FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA – FAVIP
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
DAYANNE J. AZEVÊDO ALVES
PLANO DE CONSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO
ARQUITETÔNICA PARA A USINA IRODUSA EM
LIMOEIRO-PE
Orientadora: Aline de Figueirôa Silva
CARUARU
2011
DAYANNE J. AZEVÊDO ALVES
PLANO DE CONSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO
ARQUITETÔNICA PARA A USINA IRODUSA EM
LIMOEIRO-PE
Trabalho de Graduação, apresentado ao
curso de Arquitetura e Urbanismo da
Faculdade do Vale do Ipojuca como
requisito para obtenção do título de
Arquiteta e Urbanista.
Orientadora: Aline de Figueirôa Silva.
Caruaru
2011
A474p
Alves, Dayanne Josefa Azevêdo.
Plano de conservação e intervenção arquitetônica para a Usina
IRODUSA em Limoeiro-PE / Dayanne Josefa Azevêdo Alves. -Caruaru : FAVIP, 2011.
101 f. :
Orientador(a) : Aline de Figueirôa Silva.
Trabalho de Conclusão de Curso (Arquitetura e Urbanismo) -Faculdade do Vale do Ipojuca.
Inclui anexo.
1. IRODUSA. 2. Intervenção arquitetônica. 3. Patrimônio
industrial. I. Título.
CDU 72[12.1]
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367
Dedico este trabalho ao meu pai, meus três irmãos, meus
quatro sobrinhos e meu namorado, homens da minha
vida, e à minha mãe, minha maior mestra.
Agradecimentos
À professora Aline Figueirôa, pela paciência e cuidado sempre prestados no
acompanhamento do presente trabalho; aos meus amigos da turma 0701, em especial
Maria Lucimara da Conceição, grande companheira.
Aos limoeirenses que colaboraram com minha pesquisa de campo, com destaque
para Luís Cláudio, funcionário da IRODUSA, pelas visitas ao complexo; ao Sr. Geraldo de
Albuquerque Barbosa, ex funcionário da IRODUSA, pela conversa e informações
concedidas; a Dênia, professora do ensino fundamental e médio, que me despertou para a
importância da história; ao diretor de cultura da cidade de Limoeiro, Suetônio de Oliveira e
Silva, pela ajuda no mapeamento dos grupos artísticos e culturais da cidade.
Ao coordenador do curso, Eduardo Moura, sempre presente nas aulas de Trabalho
de Graduação e a professora da disciplina, Suenne Cunha.
Aos arquitetos Bernardo Lopes e Haroldo Bernardino, pela experiência compartilhada
nos escritórios durante anos e ao arquiteto Wolney Leite pelas viagens no mundo da
arquitetura.
Aos professores que participaram da primeira banca deste trabalho, Vânia Cavalcanti
e Alexandre Ramos, que muito acrescentaram e colaboraram positivamente.
Por fim, o agradecimento mais importante: ao Brasil, pela oportunidade de cursar o
nível superior, sendo bolsista integral.
“Atiramos o passado ao abismo, mas não
nos enclinamos para ver se está bem morto.”
Willian Shakespeare
Resumo
O presente trabalho trata de um estudo sobre a Usina IRODUSA – Indústrias
Reunidas Octaviano Duarte S. A., contemplando a história, a análise construtiva,
arquitetônica e a compreensão funcional do conjunto industrial, as diretrizes para
intervenção e uma proposta de intervenção arquitetônica (estudo preliminar) nos
galpões do complexo. A IRODUSA é uma antiga usina de descaroçamento e
beneficiamento de algodão que está localizada na Avenida Capibaribe, na cidade de
Limoeiro – PE. Historiar a edificação com a leitura do conjunto arquitetônico e propor
novos usos a partir da elaboração de um plano de conservação são as principais
ocupações do presente trabalho. Este é um dos poucos estudos arquitetônicos
realizados sobre edificações da cidade e visa abrir caminho para novas pesquisas
sobre a rica arquitetura de Limoeiro. Para execução deste, foi realizado um
levantamento fotográfico e de dados históricos, a fim de registrar o que atualmente
está consolidado no terreno da Usina e identificar os usos que ela possuiu. Por fim,
foi elaborado um estudo preliminar para que se visualize a viabilidade do projeto de
intervenção, buscando inserir na edificação sedes de grupos culturais da cidade, que
é carente de espaço para manifestações artísticas.
Sumário
1. Introdução ............................................................................................................. 7
2. Justificativa ...................................................................................................................................9
3. Objetivos .............................................................................................................. 12
3.1.
Objetivo Geral .................................................................................... 12
3.2.
Objetivos Específicos ......................................................................... 12
4. Fundamentação teórico-metodológica ................................................................ 13
4.1.
Os procedimentos metodológicos ....................................................... 13
4.2.
As cartas patrimoniais ......................................................................... 14
4.3.
Os estudos de caso ............................................................................................. 17
4.3.1. Usina Guaíba, Porto Alegre – RS ............................................................. 17
4.3.2. SESC Pompéia, São Paulo – SP .............................................................. 21
4.3.3. Análise comparativa dos estudos de caso ............................................. 27
4.4.
O Plano Diretor de Limoeiro, 2006 .................................................................. 31
5. IRODUSA – Análise do contexto urbano.............................................................. 35
5.1.
Marcos históricos e arquitetônicos .................................................................. 35
5.2.
Mobilidade Urbana ............................................................................................... 37
5.3.
O Projeto Beira Rio .............................................................................................. 39
6. IRODUSA – Da criação aos dias atuais ............................................................... 40
6.1.
A Cheia de 1975 ................................................................................................... 43
6.2.
O incêndio de 1978 .............................................................................................. 44
7. IRODUSA – Leitura do conjunto industrial e arquitetônico ................................... 46
8. IRODUSA – Plano de conservação e intervenção arquitetônica .......................... 79
8.1.
Mapeamento dos grupos artísticos e culturais de Limoeiro e região .... 79
8.2.
Diretrizes para intervenção arquitetônica ...................................................... 84
8.3.
Estudo preliminar para um conjunto de galpões ......................................... 90
9. Considerações finais ................................................................................................................ 96
10. Referências .............................................................................................................................. 97
|7
1. Introdução
A cidade de Limoeiro-PE, por estar próxima à capital do estado (Recife) e por
ter sido, durante muitos anos, uma cidade pólo para o desenvolvimento econômico
no interior, graças ao beneficiamento de algodão e ao forte comércio, exerceu um
papel de referência para as cidades vizinhas.
Além da importância econômica e comercial da Limoeiro, a cidade é
referência do ponto de vista artístico e cultural, sendo um pólo turisticamente atrativo
tanto por suas festas tradicionais, como a Festa de São Sebastião (em homenagem
ao padroeiro) e o Micaeiro (carnaval fora de época), quanto pelas manifestações de
cultura e arte popular.
Limoeiro conta com uma rica produção musical. Orquestras, sociedade de
música e várias bandas e cantores difundem o nome da cidade. Manifestações
carnavalescas vencedoras de concursos estaduais são comuns no município.
Quadrilhas juninas e bandas de fanfarra dão continuidade à tradição. Além disso, a
cultura se manifesta na produção cênica: grupos e caravanas de teatro reconhecidos
internacionalmente se unem ao cenário cultural da cidade. O artesanato é uma
atração à parte e, junto com a gastronomia, faz de Limoeiro um lugar procurado pela
população de outros municípios.
Todas essas manifestações de cultura da cidade funcionam como atrativos
turísticos
que,
mesmo
assim,
são
desprovidas
de
espaço
próprio
para
funcionamento. A maioria das sedes destas entidades é alugada e mantida com
recursos adquiridos por doação dos próprios membros e/ou pelo poder público.
Em Limoeiro também se pode encontrar uma rica e histórica produção
arquitetônica: representantes do estilo neocolonial, como o Mercado Público e o
Colombo Sport Club, exemplares do ecletismo, como a Prefeitura e o antigo
Açougue Municipal, e modelos do art déco, como a antiga sede dos Correios e
Telégrafos, o Grande Hotel e o Cinema São Luiz. O acervo arquitetônico histórico da
cidade é, via de regra, de propriedade do poder público e historicamente foi
esquecido por governantes anteriores. Numa tentativa de dar novos usos às
construções, o governo municipal, desde a posse do atual prefeito – Ricardo
Teobaldo (2009) – procura ocupar as edificações com secretarias governamentais,
conseguindo algumas vezes preservá-las a partir de um novo uso. Edificações
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históricas privadas estão degradadas pela ação do tempo, pela falta de conservação
dos proprietários e moradores e suas diversas reformas, que as descaracterizam.
Por outro lado, a cidade possui carência de relatos e estudos sobre seu
desenvolvimento urbano e contar a história a partir de uma construção existente é
um meio de entrelaçar os aspectos sociais e econômicos locais. Propor um novo uso
para uma edificação histórica é proporcionar a sobrevivência de um ícone
arquitetônico e assim oferecer aos grupos culturais um local para suas
manifestações tradicionais.
Neste sentido, o presente trabalho trata-se de um estudo sobre a Usina
IRODUSA – Indústrias Reunidas Octaviano Duarte S. A., contemplando a história, a
análise construtiva, arquitetônica e a compreensão funcional do conjunto industrial,
as diretrizes para intervenção e uma proposta de intervenção arquitetônica nos
galpões do complexo. A IRODUSA é uma antiga usina de descaroçamento e
beneficiamento de algodão, localizada em uma área central cidade de Limoeiro-PE e
encontra-se desativada.
A proposta de novos usos para as instalações da Usina traria para Limoeiro
um local para as manifestações artístico-culturais que já são evidentes na cidade,
lhes proporcionando espaço adequado, já que não possuem sede própria e aos
grupos de cidades vizinhas, possibilitando o intercâmbio cultural.
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2. Justificativa
Diante da importância da Usina IRODUSA (Indústrias Reunidas Octaviano
Duarte S. A.) (fig. 01) como precursora no beneficiamento de algodão na cidade de
Limoeiro-PE, sua colaboração para o desenvolvimento econômico do município e o
valor histórico da construção, é essencial historiar e divulgar como o algodão
associado à Usina mostra a evolução urbana da cidade.
O presente trabalho se propõe a escrever a história da Usina, mapear os
grupos culturais da região, elaborar diretrizes e realizar uma intervenção
arquitetônica em nível de estudo preliminar em alguns dos seus equipamentos,
considerando o conjunto edificado e o desenvolvimento que sua produção trouxe
para o município, que chegou a ser um dos maiores produtores do estado, com 80%
do total do algodão produzido em Pernambuco. Limoeiro possui até os dias de hoje
alguns galpões de estocagem que são marca da grande produção de algodão. Eles
estão distribuídos nas principais vias da cidade, que, por iniciativa dos proprietários,
mudaram seu uso, passando a abrigar atividades que se adaptam às necessidades
locais, como oficinas, lojas e teatro.
Na cidade, está em fase de elaboração um projeto de revitalização urbana
denominado Projeto Beira Rio, que se propõe a revitalizar a área do Rio Capibaribe,
contemplando seu entorno. A proposta de melhoramento beneficiará diretamente a
Usina, já que parte dela está inclusa no projeto. Os objetivos do Projeto Beira Rio
são trazer de volta a beleza do Rio que corta a cidade e fazer do complexo que inclui
o centro da cidade e a feira livre (a ser relocada) atrações turísticas. De acordo com
o Projeto Beira Rio, parte da Usina será ocupada pela feira livre que atualmente
funciona no pátio de eventos Toinho de Limoeiro, no centro da cidade. Com a feira
livre locada em parte da Usina, a intenção é também valorizar o comércio formal do
centro da cidade, melhorar o acesso à sede do governo municipal e ordenar o
trânsito de veículos e pedestres.
O novo “Pátio da Feira”, como é conhecido, sendo instalado em parte da
Usina (onde funcionava a Algodoeira Palmeirense), trará benefícios a todo o
complexo fabril, mesmo às partes não usadas no Projeto Beira Rio. A mudança
acarretará o aumento do número de pessoas que circulam no local. A Avenida
Octaviano
Heráclio
Duarte
(antiga
Avenida
Capibaribe)
se
tornará
mais
| 10
movimentada e todo o entorno imediato, que atualmente é um local esquecido, se
tornará visitado por moradores e turistas, já que a feira atrai compradores de toda a
região.
É importante ressaltar que a Usina ocupa lugar central privilegiado, de fácil
acesso aos moradores da cidade e está próxima a uma grande concentração de
edifícios históricos, como o Colombo Sport Club, a Rádio Difusora e a Matriz de
Nossa Senhora da Apresentação. É uma área potencial da cidade, voltada para o
Rio Capibaribe, inserida num bairro predominantemente residencial, que cresce em
ritmo acelerado. Todo esse contexto favorece o novo uso da IRODUSA, que há
muitos anos está desativada.
Com a Usina desativada e a proposta de ocupá-la, em parte, com a feira livre,
tem-se um local adequado para locar espaços que complementem a feira, como
atividades artesanais, culturais e gastronômicas. Assim, a cidade teria espaço para
funcionamento de seus grupos artísticos culturais com sede própria.
Por sua importância histórica, a Usina é a possibilidade das pessoas
conhecerem um pouco mais sobre a memória e desenvolvimento da cidade de
Limoeiro, representadas em um amplo e vivo conjunto edificado.
Figura 01: Vista da Usina IRODUSA de Limoeiro-PE
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Por outro lado, a conservação do patrimônio industrial tem sido palco de
discussão e motivou diversos encontros no mundo inteiro. Por sua relevância, a
temática gerou a criação de organizações não governamentais de proteção a este
patrimônio específico, a exemplo do Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio
Industrial TICCH-Brasil. O TICCH – The International Commites for the Conservation
of the Industrial Heritage, é o principal órgão internacional de debate do tema.
| 11
A temática motivou também a criação de uma Carta Patrimonial específica, a
Carta de Nizhny Tagil, que aponta diretrizes para a conservação, preservação,
restauro e intervenções no patrimônio arquitetônico da industrialização. A Carta, que
é recente (2003), amplia o conjunto das cartas patrimoniais anteriores no intuito de
proteger tanto o bem arquitetônico, quanto outros bens culturais de igual
importância.
Deste modo, o presente trabalho se justifica e encontra apoio em discussões
atuais sobre o patrimônio industrial.
| 12
3. Objetivos
3.1. Objetivo geral
Elaborar um plano de conservação para a Usina de beneficiamento de
algodão IRODUSA (Indústrias Reunidas Octaviano Duarte S. A.), contemplando: a
leitura do conjunto arquitetônico, o mapeamento dos grupos artísticos e culturais de
Limoeiro e região, diretrizes para intervenção e uma proposta arquitetônica (estudo
preliminar) para o conjunto de galpões do complexo.
3.2. Objetivos específicos
- Valorizar o patrimônio arquitetônico da cidade de Limoeiro-PE, considerando que o
edifício da IRODUSA foi a primeira fábrica da cidade;
- oferecer um pólo cultural para o município, que seja ponto de encontro de
moradores e turistas e abrigue as manifestações artísticas da região;
- contribuir para a criação de bibliografia especializada sobre a história da arquitetura
de Limoeiro.
- sistematizar informações sobre grupos artísticos e culturais de Limoeiro e região.
| 13
4. Fundamentação teórico-metodológica
O presente capítulo trata dos procedimentos metodológicos, que são os
levantamentos de dados e documentos e o embasamento teórico, que abrange o
estudo da legislação e cartas patrimoniais, além dos estudos de caso de
intervenções em áreas fabris que fundamentam o desenvolvimento deste trabalho.
4.1. Os procedimentos metodológicos

