FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA – FAVIP CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO DAYANNE J. AZEVÊDO ALVES PLANO DE CONSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA PARA A USINA IRODUSA EM LIMOEIRO-PE Orientadora: Aline de Figueirôa Silva CARUARU 2011 DAYANNE J. AZEVÊDO ALVES PLANO DE CONSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO ARQUITETÔNICA PARA A USINA IRODUSA EM LIMOEIRO-PE Trabalho de Graduação, apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade do Vale do Ipojuca como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientadora: Aline de Figueirôa Silva. Caruaru 2011 A474p Alves, Dayanne Josefa Azevêdo. Plano de conservação e intervenção arquitetônica para a Usina IRODUSA em Limoeiro-PE / Dayanne Josefa Azevêdo Alves. -Caruaru : FAVIP, 2011. 101 f. : Orientador(a) : Aline de Figueirôa Silva. Trabalho de Conclusão de Curso (Arquitetura e Urbanismo) -Faculdade do Vale do Ipojuca. Inclui anexo. 1. IRODUSA. 2. Intervenção arquitetônica. 3. Patrimônio industrial. I. Título. CDU 72[12.1] Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367 Dedico este trabalho ao meu pai, meus três irmãos, meus quatro sobrinhos e meu namorado, homens da minha vida, e à minha mãe, minha maior mestra. Agradecimentos À professora Aline Figueirôa, pela paciência e cuidado sempre prestados no acompanhamento do presente trabalho; aos meus amigos da turma 0701, em especial Maria Lucimara da Conceição, grande companheira. Aos limoeirenses que colaboraram com minha pesquisa de campo, com destaque para Luís Cláudio, funcionário da IRODUSA, pelas visitas ao complexo; ao Sr. Geraldo de Albuquerque Barbosa, ex funcionário da IRODUSA, pela conversa e informações concedidas; a Dênia, professora do ensino fundamental e médio, que me despertou para a importância da história; ao diretor de cultura da cidade de Limoeiro, Suetônio de Oliveira e Silva, pela ajuda no mapeamento dos grupos artísticos e culturais da cidade. Ao coordenador do curso, Eduardo Moura, sempre presente nas aulas de Trabalho de Graduação e a professora da disciplina, Suenne Cunha. Aos arquitetos Bernardo Lopes e Haroldo Bernardino, pela experiência compartilhada nos escritórios durante anos e ao arquiteto Wolney Leite pelas viagens no mundo da arquitetura. Aos professores que participaram da primeira banca deste trabalho, Vânia Cavalcanti e Alexandre Ramos, que muito acrescentaram e colaboraram positivamente. Por fim, o agradecimento mais importante: ao Brasil, pela oportunidade de cursar o nível superior, sendo bolsista integral. “Atiramos o passado ao abismo, mas não nos enclinamos para ver se está bem morto.” Willian Shakespeare Resumo O presente trabalho trata de um estudo sobre a Usina IRODUSA – Indústrias Reunidas Octaviano Duarte S. A., contemplando a história, a análise construtiva, arquitetônica e a compreensão funcional do conjunto industrial, as diretrizes para intervenção e uma proposta de intervenção arquitetônica (estudo preliminar) nos galpões do complexo. A IRODUSA é uma antiga usina de descaroçamento e beneficiamento de algodão que está localizada na Avenida Capibaribe, na cidade de Limoeiro – PE. Historiar a edificação com a leitura do conjunto arquitetônico e propor novos usos a partir da elaboração de um plano de conservação são as principais ocupações do presente trabalho. Este é um dos poucos estudos arquitetônicos realizados sobre edificações da cidade e visa abrir caminho para novas pesquisas sobre a rica arquitetura de Limoeiro. Para execução deste, foi realizado um levantamento fotográfico e de dados históricos, a fim de registrar o que atualmente está consolidado no terreno da Usina e identificar os usos que ela possuiu. Por fim, foi elaborado um estudo preliminar para que se visualize a viabilidade do projeto de intervenção, buscando inserir na edificação sedes de grupos culturais da cidade, que é carente de espaço para manifestações artísticas. Sumário 1. Introdução ............................................................................................................. 7 2. Justificativa ...................................................................................................................................9 3. Objetivos .............................................................................................................. 12 3.1. Objetivo Geral .................................................................................... 12 3.2. Objetivos Específicos ......................................................................... 12 4. Fundamentação teórico-metodológica ................................................................ 13 4.1. Os procedimentos metodológicos ....................................................... 13 4.2. As cartas patrimoniais ......................................................................... 14 4.3. Os estudos de caso ............................................................................................. 17 4.3.1. Usina Guaíba, Porto Alegre – RS ............................................................. 17 4.3.2. SESC Pompéia, São Paulo – SP .............................................................. 21 4.3.3. Análise comparativa dos estudos de caso ............................................. 27 4.4. O Plano Diretor de Limoeiro, 2006 .................................................................. 31 5. IRODUSA – Análise do contexto urbano.............................................................. 35 5.1. Marcos históricos e arquitetônicos .................................................................. 35 5.2. Mobilidade Urbana ............................................................................................... 37 5.3. O Projeto Beira Rio .............................................................................................. 39 6. IRODUSA – Da criação aos dias atuais ............................................................... 40 6.1. A Cheia de 1975 ................................................................................................... 43 6.2. O incêndio de 1978 .............................................................................................. 44 7. IRODUSA – Leitura do conjunto industrial e arquitetônico ................................... 46 8. IRODUSA – Plano de conservação e intervenção arquitetônica .......................... 79 8.1. Mapeamento dos grupos artísticos e culturais de Limoeiro e região .... 79 8.2. Diretrizes para intervenção arquitetônica ...................................................... 84 8.3. Estudo preliminar para um conjunto de galpões ......................................... 90 9. Considerações finais ................................................................................................................ 96 10. Referências .............................................................................................................................. 97 |7 1. Introdução A cidade de Limoeiro-PE, por estar próxima à capital do estado (Recife) e por ter sido, durante muitos anos, uma cidade pólo para o desenvolvimento econômico no interior, graças ao beneficiamento de algodão e ao forte comércio, exerceu um papel de referência para as cidades vizinhas. Além da importância econômica e comercial da Limoeiro, a cidade é referência do ponto de vista artístico e cultural, sendo um pólo turisticamente atrativo tanto por suas festas tradicionais, como a Festa de São Sebastião (em homenagem ao padroeiro) e o Micaeiro (carnaval fora de época), quanto pelas manifestações de cultura e arte popular. Limoeiro conta com uma rica produção musical. Orquestras, sociedade de música e várias bandas e cantores difundem o nome da cidade. Manifestações carnavalescas vencedoras de concursos estaduais são comuns no município. Quadrilhas juninas e bandas de fanfarra dão continuidade à tradição. Além disso, a cultura se manifesta na produção cênica: grupos e caravanas de teatro reconhecidos internacionalmente se unem ao cenário cultural da cidade. O artesanato é uma atração à parte e, junto com a gastronomia, faz de Limoeiro um lugar procurado pela população de outros municípios. Todas essas manifestações de cultura da cidade funcionam como atrativos turísticos que, mesmo assim, são desprovidas de espaço próprio para funcionamento. A maioria das sedes destas entidades é alugada e mantida com recursos adquiridos por doação dos próprios membros e/ou pelo poder público. Em Limoeiro também se pode encontrar uma rica e histórica produção arquitetônica: representantes do estilo neocolonial, como o Mercado Público e o Colombo Sport Club, exemplares do ecletismo, como a Prefeitura e o antigo Açougue Municipal, e modelos do art déco, como a antiga sede dos Correios e Telégrafos, o Grande Hotel e o Cinema São Luiz. O acervo arquitetônico histórico da cidade é, via de regra, de propriedade do poder público e historicamente foi esquecido por governantes anteriores. Numa tentativa de dar novos usos às construções, o governo municipal, desde a posse do atual prefeito – Ricardo Teobaldo (2009) – procura ocupar as edificações com secretarias governamentais, conseguindo algumas vezes preservá-las a partir de um novo uso. Edificações |8 históricas privadas estão degradadas pela ação do tempo, pela falta de conservação dos proprietários e moradores e suas diversas reformas, que as descaracterizam. Por outro lado, a cidade possui carência de relatos e estudos sobre seu desenvolvimento urbano e contar a história a partir de uma construção existente é um meio de entrelaçar os aspectos sociais e econômicos locais. Propor um novo uso para uma edificação histórica é proporcionar a sobrevivência de um ícone arquitetônico e assim oferecer aos grupos culturais um local para suas manifestações tradicionais. Neste sentido, o presente trabalho trata-se de um estudo sobre a Usina IRODUSA – Indústrias Reunidas Octaviano Duarte S. A., contemplando a história, a análise construtiva, arquitetônica e a compreensão funcional do conjunto industrial, as diretrizes para intervenção e uma proposta de intervenção arquitetônica nos galpões do complexo. A IRODUSA é uma antiga usina de descaroçamento e beneficiamento de algodão, localizada em uma área central cidade de Limoeiro-PE e encontra-se desativada. A proposta de novos usos para as instalações da Usina traria para Limoeiro um local para as manifestações artístico-culturais que já são evidentes na cidade, lhes proporcionando espaço adequado, já que não possuem sede própria e aos grupos de cidades vizinhas, possibilitando o intercâmbio cultural. |9 2. Justificativa Diante da importância da Usina IRODUSA (Indústrias Reunidas Octaviano Duarte S. A.) (fig. 01) como precursora no beneficiamento de algodão na cidade de Limoeiro-PE, sua colaboração para o desenvolvimento econômico do município e o valor histórico da construção, é essencial historiar e divulgar como o algodão associado à Usina mostra a evolução urbana da cidade. O presente trabalho se propõe a escrever a história da Usina, mapear os grupos culturais da região, elaborar diretrizes e realizar uma intervenção arquitetônica em nível de estudo preliminar em alguns dos seus equipamentos, considerando o conjunto edificado e o desenvolvimento que sua produção trouxe para o município, que chegou a ser um dos maiores produtores do estado, com 80% do total do algodão produzido em Pernambuco. Limoeiro possui até os dias de hoje alguns galpões de estocagem que são marca da grande produção de algodão. Eles estão distribuídos nas principais vias da cidade, que, por iniciativa dos proprietários, mudaram seu uso, passando a abrigar atividades que se adaptam às necessidades locais, como oficinas, lojas e teatro. Na cidade, está em fase de elaboração um projeto de revitalização urbana denominado Projeto Beira Rio, que se propõe a revitalizar a área do Rio Capibaribe, contemplando seu entorno. A proposta de melhoramento beneficiará diretamente a Usina, já que parte dela está inclusa no projeto. Os objetivos do Projeto Beira Rio são trazer de volta a beleza do Rio que corta a cidade e fazer do complexo que inclui o centro da cidade e a feira livre (a ser relocada) atrações turísticas. De acordo com o Projeto Beira Rio, parte da Usina será ocupada pela feira livre que atualmente funciona no pátio de eventos Toinho de Limoeiro, no centro da cidade. Com a