RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS
Edição Nº 73
[ 26/1/2012 a 1º/2/2012 ]
Sumário
CINEMA E TV...............................................................................................................3
Revista Bravo - Um Banquinho, Um Avião......................................................................................3
Estado de Minas - Diretor de Dois filhos de Francisco filma história de Gonzagão e Gonzaguinha
........................................................................................................................................................4
Folha de S. Paulo – Trama da Globo lembra reality político...........................................................6
Folha de S. Paulo - Boca do Lixo ganha mostra em Roterdã..........................................................6
Folha de S. Paulo - "Augustas" mostra jornada por rua paulistana famosa....................................7
Correio Braziliense - Ceilândia em alta ..........................................................................................8
O Estado de S. Paulo - O adeus do pioneiro.................................................................................10
TEATRO E DANÇA....................................................................................................11
Corrreio Braziliense - Lamartine no teatro.....................................................................................11
Folha de S. Paulo – Teatro: Alvim estreia nova parceria com Ciocler...........................................12
O Globo - Atração pelo universo pop e pelas relações familiares ................................................12
O Globo – Educação e teatro levam Brasil a Berlim......................................................................14
ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................15
Revista Bravo - Cessar-fogo.........................................................................................................15
Folha de S. Paulo – Painéis de Portinari recuperam brilho...........................................................17
El País – Sangre joven para la Bienal de Venecia........................................................................19
O Estado de S. Paulo - Todos os caminhos da arte......................................................................20
FOTOGRAFIA............................................................................................................21
O Globo - Mostra celebra um construtor de câmeras e imagens..................................................21
MÚSICA......................................................................................................................23
Folha de S. Paulo - Criolo faz clipe para tornar Ilê mais pop.........................................................23
O Globo - Devastação e cura que escoam pela música ...............................................................24
Jornal de Brasília - Roberta Sá à flor da pele ...............................................................................26
O Estado de S. Paulo - Um tenor brasileiro em Paris....................................................................27
Correio Braziliense - Choro revivido..............................................................................................29
O Globo - Todo o requinte do ‘larari, lairiri’....................................................................................31
Correio Braziliense - Confraria musical.........................................................................................32
LIVROS E LITERATURA...........................................................................................34
Estado de Minas - Nani usa humor para conquistar a garotada....................................................34
Estado de Minas - Reedições de Drummond e Joyce são destaques em 2012............................36
Estado de Minas - Livro traz pérolas da vida de Chico Buarque...................................................37
Estado de Minas - Maria Beltrão lança O alto sertão – Anotações................................................39
Folha de S. Paulo – Evolução em revista......................................................................................41
Folha de S. Paulo – Livro é essencial para entender a produção brasileira do século 20.............42
O Globo - Dois livros para apreciar a arte gráfica..........................................................................43
Jornal de Angola – Conto angolano em língua Árabe...................................................................44
QUADRINHOS............................................................................................................46
Correio Braziliense - HQ nacional em debate...............................................................................46
POLÍTICA CULTURAL...............................................................................................47
Estado de Minas - Todos podem ser mecenas.............................................................................47
MODA.........................................................................................................................48
Folha de S. Paulo – Criadores na SPFW não trazem novas imagens para moda........................48
The Sidney Morning Herald – Brazilian bikini sizes up bigger bottom dollar ................................49
OUTROS.....................................................................................................................51
Brasil Econômico – Nova sede do MAC de SP abre amanhã no antigo DETRAN........................51
Folha de S. Paulo – Bienal tem contas bloqueadas por inadimplência.........................................52
El Mundo – Brasil visita Salamanca..............................................................................................52
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CINEMA E TV
REVISTA BRAVO
- Um Banquinho, Um Avião
Alheias ao medo de voar que perseguia Tom Jobim, suas canções viajaram para os Estados Unidos
e, depois, cruzaram o mundo, como demonstra o novo filme de Nelson Pereira dos Santos
por Sérgio Cabral
Dueto dos Sonhos Frank Sinatra e Tom Jobim em 1967, quando gravaram um disco juntos. O cantor
norte-americano foi um dos grandes divulgadores do músico brasileiro
(Janeiro / 2012) A trajetória internacional do autor de Garota de Ipanema – retratada no documentário
A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, que estreia neste mês –
teve início em 1961. Foi quando, involuntariamente, o maestro e pianista carioca virou pelo avesso a
política de divulgação das produções musicais norte-americanas, implantada pelo Departamento de
Estado dos Estados Unidos. Naquela época, o governo de lá patrocinava excursões de renomados
instrumentistas do jazz pelo mundo, e o Brasil os recebeu em grande número. Eles rapidamente se
apaixonaram por nossa música e saíram daqui com as malas repletas de discos. Assim, as criações
de Antonio Carlos Jobim (1927-1994) acabaram conquistando tanto êxito na América que, dali a
pouco tempo, o brasileiro seria considerado pela crítica e pelos músicos locais um compositor tão
importante quanto George Gershwin e Cole Porter.
A isca foi o Samba de Uma Nota Só, canção de Tom e Newton Mendonça, que o trompetista Shorty
Rogers e o trombonista Curtis Fuller gravaram em 1961. Logo depois, o genial trompetista Dizzy
Gillespie ouviu o disco de João Gilberto lançado nos Estados Unidos e incluiu Desafinado (também
da dupla Tom e Newton Mendonça) nas apresentações que fazia em Chicago, no Sutherland Lounge.
Mas o sucesso mesmo só chegou quando o guitarrista Charlie Byrd, após se apresentar no Brasil,
telefonou para Creed Taylor, produtor da gravadora Verve, e sugeriu realizar um disco apenas com
músicas da bossa nova. Taylor lhe propôs dividir o álbum com o saxofonista Stan Getz. A gravação
ocorreu no dia 13 de fevereiro de 1962, data em que o produtor, os dois músicos e mais alguns
instrumentistas se reuniram num estúdio improvisado, na Sala Pierce, da Igreja Unitária de Todas as
Almas, em Washington. Com um equipamento paupérrimo – um modesto gravador Ampex, cuja fita
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rodava na velocidade nada recomendada de 7 ½ –, conceberam o long play Jazz Samba. O disco
vendeu mais de 1 milhão de cópias, número espantoso para a Verve na época (e ainda hoje).
Quatro contra um
Em julho de 1962, outro motivo fez com que as composições de Tom Jobim ficassem ainda mais
conhecidas nos Estados Unidos: a exibição por lá do filme ítalo-franco-brasileiro Orfeu Negro,
adaptação da peça Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes. Tom assinava tanto a trilha do
espetáculo quanto a do longa. Em agosto do mesmo ano, ele, Vinicius, João Gilberto e Os Cariocas
protagonizaram um show no restaurante Au Bon Gourmet, em Copacabana, que chamou a atenção
de empresários norte-americanos. Resultado: em novembro, parte da turma se apresentaria no
Carnegie Hall, principal casa de espetáculos de Nova York.
Também em agosto daquele ano, Stan Getz gravou o disco Big Band Bossa Nova, incluindo nele
Chega de Saudade (de Tom e Vinicius), que logo seria registrada por diversos cantores norteamericanos. No entanto, a versão criada pela dupla Hendricks-Cavanaugh provocou em Tom o
primeiro de muitos desgostos com as transposições para o inglês das letras de suas músicas. Ele
quase brigou, por exemplo, com o amigo Norman Gimbel porque o parceiro não queria colocar o
nome da praia ao traduzir Garota de Ipanema. O pretexto era que o norte-americano comum não
tinha a menor ideia do significado dessa palavra. Tom venceu a discussão e o planeta inteiro
aprendeu que existe um lugar chamado Ipanema. A música, aliás, se tornou uma das mais gravadas
e tocadas em todo o século 20.
O medo de avião quase impediu Tom de participar do espetáculo no Carnegie Hall. Na véspera da
viagem, o artista acabou convencido a embarcar pelo escritor Fernando Sabino, que foi à casa dele
especialmente para tratar do assunto. “Você garante que o avião não vai cair, Fernando?”, perguntou.
“Garanto”, respondeu o cronista. “Então eu vou.” O fato é que ele driblou a fobia e permaneceu vários
meses nos Estados Unidos, onde fez diversos amigos entre os nomes mais famosos do jazz, além de
gravar o álbum instrumental The Composer of Desafinado, Plays, considerado por muitos o melhor de
sua carreira. Em 1967, retornou à América especialmente para dividir um disco com o mito Frank
Sinatra.
Converteu-se, assim, num dos músicos mais executados naquele país durante a década de 1960. A
partir de 1964, só perdia para os Beatles, desvantagem que encarava com realismo e bom humor:
“Eu sou apenas um. Eles são quatro”.
Sérgio Cabral é jornalista, compositor e autor de Antonio Carlos Jobim – Uma Biografia.
O FILME
A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim. Estreia prevista para
este mês.
ESTADO
- Diretor de Dois filhos de Francisco filma história de Gonzagão e
Gonzaguinha
DE
MINAS
Produção, que fica pronta ainda este ano, terá gravações em Minas
Um era urbano, mais liberal e introspectivo. O outro era rural, conservador e falastrão. Nem sempre
filho de peixe peixinho é, mas por meio da música eles puseram de lado mágoas, divergências e
ressentimentos e se reencontraram. Esse é o mote de Gonzaga – De pai para filho, novo longa do
diretor Breno Silveira, que vai contar a história de dois grandes nomes da MPB: Gonzaguinha (19451991) e Gonzagão (1912-1989). Com previsão de ficar pronto este ano, quando se celebra o
centenário de nascimento do Rei do Baião, o filme começou a ser rodado no início de dezembro, no
Marco Zero, no Recife. As gravações serão retomadas no fim deste mês, em Exu, em Pernambuco,
onde Gonzagão nasceu, e no Rio de Janeiro. O diretor revela que também pretende filmar em Minas,
onde os dois artistas tiveram passagens marcantes de suas vidas.
O papel de Gonzagão será interpretado por três atores: o sanfoneiro Nivaldo Expedito de Carvalho,
de 31 anos, mais conhecido como Chambinho do Acordeom, interpretará Luiz Gonzaga dos 30 aos
50 anos, período em que a carreira do músico deslanchou. Os outros atores ainda não foram
definidos. O filme marca a estreia de Chambinho no cinema, contracenando com o gaúcho Júlio
Andrade, – que atuou em Cão sem dono e fez o Arthurzinho, de Passione, – no papel de
Gonzaguinha, e Nanda Costa, que interpreta a dançarina e cantora Odaléia Guedes dos Santos, mãe
de Gonzaguinha.
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Breno Silveira, que ficou conhecido por levar mais de 5 milhões de espectadores aos cinemas com 2
filhos de Francisco, sobre a trajetória de Zezé di Camargo e Luciano, conta que depois da experiência
com o filme sobre a dupla sertaneja pipocaram biografias na sua mesa, mas nenhuma o tinha
empolgado. Até que um dia recebeu gravações em fita cassete de uma entrevista que Gonzaguinha
tinha feito com o pai e isso o cativou. “Particularmente me interesso muito pelo drama particular,
humano, assim como foi no 2 filhos de Francisco. E quando escutei essa entrevista, que foi muito
reveladora, dava para perceber que havia um conflito muito sério entre pai e filho com perguntas e
respostas muito emocionadas e isso me levou a querer filmar”, diz Breno.
Biografia O cineasta acrescenta que o livro Gonzaguinha e Gonzagão – Uma história brasileira, da
jornalista Regina Echeverria, autora de biografias de sucesso como a de Elis Regina (Furacão Elis) e
a de Cazuza (Cazuza – Preciso dizer que te amo), serve de inspiração para seu longa, mas não é
apenas nele que Breno Silveira se apoia. “Nós compramos os direitos da publicação, mas há outras
fontes que me guiaram para fazer o roteiro. E quanto mais me aprofundo, a cada hora descubro uma
história diferente, nuances que você nem esperava e aí já muda tudo. Com biografia, é natural que
isso ocorra. Foi assim também com o 2 filhos de Francisco, mas nele eu contava a trajetória dos filhos
por intermédio do pai, e com o Gonzaga – De pai para filho é o contrário. Conto a história do pai por
meio do filho. Mas, na verdade, o Gonzagão é muito maior do que qualquer livro ou qualquer filme”,
salienta o diretor.
Regina Echeverria afirma que chegou a ler um dos roteiros e tem as melhores expectativas sobre o
filme. “É uma história de que gosto muito, uma relação delicada e amorosa. Foi muito importante para
mim ter mergulhado nessa experiência, porque conheci muito o Gonzaguinha, que foi meu amigo.
Certamente o Breno irá fazer um trabalho extremamente sensível”, acredita Regina, que está se
preparando para escrever a biografia da princesa Isabel.
Provavelmente, boa parte das questões abordadas no livro, como os conflitos entre os dois e a
complicada questão da paternidade – já que durante um tempo Gonzaguinha chegou a acreditar que
não era filho legítimo de Gonzagão, mesmo tendo sido registrado – estarão presentes na telona, mas
Breno Silveira adianta que pelo fato de a trajetória de ambos ser extremamente rica, não será fácil
realizar a produção. “É um épico, um filme difícil. Ele deve ter o dobro do tempo do 2 filhos de
Francisco. A trilha sonora também será um capítulo à parte e vamos fazer uma parceria com o
Gilberto Gil. A equipe de edição vai trabalhar em paralelo para agilizar o filme para gente conseguir
terminar tudo este ano e não perder o gancho dos 100 anos do Gonzagão”, acrescenta.
PAI E FILHO
“Eu não tenho o menor temor de ser ou não ser filho de Luiz Gonzaga. Eu não tenho o menor temor
de ser filho de fulano ou sicrano. É preciso que fique claro que meu pai, como está escrito no cartório,
é você, e minha mãe, Odaléia Guedes dos Santos, como está na minha carteira de identidade.
Henrique Xavier Pinheiro e Leopoldina. Minha família é essa. E, também, a família de Luiz Gonzaga
por outro lado. Infelizmente minha família é muito mais a de Leopoldina pela maneira que fui criado e
o modo como acabamos no reencontrando, que não foi propriamente uma coisa muito agradável para
mim. Se você falar que meu pai é outro não vai bulir com meus sentimentos, não estou preocupado
com isso.”
•Gonzaguinha
“Deus escreve certo por linhas tortas. Veja você, seu sangue não corre nas minhas veias. Você tem
essas coisas todas, as pessoas chegadas a mim, porque você é meu filho. Acho que a pessoa que
mais gosta de mim é você. E sua mulher agora. Você tem uma filha parecida comigo. Você me
respeita, eu respeito você e a coisa mais bacana da minha vida é você. Você é Gonzaguinha. Eu sou
Gonzagão. Encontramos esse slogan. Eu me envaideço muito de você, sabia? Nunca me pediu nada.
Te dei um violão velho, barato. Nunca me preocupou. Claro, a preocupação de pai. Eu sou pai postiço
mas sou pai e tenho sido pai, não é verdade?”
•Gonzagão
GONZAGAS EM MINAS
Gonzaguinha e Gonzagão tiveram relações estreitas com Belo Horizonte. Durante 10 anos, na
década de 1980, Gonzaguinha viveu na capital mineira ao lado de sua última mulher, Louise
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Margareth Martins, a Lelete, e de sua filha caçula, Mariana. A vida em Minas foi mais calma, com
longos passeios de bicicleta em torno da Lagoa da Pampulha, que ganhou até uma música do
compositor: Lindo lago do amor. O corpo do cantor está enterrado no Cemitério Parque da Colina, na
cidade.
Já o pai Gonzagão passou por Minas em 1932. O Rei do Baião foi destacado para BH, na época em
que servia o Exército no 12.º RI (Regimento de Infantaria), que, segundo ele, havia se esfacelado na
Revolução de 1930 por ter resistido, “leal e fiel ao governo, não se entregando e pagando um preço
muito caro.” Em novembro de 1932, ele foi para Juiz de Fora, servindo no 10º RI. Ganhou o apelido
de Bico de Aço, por ser um excelente corneteiro.
FOLHA DE S. PAULO –
Trama da Globo lembra reality político
Personagens de "O Brado Retumbante" evocam figuras do poder, como o presidente "sósia" de Aécio
Neves
Minissérie que acaba hoje é "caricata", diz Andrea Matarazzo; para deputado do PSOL, a
"gangsterização" é real
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, DE SÃO PAULO
(27/01/12) "O Brado Retumbante" chega hoje ao último capítulo com vocação de "Big Brother" da vida
política.
Enquanto políticos acusam a minissérie global de ser caricata, espectadores se divertem comparando
personagens da ficção com figuras de carne, osso e quilometragem nos bastidores do poder.
Veja Paulo Ventura (Domingos Montagner). Características desse presidente fictício podem provocar
déjà-vu quanto a três tipos políticos.
1) Ele tem pinta de galã e, "bon-vivant", está sempre cercado de belas mulheres. Na internet, foi
fulminante a associação com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) -que não esconde o desejo de
concorrer à Presidência em 2014.
Via assessoria, Aécio disse que não assiste à série. Já em recente jantar com tucanos na casa de
FHC, ele reconheceu semelhanças físicas com o mandatário da telinha.
2) Bom de voto, Ventura é "o cara" do povo, como Lula.
3) Avesso a alianças partidárias, lidera cruzada quixotesca contra corruptos. Na capital, o PSOL
pleiteia esse papel. "É real, convivo com isso", diz o deputado da sigla Chico Alencar (RJ) sobre "a
'gangsterização' da política".
Mas a trama peca por "descontextualizar o ambiente socioeconômico", critica Alencar. Em suma: faz
parecer que o mal do país se restringe a picuinhas pessoais, e não a uma estrutura corrompida.
São figuras "caricatas" que incomodam o secretário de Cultura de São Paulo, Andrea Matarazzo.
"Está um pouco ficção demais. Isso para nós, que conhecemos o governo."
A própria Globo frisa que "esta é uma obra de ficção [...] sem compromisso com a realidade". Mas
algumas situações retratadas parecem ter saído direto dos noticiários.
A trama explorou escândalo no Ministério da Educação com livros didáticos que ensinam a "falar
errado" e de viés ideológico (Tiradentes seria precursor dos sem-terra).
Em 2011, o MEC sofreu acusações parecidas. Na internet, a Globo foi acusada de promover
campanha contra o ex-ministro Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo.
Recém-desligado da pasta, Haddad achou "divertida" a colocação, pois não vê "nenhum ponto de
identificação", diz a assessoria do MEC.
Já José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, divertiu-se no Twitter com a "verossimilhança" na
estreia, quando Ventura assume o poder após acidente com o titular.
"Helicóptero com presidente e vice, decolando à noite de plataforma da Petrobras. Só mesmo na
imaginação [dos corroteiristas] Nelson Motta e Guilherme Fiúza."
Porta-voz da Presidência, Thomas Traumann brincou com o fato de Luiz Carlos Miele interpretar um
político. "Não é quebra de decoro?"
FOLHA DE S. PAULO -
Boca do Lixo ganha mostra em Roterdã
Filmes com forte apelo sexual produzidos no Brasil entre os anos 60 e 80 chegam ao festival de
cinema europeu
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Curador Gabe Klinger selecionou desde clássicos de Sganzerla e Reichenbach até filmes raros e
desconhecidos
INÁCIO ARAUJO, CRÍTICO DA FOLHA
Fiel à sua tradição de audácia, o Festival de Cinema de Roterdã abriu ontem, na série "Sinais", uma
mostra só com longas-metragens paulistas produzidos na chamada Boca do Lixo entre os anos 1960
e 1980.
A Boca, alguns quarteirões entre as ruas do Triumpho, Vitória e Gusmões, em Santa Ifigênia, tornouse o centro do cinema paulista depois da falência dos grandes estúdios (a Vera Cruz era o maior).
A proximidade das ferrovias foi o principal motivo dessa concentração, mas o nome -Boca do Lixo- foi
herdado da zona de prostituição com a qual convivia.
Para chegar à seleção dos 15 longas que serão mostrados, o curador Gabe Klinger, visionou mais de
200 títulos e concluiu que o mais significativo era a referência frequente à sexualidade.
"Quem sabe isso é por que as questões em torno da identidade sexual, a prostituição, a repressão
religiosa e a censura foram muito fortes durante muito tempo no Brasil -aliás, continuam sendo".
A seleção é heterogênea, indo desde filmes clássicos como "O Bandido da Luz Vermelha", de
Rogério Sganzerla, "A Margem", de Ozualdo Candeias, "Liliam M", de Carlos Reichenbach, "O
Despertar da Besta", de José Mojica Marins, até filmes de quando o sexo explícito era dominante, em
meados dos anos 1980.
Desses, aparecem "Senta no Meu que Eu Entro na Sua", de Ody Fraga, "Fuk Fuk à Brasileira", de
Jean Garret, e "Oh, Rebuceteio", de Claudio Cunha. "O critério de seleção foi a variedade de temas,
gêneros e épocas. Filmes representativos e ao mesmo tempo bons", diz Klinger.
Há exemplares preciosos do "cinema marginal" até hoje desconhecidos, como "O Pornógrafo", de
João Callegaro, "Orgia ou o Homem que Deu Cria", de João Silvério Trevisan, "O Vampiro da
Cinemateca" e "O Insigne Ficante", de Jairo Ferreira.
Ali se encontram cineastas de prestígio, como Walter Hugo Khouri (de "Um Convite ao Prazer"), mas
a parte sem dúvida mais provocativa dessa seleção pode vir do policial "Snuff -Vítimas do Prazer", de
Claudio Cunha, que esteve perdido durante anos.
Ou ainda de "O Império do Desejo", pouco conhecido, mas também um dos melhores trabalhos de
Reichenbach -que também estava fora de circulação havia décadas.
A Boca teve muitos outros assuntos: cangaço, sertanejo, faroeste. "Mas a maior parte está
impregnada de sexualidade. Por isso me pareceu uma oportunidade de fazer uma coisa atraente para
público internacional. O sexo pareceu a melhor ponte para programar um monte de filmes que
queríamos ver na tela grande em 35 mm."
A resposta, público e crítica deste festival iconoclasta começam a dar agora.