Levantamento documental – busca em cartórios de registro de imóveis; busca
em arquivos da Prefeitura Municipal de Limoeiro e suas Secretarias; registros
particulares da Usina, fotos e outros documentos de época.

Levantamento arquitetônico e fotográfico – levantamento e registro das
condições atuais da Usina já que não existem, em arquivos conhecidos,
plantas da época de sua fundação.

Levantamento bibliográfico – dando ênfase à história da cidade de Limoeiro e
sua ligação com o ciclo algodoeiro, da história da arquitetura industrial e sua
manifestação na cidade, e do patrimônio, por ser uma edificação de valor
histórico-cultural.

Coleta de informações orais – com proprietários, herdeiros, ex-trabalhadores
(como Sr. Geraldo de Albuquerque Barbosa) e trabalhadores atuais,
professores da cidade e conhecedores da história e do funcionamento da
Usina no passado, bem como de suas condições atuais.

Estudo da legislação específica – leis urbanísticas (e ambientais), para
verificar a existência de parâmetros arquitetônicos e urbanísticos do município
por se tratar de uma área próxima ao Rio Capibaribe.

Estudo do contexto urbano – buscando interpretar os usos, marcos históricos
e arquitetônicos e atividades que se destacam no entorno da Usina e que
podem interferir nela diretamente.

Leitura do conjunto industrial e arquitetônico – mapeando os usos atuais e
originais dos equipamentos para estabelecer um registro do funcionamento
do complexo, os aspectos construtivos e suas condições de conservação.
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
Mapeamento dos grupos artísticos – grupos culturais na cidade e região, que
não possuem sede própria e que carecem espaço para desenvolver suas
atividades.

Elaboração de diretrizes para a conservação da IRODUSA.