feira livre locada em parte da Usina, a intenção é também valorizar o comércio formal do centro da cidade, melhorar o acesso à sede do governo municipal e ordenar o trânsito de veículos e pedestres. O novo “Pátio da Feira”, como é conhecido, sendo instalado em parte da Usina (onde funcionava a Algodoeira Palmeirense), trará benefícios a todo o complexo fabril, mesmo às partes não usadas no Projeto Beira Rio. A mudança acarretará o aumento do número de pessoas que circulam no local. A Avenida Octaviano Heráclio Duarte (antiga Avenida Capibaribe) se tornará mais | 10 movimentada e todo o entorno imediato, que atualmente é um local esquecido, se tornará visitado por moradores e turistas, já que a feira atrai compradores de toda a região. É importante ressaltar que a Usina ocupa lugar central privilegiado, de fácil acesso aos moradores da cidade e está próxima a uma grande concentração de edifícios históricos, como o Colombo Sport Club, a Rádio Difusora e a Matriz de Nossa Senhora da Apresentação. É uma área potencial da cidade, voltada para o Rio Capibaribe, inserida num bairro predominantemente residencial, que cresce em ritmo acelerado. Todo esse contexto favorece o novo uso da IRODUSA, que há muitos anos está desativada. Com a Usina desativada e a proposta de ocupá-la, em parte, com a feira livre, tem-se um local adequado para locar espaços que complementem a feira, como atividades artesanais, culturais e gastronômicas. Assim, a cidade teria espaço para funcionamento de seus grupos artísticos culturais com sede própria. Por sua importância histórica, a Usina é a possibilidade das pessoas conhecerem um pouco mais sobre a memória e desenvolvimento da cidade de Limoeiro, representadas em um amplo e vivo conjunto edificado. Figura 01: Vista da Usina IRODUSA de Limoeiro-PE Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Por outro lado, a conservação do patrimônio industrial tem sido palco de discussão e motivou diversos encontros no mundo inteiro. Por sua relevância, a temática gerou a criação de organizações não governamentais de proteção a este patrimônio específico, a exemplo do Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial TICCH-Brasil. O TICCH – The International Commites for the Conservation of the Industrial Heritage, é o principal órgão internacional de debate do tema. | 11 A temática motivou também a criação de uma Carta Patrimonial específica, a Carta de Nizhny Tagil, que aponta diretrizes para a conservação, preservação, restauro e intervenções no patrimônio arquitetônico da industrialização. A Carta, que é recente (2003), amplia o conjunto das cartas patrimoniais anteriores no intuito de proteger tanto o bem arquitetônico, quanto outros bens culturais de igual importância. Deste modo, o presente trabalho se justifica e encontra apoio em discussões atuais sobre o patrimônio industrial. | 12 3. Objetivos 3.1. Objetivo geral Elaborar um plano de conservação para a Usina de beneficiamento de algodão IRODUSA (Indústrias Reunidas Octaviano Duarte S. A.), contemplando: a leitura do conjunto arquitetônico, o mapeamento dos grupos artísticos e culturais de Limoeiro e região, diretrizes para intervenção e uma proposta arquitetônica (estudo preliminar) para o conjunto de galpões do complexo. 3.2. Objetivos específicos - Valorizar o patrimônio arquitetônico da cidade de Limoeiro-PE, considerando que o edifício da IRODUSA foi a primeira fábrica da cidade; - oferecer um pólo cultural para o município, que seja ponto de encontro de moradores e turistas e abrigue as manifestações artísticas da região; - contribuir para a criação de bibliografia especializada sobre a história da arquitetura de Limoeiro. - sistematizar informações sobre grupos artísticos e culturais de Limoeiro e região. | 13 4. Fundamentação teórico-metodológica O presente capítulo trata dos procedimentos metodológicos, que são os levantamentos de dados e documentos e o embasamento teórico, que abrange o estudo da legislação e cartas patrimoniais, além dos estudos de caso de intervenções em áreas fabris que fundamentam o desenvolvimento deste trabalho. 4.1. Os procedimentos metodológicos Levantamento documental – busca em cartórios de registro de imóveis; busca em arquivos da Prefeitura Municipal de Limoeiro e suas Secretarias; registros particulares da Usina, fotos e outros documentos de época. Levantamento arquitetônico e fotográfico – levantamento e registro das condições atuais da Usina já que não existem, em arquivos conhecidos, plantas da época de sua fundação. Levantamento bibliográfico – dando ênfase à história da cidade de Limoeiro e sua ligação com o ciclo algodoeiro, da história da arquitetura industrial e sua manifestação na cidade, e do patrimônio, por ser uma edificação de valor histórico-cultural. Coleta de informações orais – com proprietários, herdeiros, ex-trabalhadores (como Sr. Geraldo de Albuquerque Barbosa) e trabalhadores atuais, professores da cidade e conhecedores da história e do funcionamento da Usina no passado, bem como de suas condições atuais. Estudo da legislação específica – leis urbanísticas (e ambientais), para verificar a existência de parâmetros arquitetônicos e urbanísticos do município por se tratar de uma área próxima ao Rio Capibaribe. Estudo do contexto urbano – buscando interpretar os usos, marcos históricos e arquitetônicos e atividades que se destacam no entorno da Usina e que podem interferir nela diretamente. Leitura do conjunto industrial e arquitetônico – mapeando os usos atuais e originais dos equipamentos para estabelecer um registro do funcionamento do complexo, os aspectos construtivos e suas condições de conservação. | 14 Mapeamento dos grupos artísticos – grupos culturais na cidade e região, que não possuem sede própria e que carecem espaço para desenvolver suas atividades. Elaboração de diretrizes para a conservação da IRODUSA. Elaboração da proposta de intervenção, em nível de estudo preliminar, para o conjunto de galpões. 4.2. As Cartas Patrimoniais As cartas patrimoniais são documentos internacionais que tratam o patrimônio arquitetônico, entre outros bens culturais, e dão diretrizes para a preservação, conservação e intervenção nas obras de valor histórico e cultural. O presente trabalho se baseia na Carta Patrimonial de Veneza (1964), na Carta de Burra (1980) e na Carta de Nizhny Tagil (2003) 1. A Carta de Nizhny Tagil define o patrimônio industrial como aquele que é de relevância para a sociedade e abrange não só o bem arquitetônico industrial de valia histórica, mas também os elementos que o compõem, como o maquinário e habitações de trabalhadores, que são de igual importância. “O patrimônio industrial compreende os vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação.” - Carta de Nizhny Tagil (2003). 1 A Carta de Nizny Tagil sobre o Patrimônio Industrial foi consultada no site: www.patrimonioindustrial.org.br/modules.php?name=News&file=article&sid=29, que disponibiliza a versão traduzida para português do texto original, disponível em www.mnatec.com/TICCIH. | 15 A Carta de Nizhny Tagil afirma que o patrimônio industrial deve ser considerado como uma parte integrante do patrimônio cultural em geral e levando em conta suas peculiaridades. “Ela deve ser capaz de proteger as fábricas e as suas máquinas, os seus elementos subterrâneos e as suas estruturas no solo, os complexos e os conjuntos de edifícios, assim como as paisagens industriais. As áreas de resíduos industriais, assim como as ruínas, devem ser protegidas, tanto pelo seu potencial arqueológico como pelo seu valor ecológico.” - Carta de Nizhny Tagil (2003). A Carta de Veneza trata, em seu artigo 7º, dos equipamentos que compõem o complexo histórico. De acordo com a Carta, estes equipamentos, a exemplo de maquinários de uma fábrica, devem ser preservados em seus locais originais. “O monumento é inseparável da história de que é testemunho e do meio em que se situa. Por isso, o deslocamento de todo monumento ou de parte dele não pode ser tolerado, exceto quando a salvaguarda do monumento o exigir ou quando o justificarem razões de grande interesse nacional ou internacional.” – Carta de Veneza (1964). A Carta sobre o patrimônio industrial menciona a importância das políticas de conservação industrial que devem sempre ser inclusas nas políticas econômicas e urbanísticas desenvolvidas sobre a cidade, como o plano diretor. É igualmente importante proteger o entorno da edificação histórica passível de intervenção, como cita a Carta de Burra, em seu artigo 7º: “A conservação de um bem exige a manutenção de um entorno visual apropriado, no plano das formas, da escala, das cores, da textura, dos materiais, etc. não deverão ser permitidas qualquer nova construção, nem qualquer demolição ou modificação susceptíveis de | 16 causar prejuízo ao entorno. A introdução de elementos estranhos ao meio circundante, que prejudiquem a apreciação ou fruição do bem, deve ser proibida.” – Carta de Burra (1980). A Carta de Nizhny Tagil reforça a idéia de manutenção da integridade do sítio industrial e aconselha a busca, sempre que possível, da autenticidade do local. “O valor e a autenticidade de um sítio industrial podem ser fortemente reduzidos se a maquinaria ou componentes essenciais forem retirados, ou se os elementos secundários que fazem parte do conjunto forem destruídos.” – Carta de Nizhny Tagil (2003). A exemplo de outras cartas patrimoniais que tratam de sítios em geral, a Carta de Nizhny Tagil prevê que as intervenções realizadas nos sítios industriais devem ser reversíveis e provocar um impacto mínimo. Caso haja alterações no sítio, devem ser registradas e os elementos significativos que forem retirados devem ser inventariados e armazenados num local seguro. É importante ressaltar que o inventário de um bem arquitetônico é indispensável para a perpetuação do patrimônio. “O inventário constitui uma componente fundamental do estudo do patrimônio industrial. O inventário completo das características físicas e das condições de um sítio deve ser realizado e conservado num arquivo público, antes de se realizar qualquer intervenção.” – Carta de Nizhny Tagil (2003). Antes de realizar qualquer intervenção é sempre necessário o estudo completo do local e seu entorno. As cartas patrimoniais aconselham mostrar a informação sobre o patrimônio desde a educação fundamental, nas escolas primárias, e espalhar entre as pessoas os valores que estes patrimônios, inclusive o industrial, carregam, mostrando sua importância histórica para a cidade. Além das construções conservadas, que são | 17 fontes diretas de informação, a construção de museus que tratam do assunto, publicações, exposições, programas de televisão, internet e outros meios de comunicação são grandes fontes para tal conhecimento. As atividades turísticas nas regiões industriais também são disseminadores do valor do patrimônio e promovem acesso permanente aos sítios. 4.3. Os estudos de caso Como parte da fundamentação teórico-metodológica, foram escolhidas duas intervenções em equipamentos industriais tomadas como estudos de caso: A Usina Guaíba, em Porto Alegre-RS e o Sesc Pompéia, em São Paulo-SP. 4.3.1 Usina Guaíba, Porto Alegre- RS2 A Usina Guaíba é uma edificação de grande porte, construída próxima a um elemento natural de destaque na paisagem: o Rio Guaíba. Assim como a IRODUSA, a Usina Guaíba tornou-se marco pela imponente construção em diálogo com a natureza. Ambas as construções possuem uma história que se mistura à da cidade e à da população. Ao estudar o caso da Usina Guaíba encontram-se boas referências para nortear a elaboração de diretrizes para intervenção na IRODUSA. A Usina Guaíba (fig. 02) está localizada na Praia do Arsenal em Porto AlegreRS e foi apelidada de Usina do Gasômetro por se localizar próximo a uma usina de gás hidrogênio carbonado, chamada Gasômetro. A Usina Guaíba era responsável por gerar energia elétrica à base de carvão mineral para Porto Alegre. 