E STA D O D E M I N A S 4 ● D O M I N G O , 2 1 D E M A I O D E 2 0 0 6 CLASSIFICADOSIMÓVEIS HORA DE FAZER Dedetização em ambientes internos e externos pode dar melhor resultado se for semestral. Mercado dispõe de produtos naturais e menos tóxicos no combate às pragas Casa livre de insetos NÁDIA SANTOS Um passeio pela cozinha à noite para tomar um copo de água e a surpresa nada agradável: uma barata. A cena é bastante comum, afinal nenhum imóvel está livre à presença desse inseto, que é atraído por restos de alimento e entra nas casas à procura de abrigo. Na lista das chamadas pragas urbanas mais comuns que infestam residências e também não poupam salas comerciais nem condomínios ainda estão traças, formigas, cupins e ratos. Quando a situação parece fora de controle, a dedetização pode ser a solução para amenizar o problema e afastar as pragas por algum tempo. De acordo com especialistas, embora o período de maior incidência desses bichos e insetos coincida com o verão, eles estão presentes o ano inteiro,. “As pragas são mais reprodutivas nessa época por causa das altas temperaturas, que aceleram o metabolismo. Principalmente os insetos”, observa a bióloga com especialização em saúde pública Lucy Figueiredo, diretora técnica da Associação Brasileira de Controle de Vetores e Pragas (ABCVP), sediada no Rio de Janeiro. Para manter essas pragas bem longe do lar, o ideal seria dedetizar o local a cada seis meses como forma de se prevenir contra os ataques e infestações. Segundo a bióloga da Insetan, em Belo Horizonte, Viviane Alves de Avelar, os produtos aplicados nos locais infectados, registrados no Ministério da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são biodegradáveis e, decorrido esse prazo, começam a perder o efeito. O momento de aplicar vai depender de cada caso. A partir da recomendação da melhor época para aplicar os produtos químicos, a dica da diretora técnica da ABCVP é que, às vezes, prevenir em momentos menos infestantes significa menos esforços e melhores resultados, sem emergências nas épocas de maior proliferação. FATORES A prevenção também passa pela eliminação dos fatores que influenciam diretamente nas ocorrências das pragas: alimento, água (umidade) e abrigo. Uma boa higienização, diz Lucy Figueiredo, da ABCVP, é uma boa maneira de se prevenir. As traças por exemplo, destaca Viviane Avelar, além de atraídas pelo acúmulo de papel, gostam de áreas mais empoeiradas, caracterizadas pelo uso e limpeza menos freqüentes. Quaisquer resquícios de alimentos, gotas de refrigerantes e outras bebidas adocicadas devem ser eliminados. “São fontes de energia. Maior a fonte de alimento, maior reprodução”, exlica Viviane. Uma dica para quem tem animais de estimação em casa é não deixar ração exposta por tempo superior ao necessário, sobretudo à noite, sob pena de atrair, principalmente, ratos e baratas. Para evitar as condições propícias à proliferação de pragas, a orientação também pode ser a correção de falhas estruturais. O fechamento de vãos e frestas na cerâmica com uma simples renovação do rejunte das peças pode vedar as aberturas por onde esses bichos vão invadir os imóveis, assim como o uso de ralos com dispositivos de impedimento da entrada das pragas. “A colocação de rodos nas portas servem de barreira física, eliminando fontes de umidade”, sugere Viviane. FOTOS DIMANG KON BEU/SHADOW A bióloga Viviane Alves de Avelar afirma que o ideal é dedetizar a casa a cada seis meses Casal Marcos e Elizabeth (D) e os filhos Fernanda e Felipe conseguiram se livrar das traças Controle ecológico dá resultado “Para onde vai aquele veneninho jogado no ralo?”, pergunta o engenheiro Sérgio Cabral de Carvalho, da Consultoria Ecológica, titular do colegiado estadual de agricultura orgânica e membro da Câmara Técnica de Agricultura. Essa é a premissa que norteia o trabalho de