Elaboração da proposta de intervenção, em nível de estudo preliminar, para o
conjunto de galpões.
4.2. As Cartas Patrimoniais
As cartas patrimoniais são documentos internacionais que tratam o patrimônio
arquitetônico, entre outros bens culturais, e dão diretrizes para a preservação,
conservação e intervenção nas obras de valor histórico e cultural. O presente
trabalho se baseia na Carta Patrimonial de Veneza (1964), na Carta de Burra (1980)
e na Carta de Nizhny Tagil (2003) 1.
A Carta de Nizhny Tagil define o patrimônio industrial como aquele que é de
relevância para a sociedade e abrange não só o bem arquitetônico industrial de valia
histórica, mas também os elementos que o compõem, como o maquinário e
habitações de trabalhadores, que são de igual importância.
“O patrimônio industrial compreende os vestígios da
cultura
industrial
que
possuem
valor
histórico,
tecnológico, social, arquitetônico ou científico. Estes
vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas,
fábricas, minas e locais de processamento e de
refinação, entrepostos e armazéns, centros de produção,
transmissão e utilização de energia, meios de transporte
e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como
os locais onde se desenvolveram atividades sociais
relacionadas com a indústria, tais como habitações,
locais de culto ou de educação.” - Carta de Nizhny Tagil
(2003).
1
A Carta de Nizny Tagil sobre o Patrimônio Industrial foi consultada no site:
www.patrimonioindustrial.org.br/modules.php?name=News&file=article&sid=29, que disponibiliza a
versão traduzida para português do texto original, disponível em www.mnatec.com/TICCIH.
| 15
A Carta de Nizhny Tagil afirma que o patrimônio industrial deve ser
considerado como uma parte integrante do patrimônio cultural em geral e levando
em conta suas peculiaridades.
“Ela deve ser capaz de proteger as fábricas e as suas
máquinas, os seus elementos subterrâneos e as suas
estruturas no solo, os complexos e os conjuntos de
edifícios, assim como as paisagens industriais. As áreas
de resíduos industriais, assim como as ruínas, devem ser
protegidas, tanto pelo seu potencial arqueológico como
pelo seu valor ecológico.” - Carta de Nizhny Tagil (2003).
A Carta de Veneza trata, em seu artigo 7º, dos equipamentos que compõem o
complexo histórico. De acordo com a Carta, estes equipamentos, a exemplo de
maquinários de uma fábrica, devem ser preservados em seus locais originais.
“O monumento é inseparável da história de que é
testemunho e do meio em que se situa. Por isso, o
deslocamento de todo monumento ou de parte dele não
pode ser tolerado, exceto quando a salvaguarda do
monumento o exigir ou quando o justificarem razões de
grande interesse nacional ou internacional.” – Carta de
Veneza (1964).
A Carta sobre o patrimônio industrial menciona a importância das políticas de
conservação industrial que devem sempre ser inclusas nas políticas econômicas e
urbanísticas desenvolvidas sobre a cidade, como o plano diretor. É igualmente
importante proteger o entorno da edificação histórica passível de intervenção, como
cita a Carta de Burra, em seu artigo 7º:
“A conservação de um bem exige a manutenção de um
entorno visual apropriado, no plano das formas, da
escala, das cores, da textura, dos materiais, etc. não
deverão ser permitidas qualquer nova construção, nem
qualquer demolição ou modificação susceptíveis de
| 16
causar prejuízo ao entorno. A introdução de elementos
estranhos ao meio circundante, que prejudiquem a
apreciação ou fruição do bem, deve ser proibida.” – Carta
de Burra (1980).
A Carta de Nizhny Tagil reforça a idéia de manutenção da integridade do sítio
industrial e aconselha a busca, sempre que possível, da autenticidade do local.
“O valor e a autenticidade de um sítio industrial podem
ser
fortemente
reduzidos
se
a
maquinaria
ou
componentes essenciais forem retirados, ou se os
elementos secundários que fazem parte do conjunto
forem destruídos.” – Carta de Nizhny Tagil (2003).
A exemplo de outras cartas patrimoniais que tratam de sítios em geral, a
Carta de Nizhny Tagil prevê que as intervenções realizadas nos sítios industriais
devem ser reversíveis e provocar um impacto mínimo. Caso haja alterações no sítio,
devem ser registradas e os elementos significativos que forem retirados devem ser
inventariados e armazenados num local seguro.
É importante ressaltar que o inventário de um bem arquitetônico é
indispensável para a perpetuação do patrimônio.
“O inventário constitui uma componente fundamental do
estudo do patrimônio industrial. O inventário completo
das características físicas e das condições de um sítio
deve ser realizado e conservado num arquivo público,
antes de se realizar qualquer intervenção.” – Carta de
Nizhny Tagil (2003).
Antes de realizar qualquer intervenção é sempre necessário o estudo
completo do local e seu entorno.
As cartas patrimoniais aconselham mostrar a informação sobre o patrimônio
desde a educação fundamental, nas escolas primárias, e espalhar entre as pessoas
os valores que estes patrimônios, inclusive o industrial, carregam, mostrando sua
importância histórica para a cidade. Além das construções conservadas, que são
| 17
fontes diretas de informação, a construção de museus que tratam do assunto,
publicações, exposições, programas de televisão, internet e outros meios de
comunicação são grandes fontes para tal conhecimento. As atividades turísticas nas
regiões industriais também são disseminadores do valor do patrimônio e promovem
acesso permanente aos sítios.
4.3. Os estudos de caso
Como parte da fundamentação teórico-metodológica, foram escolhidas duas
intervenções em equipamentos industriais tomadas como estudos de caso: A Usina
Guaíba, em Porto Alegre-RS e o Sesc Pompéia, em São Paulo-SP.
4.3.1 Usina Guaíba, Porto Alegre- RS2
A Usina Guaíba é uma edificação de grande porte, construída próxima a um
elemento natural de destaque na paisagem: o Rio Guaíba. Assim como a IRODUSA,
a Usina Guaíba tornou-se marco pela imponente construção em diálogo com a
natureza. Ambas as construções possuem uma história que se mistura à da cidade e
à da população. Ao estudar o caso da Usina Guaíba encontram-se boas referências
para nortear a elaboração de diretrizes para intervenção na IRODUSA.
A Usina Guaíba (fig. 02) está localizada na Praia do Arsenal em Porto AlegreRS e foi apelidada de Usina do Gasômetro por se localizar próximo a uma usina de
gás hidrogênio carbonado, chamada Gasômetro. A Usina Guaíba era responsável
por gerar energia elétrica à base de carvão mineral para Porto Alegre.
2
A maior parte das informações foi retirada do site: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php
?p seção=138.
| 18
Figura 02: Foto aérea da Usina Guaíba.
Fonte: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/vivaocentro/default pp?p_secao=90#
As instalações da Usina Guaíba foram inauguradas no dia 11 de novembro de
1928, mostrando, com isso, os primeiros passos da industrialização no Brasil. O
edifício abrigou a CEERG – Cia. Energia Elétrica Rio Grandense, subsidiária da
multinacional americana Eletric, Bond and Share, empresa que gerava eletricidade e
transporte elétrico para Porto Alegre, com sede nos Estados Unidos. A referida
Usina substituiu outras três que funcionavam na cidade.
O projeto e maquinários que compunham o equipamento arquitetônico vieram
da Inglaterra. O programa inicial do edifício era extenso e se dividia basicamente em
três partes:
- Casa das Caldeiras – pé direito de 20 metros com grandes pórticos que
sustentavam cinco tremonhas (como funis ou silos de armazenagem) que recebiam
carvão e distribuíam combustível por gravidade aos cinco fornos do térreo;
- Casa das Máquinas – piso único dividido por blocos de concreto que serviam de
apoio aos turbo-geradores. Abaixo deste nível existiam tanques para arrefecimento
dos equipamentos, que se comunicava com o rio. Acima ficava a sala dos turbogeradores. Espaço amplo que possuía paredes revestidas de azulejos brancos.
Acima, na laje, existia um lanternim com venezianas para ventilação natural. O
lanternim também era bastante alto;
- Casa dos Aparelhos – possuía os transformadores de distribuição, administração e
todos os serviços. Era coberta por laje impermeabilizada de 780,00m² que formava
um grandioso terraço.
| 19
As partes construídas eram interligadas e se relacionavam no dia-a-dia da
fábrica. O pé direito era bastante alto, proporcionando melhor ventilação natural. A
planta era mais livre, favorecendo as mudanças posteriores. Como na Usina Guaíba,
a IRODUSA possui muitos blocos que tem funções distintas, mas eles dialogam
entre si. A resolução de coberta com alto pé direito e planta livre também foram
adotadas na IRODUSA, ao que se sabe, pela facilidade de dispor o maquinário,
vindo de outros países.
Para completar o vasto programa, a Usina Guaíba conta com uma chaminé
(fig. 03) que foi construída no ano de 1937. Ela possui aproximadamente 117 metros
de altura e foi construída com o fim de amenizar a emissão de fuligem na região.
Figura 03: Foto da Usina Guaíba e sua chaminé.
Fonte: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/vivaocentro/default.php?p_secao=90#
A estrutura da construção é feita em concreto armado, novidade para o ano
de sua realização, e possui fechamento em alvenaria com tijolos. As esquadrias que
compõem as fachadas são em aço. A fundação mereceu certo cuidado, graças à
proximidade com o Rio Guaíba, é composta de blocos de concreto sobre rocha
granilítica.
A Usina Guaíba teve a implantação como fator relevante neste projeto e na
sua continuidade de uso depois da intervenção. A construção está localizada
próximo ao Rio Guaíba, de onde se pode ver o pôr do sol, fator explorado
| 20
turisticamente na cidade nos dias atuais (fig. 04 e 05). A Usina possui uma área
externa ampla (fig. 06) que gera um espaço livre.
Figuras 04 e 05: Fotos da Usina Guaíba e seu entorno em diferentes épocas.
Fonte: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?reg=7&p_secao=19
Figura 06: Imagem da vista da Usina Guaíba e seu pátio externo.
Fonte: Google Maps.
A Usina Guaíba foi desativada no ano de 1974. O encerramento das
atividades da Usina se dá pela crise do petróleo e a falta de condições de suprir a
demanda de energia. Muitas foram as tentativas de demolição da Usina, mas a
população sempre reagia negativamente à decisão. No ano de 1982, a Eletrobrás
(Centrais Elétricas Brasileiras) cedeu ao município o direito de uso do terreno.
Depois de muitas intervenções, em 1991, a Usina foi aberta ao público, com
programa diferente do original, se adequando ao novo uso – Espaço Cultural do
Trabalho. Sofreu novas modificações em 2007 e atualmente funciona como Centro
| 21
Cultural e possui áreas de ligação com a população, como áreas externas de
convívio, oficinas permanentes e exposição sobre a cidade (fig. 07).
Seu programa atual abriga:
- térreo - espaço para exposição (galerias), recepção, saguão de eventos,
loja, “Usina do papel” (local para realizar oficinas de reciclagem) e memorial;
- 2º pavimento - sala de teatro (745,00m²), espaço para eventos (250
pessoas), bar e terraço;
- 3º pavimento - TV Usina, as coordenações de cinema, vídeo e fotografia e
nativismo e tradicionalismo;
- 4º pavimento - área para exposições (403,00m²) e terraço com vista para o
Rio Guaíba e centro da cidade;
- 5º pavimento - sala para ensaios, duas salas multiusos (40 lugares), galeria
fotográfica e sala climatizada para acervo de filmes e vídeos;
- 6º pavimento - direção, núcleo de serviços gerais, coordenações do
carnaval, descentralização, manifestações populares, o setor de mostras, a Equipe
do Acervo Artístico e o Conselho Municipal de Cultura.
Figura 07: Galerias da Usina Guaíba – Galeria dos Arcos e Galeria Lunara.
Fonte: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smc/default.php?p_secao=138
4.3.2. SESC Pompéia, São Paulo- SP3
As semelhanças entre a antiga fábrica que se adequou ao novo uso trazido
pelo Sesc e a IRODUSA foram fatores que levaram à escolha deste estudo de caso.
Assim como na Usina Guaíba, um elemento natural está presente e permeia o
projeto, desta vez, um córrego, que passa no terreno e adentra as instalações. O
3
Grande parte das informações foi retirada do site http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minh
acidade/08.093/1897.
| 22
terreno é de grande porte e se localiza em uma área central da cidade, rodeado de
bairros residenciais (fig. 08).
O SESC – Serviço Social do Comércio, é uma instituição que busca parcerias
para projetos socioculturais. Com a intenção de oferecer serviços à sociedade, veio
a ideia de transformar um complexo fabril em uma nova sede do SESC em São
Paulo.
Figura 08: Vista aérea geral da Fábrica da Pompéia antes da Reforma.
Fonte: Peter Sheier [OLIVEIRA, Liana Paula Perez de. A capacidade de dizer não: Lina Bo Bardi e a
Fábrica da Po], consultada no site:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897
O local escolhido para abrigar o novo centro foi a antiga Fábrica de Tambores
dos Irmãos Mauser (fig. 09), posteriormente a sede da Ibesa-Gelomatic, antiga
Fábrica de geladeiras (fig. 10). Mesmo depois de perder seu uso como Fábrica de
Tambores e de Geladeiras, o espaço que formava o complexo fabril continuou sendo
extremamente visitado pela população do entorno que buscava um local para
brincadeiras e diversão em meio à carência de espaços públicos voltados ao lazer.
| 23
Figura 09: Fábrica de tambores da Pompéia.
Fonte: Peter Sheier [OLIVEIRA, Liana Paula Perez de. A capacidade de dizer não: Lina Bo Bardi e a
Fábrica da Po] e Foto Peter Sheier [Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi], respectivamente,
consultadas no site: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897
Figura 10: A Fábrica da IBESA – Indústria Nacional de Embalagens S. A., que fabrica carcaças de
geladeiras a querosene Gelomatic.
Fonte: Peter Sheier [Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi], consultadas no site:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897.
O programa anterior era simples e composto por galpões que abrigavam os
maquinários necessários para realização das atividades. O projeto fabril foi
concebido e executado com tecnologia nova, tendo em vista a época de sua
construção. O complexo possuía estrutura importada e moldada por um francês
pioneiro do concreto armado no século XX, François Hennebique.
Em 1977, deu-se início ao projeto que abrigaria a nova sede do SESC em
São Paulo (fig. 11).
| 24
Figura 11: Maquete da proposta de intervenção. Blocos fabris existentes e novos blocos
criados por Lina Bo Bardi.
Fonte: Peter Sheier [Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi], consultadas no site:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897
A arquiteta responsável pela intervenção, a convite dos diretores do SESC na
época, foi Lina Bo Bardi, que contou com a ajuda dos estagiários Renato Requixa e
Gláucia Amaral em um processo que durou nove anos (1977-1986).
Encantada com a grande visitação que o local possuía, mesmo sem atrativos
ou construções ativas, Lina Bo Bardi buscou primeiramente estudar o complexo e
descobrir mais sobre a arquitetura já existente. Lina procurou manter a velha fábrica
que existia e inová-la, propondo assim, uma reinvenção dos espaços já
concretizados.
Para arrematar a proposta ela propôs dois blocos novos que ligariam os dois
lados do complexo e estariam locados no final do lote. Sempre pensando em unir o
antigo com o novo, a arquiteta estudou técnicas e processos construtivos artesanais
e aplicou-as no projeto, como o recolhimento de água da chuva por meio de técnica
não mais usada na época (fig. 12 e 13).
| 25
Figura 12: Calha de concreto e alvenaria revestida com seixos rolados.
Fonte: Peter Sheier [OLIVEIRA, Liana Paula Perez de. A capacidade de dizer não: Lina Bo Bardi e a
Fábrica da Po] consultadas no site: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/
1897.
Figura 13: Retirada do reboco das paredes originais do galpão de atividades gerais, abril 1980, e
Detalhe das treliças do galpão de atividades gerais, respectivamente.
Fonte: Peter Sheier [Arquivo Instituto Lina Bo e P. M. Bardi], consultadas no site:
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/08.093/1897
A fábrica possui uma rua interna que foi intencionalmente transformada pela
arquiteta em um local para movimentos espontâneos, podendo também haver
agendamento de apresentações (fig. 14). Esta rua é central e foi repavimentada e
aberta ao público, prolongando as ruas da cidade para dentro do terreno do SESC.
| 26
Figura 14: Foto da rua interna da fábrica.
Fonte: http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?edicao_id=301&Artig oID=4
688&IDCategoria=5333&reftype=2
Em seu programa atual encontra-se um espaço de lazer, cultura e serviços
que cria uma grande área de convivência bar/café, biblioteca, deck, exposição,
ginásio, oficinas, piscina, restaurante, sala de atividades corporais e teatro. O
espaço externo aberto e provido de internet com acesso livre também se torna um
atrativo a mais no extenso programa da unidade.
No lote passava um córrego que caracterizava uma área non aedificandi,
respeitada pela arquiteta em seu projeto. O Córrego das Águas Pretas deixava duas
áreas possíveis de edificar (uma de cada lado), e foi assim que se fez: o deck ficou
no córrego e as torres abrigaram-se uma de cada lado dele, ligadas por rampas.
Figura 15: Seixos e água cortando o galpão.
Fonte: http://fabiovisitadeestudossaopaulo.blogspot.com/2008/12/fbrica-da-alegrica-casa-detodos.html
| 27
As novas torres (fig. 16) foram objeto de maior repercussão em toda
intervenção, já que elas eram uma quebra da linguagem tradicional que estava
instalada nos galpões da fábrica. As torres formavam o bloco esportivo e foram
inaugurados em 1986, moldadas inteiramente em concreto aparente com várias
aberturas e ligadas por passarelas feitas em concreto protendido que venciam vãos
de até 25m sobre o Córrego das Águas Pretas. Ao lado das duas torres principais
estava também a torre cilíndrica, de mesmo material.
Figura 16: Foto da rua interna da fábrica.
Fonte: http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?edicao _id=301&A rtigo_ID=4
688&IDCategoria=5333&reftype=2
O complexo ocupa um terreno de 16.573,00m² e alcança 22.026,02m² de
área construída coberta, 5.000 pessoas podem visitá-lo por dia. A implantação que
aproveita o espaço externo e liga a cidade ao edifício trouxe melhor aceitação da
população e causa um diálogo direto entre a urbanização consolidada da cidade
com o edifício.
4.3.3 Análise comparativa dos estudos de caso
Os estudos de caso apresentam semelhanças entre si e com a Usina
IRODUSA, como se pode observar na tabela a seguir (fig. 17):
| 28
Figura 17: Tabela comparativa entre os estudos de caso.
Tabela comparativa entre os estudos de caso
Critérios
Localização
Usina Guaíba
SESC pompéia
Comparação
Porto Alegre-RS
São Paulo-SP
ambas em região
de grande
movimentação
urbana e edifícios
de acesso a
diversas camadas
sociais.
Área
Função
18.000,00m²
16.573,00m² (terreno)
intervenções
22.026,02m² (construída
consolidadas em
coberta)
terrenos extensos e
capacidade de 5.000
de grande área
pessoas/dia
construída.
Gerar energia elétrica
Fabricar tambores, depois
industrial
à base de carvão
geladeiras
mineral para Porto
Alegre. Abrigar a
Companhia Brasil de
Força Elétrica.
Projeto/autoria
Inglaterra
França
Equipamentos /
materiais
importados
Fundação
15 de novembro de
1928
Desativação
1974 por falta de
condições de atender
a demanda de energia,
devido à crise do
Original
petróleo
Tipologia
- pé direito alto
- estrutura pré moldada
grandes galpões
(características
- terreno grande
- pé direito alto
com planta livre de
da arquitetura)
- blocos ligados
- terreno grande
alto pé direito.
- blocos ligados
Instalações
casa das caldeiras;
máquinas
casa das máquinas;
distribuídas;
| 29
casa dos aparelhos e
local para
chaminé
funcionários.
Instrumentos e
IPHAE – Instituto do
CONPRESP – Conselho
Protegidas por
órgãos de
Patrimônio Histórico e
Municipal de Preservação
tombamento.
preservação
Artístico do Estado do
do Patrimônio Histórico,
Rio Grande do Sul
Cultural e Ambiental de
SMC – Secretaria
São Paulo.
Municipal de Cultura.
Em 1982 tombou-se a
chaminé e em 1983, o
prédio
Implantação
solta no terreno
solta no terreno
soltas no lote e com
proporcionando áreas
proporcionando áreas
áreas de convívio
externas abertas à
externas abertas à
externo.
população, locais
população, locais externos
externos para eventos.
para manifestações e
apresentações.
Época da
1ª – 1991: foi dado o
1977 – mudaça de uso:
Mudança
intervenção
uso de centro cultural
centro de lazer
significativa de uso.
– espaço do trabalho
1982 – execução
2ª – 2007: dado uso de
centro cultural e abriga
algumas sedes
governamentais
Autoria do
Lina Bo Bardi
intervenções
projeto
Usos que
Térreo – exposição,
- área de convivência,
Mudança de uso
mudaram
recepção, saguão de
bar/café, biblioteca, deck,
industrial para
eventos, loja, oficina,
exposição, ginásio,
abrigar
memorial
internet livre, oficinas,
equipamentos
2º pavto. – sala de
piscina, restaurante, rua
culturais e
teatro, espaço para
central repavimentada e
institucionais.
eventos, bar e terraço
aberta ao público, sala de
3º pavto. – TV usina,
atividades corporais e
coordenações.
teatro.
4º pavto. – área para
exposições, terraço
com vista para o Rio
| 30
Guaíba e centro da
cidade.
5º pavto. – sala de
ensaios, 2 salas
multiusos, galeria
fotográfica, sala
climatizada para
acervo de filmes e
vídeos
6º pavto. – direção,
núcleo de serviços
gerais e
coordenações: setor
de mostras, acervo
artístico e conselho
municipal de cultura.
Conceitos
- eventos permanentes
- eventos permanentes
a interação entre o
- eventos internos e
- eventos internos e
homem e o edifício
externos
externos
- rua aberta
- solarium
- exclusão do veículo
- rua aberta
- exclusão do veículo
Potencialidades
- grande área
- grande área construída;
facilidade no molde
construída;
- espaço externo livre que
de novos usos
- vãos livres que
permitia uma nova
(planta livre e
permitiam uma nova
distribuição de espaços;
grande pé direito);
distribuição de
- proximidade com o
ligação com áreas
espaços;
centro da cidade;
centrais da cidade.
- proximidade com o
- marco arquitetônico
centro da cidade;
- ponto de referência
para a cidade pela
Geral
beleza arquitetônica
Situação
Próxima ao centro da
Próxima ao centro da
Geográfica
cidade, voltada para
cidade, cortada por um
um Rio.
córrego.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 31
De forma geral, observa-se uma proximidade entre a maneira de intervir na
Usina Guaíba e no Sesc Pompéia e certas semelhanças nos conceitos usados em
suas composições. Em ambas, é notória a preocupação em estudar o que existia no
edifício, antes de começar qualquer mudança.
Comparando os estudos de caso o principal ponto comum é a integração
homem e natureza, com a presença dos elementos naturais, principalmente a água.
Os elementos naturais são usados como potencialidade turística e não devem ser
esquecidos na fase de intervenção. Outro ponto relevante é a integração da cidade
com a edificação, com ruas internas permeáveis através de ruas da cidade.
Percebe-se nos estudos que conhecer o entorno e as atividades que o local
abriga, conhecer o fluxo de pedestres e de veículos a partir de um estudo de
mobilidade e observar quais as reais necessidades do local são a chave para definir
um bom uso e um melhor aproveitamento do espaço depois de modificado.
As intervenções vistas no tópico acima remetem às fábricas e indústrias e, em
ambas, nota-se um esforço por transformar essas construções onde antes existia um
ambiente de trabalho árduo e de seriedade, em um lugar de distração e diversão. O
lazer é a grande chave da intervenção na Usina Guaíba e no SESC Pompéia, que
conservaram em um edifício industrial as suas características principais e inovaram
em usos tão diferentes dos originais.
As lacunas do estudo de caso se devem à falta de disponibilidade de plantas
em meio digital. As bibliotecas que as fornecem são em situadas nos estados onde
estão localizadas as edificações e, portanto, de difícil acesso. No entanto, os
estudos de caso irão, de fato, contribuir para o melhor desenvolvimento do presente
trabalho.
4.4. O Plano Diretor de Limoeiro, 2006.
A IRODUSA está instalada numa área denominada pelo plano diretor
municipal de ZDE – Zona de Desenvolvimento Econômica. Esta zona abrange lotes
lindeiros a uma parte da Avenida Octaviano Heráclio Duarte (antiga Avenida
Capibaribe) e partes das quadras dos bairros José Fernandes Salsa e Santa
Terezinha.
| 32
Mapa 01 – Zoneamento da cidade segundo o Plano Diretor de Limoeiro mostrando a IRODUSA
inserida na ZDE.
IRODUSA
Fonte: Plano Diretor de Limoeiro, 2006.
Segundo o plano diretor, esta zona deve ter sua ocupação ordenada e deve ser
promovido nela o desenvolvimento das atividades econômicas e produtivas
municipais, a partir de três diretrizes:
a) Promover fortalecimento da influência regional de Limoeiro;
b) Permitir a ampliação e organização das atividades características do centro
de Limoeiro;
c) Promover melhorias na infra-estrutura e nos serviços urbanos.
Para esta zona é definido recuo frontal e de fundos de 3,00m e recuos laterais de
1,50m e a taxa de ocupação do solo é de 50%.
As vagas de estacionamento nesta zona devem possuir medida mínima de
2,40m x 5,00m para carros e 5,00m x 10,00m para caminhão. Os equipamentos que
geram impacto ao trânsito devem providenciar estacionamento, mesmo que
provisório, capaz de atender a 5%, no mínimo, do público ou usuários.
| 33
O Plano Diretor de Limoeiro prevê também o uso de instrumentos
urbanísticos, para autuar sobre os imóveis que estão subutilizados (que, segundo o
Plano Diretor, são aqueles localizados em áreas urbanas, cujo aproveitamento seja
inferior aos 15% da área do terreno), como é o caso da IRODUSA. Prevê assim,
penalidades para estas edificações como a gradação anual das alíquotas
progressivas e a aplicação do IPTU progressivo.
Art. 36 - “São passíveis de parcelamento, edificação ou
utilização compulsórios os imóveis não edificados,
subutilizados ou não utilizados localizados nas áreas
urbanas do município de Limoeiro.
Parágrafo Único: Ficam excluídos do disposto no "caput"
os imóveis:
I. De interesse do patrimônio cultural ou ambiental;
II. Exercendo função ambiental essencial a região,
reconhecida pelo CDUMA;
III. Utilizados para instalação das seguintes atividades
econômicas, desde que em plena operação:
a - Fábricas, indústrias, e estabelecimentos comerciais;
b - Terminais de logística e de transporte público;
c - Utilizados como estacionamento de estabelecimentos
comerciais, desde que aberto aos clientes e ao público
em geral.” – Plano Diretor de Limoeiro, 2006.
A prefeitura municipal ainda possui direito de preempção sobre a área, como
mostra o artigo 38 do Plano Diretor:
Art. 38- “As áreas onde a Prefeitura Municipal de
Limoeiro poderá exercer o Direito de Preempção são
listadas abaixo:
IV. Os Imóveis situados na ZDE;
V. Os lotes não ocupados, ou subutilizados na ZUP1 e
ZPC;
| 34
VI. Os lotes ou imóveis onde estão localizados os
equipamentos públicos, especialmente os de educação e
saúde." – Plano Diretor de Limoeiro.
Portanto, o presente trabalho se justifica no fato de o Plano Diretor recomendar
uso para as edificações da ZDE, onde a IRODUSA está inserida. Além disso, o
plano visa melhorias na infra-estrutura e nos serviços urbanos desta zona, fato que
contribui para um novo uso que ela venha a ter.
| 35
5. IRODUSA: Análise do contexto urbano
Neste capítulo será tratado o entorno da IRODUSA. Para a definição de
diretrizes e elaboração da intervenção visando a reutilização dos galpões e melhor
compreensão do contexto atual em que ela está inserida, se faz necessária a análise
urbana da área que a circunda.
5.1. Marcos históricos e arquitetônicos
A Usina IRODUSA está localizada na Avenida Octaviano Heráclio Duarte,
antiga Avenida Capibaribe, diretamente ligada ao centro comercial da cidade de
Limoeiro. Está situada perto de outras edificações que são ícones da cidade, por sua
importância histórica, formando um sítio urbano de interesse arquitetônico,
simbólico, social e cultural.
Na imagem a seguir (fig. 18), vêem-se as edificações de valor histórico,
próximas da IRODUSA, na seguinte ordem:
1- Matriz de Nossa senhora da Apresentação
2- Mercado Público
3- Açougue
4- Prefeitura
5- Igreja de Santo Antônio
6- Rádio Difusora de Limoeiro
7- Cine Teatro São Luiz
8- Antiga sede dos Correios e Telégrafos
9- Colombo Sport Club
10- Praça da Bandeira
11- Grande Hotel Limoeiro
| 36
Figura 18: Vista aérea da cidade de Limoeiro e marcos históricos.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Muitas construções de valor histórico na cidade foram descaracterizadas.
Outras, como as mostradas na imagem acima, estão sendo degradadas. Portanto, é
notória a importância de preservar o patrimônio que a cidade ainda possui, como a
IRODUSA.
| 37
Nas proximidades da Usina, pode-se notar a existência de novas edificações
que, por sua dimensão, uso ou pela quantidade de pessoas que atraem,
transformaram-se em marcos para a cidade (fig. 19), como define Lynch no livro “A
Imagem da cidade”.
Figura 19: Vista aérea da cidade de Limoeiro e marcos arquitetônicos.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
1- Hiper Cordeiro (supermercado)
2- Laser Eletro Magazine (móveis e eletrodomésticos)
3- AABB – Associação Atlética Banco do Brasil
4- Hiper Cordeiro Juá (supermercado)
5- Escola Professora Jandira de Andrade Lima – CERU
6- Centro de Formação de Menores (sociedade filantrópica)
7- Passagem molhada
8- Ponte Velha
Geradores de movimentação nas proximidades da Usina, os equipamentos
citados são de importância para o funcionamento e manutenção dos novos usos que
a IRODUSA venha a abrigar.
5.2. Mobilidade Urbana
Durante muito tempo, a IRODUSA esteve quase isolada na margem direita do
Capibaribe, mas, atualmente, algumas aglomerações de caráter residencial formamse no seu entorno.
| 38
As instalações da Usina estão bem próximas ao centro da cidade. Com a sua
desativação e a tímida existência de residências em seu entorno imediato, acaba
sendo pequeno o fluxo de pedestres no local. Apenas algumas pessoas que se
deslocam de suas casas para o centro da cidade passam por lá.
O acesso principal da região central da cidade à avenida onde está localizada
a Usina é realizado através da Ponte Velha. O acesso é rápido e o trânsito de
veículos varia de leve a moderado. Este acesso pode ser realizado por pessoas que
vêm de bairros como o Alto São Sebastião e a Rua da Alegria, ou mesmo por
pessoas que já estão no centro da cidade (fig. 20).
O maior fluxo, atualmente, é o de veículos vindos de outras cidades como
Passira e Cumaru, que chegam pela PE 95.
Figura 20: Vista aérea da cidade de Limoeiro. A ligação do centro da cidade com a Usina e principais
fluxos.
CIDADE
ALTA
Algodoeira
Palmeirense
CONGAL
IRODUSA
Avenida Octaviano H. Duarte
CENTRO
CENTRO
Fluxo vindo da PE 90 (principal para veículos vindos de outras cidades)
Fluxo vindo da Passagem Molhada
Centro da cidade
Ponte Velha (principal acesso para veículos vindos da cidade)
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O fluxo de veículos da antiga Avenida Capibaribe, atual Avenida Octaviano
Heráclio Duarte, logradouro da Usina, é leve. O complexo industrial toma boa parte
da avenida e, como está desativado, contando apenas com quatro ou cinco
funcionários, esta via torna-se deserta (fig. 21 e 22).
| 39
Figuras 21 e 22: Vistas da Avenida Octaviano Heráclio Duarte.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
5.3. O Projeto Beira Rio
O Projeto Beira Rio é um plano urbanístico ainda em estudo em Limoeiro.
Uma das diretrizes pensadas no plano é a transferência da feira livre do centro da
cidade (em frente à Prefeitura) para a área onde funcionava a Algodoeira
Palmeirense, empresa que fazia parte do conglomerado de empresas de Octaviano
Heráclio Duarte (fig. 23), na avenida homônima. Acredita-se que a saída da feira
implicará a mudança da dinâmica de fluxo de pessoas e contribuirá de forma positiva
para os novos usos da Usina, já que a feira gera grande movimentação.
Figura 23: Vista aérea da cidade de Limoeiro. Esquema da transferência da feira.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 40
6. IRODUSA – da criação aos dias atuais
Com a resolução do problema da água em Limoeiro, muitas indústrias
começaram a surgir no município. A primeira fábrica instalada na cidade foi de
algodão, pertencente a Trajano Medeiros, em 1918, seguido de Anderson Clayton
no ano de 1935. Na década de 1950, foi a vez da Fábrica de Óleo Vegetal Santa
Terezinha, criada por Octaviano Heráclio Duarte, pioneiro da industrialização na
cidade (fig. 24).
Figura 24: Vista aérea de Limoeiro com a IRODUSA vista no canto direito inferior.
Fonte: Acervo desconhecido.
Octaviano (fig. 25) foi vereador e vice-prefeito de Limoeiro. A população da
cidade acreditava que ele seria o grande responsável pela industrialização do
município, por ser um homem visionário que investia muito na fábrica que possuía.
| 41
Figura 25: Octaviano Heráclio Duarte.
Fonte: Vilaça, 1952 e acervo da IRODUSA, respectivamente.
Desde jovem, Octaviano esteve ligado ao ramo industrial. Inicialmente ele
possuía uma “moderna e eficiente usina descaroçadora de algodão, instalada em
prédio de vastas proporções” (Vilaça, 1952), na Avenida Capibaribe. A Usina recebia
algodão de várias partes de Pernambuco e de outros estados, para ser beneficiado
em Limoeiro.
O então jovem industrial fundou uma empresa “que pudesse ajudá-lo a
enriquecer e a dar trabalho à gente pobre que habita nas encostas do „Redentor‟”
(Vilaça, 1952). Assim surgiu a IRODUSA – Indústrias Reunidas Octaviano Duarte S.
A., formalizada apenas aos 04 de dezembro de 1961, segundo informações da atual
administração.
A IRODUSA é um conglomerado de empresas de Octaviano Heráclio.
Primeiramente, veio o descaroçamento do algodão, que fez desse limoeirense um
dos maiores produtores do Nordeste.
A matéria-prima para movimentar sua Usina era importada de outros estados,
como Paraíba, Alagoas, Ceará e Rio Grande do Norte. Um dos motivos da matériaprima vir de outros lugares está no fato de a safra do algodão ser sazonal, ela dura
cerca de quatro meses. Assim, enquanto a safra de Pernambuco se dava no início
do mês de setembro e ia até dezembro, a de outros estados começava em março.
Por isso a necessidade de importar algodão de tantos lugares diferentes.
O algodão, depois de beneficiado, seguia principalmente para grandes
fábricas de tecido em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.
Muitas vezes, era comprado por outros países, como França, Holanda, Inglaterra e
| 42
Estados Unidos. A produção da Usina era transportada em caminhões e escoada
em grandes navios pelo porto de Recife, capital do estado. Para tanto, a IRODUSA
possuía um escritório central no Recife e outros escritórios espalhados, alguns em
estados brasileiros e alguns países onde a exportação era grande, a exemplo de
São Paulo-SP, Londrina-PR e Liverpool, na Inglaterra.
Octaviano passou a adquirir novas fábricas em outros estados para aproveitar
as safras. Muitos trabalhadores de Limoeiro, ao acabarem o serviço na cidade, se
deslocavam, custeados por Octaviano, para prestarem serviços em suas Usinas em
outros estados, ficando aqui apenas entre os meses de setembro e janeiro. Muita
gente era empregada na Usina e, pela proximidade das festividades tradicionais da
cidade, o algodão era conhecido como “o dinheiro da festa”, referindo-se à Festa de
São Sebastião, padroeiro da cidade, que ainda acontece todo mês de janeiro.
Octaviano tinha várias empresas e filiais na própria cidade além da
IRODUSA. Uma delas é a localizada ao lado da IRODUSA, na Avenida Capibaribe –
a Algodoeira Palmeirense S.A., hoje em dia também desativada, atualmente no local
funcionam apenas instalações de uma pequena oficina mecânica. Outras empresas
se espalhavam na Avenida Severino Pinheiro, estas possuíam matriz em Palmeira
dos Índios em Alagoas e hoje em dia abrigam lojas de roupas.
Depois do algodão, foi acrescida à fábrica a produção de farelo feito da palha
do algodão, segundo registros bibliográficos:
“Surgiu, daí, essa fábrica de óleo de caroço de algodão
que está prestando os mais relevantes serviços à
pecuária, distribuindo um farelo com a dose de proteína
recomendada pelo Serviço de Fiscalização de Produtos
Alimentares da S.A.I.C.” – (Vilaça, 1952).
Logo em seguida, deu-se início à produção de óleo proveniente do caroço do
algodão. O óleo era revendido bruto para ser refinado em outras usinas. Na década
de 1950, a IRODUSA já beneficiava algodão e fabricava e exportava ração animal e
óleo, mas o pensamento de Octaviano era ampliar seus negócios, implantando uma
saboaria nas dependências da Usina.
| 43
“O dinâmico industrial Otaviano Heráclio já tem bases
assentadas para fabricar sabão. Uma grande saboaria
será o complemento do conjunto industrial que se ergue à
margem direita do Capibaribe, como um convite aos
homens de dinheiro e de inteligência para trilharem o
mesmo caminho de trabalho permanente.” – (Vilaça,
1952).
Da sua criação até os dias de hoje, a Usina passou por dois grandes
acidentes: um alagamento devido a uma enchente que atingiu a cidade e um
incêndio em parte de suas dependências, ambos na década de 1970.
6.1. A Cheia de 1975
A cidade de Limoeiro é cortada pelo Rio Capibaribe, que, no ano de 1975,
transbordou e causou a maior cheia já registrada na história da cidade. As águas
invadiram indústrias, residências e comércio de muitos bairros, derrubaram muros e
cobriram casas inteiras. A população dos bairros Pirauíra, Barriguda e Ponto Certo
foi a mais prejudicada.
Os estragos foram tantos, que o vice-prefeito, em exercício de prefeito na
época, decretou Estado de Calamidade Pública.
A cheia aconteceu no dia 17 de julho de 1975 (ver Anexo A) e como o
complexo fabril de Octaviano se localiza do lado direito do Capibaribe, a IRODUSA
foi completamente atingida (fig. 26 e 27). Todo material de escritório foi perdido ou
danificado com a enchente e todo maquinário atingido precisou sofrer reparos antes
de voltar ao seu funcionamento normal.
| 44
Figuras 26 e 27: IRODUSA atingida pela cheia de 1975.
Fonte: Acervo de Eduardo Calé.
Segundo o Sr. Geraldo de Albuquerque Barbosa, funcionário da Usina na
época da enchente, a água chegou, dentro do escritório, numa altura acima da
cintura (cerca de 1,10m). A Usina, sem equipamentos suficientes, continuou
funcionando neste ano com os equipamentos que não foram danificados, enquanto
os outros eram reparados.
6.2. O incêndio de 1978
Os galpões da IRODUSA estavam sempre lotados de algodão estocado.
Muitas vezes era em tanta quantidade que chegavam a cobrir as tesouras de
madeira que sustentam a coberta, fato que levou a um incêndio em parte da Usina e
dificultou o controle do fogo.
O incêndio aconteceu no dia 22 de fevereiro de 1978 (ver Anexo B). Ao que
se conta, por ser o algodão um material de fácil combustão, o fogo espalhou-se
| 45
rápido e consumiu dois galpões de estocagem, cessando apenas com a chegada do
Corpo de Bombeiros.
Segundo registro do Comando do Corpo de Bombeiros 4, consta a ocorrência
de um grande incêndio que produziu destruição parcial em duas paredes com cerca
de 10,00m x 3,00m de altura e toda cobertura dos armazéns 14 e 15 (Planta 01).
A coberta dos galpões foi refeita e a parede que os dividia foi retirada,
sobrando apenas colunas e vigas de sustentação da coberta (fig. 28).
Figura 28: Galpões que sofreram o incêndio, atualmente.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
4
O quartel que emitiu a Certidão era situado na Av. João de Barros, 399 / Boa Vista, Recife-PE, e
entregou a Certidão no dia 25 de janeiro de 1995, a pedido de Manoel Gouveia dos Santos.
| 46
7. IRODUSA – Leitura do conjunto industrial e arquitetônico
A IRODUSA foi construída em etapas, já que cada galpão ou área edificada
surgiam da necessidade de expansão para suprir o aumento da produção.
O esquema a seguir, elaborado pela autora, mostra a divisão atual do que
está construído no terreno, com base em uma planta de locação, segundo
levantamento de junho de 2008 feito por Vitorio Arruda da Silva com as respectivas
funções que cada equipamento exercia para o funcionamento da Usina (Planta 01) e
área dos galpões em m² (fig. 35).
Trata-se, portanto, de uma reconstituição aproximada do conjunto industrial,
realizada a partir da confrontação entre o referido levantamento com as edificações
existentes atualmente, pesquisa histórica e relatos fornecidos por antigos
funcionários.
| 47
Planta 01
| 48