FOLHA DE S. PAULO -
"Augustas" mostra jornada por rua paulistana famosa
Filme de Francisco Cesar Filho, que estreia hoje em Tiradentes, traz Mário Bortolotto em busca
existencial
"Augusta é redoma que permite a pessoas de classes sociais distintas andarem na mesma calçada",
diz diretor
MATHEUS MAGENTA, ENVIADO ESPECIAL A TIRADENTES (MG)
"As lojas elegantes, o alto comércio e a sofisticação das pessoas fizeram desta rua o local onde se
mesclam tipos excêntricos nem sempre da alta burguesia", descreve o narrador de "Esta Rua Tão
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Augusta", curta de 1968 do cineasta Carlos Reichenbach sobre uma das vias mais famosas de São
Paulo.
Mais de 40 anos depois, o curta serve de introdução e paralelo ao ambiente de "Augustas", que será
exibido pela primeira vez hoje na Mostra de Cinema de Tiradentes.
No longa, um jornalista desempregado e a companheira empreendem uma jornada por uma Augusta
mais recente, de pessoas que vivem em cortiços, trabalham em salões de beleza ou bordéis e
comem em bares pés-sujos.
"A rua Augusta é uma redoma que permite a pessoas de classes sociais e econômicas distintas
andarem na mesma calçada. Isso não acontece no resto de São Paulo, cada vez mais segmentada",
afirmou Francisco Cesar Filho, diretor do longa.
ATEMPORAL
A preocupação dele foi construir uma rua Augusta atemporal. As filmagens foram realizadas em 2008
(com celulares e carros modernos), mas orelhões vermelhos e fitas VHS circularam pelo set, já que
"A Estratégia de Lilith", livro de Alex Antunes que inspirou o filme, se passa no final dos anos 1990.
É nesse ambiente que o protagonista (Mário Bortolotto) parte em sua busca existencial ao lado de
prostitutas, empregadas domésticas e até da entidade Sish, que se torna sua conselheira.
Bortolotto foi escolhido para o papel pela semelhança com o personagem.
"Não preciso fazer laboratório para esse filme. Tenho uma vida boêmia como ele, sempre frequentei a
rua Augusta, escrevi sobre rock pra jornal", afirmou Bortolotto.
Na época do lançamento do livro, em 2001, a quantidade de referências pop gerou comparações com
o escritor inglês Nick Hornby ("Alta Fidelidade").
"Mas a comparação para por aí. Para mim, a cultura pop é como um folclore sintético: além das
músicas, inclui os rituais neo-xamânicos em que o protagonista mergulha", afirmou o autor.
Nesse ponto, o livro está mais próximo do cultuado livro "Pornopopéia", de Reinaldo Moraes, que traz
drogas, prostituição e até ritual com "xamanismo turístico".
O jornalista MATHEUS MAGENTA viajou a convite da organização da 15ª Mostra de Cinema de
Tiradentes
CORREIO BRAZILIENSE
- Ceilândia em alta
Com o longa A cidade é uma só? o cineasta Adirley Queirós arrematou o principal prêmio da 15ª
Mostra de Tiradentes
Ricardo Daehn
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Cena do filme A cidade é uma só?: a Ceilândia sob o olhar de Adirley Queirós
Fosse o cineasta Adirley Queirós um cara vingativo, ele estaria por cima da carne seca: como sentiu
desrespeito, no tratamento reservado aos diretores, no mais recente Festival de Brasília do Cinema
Brasileiro, preferiu retirar o longa A cidade é uma só? da Mostra Brasília. Deu o destino as suas
voltas, e, pronto: o filme, exibido na 15ª Mostra de Tiradentes (Minas Gerais), levou o prêmio
principal, despertando representantes da curadoria de eventos fílmicos como Cannes, Veneza e San
Sebastián (Espanha).
“Abriu portas que a gente ainda nem tem noção”, comemora o “autêntico ceilandense” (nascido, na
verdade, em Morro Agudo de Goiás). “Foi um filme que explodiu na tela. A coisa mais fantástica que
já vivi. Algo parecido com a repercussão do curta Rap, o canto da Ceilândia, quando parou o Cine
Brasília, na época. Fui aplaudido, em Tiradentes, por 800 pessoas do festival mais crítico do país”,
observa o diretor de 41 anos.
Um ponta de vaidade aflora — ou melhor, de pertencimento, quando Adirley percebe que “a crítica
começa a falar que existe um cinema diferente em Ceilândia, em relação ao cinema de Brasília”.
Explica-se: A cidade é uma só? se atém a dado verídico, de cisão, “no filme, há a música tema que
retirou Ceilândia de Brasília. Jogaram as pessoas para cá (Ceilândia), expulsaram”, como ele diz.
Alheia ao contexto socioeconômico da medida do governo, nos anos 1970, em que “crianças foram
recolhidas em escolas públicas para integrar um coral que, pelo canto, deu base para aliviar a
remoção”, uma menina acalentou o sonho de projeção, por meio da música. Nancy Araújo, do grupo
Natiê, era a criança que agora dá depoimento para a fita de Adirley Queirós. Num misto de ficção e
realidade, entram em cena os atores Wellington Abreu (do Hierofante) e Dilmar Durães. Feito pelo
rapper Marquim (do grupo Tropa de Elite), um personagem marqueteiro completa a trama de A
cidade é uma só?.
“Crio aquela confusão nos espectadores sobre quem são os atores”, explica, ao falar da trama que
tem de candidato a distrital passando por corretor de lotes na periferia e apropriações fictícias de
documentos verdadeiros. “Com o filme mostrado em Tiradentes, houve demanda muito grande de
pessoas interessadas, lá fora. Para circular, vou ter que colocá-lo no suporte de película”, explica
Queirós, em torno da produção que derivou de um projeto para a tevê (em edital que ofertou R$ 400
mil). Um ano e meio depois da fagulha inicial da fita, a perspectiva é a de que a versão abreviada seja
exibida, via TV Brasil, em canal aberto, no aniversário de Brasília (em 21 de abril).
Tarantino
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Atualmente, Adirley Queirós se aplica ao documentário (com pegada irreal) Branco sai, preto fica, em
torno do popular baile Quarentão, uma referência da noite dos anos 1980. “Não será tão histórico, já
que vai ter até ficção científica. A gente vai apostar na estética. A história traz pessoas amputadas
que fazem o percurso de futuro para o passado”, adianta. Algo de Quentin Tarantino? “Não sei bem
se é meu Tarantino. Centralizarei mais em perdas físicas, em pessoas, por exemplo, com pernas
mecânicas que queiram reconstruir, buscar recuperação. Será uma metáfora de momento histórico,
da amputação cultural de uma cidade. A minha geração foi amputada, em termos de valores de
identidade”, pontua.
Saído de uma área rural próxima a Brazlândia, em 1977, Adirley Queirós chegou a Ceilândia, onde
atua como agitador cultural, vez por outra, patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC), “um
privilégio para a classe artística do DF, em termos de política pública”. Uma meta para 2012 é a
oficina, com duração de quatro meses, voltada a 20 ceilandenses interessados em formatar roteiro
experimental.
No plano da cena cultural local, “um acúmulo histórico” incomoda o diretor: “Temos a necessidade de
uma sala pública de cinema, em Ceilândia. Como a gente pode se conformar com o fato de um
perímetro urbano que abriga Ceilândia, Samambaia, Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto
não ter uma sala de cinema? Até temos o espaço do Sesc, mas que não passa filme aqui — passa
uma mostra, de vez em quando”. Nos últimos cinco anos, aliás, a bandeira de um espaço para escoar
a efervescência de “atores, diretores, músicos e escritores” tem sido uma constante. “O espaço
público é intocável, e deve ser gerido pelo público”, conclui.
O ESTADO DE S. PAULO -
O adeus do pioneiro
O cineasta Linduarte Noronha, morto ontem aos 81 anos, fez história ao antecipar o Cinema Novo
com o documentário Aruanda, de 1960
LUIZ CARLOS MERTEN
Ele foi um dos precursores do Cinema Novo e seu documentário Aruanda, de 1960, é considerado
uma das pedras de toque do movimento que revolucionou o cinema brasileiro naquela mesma
década. Ontem, Linduarte Noronha morreu num hospital de João Pessoa, na Paraíba. Estava
internado na UTI, havia dias, vítima de pneumonia. Morreu de parada respiratória. Tinha 81 anos.
Nascido em Ferreiros, Pernambuco, Linduarte Noronha desenvolveu sua carreira na vizinha Paraíba.
O Estado foi (é) um celeiro de cineastas. Lá nasceram Vladimir Carvalho e seu irmão, Walter. Foi ele
quem fez o primeiro longa de ficção do cinema da Paraíba. O Salário da Morte, de 1971, baseia-se no
romance Fogo, de José Bezerra, e é interpretado por Margarida Cardoso, Horácio Freitas e por uma
jovem que depois se destacou muito - Eliane Giardini. O Salário teve uma produção complicada.
Poucos recursos, filmagem interrompida mais de uma vez. A própria crítica decepcionou-se e o
público desertou dos cinemas, numa época em que a pornochanchada já dava as cartas no cinema
do País. Mas a importância de Aruanda é indiscutível.
Formado em Direito, Linduarte exerceu o jornalismo (e a crítica). Foi cineclubista, amigo de Alberto
Cavalcanti e admirador de Humberto Mauro. Acreditava no cinema de raiz e cunhou uma frase que
virou a diretriz de seu pensamento - "O verdadeiro cinema brasileiro só poderá alcançar, um dia, a
universalidade, ao se voltar para o elemento antropológico." Com essa convicção, e atraído pelo ator
natural, não profissional, ele se lançou no curta. Fez Aruanda e, dois anos mais tarde, O Cajueiro
Nordestino, que deflagraram o ciclo paraibano. Vladimir Carvalho foi seu assistente (no primeiro) e
toda uma geração de intelectuais se formou no cineclube que animava em João Pessoa.
José Nêumane, jornalista do Estado que o conheceu quando jovem - e ele já era Linduarte Noronha -,
conta que era uma daquelas personalidades que agrupam. Naquela época, quando fez Aruanda, era
chamado de 'Gordo'. Depois, ficou magrinho, saúde frágil, mas o apelido ficou. Duas contribuições
foram inestimáveis em Aruanda - a do cinegrafista Rucker Vieira e a do assistente Vladimir Carvalho.
Vale contextualizar. Em 1960, o mundo e o cinema estavam mudando. Toda década carrega sua
dose de transformações, mas os anos 1960 são considerados aqueles que mudaram tudo.
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Influenciados pela nouvelle vague e imbuídos da herança neorrealista, surgiria no eixo Rio/Bahia o
Cinema Novo, com a vocação de colocar a cara do brasileiro na tela. Linduarte antecipou-se a
Glauber Rocha, que destaca sua importância no Panorama Crítico do Cinema Brasileiro. Linduarte
pode não ter inventado o documentário reconstituído, mas foi o que fez. Aruanda, como gostava de
dizer, significa 'terra prometida'. A terra do filme não é prometida. É o duro sertão, com sua dose de
carências e dificuldades.
Uma família de quilombolas no alto sertão da Paraíba. Seus pequenos gestos cotidianos são
minuciosamente reconstituídos, pelo menos em parte, frente à câmera - como Robert Flaherty havia
feito quase 40 anos antes, em Nanook, o Esquimó, em 1922. Uma pegada social, típica do Cinema
Novo, mas da solidão desses gestos se depreende também o que não deixa de ser uma dimensão
ontológica, como em Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos.
O social volta em O Salário da Morte. Numa cidadezinha do sertão, o chefe político é assassinado e o
criminoso, um matador de aluguel, acobertado por poderosos, se esconde na casa de uma família
humilde. Mas ele termina morto e a família, chacinada. Linduarte Noronha foi homenageado, em
2007, pelo Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. Há mais de dez anos, no 33.º
Festival de Brasília, a gênese de Aruanda havia sido tema de um debate acalorado. Até que ponto a
realidade pode ser encenada e o filme ser considerado documentário? A polêmica ainda não se
esgotou, mas Aruanda e Linduarte Noronha fazem parte do história do cinema no Brasil.
TEATRO E DANÇA
CORRREIO BRAZILIENSE -
Lamartine no teatro
Antunes Filho escolhe um dos principais nomes da música brasileira para homenagear em peça que
estreia hoje na cidade
Presença constante, e celebrada, no universo teatral brasileiro desde a década de 1950, o diretor
Antunes Filho estreou recentemente no campo da dramaturgia autoral. As adaptações sempre foram
frequentes, mas foi a música brasileira que o inspirou a criar um texto autoral. O espetáculo Lamartine
Babo, uma homenagem ao compositor de diversas canções que fazem parte do imaginário brasileiro,
estreia em Brasília, em sessões hoje e amanhã, na Sala Martins Pena do Teatro Nacional e também
faz parte do 1º Festival Internacional de Artes de Brasília. “Além da pesquisa de linguagem e do
método que desenvolve com seus atores, Antunes sempre teve o ideal de mostrar às plateias
histórias de brasileiros”, conta Emerson Danesi, diretor da montagem e braço direito do idealizador do
projeto em sua companhia teatral , o Centro de Pesquisa Teatral, CPT.
Lamartine é exemplo dessa intenção, por ter sido o tema escolhido para encerrar a trilogia carioca do
diretor. As duas montagens anteriores foram Policarpo Quaresma, inspirado no romance de Lima
Barreto, e Foi Carmen, espetáculo que prestou tributo à Pequena Notável Carmem Miranda,
misturando o samba ao butô, dança japonesa. Na última etapa da tríade, Antunes pretendia fazer
com que a peça fosse criada, dirigida e musicada pelo elenco, dividido em duplas, sendo fiel ao seu
método de trabalho, que busca o maior conhecimento possível sobre o universo abordado. O
resultado final, no entanto, nunca o satisfazia e o diretor resolveu, então, assumir o papel de
dramaturgo. Lançou mão do texto Seis personagens à procura de um autor, do italiano Luigi
Pirandello e criou uma situação semelhante.
No original, um ensaio teatral é interrompido por seis pessoas que tentam convencer o diretor a criar
uma encenação de suas vidas. Já na versão “antuniana”, uma banda que prepara uma homenagem
ao compositor tem o ensaio interrompido por um homem, Silveirinha, e sua sobrinha Catarina.
Envoltos em uma aura de mistério, os dois complementam a encenação com informações sobre a
vida e a obra do homenageado.
Como já é tradição no trabalho do CPT, toda a gênese da trama foi desenvolvida por completo, e
cada personagem tem uma razão para estar ali, além de uma relação própria com Lamartine. Depois
de pronto, o texto ficou engavetado, até ser repassado a Danesi, que ganhou a incumbência de tornálo realidade. Em 2009, levou o Prêmio Shell na categoria música.
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Em cena, os 11 atores atuam e cantam 11 composições clássicas do repertório do compositor. “O
epíteto dele era Rei das Marchinhas, então incluímos alguns de seus temas de carnaval. Passamos
pelo futebol, já que a maioria dos times do Rio de Janeiro tiveram seus hinos compostos por
Lamartine”, destaca Danesi.
Como oscilava entre a irreverência e a melancolia, algumas de suas composições mais doloridas
entraram no repertório. Até tema de festa junina ele compôs. “Ele tinha um lugar meio chapliniano,
quase patético, e remete a um tempo em que o carnaval era uma brincadeira inocente”, destaca o
diretor da montagem.
FOLHA DE S. PAULO –
Teatro: Alvim estreia nova parceria com Ciocler
Criador do Club Noir volta a dirigir o ator em 'A Construção', adaptação de conto homônimo do
escritor Franz Kafka
Montagem retrata sujeito zoomórfico que vive amedrontado e no escuro; pré-estreia será hoje na
Caixa Cultural
GUSTAVO FIORATTI, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
(26/01/12) A parceria do ator Caco Ciocler com o diretor Roberto Alvim fermentou. Em 2011, eles
levantaram o monólogo "45 Minutos" e, agora, voltam a imergir em um novo projeto, "A Construção",
que tem pré-estreia na Caixa Cultural e segue em temporada no Sesc Pompeia no dia 10/2.
"Imersão" é uma palavra que ambos usam, talvez por analogia com o sujeito que habita o conto
homônimo de Franz Kafka (1883-1924) adaptado para a peça.
Uma marmota? Uma toupeira? Um tatu? Ou um autor acuado em seu quarto, cavando corredores
subterrâneos imaginários para se aliviar da iminência da morte?
O pouco que se sabe sobre esse sujeito zoomórfico é que, para se proteger de um possível predador,
ele amplia um sistema de túneis subterrâneos. Vive no escuro e com medo. Também com alguns
poucos momentos de luz, pois há uma toca na superfície que lhe permite sair e entrar.
O projeto parte de uma sugestão de leitura do psicanalista de Ciocler. "Como você reage às
excitações que o outro lhe provoca? Se vivesse sozinho no mundo, talvez suas patologias psíquicas
não existissem", propõe o ator.
Embora possa ser lido sob a ótica da psicanálise, os significados se estendem para representações
de situações político-sociais. Foram muitos os filósofos que se debruçaram sobre o texto, entre eles
Sartre (1905-1980) e Heidegger (1889-1976).
Alvim atenta para o título que a obra não tem. "Ela não se chama 'A Casa'", destaca. "Não é algo
pronto, onde você vai morar. Ela se chama 'A Construção' e está em permanente ampliação, inclusive
de seus significados."
A construção empreendida no subsolo pode, por exemplo, espelhar com certo didatismo a estrutura
que se entrelaça a fenômenos culturais contemporâneos, como explica Alvim. "O texto é
obsessivamente repetitivo, e essa repetição remonta a toda criação de sistemas ao longo da história",
diz.
O socialismo de Stalin (1879-1953), por exemplo, poderia estar ali simbolizado? Para Alvim, sim. A
peça pode representar "o sistema que se fecha para a ameaça externa, remoendo a existência de um
inimigo para justificar a ampliação de sua estrutura".
Com todos os símbolos que o texto possa desprender, Alvim prefere nomeá-lo "um enigma", o que
tem influência direta sobre a montagem proposta.
A primeira imagem da encenação é a de um homem na penumbra, com uma caneta. Ele está
sentado junto a uma mesa, e mais adiante há, riscado no chão, o contorno de um corpo, como se um
legista já tivesse passado por ali. Um outro homem, em cena, se aproxima, sem falas.
Ciocler trabalha um tipo de interpretação que se aproxima do vértice minimalista do trabalho que
Alvim vem desenvolvendo junto a sua companhia, o Club Noir.
A imobilidade gestual proposta pelo diretor em outras montagens parece balançar, principalmente
pela respiração do ator. Zoomorfismo, ali, é apenas um detalhe, quase imperceptível.
O GLOBO - Atração
pelo universo pop e pelas relações familiares
Jorge Caetano dirige peça que fala do conflito de gerações e traz personagens como uma ‘cosplayer’
e um emo
Mauro Ventura
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(28/01/2012) Desde adolescente, Jorge Caetano misturava histórias em quadrinhos e Edgar Allan
Poe.
— Sempre tive ligação com o universo mais lúdico, pop, das animações, das HQs, e também com o
universo mais sombrio.
Ele tem especial fascínio ainda pelas relações familiares, pela ficção científica e pelo rock. Nos
próximos meses, as áreas de interesse de Jorge estarão todas representadas no palco. A começar
por hoje, quando estreia, às 19h30m, na Caixa Cultural, “O céu está vazio”, a terceira parceria dele
como diretor com a dramaturga Julia Spadaccini, após “Não vamos falar sobre isso agora” e “Os
estonianos”, de 2008, unanimidade de crítica.
Personagens no limite
“O céu está vazio” gira em torno de uma família que vive um conflito de gerações. O pai, Ivan, de 50
anos, não consegue se comunicar com o filho, Lui, de 18, rapaz sensível e artístico, que é emo — e
que representa aquele lado sombrio de que fala Jorge. A mãe, Laura, quer abandonar a casa por não
aguentar mais a relação do marido com o filho e por descobrir que ele tem uma amante. O
adolescente também quer sair de casa.
— Ao começar a peça, todos os personagens estão no limite — diz Jorge, que também pinta e
fotografa como hobby.
Ivan, que está ficando surdo, vai para o centro terapêutico Clube do Zumbido e lá conhece uma jovem
de 18 anos, Emília, que também está com problemas auditivos. Ela é cosplayer — alguém que se
fantasia de um personagem de desenhos animados, mangás, quadrinhos ou games. Eles se tornam
amigos e, graças à convivência com a garota, Ivan passa a compreender melhor o filho.
— Emília e Lui representam duas tribos urbanas — diz Jorge, que faz 50 anos em abril. — É a
primeira vez que vai se falar de cosplay numa peça no Brasil.
Ele explica que os quatro anos entre “O céu está vazio” e “Os estonianos” se deveram à busca por
dinheiro — a peça tem patrocínio da Secretaria estadual de Cultura, Eletrobras e Caixa.
Como diretor, Jorge fará ainda “O mundo é assim”, adaptação de contos de André Sant’Anna, a
convite da atriz Cristina Mayrinki, da Cia. Fodidos Privilegiados. Mas é como ator — profissão que
exerce há 25 anos — que ele estará mais ocupado nos próximos meses, com cinco projetos à vista.
O primeiro, no segundo semestre, em São Paulo, é na verdade uma reestreia: “Outside”, musical de
Pedro Kosovski inspirado num poema que David Bowie escreveu no encarte de seu disco. No
espetáculo, com direção de Marcos André Nunes, Jorge é o transexual Ramon Ramona, que lhe
rendeu o prêmio Fita de ator coadjuvante. Outro projeto é um desdobramento.
— Vamos retomar o personagem. Mostrar a vida do Ramon antes de virar o transexual Ramona. Vai
ser mais underground, um minimusical com banda de rock ao vivo — diz ele, que já foi dirigido por
nomes como Sergio Britto, Amir Haddad, Aderbal Freire Filho e Miguel Falabella.
Com Kosovski e Nunes, da Aquela Companhia de Teatro, ele fará mais dois trabalhos, ambos entre o
fim do ano e o começo de 2013. O primeiro é “Amazônia ópera rock”, musical com temática futurista.