dedetização ecológica com o uso de fórmulas naturais, uma proposta alternativa de substituição do veneno. Segundo ele, o trabalho consiste na solução dos problemas com as pragas sem causar outros ainda maiores ao meio ambiente com o uso do método convencional. “Os princípios da dedetização ecológica se baseiam na homeopatia e agricultura orgânica”, compara. Ele recomenda um SAIBA MAIS O melhor controlador de ratos é o gato. É importante propiciar condições ecológicas mais favoráveis ao felino que ao roedor. A higienização é fundamental para evitar a presença das chamadas pragas urbanas. Se você tem restaurante, não ponha em sua cozinha caixas provenientes da Ceasa ou do sacolão. Se quer acabar com escorpiões, procure acabar primeiro com as baratas, seu prato predileto. Fonte: www.dedetizacaoecologica.com.br acompanhamento semestral para renovação das iscas, que usam misturas naturais para repelir insetos e exterminar os que se aproximarem, atraídos por preparados à base de matérias-primas como andiroba, cipó da amazônia, gergelim, bagaço de maçã, citronela e outros produtos encontrados na natureza. As fórmulas, mantidas em segredo pela Consultoria Ecológica, têm autorização especial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), garante Sérgio Cabral. Para cada tipo de praga, há uma combinação de matéria-prima. Sem cheiro, as armadilhas repelem os insetos, e não os usuários. “Tenho compromisso com a satisfação de meu cliente. Do contrário, ele não compra minha idéia de que mais importante que matar as baratas e demais pragas é convidar as pessoas a participarem da luta pela preservação da Terra”, afirma. Sérgio Cabral estima que metade de seus clientes seja residencial. Entre os comerciais, há restaurantes, buffets, escritórios de grandes empresas e casas de show. FILOSOFIA No início, o gerente do Buffet Catarina, Sérgio Luiz Assis Matos, era bastante cético e chegou a dizer que a proposta não passava de um discurso poético. Ainda assim, aceitou o desafio e concordou em fazer o teste sem ônus proposto pela equipe da Consultoria Ecológica. “Depois de cerca de cinco anos, não vejo o bufê trabalhando com outro método. O acompanhamento é diário, com supervisões semanais devido à natureza do estabelecimento”, atesta o gerente. “Se cozinha não combina com ratos e baratas, também não combina com veneno. Dáva- Sérgio Cabral de Carvalho indica fórmulas naturais contra as pragas mos um banho trimestral com cerca de 1,5 mil litros de veneno na nossa cozinha”, constata o gerente do bufê, que também virou cliente domiciliar. Ele diz que em nenhum momento deixou de colocar o seu negócio em primeiro lugar. “Seria hipocrisia dizer o contrário. A contribuição com o meio ambiente é um ganho, desde que não tenha prejuízo. Os ratos e baratas são importantes ao ecossistema urbano por fazerem uma espécie de ser- viço sujo de desentupimento de esgotos, por exemplo, mas não os queremos próximo à nossa cozinha. Essa é a filosofia do método”, revela satisfeito. A administradora Débora Ferreira de Melo também não acredita no início e, mas agora, se diz uma divulgadora convicta dos resultados eficazes da dedetização ecológica. Ela conta que o primeiro contato foi há cinco anos, época em que teve problema com aranha e formiga na casa de cam- po no Retiro do Chalé. “Minha filha estava com um ano e tínhamos um cachorro. Por isso, ainda que não acreditasse muito na eficácia, procurei um método natural, não agressivo, com um preço equivalente ao da média do mercado”, relata. Para sua surpresa, ficou livre das pragas e não precisou enfrentar as batalhas preparatória e posterior à dedetização convencional e, principalmente, sem ter de suportar odores de produtos químicos. “Fica um cheiro parecido com desinfetante no ar. É mais forte no início da aplicação,” conta. Além de divulgar nos condomínios, ela