Keywords: Lactuca sativa, temperature of air, growth , development. INTRODUÇÃO Os elementos meteorológicos influenciam o crescimento e desenvolvimento das plantas. Andriolo (1999) cita que elevadas temperaturas interferem no mecanismo de abertura e fechamento dos estômatos, absorção de CO2 para a fotossíntese, distribuição de fotoassimilados e produção de biomassa. Segundo Filgueira (2003), as temperaturas mínimas noturnas são mais importantes que as diurnas para o crescimento da alface, de forma que a temperatura máxima do ar tolerada pela alface é 30ºC podendo ocasionar o encurtamento do ciclo vegetativo com conseqüente emissão do pendão floral. Goto & Tivelli (1998) mencionam que a alface, para o seu desenvolvimento vegetativo, prefere uma temperatura amena, sendo melhor adaptada nas temperaturas noturnas inferiores a 15ºC, mas não abaixo de 7ºC. SGANZERLA (1997) cita a temperatura máxima tolerável ao redor de 30ºC, enquanto que a mínima está por volta de 6ºC. A quantificação da temperatura do ar é de fundamental importância, pois, permite aumentar a produção, reduzindo assim a sazonalidade na oferta desta hortaliça. Assim o objetivo deste trabalho foi quantificar a ação da temperatura do ar sobre o crescimento e desenvolvimento da cultura da alface cultivada em diferentes estações do ano. MATERIAL E MÉTODOS Os experimentos foram conduzidos no Campus experimental do Curso de Agronomia, no município de Rolim de Moura – RO. Os cultivos foram realizados em canteiros que apresentaram dimensões de 1,10m de largura por 8,0m de comprimento e 0,10m de altura. A correção e adubação do solo foram feitas com base na análise de solo e recomendação para a cultura. A irrigação foi realizada de acordo com a necessidade da cultura. Utilizou-se a cultivar Vitória de Santo Antão, implantada sobre o espaçamento de 0,30m entre plantas por 0,30m entre linhas. A semeadura foi realizada em bandejas de 288 células preenchidas com substrato comercial agrícola, nos dias 25 de janeiro de 2005 para o cultivo de verão, 22 de março de 2005 para o cultivo de outono e 02 de julho de 2005 para o cultivo de inverno. O transplante ocorreu respectivamente, nos dias 16 de fevereiro, 18 de abril e 10 de agosto de 2005, para os cultivos de verão, outono e inverno. As temperaturas foram obtidas por meio de termômetros de máxima e mínima e calculadas conforme recomendação do INPE. Para os cultivos de verão e outono, as coletas das plantas iniciaram-se respectivamente aos 11 e 7 dias após o transplante e para o cultivo de inverno iniciou-se no dia do transplante. Colheram-se três plantas por semana. As amostras colhidas foram embaladas em sacos de papel e levadas para estufa com circulação forçada de ar a 65ºC até atingirem peso constante para determinação do peso da matéria seca. A partir desta variável, calculou-se a Taxa de Crescimento Absoluto (TCA) da cultura descrita por BENICASA (1988). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 apresenta os valores de temperatura do ar média, mínima e máxima e da produção de massa seca total de alface. Verifica-se que o crescimento e desenvolvimento são influenciados pelas temperaturas que por sua vez apresentaram diferentes médias durante as estações do ano. Pode-se observar que houve acúmulo de massa seca mesmo em condições de temperaturas consideradas elevadas para a cultura da alface, pois foram registradas temperaturas de 41,1ºC aos 14 dias após o transplante (DAT) no cultivo de inverno. No cultivo de verão as plantas apresentaram massa seca total de 7,423g.planta-1 aos 33 DAT, no outono a média foi de 8,974g.planta-1 aos 28 DAT e no inverno apresentaram valor de 11,635g.planta-1 aos 28 DAT. Berwanger (2003) observou valores de massa seca total de 9,17g.planta-1 aos 35 DAT, no cultivo de inverno, e 