Trata- se de uma ficção científica em que a Humanidade foi dizimada, e existe uma Amazônia
clonada na Terra. A outra peça com a dupla é inspirada na vida e na obra do cartunista Robert
Crumb. Jorge vai interpretar um dos dois irmãos de Crumb — todos os três desenhavam, e um deles
era esquizofrênico.
— Talvez eu faça o esquizofrênico. Para viver Crumb, foi convidado Lúcio Mauro Filho.
Ajuste de contas
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É mais uma peça sobre família. Como também é o caso de “Aos domingos”, prevista para este ano,
numa nova parceria com Julia Spadaccini, com quem ele criou em 2005 a Cia. Casa de Jorge. Mas
agora Jorge atuará, enquanto Bruce Gomlevsky será o diretor.
— A Julia escreve alternadamente uma peça para eu dirigir e uma para eu atuar.
Na trama, Eduardo (Jorge) foge para a Europa após o pai sair de casa e a mãe enlouquecer. Seis
anos depois, volta e reencontra a irmã, Ana (Juliana Teixeira). A história mostra o ajuste de contas
dos dois irmãos.
O GLOBO –
Educação e teatro levam Brasil a Berlim
O ator e pedagogo catarinense Ivo Müller está em “Tabu”, filme português que compete no festival
alemão
Gilberto Scofield Jr.
COM A ATRIZ Ana Moreira em “Tabu”: único brasileiro no elenco
SÃO PAULO - Para o ator catarinense Ivo Müller, 34 anos, o poeta tcheco Rainer Maria Rilke, um dos
mais importantes de língua alemã do século XX, é muito mais que o objeto de pesquisa de um ator
fascinado com o uso da arte na educação. Em 2006, quando trabalhava com alunos da Escola
Estadual Rodrigues Alves, em São Paulo, testando estímulos de dramaturgia, Müller achou na
blioteca da escola o livro "Cartas a um jovem poeta", de Rilke, e percebeu que aquelas palavras
inspiradoras renderiam uma bela montagem teatral.
Quatro anos depois, após o texto ser burilado e destrinchado muitas vezes, ele estreava o monólogo
de mesmo nome em São Paulo (em cartaz atualmente no Sesc Consolação), um sucesso que já
levou mais de 2,5 mil pessoas ao teatro, além de receber críticas elogiosas na imprensa. Em fevereiro
de 2011, Rilke voltaria a ser fundamental na carreira de Müller: o ator foi sondado pela produtora
Gullane Filmes para atuar em "Tabu", uma coprodução Brasil-Portugal-Alemanha- França dirigida
pelo português Miguel Gomes (de "Aquele querido mês de agosto"). Ele é o único brasileiro em um
elenco todo português; Gomes o escolheu após ver "Cartas a um jovem poeta" na internet.
— Rilke me inspira e vai me acompanhar a vida inteira — diz ele no saguão do teatro Sesc
Consolação, ainda surpreso com os desdobramentos de sua decisão de fazer parte de "Tabu".
Afinal, o filme foi selecionado para a competição oficial do Festival de Cinema de Berlim, que
acontece de 9 a 19 de fevereiro. Müller, um raro sul-americano na mostra competitiva do festival,
embarca dia 13 para a Alemanha para acompanhar a pré-estreia mundial do filme, que conta a
história de Aurora, uma idosa geniosa e sua relação com a empregada de Cabo Verde e a vizinha
dedicada a causas sociais. Todas moram em Lisboa, e, quando Aurora morre, descobre-se um
passado africano surpreendente.
— É um momento especial para mim — resume o ator.
De fato. Além de "Tabu" em Berlim e de "Cartas a um jovem poeta", Müller está em cartaz no teatro
Tucarena com a montagem de "Doze homens e uma sentença", dirigida por Eduardo Tolentino de
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Araújo. A peça, vista por mais de 50 mil pessoas, ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista de
Críticos de Arte) de Melhor Espetáculo de 2010 e duas indicações ao Prêmio Shell (melhor diretor
para Tolentino e melhor ator, Norival Rizzo).
— O trabalho do Ivo vem amadurecendo com o tempo, o que só valoriza a dedicação e a seriedade
com que ele encara seus personagens — diz Tolentino.
Nada mal para um advogado que, em 2002, recém-formado pela Universidade Federal de Santa
Catarina, decidiu interromper no meio uma prova para a Advocacia Geral da União e abraçar a
carreira de ator. Em 2002, Müller foi para o Rio, onde fez aulas com Enrique Diaz na Casa de Artes
de Laranjeiras (CAL). No ano seguinte, largou a família em Florianópolis e embarcou para São Paulo,
como diz, "na cara e na coragem".
— Foi uma decisão difícil. Meus pais são do interior de Santa Catarina, e tinha medo de decepcionálos de alguma forma. Mas desde os 16 anos, quando fiz intercâmbio nos EUA e descobri o teatro,
acabei me apaixonando por este mundo. No fim do curso de Direito, eu já meio que sabia que aquele
não seria o meu futuro. Sempre que ia ao teatro pensava que podia viver no palco — conta.
Em SP, por indicação da atriz Dalia Palma (já falecida) — protagonista de "O diário de Anne Frank"
em 1958, dirigida por Antunes Filho —, Müller procurou a atriz e professora Haydée Bittencourt, que
lhe sugeriu uma conversa com o Grupo Tapa, ao qual ele se uniu em 2003. No grupo, atuou
profissionalmente pela primeira vez, como substituto nas peças "Camaradagem", de Strindberg, e
"Amargo siciliano", de Pirandello.
Entre 2006 e 2008, integrou o Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho, onde conheceu sua atual
mulher, a atriz e produtora Domingas Person. Em 2008, voltou ao Tapa. Apesar da atuação nos
palcos, Müller conta que o que pagava as contas de casa era mesmo o trabalho de pedagogia
através da arte nos colégios de São Paulo. Casado desde dezembro de 2007, o ator catarinense se
prepara agora para desempenhar um papel inédito: o de pai. Sua filha nasce em junho.
ARTES PLÁSTICAS
REVISTA BRAVO
- Cessar-fogo
Como artistas da periferia paulistana fizeram Mônica Nador retornar à pintura de telas e se
reaproximar das galerias
por Gisele Kato
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As paredes pintadas pelo Jamac na galeria Luciana Brito, em São Paulo. Oito artistas trabalharam no
local por três semanas
(Janeiro / 2012) Em 1996, pode-se dizer que Mônica Nador era uma artista do “circuitão”, ou seja,
uma vez por ano apresentava uma individual em uma galeria de prestígio do país, como a Luisa
Strina, em São Paulo, e tinha no currículo participações em duas bienais paulistanas – a de 1983 e a
de 1991 –, além de coletivas em alguns dos principais museus brasileiros. Sua trajetória seguia o
termômetro do grupo que ficou conhecido como Geração 80, com os jovens que, saídos da faculdade
naquela década, encontraram o mercado sedento para acolhê-los sem reservas. Em pouco tempo,
desfrutavam de visibilidade e dinheiro. Por 13 anos, Mônica esteve no meio deles. Até que um ensaio,
escrito pelo historiador norte-americano Douglas Crimp em 1981, caiu em suas mãos. Intitulado O
Fim da Pintura, o texto questionava o formalismo acadêmico e expunha uma espécie de impasse a
que a atividade estritamente pictórica estaria submetida. Pouco importa aqui se muita gente depois de
Crimp voltaria a declarar a morte da pintura e a pintura insistiria – sempre com louvor – em provar sua
vivacidade. Na história de Mônica, as palavras do crítico tiveram um efeito definitivo. A paulista de
Ribeirão Preto abandonou por anos as telas. Em busca de uma arte mais próxima do mundo, foi
pintar paredes.
É bem verdade que a primeira delas ainda não era lá muito distante do tal “circuitão”. Naquele ano de
1996, Mônica Nador ocupou o estreito corredor em frente ao restaurante do Museu de Arte Moderna
de São Paulo: “Foi ali que me dei conta de que conseguia pintar uma parede e de que era isso o que
queria fazer dali para a frente”. Para concluir a obra no MAM, a artista aprendeu a usar estêncil – os
moldes vazados com padronagens – e spray. Teve de tirar o foco das referências clássicas e olhar
para a rua. Mas hoje, 15 anos depois, a artista já não exibe uma atitude e um discurso muito radicais.
Graças ao convívio com jovens e adultos do bairro Jardim Miriam, na periferia da Zona Sul paulistana,
fez as pazes com as galerias e... voltou às telas. Pode-se dizer que os integrantes do Jardim Miriam
Arte Clube, o Jamac, coletivo que fundou em 2004, diluíram seu preconceito em relação ao mercado.
Prova disso é a exposição Mônica Nador – Autoria Compartilhada, em cartaz neste mês na galeria
Luciana Brito, em São Paulo. Depois de romper de forma um tanto brusca com os endereços
tradicionais, Mônica retorna a esses espaços de um jeito leve: “Eu tenho uma tese que é a da beleza
pura, de enfeitar os lugares e com isso mexer com as pessoas”. Na mostra, as quatro paredes da
principal sala expositiva estão tomadas por padronagens criadas pelo Jamac. Ao todo, oito pessoas
trabalharam por três semanas no endereço, decidindo em parceria as cores – predominam o
vermelho e o verde – e o número de sobreposições dos desenhos – em alguns casos, até quatro
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camadas foram pintadas. Integram a individual ainda nove obras em papel, quatro telas e um
videodocumentário com parte da história do grupo.
PANO DE PRATO E MUSEU
Até chegar à inauguração do Jamac, no entanto, o caminho em nada se pareceu com aquele início de
carreira, tão facilitado por um mercado em ebulição. Depois de 1996, com o projeto Paredes Pinturas
formatado, Mônica viajou para diversos estados do país, realizando trabalhos ainda pontuais. Em
1998, tomou conta de um coreto em Coração de Maria, na Bahia, e de uma casa de palafita no
Amazonas. No ano seguinte, transformou as fachadas de residências da Vila Rhodia, em São José
dos Campos (SP). E em 2001 entrou pela primeira vez em contato com a comunidade do Jardim
Miriam, a convite na época de uma ONG dirigida pela empresária Milú Villela. A parceria não deu
certo, mas Mônica não saiu mais do bairro.
O Jamac propriamente dito funciona atualmente em um galpão que pode ser descrito como um misto
de ateliê aberto e espaço cultural para jovens e adultos da comunidade local. Sem um apoio oficial,
Mônica mudou-se em definitivo para o endereço no mesmo ano de sua abertura, em 2004: “Morar lá
faz toda a diferença. Não sou mais uma pessoa de fora que chega definindo regras. Estou lá de igual
para igual”, diz. A afinidade entre os dez frequentadores mais assíduos do galpão é tanta que o nome
de Mônica nem aparece mais sozinho na assinatura de uma peça. Juntos, eles criam novas
padronagens e transformam paredes aplicando várias camadas de estêncil, em um processo criativo
que fica visível ao espectador. E os trabalhos são registrados como “Mônica Nador + Jamac”. Quem
conhece suas peças do fim dos anos 80 e início dos 90 percebe as mudanças que a produção
incorporou com o deslocamento dos circuitos protegidos das galerias e dos museus para as ruas. O
uso das cores é mais atrevido. A aplicação dos traços é mais solta. Por outro lado, a artista não deixa
de falar para os companheiros de ateliê sobre nomes como Josef Albers (1888-1976) e sua série
Homenagem ao Quadrado, por exemplo. Há muito do legado do mestre alemão nas peças do grupo.
“Tenho hoje outra percepção do mundo e da arte. Porque nosso principal intuito aqui não é mercado,
e sim o efeito que teremos na vida das pessoas. A gente usa uma técnica que pode pintar pano de
prato e estar ao mesmo tempo em museu”, diz Paulo César Meira, 26 anos, artista do Jamac desde
seu início e que hoje cursa arquitetura na Faculdade Anhembi Morumbi. Já Cristiane Aparecida Alves
da Silva, 33 anos, também artista do coletivo, produz tudo de forma mais intuitiva. “Vou testando
cores, vendo o que funciona. Fiz as máscaras de duas paredes da galeria Luciana Brito, em exibição
agora”, diz a jovem. Na busca pela “beleza pura” e por uma arte capaz de ser entendida por um
número maior de pessoas, Mônica faz hoje uma revolução de caráter mais inclusivo: mantém um pé
no circuito e outro na periferia.
FOLHA DE S. PAULO –
Painéis de Portinari recuperam brilho
Díptico 'Guerra e Paz', doado pelo Brasil à ONU em 1956, passou por restauro no país e será exibido
em São Paulo
Exposição começa em 7/2 no Memorial da América Latina; obras irão para outros países antes de
voltar a NY
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Tela "Jesus e os Apóstolos" na Igreja Matriz de Batatais (Edson Silva -21.dez.11/Folhapress)
LEANDRO MARTINS, DE RIBEIRÃO PRETO
(26/01/12) São Paulo será a primeira cidade do mundo a receber os painéis "Guerra e Paz", de
Candido Portinari (1903-1962), com as mesmas cores vivas e detalhes que a obra exibia quando foi
levada, há 56 anos, para a sede da ONU, em Nova York.
Os dois painéis gigantes, cada um com 14 metros de altura, serão expostos de 7 de fevereiro a 21 de
abril no Memorial da América Latina. A exposição inaugura uma turnê internacional das obras.
É a primeira mostra dos painéis desde que a restauração de "Guerra e Paz" foi concluída no Rio de
Janeiro, em 2011 -quando puderam ser vistos enquanto ainda eram restaurados em uma espécie de
ateliê aberto para visitação, no palácio Capanema.
Antes do restauro, entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, as obras levaram, em 12 dias, 44 mil
visitantes ao Theatro Municipal do Rio.
Desde que o trabalho terminou, elas foram desmontadas, encaixotadas e transferidas para um local
mantido em sigilo por segurança.
João Candido Portinari, filho do artista e diretor do Projeto Portinari, ressalta que, além dos painéis, a
exposição trará, pela primeira vez, um conjunto de aproximadamente cem estudos originais.
São desenhos e maquetes feitos por Portinari como preparação para "Guerra e Paz".
João Candido conta que reunir o material foi trabalhoso, porque o acervo pertence a galerias e
coleções particulares mundo afora.
A escolha do Memorial da América Latina para abrigar a exposição é simbólica, afirma o filho do
artista.
Primeiro, porque o local foi projetado por Oscar Niemeyer, de quem Portinari foi parceiro em projetos
como o da igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Além disso, diz Candido, há o vínculo entre as
ideias expressas por "Guerra e Paz" e o projeto cultural do Memorial, pela integração da América
Latina.
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"É um lugar de cultura de paz, de integração dos povos, que tem tudo a ver com a mensagem dos
painéis."
Depois que deixar São Paulo, "Guerra e Paz" vai percorrer outras cidades pelo mundo. Os dois
países já definidos são Noruega e Japão.
No primeiro, a ideia é que as obras marquem presença em Oslo durante a entrega do Prêmio Nobel
da Paz.
Já no Japão, a preferência recaía sobre Hiroshima, atingida pela primeira bomba atômica americana
no fim da Segunda Guerra (1939-1945). Mas a inexistência de um espaço ideal deve transferir a
mostra para Tóquio.
Outros países devem ser incluídos na turnê, como Argentina e Turquia. Os painéis voltam a Nova
York em 2013, onde foram instalados em 1956, como presente do governo brasileiro.
Para que fossem trazidos ao Brasil e restaurados, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) investiu R$ 7 milhões. Já para a turnê que se inicia em São Paulo, o Projeto
Portinari ainda busca mais patrocinadores.
EL PAÍS –
Sangre joven para la Bienal de Venecia
Espanha – 01.02.12 - El nombramiento de Massimiliano Gioni para las Artes Visuales es la única
sorpresa. Repiten en sus cargos, el catalán Alex Rigola, responsable de Teatro y el brasileño Ismael
Ivo, en Danza
Roberta Bosco Barcelona
Massimiliano Gioni ha sido la verdadera sorpresa entre los nombrados para dirigir los diversos
sectores, que componen la Bienal de Venecia, que dio a conocer ayer Paolo Baratta, presidente del
Consejo de Administración de la institución veneciana. “Los nombramientos se producen en el marco
del pluralismo y la continuidad necesarios para poder llevar a cabo programas de envergadura”,
afirmó Baratta. El presidente reconfirmó a Ismael Ivo por otro año (su octavo), con el encargo de
continuar las actividades de el Arsenale della Danza, que el coreógrafo y bailarín brasileño contribuyó
a refundar.
También quedó reconfirmado el director barcelonés Alex Rigola, que se quedará otros dos años “para
completar una experiencia muy productiva, basada en las actividades formativas, donde ha sabido
combinar momentos de espectáculos y laboratorio”, según el presidente. En la edición anterior Rigola
había satisfecho las aspiraciones de la Bienal, organizando un festival de grandes nombres,
acompañado por un laboratorio internacional de formación que abarcaba todos los aspectos del
teatro: técnica escénica, iluminación, dramaturgia, movimiento, etc. Según Baratta esta nueva fórmula
festival-laboratorio ha vuelto a situar Venecia en el centro del debate sobre las artes escénicas
contemporáneas.
Para el sector musical ha sido contratado el compositor italiano Ivan Fedele para un periodo de cuatro
años, pero la mayor sorpresa ha sido la apuesta por un joven comisario, Massimiliano Gioni (Milán,
1973), para la Bienal de Artes Visuales, la más prestigiosa de todas, que celebrará su 55ª edición en
2013. Gioni, que ha sido comisario de alguna sección de la feria ARCO y ponente del Foro de
Expertos, se dio a conocer como cazatalentos de artistas jóvenes. Inició su trayectoria por la puerta
grande, como director artístico de la Fondazione Nicola Trussardi de Milán, pero rápidamente fue
atrapado por el fenómeno más conocido como bienalización del arte. En 2004 dirigió la quinta edición
de la bienal itinerante Manifesta y dos años después la cuarta Bienal de Berlín, que tituló Of Mice and
Men. En 2010 comisarió 10.000 Lives para la octava Bienal de Gwangju en Corea, que fue todo un
éxito, siendo el más joven y el primer europeo encargado de este evento. Además es director
asociado del New Museum de Nueva York.
Gioni creció en el vivero del célebre crítico Francesco Bonami, de quien aprendió a no someter nunca
su visión curatorial a los aspectos más comerciales del arte. Mientras que su gran amigo el artista
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Maurizio Cattelan, conocido por sus obras provocadoras y anticlericales, le ha transmitido la habilidad
de comunicar con los medios y la misión de poner en valor las nuevas generaciones de artistas.
Mañana el Instituto Ramon Llull de Barcelona dará a conocer el ganador del concurso para
representar a Cataluña en la próxima Bienal de Arquitectura de Venecia, que se celebrará este año
bajo la dirección del arquitecto británico David Chipperfield.
O ESTADO DE S. PAULO -
Todos os caminhos da arte
Mostra no Rio põe em debate os processos tecnológicos usados na criação
ROBERTA PENNAFORT / RIO
Para que raios serve um motor de antena de rádio de carro a não ser para fazer mover antena de
rádio de carro? A artista plástica Mariana Manhães enxerga no pequeno equipamento um mundo de
possibilidades.
Atrelados a tubos de espuma, alto-falantes, duas telas de LCD e bases de antenas, motores como
este, em geral vistos como sucata, compõem Dentre (Lâmpadas), trabalho de 2010 exposto então na
mostra Paralela, em São Paulo, e trazido este mês ao Oi Futuro do Flamengo.
Na parede contígua à obra, o curador Alfons Hug alocou Bürostuhl (cadeira de escritório),
performance gravada em vídeo, do suíço Roman Signer, que consiste no rodopio de uma cadeira
impulsionada por foguetes nos braços.
Mais à frente, chega-se à Base para Unhas Fracas do carioca Alexandre Vogler: duas mãos
mecânicas comandadas por um motorzinho daqueles que fazem rodar os frangos nas máquinas de
assar das padarias.
A exposição se chama High Tech/Low Tech - Formas de Produção, e discute, nos interstícios de
vídeos, esculturas, fotografias e performances, as relações entre homem e máquina, arte e
tecnologia.
Diretor do Instituto Goethe no Rio, o curador, alemão há dez anos no Brasil, conclui que "quanto mais
a sociedade avança tecnologicamente, mais o artista volta para trás, aposta na baixa tecnologia".
"A beleza desse tipo de obra (como a dos dois brasileiros) está no precário, no barato, na máquina
que não tem funcionalidade. A máquina que funciona quase não pode ser arte contemporânea",
afirma também Hug.
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Mostrados em bienais tão distantes/distintas quanto a de Veneza e a de Xangai, e pescados durante
um ano em estúdios europeus e asiáticos, os trabalhos têm imagens espetacularmente impactantes,
como os helicópteros suicidas do vietnamita Dinh-Q; Lê, a siderúrgica totalmente automatizada,
filmada em seus vermelhos e amarelos vibrantes pelo turco Ali Kazma e a "fantástica fábrica" de gelo
em pleno Círculo Polar Ártico, visitada pelo norte-americano Chris Larson.
Outras comovem pela singeleza, como o carro dos Flintstones do canadense Michel de Broin,
propulsado pelo pedalar conjunto dos passageiros, as marionetes da colombiana Libia Posada, os
rituais disciplinadores chineses de 1, 2, 3, 4, de Zhou Tao e as imagens do casal de artistas Katia
Maciel e André Parente, que se repetem projetadas na parede, como aquelas velhas bonequinhas
recortadas no papel.
Há o elogio ao valor do trabalho, há a crítica quanto à obsolescência humana e tecnológica, a pujança
e o abandono, a oposição entre a produção artesanal e mecanizada - questões que movem artistas
tanto no mundo ainda em desenvolvimento humano e econômico (Brasil, Hong Kong, Índia), quanto
nos países mais ricos (Canadá, Alemanha, França, etc.).
"Lido com o que tenho na loja de ferragem perto da minha casa. A mim interessa encontrar soluções,
essa é a minha linguagem", conta Mariana, que é ajudada pelo pai, engenheiro.
