Análise de sais solúveis em superfícies metálicas para pintura Autor: Alberto Pires Ordine (Eletrobras Cepel) Dez/2014 Colaboradores Fernando Fragata Celso Gnecco (Sherwin Williams) Roberto Mariano (Akzo Nobel / International) William Saura (WS) Equipe da área de corrosão do Cepel: Alan Azevedo Cristina Amorim Elber Bendinelli Marcos Sá Yuri Café Introdução Preparação de superfície É uma importante etapa na aplicação de um esquema de pintura, com o objetivo de proteger superfícies metálicas frente à corrosão. Grau de limpeza Quanto melhor o grau de limpeza da superfície, maior é a garantia que o esquema de pintura será eficaz em sua proteção. Contaminantes A limpeza ideal deve remover completamente óleos, graxas, pintura antiga e produtos de corrosão e, principalmente, aqueles contaminantes chamados “invisíveis”, ou seja, sais solúveis que, se presentes, podem comprometer o desempenho anticorrosivo do revestimento. Métodos de limpeza X Remoção de Contaminantes Salinos Exemplo: Resultados da análise do extrato aquoso das chapas de aço, antes e após a execução dos diferentes métodos de limpeza Método de limpeza Chapas metálicas oxidadas Sem limpeza Ferramentas mecânicas Jateamento abrasivo Hidrojateamento pH do extrato aquoso Condutividade do extrato aquoso (µ µS.cm-1) Teor de cloreto Teor de sulfato (Cl-) (SO4=) (µ µg.cm-2) (µ µg.cm-2) (método de (método de colorimetria) turbidimetria) 8,0 641 78 24 8,1 207 34 <2 6,6 37 13 2 5,6 9 2 <2 Fonte: Fragata, F. L.; Amorim, C. C.; Saad, M.J.C. ”Influência de Métodos de Preparação de Superfície no Desempenho de Esquemas de Pintura”. Revista Corrosão e Protecção de Materiais, v. 25, n.1, P. 16-27, 2005. Qual o efeito dos sais solúveis sob os revestimentos ? Fonte: D. de la Fuente, B. Chico, M. Morcillo, “The Effects of Soluble Salts at the Metal/Paint Interface: Advances in Knowledge”, Portugaliae Electrochimica Acta 24 (2006) 191-206 Introdução Qual o efeito dos sais solúveis sob os revestimentos ? A presença de sais solúveis na superfície anteriormente a aplicação de revestimentos acelera processos de empolamento e corrosão sob o revestimento. O grau de limpeza visual pode não ser suficiente para se ter garantia de um bom desempenho anticorrosivo dos revestimentos, principalmente em condições de imersão. Métodos para analisar os sais solúveis Métodos para analisar sais solúveis Algodão + água (“Swabbing Test”) Chlor Test C-S-N Salts “Kit” Bresle ISO 8502-6 ISO 8502-9 Métodos para analisar sais solúveis Algodão + água (“Swabbing Test”) O “kit” é utilizado para a determinação do teor de cloreto, de íon ferroso e de pH. Solução de extração Proveta de plástico graduada Béqueres de plástico Régua de plástico “Bolas” de algodão Pinças Papel indicador de cloretos (até 40 ppm) Papel indicador de íons ferrosos (até 3 ppm) Papel indicador de pH Métodos para analisar sais solúveis Algodão + água (“Swabbing Test”) Métodos para analisar sais solúveis Algodão + água (“Swabbing Test”) Métodos para analisar sais solúveis Chlor Test C-S-N Salts O “kit” é utilizado para a determinação do nível de contaminação superficial por sais solúveis de cloreto, sulfato e nitrato. Solução de extração Seringa de filtração Funil Célula de teste de borracha Tubo titulador de cromato de prata (cloretos) Tiras