01 a 15 – Galpões
São 15 galpões principais de armazenagem e/ou trabalho, enumerados a
partir do bloco administrativo. Eles possuem como principais características uma
planta livre e o pé direito alto, variando de galpão para galpão. Em média, possuem
aproximadamente 5,00m de pé direito, características que servem para melhor
distribuição, instalação e manuseio do maquinário.
Muitos dos galpões serviam apenas para estocar o algodão comprado,
enquanto aguardava para ser beneficiado, já que sua safra é curta. Os galpões
ficavam lotados de algodão, muitas vezes estocado até uma altura de risco entre as
madeiras das tesouras do telhado.
As máquinas usadas no beneficiamento do algodão (fig. 29 e 30) eram
importadas e parte delas ainda está nas dependências da Usina, dentro dos
galpões. A outra parte, em sua maioria, foi vendida ou levada para outras usinas do
grupo e muitos galpões, antes ocupados por grandes máquinas, encontram-se
vazios. Algumas poucas máquinas de grande porte resistem à ação do tempo e
permanecem até hoje em seu local original (fig. 31 e 32).
Figura 29: Vista interna de um galpão, década de 1950.
Fonte: Vilaça, 1952.
| 49
Figura 30: Vista interna de um galpão, década de 1950.
Fonte: Vilaça, 1952.
Figuras 31 e 32: Vista interna de dois galpões com maquinários.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Os galpões tinham piso cimentado para suportar o peso das grandes
máquinas que trabalhavam para a Usina. A coberta era, via de regra, em tesouras
de madeira e telhas cerâmicas que, ao longo do tempo foram (e ainda estão) sendo
| 50
substituídas por telhas de fibrocimento, por ser mais leve e de mais rápida
execução, além de menor custo. As paredes são espessas com aproximadamente
50 centímetros de largura. Muitos dos galpões comunicavam-se entre si, para
melhor manuseio do algodão e troca de máquinas.
Alguns galpões eram ligados por roscas que levavam os caroços de algodão
para as máquinas (fig. 33 e 34). Parte dessas roscas ainda está no piso e nas
paredes de alguns galpões, mostrando essa ligação.
Figuras 33 e 34: Roscas.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
A tabela abaixo sintetiza o que existe nos galpões principais (enumerados de
01 a 15) que funcionavam para estocagem e/ou produção.
Figura 35: Tabela de características dos galpões principais.
Número do
Materiais / estado de conservação /
galpão
características construtivas
Galpão 01
Piso
Parede
Teto
Cimentado
Alvenaria
Telha canal
Peculiaridades
Área
- Divisórias
346,50m²
internas
recentes
Galpão 02
Cimentado
Alvenaria
Telha canal
Auxiliar do
312,40m²
galpão 03
Galpão 03
Cimentado
Alvenaria
Telha canal
- Maquinário fixo
320,80m²
- Rosca na
parede
Galpão 04
Cimentado
Alvenaria
Telha canal
Auxiliar do
galpão 03
328,75m²
| 51
Galpão 05
Cimentado
Alvenaria
Telha de
- Maquinário
fibrocimento
móvel
392,65m²
Coberta refeita
Galpão 06
Cimentado
Alvenaria
Telha canal
Coberta
472,90m²
destruída
Galpão 07
Cimentado
Alvenaria
Telha canal
- Rosca no piso
470,60m²
Galpão 08
Cimentado
Alvenaria
Telha de
Auxiliar do
493,50m²
fibrocimento
galpão 09
Coberta refeita
Galpão 09
Cimentado
Alvenaria
Telha de
- Maquinário
fibrocimento
recente (arroz)
459,40m²
Coberta refeita
Galpão 10
Cimentado
Alvenaria
Telha de
- Caminhão
fibrocimento
antigo
527,50m²
Coberta refeita
- Maior pé direito,
proporcionando
aberturas de
janelas laterais
Galpão 11
Cimentado
Alvenaria
Telha de
- Rosca no piso
533,60m²
- Maquinário fixo
516,05m²
Vazio
505,50m²
Telha de
- Incendiado e
229,10m²
fibrocimento
refeito unindo-o
Coberta refeita
com o galpão 15
Telha de
- Incendiado e
fibrocimento
refeito unindo-o
Coberta refeita
com o galpão 14
fibrocimento
Coberta refeita
Galpão 12
Cimentado
Alvenaria
Telha canal
- Maior pé direito,
proporcionando
aberturas de
janelas laterais
Galpão 13
Cimentado
Alvenaria
Telha de
fibrocimento
Coberta refeita
Galpão 14
Galpão 15
Cimentado
Cimentado
Alvenaria
Alvenaria
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
300,20m²
| 52
Entre os galpões existem muitas semelhanças, mas também algumas
particularidades que serão descritas a seguir. Em geral, possuíam o mesmo sistema
construtivo para o piso, a parede e a coberta, mas, com a degradação de alguns
materiais e a necessidade de reparos, os galpões sofreram descaracterizações.
Materiais como divisórias em gesso, cobertas com tesouras de madeira e cabos de
aço e telhas de fibrocimento configuram alterações nas características originais das
edificações.
No galpão 01, existem novas divisórias, que formam uma sala (fig. 36).
Figura 36: novas divisórias no galpão 01.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O galpão 02 e o galpão 04 são auxiliares do galpão 03. No principal, há uma
máquina que fazia o beneficiamento do algodão e os auxiliares serviam para estocar
a matéria-prima que abastecia este maquinário no galpão 03. A máquina instalada
neste galpão está bastante deteriorada pela ação do tempo e falta de manutenção
(fig. 37, 38 e 39).
| 53
Figuras 37, 38 e 39: maquinário fixo.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
No galpão 05, existem dispostas máquinas móveis. Elas também estão
sofrendo deterioração pelo desuso e pela falta de manutenção (fig. 40, 41 e 42).
Figura 40 e 41: maquinário móvel no galpão 05.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 54
Figura 42: maquinário móvel no galpão 05.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O galpão 06 teve sua coberta refeita em madeira e telha cerâmica, mas com
as últimas chuvas no município, ela foi novamente destruída. Já no galpão 07, parte
da coberta cedeu e ainda não foi refeita (fig. 43 e 44).
Figuras 43 e 44: coberta destruída no galpão 06 e 07, respectivamente.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O galpão 09 era auxiliado pelo galpão 08. Nele foram instaladas
recentemente máquinas para trabalho com arroz (fig. 45, 46 e 47), estas nunca
chegaram a funcionar e o beneficiamento de arroz nunca aconteceu.
| 55
Figuras 45, 46 e 47: arroz e maquinário para arroz no galpão 09.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O galpão 10 servia para entrada de veículos e ainda hoje um caminhão
permanece estacionado nele (fig. 48, 49 e 50). Neste galpão também há algumas
máquinas ou partes de máquinas. O galpão é acessado pela avenida principal por
meio de um grande portão de ferro.
Figuras 48 e 49: galpão de acesso de veículos no galpão 10.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 56
Figura 50: galpão de acesso de veículos no galpão 10.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O galpão 11 está vazio e nele o piso é cortado por roscas. Em seu interior há
uma pequena construção que servia de armazém que depositava matéria-prima
para a máquina do galpão vizinho do lado esquerdo (fig. 51 e 52).
Figuras 51 e 52: interior do galpão 11.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
No galpão 12, há uma divisão interna que servia para separar a área de
abastecimento da área de processamento de um maquinário, parte dele ainda está
no local (fig. 53, 54, 55 e 56). Nele também há dutos/reservatórios de óleo no
subsolo.
| 57
Figura 53, 54, 55 e 56: maquinário no galpão 12.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O galpão 13 tem sua coberta refeita em telhas de fibrocimento suportadas por
uma estrutura de madeira e cabos de aço. Por meio de quatro aberturas em sua
lateral direita, acessa-se o galpão 12 (fig. 57, 58 e 59).
Figuras 57 e 58: Galpão 13.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 58
Figura 59: Galpão 13.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Neste galpão nota-se a presença de dutos e reservatórios inferiores que
armazenavam o óleo produzido na Usina (fig. 60 e 61).
Figuras 60 e 61: dutos/reservatórios de óleo.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Os galpões 14 e 15 são os que sofreram o incêndio no ano de 1978. Eles
foram parcialmente destruídos e sua coberta foi refeita com um novo madeiramento,
permanecendo as tesouras, com novas telhas de fibrocimento. A parede que dividia
os dois galpões foi retirada, unindo-os e restando apenas pontos de apoio e
sustentação do telhado. As portas de acesso à Avenida Octaviano Heráclio Duarte
foram substituídas e as de acesso à Rua Carlos da Costa Pereira foram entaipadas
(fig. 62, 63, 64 e 65).
| 59
Figuras 62, 63, 64 e 65: Galpões 14 e 15.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