FOTOGRAFIA
O GLOBO -
Mostra celebra um construtor de câmeras e imagens
Sebastião Barbosa apresenta fotos do Rio e de Paris e exibe máquinas feitas com materiais como
lata e madeira
Mauro Ventura
SEBASTIÃO BARBOSA com suas máquinas feitas com latas recolhidas nas ruas: fotos da beleza do
mundo
Ele é figura conhecida no “shopping chão” da Lapa, onde moradores de rua e catadores expõem suas
mercadorias. Há dois anos, compra qualquer tipo de lata por R$ 1 ou R$ 2. O fotógrafo Sebastião
Barbosa é chamado de professor pelos vendedores.
— Explico que transformo as latas em câmeras e que ensino adolescentes carentes — diz ele, que
tem cerca de mil latas.
E é verdade. O lado professor também apareceu no projeto Lambe-Lambe Pós-Digital, em 2008,
quando percorreu 60 escolas de 43 cidades do Rio dando oficinas para 1.800 alunos do ensino
médio. Essa é apenas uma de suas facetas. Afinal, são 70 anos de histórias. Parte delas poderá ser
vista a partir das 13h de hoje no Oi Futuro Ipanema, na exposição “Sebastião Barbosa, fotógrafo”,
que tem curadoria de Wilton Montenegro.
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Falso recado de político
Nascido no Amazonas, Barbosa começou aos 13 anos em Manaus, como assistente do fotógrafo
Fernando Nascimento. Limpava o chão, até que passou a se interessar pela parte técnica. Em 1961,
já fotógrafo, mudou-se para Belém e trabalhou no “Jornal do Dia”.
— Era um jornal escandalosamente esquerdista. Com o golpe militar, ele foi empastelado (as oficinas
foram inutilizadas). Fomos presos, saiu uma foto nossa de cueca no jornal.
Solto, veio para o Rio. Diante da dificuldade de arrumar emprego, um colega sugeriu tentar “O
Cruzeiro” ou “Manchete”, onde inventou para a secretária que tinha um recado de um político do Pará
para Adolpho Bloch. Conseguiu pedir uma chance a ele, que disse: “Mas tu é fotógrafo mesmo ou é
essas merdas que aparecem sempre?”
— Foi um relacionamento maravilhoso — lembra ele, que ficou dez anos na “Manchete”, onde
trabalhou também na sucursal de Paris.
Ao sair, em 1974, montou com Claus Meyer a primeira cooperativa de fotógrafos do Brasil, a Câmara
Três — Walter Firmo entrou um ano depois. Também teve um estúdio e fez fotos publicitárias.
Barbosa não usa câmeras digitais.
— Essa facilitação que ela proporciona tirou todo o suspense entre o tempo de tirar a foto e revelá-la
— diz ele, que só registra “a beleza do mundo”.
— Nunca vou fotografar criança de rua, desgraça, gente em situação constrangedora. Já tem muito
fotógrafo ocupado com isso. Sou de família muito humilde. Meu pai casou-se com minha mãe índia,
botoulhe 11 filhos, morreu leproso. De miséria chega a minha.
Em 1998, ele fez as fotos de “Gatos, a emoção de lidar”, último livro da doutora Nise da Silveira.
— No ano em que cheguei ao Rio, minha cabeça estava a mil e fui fazer tratamento na Casa das
Palmeiras.
Entre as aventuras de Barbosa está a criação, no início dos anos 1980, de um parque temático para
fotógrafos no Vale das Videiras, em Petrópolis, chamado VivaFotografia.
— Não deu muito certo. Tem bosque, lago artificial, três estúdios. De vez em quando vai gente lá.
A exposição traz a produção dos últimos dez anos. Junto às imagens do Rio e de Paris, estarão
câmeras que construiu com madeira ou com latas. Tem até uma feita com um pequeno barril de 20
litros de óleo de milho que ele catou numa lixeira em Paris. Com ela, fotografou o Cristo Redentor.
Também registrou o monumento com uma câmera feita com lata de filme cinematográfico.
Barbosa cria câmeras pinhole, que ele prefere chamar de “câmeras de orifício” — faz um furo de meio
milímetro que permite a entrada de luz na caixa escura. Também serão expostos uma instalação —
uma torre formada por mil latas — e um vídeo, com o processo de produção das imagens.
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NEGATIVO do Cristo com turistas (acima) e imagem da Torre Eiffel feita a partir de lata de filme
cinematográfico: em exposição a partir de hoje no Oi Futuro Ipanema
MÚSICA
FOLHA DE S. PAULO -
Criolo faz clipe para tornar Ilê mais pop
Lançamento de "Que Bloco É Esse?" acontece hoje em Salvador, com show do rapper paulista e do
bloco baiano
Vídeo integra projeto que busca retomar a popularidade dos blocos afro, engolida pela indústria do
axé
MARCUS PRETO, ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR (BA)
O plano original era Criolo emprestar a voz a uma nova gravação de "Que Bloco É Esse?", maior hit
do Ilê Aiyê.
Mas, animado com o convite, o rapper foi adiante e fez uma música inédita para o bloco afro.
Começou a compor ainda no avião, dez minutos antes de aterrissar na Bahia. Terminou no hotel.
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Com seu produtor musical, Daniel Ganjaman, e com os músicos baianos, o paulista entrou no estúdio
de Carlinhos Brown, no Candeal, no dia seguinte. E só precisaram de mais dois dias para produzir o
clipe -nas ruas do bairro da Liberdade e em terreiro de candomblé.
"Imaginei criar [para a letra] uma situação que antecedesse a canção deles, falando sobre o que
fazem, relembrando as origens", diz Criolo. "É como chegar a um lugar pedindo licença. Como seu
fosse um erê [criança] que veio aqui [na BA] aprender."
O vídeo vai ser lançado hoje à noite, em show na Bahia, como parte de um projeto da Petrobras que
busca retomar o prestígio dos blocos afro.
"Queremos que atinjam um público novo e estamos usando a música pop para ajudar na
reverberação", diz Pedro Tourinho, diretor do projeto. "Vamos criar uma série de outros conteúdos
para povoar o mundo digital."
Além do clipe de Ilê e Criolo, estão programados documentários de cinco minutos para a internet,
contando não apenas a história do Ilê, mas também de outros blocos.
De saída, vêm os do Muzenza (com participação da banda Nação Zumbi), do Malê Debalê (com
Emicida) e do Cortejo Afro (com Preta Gil).
Na sequência, até o Carnaval, devem vir mais dez, entre os quais estão Okanbi, Os Negões,
Bankoma e Olodum.
O material será colocado aos poucos, a partir de hoje, no site www.petrobras.com.br/queblocoeesse.
AXÉ
O ritmo dos tambores dos blocos afro está na raiz da música que é consumida hoje no Carnaval da
Bahia, mas sua repercussão foi engolida pela indústria do axé.
"Daniela [Mercury] é a única cantora de axé que não tem medo de ensaio de bloco afro", diz Antonio
Carlos Vovô, presidente do Ilê Aiyê. "Nenhuma outra canta [nosso repertório] de ouvido."
Criado em 1974, o Ilê é o primeiro bloco afro do Brasil.
"Antes do Ilê, negro só aparecia no Carnaval carregando alegoria", recorda Vovô. "O que a gente
queria era resgatar nossa autoestima. Tínhamos influência do black power americano. "
Segundo ele, o bloco quase se chamou Poder Negro. Mas o Brasil vivia então em período de
ditadura.
"Um militar da minha rua aconselhou, disse que essa ideia não daria muito certo. Mesmo assim, os
seguranças mandavam as pessoas terem cuidado com a gente: 'Esses negrinhos são vermelhos!'."
O repórter MARCUS PRETO viajou a convite da Petrobras.
O GLOBO -
Devastação e cura que escoam pela música
As dores da separação e o prazer da liberdade marcam os extremos do quinto disco do baiano Lucas
Santtana
Carlos Albuquerque
(28/01/2012) Numa das músicas do seu novo disco, “O deus que devasta mas também cura”, Lucas
Santtana conta como foi uma noite passada num quarto de hotel, em Belo Horizonte: “Sentidos que
explodem/ Para que outros adormeçam/ O corpo vibra e torce/ O peito não alenta/ O sangue
engrossa e corre/ A veia se adensa”, canta ele, por cima de uma batida seca, embalada por um
sample do quarteto de cordas de Ravel e pelo baixo contundente de Ricardo Dias Gomes. Mas a
aparência da letra engana. Ele não está descrevendo as sensações de uma jornada de sexo intenso.
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“Jogos madrugais”, que tem regência do maestro Letieres Leite, é sobre uma noite de insônia,
passada em frente a um videogame.
— Eu tinha um voo bem cedo e, como estava sem sono, virei a noite jogando, sozinho, no quarto do
hotel. Quando reparei, estava com as pupilas dilatadas e muito excitado. Lembrei do meu filho, que
também fica assim quando joga sem parar — conta. — Aí pensei numa letra que descrevesse essas
sensações. Só depois, conversando com um amigo, é que reparei que ela parecia descrever o que
não aconteceu: uma noitada de sexo.
Descrição por descrição, é a faixa-título que dá o verdadeiro tom do disco, o quinto da carreira de
Lucas, o primeiro desde que seu casamento de onze anos ganhou o status de game over. Composta
em parceria com Gui Amabis e Dengue (Nação Zumbi), a música foi gravada primeiramente no disco
de Amabis, o belo e melancólico “Memórias Luso/ Africanas”, lançado no ano passado.
— Depois de ver a música gravada pelo Gui, reparei que ela era muito pessoal e descrevia o
momento pelo qual eu estava passando. Normalmente evito esse tipo de coisa, mas nesse disco isso
foi mais forte. Foi como uma necessidade de deixar escoar esses sentimentos, como um náufrago,
sozinho numa ilha, escrevendo nas paredes para não enlouquecer. A separação me trouxe dois
sentimentos distintos, mas que acabaram convivendo entre si: as sensações de tristeza e de
liberdade. O disco acabou ficando assim também, com momentos mais intimistas e outros mais para
cima.
Como encontrou a cura para suas feridas pessoais através da música, Lucas Santtana aproveitou
para se cercar de bons amigos do meio nessa delicada transição. Além de Ricardo Dias Gomes e
Letieres Leite, “O deus que devasta mas também cura” — produzido pelo autor e por Chico Neves —
traz como convidados Céu, Curumin, Kassin, Gustavo Ruiz, Guizado, Maurício Fleury (do grupo
Bixiga70). Marcos Gerez (do Hurtmold) e Rica Amabis, entre outros. Conhecidos mais distantes,
como Beethoven, Debussy e Ravel, também estão presentes, através de meticulosos samples de
suas obras, numa das boas sacadas do disco.
Regravação de Tom Zé
— Eu voltei a ouvir clássicos recentemente e acabei sendo contaminado por eles. Gosto de usar
samples, mas de uma forma musical, como se fossem instrumentos, preocupando-me com o timbre e
o tom, não apenas com o encaixe e o ritmo — diz o músico baiano, radicado no Rio há 17 verões.
Sucessor do elogiado “Sem nostalgia” — lançado no exterior em 2011 e escolhido o melhor disco do
ano pelo jornal francês “Libération” — o novo trabalho traz uma versão de “Músico”, parceria de Tom
Zé com os Paralamas do Sucesso, gravada no disco “Severino” (1994).
— Eu nunca esqueci essa música, desde que a ouvi pela primeira vez. A letra fala de genética e tem
cortes nas palavras que vão dando a elas um outro sentido.
A solidão e São Paulo são lembradas em “Se pá ska SP” (“A solidão aqui tem moradia permanente”,
diz a letra), enquanto “Ela é Belém” narra uma sonhada (e, enfim, concretizada) viagem à terra das
aparelhagens e do tecnobrega. Os raios do sol surgem no fim do disco, com “Dia de furar onda no
mar”, que Lucas dedica ao filho, Josué, de nove anos, parceiro na letra e na vida.
— Fiz a letra para ele, lembrando também seus constantes questionamentos, como o motivo de ter
espuma no mar. Para esse, tive que pedir ajuda ao Google.
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JORNAL DE BRASÍLIA -
Roberta Sá à flor da pele
Cantora potiguar aposta em um ritmo mais pop, com o lançamento de Segunda Pele, quinto álbum da
carreira
Raquel Martins
(29/01/2012) Roberta Sá tem se consolidado como uma das melhores vozes da Música Popular
Brasileira atual desde a sua estreia, em 2004, com o CD Braseiro . Ao lado do Trio Madeira, com o
álbum Quando o Canto é Reza, a intérprete conquistou o prêmio de melhor álbum de MPB na última
edição do Prêmio da Música Brasileira. E eis que a potiguar, radicada no Rio de Janeiro, chega ao
quinto disco de sua carreira quebrando a cadência do samba que a fez despontar.
Segunda Pele, seu novo álbum, aposta no ritmo mais pop, com direito a parceiros consagrados, como
Pedro Luis, com quem divide a autoria da faixa No Bolso, e nas regravações de No Arrebol, do
sambista Wilson Baptista, e Deixa Sangrar, de Caetano Veloso e interpretada em 1970 por Gal Costa.
“Eu já cantava essas músicas em rodas de samba e bailes carnavalescos, mas só agora me senti
pronta para regravá-las”, conta a cantora, em entrevista por telefone ao Jornal de Brasília.
Roberta vê seu novo estilo como uma renovação artística, uma forma de aproximação com o grande
público. “Com Segunda Pele pude desmistificar alguns mitos e medos que eu tinha”, explica. Sá
apresenta sua primeira canção em língua estrangeira, Esquirlas, do cantor e compositor uruguaio
Jorge Drexler. “Ele veio ao Brasil e foi muito gentil, além de ser uma música inédita, Drexler soma
uma nova identidade ao trabalho.”
Madura, a cantora pediu para Giovanni Bianco, autor da capa, ressaltar a sua sensualidade. “Q u e ro
propor às mulheres uma maneira mais elegante e não vulgar de ser sedutora”, afirma. Roberta, que
sempre se preocupou com a maneira de se expor, garante que seu lado sensual sempre existiu. “Eu
não havia encontrado uma maneira de mostrá-lo de uma forma mais sutil”, e completa com um trecho
da faixa Segunda Pele, que dá nome ao CD. “Quando ele vem, faço dele minha luva ou sutiã, a
minha segunda pele, o meu cobertor de lã. Já viu frase mais sensual que essa?”, risos.
PATROCÍNIO
A artista, que irá fazer uma turnê de shows pelo Projeto Natura Musical, em que vai percorrer dez
cidades nas cinco regiões do País, se diz entusiasmada com a parceria. “Me sinto lisonjeada por ter
sido escolhida para o projeto, qualquer artista quer ter seu nome associado a essa marca”, acredita.
No final de 2011, ela ultrapassou o número de 200 mil discos vendidos, com dois CDs e um DVD de
ouro e credita todo esse sucesso aos fãs. “Isso é graças ao público fiel e elegante que possuo e que
faz questão de comprar ou baixar o álbum oficialmente”, orgulha-se. “O iTunes está vindo com força
total. Antes, eu achava que ele era excludente, agora não penso mais assim”, explica.
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A cantora afirma que não se rende às novas tecnologias. “Com o álbum Segunda Pele reencontrei o
prazer do disco físico. Participar de cada detalhe, me deu muita alegria”, confessa. Roberta garante
que a capital federal não está fora dos seus planos e promete passar com sua turnê por aqui até abril.
CRÍTICA Roberta Sá nasceu em Natal, em 19 de dezembro de 1980. Aos nove anos, mudou-se para
o Rio de Janeiro. Aos 16, começou a frequentar aulas de canto. O marco zero de sua carreira foi um
show no Mistura Fina, no Rio, em 2002.
Em 2004 veio o primeiro disco, Braseiro. O segundo álbum foi Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter
Alegria, em 2007. Dois anos depois, Roberta Sá reuniu o repertório dos dois álbuns no show Pra Se
Ter Alegria, que rendeu um CD e um DVD. Em 2010, ela se juntou ao Trio Madeira Brasil e gravou
Quando o Canto é Reza, com 200 mil cópias vendidas. Apresentou, em 2011, mais de cem shows em
vários estados e em Portugal.
O ESTADO DE S. PAULO -
Um tenor brasileiro em Paris
O gaúcho Martin Muehle canta Tchaikovsky na Bastilha
ANDREI NETTO, CORRESPONDENTE / PARIS
(29/01/2012) A montagem da ópera A Dama de Espadas, de Pietr Tchaikovski, não chega a ser uma
novidade na Ópera Bastilha, em Paris. Sua primeira exibição foi em 1991, sob direção musical de
Myung-Whun Chung. Uma nova produção seria assinada por Vladimir Jurowski em 1999, 2001 e
2004. Agora ela volta a ser apresentada, desta vez sob a direção artística de Dmitri Jurowski. Para os
brasileiros amantes de ópera, porém, a novidade maior do cartaz não é a sucessão entre os dois
irmãos, mas a presença do tenor Martin Muehle no elenco - o primeiro cantor lírico do País a se
apresentar na Bastilha.
A participação do brasileiro está longe de ser um acaso. Muehle e Nicolas Joel, atual diretor da Ópera
Nacional de Paris, haviam trabalhado juntos quando da passagem do francês pelo Théâtre du
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Capitole, de Toulouse, ocasião em que o brasileiro participou de A Mulher Sem Sombra, de Richard
Strauss, entre 2007 e 2008.
É verdade que seu papel em A Dama de Espadas é antagonista. Na montagem, ele interpreta
Tchekalinski, um jovem aristocrata, amigo de Hermann, o protagonista encenado por Vladimir
Galouzine. Mas sua participação e seu nome estão lá. "Tchekalisnki pode me dar novas
possibilidades na Europa."
Logo nos primeiros ensaios, Jurowski lhe propôs estender a parceria. Como o diretor musical é
também chefe da Ópera de Antuérpia e tem relações sólidas na Rússia, novos horizontes devem
abrir-se para Muehle.
Essas possibilidades premiam uma carreira que nem sempre foi coberta de glórias. Filho de um
amante da música clássica, Muehle começou a ter aulas de música no Colégio Farroupilha, em Porto
Alegre, e fez aulas particulares de piano, flauta, teoria musical e violão, antes de chegar aos corais de
canto da capital gaúcha. Apesar da paixão, quase se tornou jornalista. Abandonou a faculdade de
Comunicação e decidiu dedicar sua vida à música depois de conhecer um barítono uruguaio que se
tornou seu professor, em 1989. Então descobriu a ópera. "Um dia, eu estava assistindo ao Pavarotti e
durante o espetáculo comecei a chorar e disse: 'É isso que eu quero ser na vida'", recorda-se.
O percurso, entretanto, não seria fácil. Chegou a começar a Faculdade de Música da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, mas mudou-se para a Alemanha, acompanhando sua namorada de
então. Recomeçou sua formação universitária na cidade de Lübeck, onde ficou quatro anos. "Tinha
muita gana, mas o processo de aprendizagem era bem lento", conta. Insatisfeito, continuou seus
estudos em Hamburgo e passou pelas aulas de Carlo Bergonzi, em Siena, em 1993 e 1994. Aos 23,
24 anos, estava formado, mas só se tornaria profissional aos 27, quando passou por suas primeiras
audiências em agências alemãs. Em uma delas, voltou a viver em uma pequena cidade,
Bremerhaven, onde progrediu em termos profissionais, mas o isolamento foi um duro teste em sua
vida pessoal. "O teatro me permitia aprender o métier, mas a vida social na cidade era zero." Além
disso, Muehle descobriu na ópera uma profissão como as outras, com trabalho duro, precariedade e
pouco glamour.
Decepcionado, só reavivou o interesse ao vivenciar uma nova experiência profissional, como
professor de aulas particulares em Hamburgo. "Foi aí que percebi que tinha uma paixão que ainda
não conhecia."
O resultado da fase de reciclagem foram novos papéis em Hamburgo, Leipzig, Viena, Lübeck e São
Paulo, que lhe permitiram retomar a autoestima e aproveitar as oportunidades que surgiam com cada
vez mais frequência por volta de 2001 e 2002. Em 2004, viria seu primeiro papel como protagonista
em A Flauta Mágica, no Municipal do Rio. Na mesma época, em Viena, fez papéis nas tradicionais
operetas do Teatro de Baden, crescendo em sua presença cênica graças ao aprendizado com o tenor
búlgaro Ilko Natchev. "Aos poucos, tive a sensação de estar crescendo, embora não estivesse
totalmente maduro."
A "maturidade" começou a aflorar em 2007, em Toulouse, onde conheceu Nicolas Joel. "Aí senti que
tinha encontrado o meu caminho." O retorno ao Brasil e o casamento com soprano Claudia Riccitelli
trouxeram satisfação à vida pessoal e novo impulso na carreira. No mesmo ano, foi protagonista no
Palácio das Artes, de Belo Horizonte, e no Municipal de São Paulo.
Agora, Muehle se lança à luta contra a perda da tradição brasileira na ópera. "O Brasil foi uma rota
lírica para cantores europeus que passavam pelo Rio e São Paulo em direção à Argentina. Mas faltou
continuidade no ensino", lamenta. "Hoje, temos vozes maravilhosas, mas muitas se perdem no início,
por repertórios errados, com falta de visão, de direcionamento. O resultado é que a tradição está se
perdendo e temos poucos cantores em carreira internacional."
Abertas as portas de Paris, Muehle busca agora o reconhecimento internacional, o mesmo desafio de
músicos como o barítono Paulo Szot, em Nova York, e da soprano Eliane Coelho, em Viena. Na rota,
estão espetáculos na Argentina e Croácia e novas audições de peso na Alemanha, marcadas para
2012.