de papel dosadoras (nitratos) Cloreto de bário e turbidímetro (sulfatos) Métodos para analisar sais solúveis Chlor Test C-S-N Salts Métodos para analisar sais solúveis Chlor Test C-S-N Salts Teste para cloreto O tubo contém cromato de prata (Ag2CrO4) que reage com o cloreto presente, produzindo um precipitado branco de cloreto de prata (AgCl). Quando a solução amostra entra em contato com o tubo titulador, o nível de cloreto é indicado pela transição entre as cores branca e rosa em uma escala em µg/cm2 e ppm. Limite: 60 ppm Resolução: 1 ppm Métodos para analisar sais solúveis Chlor Test C-S-N Salts Teste para nitrato A tira de papel para o teste de nitrato é imersa por 2 segundos na solução de teste, em seguida, aguarda-se 1 minuto. Por comparação da cor da tira com a cor da escala em ppm (de 0 a 50 ppm), determina-se o nível de contaminação por nitrato. Métodos para analisar sais solúveis Chlor Test C-S-N Salts Teste para sulfato O frasco de teste somente com a solução é utilizado, primeiramente, para “zerar” o turbidímetro. Em seguida, adiciona-se ao frasco com a solução (10 mL), 1 g do reagente cloreto de bário. Mede-se no turbidímetro o frasco após a mistura, cuja faixa de medição é de 0 a 100 ppm de sulfato. Métodos para analisar sais solúveis Chlor Test C-S-N Salts Teste para sulfato Métodos para analisar sais solúveis “Kit” Bresle O “kit” é utilizado para a determinação do nível de contaminação superficial por sais solúveis, via medição de condutividade. Solução de extração Seringas de 5 mL Agulhas para as seringas Béquer de plástico Células de teste de borracha Condutivímetro Soluções padrão de condutividade Métodos para analisar sais solúveis “Kit” Bresle Métodos para analisar sais solúveis “Kit” Bresle ISO 8502-6 ISO 8502-9 Retirada do ar da célula (momento da colocação e da entrada de solução) Volume de solução proporcional à área (2,6 x 10-3 mL/mm2; 1250 mm2; 3,25 mL) Ângulo de inclinação da agulha ao entrar na célula, 300 em relação à superfície Repetição do número de injeções na célula: 4 (8502-6, 2006), 10 (8502-9), sem remover a seringa Métodos para analisar sais solúveis “Kit” Bresle ISO 8502-6 ISO 8502-9 Não se fala em “massagear” a célula, tempo de 10 minutos remove 90% dos sais solúveis. 10 minutos é o tempo total. Repetição de extração para aumentar eficiência. Registrar temperatura da superfície do aço com um termômetro de contato. Cálculos Métodos para analisar sais solúveis “Kit” Bresle : resultados experimentais Chapas de aço galvanizado foram molhadas com solução de cloreto de sódio 1%, de forma homogênea. As chapas foram para estufa a 80 0C para evaporação da água. Após a secagem, as chapas foram retiradas da estufa e deixadas à temperatura ambiente para resfriamento. Métodos para analisar sais solúveis “Kit” Bresle : resultados experimentais Foram realizadas as medições usando o método Bresle, investigando-se as variáveis: - Uso da “massagem” da célula - Quantidade de repetições de injeções - Tempo de permanência da solução na célula - Repetição de extração para aumentar eficiência Discute-se o efeito da temperatura na condutividade. Discute-se o uso da equação da norma ISO 8502-9 para cálculo da salinidade. Métodos para analisar sais solúveis “Kit” Bresle: resultados experimentais, contaminação