16- Área administrativa
O bloco administrativo (fig. 66 e 67) era a parte da Usina que funcionava o
ano inteiro, mesmo fora da época de safra, graças ao gerenciamento das atividades
da sede da IRODUSA e das outras empresas do grupo.
Figuras 66 e 67: vistas do bloco administrativo
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011
| 60
Este bloco é formado por dois pavimentos (térreo e primeiro andar) e é a
única parte do complexo que funciona atualmente, mesmo que seja com um quadro
bastante reduzido de funcionários.
O volume que corresponde ao bloco administrativo é retangular, sua coberta é
em madeira, revestida por telha cerâmica com quatro águas. As esquadrias se
apresentam em grande número e são mistas, de metal ou madeira e vidro.
Basicamente as partes das janelas que se voltam ao interior da Usina são de
madeira, com venezianas, a outra parte é de metal com vidro do tipo basculante. As
aberturas são generosas, como se pode notar na porta de acesso principal ao
escritório (de aproximadamente 2,5m).
Na fachada frontal há um generoso painel de cobogós que vai do térreo ao
primeiro pavimento, iluminando a escada, uma porta de acesso principal e uma
janela (no primeiro pavimento). Nas laterais há várias janelas em madeira ou metal
combinado com vidro.
Para o bloco administrativo há três acessos: um pela Avenida Octaviano
Heráclio Duarte (por uma porta de madeira), outro pela rua interna da Usina (por
uma porta pantográfica) e o terceiro pelos fundos do bloco, por meio de uma escada
que vai direto para o primeiro pavimento (fig. 68, 69 e 70).
Figuras 68, 69 e 70: Bloco administrativo
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 61
- O pavimento térreo do bloco administrativo
- Administração: Uma ampla sala que atualmente dispõe de espaço para
funcionários com locais para espera e recepção, antes abrigava muitas mesas
formando um grande escritório para gerenciar a IRODUSA (fig. 71 e 72).
Figuras 71 e 72: Vista interna do escritório, década de 1950, e vista atual do escritório,
respectivamente.
Fonte: Vilaça, 1952 e foto Dayanne Azevêdo, 2011, respectivamente.
Alguns móveis da época de funcionamento da Usina ainda estão no local,
como uma grande bancada de trabalho e atendimento, algumas divisórias de
| 62
madeira e vidro, cadeiras e muitos dos equipamentos utilizados, como máquinas de
escrever, calculadoras e eletro domésticos também ocupam o espaço (fig. 73, 74 e
75).
Figuras 73, 74 e 75: máquina datilográfica, cadeira e geladeira de época
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Além disso, elementos como relógio e quadros com fotografias decoram o
local. O piso é em ladrilho hiráulico e diferente da maior parte da Usina, a coberta é
em laje e suas paredes são em alvenaria (fig. 76 e 77).
Figuras 76 e 77: relógio e quadro decorativo e ladrilho hidráulico.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
- Escada: Para ligar o térreo ao primeiro pavimento existe uma escada com dois
lances com piso em granilite e corrimão metálico. O painel de cobogós visto na
fachada serve para iluminar e ventilar o patamar da escada (fig 78, 79 e 80).
| 63
Figuras 78, 79 e 80: escada de acesso ao 1º pavimento e parede de cobogós.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
- arquivo e copa: ficam embaixo da escada e, ao passo que todo bloco
administrativo era revestido em ladrilho, o piso da copa e do arquivo era apenas
cimentado (fig. 81 e 82).
Fig. 81 e 82: arquivo e copa
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
- BWC: para atender funcionários, fica ao lado da sala da gerência.
Figura 83: acesso ao WC.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 64
- sala da gerência: nesta sala ficava o dono da Usina – Octaviano Duarte. A sala
possuía uma ala auxiliar onde se localizavam o cofre e os documentos mais
importantes (fig. 84, 85 e 86). O piso da gerência e o da sala do cofre é em ladrilho
hidráulico. A gerência possuía uma grande janela que abria para a sala da balança.
Assim, o proprietário poderia acompanhar a chegada e pesagem do algodão sem
sair da sala.
Figuras 84, 85 e 86: gerência e sala do cofre.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
- balança: medindo 3,0m de largura e 16,00m de comprimento, a balança pesava
caminhões carregados de algodão, chegando a aferir até 60 toneladas,
correspondentes às carretas carregadas da época (fig. 87). A balança é no próprio
piso, mas a medida aparece numa sala que fica ao lado dela.
Figura 87: Balança.
Sala da balança
Balança
Balança
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 65