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CORREIO BRAZILIENSE -
Choro revivido
História do gênero musical em Brasília será reconstituída em documentário e livro por Beth Ernest
Dias
Em novembro de 1967, dois amigos brasilienses, o médico Arnoldo Veloso e o advogado Francisco
de Assis, apelidado de Six, pelo fato de ter seis dedos em cada mão, se encontraram com Jacob do
Bandolim, no Rio de Janeiro. Eles eram fãs do instrumentista e chegaram com uma carta de uma
amiga de Jacob, radicada em Brasília desde o início da cidade, a compositora Neusa França. Six era
gaiato e se apresentou na condição de ginecologista. Jacob estava prostrado em uma cama havia
quatro meses, com um sério problema na coluna. Veloso estudou na Alemanha e, com a ajuda de
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Six, realizou aplicações da técnica terapia neural. No dia seguinte, Jacob se levantou, pegou o
bandolim, começou a tocar e tudo virou uma festa com a chegada de Elizeth Cardoso e dos
integrantes do seu conjunto regional.
Jacob se animou com o resultado e resolveu complementar o tratamento em Brasília, onde morou
durante seis meses, na chácara Estrela Dalva, de Veloso. O contato de Jacob com Brasília durou de
1967 a 1969. Na verdade, já existia um grupo de choro na cidade, liderado pelo citarista Avena de
Castro. O fio dessa história será reconstituído no documentário e no livro Sábado à tarde, por Beth
Ernest Dias, a Beth da Flauta, numa parceria com os cineastas Waldir de Pina e Marcos Mendes.
As primeiras cenas do documentário foram gravadas no mês passado, em um condomínio de
Sobradinho, numa roda de choro realizada na casa de Dolores Tomé, flautista e professora da
Escola de Música. Tudo foi desencadeado pela vinda a Brasília do violonista Giovane Pasche, um
dos dois remanescentes do grupo inicial do choro na cidade, ao lado de Arnoldo Veloso. Alexandre
Pasche, filho de Giovane, procurou Beth para pedir uma partitura de Avena de Castro. Em seguida, o
violonista veio a Brasília para participar de um documentário sobre a compositora Neusa França e
Beth aproveitou para promover o encontro de Giovane e Veloso com duas outras gerações de
músicos brasilenses: as flautistas Dolores e Meila Tomé, o violonista Jaime Ernest Dias, a violinista
Liliana Gaioso e a cantora Alcione Tomé.
Jacob havia se encantado com o violão de sete cordas de Giovane, lhe deu um instrumento de
presente e o convidou para tocar com ele: “Mas sem aparecer muito, lembre-se que eu sou a vitrine”.
Beth e os outros colegas puderam apreciar o que fascinou Jacob com os seus ouvidos apurados de
músicos. Foi uma festa movida a feijoada, caipirinha e histórias saborosas registradas no
documentário.
Avena de Castro trabalhava como apontador de obras nos tempos da construção de Brasília. Exímio
citarista, atuou como concertista na Orquestra do Teatro Nacional do Rio de Janeiro e na Rádio
Nacional, durante a década de 1950. Lá, ficou amigo de Jacob, que lhe dedicou o choro Prá você,
com a indicação “para meu melhor intérprete”.
A senha
O grupo de chorões brasilienses liderado por Avena se reunia nos fins de semana à tarde no
apartamento de Raimundo Brito, na 105 Sul. Em homenagem aos saraus, Avena compôs o choro
Sábado à tarde. Participavam dos encontros, além de Avena, Giovane Pasche (violão), José Alves da
Silva, o Dudu (violão); Raimundo de Brito (cavaquinho), Arnoldo Veloso (bandolim), Manuel
Vasconcelos (pandeiro), Edigardo de Almeida (violão), Jorge da Fonseca (flauta) e Francisco de
Assis, o Six, (cavaquinho).
“O Jacob está chegando.” Era a senha para os músicos candangos se empenharem firmes nos
ensaios. As performances do bandolinista eram impressionantes e despertavam fascínio. Veloso
conta que foram tocar em uma casa do Lago Norte e, em determinado instante da noite, Jacob o
chamou angustiado: “Precisamos ir embora, pois a dona da casa é casada e está apaixonada por
mim, com as malas prontas para fugir”, relembra Veloso. “A sua improvisação enfeitiçava e destruía
corações femininos. Quando morreu, cinco mulheres ficaram na sonoterapia.”
A saúde de Jacob era delicada, se alimentava mal e devorava doces, segundo Veloso. Tanto que
compôs Bole-bole, Doce de coco, Treme-treme, entre outras peças inspiradas no açúcar. “O doce é
altamente inflamatório e pouco recomendável aos que têm problema de pressão alta. Mas Jacob não
resistia a um prato de doce de coco”, comenta Veloso, do alto de sua autoridade de médico: “Jacob
adorava Brasília. Passou muitas técnicas para gente. Compôs uma música para mim e outra para a
minha sogra”.
Músicas de Jacob do Bandolim em Brasília:
De coração a coração — Valsa dedicada ao seu médico cardiologista de Brasília, Doutor Luciano
Vieira
» Estímulo n 1 — Estudo composto para o doutor Arnoldo Veloso, seu médico em Brasília
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La Duchesse — Valsa composta em dezembro de 1967 e dedicada à sogra do doutor Arnoldo Veloso
No jardim — Mazurca
Pra você — Choro dedicado a Avena
de Castro
Ternura — Choro composto na casa do doutor Arnoldo Veloso e dedicado a ele
e sua esposa
Pesquisa apaixonada
O atual Clube do Choro nasceu na casa de Odette Ernest Dias, a mãe de Beth. No entanto, o contato
dela com o gênero é muito anterior. Beth Ernest morava no Rio de Janeiro, tocava no conjunto A Fina
Flor do Samba, criado para acompanhar a cantora Beth Carvalho, quando recebeu, por
correspondência, uma partitura de Avena de Castro: “O Avena não era uma pessoa; era um
personagem. Sempre tive prazer de tocar a sua música. É uma obra fabulosa, ainda inteira a ser
pesquisada, só conhecida por alguns amantes do choro”.
Beth considera fundamental que os brasilienses contem a própria história, pois , caso contrário, ela se
perderá ou será distorcida. Ilustra a sua apreensão com o exemplo da editora norte-americana Global
Music, que está realizando um trabalho de recuperação do acervo de partituras da música brasileira.
No livro sobre o Jacob do Bandolim se espantou ao ler que a valsa De coração a coração teria sido
feita em Brasília, no ano de 1967, e, possivelmente, dedicada ao médico Luciano Vieira, cardiologista
de Jacob. “Como assim ‘teria’?”, indaga Beth. “Essa música foi composta em Brasília. Parece que é
assim: ‘Apaga Brasília da história porque ninguém vai reclamar.’ Então, temos de contar a nossa
história. A história é para aquelas pessoas que sentem falta do que já passou. Em Brasília, a cada
governo se destrói tudo e se recomeça de novo.”
O GLOBO -
Todo o requinte do ‘larari, lairiri’
Tecladista e cantora da banda de Chico Buarque, Bia Paes Leme se desdobra no resgate da música
brasileira
Silvio Essinger
Tecladista e vocalista da banda de Chico Buarque há 12 anos, Bia Paes Leme tem como um clássico
a piada que o colega de trabalho Chico Batera soltou logo da sua chegada: “A minha vingança é
essa, agora a banda tem quatro músicos, dois ritmistas e uma mulher!” O que, de fato, era apenas
uma piada (já que a recepção dos músicos — e ritmistas — foi das melhores), mas que pouco
colaborou para amenizar a insegurança que a arranjadora, pesquisadora, professora e coordenadora
de música do Instituto Moreira Salles (IMS) sente até hoje.
— Não sou instrumentista, na verdade, eu só toco com o Chico Buarque! — costuma dizer Bia, até
hoje a única mulher na banda do cantor, que, até o dia 12, cumpre temporada carioca do show
“Chico”.
Bacharel em Composição e mestre em Música Brasileira pela Universidade do Rio de Janeiro
(UniRio), a tecladista estava quieta no seu canto, trabalhando com a Camerata da Universidade
Gama Filho, quando o violonista e diretor musical da banda de Chico, Luiz Claudio Ramos, chamou-a
para fazer parte do time. Bia foi dando desculpas, e Luiz argumentou: “Você não acha melhor pensar
até amanhã?” Foi aí que ela achou melhor embarcar, sem olhar para trás.
— Eu faço no show o que as cordas e os sopros fazem no estúdio. Eu estudo, chego lá e toco. É a
situação ideal — explica ela, que também solta a voz em alguns duetos com Chico, como na música
“Se eu soubesse”, sucesso do show com seus “lararis” e “lairiris”.
E o mais curioso é que Bia também não se considera exatamente uma cantora.
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— Eu não tenho nem resistência vocal pra isso! O cantor é um atleta. Tem que se alimentar bem,
dormir bem...
Mas o canto era mesmo incontornável em sua vida. Quando criança, ela estudou flauta e mergulhou
na música renascentista, que tinha muitos corais. Ao mesmo tempo, em casa, ouviu grupos vocais de
MPB, como o Quarteto em Cy, e alguma música de rádio.
— Um negócio que era brega, mas pelo qual eu era louca, era a Karen Carpenter. Ouvi muito
Carpenters por causa da voz dela — confessa Bia, que começou a carreira no grupo vocal Quatro
Cantos, mais tarde rebatizado de Viva Voz, com a entrada dos arranjadores- cantores Ary Sperling e
João Rebouças (pianista de Chico há mais de 20 anos).
‘Os cantores da Anistia’
Com o Viva Voz, ela teve a honra de registrar, num compacto, duas canções até então inéditas: “O
bêbado e a equilibrista” (que viraria hino de Elis Regina) e “Tô voltando” (depois sucesso de Simone).
— Nós fomos chamados de “os cantores da Anistia” — recorda- se Bia, que saiu do grupo em 1981
(“Não estava satisfeita com o rumo que ele estava tomando, jogando todas as fichas no sucesso”) e
foi estudar composição na UniRio.
E a vida seguiu seu rumo. Ela se tornou arranjadora e foi dar aulas de música. Quando, mais uma
vez, estava quieta, na sua, veio a cantora Zélia Duncan pedir aulas.
— Eu ficava desconversando, até que não teve saída. Mas acabei ficando impressionada: a Zélia é
uma cantora CDF! E nunca mais nos separamos.
Anos mais tarde, Bia acabou virando diretora musical do show e produtora do CD e DVD que
promoveriam uma guinada na carreira de Zélia: “Eu me transformo em outras”, de 2004, o primeiro
mergulho da cantora na memória da música brasileira.
— O segredo de Bia, além do imenso talento, é o amor pelo que faz. Sua segurança e sua
sensibilidade destoam desse povo que usa a música e seu glamour como gasolina para a vaidade —
diz Zélia, que repetiu recentemente a parceria com Bia no show “Tô tatiando”, só com músicas do
compositor Luiz Tatit.
Quando não está no palco com Chico (ou com a turma do choro da Escola Portátil de Música), Bia
pode ser encontrada no IMS, onde atua desde 2008. Lá, desenvolve o trabalho de recuperação de
acervo que começou por Pixinguinha. Até o dia 23 de abril (aniversário do músico), ela lança um livro
com as transcrições de arranjos que ele fez para “O pessoal da Velha Guarda”, programa de
Almirante na Rádio Tupi, que reuniu a nata do choro entre os anos de 1947 e 1952.
Ao mesmo tempo, Bia ataca em outras frentes, cujos acervos estão no IMS: Chiquinha Gonzaga e
Ernesto Nazareth (que ganha em 30 de março um site com partituras e gravações, antecipando as
comemorações do seu aniversário de 150 anos, em 2013). Mas seu grande sonho no instituto é
recuperar a discografia brasileira em 78 RPM, que é de mais de 30 mil itens.
— É trabalho para várias gerações... — reconhece.
CORREIO BRAZILIENSE -
Confraria musical
A cantora Maria Gadú lança o segundo disco, Mais uma página, com canções autorais e regravações
de Beto Guedes, Miltinho Edilberto e Caetano Veloso
Maíra de Deus Brito
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Maria Gadú divide parcerias com Ana Carolina e Edu Krieger
Maria Gadú definiu seu segundo álbum de estúdio como “um disco de banda”. Tanto que é possível
vê-la com Cesinha (bateria), Fernando Caneca (guitarra e violão tenor), Doga (percussão), Gastão
Villeroy (baixo) e Maycon (teclados) na autoria de algumas composições e em lugar de destaque nas
fotos do encarte do CD. Em nenhum momento, ela aparece sozinha em Maria Gadú — Mais uma
página. Até no material divulgado pela produção — usando a mesma técnica de Chico Buarque, que
gravou um vídeo onde revela detalhes do processo de criação — , o sexteto está lá unido.
Com 14 faixas, oito autorais, o disco pede passagem com No pé do vento, que faz referência ao título
do CD nos versos “Mais uma página do mesmo livro/Mais uma parte da mesma história”. A música de
Gadú com Edu Krieger é uma das quatro parcerias do novo trabalho da cantora paulista, que divide
canções com o norte-americano Jesse Harris (Like a rose e Long long time, a segunda também com
Maycon Ananias); e Ana Carolina e Chiara Civello (Reis). “Conheço a Ana há muito tempo e ela
sempre falava que tínhamos que fazer uma música juntas. Um dia, saindo do show do Paul
McCartney, fizemos Reis. Ela nasceu do jeito mais despretensioso possível”, diz Gadú.
Produzido por Rodrigo Vidal, o CD ainda traz músicas do amigo Dani Black (Axé acappella e Linha
tênue), as regravações Amor de índio (Ronaldo Bastos/Beto Guedes) e Anjo de guarda noturno
(Miltinho Edilberto) e participações especiais. O pernambucano Lenine dá uma canja em Quem?, e A
valsa ganha o sotaque luso do cantor Marco Rodrigues e a guitarra portuguesa de José Manoel Neto.
“Depois que compus Quem?, lembrei-me na hora do Lenine. Fiz o convite para ele cantar comigo,
mas fui muito cara de pau! Tive muita audácia e ele topou!”, conta, rindo.
Presente de Caetano
Já que Mais uma página é um encontro de amigos, Caetano Veloso não poderia ficar de fora. O
cantor baiano foi lembrado na sexta faixa do CD, Oração ao tempo. “Gravar essa música foi um
convite-presente. Sempre gostei dela e, quando o Jayme Monjardim me chamou para gravá-la,
respondi: 'Quero! Quero muito!'. Na verdade, eu gravaria qualquer uma do Caetano", derrete-se Gadú
ao falar sobre a canção, tema de abertura da novela A vida da gente (TV Globo).
O compositor de Alegria alegria também está em Estranho natural. A composição da cantora — trilha
do filme Teus olhos meus, de Caio Sóh — narra poeticamente o encontro dela com Caetano, que
resultou na gravação do CD/DVD Multishow Ao Vivo. “Conto como Caetano é um estranho natural
para mim. Ele é um músico que escuto desde quando estava na barriga da minha mãe e de quem,
agora, estou muito próxima”, explica.
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LIVROS E LITERATURA
ESTADO DE MINAS
- Nani usa humor para conquistar a garotada
Cartunista mineiro lança novo livro infantil, A moedinha que queria comprar a felicidade
Conhecido como cartunista, o mineiro Nani – que também escreveu textos para os programas
humorísticos de TV Chico Anysio, Casseta e planeta urgente, Sai de baixo e atualmente integra a
equipe de Zorra total – não se limita a fazer graça para os adultos. Aos 60 anos, ele tem um xodó:
lançar livros para as crianças.
O mais recente é A moedinha que queria comprar a felicidade (Editora Melhoramentos), uma espécie
de guia introdutório infantil no mundo das finanças. Nani conta a história do garoto às voltas com o
dinheiro e seu poder de vender, de dar lucro, de impor prejuízo e, sobretudo, de dividir o planeta entre
ricos e pobres.
“As pessoas me conhecem como cartunista, mas também sou escritor”, avisa Nani, que já lançou
para a criançada, entre outros títulos, A menina que acordava as palavras (Melhoramentos),
Abecedário hilário (Abacatte Editorial) e Gabriel da Conceição Bicicleta (Abacatte).
Nani fisga o pequeno leitor usando o que sabe fazer melhor: humor. Em A menina que acordava as
palavras, deixa a criançada intrigada com vocábulos esquisitos como iníquo, desdém, plúmbeo e
meditabundo.
Em A moedinha..., ele inventou uma corrida de cachorros, em pleno jóquei, para falar de apostas e
prêmios. Ao abordar o tema investimento, deixou o economês de lado e criou história divertida para
explicar a origem do lucrativo cachorro-quente.
Enquanto os casos se sucedem, a protagonista – a tal moedinha do título – se mete em várias
confusões, passando pelos bolsos de um rei, de um malandro, de um apostador e, claro, de um
ladrão.
Estado de Minas - Achados e perdidos encanta pela qualidade gráfica e canções que complementam
uma arte impecável
Projeto foi financiado por crowfunding, sistema colaborativo via internet
Quem marcou presença no Festival Internacional de Quadrinhos deste ano, realizado em novembro,
com certeza teve dificuldades diante do estande do grupo Pandemônio, que reúne artistas de Belo
Horizonte. Lotado e quente, o cubículo estava tomado de pessoas que queriam, mais do que
conhecer novos desenhistas, buscar um exemplar da graphic novel Achados e perdidos. Exaustos e
felizes, os três autores da HQ se esmeravam em autografar as cópias dos futuros leitores, que
bancaram, via crowdfunding, um financiamento colaborativo pela internet, a obra independente que
conta a história de um menino que acorda um dia com um buraco negro na barriga.
A iniciativa de publicar só com a ajuda das pessoas já rendia elogios para os autores sem que
ninguém ainda tivesse lido de fato a história. Mas depois que sites especializados em quadrinhos,
críticos como Sidney Gusman e editoras como a Cia. das Letras destacaram a impressão notável, a
trama envolvente e a qualidade geral de Achados e perdidos, não é exagero dizer que se trata de um
marco nos quadrinhos independentes brasileiros. As 212 páginas da publicação trazem uma história
madura, de traços contemporâneos firmes e cheios de personalidade. E de quebra, ainda é
acompanhado de um CD para criar uma trilha sonora para os quadrinhos.
A repercussão tem impressionado os autores. “A gente não esperava tanto”, confessa Eduardo
Damasceno, um dos desenhistas e redatores da história. “A gente confiava no nosso livro e por isso
esperava que as pessoas fossem gostar, mas elas estão gostando muito mais do que se imaginou”,
acrescenta Luís Felipe Garrocho, que também criou e desenhou a graphic novel. Completa o trio de
autores o cantor Bruno Ito, que ficou responsável pelo disco que acompanha o livro.
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Parcerias Antes mesmo de existir, Achados e perdidos já causava uma expectativa graças ao
trabalho que a dupla de desenhistas faz no site Quadrinhos Rasos (www.quadrinhosrasos.com). Lá,
eles aproveitam letras de músicas como ponto de partida para contar histórias. “Começamos esse
projeto na internet simplesmente porque queríamos fazer quadrinhos. Não imaginávamos que alguém
ia ler”, explica Luís Felipe. Ao contrário da expectativa, a ideia atraiu vários leitores. Quando
descobriram que iriam precisar de R$ 25 mil para a publicação, os autores não tiveram dúvidas e
pediram ajuda via crowdfunding, um financiamento colaborativo pela internet.
“Foi uma aposta nossa esse valor alto, e acho que se não funcionasse ia pegar mal para a tentativa
de fazer quadrinhos nesse sistema colaborativo”, revela Luís Felipe. Mas a aposta deu mais do que
certo: cerca de 570 pessoas apoiaram e a meta inicial foi superada, com mais de R$ 30 mil
levantados. “A cada R$ 100 que entravam, o coração voltava a bater um pouco”, brinca Eduardo
Damasceno. O dinheiro extra garantiu não só a publicação do livro, mas também de todos os brindes
que o acompanhavam, como adesivos, bottons e camisetas.
Para ninguém se iludir com falsas expectativas, os autores se preocuparam em mostrar exatamente
como era o trabalho. “Colocamos o primeiro capítulo na internet justamente para quem nos apoiava
ver o que estávamos fazendo e saberem bem o que estavam pagando”, explica Luís Felipe,
revelando que desde o início a busca pela qualidade foi uma obsessão dos autores. “A gente queria
fazer o livro mais bonito do mundo, um negócio meio megalomaníaco mesmo. Fazer uma coisa difícil
mesmo, e ainda pôr um CD junto, para complicar ainda mais.”
Tanto trabalho, segundo eles, valeu a pena. Principalmente agora que o livro está chegando à casa
das pessoas que ajudaram financeiramente a obra, do Piauí ao Acre e Roraima, e até de outros
países, como Portugal, Estados Unidos e Inglaterra. “Teve uma menina que disse se sentiu orgulhosa
do resultado. Respondi que ela realmente foi fundamental”, conta Damasceno. “É muito bom ver as
pessoas gostando de ter nas mãos uma coisa que elas de fato ajudaram a fazer. É um elogio que é
bom de receber também”, completa Luís Felipe.
Independência
Achados e perdidos talvez seja o melhor exemplo de quadrinhos independentes, mas com certeza
não é o único. Com outros parceiros, Eduardo Damasceno e Luís Felipe criaram o grupo
Pandemônio, que publicou também trabalhos de Ricardo Tokumoto, Lu Caffagi e Daniel Pinheiro
Lima. Para eles, o crescimento da cena no Brasil deve muito ao apoio desta edição do FIQ. “Foi muito
grande, e ao mesmo tempo muito organizado”, elogia Eduardo Damasceno. “No nosso caso, foi uma
prova de confiança e pressão ao mesmo tempo”, conta.
Damasceno exalta também a oportunidade de apresentar seu trabalho para um público de 148 mil
pessoas, número que faz do FIQ o maior evento dedicado aos quadrinhos da América, superando
inclusive a tradicional San Diego Comic Con, que acontece desde 1970, nos Estados Unidos. Apesar
disso, os autores evitam levantar bandeiras. “Teve gente que falou que nós provamos que não
precisa de editora, e não é isso. Se provamos alguma coisa foi que existem alternativas que
possibilitam a publicação. Não somos contra editoras, sabemos que as pessoas que trabalham nelas
amam quadrinhos como todos nós”, argumenta Luís Felipe.