dedetizou o apartamento em Belo Horizonte e apresentou o método à empresa na qual trabalha. O casal Marcos e Elizabeth Mundim, ao contrário de Débora e do gerente do Buffet Catarina, nunca ofereceu resistência ao método que os dois conheceram por um panfleto. Médico homeopata, ele já está acostumado a lidar com o poder de cura das plantas. O problema no apartamento, de 10 anos, eram as traças. A bancada de estudos no quarto da filha mais velha era o ponto de maior incidência dos insetos, além de alguns outros focos isolados, como a estante da sala e o armário de roupas de cama no corredor. “O que chamou nossa atenção é que não era preciso tirar nada do lugar, pois a dedetização seria inviável, se fosse necessário esvaziar a estante e gavetas”, reconhece a psicóloga Elizabeth Mundim. Segundo ela, foram cerca de 30 minutos e, terminado o serviço, ficou um cheiro cítrico, agradável, no ar. “O preço é um pouco superior, mas o custo-benefício valeu a pena”, conclui. Cuidados especiais Livrar-se das pragas com dedetização convencional é quase uma estratégia de guerra. Para cada tipo de manifestação, é necessário o uso de soluções líquidas, em gel ou forma de iscas, envolvendo muito esforço, inclusive dos moradores. Os produtos líquidos, explica Viviane Avelar, podem ser aplicados para acabar com baratas, traças, formigas, escorpiões e cupins. Contra baratas e formigas também pode ser feita aplicação de gel. Os roedores são atraídos com iscas postas em pontos estratégicos, a exemplo da parte de trás do fogão e máquina de lavar roupa. “É importante que os moradores saibam onde estão essas iscas para evitar riscos às crianças e animais domésticos, além de impedir que o móvel ou eletrodoméstico seja arrastado ou mudado de lugar”, recomenda. A bióloga reconhece que o combate aos cupins é ainda mais trabalhoso. É preciso identificar se é caso de infestação em madeira seca ou se são cupins subterrâneos, ainda mais complexos. O cupim de madeira seca é fácil de ser constatado pela presença das fezes, semelhantes a grãozinhos de areia que saem do ninho na peça infectada. O tratamento equivale à dissolução de líquido em solvente orgânico para não danificar a madeira. Para debelar as colônias de cupins subterrâneos formadas por túneis vindos de rodapé, canos ou pontos de luz, explica a bióloga, é preciso analisar a espécie e adotar o tratamento adequado, que muitas vezes pode significar quebrar paredes. “Podem ser iscas que cada inseto levará para a colônia ou barreiras químicas”, observa a especialista. CUIDADOS O local a ser desinfetado precisa ser desimpedido. A ordem é retirar tudo do lugar. Alimentos e utensílios devem ser guardados em outros lugares, devidamente tampados e protegidos. Nessa batalha contra as pragas, os idosos, as crianças, gestantes e pessoas alérgicas só podem retornar ao imóvel 24 horas depois da aplicação, avisam as biólogas Viviane Avelar e Lucy Figueiredo. Animais de estimação e plantas sensíveis também devem ser retirados e os aquários têm de ser tampados com forro plástico. Quem não se encaixar nesse perfil está liberado a freqüentar o ambiente quatro horas mais tarde e começar a organizar a bagunça, limpando os excessos dos produtos aplicados, em caso de pulverização líquida. Os produtos em gel, conforme explica a bióloga Viviane Avelar, tornam a tarefa um pouco mais fácil sob o ponto de vista dos moradores. “Não exigem esses cuidados e não têm cheiro. São tóxicos em caso de ingestão e não devem ser retirados dos locais porque têm a função de atrair as pragas, como iscas.” Ela diz que, em se tratando de apartamento, o condomínio não precisa ser avisado sobre a dedetização pelo proprietário. Mas, para que o resultado seja melhor, é importante que esta seja feita na mesma época em que todo o prédio for tratado. ● Confira tabela de materiais de construção na página 29