O 1º pavimento do bloco administrativo:
- sala administração: grande espaço com divisórias de madeira onde trabalhavam
outras pessoas do setor administrativo. Possui piso em ladrilho hidráulico e tesouras
de madeira à mostra (sem forro) suportando um reservatório de água e telhas
cerâmicas (fig. 88). As muitas esquadrias proporcionam boa iluminação e ventilação
natural ao bloco (fig. 89). Neste espaço também há uma pia que servia como uma
pequena copa (fig. 90).
Figuras 88 e 89: coberta e reservatório e esquadrias.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Figura 90: copa.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
- depósito e dois wc‟s. Todo o piso é em ladrilho hidráulico, exceto no depósito. Nas
áreas molhadas as peças são em cerâmica branca e as paredes são revestidas em
azulejo branco. No bwc, as paredes azulejadas vão até 1,10m e na copa há apenas
três fileiras de azulejos acima da pia (fig. 91, 92 e 93).
| 66
Figuras 91 e 92: Parede de azulejos e pisos em ladrilho, respectivamente.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Figura 93: Peça do wc.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

17- Área coberta 01
Esta área era reservada para disposição de silos de armazenagem de
sementes. Ainda hoje existem quatro deles nesta área (fig. 94 e 95).
Figuras 94 e 95: A oficina mecânica, o almoxarifado e a carpintaria.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 67

18- Laboratório 01
Construído sob a área coberta 01 onde ficavam os silos de armazenagem de
sementes. Era voltado à análise do algodão e verificação de suas propriedades.
Com parede de alvenaria e esquadrias em metal ou madeira e vidro.
Figuras 96 e 97: laboratório.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

19- Depósito
O depósito se localiza após o galpão de número 04 (fig. 98), cujo acesso é
restrito.
Figuras 98: Depósito.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 68

20- Laboratório 02 e salas de classificação
O bloco que abrigava o segundo laboratório e as salas de classificação
situava-se próximo à área administrativa. Sua coberta também é formada por
tesouras de madeira e telhas cerâmicas. Esta parte da Usina era responsável pela
separação / classificação dos tipos de algodão que lá chegavam.
No bloco também havia sanitários para servir ao laboratório e às salas. Todas
as salas abriam para a circulação interna da Usina.
Figuras 99 e 100: laboratório 02 e salas de classificação.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

21- Galpão auxiliar 01
Antes acessado pela Rua Carlos da Costa Pereira, é um galpão auxiliar de
estocagem do algodão. Nele a coberta foi refeita e nota-se o fechamento dos
acessos de pedestres à Usina. Ele também possui roscas para transporte de
sementes.
| 69
Figuras 101 e 102: Galpão auxiliar 01.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

22- Oficina mecânica
A oficina mecânica era o espaço onde as máquinas ficavam para consertos e
manutenção. A coberta é composta por tesouras de madeira e telhas cerâmicas.
Possui cinco portas de acesso com duas folhas de madeira e abre para um grande
pátio (denominado pátio interno 01) pavimentado.
Figura 103: A oficina mecânica.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

23- Carpintaria e almoxarifado
Este galpão é voltado aos serviços de carpintaria e almoxarifado, ele também
abre as portas para o pátio interno (denominado pátio interno 01). A coberta é
| 70
armada em tesouras de madeira e as telhas eram originalmente cerâmicas. Parte
delas foi substituída por telhas de fibrocimento.
Figura 104: A oficina mecânica, o almoxarifado e a carpintaria.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