A dupla não descarta trabalhar com uma grande editora no futuro. “Até por ser formado em produção
editorial, estaria mentido se falasse que não pensamos em um contato com uma editora grande. Mas
não é fundamental, porque já fazemos as coisas que gostamos de fazer do nosso jeito”, pondera
Eduardo Damasceno. “Uma hora isso vai dar algum retorno financeiro”, aposta.
Junto e misturado
Um dos diferenciais de Achados e perdidos é o CD que acompanha o livro. A ideia surgiu da vontade
da dupla de subverter o que fazem na internet: ao invés de quadrinhos inspirados por músicas,
queriam experimentar música inspirada por quadrinhos. “Não pensei muito como ia funcionar, mas
adorei a ideia e topei na hora”, recorda o compositor Bruno Ito, que nem sequer lia quadrinhos.
Apesar de morar em Roraima desde 2010, ele garante que a distância não foi impedimento.
“Tínhamos uma pasta compartilhada e todo dia ia trocando as novidades com eles. Se eu estivesse
em BH talvez não funcionasse tão bem”, avalia o músico.
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No começo da parceria, a dupla deixou Ito criar à vontade. Mas com o avanço da obra, passou a
interferir cada vez mais na criação do músico. “O Bruno pedia que a gente desse pitaco nas músicas,
isso fazia ele se sentir parte do livro. No final a gente estava falando sem parar, nossa diversão era
dar uma bagunça para ele criar uma música em cima, e ele sempre conseguia”, detalha Luís Felipe.
“A coisa fluiu bem e era tão funcional que parecia que ele estava aqui do lado”, garante Eduardo
Damasceno.
“A música mudou totalmente a percepção da história e eu não achei que isso fosse possível”, admite
Bruno Ito. O resultado foi que o nome dele acabou aparecendo como um dos autores de Achados e
perdidos. “São duas artes distintas que funcionam bem separadamente e que, juntas, são uma
experiência completa”, avalia. “Quando a gente vê que funcionou junto, se pergunta quais outras
artes dariam certo unidas. É muito mais interessante a gente parar de segregar e passar a misturar”,
finaliza.
ESTADO DE MINAS
- Reedições de Drummond e Joyce são destaques em 2012
Datas comemorativas alimentam mercado editorial com reedições de clássicos da literatura
Jorge Amado e Nelson Rodrigues fariam 100 anos em 2012. Carlos Drummond de Andrade, 110.
James Joyce, 130 - mas nesse caso, mais importante que a data do aniversário é que 2012
representa o primeiro ano desde a entrada de sua obra em domínio público, ou seja, qualquer editora
interessada na obra do irlandês poderá ter sua própria edição sem passar pelo crivo, ou pelas garras,
da família do escritor a partir do ano novo. Essas datas redondas são sempre um bom motivo para as
editoras reavivarem a obra de seus autores, e os leitores podem esperar novidades para o ano que
vem.
De Joyce, o selo Penguin-Companhia das Letras lança, em abril, uma nova tradução de Ulisses feita
por Caetano Galindo. Já a Iluminuras publica o infantil O Gato E O Diabo, com tradução da
pesquisadora e escritora Dirce Waltrick do Amarante, e De Santos E Sábios, seleção de escritos
estéticos e políticos organizados por Sérgio Medeiros e por Dirce. Mais misteriosa é a programação
de lançamentos da Nova Fronteira, que edita Nelson Rodrigues. Ela garante que publicará textos
inéditos do autor, releituras de suas peças e edições populares, mas não dá detalhes.
Drummond ressurge nas livrarias com nova roupagem também pela Companhia das Letras, que
ganhou, em 2011, o direito de publicar toda a obra do poeta mineiro. A Rosa do Povo, o primeiro,
chega em março, em tempo da homenagem da 10ª Festa Literária Internacional de Paraty, marcada
para julho. Ainda em 2012, outros três serão lançados.
Quando a obra de um autor muda de editora é natural que ela ganhe revisão e novo projeto gráfico. É
isso o que também vai acontecer com Mario Quintana, antes no catálogo da Globo e agora no da
Alfaguara. Os primeiros cinco títulos, entre os quais uma coletânea inédita, serão publicados no
segundo semestre. Vale também para a obra de Pedro Nava, em novas edições da Companhia das
Letras a partir de fevereiro. E para Cecília Meireles (38 livros em 40 meses), se nada mais der errado
entre seus herdeiros, Manuel Bandeira (23 reedições e 13 inéditos) e Orígenes Lessa (34 antigos e 7
novos), todos agora no catálogo da Global.
Os 90 anos da Semana de Arte Moderna também serão lembrados em livro. Um deles será 1922, a
Semana, do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, que sai pela Companhia das Letras.
Mas nem só de datas comemorativas e reedições vive o mercado editorial brasileiro - que, a
propósito, está deixando passar o bicentenário de Charles Dickens. Em 2012, serão lançados livros
para todos os gostos e se a produção continuar em crescimento, como nos últimos anos de acordo
com pesquisa feita pela Fipe, os leitores podem esperar pelo menos 18 mil novos títulos (e 36 mil
reedições) no Brasil. Isso sem contar os e-books.
Para quem gosta de biografia e livros de memória, a dica é preparar o bolso, já que o gênero é um
dos mais frequentes nas listas das editoras. A L? de Led Zeppelin e Eric Clapton, por Chris Welsh; de
Keith Richards, escrita por Victor Bockris; dos Beatles, por Terry Burrows; e do Nirvana, por Gillian
Gaar. Um livro sobre os 40 anos do Queen também está nos planos. A Melhoramentos vai editar um
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livro de Paul McCartney, mas sem relação com sua história ou com música. Sem título definido,
tratará sobre culinária vegetariana. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
ESTADO DE MINAS
- Livro traz pérolas da vida de Chico Buarque
Almanaque Para seguir minha vida é composto de mais de 100 verbetes sobre a trrajetória do cantor
Chico Buarque foi reprovado no exame da Ordem dos Músicos em julho de 1967. Segundo os
examinadores, não sabia solfejar. Só restava ao compositor cantar em programas de Iê-iê-iê. Pela lei,
sem aprovação da ordem, ele estaria impedido de cantar em programas de MPB. Curiosamente, no
ano anterior, Chico tentara convencer Roberto Carlos, o rei do Iê-iê-iê, a migrar para o lado da música
brasileira e deixar de lado as guitarras. O compositor também gostava de escrever textos para os
encartes dos discos, mas abandonou o hábito ao longo do tempo. E não, Chico Buarque não é tímido,
é arredio mesmo, não gosta de assédio e ponto. Foi em uma coleção de revistas e jornais da tia
Cecília, irmã de Sérgio Buarque de Hollanda, pai do músico, que a jornalista Regina Zappa encontrou
a maior parte dos mais de 100 verbetes de Para seguir minha jornada, o almanaque que pretende
percorrer a vida de Chico Buarque em pílulas independentes.
Cecília colecionava todas as publicações sobre o sobrinho e mantinha em casa uma fonte de histórias
que Regina tratou de organizar. Para seguir minha jornada é um livro de pesquisa. Além do arquivo
da tia, a jornalista mergulhou nas coleções do próprio Chico, aproveitou entrevistas feitas para outros
três livros sobre o compositor e compilou tudo em um texto.
Originalmente, o livro consistia em uma narrativa única e corrida, mas a opção gráfica se tornou
interessante diante da quantidade de imagens encontradas na pesquisa e o volume virou uma
enciclopédia. “A opção gráfica foi uma coisa que veio depois, ele foi concebido mais ou menos como
um almanaque que tivesse um texto como fio condutor, um texto-base com a trajetória do Chico e
verbetes que fossem explicando e contando coisas sobre pessoas e acontecimentos que tiveram
alguma ligação com a trajetória dele”, avisa Regina.
Repetições são uma das marcas do livro. Muitas histórias aparecem em vários verbetes e a autora
não hesita em recontar a filiação do compositor em cada momento em que se refere à família ou de
repassar várias vezes alguns acontecimentos, como a reprodução das impressões da crítica diante
da música de Morte e vida severina ou as comparações com Guimarães Rosa, quando Chico
inventou a palavra “penseiro” para Pedro pedreiro. “Imaginei que os verbetes pudessem ser lidos de
forma independente. Sei que tem coisas repetidas propositadamente ao longo do livro por conta
disso.”
O mais interessante do almanaque de Regina está na própria fala de Chico. O trabalho de pesquisa
permitiu resgatar entrevistas das quatro últimas décadas, e é por essas frases que o leitor
acompanha boa parte do desenvolvimento da música brasileira no século 20. Um dos últimos
verbetes ajuda a dar a medida cronológica e do amadurecimento do próprio Chico. Dedicado aos
vícios, um pequeno texto no fim do livro narra a fissura do compositor pelo uísque e pelo cigarro nos
anos 1960, pela vodca e caipirinha nos 1970, o abandono dos destilados, nos 1980, e a chegada do
vinho nos 1990. Em entrevista concedida à revista Fatos e fotos, em 1967, Chico fala do prazer
encontrado no tabagismo. Em outra, para uma edição da Manchete, de 1980, revela gostar de beber,
mas evita a apologia. Já na entrevista à Trip, de maio de 2006, conta ter fumado maconha e
experimentado cocaína. O trecho é um exemplo de como a trajetória do artista é aos poucos
resumida nas entrevistas e nos verbetes.
Canções
Regina escreveu três livros sobre o compositor antes de se debruçar sobre o almanaque. Chico
Buarque — Cidade submersa reúne fotos em que Bruno Veiga interpreta 30 canções comentadas
pelo autor e Chico Buarque faz parte da coleção Perfis do Rio. Em Cancioneiro songbook Chico
Buarque Biografia, Regina conta de forma cronológica e tradicional a história do biografado. A
novidade em Para seguir minha jornada está na quantidade de periódicos de época aos quais a
autora teve acesso. “Fiz questão de ser um livro de pesquisa, porque entrevistas com ele eu fiz
muitas ao longo desses três livros. Mas eu o consultei algumas vezes, ele me contou algumas
histórias.” Ao final do livro, o material foi digitalizado e está disponível no Instituto Tom Jobim,
organizado e classificado para quem quiser consultar, inclusive, on-line.
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Entre coisas que Regina nunca ouvira estava a versão de Chico para o show que todo mundo atribuía
ao produtor André Midani. Não foi dele a ideia de Caetano e Chico e sim de Roni Berbert de Castro,
amigo de Chico e dono de uma loja de discos em Salvador, que queria dar um fim ao circo em torno
da rivalidade entre os dois compositores. Midani se apropriou da ideia e produziu o encontro no
Teatro Castro Alves, em novembro de 1972. Outra lembrança que andava guardada foi a participação
no programa do Chacrinha. “E eu não lembrava e nunca tinha lido de o Chico ter ido ao Chacrinha,
então ele me escreveu contando como foi. Ele tem uma memória muito boa, corrigiu datas e
informações, a gente foi trocando figurinha por e-mail, mas entrevista formalmente não fiz nenhuma
para este livro.”
O livro
Não é que tenha só novidades, porque tem alguma, mas não é tudo. Tem coisas que ficaram no
passado e que eu trouxe de volta para ajudar a compor o quadro da história dele e entendê-lo melhor.
Tem coisas muito singelas que a maioria das pessoas não lembra mais.
Timidez
O Chico não é tímido não, ele é engraçado, espirituoso, fala bastante. É muito reservado, o que é
diferente. Ele ficou muito famoso muito cedo, com 22 anos tinha feito A banda e virou uma
celebridade, não podia sair na rua, era um pop star. A essa coisa de celebridade instantânea, ele
reagiu se protegendo. Mas a própria Maria Amélia (mãe) dizia que Chico não era nada tímido, era o
mais extrovertido dos irmãos, o mais bagunceiro. Então acho que não é timidez, é uma proteção, uma
reserva. Ele diz que a imprensa elege uma época para falar mal dele, outra época para falar bem e
também distorcer coisas ou falar da família como algumas revistas já falaram. São coisas que
deixaram ele um pouco com o pé atrás. É o que eu acho, não é nada que ele já tenha dito para mim.
Ele me disse uma vez que ele lia o jornal de capacete de tanta porrada. Ele fala bastante e às vezes
elege um veículo. Mas se puder não falar acho que ele prefere.
Relação com Chico
Começou quando fiz uma entrevista com ele sobre o disco As cidades. Acho que ele gostou da
entrevista. Logo depois a editora Relume Dumará me pediu para escolher uma pessoa para produzir
um perfil. Eu tinha acabado de fazer essa entrevista e falei em fazer o perfil do Chico. Aí eles falaram
que ia ser impossível, que o Chico não ia topar e tal. Telefonei para ele e deixei um recado falando
que queria escrever o livro. No dia seguinte ele me ligou, perguntou como era o livro e fui falando. Ele
não falava nada e fui ficando meio aflita, achando que estava achando aquilo tudo um horror. Aí
chegou uma hora em que parei e perguntei: “Então, o que você acha?”. Ele achou ótimo. Comecei a
fazer as entrevistas para o livro, saía caminhando com ele, fiz muitas entrevistas, fui ver o show em
outros lugares, conversei com toda a família, com os amigos, parceiros, outros artistas e aí fiz esse
livro. A partir daí a gente estabeleceu uma relação de confiança, de respeito.
Trechos de entrevistas de Chico Buarque reproduzidas em Para seguir minha jornada (Regina Zappa)
"Eu não me sentia arquiteto, ou planejador. Não estava projetando, mas criando as cidades com
problemas e coisas já funcionando. Não era urbanismo. Tinha a ver com fantasia, com a história e a
realidade. Minhas cidades tinham ponto de ônibus, tinham cinemas…"
"A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o
anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do
Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca
juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu
com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes
de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.
Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e saí
batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar!
Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele
casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei
geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia,
que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.
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Depois larguei arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que
parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar."
"Eu não sou tímido na minha vida normal. Mas não acho que seja normal subir no palco e cantar. Ali,
realmente, travo um pouco. Não sei como vai ser o próximo show, espero não sofrer. Eu gosto dos
ensaios, gosto de viajar com os músicos, essa coisa toda é muito boa, a gente se diverte muito. Mas
entrar no palco, uma estria, quando penso agora fico um pouquinho apreensivo. Às vezes, a boca fica
seca; Sei lá, acontece mesmo de esquecer tudo, de dar tudo errado. Mas ao longo da temporada vai
melhorando. (Entrevista a Fernando Eichenberg na revista Gol Linhas Aéreas Inteligentes, 2006)
"Eu gosto é de compor. Nunca estive à vontade no palco. Não é por timidez. É vergonha mesmo.
Ando desengonçado e às vezes fico com cara de idiota (…). Acho que quem vai aos meus shows não
fica esperando uma grande performance, um grande cantor. É um compositor que canta. (Vídeo do
site de lançamento do disco Chico, 2011)
Este Mundo é meu
Garotos do Morro do Papagaio fotografam moradores da comunidade e participam de mostra na
Biblioteca Pública Estadual
Preste atenção nesta exposição: Meu morro é assim, em cartaz na Biblioteca Pública Estadual. Traz
retratos de moradores do Morro do Papagaio, em Belo Horizonte, e a crônica do cotidiano local feitos
por adolescentes de 13 a 16 anos, alunos de oficinas do projeto Olhar coletivo.
“As imagens vieram de jovens talentos, gente que pretende fazer fotografia, tem olhar apurado e
fotografa com o coração”, avisa Jorge Quintão, um dos coordenadores do projeto. São eles: Ana
Carolina, Ariel Francis, Carlos Eduardo, Carolaine, Cristiano Nascimento, Dayane Ribeiro, Gabriel
Nascimento, Igor Vieira, João Paulo Almeida, Júlio César, Júnio Rodrigues, Mariane Ribeiro e Mateus
Guedes.
As fotos surgiram de oficina voltada para o diálogo entre literatura e fotografia, ministrada na
Biblioteca Pública Estadual, que pôs vários livros à disposição do Olhar coletivo. O escolhido foi
Morro do Papagaio, da jornalista Márcia Cruz, moradora do Aglomerado Santa Lúcia. “A exposição é
uma homenagem a ela”, informa Jorge.
A escolha veio do fato de o livro abordar o cotidiano local com riqueza de detalhes. Jorge conta que
isso incentivou a garotada a valorizar o local onde mora. O resultado foram fotos muito bonitas, sem
estereótipos, expressivas em todos os aspectos. “Em preto e branco, elas ganharam muita poesia”,
garante o coordenador da oficina.
O projeto surgiu em 2009, quando a professora de arte Aline Guerra descobriu câmaras guardadas
na escola em que trabalhava. Pediu à diretora para usá-las e chamou Jorge, seu marido, para as
oficinas com os jovens.
“Foi desafiador. Aos poucos, os resultados foram aparecendo, pois os meninos têm predisposição
para mexer em equipamentos que lhes despertam a curiosidade”, conta. Ano passado, um grupo
pediu para se aprimorar e foi atendido: ganhou aulas especiais aos sábados.
“O mais saboroso são as descobertas que a fotografia proporciona. Nós, que ministramos as oficinas,
vemos talentos surgirem, os alunos fazendo fotografia e se descobrindo. Há também a descoberta do
local e das pessoas de onde eles moram. Aliado à autoestima, isso acaba transformando todo o
contexto”, conta Jorge Quintão. A turma tem outros trabalhos e já foi convidada para nova mostra.
Entre os projetos estão um documentário, em foto e vídeo, sobre o Morro do Papagaio.
No Guri
Integrantes do projeto Olhar coletivo começam a ganhar prêmios. Em 2009 e 2010 foram vencedores
do concurso de fotografia do caderno Guri, do Estado de Minas. Este ano, conquistaram o segundo e
o terceiro lugares no evento. Quem quiser conhecer o projeto, os trabalhos ou doar câmaras para os
participantes pode acessar o site www.olharcoletivo.org.
ESTADO DE MINAS - Maria Beltrão lança O alto sertão – Anotações
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O sertão sempre desafiou a inteligência brasileira. De Euclides da Cunha a Guimarães Rosa,
passando por Afonso Arinos, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e muitos outros escritores, a região
vem sendo inspiração para um mergulho revelador na realidade brasileira. Além da literatura, as artes
visuais, o teatro e o cinema sempre tiveram no sertão um de seus pontos de inflexão, um lugar
metafísico que é fonte de sentido. O que a arte indica como possibilidade (em certo sentido a ideia de
povo brasileiro vem da saga de Canudos narrada por Euclides da Cunha), a ciência busca
compreender com seu trabalho cuidadoso e pertinaz.
No caso do sertão, há uma tradição de estudos arqueológicos que tem contribuído bastante para dar
ao tema um olhar mais abrangente. Nesse grupo se destaca o trabalho de Maria Beltrão, que há 30
anos vem se debruçando sobre o estudo de diversos aspectos do sertão da Bahia. E é dessa
trajetória científica rica que brota o livro O alto sertão – Anotações, lançado pela Casa da Palavra. A
inspiração confessada é exatamente a obra de Euclides da Cunha, que tem sua estrutura reproduzida
nas três partes do livro da arqueóloga. Se em Os sertões a obra se divide nos capítulos “A terra”, “O
homem” e “A luta”, em O alto sertão o leitor encontra “Cenários da natureza”, “A saga humana” e
“Mergulho interior”.
A carreira científica que deu a Maria Beltrão o reconhecimento de instituições de pesquisa brasileiras
e internacionais não foi traduzida no livro em erudição e linguagem técnica. Na verdade, com prosa
quase confessional, ela vai descrevendo sua aproximação com o sertão baiano, traduzindo sua
experiência e conhecimento em texto saboroso, ilustrado com fotos, obras de arte popular, mapas e
diagramas que fazem do livro um volume em que a sofisticação não compete com a capacidade de
comunicação.
A autora faz questão, o tempo todo, de humanizar seu objeto de estudo. Para ela, tanto são
importantes informações referentes a pesquisas acadêmicas como extratos da sabedoria popular, da
cultura local, dos hábitos e costumes da gente do sertão. Um cientista é feito em medidas iguais de
espanto e curiosidade. Maria Beltrão mostra que seu interesse pelo sertão é fruto dessas duas
inclinações da alma. O alto sertão é um livro de quem se sente encantado pelo que vai conhecendo
com sua ciência e afeto.
Interessa tanto à pesquisadora as descobertas de profissionais da ciência como o linguajar e as
crenças das pessoas mais simples. Tudo é sertão. Essa abertura ao saber não especializado, como
reconhece a autora, muitas vezes pode significar uma dissonância em relação ao conhecimento
codificado pela academia. Entra em cena então, numa posição ao mesmo tempo de humildade e
diálogo, a defesa da ciência como um saber que contesta. “Se não fosse assim, ela fatalmente se
estagnaria”, provoca Maria Beltrão.
No primeiro capítulo, “Cenários da natureza”, a autora trata de temas como os ciclos da seca, o nome
e os sinais das chuvas (com um curioso poema, o “ABC da chuva-seca”), a pré-história da região e o
fenômeno da grande lua. Em “A saga humana”, Maria Beltrão retoma elementos de sua formação em
antropologia para explicar seu interesse pelo homem brasileiro, recupera elementos históricos da
conquista do sertão, apresenta o cotidiano do homem da região há 300 mil anos, demonstra aspectos
da sabedoria do sertanejo em vários campos do conhecimento, conta histórias sobre Lampião e Maria
Bonita. No capítulo final, “Mergulho interior”, a autora coloca em primeiro plano os aspectos culturais
do sertão, como a literatura de cordel, as práticas religiosas, os mitos e cosmologias que sobrevivem
ao tempo. Maria Beltrão destaca ainda personagens históricos como Lamarca e Luís Carlos Prestes,
heróis de outros tempos, que também sobrevivem no imaginário popular.
Doutora em arqueologia e geologia, Maria Beltrão tem projetado o Brasil com suas descobertas
acerca do patrimônio cultural, natural e imaterial. Durante 18 anos foi conselheira do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, representou o Brasil na Associação Internacional de
Paleontologia Humana, publicou 10 livros e mais de 400 artigos. Esteve envolvida na descoberta da
mais antiga ossada humana do Brasil, datada de 11 mil anos, em trabalho com equipe de
pesquisadores da França e do Brasil. Maria Beltrão é também conhecida como defensora da teoria da
convergência cultural dos continentes, segundo a qual teria existido um intercâmbio de populações
intercontinentais. Há 30 anos ela coordena o Projeto Central que estuda a região do Rio São
Francisco, no interior da Bahia.