com solução de NaCl 1%, 16 mS/cm a 24,0 0C, em chapas de aço galvanizado, molhadas uniformemente e secas em estufa a 40 0C Método No Vezes Tempo/vez (minutos) Tempo total (minutos) Temperatura Condutividade (o C) (mS /cm) “Massagear” 1 2 2 24,4 2,6 Injetar/retirar 1 2 2 24,2 2,4 Injetar/retirar 1 5 5 24,0 2,6 Injetar/retirar 1 10 10 24,0 4,3 Injetar/retirar 4 0,5 2 24,4 2,3 Injetar/retirar 8 0,25 2 24,4 3,3 Injetar/retirar 10 1 10 24,0 5,1 “Fresh water” 10 1 10 24,0 0,5 Métodos para analisar sais solúveis Relação da condutividade com o tipo e concentração da solução Fonte: http://www.yokogawa.com/an/faq/sc_isc/sc_isc_general.htm Métodos para analisar sais solúveis Relação da condutividade com a concentração da solução Fonte: http://www.yokogawa.com/an/faq/sc_isc/sc_isc_general.htm Compensação de temperatura C25 = condutividade a 25 0C Ct = condutividade a uma temperatura “t” t = temperatura diferente de 25 0C α = coeficiente de temperatura (%/0C) Solução NaCl Na2SO4 Concentração (%) 5 10 15 20 25 5 10 15 Condutividade (S/m) 6.72 12.11 16.42 19.57 21.35 4.09 6.87 8.86 Fonte: Concentrations and conductivities of aqueous solutions of various substances “Denki-kagaku data book” (Handbook of Electrochemistry), Nisso-tsushinsha, 1982 Coeficiente Temperatura (% %/℃ ℃) 2.17 2.14 2.12 2.16 2.27 2.36 2.49 2.56 oC Coeficiente a 25 oC Condutividade Coeficiente a 20 T (oC) (%/oC) (%/oC) (S/m) 15 81,6 2,1 1,9 18 87,3 2,1 1,9 19 89,4 2,1 1,9 20 90,9 2,1 1,9 21 92,7 2,1 1,9 22 94,7 2,1 1,9 23 96,9 2,1 1,9 24 98,6 2,1 2,0 25 100,0 2,1 2,0 30 110,6 2,2 2,0 35 120,7 2,2 2,0 40 131,5 2,2 2,0 45 142,1 2,3 2,1 50 153,2 2,3 2,1 Fonte: Padrão de condutividade Metrohm de 100 µS/cm Métodos para analisar sais solúveis Condutividade com compensação de temperatura (para 25 0C), coeficiente = 2 %/0C Erro (20 0C) = 10 % Condtutividade Condutividade a 25 0C Erro (30 0C) = 10 % Erro (35 0C) = 20 % Erro (40 0C) = 30 % 20 24 28 32 36 40 Temperatura (°C) 44 48 Métodos para analisar sais solúveis Cálculo da Salinidade : ISO 8502-9 c ⋅ V ⋅ ∆γ ρA = A C é uma constante, igual a V é o volume, em A é a área, em ∆γ é a diferença entre a condutividade lida após extração e a condutividade da água pura utilizada, em ρA é a salinidade, em E a temperatura da medição de condutividade ? Métodos para analisar sais solúveis Condutividade com compensação de temperatura (para 25 0C), coeficiente = 2 %/0C Erro (20 0C) = 10 % Condtutividade ou Salinidade Condutividade a 25 0C Erro (30 0C) = 10 % Erro (35 0C) = 20 % Erro (40 0C) = 30 % 20 24 28 32 36 40 Temperatura (°C) 44 48 Conclusões A determinação de sais solúveis em superfícies metálicas é importante porque o grau de limpeza visual da superfície nem sempre é garantia de bom desempenho dos revestimentos anticorrosivos. Entre os métodos de análise, o kit Bresle é muito utilizado. Baseando-se nas normas ISO 8502-6 e ISO 8502-9, alguns procedimentos devem ser otimizados sobre a metodologia de análise, tais como número de injeções na célula, tempo de contato da solução, efeito da temperatura na medição de condutividade, uso de compensação de temperatura e cálculo de salinidade. Esta discussão e os fatores mencionados são importantes para elaboração de uma norma brasileira para análise de sais solúveis pelo método Bresle.