12,089g.planta-1 no cultivo de verão. Caron et al. (2003) obtiveram valores de massa seca total de 13,605g, 10,579g e 12,611g aos 32, 56 e 63 DAT, respectivamente para os cultivos de verão, outono e inverno com a cultivar Regina, na região de Santa Maria - RS. As diferenças de massa seca total durante os cultivos entre as regiões possivelmente foram decorrentes da metodologia aplicada para a colheita, pois, considerou-se o valor mínimo da massa fresca de 150g para encerrar os cultivos, bem como diferença dos valores bioclimatológicos que ganham diferentes amplitudes de acordo com as características climáticas de cada região. A Figura 2 apresenta a taxa de crescimento absoluto (TCA) com a variação da temperatura do ar durante as estações de verão, outono e inverno de 2005. No verão a maior TCA (0,38g.dia-1) foi observada no período de 27-33 DAT com valor de temperatura do ar máxima de 36ºC e mínima de 23,7ºC. Para o cultivo de outono foi de 0,86g.dia-1 no período de 22-28 DAT com temperatura máxima de 37,3ºC e mínima de 22,4ºC e no cultivo de inverno a maior TCA foi de 0,98g.dia-1 sob temperaturas de 37,4ºC e 20,2ºC. Berwanger (2004) obteve durante o cultivo de inverno velocidade média de crescimento de 0,259g.dia-1 aos 35 DAT e durante o verão a velocidade observada foi de aproximadamente 0,30g.dia-1. Caron et al. (2003) observaram TCA durante a estação de inverno de 0,19g.dia-1. A médias das temperaturas máxima e mínima para este período foram de 25,3ºC e de 8,4ºC, respectivamente. Como se pode observar nas Figuras 1 e 2, os valores de temperaturas mínimas foram inferiores durante o cultivo de inverno em relação aos outros cultivos o que em média favoreceu a cultura, demonstrando desta forma que as temperaturas máximas de acordo com o período de duração não interferem no crescimento e desenvolvimento da alface Vitória de Santo Antão. LITERATURA CITADA ANDRIOLO, J.L. Fisiologia das culturas protegidas. Santa Maria: Editora da UFSM, 1999. BENICASA, M.M.P. Análise de crescimento de plantas. Jaboticabal: FUNEP, 1988. BERWANGER, Renato da Silva. Análise de crescimento de plantas de alface (Lactuca sativa L.) cultivadas em dois ambientes, no período chuvoso e seco em Ji-Paraná-RO. Tese (Mestrado). Mestrado interinstitucional UFRA e CEULJI Ji-Paraná, 2004. CARON, B.C.; MEDEIROS, S. L. P.; MANFRON, P. A.; SCHMIDT, D; POMMER, S. F. BIANCHI, C. Eficiência da temperatura do ar e radiação solar no acúmulo de fitomassa da alface. Revista brasileira de Agrometeorologia, v.11, n.2, 2003. FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 2 ed. Viçosa: UFV, 2003. 412 p. GOTO, R; TIVELLI, S. W. Produção de hortaliças em ambiente protegido: condições subtropicais. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. SGANZERLA, E. Nova agricultura: a fascinante arte de cultivar com plásticos. 6 ed. Guaíba: Agropecuária, 1997. Verão outono T.Média T.Média Min. T.Média Max. Matéria seca total (g) 10 35 y = 0,4088x - 3,9485 R2 = 0,8433 8 6 y = 0,3138x - 2,495 R2 = 0,9741 4 30 25 20 2 0 15 7 14 A 21 28 35 Dias após o transplante (DAT) MST(an) Matéria Seca Total (g) Temperatura do ar (oC) 40 12 TM(an) TM.min(an) TM.max(an) 14 50 12 40 10 30 8 An = 0,3914x - 1,8588 R2 = 0,7976 6 4 20 10 2 0 0 0 5 10 15 20 25 30 TM.max TCA -1 TM.min Taxa de crescimento absoluto(g.dia ) Dias após o transplante (DAT) B Figura 1 – Acúmulo de matéria seca com a variação da temperatura do ar durante os cultivos de verão e outono (A) e inverno (B). Rolim de Moura, 2005. Verão Outono Inverno 1,2 40 1 35 0,8 30 0,6 25 0,4 20 0,2 o Temperatura do ar ( C) 45 15 0 12 - 19 20 - 26 27 - 33 7 - 14 15 - 21 22 - 28 0 -7 8 - 14 15 - 21 22 - 28 Dias após o transplante Figura 2 – Taxa de crescimento absoluto com a variação da temperatura do ar. Rolim de Moura, 2005.