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Com essas credenciais e com o desejo de levar sua experiência aos leitores não especializados,
Maria Beltrão realizou uma obra imprescindível, que traz em medida equilibrada a informação
científica, a emoção e a memória. Não é por acaso que a pesquisadora e cientista abre cada capítulo
como um poema. Nos confins do sertão, a linguagem é uma só, como ensinou Guimarães Rosa. A
boa ciência precisa ter poesia.
FOLHA DE S. PAULO –
Evolução em revista
Megalivro revê a história do design gráfico no país, do século 19 à era moderna
Designers engajados, como Elifas Andreato, criaram capas de impacto, como a do jornal "Opinião"
(ABI/Divulgação)
SILAS MARTÍ, DE SÃO PAULO
(26/01/12) Desde que as primeiras máquinas de impressão chegaram ao Brasil nos porões da
esquadra de dom João 6º, há mais de 200 anos, o design gráfico não parou no país.
Um livro que chega agora às livrarias documenta pela primeira vez toda a produção de jornais,
revistas, capas de livro, discos, marcas e cartazes nos últimos dois séculos.
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"Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil" (ed. Cosac Naify) entrega justo isso -uma cronologia
alentada do que se fez nessa esfera por ilustradores como J. Carlos (1884-1950) e artistas como Di
Cavalcanti (1897-1976) e Lasar Segall (1891-1957).
Nos dez capítulos do livro, há trabalhos que vão da primeira década do século 19 ao final do século
passado, da era da impressão de chumbo à era dos computadores e montagens fotográficas.
"Esse livro muda um pouco a perspectiva", diz Elaine Ramos, uma das organizadoras do volume.
"Ajuda a desmistificar a noção de design."
Isso porque, na amplidão da pesquisa, a linguagem modernista e construtiva dos anos 50, até hoje
tida como sinônimo da produção gráfica no país, fica reservada a seu contexto histórico, cedendo
espaço a manifestações de outras vertentes até hoje quase despercebidas.
ALÉM DO MODERNO
"Tem coisas lindas, de encher os olhos, que eram design no sentido estrito do termo", diz Chico
Homem de Melo, outro organizador do livro. "Embora a linhagem modernista tenha obras de grande
envergadura, ela dificultou que a gente olhasse para outras coisas, foi um dos efeitos colaterais dessa
espécie de hegemonia moderna."
Fora dessa chave construtiva, está uma produção alinhada com o pensamento gráfico mais
sofisticado dos anos 20, em que art nouveau e art déco tomaram Europa e Estados Unidos de
assalto.
"Para Todos", "O Malho", "Pr'a Você", "O Arlequim", "Sports" e "Revista da Cidade" são fortes
exemplos de publicações em sintonia com a escola estética que despontou na belle époque e nos
chamados anos loucos de Paris, no começo do século 20.
Mas, mesmo mergulhadas numa roupagem europeia, as revistas brasileiras da época mantiveram um
padrão gráfico considerado sem igual, imortalizado pelas melindrosas de J. Carlos estampadas nas
capas, surfando ondas gigantes ou mergulhando em turbilhões lisérgicos de cores.
"É impressionante pegar uma revista como a 'Para Todos' nas mãos", diz Homem de Melo. "Foi um
título revolucionário e muito inovador."
Do mesmo J. Carlos que estava por trás da "Para Todos", "O Malho" lançou moda já na virada para o
século 20 com uma identidade visual mutante, que fazia de cada edição um exemplar diferente do
anterior, com jogos cromáticos e ilustrações ousadas.
Numa delas, em pegada metalinguística, um ilustrador aparece na capa desenhando aquela mesma
edição. Noutra, um personagem segura a publicação com seu próprio rosto na capa.
Depois de um hiato criativo nos anos 40, assombrados pela Segunda Guerra, a produção gráfica
retomou o vigor com a linguagem construtivista dos anos 50 e na explosão desse repertório com a
contracultura dos 60 e 70.
Foi a época de revistas como "Senhor" e "Realidade", a primeira dominada pelo experimentalismo
dos artistas Carlos Scliar (1920-2001) e Glauco Rodrigues (1929-2004); a segunda, uma ponte para a
produção gráfica moderna, num sofisticado arranjo de textos e fotografias.
Homem de Melo vê nesses trabalhos o germe do que se produz no design gráfico do país hoje, peças
que sobreviveram aos anos de chumbo da ditadura e à produção mais fraca dos anos 80.
"Esse livro é um megalevantamento", resume o autor. "E não quer comprovar teses ou defender uma
ou outra linha do design."
FOLHA DE S. PAULO –
Livro é essencial para entender a produção brasileira do século
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Crítica artes plásticas
MARA GAMA, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
(26/01/12) Ser o mais abrangente compêndio de design gráfico sobre o país já faz do livro de Chico
Homem de Melo e Elaine Ramos um trabalho essencial para quem se interessa pela cultura visual
brasileira.
Mas, sobre uma pesquisa extensiva -cujos detalhes estão no capítulo "Crônica do Processo de
Trabalho"-, houve uma seleção criteriosa nas qualidades expressivas de cada peça, aberta à
contaminação dos contextos técnicos e históricos.
Como resultado, o livro, pensado inicialmente como apêndice da prestigiosa "História do Design
Gráfico", de Philip Meggs e Alston Purvis, tem mais vocação para atingir o público não especializado
do que o seu modelo original, tanto pela abordagem cultural como pelos textos analíticos, concisos e
leves.
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Revistas, livros, jornais, cartazes, capas de disco, sinais, selos e cédulas foram os grandes grupos de
peças escolhidas para contar a história da criação gráfica no país a partir da vinda da família real
portuguesa e a consequente autorização para impressão local, em 1808.
Incluir a produção anterior à difusão do conceito de design -que se dá nos anos 1950 e 1960- sinaliza
uma perspectiva aberta. A mesma adotada por Rafael Cardoso em "O Design Brasileiro Antes do
Design - 1870 - 1960", publicado em 2005, também pela Cosac Naify.
CAPAS SATÍRICAS
As 1.500 peças que figuram nesta "Linha do Tempo" são apresentadas com autor, datação e análise
da composição. Dez capítulos panorâmicos exploram a produção de cada período histórico.
Para o público em geral, "Linha do Tempo do Design Gráfico no Brasil" é um saboroso passeio pelos
repertórios de várias gerações. Estão ali desde as capas satíricas de Angelo Agostini para o jornal
"Don Quixote", ainda no século 19, os memoráveis periódicos "O Malho", "A Maçã", "Para Todos", "O
Cruzeiro", e trabalhos de ilustradores como J. Carlos, K. Lixto, Paim, Belmonte, Di Cavalcanti.
Há desde marcas e logotipos dos anos 60, 70 e 80, de Aloisio Magalhães, Alexandre Wollner e
Cauduro e Martino, até famílias de tipos dos anos 1990, como a "Quadrada", de Priscila Farias, e a
"Piercing", de Julio Dui.
Para quem quer estudar o tema, Chico Homem de Melo aponta lacunas de informação que sugerem
bons temas de pesquisa.
O GLOBO -
Dois livros para apreciar a arte gráfica
Cosac Naify lança publicação sobre a evolução do design no país e obra teórica que atualiza debate
sobre forma e função
Catharina Wrede
Chova ou faça sol, todo sábado de manhã o designer paulistano Chico Homem de Melo vai a um
sebo de sua cidade para fuçar raridades. Foi nessas incursões matutinas que garimpou cerca de 30%
das peças presentes no livro “Linha do tempo do design gráfico no Brasil”, um registro maciço da
linguagem visual brasileira do fim do século XIX à década de 1990, com mais de 1,6 mil imagens
distribuídas em 744 páginas, e que acaba de chegar às livrarias pela Cosac Naify. Na mesma
semana, outro lançamento da editora também chama a atenção: “Design para um mundo complexo”,
de Rafael Cardoso.
Panorama da cultura brasileira
Organizado por Chico Homem de Melo, que assina textos e comentários, e pela diretora de arte da
Cosac Naify, Elaine Ramos, responsável pelo projeto gráfico, o projeto de “Linha do tempo do design
gráfico no Brasil” consumiu três anos de pesquisa no mapeamento de livros, revistas, jornais, sinais,
cartazes, discos, selos postais e cédulas.
— A gente não quis fazer uma tábua de conceitos ou categorias para avaliar as peças, porque isso
seria ter um preconceito e impor uma ideia pressuposta — explica Elaine. — Então, o processo foi o
de levantamento. Colocamos as imagens sobre a mesa, comparamos, formamos conjuntos e
analisamos.
A obra é organizada em dez capítulos, sendo o primeiro dedicado ao século XIX, o segundo às duas
primeiras décadas do século XX e os restantes às demais.
— Apesar de não ser nosso objetivo inicial, vimos que o livro, depois de pronto, é também um
panorama da cultura brasileira sob a ótica do design. E nesse ponto, acho que a publicação é
importante para se perceber como o design participa da vida das pessoas — observa Melo, que
também é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
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A apresentação do livro avisa: “Prepare-se para iniciar uma viagem”. E é o que de fato acontece. Ao
folheá-lo, o leitor se depara com inúmeras descobertas e redescobertas, como as capas da revista
pernambucana “P’ra Você” e da popular “O Cruzeiro”, as movimentadas páginas do tabloide
“Raposa”, a fantástica coleção de livros “Museus do Mundo”, as capas dos livros “Pau Brasil”, de
Oswald de Andrade, e “Paulicea desvairada”, de Mario de Andrade, além de ilustrações de Lasar
Segall e Cícero Dias para revistas dos anos 1940, a ousada capa de uma compilação de contos
eróticos de 1977 e o cartaz da Copa do Mundo de 1950.
— O grau de surpresa do livro é impressionante — diz Melo. — Sou designer há mais de 30 anos e
mesmo assim me deparei, ao longo da pesquisa, com várias peças que desconhecia. Acho que muita
gente vai ficar surpreendida com a quantidade de coisas que achamos, que ou são completamente
desconhecidas, ou pouquíssimas pessoas já viram. Ao fazer o livro, esbarramos numa história do
design brasileiro muito mais rica do que eu imaginava.
Diferentemente do megalivro, o pequeno “Design para um mundo complexo”, que tem lançamento na
próxima terçafeira, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema, atualiza a discussão sobre o papel
do design na sociedade através de um vasto estudo teórico.
No livro, Rafael Cardoso — que curiosamente não é designer, e sim historiador da arte — resgata a
discussão iniciada pelo designer americano Victor Papanek em seu emblemático “Design para o
mundo real”, publicado em 1971, que alertava para a perda de sentido do design de matriz
modernista em face de um mundo assolado pela miséria.
Em seu livro, Rafael atualiza a questão apontando que o tal “mundo real” agora passou a ser
envolvido por uma camada de informação e imaterialidade.
— Nossas ideias de design são as mesmas de 1960, onde tudo está ligado àquele clichê de ‘forma
segue função’ — observa o autor. — Isso é uma bobagem absoluta, porque ninguém sabe definir o
que é função. Hoje, com um mundo muito mais virtual do que material, a questão não é a forma, e
sim o significado.
JORNAL DE ANGOLA –
Conto angolano em língua Árabe
30-01-2012
Jomo Fortunato
Carmo Neto secretário-geral da União dos Escritores Angolanos instituição responsável pela tradução
da antologia de contos
Fotografia: JÁ
Está em curso um ambicioso projecto de traduções, pela União dos Escritores Angolanos, que passa
pela versão em inglês, francês, alemão, italiano, incluindo a língua árabe, de títulos de referência da
literatura angolana, concretizando um propósito que visa, fundamentalmente, o diálogo intercultural
entre os países, pela via da literatura.
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Com diversas variantes linguísticas, a língua árabe é falada por 280 milhões de pessoas, é o idioma
oficial de 22 países, está próxima do hebraico e das línguas neo-aramaicas, e é a que possui mais
falantes dentro do tronco linguístico semita.
Embora existam muitos autores angolanos traduzidos, sobretudo nas línguas naturais europeias,
recorde-se o “World of Mestre Tamoda”, de Uanhenga Xitu e a versão francesa de “Quem me dera
ser onda”, de Manuel Rui, e a obra de Pepetela, um dos autores angolanos mais traduzidos, a
intervenção da literatura angolana, no universo da língua árabe, pelo menos enquanto projecto, é
inédita e denota uma intenção ambiciosa da União dos Escritores Angolanos.
As traduções em língua árabe podem ser mais importantes do que possa parecer, porque não
podemos perder de vista que há um substrato africano em toda a cultura mediterrânica, espaço de
influência milenar da cultura árabe, e a divulgação da literatura angolana vai instaurar o reencontro de
culturas que, por sua vez, pode propiciar o surgimento de clássicos universais, porque
desconhecemos qual o impacto da recepção da estética da literatura angolana no universo dos
virtuais leitores do mundo árabe. Sobre a hierarquia das leituras, importa recordar uma entrevista do
ensaísta canadiano Alberto Manguel, concedida no dia 9 de Setembro de 1999 à revista brasileira
“Veja” que, a dado momento, interrogado sobre se “É melhor ler publicações de má qualidade do que
não ler nada?”, o autor de “Uma história da leitura” disse: “não acredito em hierarquias absolutas no
campo da leitura.
Nos países árabes, que valorizavam a filosofia e a poesia em detrimento da ficção, ‘As mil e uma
noites’ eram vistas como literatura barata. No ocidente, porém, o mesmo livro tornou-se um clássico.
A dimensão de uma obra depende também da experiência pessoal de cada um, de quanto a nossa
vida foi transformada por ela.
É um tanto arrogante dizer ‘este é o livro que deve ler e este é o que não deve’. Há obras certas para
diferentes momentos da nossa existência”, argumenta o estudioso de origem argentina.
Traduções recentes
A União dos Escritores Angolanos celebrou vários acordos de cooperação com as embaixadas de
Angola em Portugal, Israel, Egipto, Brasil e França, que visam a divulgação e tradução de autores
angolanos, estando concluída a obra “Como se viver fosse assim: antologia do conto angolano”, em
árabe, com textos seleccionados pela escritora Domingas de Almeida, somando uma tiragem de mil
exemplares. No âmbito da literatura infantil, a União dos Escritores Angolanos retroverteu, para inglês
e hebraico, as obras: “As duas amigas”, de Cássia do Carmo, e “Jonito, Vovo Jujú e o arco-íris”, da
escritora Paula Russa, que, tal como a antologia de Domingas de Almeida, vão ser lançadas em
Telavive, Israel. “Conversas de homens, antologia de contos angolanos”, uma selecção de António
Quino, estará presente no certame “Correntes da escrita”, que se realiza de 23 a 25 de Fevereiro, na
cidade do Porto, com apoio da Embaixada de Angola, em Portugal. Está ainda prevista a edição de
uma outra antologia, em francês, pela Présence Africaine, fundada por Alioune Diop, em 1947, com
tradução de Dominique Stoenesco e Iva Flores. O conjunto de textos denominado “Contes et
nouvelles d’Angola” inclui 23 autores angolanos: António Fonseca, Arnaldo Santos, Benúdia,
Boaventura Cardoso, Carmo Neto, Costa Andrade, Fragata de Morais, Henrique Abranches, Isaquiel
Cori, Jacinto de Lemos, Jacques Arlindo dos Santos, João Melo, Jofre Rocha, José Eduardo
Agualusa, José Luís Mendonça, José Mena Abrantes, Manuel Rui, Ondjaki, Óscar Ribas, Pepetela,
Roderick Nehone, Rosário Marcelino e Uanhenga Xitu.
Neto em espanhol
Está em circulação no mercado uma tradução, em espanhol, do livro “Agostinho Neto – Obra poética
completa”, com a chancela da Fundação Agostinho Neto. Sobre esta publicação, o Secretário-Geral
da União dos Escritores Angolanos, Carmo Neto, afirmou o seguinte: “É muito importante que os
falantes da língua espanhola tenham conhecimento das obras de Agostinho Neto, tendo em conta
que no mundo existem milhões de pessoas que falam espanhol. Neste momento, estamos a trabalhar
na tradução para outros idiomas, como francês, russo, inglês e alemão, de antologias que reúnem,
além de Agostinho Neto, outros escritores nacionais. Já temos autores angolanos traduzidos em
árabe. Significa que existe a preocupação de mostrarmos os nossos valores literários nos mais
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recônditos lugares do mundo, com o objectivo de levarmos uma amostra da nossa literatura. A
internacionalização da literatura angolana é um dos principais objectivos da UEA”.
QUADRINHOS
CORREIO BRAZILIENSE -
HQ nacional em debate
Autores do premiado livro Daytripper, os roteiristas e desenhistas paulistanos Gabriel Bá e Fábio
Moon falam hoje sobre a evolução dos quadrinhos no país
Pedro Brandt
Ao longo dos últimos anos, os desenhistas e roteiristas de histórias em quadrinhos Gabriel Bá e Fábio
Moon conseguiram uma série de prêmios, alguns deles até então inéditos para autores brasileiros de
HQs. Entre as honrarias estão o Eisner Award e o Jabuti. Mas foi com seu trabalho mais recente,
Daytripper (lançada em 2010 nos Estados Unidos e ano passado no Brasil), que os gêmeos
paulistanos alcançaram um novo patamar. “Hoje, somos mais reconhecidos como autores, não só
desenhistas”, comentou Bá em entrevista ao Correio.
A repercussão de Daytripper será um dos assuntos que os irmãos irão debater hoje, na primeira
edição de 2012 do projeto Palco Iguatemi — a ser realizado a partir das 19h30, no Teatro Eva Herz,
localizado na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi. Moon e Bá também falarão sobre suas
trajetórias, projetos antigos e as novidades para 2012.
Os irmãos chegam a Brasília um dia após o Dia do Quadrinho Nacional. A data, instituída pela
Associação dos Cartunistas de São Paulo, é uma homenagem ao pioneiro dos quadrinhos brasileiros,
Angelo Agostini — que em 30 de janeiro de 1869 publicou a primeira edição de As aventuras de Nhô
Quim — Ou impressões de uma viagem à corte, a primeiríssima HQ brasileira — e tem como objetivo
celebrar a produção brazuca de histórias em quadrinhos.
Entrevista Fábio Moon e Gabriel Bá
Daytripper repercutiu muito bem, nacional e internacionalmente. Qual dos reconhecimentos recebidos
pela obra deixou vocês mais felizes? Por quê?
Gabriel — Todo reconhecimento do Daytripper nos deixa felizes, de formas diferentes. Nos Estados
Unidos, foi nosso maior projeto autoral e serviu para nos consolidar como autores, não só como
desenhistas. Aqui no Brasil, foi nosso primeiro trabalho que conseguiu reunir o reconhecimento que
temos no exterior, os prêmios que a obra ganhou, a visibilidade que temos na mídia e o fato de o
próprio livro estar sendo lançado e disponível no país inteiro. Estamos muito felizes com tudo.
E qual o reflexo dessa boa repercussão na carreira de vocês?
Gabriel — Hoje, somos mais reconhecidos como autores, não só desenhistas, e as editoras estão
mais abertas para os projetos da gente — não só para usar nossos desenhos nas histórias dos
outros. Vários convites para convenções e eventos de quadrinhos ao redor do mundo são resultado
dessa repercussão e temos tentado balancear as viagens com o trabalho, pois é importante divulgar e
promover os livros, mas é preciso continuar produzindo material novo.
Vocês conseguem perceber o surgimento de novos leitores para o trabalho de vocês?
Fábio — Estamos sempre buscando novos leitores. Quadrinhos não são só pra “nerds” ou “crianças”.
Queremos expandir o mercado de quadrinhos e mostrar a pessoas que não costumam ler HQs que
elas podem encontrar ali histórias incríveis. Acredito que o Daytripper esteja fazendo um pouco isso,
mas precisamos continuar produzindo esse tipo de quadrinhos para conseguir realmente formar este
público “novo”.
Um assunto recentemente muito discutido por quem faz e lê quadrinhos foram as propostas de lei
para cotas de produção nacional nas editoras brasileiras. Vocês acompanharam essa história? O que
pensam a respeito dessas propostas?
Gabriel — Acho que pode ajudar na formação de público se bem utilizado nas escolas e faculdades
(como propõe o artigo 5º da lei). Mas não acredito que resolverá a vida dos autores e criará
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problemas para editoras, principalmente as pequenas. Nunca se publicou tanta HQ como hoje em dia,
em variedade de gêneros e títulos, tanto estrangeiros quanto nacionais.
O que vocês leram de interessante de quadrinho nacional em 2011 e recomendariam para as
pessoas?
Gabriel — Um projeto muito bacana de 2011 foi uma página de quadrinhos no IG, de onde surgiram
três trabalhos excelentes: Beijo adolescente, de Rafael Coutinho; Roberto, do Edu Medeiros; e Tune
8, do Rafael Albuquerque. Tanto o Beijo adolescente quanto o Tune 8 foram compilados e publicados
em papel. Outra HQ legal foi Achados e perdidos, do Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho,
pois é uma boa história infantojuvenil, gênero pouco trabalhado no quadrinho nacional.
Fábio — E quem continua firme e forte numa ilustre carreira nos quadrinhos é o Gustavo Duarte, que
depois das premiadas Có (2009) e Taxi (2010), lançou Birds, mais uma HQ sem falas, contando tudo
com seus elegantes desenhos.
Quais os planos de vocês para 2012? Quando poderemos ler o próximo trabalho de vocês?
Fábio — Este ano, vamos lançar um álbum da série Cidades Ilustradas, da Casa 21, sobre São Luís
do Maranhão. Além disso, também deve sair por aqui o Casanova, série que fazemos nos Estados
Unidos com o escritor Matt Fraction. Estamos trabalhando na adaptação para os quadrinhos do livro
Dois irmãos, do escritor Milton Hatoum, mas vai demorar ainda para ficar pronto.