2 A maior parte das informações foi retirada do site: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php ?p seção=138. | 18 Figura 02: Foto aérea da Usina Guaíba. Fonte: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/vivaocentro/default pp?p_secao=90# As instalações da Usina Guaíba foram inauguradas no dia 11 de novembro de 1928, mostrando, com isso, os primeiros passos da industrialização no Brasil. O edifício abrigou a CEERG – Cia. Energia Elétrica Rio Grandense, subsidiária da multinacional americana Eletric, Bond and Share, empresa que gerava eletricidade e transporte elétrico para Porto Alegre, com sede nos Estados Unidos. A referida Usina substituiu outras três que funcionavam na cidade. O projeto e maquinários que compunham o equipamento arquitetônico vieram da Inglaterra. O programa inicial do edifício era extenso e se dividia basicamente em três partes: - Casa das Caldeiras – pé direito de 20 metros com grandes pórticos que sustentavam cinco tremonhas (como funis ou silos de armazenagem) que recebiam carvão e distribuíam combustível por gravidade aos cinco fornos do térreo; - Casa das Máquinas – piso único dividido por blocos de concreto que serviam de apoio aos turbo-geradores. Abaixo deste nível existiam tanques para arrefecimento dos equipamentos, que se comunicava com o rio. Acima ficava a sala dos turbogeradores. Espaço amplo que possuía paredes revestidas de azulejos brancos. Acima, na laje, existia um lanternim com venezianas para ventilação natural. O lanternim também era bastante alto; - Casa dos Aparelhos – possuía os transformadores de distribuição, administração e todos os serviços. Era coberta por laje impermeabilizada de 780,00m² que formava um grandioso terraço. | 19 As partes construídas eram interligadas e se relacionavam no dia-a-dia da fábrica. O pé direito era bastante alto, proporcionando melhor ventilação natural. A planta era mais livre, favorecendo as mudanças posteriores. Como na Usina Guaíba, a IRODUSA possui muitos blocos que tem funções distintas, mas eles dialogam entre si. A resolução de coberta com alto pé direito e planta livre também foram adotadas na IRODUSA, ao que se sabe, pela facilidade de dispor o maquinário, vindo de outros países. Para completar o vasto programa, a Usina Guaíba conta com uma chaminé (fig. 03) que foi construída no ano de 1937. Ela possui aproximadamente 117 metros de altura e foi construída com o fim de amenizar a emissão de fuligem na região. Figura 03: Foto da Usina Guaíba e sua chaminé. Fonte: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/vivaocentro/default.php?p_secao=90# A estrutura da construção é feita em concreto armado, novidade para o ano de sua realização, e possui fechamento em alvenaria com tijolos. As esquadrias que compõem as fachadas são em aço. A fundação mereceu certo cuidado, graças à proximidade com o Rio Guaíba, é composta de blocos de concreto sobre rocha granilítica. A Usina Guaíba teve a implantação como fator relevante neste projeto e na sua continuidade de uso depois da intervenção. A construção está localizada próximo ao Rio Guaíba, de onde se pode ver o pôr do sol, fator explorado | 20 turisticamente na cidade nos dias atuais (fig. 04 e 05). A Usina possui uma área externa ampla (fig. 06) que gera um espaço livre. Figuras 04 e 05: Fotos da Usina Guaíba e seu entorno em diferentes épocas. Fonte: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?reg=7&p_secao=19 Figura 06: Imagem da vista da Usina Guaíba e seu pátio externo. Fonte: Google Maps. A Usina Guaíba foi desativada no ano de 1974. O encerramento das atividades da Usina se dá pela crise do petróleo e a falta de condições de suprir a demanda de energia. Muitas foram as tentativas de demolição da Usina, mas a população sempre reagia negativamente à decisão. No ano de 1982, a Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras) cedeu ao município o direito de uso do terreno. Depois de muitas intervenções, em 1991, a Usina foi aberta ao público, com programa diferente do original, se adequando ao novo uso – Espaço Cultural do Trabalho. Sofreu novas modificações em 2007 e atualmente funciona como Centro | 21 Cultural e possui áreas de ligação com a população, como áreas externas de convívio, oficinas permanentes e exposição sobre a cidade (fig. 07). Seu programa atual abriga: - térreo - espaço para exposição (galerias), recepção, saguão de eventos, loja, “Usina do papel” (local para realizar oficinas de reciclagem) e memorial; - 2º pavimento - sala de teatro (745,00m²), espaço para eventos (250 pessoas), bar e terraço; - 3º pavimento - TV Usina, as coordenações de cinema, vídeo e fotografia e nativismo e tradicionalismo; - 4º pavimento - área para exposições (403,00m²) e terraço com vista para o Rio Guaíba e centro da cidade; - 5º pavimento - sala para ensaios, duas salas multiusos (40 lugares), galeria fotográfica e sala climatizada para acervo de filmes e vídeos; - 6º pavimento - direção, núcleo de serviços gerais, coordenações do carnaval, descentralização, manifestações populares, o setor de mostras, a Equipe do Acervo Artístico e o Conselho Municipal de Cultura. Figura 07: Galerias da Usina Guaíba – Galeria dos Arcos e Galeria Lunara. Fonte: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?p_secao=138 4.3.2. SESC Pompéia, São Paulo- SP3 As semelhanças entre a antiga fábrica que se adequou ao novo uso trazido pelo Sesc e a IRODUSA foram fatores que levaram à escolha deste estudo de caso. Assim como na Usina Guaíba, um elemento natural está presente e permeia o projeto, desta vez, um córrego, que passa no terreno e adentra as instalações. O 3 Grande parte das informações foi retirada do site http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minh acidade/08.093/1897. | 22 terreno é de grande porte e se localiza em uma área central da cidade, rodeado de bairros residenciais (fig. 08). O SESC – Serviço Social do Comércio, é uma instituição que busca parcerias para projetos socioculturais. Com a intenção de oferecer serviços à sociedade, veio a ideia de transformar um complexo fabril em uma nova sede do SESC em São Paulo. Figura 08: Vista aérea geral da Fábrica da Pompéia antes da Reforma. Fonte: Peter Sheier [OLIVEIRA, Liana Paula Perez de. A capacidade de dizer não: Lina Bo Bardi e a Fábrica da Po], consultada no site:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897 O local escolhido para abrigar o novo centro foi a antiga Fábrica de Tambores dos Irmãos Mauser (fig. 09), posteriormente a sede da Ibesa-Gelomatic, antiga Fábrica de geladeiras (fig. 10). Mesmo depois de perder seu uso como Fábrica de Tambores e de Geladeiras, o espaço que formava o complexo fabril continuou sendo extremamente visitado pela população do entorno que buscava um local para brincadeiras e diversão em meio à carência de espaços públicos voltados ao lazer. | 23 Figura 09: Fábrica de tambores da Pompéia. Fonte: Peter Sheier [OLIVEIRA, Liana Paula Perez de. A capacidade de dizer não: Lina Bo Bardi e a Fábrica da Po] e Foto Peter Sheier [Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi], respectivamente, consultadas no site: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897 Figura 10: A Fábrica da IBESA – Indústria Nacional de Embalagens S. A., que fabrica carcaças de geladeiras a querosene Gelomatic. Fonte: Peter Sheier [Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi], consultadas no site: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897. O programa anterior era simples e composto por galpões que abrigavam os maquinários necessários para realização das atividades. O projeto fabril foi concebido e executado com tecnologia nova, tendo em vista a época de sua construção. O complexo possuía estrutura importada e moldada por um francês pioneiro do concreto armado no século XX, François Hennebique. Em 1977, deu-se início ao projeto que abrigaria a nova sede do SESC em São Paulo (fig. 11). | 24 Figura 11: Maquete da proposta de intervenção. Blocos fabris existentes e novos blocos criados por Lina Bo Bardi. Fonte: Peter Sheier [Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi], consultadas no site: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897 A arquiteta responsável pela intervenção, a convite dos diretores do SESC na época, foi Lina Bo Bardi, que contou com a ajuda dos estagiários Renato Requixa e Gláucia Amaral em um processo que durou nove anos (1977-1986). Encantada com a grande visitação que o local possuía, mesmo sem atrativos ou construções ativas, Lina Bo Bardi buscou primeiramente estudar o complexo e descobrir mais sobre a arquitetura já existente. Lina procurou manter a velha fábrica que existia e inová-la, propondo assim, uma reinvenção dos espaços já concretizados. Para arrematar a proposta ela propôs dois blocos novos que ligariam os dois lados do complexo e estariam locados no final do lote. Sempre pensando em unir o antigo com o novo, a arquiteta estudou técnicas e processos construtivos artesanais e aplicou-as no projeto, como o recolhimento de água da chuva por meio de técnica não mais usada na época (fig. 12 e 13). | 25 Figura 12: Calha de concreto e alvenaria revestida com seixos rolados. Fonte: Peter Sheier [OLIVEIRA, Liana Paula Perez de. A capacidade de dizer não: Lina Bo Bardi e a Fábrica da Po] consultadas no site: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/ 1897. Figura 13: Retirada do reboco das paredes originais do galpão de atividades gerais, abril 1980, e Detalhe das treliças do galpão de atividades gerais, respectivamente. Fonte: Peter Sheier [Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi], consultadas no site: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897 A fábrica possui uma rua interna que foi intencionalmente transformada pela arquiteta em um local para movimentos espontâneos, podendo também haver agendamento de apresentações (fig. 14). Esta rua é central e foi repavimentada e aberta ao público, prolongando as ruas da cidade para dentro do terreno do SESC. | 26 Figura 14: Foto da rua interna da fábrica. Fonte: http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?edicao_id=301&Artig oID=4 688&IDCategoria=5333&reftype=2 Em seu programa atual encontra-se um espaço de lazer, cultura e serviços que cria uma grande área de convivência bar/café, biblioteca, deck, exposição, ginásio, oficinas, piscina, restaurante, sala de atividades corporais e teatro. O espaço externo aberto e provido de internet com acesso livre também se torna um atrativo a mais no extenso programa da unidade. No lote passava um córrego que caracterizava uma área non aedificandi, respeitada pela arquiteta em seu projeto. O Córrego das Águas Pretas deixava duas áreas possíveis de edificar (uma de cada lado), e foi assim que se fez: o deck ficou no córrego e as torres abrigaram-se uma de cada lado dele, ligadas por rampas. Figura 15: Seixos e água cortando o galpão. Fonte: http://fabiovisitadeestudossaopaulo.blogspot.com/2008/12/fbrica-da-alegrica-casa-detodos.html | 27 As novas torres (fig. 16) foram objeto de maior repercussão em toda intervenção, já que elas eram uma quebra da linguagem tradicional que estava instalada nos galpões da fábrica. As torres formavam o bloco esportivo e foram inaugurados em 1986, moldadas inteiramente em concreto aparente com várias aberturas e ligadas por passarelas feitas em concreto protendido que venciam vãos de até 25m sobre o Córrego das Águas Pretas. Ao lado das duas torres principais estava também a torre cilíndrica, de mesmo material. Figura 16: Foto da rua interna da fábrica. Fonte: http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?edicao _id=301&A rtigo_ID=4 688&IDCategoria=5333&reftype=2 O complexo ocupa um terreno de 16.573,00m² e alcança 22.026,02m² de área construída coberta, 5.000 pessoas podem visitá-lo por dia. A implantação que aproveita o espaço externo e liga a cidade ao edifício trouxe melhor aceitação da população e causa um diálogo direto entre a urbanização consolidada da cidade com o edifício. 