24- Área coberta 02
Esta grande área com piso cimentado era o local onde ficavam máquinas à
espera de conserto. A coberta encontra-se bastante deteriorada e necessita de
reparos. Embaixo dela ainda é possível encontrar partes de máquinas antes usadas
na Usina.
Figura 105: Área coberta 02.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 71

25- Galpão auxiliar 02
Este galpão também servia para estocar algodão. A coberta dele foi refeita
em fibrocimento e madeira com cabos. Ele está vazio e no piso nota-se a
presença de roscas.
Figuras 106 e 107: Galpão auxiliar 02.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

26- Maquinário e reservatórios d’água
A Usina possuía uma grande base de concreto no pátio externo, que servia
para dar suporte a um maquinário (fig. 108 e 109). A base é coberta por telhas de
fibrocimento e ladeada por dois grandes reservatórios de água inferiores que eram
usados para resfriá-la. Recentemente a máquina instalada sobre a base foi retirada
restando apenas a estrutura (piso e coberta).
Figuras 108 e 109: base e coberta da máquina.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 72

27- Galpões da caldeira
Este espaço era o abrigo da caldeira movida à lenha e seus respectivos
espaços para o funcionamento normal. Atualmente a caldeira foi destruída e suas
partes foram vendidas (fig. 110).
Figura 110: antiga Caldeira.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Os usos eram:

Estocagem (fig. 111 e 112) de lenha, caso necessário, ou de algodão.
Figura 111 e 112: local de armazenamento de lenha.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 73

reposição de madeira – local por onde a caldeira era abastecida com lenha
(fig. 113);

retirada das cinzas: local onde retiravam as cinzas resultantes da queima de
madeira. As cinzas eram depositadas em um depósito próximo.

sala de estocagem de lenha (fig. 114) para proteger a lenha das chuvas e da
umidade, condições desfavoráveis para ficar exposta a céu aberto;
Figuras 113 e 114: máquina da caldeira e local de armazenamento de lenha.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

28- Depósito de cinzas
Guardava as cinzas que saíam da caldeira, como ainda hoje se pode observar no
local, cinzas depositadas.
Figura 115: Depósito de cinzas.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 74

29- Refinaria
Produzido a partir da semente do algodão, era refinado e estocado óleo em
grandes silos, sobre bases feitas de cimento. A refinaria se localizava nos fundos da
Usina e era um galpão de menor porte que os demais (fig. 116 e 117).
Figuras 116 e 117: Refinaria.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

30- Bases para tanques de óleo
O óleo também era depositado em algumas dependências subterrâneas da
Usina e em grandes reservatórios que ficavam em cima de bases de concreto, no
pátio aberto (fig. 118 e 119).
Figuras 118 e 119: Bases para silos de estocagem e depósito subterrâneo.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 75

31- Os reservatórios de água
No pátio aberto, junto com os reservatórios de óleo existiam dois reservatórios
de água superiores que abasteciam a Usina (fig. 120).
Figuras 120: Reservatório de água, silos e laboratório.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.

32- Saboaria
Localizada na parte posterior do terreno onde a Usina está locada. Foi a
derradeira investida de Octaviano na IRODUSA em Limoeiro. Numa pequena sala,
estava locada uma grande máquina responsável pela produção de sabão (fig. 121).
Figuras 121: Máquinas da saboaria.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 76
- Lago
Localizado após o limite da IRODUSA, portanto não fazia parte da
propriedade, o lago, segundo antigos funcionários, sempre foi preservado limpo
enquanto a Usina funcionava, chegou a abrigar muitos peixes em suas águas e
alguns dizem que chegou a ser muito visitado nos fins de semana pelas famílias
limoeirenses. Atualmente encontra-se totalmente poluído por receber todo esgoto
das casas próximas (fig. 122 e 123).
O lago não se comunica com o Capibaribe, mas deve ser levado em
consideração por ser um elemento natural importante e por seu destaque ao longo
da história da fábrica.
Figura 122: Lago.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Figura 123: Lago coberto por vegetação.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 77
- Bens integrados
Além das roscas e máquinas, anteriormente comentados, merecem destaque
também dois elementos simbólicos que fizeram parte da vida da Usina e da vida dos
limoeirenses: a sirene e o relógio.
A sirene avisava aos funcionários o horário da troca de turno. Era localizada
na fachada frontal e soava em volume alto, fato que permitia ser ouvida até por
quem não trabalhava na Usina (fig. 124 e 125).
Muitos moradores dizem que, quando estavam em casa e ouviam o som da
sirene, sabiam que era hora de terminar o preparo do almoço, se referindo ao som
das 11 horas da manhã. A sirene tocava, segundo relato de moradores da cidade,
às 7:00h da manhã, 11:00h e meio dia, às 18:00h e às 19:00h, assim, a sirene
sempre soava uma hora antes da troca de turno e na hora da troca.
Figuras 124 e 125: Local da antiga sirene.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O relógio de, aproximadamente, 0,70m de diâmetro, era fixado na fachada.
Feito em metal, mostrava a hora dos dois lados.
Ao que se sabe, o relógio foi retirado de outra edificação pertencente à
Octaviano, para ornamentar a fachada da Usina (fig. 126 e 127).
O relógio encontra-se atualmente no interior da Usina, dentro de um dos
galpões onde antes era estocado algodão. Como não há nenhuma ação de
conservação, o relógio está bastante enferrujado e não funciona mais.
| 78
Figuras 126 e 127: Relógio.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
| 79
8. IRODUSA – Plano de conservação
O plano de conservação contempla todo o complexo fabril, e fornece,
também, elementos para a compreensão dos espaços do objeto de estudo. O plano:

apresenta as patologias e danos atualmente existentes na construção;

descreve-a segundo os aspectos locacionais, construtivos, históricos,
arquitetônicos e artísticos;

define os usos existentes e propõe novos;

formula as diretrizes e os objetivos de intervenção;

define estratégias para conservação;