POLÍTICA CULTURAL
ESTADO DE MINAS
- Todos podem ser mecenas
Pouca gente sabe, mas é possível dar a parte do Leão para um projeto cultural por meio das leis de
incentivo
Se por um lado sobram orientações de como apresentar projetos às leis de incentivo à cultura, por
outro quem quer ajudar tem que se desdobrar em busca de orientações sobre como fazê-lo.
Principalmente ser for pessoa física. Muita gente não sabe mas, assim como as empresas, cidadãos
que devem ao Leão podem repassar o dinheiro a qualquer projeto cultural aprovado pelo Ministério
da Cultura. Mas a iniciativa tem esbarrado na falta de informação e burocracia.
Na teoria, funciona assim: o contribuinte pode financiar um projeto cultural com até 6% do Imposto de
Renda devido. Por exemplo, se o cidadão precisa pagar R$ 12 mil referente a 2011, pode destinar R$
720 a um grupo teatral. Mas o problema é que, além das pessoas não saberem direito como realizar
essa operação, elas precisam se programar. Os repasses relativos a 2011, por exemplo, devem ser
feitos até 30 de dezembro. Ou seja, amanhã! O recibo da doação será descontado da declaração a
ser feita em abril.
Na internet “A pessoa deve ter feito um controle aproximado para saber quanto poderá destinar”,
comenta Débora Vieira, integrante da Uma Companhia. “Nem todo mundo é controlado. Pelo menos
a maioria das pessoas que conheço só vai fechar as contas em março.” Com projeto aprovado pela
Lei Rouanet, o grupo dela lançou na internet uma campanha para atrair doações de pessoas físicas.
Fez barulho, mas o resultado não foi o esperado. “Conseguimos três pessoas interessadas em saber
como funciona. A ideia foi muito compartilhada, a recepção foi boa, mas de gente comentando”,
conta.
A iniciativa foi importante para fazer com que a companhia percebesse que há um interesse por parte
da sociedade civil em ajudar, mas a divulgação precisa de reforço. “Este anos vamos falar depois dos
espetáculos. Não é impossível as pessoas se programarem. É uma questão de planejamento”,
acredita Débora, Ela ainda sugere que o próprio Ministério da Cultura contribua com a produção de
cartilhas explicativas e a divulgação das informações no site. De fato, é muito difícil encontrar as
informações a esse respeito no endereço do órgão na internet.
Cooperativa Foi justamente oferecendo essa assessoria que desde 2000 o Instituto Unimed tem
conseguido cifras expressivas, ano após ano, somente com o repasse de médicos. Em 2011, foram
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R$ 5 milhões reunidos com a participação 3.030 cooperados, pessoas físicas. O valor foi investido em
projetos culturais e sociais. “De uma certa forma industrializamos esse processo burocrático. Temos
parceiros que auxiliam os médicos. Fazemos uma divulgação muito forte e no final do ano
começamos a captar”, detalha o diretor-presidente do Instituto Unimed, Helton Freitas.
Além de cuidar das burocracias para o patrocínio via lei federal, a equipe do Instituto Unimed
seleciona previamente os projetos que receberão o incentivo. “Criamos todas as facilidades para
quem tiver vontade de repassar. Só precisa querer que a gente viabiliza”, completa Freitas.
Periodicamente os investidores recebem informações sobre quais foram os projetos apoiados e,
como contrapartida, têm direito a entradas em apresentações realizadas especialmente para o grupo.
Contar com patrocínio de pessoa física, fora de um esquema como esse do Instituto Unimed,
pressupõe um trabalho de formiguinha. Isso porque, para alcançar o mesmo montante de recursos
que as empresas estão autorizadas a repassar, são necessárias muitas adesões avulsas. “Realmente
não é tão atraente para o produtor porque vai precisar de mais ou menos umas 50 doações para
fazer qualquer volume. É pouco, mas claro que ajuda. R$ 4 mil já representam uma tiragem de
filipeta”, completa Débora.
MODA
FOLHA DE S. PAULO –
Criadores na SPFW não trazem novas imagens para moda
Edição fraca se inspira em itens batidos do mercado, como vampiros e bruxas, e repete 'veludo
molhado'
Atos violentos, protestos vazios e utopias de butique se refletiram nas coleções dos estilistas para
2012
VIVIAN WHITEMAN, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
(26/01/12) Na edição mais fraca da São Paulo Fashion Week nos últimos anos, as novas (ou, ao
menos, vibrantes) imagens de moda foram raridade.
E quando os criadores deixam de oferecer novas histórias para inspirar a roupa nossa de cada dia, o
que sobra é uma lista de tendências parecida com a de compras feita para o supermercado.
No seu armário existem peças transparentes, couro, dourados, veludo e tecidos metalizados? Então
talvez você nem precise encher o carrinho para entrar na onda do inverno 2012.
Talvez falte uma peça de couro em vermelho. O tom mais "sangue vivo" dessa cor apareceu no
desfile da Ellus, especialmente no couro.
De repente, você pode ter vontade de voltar a usar o "veludo molhado", aquele bem molenga e com
brilho, sucesso nos anos 90. O tecido foi o campeão de presença nos desfiles.
Gosta de vampiros, bruxas, e monstros das trevas? Pois essa foi uma das poucas imagens de
inspiração propostas pelos estilistas da SPFW.
Sabe a Natasha da novela "Vamp"? O Edward de "Crepúsculo"? Então. Os figurinos do filme "Drácula
de Bram Stoker" também vão ajudar você a entender essa estética.
Analistas políticos e pesquisadores de comportamento dizem que o mundo está num impasse.
Entre atos violentos, protestos vazios e utopias de butique, as pessoas parecem mesmo presas num
limbo infernal sugador de energia vital. E isso se refletiu nas coleções dos criadores mais dispostos a
se conectar com as questões de seu tempo.
A paranoia do "vender mais a qualquer custo" talvez tenha a ver com a fase sem vigor da moda (não
só no Brasil). Assim como na vida fora das passarelas, o "ganhar mais a qualquer custo" tem levado
muitas almas ao caminho triste da depressão e do esgotamento.
Especialmente quando a defesa do dinheiro acima de todas as coisas tem de ser disfarçada sob
ideais furados e justificativas capengas.
Vários grandes criadores, do glamouroso Alber Elbaz, da Lanvin, ao rebelde Alexander McQueen,
antes do suicídio, já falaram sobre como as pressões extremas do mercado afetaram negativamente
seus trabalhos.
FRIO N'ALMA
Até a exposição armada pelo evento no térreo da Bienal era de dar calafrios. Em andaimes, roupas
de estilistas da semana de moda dividiam espaço com telões exibindo filmes nos quais eles falavam
de seus processos criativos.
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Embaixo deles, pilhas de carvão. No ar, uma névoa artificial e paredes pretas. Entre os andaimes no
local, fotos soturnas e, entre elas, imagens de pessoas pintadas de demônios, gente boiando em rios,
figurações da morte. De arrepiar.
Na passarela, as representações dessa era sinistra apareceram em poucas coleções.
Da religião destituída de seus dogmas e transformada em cultura de rua (Alexandre Herchcovitch
masculino e Reinaldo Lourenço) ao tormento depressivo (João Pimenta), a Folha elenca as cinco
imagens de moda mais fortes da temporada.
São cinco personagens (veja no quadro ao lado), cinco tipos que ajudam o público a entender a
inspiração dos estilistas e pensar sobre elas. E o resto? O resto são roupas, bonitas ou não, que vão
estar (muitas delas, aliás, já estão) nas vitrines.
THE SIDNEY MORNING HERALD –
Brazilian bikini sizes up bigger bottom dollar
30-01-2012
AUSTRÁLIA – Jenny Barchfield
Tall and tan and young and ... chunky?
The Girl From Ipanema has put on a few kilos, and for many sunbathers on Brazil’s beaches the
country’s iconic itsy-bitsy, teeny-weeny bikini just doesn’t suffice anymore.
A growing number of bikini manufacturers have woken up to Brazil’s thickening waistline and are
reaching out to the ever-expanding ranks of heavy women with new plus-size lines
That’s nothing short of a revolution in this most body-conscious of nations, where overweight ladies
long had little choice but to hit the beach in comely ensembles of oversized T-shirts and biker shorts.
"It used to be bikinis were only in tiny sizes that only skinny girls could fit into. But not everyone is built
like a model," said Elisangela Inez Soares as she sunbathed on Copacabana beach, her oiled-up
curves packed into a black size 12 bikini.
"Finally, it seems like people are beginning to realise that we’re not all Gisele," said the 38-year-old
mother of four, referring to willowy Brazilian supermodel Gisele Bundchen.
Clothing designer Clarice Rebelatto said her own swimwear-hunting travails prompted her to found
Lehona, an exclusively plus-size beachwear line.
"Honestly, the problem went way beyond just bikinis. In Brazil, it used to be that if you were even a
little chunky, finding any kind of clothes in the right size was a real problem," said Rebelatto, herself a
size 10.
"And I thought, 'I'm actually not even that big compared to a lot of women out there, so if I have
problems, what are they doing?"
Since its launch in 2010, the line has become a hit. In brash leopard spots and flower prints not meant
for wallflowers, the label’s 14 bikini styles aren’t what you’d normally associate with plus-size
swimsuits.
The necklines plunge dramatically. Straps are mere strings. And while the bottoms provide too much
coverage to qualify for the famed "fio dental" or "dental floss" category of Brazilian string bikinis,
they’re significantly more audacious than the standard US cut.
"We’re working from the principle that bigger women are just like everyone else: They don’t want to
look like old ladies, wearing these very modest, very covering swimsuits in just black," said Luiz
Rebelatto, Clarice’s son and director of Lehona.
He said that recent publicity of the brand and several other new swimwear lines catering to plus sizes
has triggered an overwhelming number of calls and emails from would-be customers.
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"They’re all excited and they say, 'I've been looking everywhere for a bikini like that. Where can I get
one?'" said Rebelatto.
Lehona is currently sold exclusively at big and tall specialty stores throughout Brazil. Its bikinis retail
for about 130 reais or $A70 - a relatively high price-point here, but Rebelatto said sales have grown at
a galloping pace, though he did not provide any figures.
It’s the same story at Acqua Rosa, a conventional swimwear label that added a plus-size line in 2008.
Now, plus-size purchases account for more than 70 per cent of the brand’s total sales, said director
Joao Macedo.
It makes sense. For centuries, large swaths of Brazil were beset by malnutrition, and in 1970, nearly
10 per cent of the population in the country’s poor, rural northeast region was considered underweight,
according to Brazil’s national statistics institute.
But the phenomenal economic boom that has lifted tens of millions out of poverty and into the
burgeoning middle class over the past decade has also changed the nation’s once-svelte physique: A
2010 study by the statistics institute showed that 48 per cent of adult women and 50 per cent of men
are now overweight.
In 1985 those figures were 29 per cent for women and 18 per cent for men (still, there’s been no rash
of plus-size male swimwear lines, as men here wear Speedo-style suits that don’t impinge on big
guts).
Analysts attribute Brazil’s rapidly widening girth to changes in nutrition, with chips, processed meats
and sugary soft drinks replacing staples like rice, beans and vegetables.
And while the country’s elite are widely known to be fitness freaks - and also among the world’s top
consumers of cosmetic surgery - those recently lifted out of poverty and manual labour are becoming
increasingly sedentary.
A 2008 study showed that barely 10 per cent of Brazilian teens and adults exercise regularly.Still,
despite their growing numbers, not everyone is eager to embrace ‘‘gordinhas’’ - or ‘‘little fatties’’, as
chunky women are affectionately known here.
Many high-end bikini-makers have turned a seemingly deliberately blind eye to the burgeoning plussize market.
Rio-based upmarket brand Salinas, for example, offers five sizes, from extra-small through extra-large.
But their sizing runs notoriously small and it’s hard to imagine anyone over a size six actually
managing to fit into any of the brand’s minuscule two-pieces.
Luis Rebelatto of Lehona chalked it partially up to snobbery.
"Some brands, they don’t want their image to be associated with chunky women," he said.
"Only the thin, the rich and the chic."
While Brazilians’ increasing heft is a public policy preoccupation for the government, growth in the
ranks of the overweight population has given them increased visibility in Brazilian society.
Extra-wide bucket seats for the obese have been installed in Sao Paulo’s metro system, and the city
will host Brazil’s first ever Miss Plus Size beauty contest.
"It used to be that people would stare at me," said Soares, the voluptuous sun-worshipper on
Copacabana beach.
"Now when I come to the beach I see women who are much bigger than me - and lots of them are
wearing bikinis - so I’m not self-conscious any more.
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"God makes some people thin but he made me like this," she said, rubbing down the well-oiled bulge
of her stomach and thighs.
"So who am I to think that he was wrong?"
AP
OUTROS
BRASIL ECONÔMICO –
Nova sede do MAC de SP abre amanhã no antigo DETRAN
Projeto de restauro do edifício custou R$ 76 milhões e vai abrigar o Museu de Arte Contemporânea
paulista, que completa 50 anos em 2013. Cerca de 20% do acervo ficará exposto no local
Daniela Paiva
(27/01/12) A partir de amanhã, a arte determina a rota do antigo prédio do Departamento Estadual de
Trânsito (Detran), nas imediações do Parque Ibirapuera, em São Paulo. O Museu de Arte
Contemporânea (MAC) ganha nova sede no local, que passou por uma longa reforma que custou R$
76 milhões. Batizada de O Tridimensional no MAC: Uma Antologia, a primeira exposição reunirá 17
esculturas, objetos e instalações de artistas brasileiros e nacionais que integram o acervo da
instituição.
O namoro entre o prédio de Oscar Niemeyer, inaugurado em 1954, e o MAC é mais do que antigo e
desejado. Nos anos 40, Ciccillo Matarazzo fundou o Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo a
partir da coleção da família. Nos anos 60, juntou obras do MAM e acumuladas pela Bienal
Internacional de São Paulo, que presidia, e doou tudo para que a Universidade de São Paulo
inaugurasse o MAC em 1963.
Até a nova sede, o acervo da instituição dividia-se entre um pedaço do terceiro Pavilhão da Bienal e a
sede na USP, o que representava um espaço de exibição de apenas 5% dos seus mais de 8 mil
títulos. Agora, o MAC dispões de 30 mil metros quadrados. “O MAC vai para um dos pólos culturais
da cidade, que é o Parque do Ibirapuera”, diz Andrea Matarazzo, secretário da Cultura do Estado de
São Paulo, e sobrinho de Ciccillo. “Quando o Ciccillo fez o MAC, imaginava ele lá”.
Reforma
A reforma do edifício do Detran começou em dezembro de 2008. Entre as principais modificações,
estão a modernização dos elevadores, instalações elétricas e hidráulicas, a cobertura do prédio
principal e as fundações do novo anexo.
O prédio é tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e
Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e protegido pelo Conselho de Defesa do Patrimônio
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat). A entrega estava prevista para o ano
passado. “Como toda área tombada, há sempre problemas, mudanças de projeto”, explica Matarazzo
sobre o atraso. “É um prédio delicado”.
Visibilidade
Para o diretor do MAC, Tadeu Chiarelli, a nova sede trará visibilidade à instituição e a uma coleção de
obras que circula pouco pelo Brasil. “O público pouco se dispõe a ir à USP”, diz. Com entrada
gratuita, o MAC funcionará de terça a domingo, das 10h às 18h.
O Tridimensional no MAC: Uma Antologia inaugura uma série de 11 exposições até o final do ano. A
perspectiva é de que o material corresponda a 20% do acervo em exibição, o que representará mais
de 2 mil obras. Entre as joias guardadas e de menos circulação, Chiarelli destaca uma coleção de
desenhos de Di Cavalcanti.
O MAC continuará com suas atividades na sede da USP. Porém, com a novidade, a ideia é reformar
o espaço de sua sede e dedicá-la ainda mais às atividades de graduação e pós-graduação
conduzidas ali.
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Outro projeto é trazer do Pavilhão da Bienal os trabalhos que estão por lá.Acerimônia de inauguração
é amanhã, às 11h. Depois dela, o espaço abre para o público, e ruma ao novo caminho.
FOLHA DE S. PAULO –
Bienal tem contas bloqueadas por inadimplência
Processo da Controladoria Geral da União constatou uso irregular de verbas públicas no total de R$
32 mi
Fundação Bienal acionou a Justiça para resolver o caso; próxima edição da mostra, prevista para
setembro, pode ser adiada
FABIO CYPRIANO, CRÍTICO DA FOLHA
(27/01/12) Apesar de ter cerca de R$ 11 milhões em caixa, a Fundação Bienal ligou o botão de
alarme em relação à realização da 30ª Bienal de São Paulo, cuja abertura está prevista para o dia 7
de setembro.
Motivo: desde o dia 2 de janeiro as contas da instituição estão bloqueadas pelo Ministério da Cultura
(MinC) por inadimplência.
"A realização da Bienal está correndo risco, justo agora que estávamos com tudo para fazer uma
mostra memorável, já que o curador foi selecionado com dois anos de antecedência e 80% do
orçamento está garantido", disse, anteontem, Heitor Martins, presidente da Bienal.
A inadimplência foi decretada devido a um processo da Controladoria Geral da União, que teve início
em abril de 2009 (veja quadro ao lado).
Ele apontava irregularidades em 13 processos da Bienal, ocorridos entre 1999 e 2006, nas gestões
de Carlos Bratke e Manoel Francisco Pires da Costa.
No total, a Bienal teria feito mau uso de verbas públicas no total de R$ 32 milhões, o que foi noticiado
pela Folha na época. É de praxe que entidades inadimplentes tenham as contas bloqueadas pelo
MinC.
"Em 2009 eles nos pediram esclarecimentos sobre esses processos e nós fornecemos. No ano
passado, chegamos a devolver ao MinC cerca de R$ 700 mil, porque foi alegado que, em 1999, foi
consertado o telhado da Bienal sem que a verba estivesse liberada", conta Martins.
Procurado pela Folha, o Ministério da Cultura não respondeu até o fechamento desta edição.
BIENAL EM RISCO
A Fundação Bienal entrou com petição na Justiça Federal solicitando a revisão do caso e espera
resolver o problema rapidamente.
"Se não conseguirmos reverter até meados de fevereiro, a situação fica complicada. Já tivemos que
atrasar o início de ações do educativo. Enquanto eles analisam o passado, estão inviabilizando o
presente", diz Martins.
A 30ª Bienal, com curadoria do venezuelano Luis
Pérez-Oramas, tem um orçamento de R$ 30 milhões aprovado pelo MinC.
"Pela nossa experiência, sabemos que podemos realizá-la com menos, algo em torno de R$ 27
milhões, sendo R$ 22 milhões com dinheiro incentivado e R$ 5 milhões de recursos próprios", diz o
presidente da Bienal -a quantia bloqueada é a que tem incentivo. "Mas só com R$ 5 milhões teremos
que adiar a mostra", conclui Martins.
EL MUNDO –
Brasil visita Salamanca
Espanha – 01.02.12
Alumnos y docentes se integran en su lengua y cultura
Brasil está ahora más cerca de España, y la universidad española menos lejos de los estudiantes
brasileños. Éste es el éxito del proyecto Becas de Español para Brasileños USAL-Banco Santander,
puesto en marcha a través de la División Global Santander Universidades, y que hasta el pasado
viernes permitió que 160 personas, entre docentes y alumnos universitarios, profundizaran en la
cultura y lengua españolas.
Elegidos entre 20.000 solicitudes, estos becados han pasado tres semanas empapándose de España
en la Universidad de Salamanca. Entre los participantes se encontraba André León, uno de los
docentes brasileños, quien apuntó que la de esta ciudad «es una de las mejores universidades del
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mundo», y que un proyecto como éste también era una gran oportunidad para traer un pedazo de su
cultura y de sus costumbres hasta la ciudad del Tormes.
Para Julio Monteiro, un estudiante de Medicina de la Universidad Federal do Pará, éste ha sido su
primer viaje internacional. «Estoy muy feliz de conocer España, un país increíble, y porque me siento
reconocido al haber resultado elegido entre tantos participantes en el proceso de selección de mi
facultad. Aprovecharé al máximo esta oportunidad», expresó a su llegada a la ciudad.
Otra estudiante, Joemia Gomes, de la Universidad Federal de Roraima, afirmó: «Estudio Letras y
Literatura Española, así que ésta es una oportunidad muy especial para mí. Quiero aprender mucho
en este viaje, conocer lo viejo y lo nuevo, vivir las diferencias y llevar también un poco de nuestra
cultura».
Este programa de becas, puesto en marcha por el Banco Santander, se enmarca en la colaboración
que la entidad bancaria mantiene con la Universidad de Salamanca, iniciada en 1998, para el
desarrollo de actividades académicas. Otro ejemplo es el proyecto de becas de movilidad
internacional, del que se han beneficiado más de 700 universitarios desde 2001.
Esta institución académica cuenta también con el apoyo del banco para desarrollar iniciativas de
investigación, enmarcadas en las cátedras de Empresa Familiar; Iberoamericana de Dirección de
Empresas y Responsabilidad Social Corporativa; de Emprendedores; y la cátedra Wenceslao Roces,
con la Universidad Nacional Autónoma de México, que está especializada en Humanidades.
También se ha podido poner en marcha la futura creación del Parque Científico de la Universidad de
Salamanca, y un proyecto de búsqueda de talentos que está especialmente dirigido a alumnos de
posgrado en dos ámbitos distintos: Español y Biociencias. Otras posibilidades abiertas ya son
Salmántica Biomédica, que promueve la investigación, y Salmántica Digital, que aspira a digitalizar la
biblioteca antigua.
Además, está más que cerca la próxima conmemoración del 800 aniversario de la Universidad. Habrá
una tarjeta universitaria inteligente, una credencial que identificará a los miembros de la comunidad
universitaria y que facilitará el acceso a los recintos y los préstamos bibliotecarios. Posibilidades que
enriquecen una ciudad siempre ligada a la cultura académica.
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ASSESSORIA DE IMPRENSA DO GABINETE