4.3.3 Análise comparativa dos estudos de caso Os estudos de caso apresentam semelhanças entre si e com a Usina IRODUSA, como se pode observar na tabela a seguir (fig. 17): | 28 Figura 17: Tabela comparativa entre os estudos de caso. Tabela comparativa entre os estudos de caso Critérios Localização Usina Guaíba SESC pompéia Comparação Porto Alegre-RS São Paulo-SP ambas em região de grande movimentação urbana e edifícios de acesso a diversas camadas sociais. Área Função 18.000,00m² 16.573,00m² (terreno) intervenções 22.026,02m² (construída consolidadas em coberta) terrenos extensos e capacidade de 5.000 de grande área pessoas/dia construída. Gerar energia elétrica Fabricar tambores, depois industrial à base de carvão geladeiras mineral para Porto Alegre. Abrigar a Companhia Brasil de Força Elétrica. Projeto/autoria Inglaterra França Equipamentos / materiais importados Fundação 15 de novembro de 1928 Desativação 1974 por falta de condições de atender a demanda de energia, devido à crise do Original petróleo Tipologia - pé direito alto - estrutura pré moldada grandes galpões (características - terreno grande - pé direito alto com planta livre de da arquitetura) - blocos ligados - terreno grande alto pé direito. - blocos ligados Instalações casa das caldeiras; máquinas casa das máquinas; distribuídas; | 29 casa dos aparelhos e local para chaminé funcionários. Instrumentos e IPHAE – Instituto do CONPRESP – Conselho Protegidas por órgãos de Patrimônio Histórico e Municipal de Preservação tombamento. preservação Artístico do Estado do do Patrimônio Histórico, Rio Grande do Sul Cultural e Ambiental de SMC – Secretaria São Paulo. Municipal de Cultura. Em 1982 tombou-se a chaminé e em 1983, o prédio Implantação solta no terreno solta no terreno soltas no lote e com proporcionando áreas proporcionando áreas áreas de convívio externas abertas à externas abertas à externo. população, locais população, locais externos externos para eventos. para manifestações e apresentações. Época da 1ª – 1991: foi dado o 1977 – mudaça de uso: Mudança intervenção uso de centro cultural centro de lazer significativa de uso. – espaço do trabalho 1982 – execução 2ª – 2007: dado uso de centro cultural e abriga algumas sedes governamentais Autoria do Lina Bo Bardi intervenções projeto Usos que Térreo – exposição, - área de convivência, Mudança de uso mudaram recepção, saguão de bar/café, biblioteca, deck, industrial para eventos, loja, oficina, exposição, ginásio, abrigar memorial internet livre, oficinas, equipamentos 2º pavto. – sala de piscina, restaurante, rua culturais e teatro, espaço para central repavimentada e institucionais. eventos, bar e terraço aberta ao público, sala de 3º pavto. – TV usina, atividades corporais e coordenações. teatro. 4º pavto. – área para exposições, terraço com vista para o Rio | 30 Guaíba e centro da cidade. 5º pavto. – sala de ensaios, 2 salas multiusos, galeria fotográfica, sala climatizada para acervo de filmes e vídeos 6º pavto. – direção, núcleo de serviços gerais e coordenações: setor de mostras, acervo artístico e conselho municipal de cultura. Conceitos - eventos permanentes - eventos permanentes a interação entre o - eventos internos e - eventos internos e homem e o edifício externos externos - rua aberta - solarium - exclusão do veículo - rua aberta - exclusão do veículo Potencialidades - grande área - grande área construída; facilidade no molde construída; - espaço externo livre que de novos usos - vãos livres que permitia uma nova (planta livre e permitiam uma nova distribuição de espaços; grande pé direito); distribuição de - proximidade com o ligação com áreas espaços; centro da cidade; centrais da cidade. - proximidade com o - marco arquitetônico centro da cidade; - ponto de referência para a cidade pela Geral beleza arquitetônica Situação Próxima ao centro da Próxima ao centro da Geográfica cidade, voltada para cidade, cortada por um um Rio. córrego. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 31 De forma geral, observa-se uma proximidade entre a maneira de intervir na Usina Guaíba e no Sesc Pompéia e certas semelhanças nos conceitos usados em suas composições. Em ambas, é notória a preocupação em estudar o que existia no edifício, antes de começar qualquer mudança. Comparando os estudos de caso o principal ponto comum é a integração homem e natureza, com a presença dos elementos naturais, principalmente a água. Os elementos naturais são usados como potencialidade turística e não devem ser esquecidos na fase de intervenção. Outro ponto relevante é a integração da cidade com a edificação, com ruas internas permeáveis através de ruas da cidade. Percebe-se nos estudos que conhecer o entorno e as atividades que o local abriga, conhecer o fluxo de pedestres e de veículos a partir de um estudo de mobilidade e observar quais as reais necessidades do local são a chave para definir um bom uso e um melhor aproveitamento do espaço depois de modificado. As intervenções vistas no tópico acima remetem às fábricas e indústrias e, em ambas, nota-se um esforço por transformar essas construções onde antes existia um ambiente de trabalho árduo e de seriedade, em um lugar de distração e diversão. O lazer é a grande chave da intervenção na Usina Guaíba e no SESC Pompéia, que conservaram em um edifício industrial as suas características principais e inovaram em usos tão diferentes dos originais. As lacunas do estudo de caso se devem à falta de disponibilidade de plantas em meio digital. As bibliotecas que as fornecem são em situadas nos estados onde estão localizadas as edificações e, portanto, de difícil acesso. No entanto, os estudos de caso irão, de fato, contribuir para o melhor desenvolvimento do presente trabalho. 4.4. O Plano Diretor de Limoeiro, 2006. A IRODUSA está instalada numa área denominada pelo plano diretor municipal de ZDE – Zona de Desenvolvimento Econômica. Esta zona abrange lotes lindeiros a uma parte da Avenida Octaviano Heráclio Duarte (antiga Avenida Capibaribe) e partes das quadras dos bairros José Fernandes Salsa e Santa Terezinha. | 32 Mapa 01 – Zoneamento da cidade segundo o Plano Diretor de Limoeiro mostrando a IRODUSA inserida na ZDE. IRODUSA Fonte: Plano Diretor de Limoeiro, 2006. Segundo o plano diretor, esta zona deve ter sua ocupação ordenada e deve ser promovido nela o desenvolvimento das atividades econômicas e produtivas municipais, a partir de três diretrizes: a) Promover fortalecimento da influência regional de Limoeiro; b) Permitir a ampliação e organização das atividades características do centro de Limoeiro; c) Promover melhorias na infra-estrutura e nos serviços urbanos. Para esta zona é definido recuo frontal e de fundos de 3,00m e recuos laterais de 1,50m e a taxa de ocupação do solo é de 50%. As vagas de estacionamento nesta zona devem possuir medida mínima de 2,40m x 5,00m para carros e 5,00m x 10,00m para caminhão. Os equipamentos que geram impacto ao trânsito devem providenciar estacionamento, mesmo que provisório, capaz de atender a 5%, no mínimo, do público ou usuários. | 33 O Plano Diretor de Limoeiro prevê também o uso de instrumentos urbanísticos, para autuar sobre os imóveis que estão subutilizados (que, segundo o Plano Diretor, são aqueles localizados em áreas urbanas, cujo aproveitamento seja inferior aos 15% da área do terreno), como é o caso da IRODUSA. Prevê assim, penalidades para estas edificações como a gradação anual das alíquotas progressivas e a aplicação do IPTU progressivo. Art. 36 - “São passíveis de parcelamento, edificação ou utilização compulsórios os imóveis não edificados, subutilizados ou não utilizados localizados nas áreas urbanas do município de Limoeiro. Parágrafo Único: Ficam excluídos do disposto no "caput" os imóveis: I. De interesse do patrimônio cultural ou ambiental; II. Exercendo função ambiental essencial a região, reconhecida pelo CDUMA; III. Utilizados para instalação das seguintes atividades econômicas, desde que em plena operação: a - Fábricas, indústrias, e estabelecimentos comerciais; b - Terminais de logística e de transporte público; c - Utilizados como estacionamento de estabelecimentos comerciais, desde que aberto aos clientes e ao público em geral.” – Plano Diretor de Limoeiro, 2006. A prefeitura municipal ainda possui direito de preempção sobre a área, como mostra o artigo 38 do Plano Diretor: Art. 38- “As áreas onde a Prefeitura Municipal de Limoeiro poderá exercer o Direito de Preempção são listadas abaixo: IV. Os Imóveis situados na ZDE; V. Os lotes não ocupados, ou subutilizados na ZUP1 e ZPC; | 34 VI. Os lotes ou imóveis onde estão localizados os equipamentos públicos, especialmente os de educação e saúde." – Plano Diretor de Limoeiro. Portanto, o presente trabalho se justifica no fato de o Plano Diretor recomendar uso para as edificações da ZDE, onde a IRODUSA está inserida. Além disso, o plano visa melhorias na infra-estrutura e nos serviços urbanos desta zona, fato que contribui para um novo uso que ela venha a ter. | 35 5. IRODUSA: Análise do contexto urbano Neste capítulo será tratado o entorno da IRODUSA. Para a definição de diretrizes e elaboração da intervenção visando a reutilização dos galpões e melhor compreensão do contexto atual em que ela está inserida, se faz necessária a análise urbana da área que a circunda. 5.1. Marcos históricos e arquitetônicos A Usina IRODUSA está localizada na Avenida Octaviano Heráclio Duarte, antiga Avenida Capibaribe, diretamente ligada ao centro comercial da cidade de Limoeiro. Está situada perto de outras edificações que são ícones da cidade, por sua importância histórica, formando um sítio urbano de interesse arquitetônico, simbólico, social e cultural. Na imagem a seguir (fig. 18), vêem-se as edificações de valor histórico, próximas da IRODUSA, na seguinte ordem: 1- Matriz de Nossa senhora da Apresentação 2- Mercado Público 3- Açougue 4- Prefeitura 5- Igreja de Santo Antônio 6- Rádio Difusora de Limoeiro 7- Cine Teatro São Luiz 8- Antiga sede dos Correios e Telégrafos 9- Colombo Sport Club 10- Praça da Bandeira 11- Grande Hotel Limoeiro | 36 Figura 18: Vista aérea da cidade de Limoeiro e marcos históricos. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Muitas construções de valor histórico na cidade foram descaracterizadas. Outras, como as mostradas na imagem acima, estão sendo degradadas. Portanto, é notória a importância de preservar o patrimônio que a cidade ainda possui, como a IRODUSA. | 37 Nas proximidades da Usina, pode-se notar a existência de novas edificações que, por sua dimensão, uso ou pela quantidade de pessoas que atraem, transformaram-se em marcos para a cidade (fig. 19), como define Lynch no livro “A Imagem da cidade”. Figura 19: Vista aérea da cidade de Limoeiro e marcos arquitetônicos. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 1- Hiper Cordeiro (supermercado) 2- Laser Eletro Magazine (móveis e eletrodomésticos) 3- AABB – Associação Atlética Banco do Brasil 4- Hiper Cordeiro Juá (supermercado) 5- Escola Professora Jandira de Andrade Lima – CERU 6- Centro de Formação de Menores (sociedade filantrópica) 7- Passagem molhada 8- Ponte Velha Geradores de movimentação nas proximidades da Usina, os equipamentos citados são de importância para o funcionamento e manutenção dos novos usos que a IRODUSA venha a abrigar. 5.2. Mobilidade Urbana Durante muito tempo, a IRODUSA esteve quase isolada na margem direita do Capibaribe, mas, atualmente, algumas aglomerações de caráter residencial formamse no seu entorno. | 38 As instalações da Usina estão bem próximas ao centro da cidade. Com a sua desativação e a tímida existência de residências em seu entorno imediato, acaba sendo pequeno o fluxo de pedestres no local. Apenas algumas pessoas que se deslocam de suas casas para o centro da cidade passam por lá. O acesso principal da região central da cidade à avenida onde está localizada a Usina é realizado através da Ponte Velha. O acesso é rápido e o trânsito de veículos varia de leve a moderado. Este acesso pode ser realizado por pessoas que vêm de bairros como o Alto São Sebastião e a Rua da Alegria, ou mesmo por pessoas que já estão no centro da cidade (fig. 20). O maior fluxo, atualmente, é o de veículos vindos de outras cidades como Passira e Cumaru, que chegam pela PE 95. Figura 20: Vista aérea da cidade de Limoeiro. A ligação do centro da cidade com a Usina e principais fluxos. CIDADE ALTA Algodoeira Palmeirense CONGAL IRODUSA Avenida Octaviano H. Duarte CENTRO CENTRO Fluxo vindo da PE 90 (principal para veículos vindos de outras cidades) Fluxo vindo da Passagem Molhada Centro da cidade Ponte Velha (principal acesso para veículos vindos da cidade) Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O fluxo de veículos da antiga Avenida Capibaribe, atual Avenida Octaviano Heráclio Duarte, logradouro da Usina, é leve. O complexo industrial toma boa parte da avenida e, como está desativado, contando apenas com quatro ou cinco funcionários, esta via torna-se deserta (fig. 21 e 22). | 39 Figuras 21 e 22: Vistas da Avenida Octaviano Heráclio Duarte. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 5.3. O Projeto Beira Rio O Projeto Beira Rio é um plano urbanístico ainda em estudo em Limoeiro. Uma das diretrizes pensadas no plano é a transferência da feira livre do centro da cidade (em frente à Prefeitura) para a área onde funcionava a Algodoeira Palmeirense, empresa que fazia parte do conglomerado de empresas de Octaviano Heráclio Duarte (fig. 23), na avenida homônima. Acredita-se que a saída da feira implicará a mudança da dinâmica de fluxo de pessoas e contribuirá de forma positiva para os novos usos da Usina, já que a feira gera grande movimentação. Figura 23: Vista aérea da cidade de Limoeiro. Esquema da transferência da feira. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 40 6. IRODUSA – da criação aos dias atuais Com a resolução do problema da água em Limoeiro, muitas indústrias começaram a surgir no município. A primeira fábrica instalada na cidade foi de algodão, pertencente a Trajano Medeiros, em 1918, seguido de Anderson Clayton no ano de 1935. Na década de 1950, foi a vez da Fábrica de Óleo Vegetal Santa Terezinha, criada por Octaviano Heráclio Duarte, pioneiro da industrialização na cidade (fig. 24). Figura 24: Vista aérea de Limoeiro com a IRODUSA vista no canto direito inferior. Fonte: Acervo desconhecido. Octaviano (fig. 25) foi vereador e vice-prefeito de Limoeiro. A população da cidade acreditava que ele seria o grande responsável pela industrialização do município, por ser um homem visionário que investia muito na fábrica que possuía. | 41 Figura 25: Octaviano Heráclio Duarte. Fonte: Vilaça, 1952 e acervo da IRODUSA, respectivamente. Desde jovem, Octaviano esteve ligado ao ramo industrial. Inicialmente ele possuía uma “moderna e eficiente usina descaroçadora de algodão, instalada em prédio de vastas proporções” (Vilaça, 1952), na Avenida Capibaribe. A Usina recebia algodão de várias partes de Pernambuco e de outros estados, para ser beneficiado em Limoeiro. O então jovem industrial fundou uma empresa “que pudesse ajudá-lo a enriquecer e a dar trabalho à gente pobre que habita nas encostas do „Redentor‟” (Vilaça, 1952). Assim surgiu a IRODUSA – Indústrias Reunidas Octaviano Duarte S. A., formalizada apenas aos 04 de dezembro de 1961, segundo informações da atual administração. A IRODUSA é um conglomerado de empresas de Octaviano Heráclio. Primeiramente, veio o descaroçamento do algodão, que fez desse limoeirense um dos maiores produtores do Nordeste. A matéria-prima para movimentar sua Usina era importada de outros estados, como Paraíba, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. Um dos motivos da matériaprima vir de outros lugares está no fato de a safra do algodão ser sazonal, ela dura cerca de quatro meses. Assim, enquanto a safra de Pernambuco se dava no início do mês de setembro e ia até dezembro, a de outros estados começava em março. Por isso a necessidade de importar algodão de tantos lugares diferentes. O algodão, depois de beneficiado, seguia principalmente para grandes fábricas de tecido em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Muitas vezes, era comprado por outros países, como França, Holanda, Inglaterra e | 42 Estados Unidos. A produção da Usina era transportada em caminhões e escoada em grandes navios pelo porto de Recife, capital do estado. Para tanto, a IRODUSA possuía um escritório central no Recife e outros escritórios espalhados, alguns em estados brasileiros e alguns países onde a exportação era grande, a exemplo de São Paulo-SP, Londrina-PR e Liverpool, na Inglaterra. Octaviano passou a adquirir novas fábricas em outros estados para aproveitar as safras. Muitos trabalhadores de Limoeiro, ao acabarem o serviço na cidade, se deslocavam, custeados por Octaviano, para prestarem serviços em suas Usinas em outros estados, ficando aqui apenas entre os meses de setembro e janeiro. Muita gente era empregada na Usina e, pela proximidade das festividades tradicionais da cidade, o algodão era conhecido como “o dinheiro da festa”, referindo-se à Festa de São Sebastião, padroeiro da cidade, que ainda acontece todo mês de janeiro. Octaviano tinha várias empresas e filiais na própria cidade além da IRODUSA. Uma delas é a localizada ao lado da IRODUSA, na Avenida Capibaribe – a Algodoeira Palmeirense S.A., hoje em dia também desativada, atualmente no local funcionam apenas instalações de uma pequena oficina mecânica. Outras empresas se espalhavam na Avenida Severino Pinheiro, estas possuíam matriz em Palmeira dos Índios em Alagoas e hoje em dia abrigam lojas de roupas. Depois do algodão, foi acrescida à fábrica a produção de farelo feito da palha do algodão, segundo registros bibliográficos: “Surgiu, daí, essa fábrica de óleo de caroço de algodão que está prestando os mais relevantes serviços à pecuária, distribuindo um farelo com a dose de proteína recomendada pelo Serviço de Fiscalização de Produtos Alimentares da S.A.I.C.” – (Vilaça, 1952). Logo em seguida, deu-se início à produção de óleo proveniente do caroço do algodão. O óleo era revendido bruto para ser refinado em outras usinas. Na década de 1950, a IRODUSA já beneficiava algodão e fabricava e exportava ração animal e óleo, mas o pensamento de Octaviano era ampliar seus negócios, implantando uma saboaria nas dependências da Usina. | 43 “O dinâmico industrial Otaviano Heráclio já tem bases assentadas para fabricar sabão. Uma grande saboaria será o complemento do conjunto industrial que se ergue à margem direita do Capibaribe, como um convite aos homens de dinheiro e de inteligência para trilharem o mesmo caminho de trabalho permanente.” – (Vilaça, 1952). Da sua criação até os dias de hoje, a Usina passou por dois grandes acidentes: um alagamento devido a uma enchente que atingiu a cidade e um incêndio em parte de suas dependências, ambos na década de 1970. 6.1. A Cheia de 1975 A cidade de Limoeiro é cortada pelo Rio Capibaribe, que, no ano de 1975, transbordou e causou a maior cheia já registrada na história da cidade. As águas invadiram indústrias, residências e comércio de muitos bairros, derrubaram muros e cobriram casas inteiras. A população dos bairros Pirauíra, Barriguda e Ponto Certo foi a mais prejudicada. Os estragos foram tantos, que o vice-prefeito, em exercício de prefeito na época, decretou Estado de Calamidade Pública. A cheia aconteceu no dia 17 de julho de 1975 (ver Anexo A) e como o complexo fabril de Octaviano se localiza do lado direito do Capibaribe, a IRODUSA foi completamente atingida (fig. 26 e 27). Todo material de escritório foi perdido ou danificado com a enchente e todo maquinário atingido precisou sofrer reparos antes de voltar ao seu funcionamento normal. | 44 Figuras 26 e 27: IRODUSA atingida pela cheia de 1975. Fonte: Acervo de Eduardo Calé. Segundo o Sr. Geraldo de Albuquerque Barbosa, funcionário da Usina na época da enchente, a água chegou, dentro do escritório, numa altura acima da cintura (cerca de 1,10m). A Usina, sem equipamentos suficientes, continuou funcionando neste ano com os equipamentos que não foram danificados, enquanto os outros eram reparados. 6.2. O incêndio de 1978 Os galpões da IRODUSA estavam sempre lotados de algodão estocado. Muitas vezes era em tanta quantidade que chegavam a cobrir as tesouras de madeira que sustentam a coberta, fato que levou a um incêndio em parte da Usina e dificultou o controle do fogo. O incêndio aconteceu no dia 22 de fevereiro de 1978 (ver Anexo B). Ao que se conta, por ser o algodão um material de fácil combustão, o fogo espalhou-se | 45 rápido e consumiu dois galpões de estocagem, cessando apenas com a chegada do Corpo de Bombeiros. Segundo registro do Comando do Corpo de Bombeiros 4, consta a ocorrência de um grande incêndio que produziu destruição parcial em duas paredes com cerca de 10,00m x 3,00m de altura e toda cobertura dos armazéns 14 e 15 (Planta 01). A coberta dos galpões foi refeita e a parede que os dividia foi retirada, sobrando apenas colunas e vigas de sustentação da coberta (fig. 28). Figura 28: Galpões que sofreram o incêndio, atualmente. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 4 O quartel que emitiu a Certidão era situado na Av. João de Barros, 399 / Boa Vista, Recife-PE, e entregou a Certidão no dia 25 de janeiro de 1995, a pedido de Manoel Gouveia dos Santos. | 46 7. IRODUSA – Leitura do conjunto industrial e arquitetônico A IRODUSA foi construída em etapas, já que cada galpão ou área edificada surgiam da necessidade de expansão para suprir o aumento da produção. O esquema a seguir, elaborado pela autora, mostra a divisão atual do que está construído no terreno, com base em uma planta de locação, segundo levantamento de junho de 2008 feito por Vitorio Arruda da Silva com as respectivas funções que cada equipamento exercia para o funcionamento da Usina (Planta 01) e área dos galpões em m² (fig. 35). Trata-se, portanto, de uma reconstituição aproximada do conjunto industrial, realizada a partir da confrontação entre o referido levantamento com as edificações existentes atualmente, pesquisa histórica e relatos fornecidos por antigos funcionários. | 47 Planta 01 | 48 01 a 15 – Galpões São 15 galpões principais de armazenagem e/ou trabalho, enumerados a partir do bloco administrativo. Eles possuem como principais características uma planta livre e o pé direito alto, variando de galpão para galpão. Em média, possuem aproximadamente 5,00m de pé direito, características que servem para melhor distribuição, instalação e manuseio do maquinário. Muitos dos galpões serviam apenas para estocar o algodão comprado, enquanto aguardava para ser beneficiado, já que sua safra é curta. Os galpões ficavam lotados de algodão, muitas vezes estocado até uma altura de risco entre as madeiras das tesouras do telhado. As máquinas usadas no beneficiamento do algodão (fig. 29 e 30) eram importadas e parte delas ainda está nas dependências da Usina, dentro dos galpões. A outra parte, em sua maioria, foi vendida ou levada para outras usinas do grupo e muitos galpões, antes ocupados por grandes máquinas, encontram-se vazios. Algumas poucas máquinas de grande porte resistem à ação do tempo e permanecem até hoje em seu local original (fig. 31 e 32). Figura 29: Vista interna de um galpão, década de 1950. Fonte: Vilaça, 1952. | 49 Figura 30: Vista interna de um galpão, década de 1950. Fonte: Vilaça, 1952. Figuras 31 e 32: Vista interna de dois galpões com maquinários. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Os galpões tinham piso cimentado para suportar o peso das grandes máquinas que trabalhavam para a Usina. A coberta era, via de regra, em tesouras de madeira e telhas cerâmicas que, ao longo do tempo foram (e ainda estão) sendo | 50 substituídas por telhas de fibrocimento, por ser mais leve e de mais rápida execução, além de menor custo. As paredes são espessas com aproximadamente 50 centímetros de largura. Muitos dos galpões comunicavam-se entre si, para melhor manuseio do algodão e troca de máquinas. Alguns galpões eram ligados por roscas que levavam os caroços de algodão para as máquinas (fig. 33 e 34). Parte dessas roscas ainda está no piso e nas paredes de alguns galpões, mostrando essa ligação. Figuras 33 e 34: Roscas. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. A tabela abaixo sintetiza o que existe nos galpões principais (enumerados de 01 a 15) que funcionavam para estocagem e/ou produção. Figura 35: Tabela de características dos galpões principais. Número do Materiais / estado de conservação / galpão características construtivas Galpão 01 Piso Parede Teto Cimentado Alvenaria Telha canal Peculiaridades Área - Divisórias 346,50m² internas recentes Galpão 02 Cimentado Alvenaria Telha canal Auxiliar do 312,40m² galpão 03 Galpão 03 Cimentado Alvenaria Telha canal - Maquinário fixo 320,80m² - Rosca na parede Galpão 04 Cimentado Alvenaria Telha canal Auxiliar do galpão 03 328,75m² | 51 Galpão 05 Cimentado Alvenaria Telha de - Maquinário fibrocimento móvel 392,65m² Coberta refeita Galpão 06 Cimentado Alvenaria Telha canal Coberta 472,90m² destruída Galpão 07 Cimentado Alvenaria Telha canal - Rosca no piso 470,60m² Galpão 08 Cimentado Alvenaria Telha de Auxiliar do 493,50m² fibrocimento galpão 09 Coberta refeita Galpão 09 Cimentado Alvenaria Telha de - Maquinário fibrocimento recente (arroz) 459,40m² Coberta refeita Galpão 10 Cimentado Alvenaria Telha de - Caminhão fibrocimento antigo 527,50m² Coberta refeita - Maior pé direito, proporcionando aberturas de janelas laterais Galpão 11 Cimentado Alvenaria Telha de - Rosca no piso 533,60m² - Maquinário fixo 516,05m² Vazio 505,50m² Telha de - Incendiado e 229,10m² fibrocimento refeito unindo-o Coberta refeita com o galpão 15 Telha de - Incendiado e fibrocimento refeito unindo-o Coberta refeita com o galpão 14 fibrocimento Coberta refeita Galpão 12 Cimentado Alvenaria Telha canal - Maior pé direito, proporcionando aberturas de janelas laterais Galpão 13 Cimentado Alvenaria Telha de fibrocimento Coberta refeita Galpão 14 Galpão 15 Cimentado Cimentado Alvenaria Alvenaria Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 300,20m² | 52 Entre os galpões existem muitas semelhanças, mas também algumas particularidades que serão descritas a seguir. Em geral, possuíam o mesmo sistema construtivo para o piso, a parede e a coberta, mas, com a degradação de alguns materiais e a necessidade de reparos, os galpões sofreram descaracterizações. Materiais como divisórias em gesso, cobertas com tesouras de madeira e cabos de aço e telhas de fibrocimento configuram alterações nas características originais das edificações. No galpão 01, existem novas divisórias, que formam uma sala (fig. 36). Figura 36: novas divisórias no galpão 01. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O galpão 02 e o galpão 04 são auxiliares do galpão 03. No principal, há uma máquina que fazia o beneficiamento do algodão e os auxiliares serviam para estocar a matéria-prima que abastecia este maquinário no galpão 03. A máquina instalada neste galpão está bastante deteriorada pela ação do tempo e falta de manutenção (fig. 37, 38 e 39). | 53 Figuras 37, 38 e 39: maquinário fixo. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. No galpão 05, existem dispostas máquinas móveis. Elas também estão sofrendo deterioração pelo desuso e pela falta de manutenção (fig. 40, 41 e 42). Figura 40 e 41: maquinário móvel no galpão 05. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 54 Figura 42: maquinário móvel no galpão 05. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O galpão 06 teve sua coberta refeita em madeira e telha cerâmica, mas com as últimas chuvas no município, ela foi novamente destruída. Já no galpão 07, parte da coberta cedeu e ainda não foi refeita (fig. 43 e 44). Figuras 43 e 44: coberta destruída no galpão 06 e 07, respectivamente. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O galpão 09 era auxiliado pelo galpão 08. Nele foram instaladas recentemente máquinas para trabalho com arroz (fig. 45, 46 e 47), estas nunca chegaram a funcionar e o beneficiamento de arroz nunca aconteceu. | 55 Figuras 45, 46 e 47: arroz e maquinário para arroz no galpão 09. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O galpão 10 servia para entrada de veículos e ainda hoje um caminhão permanece estacionado nele (fig. 48, 49 e 50). Neste galpão também há algumas máquinas ou partes de máquinas. O galpão é acessado pela avenida principal por meio de um grande portão de ferro. Figuras 48 e 49: galpão de acesso de veículos no galpão 10. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 56 Figura 50: galpão de acesso de veículos no galpão 10. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O galpão 11 está vazio e nele o piso é cortado por roscas. Em seu interior há uma pequena construção que servia de armazém que depositava matéria-prima para a máquina do galpão vizinho do lado esquerdo (fig. 51 e 52). Figuras 51 e 52: interior do galpão 11. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. No galpão 12, há uma divisão interna que servia para separar a área de abastecimento da área de processamento de um maquinário, parte dele ainda está no local (fig. 53, 54, 55 e 56). Nele também há dutos/reservatórios de óleo no subsolo. | 57 Figura 53, 54, 55 e 56: maquinário no galpão 12. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O galpão 13 tem sua coberta refeita em telhas de fibrocimento suportadas por uma estrutura de madeira e cabos de aço. Por meio de quatro aberturas em sua lateral direita, acessa-se o galpão 12 (fig. 57, 58 e 59). Figuras 57 e 58: Galpão 13. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 58 Figura 59: Galpão 13. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Neste galpão nota-se a presença de dutos e reservatórios inferiores que armazenavam o óleo produzido na Usina (fig. 60 e 61). Figuras 60 e 61: dutos/reservatórios de óleo. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Os galpões 14 e 15 são os que sofreram o incêndio no ano de 1978. Eles foram parcialmente destruídos e sua coberta foi refeita com um novo madeiramento, permanecendo as tesouras, com novas telhas de fibrocimento. A parede que dividia os dois galpões foi retirada, unindo-os e restando apenas pontos de apoio e sustentação do telhado. As portas de acesso à Avenida Octaviano Heráclio Duarte foram substituídas e as de acesso à Rua Carlos da Costa Pereira foram entaipadas (fig. 62, 63, 64 e 65). | 59 Figuras 62, 63, 64 e 65: Galpões 14 e 15. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 16- Área administrativa O bloco administrativo (fig. 66 e 67) era a parte da Usina que funcionava o ano inteiro, mesmo fora da época de safra, graças ao gerenciamento das atividades da sede da IRODUSA e das outras empresas do grupo. Figuras 66 e 67: vistas do bloco administrativo Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011 | 60 Este bloco é formado por dois pavimentos (térreo e primeiro andar) e é a única parte do complexo que funciona atualmente, mesmo que seja com um quadro bastante reduzido de funcionários. O volume que corresponde ao bloco administrativo é retangular, sua coberta é em madeira, revestida por telha cerâmica com quatro águas. As esquadrias se apresentam em grande número e são mistas, de metal ou madeira e vidro. Basicamente as partes das janelas que se voltam ao interior da Usina são de madeira, com venezianas, a outra parte é de metal com vidro do tipo basculante. As aberturas são generosas, como se pode notar na porta de acesso principal ao escritório (de aproximadamente 2,5m). Na fachada frontal há um generoso painel de cobogós que vai do térreo ao primeiro pavimento, iluminando a escada, uma porta de acesso principal e uma janela (no primeiro pavimento). Nas laterais há várias janelas em madeira ou metal combinado com vidro. Para o bloco administrativo há três acessos: um pela Avenida Octaviano Heráclio Duarte (por uma porta de madeira), outro pela rua interna da Usina (por uma porta pantográfica) e o terceiro pelos fundos do bloco, por meio de uma escada que vai direto para o primeiro pavimento (fig. 68, 69 e 70). Figuras 68, 69 e 70: Bloco administrativo Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 61 - O pavimento térreo do bloco administrativo - Administração: Uma ampla sala que atualmente dispõe de espaço para funcionários com locais para espera e recepção, antes abrigava muitas mesas formando um grande escritório para gerenciar a IRODUSA (fig. 71 e 72). Figuras 71 e 72: Vista interna do escritório, década de 1950, e vista atual do escritório, respectivamente. Fonte: Vilaça, 1952 e foto Dayanne Azevêdo, 2011, respectivamente. Alguns móveis da época de funcionamento da Usina ainda estão no local, como uma grande bancada de trabalho e atendimento, algumas divisórias de | 62 madeira e vidro, cadeiras e muitos dos equipamentos utilizados, como máquinas de escrever, calculadoras e eletro domésticos também ocupam o espaço (fig. 73, 74 e 75). Figuras 73, 74 e 75: máquina datilográfica, cadeira e geladeira de época Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Além disso, elementos como relógio e quadros com fotografias decoram o local. O piso é em ladrilho hiráulico e diferente da maior parte da Usina, a coberta é em laje e suas paredes são em alvenaria (fig. 76 e 77). Figuras 76 e 77: relógio e quadro decorativo e ladrilho hidráulico. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. - Escada: Para ligar o térreo ao primeiro pavimento existe uma escada com dois lances com piso em granilite e corrimão metálico. O painel de cobogós visto na fachada serve para iluminar e ventilar o patamar da escada (fig 78, 79 e 80). | 63 Figuras 78, 79 e 80: escada de acesso ao 1º pavimento e parede de cobogós. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. - arquivo e copa: ficam embaixo da escada e, ao passo que todo bloco administrativo era revestido em ladrilho, o piso da copa e do arquivo era apenas cimentado (fig. 81 e 82). Fig. 81 e 82: arquivo e copa Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. - BWC: para atender funcionários, fica ao lado da sala da gerência. Figura 83: acesso ao WC. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 64 - sala da gerência: nesta sala ficava o dono da Usina – Octaviano Duarte. A sala possuía uma ala auxiliar onde se localizavam o cofre e os documentos mais importantes (fig. 84, 85 e 86). O piso da gerência e o da sala do cofre é em ladrilho hidráulico. A gerência possuía uma grande janela que abria para a sala da balança. Assim, o proprietário poderia acompanhar a chegada e pesagem do algodão sem sair da sala. Figuras 84, 85 e 86: gerência e sala do cofre. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. - balança: medindo 3,0m de largura e 16,00m de comprimento, a balança pesava caminhões carregados de algodão, chegando a aferir até 60 toneladas, correspondentes às carretas carregadas da época (fig. 87). A balança é no próprio piso, mas a medida aparece numa sala que fica ao lado dela. Figura 87: Balança. Sala da balança Balança Balança Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 65 O 1º pavimento do bloco administrativo: - sala administração: grande espaço com divisórias de madeira onde trabalhavam outras pessoas do setor administrativo. Possui piso em ladrilho hidráulico e tesouras de madeira à mostra (sem forro) suportando um reservatório de água e telhas cerâmicas (fig. 88). As muitas esquadrias proporcionam boa iluminação e ventilação natural ao bloco (fig. 89). Neste espaço também há uma pia que servia como uma pequena copa (fig. 90). Figuras 88 e 89: coberta e reservatório e esquadrias. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Figura 90: copa. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. - depósito e dois wc‟s. Todo o piso é em ladrilho hidráulico, exceto no depósito. Nas áreas molhadas as peças são em cerâmica branca e as paredes são revestidas em azulejo branco. No bwc, as paredes azulejadas vão até 1,10m e na copa há apenas três fileiras de azulejos acima da pia (fig. 91, 92 e 93). | 66 Figuras 91 e 92: Parede de azulejos e pisos em ladrilho, respectivamente. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Figura 93: Peça do wc. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 17- Área coberta 01 Esta área era reservada para disposição de silos de armazenagem de sementes. Ainda hoje existem quatro deles nesta área (fig. 94 e 95). Figuras 94 e 95: A oficina mecânica, o almoxarifado e a carpintaria. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 67 18- Laboratório 01 Construído sob a área coberta 01 onde ficavam os silos de armazenagem de sementes. Era voltado à análise do algodão e verificação de suas propriedades. Com parede de alvenaria e esquadrias em metal ou madeira e vidro. Figuras 96 e 97: laboratório. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 19- Depósito O depósito se localiza após o galpão de número 04 (fig. 98), cujo acesso é restrito. Figuras 98: Depósito. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 68 20- Laboratório 02 e salas de classificação O bloco que abrigava o segundo laboratório e as salas de classificação situava-se próximo à área administrativa. Sua coberta também é formada por tesouras de madeira e telhas cerâmicas. Esta parte da Usina era responsável pela separação / classificação dos tipos de algodão que lá chegavam. No bloco também havia sanitários para servir ao laboratório e às salas. Todas as salas abriam para a circulação interna da Usina. Figuras 99 e 100: laboratório 02 e salas de classificação. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 21- Galpão auxiliar 01 Antes acessado pela Rua Carlos da Costa Pereira, é um galpão auxiliar de estocagem do algodão. Nele a coberta foi refeita e nota-se o fechamento dos acessos de pedestres à Usina. Ele também possui roscas para transporte de sementes. | 69 Figuras 101 e 102: Galpão auxiliar 01. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 22- Oficina mecânica A oficina mecânica era o espaço onde as máquinas ficavam para consertos e manutenção. A coberta é composta por tesouras de madeira e telhas cerâmicas. Possui cinco portas de acesso com duas folhas de madeira e abre para um grande pátio (denominado pátio interno 01) pavimentado. Figura 103: A oficina mecânica. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 23- Carpintaria e almoxarifado Este galpão é voltado aos serviços de carpintaria e almoxarifado, ele também abre as portas para o pátio interno (denominado pátio interno 01). A coberta é | 70 armada em tesouras de madeira e as telhas eram originalmente cerâmicas. Parte delas foi substituída por telhas de fibrocimento. Figura 104: A oficina mecânica, o almoxarifado e a carpintaria. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 24- Área coberta 02 Esta grande área com piso cimentado era o local onde ficavam máquinas à espera de conserto. A coberta encontra-se bastante deteriorada e necessita de reparos. Embaixo dela ainda é possível encontrar partes de máquinas antes usadas na Usina. Figura 105: Área coberta 02. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 71 25- Galpão auxiliar 02 Este galpão também servia para estocar algodão. A coberta dele foi refeita em fibrocimento e madeira com cabos. Ele está vazio e no piso nota-se a presença de roscas. Figuras 106 e 107: Galpão auxiliar 02. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 26- Maquinário e reservatórios d’água A Usina possuía uma grande base de concreto no pátio externo, que servia para dar suporte a um maquinário (fig. 108 e 109). A base é coberta por telhas de fibrocimento e ladeada por dois grandes reservatórios de água inferiores que eram usados para resfriá-la. Recentemente a máquina instalada sobre a base foi retirada restando apenas a estrutura (piso e coberta). Figuras 108 e 109: base e coberta da máquina. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 72 27- Galpões da caldeira Este espaço era o abrigo da caldeira movida à lenha e seus respectivos espaços para o funcionamento normal. Atualmente a caldeira foi destruída e suas partes foram vendidas (fig. 110). Figura 110: antiga Caldeira. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Os usos eram: Estocagem (fig. 111 e 112) de lenha, caso necessário, ou de algodão. Figura 111 e 112: local de armazenamento de lenha. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 73 reposição de madeira – local por onde a caldeira era abastecida com lenha (fig. 113); retirada das cinzas: local onde retiravam as cinzas resultantes da queima de madeira. As cinzas eram depositadas em um depósito próximo. sala de estocagem de lenha (fig. 114) para proteger a lenha das chuvas e da umidade, condições desfavoráveis para ficar exposta a céu aberto; Figuras 113 e 114: máquina da caldeira e local de armazenamento de lenha. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 28- Depósito de cinzas Guardava as cinzas que saíam da caldeira, como ainda hoje se pode observar no local, cinzas depositadas. Figura 115: Depósito de cinzas. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 74 29- Refinaria Produzido a partir da semente do algodão, era refinado e estocado óleo em grandes silos, sobre bases feitas de cimento. A refinaria se localizava nos fundos da Usina e era um galpão de menor porte que os demais (fig. 116 e 117). Figuras 116 e 117: Refinaria. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 30- Bases para tanques de óleo O óleo também era depositado em algumas dependências subterrâneas da Usina e em grandes reservatórios que ficavam em cima de bases de concreto, no pátio aberto (fig. 118 e 119). Figuras 118 e 119: Bases para silos de estocagem e depósito subterrâneo. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 75 31- Os reservatórios de água No pátio aberto, junto com os reservatórios de óleo existiam dois reservatórios de água superiores que abasteciam a Usina (fig. 120). Figuras 120: Reservatório de água, silos e laboratório. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. 32- Saboaria Localizada na parte posterior do terreno onde a Usina está locada. Foi a derradeira investida de Octaviano na IRODUSA em Limoeiro. Numa pequena sala, estava locada uma grande máquina responsável pela produção de sabão (fig. 121). Figuras 121: Máquinas da saboaria. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 76 - Lago Localizado após o limite da IRODUSA, portanto não fazia parte da propriedade, o lago, segundo antigos funcionários, sempre foi preservado limpo enquanto a Usina funcionava, chegou a abrigar muitos peixes em suas águas e alguns dizem que chegou a ser muito visitado nos fins de semana pelas famílias limoeirenses. Atualmente encontra-se totalmente poluído por receber todo esgoto das casas próximas (fig. 122 e 123). O lago não se comunica com o Capibaribe, mas deve ser levado em consideração por ser um elemento natural importante e por seu destaque ao longo da história da fábrica. Figura 122: Lago. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Figura 123: Lago coberto por vegetação. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 77 - Bens integrados Além das roscas e máquinas, anteriormente comentados, merecem destaque também dois elementos simbólicos que fizeram parte da vida da Usina e da vida dos limoeirenses: a sirene e o relógio. A sirene avisava aos funcionários o horário da troca de turno. Era localizada na fachada frontal e soava em volume alto, fato que permitia ser ouvida até por quem não trabalhava na Usina (fig. 124 e 125). Muitos moradores dizem que, quando estavam em casa e ouviam o som da sirene, sabiam que era hora de terminar o preparo do almoço, se referindo ao som das 11 horas da manhã. A sirene tocava, segundo relato de moradores da cidade, às 7:00h da manhã, 11:00h e meio dia, às 18:00h e às 19:00h, assim, a sirene sempre soava uma hora antes da troca de turno e na hora da troca. Figuras 124 e 125: Local da antiga sirene. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O relógio de, aproximadamente, 0,70m de diâmetro, era fixado na fachada. Feito em metal, mostrava a hora dos dois lados. Ao que se sabe, o relógio foi retirado de outra edificação pertencente à Octaviano, para ornamentar a fachada da Usina (fig. 126 e 127). O relógio encontra-se atualmente no interior da Usina, dentro de um dos galpões onde antes era estocado algodão. Como não há nenhuma ação de conservação, o relógio está bastante enferrujado e não funciona mais. | 78 Figuras 126 e 127: Relógio. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. | 79 8. IRODUSA – Plano de conservação O plano de conservação contempla todo o complexo fabril, e fornece, também, elementos para a compreensão dos espaços do objeto de estudo. O plano: apresenta as patologias e danos atualmente existentes na construção; descreve-a segundo os aspectos locacionais, construtivos, históricos, arquitetônicos e artísticos; define os usos existentes e propõe novos; formula as diretrizes e os objetivos de intervenção; define estratégias para conservação; aponta melhorias nas instalações prediais para melhor manutenção da edificação; Para composição do Plano de conservação na IRODUSA, foi-se tomado como referência o livro de Beatriz Mugayar, que trata do patrimônio industrial e a carta de Nizhny Tagil (2003), também sobre o tema, além das experiências dos estudos de caso aqui apresentados e dos vivenciados, como a Fábrica Rosa, na cidade de Pesqueira - PE, antiga fábrica de doce, que hoje funciona como centro cultural. Considerando sua abrangência, complexidade e natureza multidisciplinar, o plano apresentado a seguir aborda o mapeamento dos grupos culturais de Limoeiro e região, das diretrizes para intervenção e de um estudo preliminar em um conjunto de galpões. 8.1. Mapeamento dos grupos artísticos e culturais de Limoeiro e região Visando elaborar um plano de conservação para a IRODUSA que foi realizado o mapeamento dos grupos artísticos e culturais de Limoeiro e região, foram definidas diretrizes para intervenção na Usina e elaborado um pequeno estudo preliminar que as aplica e justifica. | 80 Foi realizado um levantamento dos grupos artístico-culturais de expressão na região para melhor desenvolvimento do trabalho e, para tanto, houve consulta às Secretarias de Cultura da cidade de Limoeiro e algumas cidades vizinhas, a exemplo de Passira, Salgadinho, João Alfredo, Bom Jardim, Orobó, Machados, Feira Nova, Lagoa de Itaenga, Lagoa do Carro, Carpina, Buenos Aires, Nazaré, Paudalho. Essas cidades foram escolhidas pela proximidade com Limoeiro e/ou pelas relações entre elas, como o vínculo educacional e comercial. Fig. 128: Marcação da cidades vizinhas pesquisadas. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Todas as cidades possuem algum tipo de manifestação cultural e os espaços voltados à disseminação destes grupos são escassos. Muitas cidades também se beneficiariam do espaço adequado às atividades culturais, já que possuem fácil acesso a cidade. Em Limoeiro, estes grupos de cidades vizinhas teriam um apoio, para eventuais ensaios ou preparação para apresentações locais. Segundo a Secretaria Municipal de Cultura de Limoeiro, a cidade conta com uma grande diversidade cultural, que envolve grupos de músicas, grupos carnavalescos folclóricos, grupos de atividades artesanais, entre outros. Abaixo | 81 segue uma listagem com os grupos artísticos com expressão na cidade, voltados à música, dança e folclore5: Fig. 129: Tabela de grupos artístico-culturais de Limoeiro- PE. MÚSICA popular Classificação Grupos banda de pífano grupos de coquistas bloco lírico grupos de maracatu de baque virado MÚSICA / DANÇA carnavalesca escolas de samba bois de caboclinho ursos TEATRO - Zé de teté grupos de cirandeiros blocos de calús 5 Nomes - Flor do Limoeiro - Leão do Norte - Leão da Cordilheira - Calús Independentes da COHAB - Calús de Sabá - Calús de Djalma - Calús de Néo - Gigantes do Capibaribe - Verde e Branco - Beija Flor do Capibaribe - Filho do Gato - Mocidade do Samba - Boi Cara Branca (bi campeão pernambucano) - Boi Pavão - Boi Misterioso - Boi Leão - Boi Dourado (campeão pernambucano) - Boi Esperança - Boi Teimoso - Boi Caprichoso - Boi Doido - Boi Estrela - Urso Drácula - Urso Pé de Lã - Urso Pula Muro - Urso Peludinho - Urso Lapada - LIONART - Galpão das Artes grupos de teatro Tabela confeccionada a partir de informações cedidas por Suetônio de Oliveira e Silva – Diretor de Cultura / Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Limoeiro. (Orquestras) MUSICAIS OCASIONAIS ATIVIDADES SOCIEDADES | 82 - Sociedade Musical Santa Cecília - Sociedade Musical 25 de Setembro sociedades musicais fanfarras quadrilhas - escolas municipais e estaduais (inclusive particulares) - escolas municipais e estaduais (inclusive particulares) Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Sempre que se apresentam, os blocos atraem grande quantidade de pessoas e animam as ruas por onde passam. Além das apresentações oficiais, os grupos se apresentam em eventos fechados da prefeitura ou particulares. Fig. 130: Bloco lírico Flor do Limoeiro. Fonte: http://www.girodasnoticias.com/2011_07_26_archive.html Fig. 131: Urso Lapada. Fonte: http://www.nacaocultural.pe.gov.br/urso-lapada-de-limoeiro | 83 A expressão que mais se destaca dentre a música / dança carnavalesca é o boi de caboclinho. São mais de dez grupos oficiais que desfilam pelas ruas de Limoeiro nas datas festivas. Fig. 132: Boi de caboclinho – Cara Branca. Fonte: http://www.boicarabrancadelimoeiro.wordpress.com/sobre-o-boi-caboclinho-cara-branca/ Fig. 133: Caboclinhos e “mateus” – Boi Cara Branca. Fonte: Túlio Freitas, 2011. | 84 Fig. 134: Escola de samba Verde e Branco Fonte: http://www.limoeiro.pe.gov.br/imagens.aspx Além dos blocos e expressões acima citadas, deve-se lembrar de outras atividades artísticas individuais que são únicas no gênero existentes na cidade como: “O morto e o vivo” e “A Porca”. Fig. 135: O morto carregando o vivo. Fonte: http://www.blogdoandersonpereira.com/2011/03/fotos-das-agremiacoes-tarde-de-0603.html 8.2. Diretrizes para intervenção arquitetônica Paisagismo a. Plantar novas árvores nas áreas livres existentes atualmente. | 85 b. Criar canteiros nas áreas pavimentadas, possibilitando o convívio entre os frequentadores e visitantes, implantar vegetação para melhoria das condições de conforto térmico, acústico e tratamento estético nas vias de circulação interna. c. Inserir novos