aponta melhorias nas instalações prediais para melhor manutenção da
edificação;
Para composição do Plano de conservação na IRODUSA, foi-se tomado
como referência o livro de Beatriz Mugayar, que trata do patrimônio industrial e a
carta de Nizhny Tagil (2003), também sobre o tema, além das experiências dos
estudos de caso aqui apresentados e dos vivenciados, como a Fábrica Rosa, na
cidade de Pesqueira - PE, antiga fábrica de doce, que hoje funciona como centro
cultural.
Considerando sua abrangência, complexidade e natureza multidisciplinar, o
plano apresentado a seguir aborda o mapeamento dos grupos culturais de Limoeiro
e região, das diretrizes para intervenção e de um estudo preliminar em um conjunto
de galpões.
8.1.
Mapeamento dos grupos artísticos e culturais de Limoeiro e
região
Visando elaborar um plano de conservação para a IRODUSA que foi
realizado o mapeamento dos grupos artísticos e culturais de Limoeiro e região,
foram definidas diretrizes para intervenção na Usina e elaborado um pequeno
estudo preliminar que as aplica e justifica.
| 80
Foi realizado um levantamento dos grupos artístico-culturais de expressão na
região para melhor desenvolvimento do trabalho e, para tanto, houve consulta às
Secretarias de Cultura da cidade de Limoeiro e algumas cidades vizinhas, a exemplo
de Passira, Salgadinho, João Alfredo, Bom Jardim, Orobó, Machados, Feira Nova,
Lagoa de Itaenga, Lagoa do Carro, Carpina, Buenos Aires, Nazaré, Paudalho. Essas
cidades foram escolhidas pela proximidade com Limoeiro e/ou pelas relações entre
elas, como o vínculo educacional e comercial.
Fig. 128: Marcação da cidades vizinhas pesquisadas.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Todas as cidades possuem algum tipo de manifestação cultural e os espaços
voltados à disseminação destes grupos são escassos. Muitas cidades também se
beneficiariam do espaço adequado às atividades culturais, já que possuem fácil
acesso a cidade. Em Limoeiro, estes grupos de cidades vizinhas teriam um apoio,
para eventuais ensaios ou preparação para apresentações locais.
Segundo a Secretaria Municipal de Cultura de Limoeiro, a cidade conta com
uma grande diversidade cultural, que envolve grupos de músicas, grupos
carnavalescos folclóricos, grupos de atividades artesanais, entre outros. Abaixo
| 81
segue uma listagem com os grupos artísticos com expressão na cidade, voltados à
música, dança e folclore5:
Fig. 129: Tabela de grupos artístico-culturais de Limoeiro- PE.
MÚSICA popular
Classificação
Grupos
banda de pífano
grupos de coquistas
bloco lírico
grupos de maracatu
de baque virado
MÚSICA / DANÇA carnavalesca
escolas de samba
bois de caboclinho
ursos
TEATRO
- Zé de teté
grupos de cirandeiros
blocos de calús
5
Nomes
- Flor do Limoeiro
- Leão do Norte
- Leão da Cordilheira
- Calús Independentes da COHAB
- Calús de Sabá
- Calús de Djalma
- Calús de Néo
- Gigantes do Capibaribe
- Verde e Branco
- Beija Flor do Capibaribe
- Filho do Gato
- Mocidade do Samba
- Boi Cara Branca (bi campeão
pernambucano)
- Boi Pavão
- Boi Misterioso
- Boi Leão
- Boi Dourado (campeão
pernambucano)
- Boi Esperança
- Boi Teimoso
- Boi Caprichoso
- Boi Doido
- Boi Estrela
- Urso Drácula
- Urso Pé de Lã
- Urso Pula Muro
- Urso Peludinho
- Urso Lapada
- LIONART
- Galpão das Artes
grupos de teatro
Tabela confeccionada a partir de informações cedidas por Suetônio de Oliveira e Silva – Diretor de Cultura /
Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Limoeiro.
(Orquestras)
MUSICAIS
OCASIONAIS
ATIVIDADES
SOCIEDADES
| 82
- Sociedade Musical Santa Cecília
- Sociedade Musical 25 de Setembro
sociedades musicais
fanfarras
quadrilhas
- escolas municipais e estaduais
(inclusive particulares)
- escolas municipais e estaduais
(inclusive particulares)
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Sempre que se apresentam, os blocos atraem grande quantidade de pessoas
e animam as ruas por onde passam. Além das apresentações oficiais, os grupos se
apresentam em eventos fechados da prefeitura ou particulares.
Fig. 130: Bloco lírico Flor do Limoeiro.
Fonte: http://www.girodasnoticias.com/2011_07_26_archive.html
Fig. 131: Urso Lapada.
Fonte: http://www.nacaocultural.pe.gov.br/urso-lapada-de-limoeiro
| 83
A expressão que mais se destaca dentre a música / dança carnavalesca é o
boi de caboclinho. São mais de dez grupos oficiais que desfilam pelas ruas de
Limoeiro nas datas festivas.
Fig. 132: Boi de caboclinho – Cara Branca.
Fonte: http://www.boicarabrancadelimoeiro.wordpress.com/sobre-o-boi-caboclinho-cara-branca/
Fig. 133: Caboclinhos e “mateus” – Boi Cara Branca.
Fonte: Túlio Freitas, 2011.
| 84
Fig. 134: Escola de samba Verde e Branco
Fonte: http://www.limoeiro.pe.gov.br/imagens.aspx
Além dos blocos e expressões acima citadas, deve-se lembrar de outras
atividades artísticas individuais que são únicas no gênero existentes na cidade
como: “O morto e o vivo” e “A Porca”.
Fig. 135: O morto carregando o vivo.
Fonte: http://www.blogdoandersonpereira.com/2011/03/fotos-das-agremiacoes-tarde-de-0603.html
8.2.
Diretrizes para intervenção arquitetônica
Paisagismo
a. Plantar novas árvores nas áreas livres existentes atualmente.
| 85
b. Criar canteiros nas áreas pavimentadas, possibilitando o convívio entre os
frequentadores e visitantes, implantar vegetação para melhoria das condições
de conforto térmico, acústico e tratamento estético nas vias de circulação
interna.
c. Inserir novos postes de iluminação para melhoria da visibilidade e segurança
nas vias internas.
d. Inserir novo mobiliário urbano, como lixeiras, bancos, placas de sinalização e
luminárias.
e. Adequar as
áreas livres para que se tornem praças de convívio,
proporcionando o encontro e visitação dos cidadãos.
f. Dotar as áreas de circulação interna e a área coberta (marquise) frontal de
assentos para que pessoas com mobilidade reduzida consigam fazer paradas
de descanso ao atravessar toda fachada e para que o passeio se torne um
local de convívio para os visitantes.
Circulação
a. Reabrir os acessos frontais para a Avenida Octaviano Heráclio Duarte e lateral
para a Rua Carlos da Costa Pereira, que atualmente estão entaipados,
facilitando o acesso dos pedestres aos galpões principais e ao interior da
Usina.
b. Garantir o acesso de veículos pelos portões existentes voltados à Avenida
Octaviano Heráclio Duarte.
c. Criar uma nova entrada de veículos pela Rua Carlos da Costa Pereira para
melhor acesso dos blocos.
Fachadas
a. Recuperar e recompor a platibanda.
b. Repintar os letreiros na platibanda onde se destaca o nome da Usina.
c. Recuperar o piso (calçada) para retirada das fissuras existentes e nivelamento
para mais fácil acesso e circulação.
d. Dotar as calçadas de rampas de acesso, interligando-as.
| 86
e. Desentaipar as portas de acesso para cada galpão, possibilitando o acesso
individual dos grupos.
f. Impermeabilizar a marquise, evitando a continuidade de infiltrações.
g. Repintar as paredes externas nas cores tradicionais azul e branca e / ou
realizar prospecções arquitetônicas para identificar as camadas pictóricas
originais.
h. Admitem-se mudanças nos revestimentos e desenhos dos pisos com a
finalidade de suprir as condições de acessibilidade.
Interior
O interior da Usina está bastante degradado pela falta de uso e manutenção.
Muitos problemas de desmoronamentos de coberta, partes de reboco arrancadas e
de reformas para acréscimo de divisórias descaracterizam a Usina. Para tanto, as
medidas abaixo devem ser tomadas como base para uma intervenção que qualifique
o interior dos galpões.
- cobertas
a. Recompor as cobertas dos galpões em estrutura de tesouras de madeira e
revestimento de telha cerâmica, como originalmente.
b. Admite-se o uso de lanternim na coberta a fim de melhorar o funcionamento da
iluminação / ventilação natural nos galpões.
- paredes
a. Recompor as paredes, rebocando-as onde necessário.
b. Repintar as paredes preservando as cores originais onde for possível.
c. Realizar prospecções arquitetônicas para identificar as camadas pictóricas
originais.
d. Reabrir acessos entre galpões que foram entaipados, onde for necessário.
e. Usar de outros artifícios (que não o entaipamento) para manter os acessos
fechados.
| 87
f. Preservar as roscas aparentes em algumas paredes para que sirvam de
memória da Usina.
g. Admitem-se divisórias internas nos galpões para adequá-lo a novos usos.
- pisos
a. Proteger as roscas que cortam o piso de alguns galpões com superfícies
transparentes para que se torne evidente a existência e a importância deste
maquinário no funcionamento da Usina.
b. Manter e identificar os locais de reservatórios subterrâneos.
c. Manter os pisos em ladrilho hidráulico existentes.
d. Admitem-se mudanças nos revestimentos e desenhos do piso para melhoria e
adequação a novos usos.
- esquadrias
a. Recompor as esquadrias em seus materiais, desenhos e modelos
tradicionais.
b. Onde for necessária a troca de esquadrias estas devem ser de madeira
conforme o material, desenho e modelo já existentes.
c. Dotar as aberturas existentes no alto das paredes laterais dos galpões mais
altos (fig. 136) de esquadrias para controle da iluminação / ventilação natural,
segurança e entrada de animais.
d. Criar vedação para as demais aberturas sem proteção.
| 88
Fig. 136: Aberturas laterais no alto dos galpões.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
e. Repintar as esquadrias atuais.
f. Admite-se o uso de novos materiais para as novas esquadrias.
Bens móveis e integrados
Os bens integrados da IRODUSA são o relógio que era fixado na fachada e
os maquinários móveis e fixos (tratados no capítulo 7), além do mobiliário e
equipamentos de época dispostos no interior da administração. As diretrizes abaixo
se fazem necessárias para que não se percam estes bens.
- relógio
a. Consertar o maquinário para que volte a funcionar.
b. Remover a ferrugem externa.
c. Colocá-lo de volta ao seu local original na fachada frontal, para que volte a ser
um marco para a Usina e torne a ser parte do cotidiano da cidade.
| 89
- maquinário
Elementos importantes e fundamentais para a memória da Usina, os
equipamentos que compõem o maquinário são fundamentais para contar a história
da IRODUSA. É importante ressaltar que os atuais responsáveis pela fábrica não
querem se desfazer de várias máquinas que ainda estão na edificação.
- maquinário móvel
a. Recuperar as máquinas (limpar, repintar, retirar ferrugem).
b. Criar um memorial da Usina, onde possa expor o maquinário móvel, podendo
ser parte das máquinas exibidas num sistema de rodízio.
c. Utilizar o galpão que possui grande número de roscas no piso para expor o
maquinário móvel, criando instalações e espaços lúdicos.
- maquinário fixo
a. Recuperar as máquinas (limpar, repintar, retirar ferrugem).
b. Manter as máquinas fixas nos locais em que estão, possibilitando a cada
galpão ser expositor da memória da Usina, com quadros de fotografias nas
paredes mostrando e explicando sua antiga função.
- Mobiliário
a. Manter o mobiliário existente nas dependências da Usina como meio de se
reportar à memória dela.
b. Admite-se o reposicionamento do mobiliário nas instalações do complexo.
Instalações
a. Reconstituir as instalações prediais de água encanada, esgoto e energia
elétrica.
| 90
b. Instalar, segundo as normas técnicas exigidas pelos bombeiros, hidrantes e
extintores de incêndio, entre outros dispositivos.
c. Instalar
novos
equipamentos
para
ventilação,
como
exautores
e
condicionadores de ar.
d. Admitem-se outros dispositivos e instalações prediais de segurança, circulação
e comunicação como antenas, pára raios, telefones, elevadores, sensores,
alarmes, entre outros.
Faz-se necessário lembrar, porém, que para realização de um plano diretor
mais detalhado para o complexo, devem-se envolver vários profissionais
específicos de cada área tratada, para melhor desenvolvimento, aplicação e até
mesmo durabilidade e manutenção das ações.
8.3.
Estudo preliminar para um conjunto de galpões
Como fechamento do trabalho foi elaborado um estudo preliminar, seguindo
as diretrizes elaboradas no item anterior, para que se visualize a viabilidade do
projeto de intervenção, buscando inserir na edificação sedes de grupos culturais da
cidade, que é carente de espaço para manifestações artísticas. No estudo preliminar
foram usados os galpões principais, enumerados de 01 a 15 (Planta 01).
Os grupos foram distribuídos nos galpões de acordo com a necessidade
espacial e dimensional de cada um, para realização de ensaios, confecção de
roupas e alegorias e armazenagem.
A tabela abaixo mostra a distribuição dos grupos no conjunto de galpões:
Fig. 137: Tabela de grupos e seu respectivo galpão.
MÚSICA popular
Classificação
Local
Grupos
Galpão 06
banda de pífano
Galpão 05
grupos de coquistas
Galpão 06
grupos de cirandeiros
Galpão 05
bloco lírico
Galpões 14
grupos de maracatu
e 15
de baque virado
Nomes
- Zé de teté
- Flor do Limoeiro
- Leão do Norte
- Leão da Cordilheira
| 91
- Calús Independentes da COHAB
Galpão 02
blocos de calús
- Calús de Sabá
- Calús de Djalma
- Calús de Néo
carnavalesca
MÚSICA / DANÇA
Galpão 04
Galpão 11
- Gigantes do Capibaribe
Galpão 09
- Verde e Branco
escolas de samba
Galpão 08
- Beija Flor do Capibaribe
- Filho do Gato
- Mocidade do Samba
Galpão 02
- Boi Cara Branca (bi campeão
Galpão 04
pernambucano)
- Boi Pavão
- Boi Misterioso
- Boi Leão
bois de caboclinho
- Boi Dourado (campeão
pernambucano)
- Boi Esperança
- Boi Teimoso
- Boi Caprichoso
- Boi Doido
- Boi Estrela
Galpão 02
- Urso Drácula
Galpão 04
- Urso Pé de Lã
ursos
- Urso Pula Muro
- Urso Peludinho
- Urso Lapada
TEATRO
grupos de teatro
(Orquestras)
- Sociedade Musical 25 de Setembro
sociedades musicais
- escolas municipais e estaduais
fanfarras
S
NAI
SIO
Galpão 12
OCA
DES
MUSICAIS
- Galpão das Artes
- Sociedade Musical Santa Cecília
Galpão 13
IDA
SOCIEDADES
ATIV
- LIONART
Galpão 01
(inclusive particulares)
| 92
- escolas municipais e estaduais
Galpão 12
quadrilhas
(inclusive particulares)
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
O uso proposto necessita de um programa simplificado, que abrigue
basicamente os ensaios dos grupos. Portanto, novas divisórias internas que servem
para vedação de banheiros, salas e armários surgiram, para adequação dos galpões
aos novos usos.
A solução de coberta para resolver parte das questões de iluminação e
ventilação foi o uso do lanternim. As aberturas laterais seriam fechadas com
venezianas. Nos galpões de maior pé direito, onde já existem aberturas laterais, a
medida seria dotar as aberturas de esquadrias para maior controle (fig. 138).
Fig. 138: Esquema de ventilação dos galpões.
Fonte: Dayanne Azevêdo, 2011.
Os memoriais locados nos galpões 03, 07 e 12 são importantes para a
divulgação do que era produzido na Usina e como se dava esta produção, além de
relacionar a IRODUSA com a cidade de Limoeiro.
O galpão 03, por possuir um maquinário fixo, foi transformado no Memorial do
Algodão II. Nele, além de ser mantido o maquinário existente, será exposto
maquinário móvel. Nos quadros e painéis dispostos poderá ser visto o
descaroçamento do algodão na Usina e a produção de óleo e sabão.
O galpão 07, por possuir grande número de roscas no piso, foi transformado
no Memorial do Algodão I. As roscas serão cobertas com vidro, para que seja
| 93
evidente a importância delas para o funcionamento da Usina. Neste galpão foram
dispostos painéis e quadros que contam a história do descaroçamento do algodão
na Usina e a produção de farelo, além de possuir espaço para exposição de
maquinário móvel.
Parte do galpão 12, também está voltada à exibição de materiais da Usina.
Nele, serão mostradas a relação de Octaviano e sua Usina com a evolução
econômica da cidade de Limoeiro. Neste galpão também será mantido o maquinário
móvel e serão dispostos painéis e quadros para as mostras.
O estudo preliminar mostra a viabilidade do projeto de intervenção com a
manutenção das principais características da Usina. O estudo adéqua os galpões a
um novo uso sem descaracterizar a edificação e promovendo as manifestações
culturais tão intensas na cidade.
| 94
Planta 02
| 95
Planta 03
| 96
9. Considerações finais
O presente trabalho mostrou a importância da IRODUSA à Limoeiro,
enfatizando o valor histórico da Usina e sua parcela de colaboração com o
progresso econômico da cidade.
A Usina beneficiou a população limoeirense por muitos anos, gerando
empregos e movimentando a economia, fatos que fizeram da IRODUSA, até os
tempos atuais, um marco histórico e arquitetônico para o município.
Por seu valor arquitetônico e por ser uma edificação viva que conta a história
da cidade, a IRODUSA merece atenção especial de estudantes, profissionais e
gestores, para que não seja esquecida, descaracterizada ou destruída.
Para realização do presente trabalho muitas foram as dificuldades. O difícil
acesso aos arquivos municipais da prefeitura, cartório e arquivos pessoais, além da
desautorização da entrada da autora na IRODUSA após a conclusão da primeira
parte
do
trabalho,
impossibilitando
o
levantamento
arquitetônico
e,
consequentemente, alterando a ordem do cronograma apresentado em TG 01. O
tema sofreu alterações e aqui foi apresentado como base do trabalho o Plano de
Conservação da Usina, seguido de um estudo preliminar que fundamenta e aprova
as regras do Plano e não uma intervenção, como previa TG 01. O receio dos
proprietários de edificações em relação ao tema patrimônio ainda é uma barreira na
documentação e catalogação de grandes obras artísticas no interior do estado de
Pernambuco.
Por fim, o presente trabalho de graduação se encerra no anseio de que, em
um futuro próximo, as cidades interioranas cuidem mais de seu patrimônio
arquitetônico e encontre no patrimônio industrial um forte aliado no seu
desenvolvimento urbano.
| 97
10. Referências
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2006.
| 98
CORREIA, Telma de Barros. Art déco e indústria: Brasil, décadas de 1930 e 1940.
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| 99
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VILAÇA, Antônio. Histórias que Limoeiro conta. Rio de Janeiro: Arquimedes Edições,
[s.d].
| 100
ANEXO A – Decreto da Prefeitura Municipal de Limoeiro, cheia de 1975.
| 101
ANEXO B – Certidão do Corpo de Bombeiros, incêndio de 1978.
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