KPMG Business Magazine 30 ARTIGO Stock photo/Nonwarit Mensuração do valor justo Conheça a norma IFRS 13 e os fatores externos que influenciam as avaliações para a precificação dos instrumentos financeiros A divulgação do Prêmio Nobel de 2013 provocou reflexões entre os profissionais do mercado e a comunidade acadêmica. Os economistas norte-americanos Eugene Fama, Lars Peter Hansen e Robert Shiller foram os vencedores com estudos nada correlacionados e ideias bastante contraditórias, que sugerem a complexidade no universo da marcação a mercado dos instrumentos financeiros. O IASB (International Accounting Standards Board) traz, de certa forma, respostas a algumas dúvidas do mercado ao adotar a norma internacional de contabilidade – IFRS 13 (fair value measurement) –, com vigência desde 1º de janeiro de 2013, que trata do valor justo. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis respondeu rápido com o CPC 46, que está em consonância com a IFRS 44 13. A implementação dessas normas tem sido, sem dúvida, um importante tópico de debate para o processo de elaboração das Demonstrações Financeiras das empresas brasileiras na data-base de 31 de dezembro de 2013. por modelos, mas para os quais todos os inputs relevantes são observáveis no mercado e, no terceiro nível, o valor justo do ativo ou passivo, que é calculado por modelos que usam variáveis relevantes não observáveis no mercado. Algumas curiosidades surgem no universo do IFRS 13 e do CPC 46. Uma delas é a de que a empresa deve informar o nível de hierarquia de valor justo para cada classe de ativos e passivos financeiros não mensurados a valor justo no balanço patrimonial, mas cujo valor tenha sido divulgado. Além do julgamento do nível hierárquico, o método de precificação leva em consideração a observação de transação ordenada, cotação em mercado – quando existe um mercado ativo –, uso de modelos de precificação, riscos de crédito e liquidez. Entende-se que, no primeiro nível hierárquico, são alocados os instrumentos financeiros que têm preços negociados (sem ajustes) em mercados ativos para ativos ou passivos idênticos; no segundo nível, os valores justos que são calculados Vários fatores externos têm elevado a mensuração de instrumentos financeiros a valor justo, um aspecto mais presente e relevante na contabilidade das empresas brasileiras. Entre esses fatores, destacamos: KPMG Business Magazine 30 ARTIGO • Primeiro ponto: a complexidade da mensuração do valor dos instrumentos financeiros. Ela traz alguns desafios para quem precifica, a começar pela própria implementação da norma internacional no Brasil, que ficou mais explícita em 2010 no processo de convergência e ampliou muito o uso do valor justo e a demanda das empresas por calcular, contabilizar ou divulgar esses dados. Assim, um grande detalhe do IFRS 13 é tentar indicar “como fazer” e não “o que fazer”. • Segundo ponto: a sofisticação do mercado observada nos últimos anos. O mercado apresenta estruturas de financiamento de capital e dívidas mais requintadas, com uso de instrumentos financeiros mais complexos. • Terceiro ponto: a indústria de fundos começa a investir fora do Brasil. A partir do momento em que os investidores de mercado local se dirigem para o mercado internacional, começa o resgate de uma gama nova de investimentos com novas características. • Último ponto: a redução da taxa de juros real ao longo dos anos. Por causa dessa redução, investidores têm migrado para outros tipos de investimentos que têm rentabilidade mais atrativa (e normalmente riscos mais elevados). Essa migração aumenta a demanda dos investimentos em papéis que têm características de risco de crédito privado, instrumentos de baixa liquidez ou estruturas complexas envolvendo opcionalidades e outros derivativos embutidos. Esses quatro fatores externos tornaram o assunto de como calcular apropriadamente o valor justo dos instrumentos financeiros – e divulgar as incertezas e principais premissas relacionadas à precificação – ainda mais relevante ao longo dos últimos anos. O IFRS 13 e o CPC 46 trazem melhor orientação e definições de como os profissionais de contabilidade, com apoio de especialistas em precificação de instrumentos financeiros, devem enfrentar esse desafio. Jupiterimages Marco André Almeida, sócio-líder de Private Equity e de Investment Management da KPMG no Brasil Rodrigo Bauce, gerente sênior do grupo de instrumentos financeiros da KPMG no Brasil A norma IFRS 13 As Normas e Padrões Internacionais de Contabilidade, do inglês, International Financial Reporting Standard (IFRS), são aplicados para as empresas no Brasil desde 2010, em convergência com as normas contábeis brasileiras. A IFRS 13, especificamente, trata da mensuração do valor justo, e passou a ser obrigatória no País a partir de janeiro de 2013. Entre outros aspectos, a norma traz a definição de valor justo, as técnicas de mensuração e os inputs que devem ser empregados em cada nível hierárquico. Também estabelece a política contábil para determinar a transferência de montantes entre os níveis hierárquicos, além dos tipos de abordagem relacionados a mercado, receita e custo. 45