postes de iluminação para melhoria da visibilidade e segurança nas vias internas. d. Inserir novo mobiliário urbano, como lixeiras, bancos, placas de sinalização e luminárias. e. Adequar as áreas livres para que se tornem praças de convívio, proporcionando o encontro e visitação dos cidadãos. f. Dotar as áreas de circulação interna e a área coberta (marquise) frontal de assentos para que pessoas com mobilidade reduzida consigam fazer paradas de descanso ao atravessar toda fachada e para que o passeio se torne um local de convívio para os visitantes. Circulação a. Reabrir os acessos frontais para a Avenida Octaviano Heráclio Duarte e lateral para a Rua Carlos da Costa Pereira, que atualmente estão entaipados, facilitando o acesso dos pedestres aos galpões principais e ao interior da Usina. b. Garantir o acesso de veículos pelos portões existentes voltados à Avenida Octaviano Heráclio Duarte. c. Criar uma nova entrada de veículos pela Rua Carlos da Costa Pereira para melhor acesso dos blocos. Fachadas a. Recuperar e recompor a platibanda. b. Repintar os letreiros na platibanda onde se destaca o nome da Usina. c. Recuperar o piso (calçada) para retirada das fissuras existentes e nivelamento para mais fácil acesso e circulação. d. Dotar as calçadas de rampas de acesso, interligando-as. | 86 e. Desentaipar as portas de acesso para cada galpão, possibilitando o acesso individual dos grupos. f. Impermeabilizar a marquise, evitando a continuidade de infiltrações. g. Repintar as paredes externas nas cores tradicionais azul e branca e / ou realizar prospecções arquitetônicas para identificar as camadas pictóricas originais. h. Admitem-se mudanças nos revestimentos e desenhos dos pisos com a finalidade de suprir as condições de acessibilidade. Interior O interior da Usina está bastante degradado pela falta de uso e manutenção. Muitos problemas de desmoronamentos de coberta, partes de reboco arrancadas e de reformas para acréscimo de divisórias descaracterizam a Usina. Para tanto, as medidas abaixo devem ser tomadas como base para uma intervenção que qualifique o interior dos galpões. - cobertas a. Recompor as cobertas dos galpões em estrutura de tesouras de madeira e revestimento de telha cerâmica, como originalmente. b. Admite-se o uso de lanternim na coberta a fim de melhorar o funcionamento da iluminação / ventilação natural nos galpões. - paredes a. Recompor as paredes, rebocando-as onde necessário. b. Repintar as paredes preservando as cores originais onde for possível. c. Realizar prospecções arquitetônicas para identificar as camadas pictóricas originais. d. Reabrir acessos entre galpões que foram entaipados, onde for necessário. e. Usar de outros artifícios (que não o entaipamento) para manter os acessos fechados. | 87 f. Preservar as roscas aparentes em algumas paredes para que sirvam de memória da Usina. g. Admitem-se divisórias internas nos galpões para adequá-lo a novos usos. - pisos a. Proteger as roscas que cortam o piso de alguns galpões com superfícies transparentes para que se torne evidente a existência e a importância deste maquinário no funcionamento da Usina. b. Manter e identificar os locais de reservatórios subterrâneos. c. Manter os pisos em ladrilho hidráulico existentes. d. Admitem-se mudanças nos revestimentos e desenhos do piso para melhoria e adequação a novos usos. - esquadrias a. Recompor as esquadrias em seus materiais, desenhos e modelos tradicionais. b. Onde for necessária a troca de esquadrias estas devem ser de madeira conforme o material, desenho e modelo já existentes. c. Dotar as aberturas existentes no alto das paredes laterais dos galpões mais altos (fig. 136) de esquadrias para controle da iluminação / ventilação natural, segurança e entrada de animais. d. Criar vedação para as demais aberturas sem proteção. | 88 Fig. 136: Aberturas laterais no alto dos galpões. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. e. Repintar as esquadrias atuais. f. Admite-se o uso de novos materiais para as novas esquadrias. Bens móveis e integrados Os bens integrados da IRODUSA são o relógio que era fixado na fachada e os maquinários móveis e fixos (tratados no capítulo 7), além do mobiliário e equipamentos de época dispostos no interior da administração. As diretrizes abaixo se fazem necessárias para que não se percam estes bens. - relógio a. Consertar o maquinário para que volte a funcionar. b. Remover a ferrugem externa. c. Colocá-lo de volta ao seu local original na fachada frontal, para que volte a ser um marco para a Usina e torne a ser parte do cotidiano da cidade. | 89 - maquinário Elementos importantes e fundamentais para a memória da Usina, os equipamentos que compõem o maquinário são fundamentais para contar a história da IRODUSA. É importante ressaltar que os atuais responsáveis pela fábrica não querem se desfazer de várias máquinas que ainda estão na edificação. - maquinário móvel a. Recuperar as máquinas (limpar, repintar, retirar ferrugem). b. Criar um memorial da Usina, onde possa expor o maquinário móvel, podendo ser parte das máquinas exibidas num sistema de rodízio. c. Utilizar o galpão que possui grande número de roscas no piso para expor o maquinário móvel, criando instalações e espaços lúdicos. - maquinário fixo a. Recuperar as máquinas (limpar, repintar, retirar ferrugem). b. Manter as máquinas fixas nos locais em que estão, possibilitando a cada galpão ser expositor da memória da Usina, com quadros de fotografias nas paredes mostrando e explicando sua antiga função. - Mobiliário a. Manter o mobiliário existente nas dependências da Usina como meio de se reportar à memória dela. b. Admite-se o reposicionamento do mobiliário nas instalações do complexo. Instalações a. Reconstituir as instalações prediais de água encanada, esgoto e energia elétrica. | 90 b. Instalar, segundo as normas técnicas exigidas pelos bombeiros, hidrantes e extintores de incêndio, entre outros dispositivos. c. Instalar novos equipamentos para ventilação, como exautores e condicionadores de ar. d. Admitem-se outros dispositivos e instalações prediais de segurança, circulação e comunicação como antenas, pára raios, telefones, elevadores, sensores, alarmes, entre outros. Faz-se necessário lembrar, porém, que para realização de um plano diretor mais detalhado para o complexo, devem-se envolver vários profissionais específicos de cada área tratada, para melhor desenvolvimento, aplicação e até mesmo durabilidade e manutenção das ações. 8.3. Estudo preliminar para um conjunto de galpões Como fechamento do trabalho foi elaborado um estudo preliminar, seguindo as diretrizes elaboradas no item anterior, para que se visualize a viabilidade do projeto de intervenção, buscando inserir na edificação sedes de grupos culturais da cidade, que é carente de espaço para manifestações artísticas. No estudo preliminar foram usados os galpões principais, enumerados de 01 a 15 (Planta 01). Os grupos foram distribuídos nos galpões de acordo com a necessidade espacial e dimensional de cada um, para realização de ensaios, confecção de roupas e alegorias e armazenagem. A tabela abaixo mostra a distribuição dos grupos no conjunto de galpões: Fig. 137: Tabela de grupos e seu respectivo galpão. MÚSICA popular Classificação Local Grupos Galpão 06 banda de pífano Galpão 05 grupos de coquistas Galpão 06 grupos de cirandeiros Galpão 05 bloco lírico Galpões 14 grupos de maracatu e 15 de baque virado Nomes - Zé de teté - Flor do Limoeiro - Leão do Norte - Leão da Cordilheira | 91 - Calús Independentes da COHAB Galpão 02 blocos de calús - Calús de Sabá - Calús de Djalma - Calús de Néo carnavalesca MÚSICA / DANÇA Galpão 04 Galpão 11 - Gigantes do Capibaribe Galpão 09 - Verde e Branco escolas de samba Galpão 08 - Beija Flor do Capibaribe - Filho do Gato - Mocidade do Samba Galpão 02 - Boi Cara Branca (bi campeão Galpão 04 pernambucano) - Boi Pavão - Boi Misterioso - Boi Leão bois de caboclinho - Boi Dourado (campeão pernambucano) - Boi Esperança - Boi Teimoso - Boi Caprichoso - Boi Doido - Boi Estrela Galpão 02 - Urso Drácula Galpão 04 - Urso Pé de Lã ursos - Urso Pula Muro - Urso Peludinho - Urso Lapada TEATRO grupos de teatro (Orquestras) - Sociedade Musical 25 de Setembro sociedades musicais - escolas municipais e estaduais fanfarras S NAI SIO Galpão 12 OCA DES MUSICAIS - Galpão das Artes - Sociedade Musical Santa Cecília Galpão 13 IDA SOCIEDADES ATIV - LIONART Galpão 01 (inclusive particulares) | 92 - escolas municipais e estaduais Galpão 12 quadrilhas (inclusive particulares) Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. O uso proposto necessita de um programa simplificado, que abrigue basicamente os ensaios dos grupos. Portanto, novas divisórias internas que servem para vedação de banheiros, salas e armários surgiram, para adequação dos galpões aos novos usos. A solução de coberta para resolver parte das questões de iluminação e ventilação foi o uso do lanternim. As aberturas laterais seriam fechadas com venezianas. Nos galpões de maior pé direito, onde já existem aberturas laterais, a medida seria dotar as aberturas de esquadrias para maior controle (fig. 138). Fig. 138: Esquema de ventilação dos galpões. Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011. Os memoriais locados nos galpões 03, 07 e 12 são importantes para a divulgação do que era produzido na Usina e como se dava esta produção, além de relacionar a IRODUSA com a cidade de Limoeiro. O galpão 03, por possuir um maquinário fixo, foi transformado no Memorial do Algodão II. Nele, além de ser mantido o maquinário existente, será exposto maquinário móvel. Nos quadros e painéis dispostos poderá ser visto o descaroçamento do algodão na Usina e a produção de óleo e sabão. O galpão 07, por possuir grande número de roscas no piso, foi transformado no Memorial do Algodão I. As roscas serão cobertas com vidro, para que seja | 93 evidente a importância delas para o funcionamento da Usina. Neste galpão foram dispostos painéis e quadros que contam a história do descaroçamento do algodão na Usina e a produção de farelo, além de possuir espaço para exposição de maquinário móvel. Parte do galpão 12, também está voltada à exibição de materiais da Usina. Nele, serão mostradas a relação de Octaviano e sua Usina com a evolução econômica da cidade de Limoeiro. Neste galpão também será mantido o maquinário móvel e serão dispostos painéis e quadros para as mostras. O estudo preliminar mostra a viabilidade do projeto de intervenção com a manutenção das principais características da Usina. O estudo adéqua os galpões a um novo uso sem descaracterizar a edificação e promovendo as manifestações culturais tão intensas na cidade. | 94 Planta 02 | 95 Planta 03 | 96 9. Considerações finais O presente trabalho mostrou a importância da IRODUSA à Limoeiro, enfatizando o valor histórico da Usina e sua parcela de colaboração com o progresso econômico da cidade. A Usina beneficiou a população limoeirense por muitos anos, gerando empregos e movimentando a economia, fatos que fizeram da IRODUSA, até os tempos atuais, um marco histórico e arquitetônico para o município. Por seu valor arquitetônico e por ser uma edificação viva que conta a história da cidade, a IRODUSA merece atenção especial de estudantes, profissionais e gestores, para que não seja esquecida, descaracterizada ou destruída. Para realização do presente trabalho muitas foram as dificuldades. O difícil acesso aos arquivos municipais da prefeitura, cartório e arquivos pessoais, além da desautorização da entrada da autora na IRODUSA após a conclusão da primeira parte do trabalho, impossibilitando o levantamento arquitetônico e, consequentemente, alterando a ordem do cronograma apresentado em TG 01. O tema sofreu alterações e aqui foi apresentado como base do trabalho o Plano de Conservação da Usina, seguido de um estudo preliminar que fundamenta e aprova as regras do Plano e não uma intervenção, como previa TG 01. O receio dos proprietários de edificações em relação ao tema patrimônio ainda é uma barreira na documentação e catalogação de grandes obras artísticas no interior do estado de Pernambuco. Por fim, o presente trabalho de graduação se encerra no anseio de que, em um futuro próximo, as cidades interioranas cuidem mais de seu patrimônio arquitetônico e encontre no patrimônio industrial um forte aliado no seu desenvolvimento urbano. | 97 10. 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